IDENTIFICAÇÃO Zephyrino Lavenere Machado Filho. Eu nasci em Maceió, Alagoas em três de junho de 1936. FAMÍLIA Meu pai se chamava Zephyrino Lavenere Machado, era advogado. Minha mãe, Maria Luiza Lavenere Machado e era professora. Tenho seis irmãos. Nós somos quatro homens e três mulheres. Eu tenho três irmãos homens e três irmãs mulheres. Eu sou o mais velho. Lavenere é uma família francesa que imigrou para o Brasil em meados do século XIX. Estabeleceu-se no nordeste, em Pernambuco e em Maceió, lá em Alagoas. INFÂNCIA Eu tive uma infância normal, entre 1940 e 1950, em Maceió. Passei toda a minha infância em Maceió. Tínhamos uma vida muito interessante, uma vida diferente do que é hoje em dia, né? Hoje, o pessoal fica muito mais tempo em casa, vendo televisão. Nós brincávamos na rua, fazendo todas aquelas brincadeiras de rua. Jogávamos bola de gude. Jogávamos pião, empinávamos papagaio, coisas desse tipo. Era uma turma grande, de irmãos e amigos. Nós brincávamos juntos. Tinha muitos amigos também da vizinhança que brincavam conosco. Maceió era uma cidade muito calma. Todo fim de ano, nós íamos passar dois, três meses na praia. Nesse tempo em Maceió, a praia ficava meio longe, nós tínhamos que pegar uma condução para ir até lá. Hoje em dia, a cidade chegou até a praia. Mas naquela época, era distante. Era a praia de Pajuçara, que é uma das melhores de Maceió. Nós íamos sempre passar uns três meses no final do ano. E era uma época muito agradável, porque reunia a família toda, os primos – também tenho muitos primos. A família era grande. E era um período muito agradável de muita brincadeira. Esse período que passávamos na praia era as nossas férias de colégio. EDUCAÇÃO Estudei num colégio católico, Colégio Diocesano Marista, de irmãos maristas. Era um colégio muito bom, muito forte, difícil de cursar. Era um dos melhores colégios, dos padres...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Zephyrino Lavenere Machado Filho. Eu nasci em Maceió, Alagoas em três de junho de 1936. FAMÍLIA Meu pai se chamava Zephyrino Lavenere Machado, era advogado. Minha mãe, Maria Luiza Lavenere Machado e era professora. Tenho seis irmãos. Nós somos quatro homens e três mulheres. Eu tenho três irmãos homens e três irmãs mulheres. Eu sou o mais velho. Lavenere é uma família francesa que imigrou para o Brasil em meados do século XIX. Estabeleceu-se no nordeste, em Pernambuco e em Maceió, lá em Alagoas. INFÂNCIA Eu tive uma infância normal, entre 1940 e 1950, em Maceió. Passei toda a minha infância em Maceió. Tínhamos uma vida muito interessante, uma vida diferente do que é hoje em dia, né? Hoje, o pessoal fica muito mais tempo em casa, vendo televisão. Nós brincávamos na rua, fazendo todas aquelas brincadeiras de rua. Jogávamos bola de gude. Jogávamos pião, empinávamos papagaio, coisas desse tipo. Era uma turma grande, de irmãos e amigos. Nós brincávamos juntos. Tinha muitos amigos também da vizinhança que brincavam conosco. Maceió era uma cidade muito calma. Todo fim de ano, nós íamos passar dois, três meses na praia. Nesse tempo em Maceió, a praia ficava meio longe, nós tínhamos que pegar uma condução para ir até lá. Hoje em dia, a cidade chegou até a praia. Mas naquela época, era distante. Era a praia de Pajuçara, que é uma das melhores de Maceió. Nós íamos sempre passar uns três meses no final do ano. E era uma época muito agradável, porque reunia a família toda, os primos – também tenho muitos primos. A família era grande. E era um período muito agradável de muita brincadeira. Esse período que passávamos na praia era as nossas férias de colégio. EDUCAÇÃO Estudei num colégio católico, Colégio Diocesano Marista, de irmãos maristas. Era um colégio muito bom, muito forte, difícil de cursar. Era um dos melhores colégios, dos padres maristas, de Alagoas, de Maceió. Eu gostava mais de matemática, de física, de química. Sempre gostei mais dessas cadeiras mais ligadas à engenharia. Eu fiz até o primeiro ano científico daquela época. Direto nos maristas. Todos os meus irmãos estudavam na mesma escola. O único problema que eu tive foi que me botaram para estudar piano e eu, realmente, não dava para estudar piano. Em vez de estudar, eu ia brincar no pátio do colégio. E terminou que, um belo dia, meu pai descobriu que eu não estava tendo aula de piano e passei maus bocados com ele por causa disso, depois de um mês, mais ou menos, sem aula de piano. FAMÍLIA Meu pai era a autoridade mais forte, mas a minha mãe dava jeito em tudo. Era muito interessante, havia um equilíbrio muito grande entre os dois. Meu pai era mais rigoroso e autoritário, mas minha mãe sabia dobrar meu pai quando queria. CASA Nós morávamos numa casa bem grande, com o quintal grande, com muito terreno, de modo que tinha muita planta, muitas árvores, onde nós podíamos brincar. Brincávamos nas árvores. Cada um tinha uma árvore, que era como a sua casa. Então, fazíamos esse tipo de brincadeira, cada irmão tinha uma casa que era uma daquelas árvores, uma mangueira ou um sapotizeiro. A minha era uma mangueira. A mangueira mais velha que tinha lá. JUVENTUDE Passei um ano no Rio de Janeiro quando estava no segundo ano científico. O meu pai resolveu que eu tinha que estudar no Rio de Janeiro, porque era uma boa. Ele já tinha estudado no Rio de Janeiro, então resolveu me mandar para estudar aqui. Eu vim sozinho. Fiquei na casa de um tio, na Praia Vermelha, na Avenida Pasteur. Cursei o segundo ano do científico no Colégio Andrews, aqui no Rio de Janeiro. Eu já conhecia a cidade. Tinha vindo ao Rio umas duas vezes e já tinha uma idéia de como era a cidade. Nós íamos sempre à praia. A Praia Vermelha, naquele tempo, não era poluída. E era fácil de ir lá, era muito interessante aquele local. A gente freqüentava a Praia da Urca também. Agora, o Andrews era muito mais difícil do que o colégio lá em Maceió. Eu tive certas dificuldades, tanto que voltei para Maceió no terceiro ano. Fui fazer o terceiro ano em Maceió e fui reprovado em inglês e francês. Tive que fazer segunda época, em inglês e francês. OPÇÃO: ENGENHARIA DE PETRÓLEO Quando eu terminei o terceiro ano, resolvi fazer Engenharia. Eu já namorava a Engenharia há muito tempo. E namorava, especialmente, a Engenharia de Petróleo, porque eu tinha lido um livro do Monteiro Lobato chamado o “Poço do Visconde”, em que ele fala sobre poço do petróleo, sobre perfuração de poços. Então, eu já estava meio vidrado em relação ao petróleo, de modo que procurei logo a Engenharia e, em seguida, fiz o concurso da Petrobras. Fui fazer o curso de Engenharia em Recife. ENSINO SUPERIOR Na faculdade, eu me integrei muito com o diretório acadêmico. Naquela época, o diretório acadêmico tinha uma atuação muito forte junto à comunidade estudantil. Nós fizemos uma série de campanhas na Escola de Engenharia de Pernambuco para melhorar o ensino. Inclusive, fizemos uma campanha de aulas práticas, fizemos uma greve que chamou até a atenção do Ministério de Educação e terminamos mudando o regulamento da Escola. Conseguimos transformar o regulamento, que era muito teórico, em uma escola mais prática. Passamos a ter muito mais aulas práticas na Escola de Engenharia do Recife. Isso foi uma atuação nossa junto ao diretório acadêmico que funcionou muito bem. Isso foi em 1956 ou 1957. Naquela época, eu participei da política estudantil, participei também de uma série de organizações do próprio diretório. Nós tínhamos o programa de estágios em que nós mandávamos os estudantes de engenharia estagiar nas indústrias do Sul. O Sul-Sudeste era industrializado e no Nordeste não tinha praticamente nada. Mas nós fazíamos isso, mandávamos muita gente aqui para o Sul para fazer estágio nas indústrias daqui, na Volkswagen, na própria Petrobras. Eu mesmo fiz estágio na Petrobras, quando ainda era estudante. Eu fiz em Maceió, em Alagoas. INGRESSO NA PETROBRAS O concurso foi no final do meu curso universitário. A Petrobras fazia, naquela época, um concurso nacional, em que ela selecionava todos os melhores estudantes de engenharia para fazer o curso lá na Bahia, o curso d engenharia de petróleo. Eu fiz esse concurso, passei e vim fazer o curso na Bahia, em 1960. Eu fiz as provas do concurso em Recife. O pessoal fazia esse concurso no Brasil todo, iam uns engenheiros levar as provas nas diversas faculdades do Brasil. Naquela época era assim. Era uma prova difícil, não era fácil não. Não passava muita gente. Havia a opção entre engenharia de petróleo e geologia. Basicamente, eram essas as duas opções: engenharia de petróleo e geologia. Depois, criaram-se outras especialidades, mas na minha época só tinha essas duas. IMAGEM DA PETROBRAS A Petrobras era o máximo, né? A Petrobras era um paraíso para nós. Aliás, não era somente para mim. Muitos dos meus colegas lá da engenharia viviam deslumbrados com a Petrobras. Era uma firma nova, tinha sido recém-criada e apresentava a possibilidade de desenvolvimento muito grande. E significava uma luta muito grande do povo brasileiro para poder se firmar em termos de petróleo. A memória da campanha do “Petróleo é nosso” ainda era muito viva. Então, todo mundo estava entusiasmado para entrar na Petrobras, tanto que na escola de engenharia, nós tivemos uns 12, que vieram para a Petrobras, só da Escola de Engenharia de Pernambuco. Não ficaram muitos não, depois de algum tempo, saiu uma parte, não terminaram nem o curso de engenharia de petróleo, mas a maior parte ficou. ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO Foi um curso de dois anos, feito em Salvador. E foi realmente difícil, porque tentaram colocar todas as matérias que normalmente são dadas no exterior. Naquela época, o curso de engenharia de petróleo só tinha no exterior e na própria Universidade da Bahia, onde esse curso era dado em quatro, cinco anos. E nós fazíamos em dois anos. Então, era um curso bastante puxado. Era como se fosse uma pós-graduação. Alguns desistiam. A maior parte das desistências foi por causa da dificuldade do curso. Eu terminei esse curso em 1961. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Nessa época, a gente podia escolher onde ia trabalhar. Eu escolhi trabalhar na região de produção do Nordeste, que englobava Sergipe e Alagoas. Como eu era de Maceió, quis trabalhar perto de casa. Então, eu fui para lá, voltei para Maceió. Eu já conhecia a Petrobras, porque tinha feito esse estágio de um ano, como eu lhe falei, antes de terminar o curso de engenharia. Era mais do que um estágio. E era um trabalho totalmente pioneiro. Fui trabalhar, inicialmente, em perfuração de poços. Eu comecei a trabalhar em produção, era engenheiro de produção. Comecei a trabalhar como engenheiro de perfuração, porque não tínhamos produção nessa época lá em Alagoas e Sergipe. Já trabalhava como contratado da Petrobras. Nós trabalhávamos nos campos de Piaçabuçu, que é bem próximo da foz do São Francisco e em alguns campos que depois foram desenvolvidos em Sergipe, no Riacho do Catete, Carmópolis, Riachuelo. Mas, naquela época, eram só poços pioneiros, não tinha produção ainda. A primeira produção que nós tivemos na região do Sergipe e Alagoas, no campo de Tabuleiro dos Martins, que é um campo bem próximo de Maceió. COTIDIANO DE TRABALHO – ENTRE SERGIPE E ALAGOAS Eu viajava muito, porque a equipe de perfuração se movia o tempo todo, furava um poço aqui, outro ali. Eram distâncias grandes de 40, 50 quilômetros. Naquela época, nós tínhamos jipes e caminhonetes. Nós tínhamos as caminhonetes F100 e os jipes Willys. E toda a movimentação era feita com base nisso aí. Tínhamos o caminhão que servia a turma, que servia para o abastecimento do pessoal. Era abastecimento de comida porque nós trabalhávamos em acampamentos. O acampamento tinha tudo, tinham as casinhas onde nós morávamos, tinha refeitório, tinha os banheiros. Era interessante isso. E o cozinheiro ia junto. Tinha toda a equipe de cozinha, toda a equipe de limpeza. Esses acampamentos eram montados e desmontados. Eram montados em cima de madeira, então, eram transferidos de um lugar para o outro. Sempre que a gente mudava a locação onde nós estávamos perfurando, mudava o acampamento junto. Era um trabalho itinerante e era bem interessante porque, na hora da dificuldade, todo mundo se juntava. Tinha um espírito de equipe muito grande. Por exemplo, eu lembro muito bem de uma vez em que nós tivemos um problema na estrada. A estrada ficou intransitável. Todo mundo pegou pá e picareta e foi lá trabalhar para desimpedir a estrada. Foram os engenheiros, os cozinheiros, os serventes. Foi todo mundo lá trabalhar. Todos trabalharam juntos até desobstruímos a estrada e conseguirmos passar. Nós furávamos os poços em lugares bem remotos. Furávamos no meio da floresta, naquela época, em que a mata Atlântica era muito grande do outro lado de Alagoas. Então furávamos no meio da floresta e tinha macaco, tinha animais selvagens, tudo ali pertinho. Era quase na Amazônia. Não era na Amazônia não, porque na Amazônia era mais brabo do que lá. Mas era parecido, bem parecido. Cada locação dessas levava uns seis meses para furar. Dois, três meses, no mínimo, e seis meses no máximo. Então, ficávamos lá um bocado de tempo, depois passávamos para outra locação. Assim, estivemos furando em Jequiá, Piaçabuçu e Tabuleiro do Martins. Economicamente, o melhor local foi o Tabuleiro dos Martins. Antes disso, nós estivemos em Piaçabuçu, que produziu um pouco, mas não foi uma produção muito significativa. Em Tabuleiro dos Martins é que começou uma produção mais regular e economicamente viável para a Petrobras. Mas Piaçabuçu foi o primeiro campo que produziu petróleo lá em Alagoas. Era uma festa colocar um poço daqueles em produção, num lugar que nunca tinha visto petróleo. Realmente, era um acontecimento marcante tanto na vida da Petrobras, como na vida da própria comunidade. Lá em Piaçabuçu nós fizemos o primeiro embarque de petróleo para a Bahia numa instalação provisória montada na margem do São Francisco, em frente à cidade. Construímos uma balsa de tambores, todos soldados. Tinha uma estrutura metálica em cima e encostamos na margem. O petroleiro entrou no Rio São Francisco, subiu o rio, e encostou nessa balsa. Aí, nós transferimos dois mil barris de petróleo para esse petroleiro e ele levou para a Bahia. O primeiro petróleo a sair de Alagoas foi por aí, em Piaçabuçu. E isso atraiu a atenção de toda a comunidade. Então, foi uma festa nesse dia lá em Piaçabuçu. Na cidade de Piaçabuçu, todo mundo foi lá ver o petroleiro. O petroleiro entrou pelo Rio São Francisco e encostou naquela balsinha e recebeu a produção de petróleo. Foi realmente uma festa. CARMÓPOLIS Em Carmópolis foi o campo mais importante descoberto naquela época, em Sergipe. Ficava a uns 40 quilômetros ao norte de Aracaju. Também era um lugar muito primitivo, não tinha nada, era difícil de chegar lá. Nessa época, ainda tínhamos esses acampamentos móveis. Havia uma verdadeira cidade de madeira abrigando pessoal de geologia, o pessoal da perfuração e o pessoal da produção para desenvolver o campo de Carmópolis. Em Carmópolis, já começamos a trabalhar como produção. Na medida que nós fomos furando alguns poços, e esses poços se mostravam produtores, nós fomos, gradativamente, passando nossa equipe de perfuração para produção. Então, houve uma transformação, até porque os poços que nós estávamos furando eram poços produtores. Eram poços que nós estávamos furando lá em Piaçabuçu, nós passamos para produção. Toda a equipe passou a trabalhar em produção, e eu também. Lá nós estivemos para completar o primeiro poço de Carmópolis – o Carmópolis 1. Fizemos a completação em 1965 ou 1966, por aí. RELAÇÕES DE TRABALHO Eu destacaria o espírito de equipe. Naquela época, nós trabalhávamos muito juntos. Apesar de sermos geólogos, engenheiros de produção, engenheiro de perfuração, todo mundo trabalhava muito junto para poder conseguir aquele objetivo, como eu lhe disse. Qualquer tipo de dificuldade que nós tínhamos, todo mundo enfrentava junto, pra valer e, realmente, para resolver o problema. Coisa que depois ficou mais difícil na Petrobras. Como a Empresa foi crescendo, essas especialidades foram se diversificando e foram ficando cada vez mais distantes. Mas, naquela época, havia um espírito de equipe muito mais presente do que hoje. Essa relação de engenheiro e geólogo era mais fácil. Depois, separou muito isso aí. Geólogo é geólogo, engenheiro é engenheiro, não se conversava muito. Mas naquela época, a coisa era muito próxima, todo mundo era muito irmão. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / TRANSFERÊNCIA PARA O RIO Eu realmente quis vir morar no Rio, naquela época. Foi escolha própria. Eu queria mudar um pouco de ares, vamos dizer assim. Já tinha trabalhado lá na região do Nordeste durante muito tempo e, aqui no Rio, várias coisas diferentes estavam começando a se desenvolver. Estava até começando essa parte de trabalhos no mar e eu tinha interesse em trabalhar nessa área. Isso foi em 1970. Aqui, eu fiquei na Divisão de Produção do Rio de Janeiro. Naquele tempo, era no Edifício Astória. Ainda não tinha o Edise, a Sede. BACIA DE CAMPOS – DÉCADA DE 70 Na década de 60, a Petrobras já tinha começado a desviar as atenções da terra para o mar, porque havia uns estudos feitos pela geologia daquela época que mostrava que as possibilidades de existência de petróleo no mar eram muito mais significativas do que em terra. Então, houve quase que uma migração automática do pessoal que trabalhava em terra para o mar. Isso aí foi que me atraiu mais, trabalhar no mar, porque eu sempre gostei muito do mar. O trabalho no mar me atrai muito. A Bacia de Campos estava iniciando a fase de perfuração, terminando a fase de geologia, iniciando a fase de perfuração. Logo que eu cheguei aqui, ainda não tínhamos nenhuma produção, não tínhamos nenhuma instalação funcionando na Bacia de Campos. Em 1970, não tinha nenhuma ainda. Não tinham começado a furar, estavam trabalhando na parte de geologia, na parte de estudos geológicos, de sísmica e de gravimetria. GUARICEMA E DOURADO Na produção, eu fiquei mais ligado à parte de instalações. Nessa época, nós estávamos produzindo alguns campos na bacia Sergipe-Alagoas, no mar. Então, eu fiquei ligado aos trabalhos nos campos de Guaricema e Dourado lá na Bacia de Sergipe, mas trabalhando no Rio. Porque todo esse trabalho era dirigido do Rio, não era na unidade local. Mas os trabalho no mar, que eram feito no Rio de Janeiro. Nós fazíamos os projetos aqui e íamos lá, fazíamos a instalação, e o pessoal depois operava. Mas os projetos todos eram feitos no Rio. Eu cheguei a participar da exploração e produção de Guaricema, essa primeira descoberta em mar, no primeiro campo que entrou em produção. Guaricema foi uma marca muito grande na Empresa, porque nós tínhamos produção no mar, mas no campo de Dom João, que é um campo dentro da Baía de Todos os Santos. Quer dizer, é uma coisa um pouco diferente, a profundidade é mais rasa. Já em Guaricema e Dourado, nós tínhamos a produção no mar aberto e era uma profundidade bem maior.Já era em torno de 30 ou 40 metros de profundidade. Foi um momento de muito entusiasmo, todo mundo estava muito entusiasmado para poder botar em produção esses campos no mar e aprender essas tecnologias todas de produção no mar, porque era uma coisa nova. Havia uma exploração no mar, já no mundo todo, no Golfo do México e alguma coisa, talvez, na Inglaterra, mas era muito pouco o que havia. Naquela época, nós já éramos pioneiros nesse tipo de trabalho. Já havia um certo pioneirismo, mesmo. MESTRADO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO O meu mestrado foi em Engenharia de Petróleo entre 1975 e 1976, durante dois anos. Fui em meados de 1975 e voltei no final de 1976. Eu fui para Universidade de Tulsa, em Oklahoma. O meu trabalho que apresentei, a minha tese foi sobre o fluxo multifásico, quer dizer, a transmissão de petróleo na fase líquida e gasosa dentro de oleodutos, e a previsão de slug. Chamamos slug, quando se produz uma bolha de gás muito grande e ela vai se deslocando ao longo do oleoduto e pode chegar nas instalações e causar algum dano. Então, slug é essa bolha grande de gás que se desloca. O slug pode ser tanto de óleo como de gás. O meu trabalho foi sobre previsão de formação de slug de óleo e de gás, dentro de oleodutos. Não tinha nada a ver com engenharia submarina, que depois eu me dediquei. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Praticamente, logo que eu voltei comecei a me dedicar às atividades submarinas. Eu cheguei em janeiro e, em fevereiro, já peguei a coordenação de um projeto que foi primeiro projeto a ser realizado para produzir um campo na Bacia de Campos. Foi o projeto Enchova. BACIA DE CAMPOS: GAROUPA, NAMORADO E ENCHOVA A Bacia de Campos já tinha sido descoberta. Já tinham sido determinados alguns campos. Os campos de Garoupa e de Namorado tinham sido furados, descobertos e delimitados. Nós estávamos tentando colocar em produção, o mais rápido possível, tanto Garoupa, quanto Namorado. Mas havia um certo atraso, porque o sistema de produção desses campos era baseado em um sistema de plataforma fixas, que tornava o projeto muito demorado. A construção era demorada e a instalação também. Então esse projeto atrasou muito. Havia o Projeto de Garoupa que tinha um sistema de cápsulas submarinas, chamadas wellhead cellar, que eram cápsulas atmosféricas. Para você ter idéia, descia uma cápsula, que era um ambiente completamente estanque e colocava-se a Árvore de Natal dentro dele. Árvore de Natal é o controle do poço e você tinha que ter um acesso e mandava a pessoa ir lá dentro dessa cápsula, a cem metros de profundidade, para poder operar o sistema, os equipamentos lá de dentro. Era um sistema difícil e meio sofisticado, tanto que era feito por uma firma, a Lockheed, que era quem fabricava os equipamentos para a Nasa. Então era uma tecnologia quase espacial. SISTEMA DE PRODUÇÃO ANTECIPADA – ENCHOVA A árvore de natal ficava dentro de uma cápsula, isto é, era encapsulada e permanecia no fundo do mar. Era difícil a sua instalação, e muito complicado. Era tão complicado, que demorou muito tempo para ser instalado e começou a atrasar. Como foi atrasando para entrar em produção, a Petrobras resolver colocar em produção, antes disso, um sistema antecipado. Esse foi primeiro sistema antecipado a ser colocado em produção. Foi posto em prática em Enchova, usando uma tecnologia desenvolvida por uma firma chamada Hamilton Brothers, da Inglaterra. A idéia era colocar um poço em produção e transferir todo esse óleo para um petroleiro amarrado num quadro de bóias. Eu supervisionei esse projeto, fiquei responsável pela instalação e pela sua operação. Foi um projeto pioneiro. Nós começamos a projetar o sistema em março de 1977 e estávamos com ele em produção em agosto do mesmo ano, isto é, foi feito em cinco ou seis meses. Numa época em que a gente não conseguia colocar em produção esses campos com rapidez suficiente, já foi um feito muito grande. O campo de Enchova foi rapidamente colocado em produção. Anteriormente, você podia levar dois, três anos para poder colocar em produção. Esse projeto de Garoupa mesmo já vinha se arrastando por quase dois, três anos sem conseguir entrar em produção. Enchova foi um marco bem grande, porque conseguimos colocar um poço em produção em menos de seis meses. Era um poço muito bom esse de Enchova. O único poço desse sistema chamava-se Enchova 1 e produziu em torno de dez mil barris por dia, o que era uma produção significativa para aquela época. GESPA Todo o começo do Sistema de Produção Antecipada foi no Enchova 1. Depois, passamos a ir adicionando mais poços a esse sistema e tornando o sistema um pouco mais complexo. Conseguimos aumentar a produção desse sistema. E, com essa experiência toda, nós verificamos que havia uma hipótese de trabalho muito importante e que poderia ser exportada para outros campos. Então, fizemos outro desse sistema para outros campos e o Depro – Departamento de Produção – criou o chamado Grupo de Produção Antecipada, o GESPA, que ficaria encarregado de projetar e instalar todos esses sistemas. Esse grupo tinha muita gente boa. O Salim, era o chefe, o Salim Armando. Trabalharam também lá o Ruy Gesteira, o José Luis Teixeira, o Francisco Massa, o Marcos Guedes, o Ricardo Beltrão, a Louise Ribeiro. Muita gente boa se formou ali naquela época. O GESPA começou na década de 70, talvez em 1979 e durou até 1989, mais ou menos. Teve uns dez anos de duração. TRABALHO EMBARCADO Eu sempre gostei de trabalhar embarcado, quer dizer, eu fazia o projeto no escritório, mas sempre que havia a fase de instalação estava presente. Eu ia lá para instalar o sistema e para fazer a pré-operação. Eu sempre procurei trabalhar embarcado em navios. A maior parte do tempo eu trabalhava embarcado em navios. Com a exceção do período em que fiz a instalação do projeto Bonito, em que trabalhei durante muito tempo numa semi-submersível. Eu gostava mais de trabalhar em navios, em lançamentos de linhas no fundo do mar. Então, passava normalmente quinze dias trabalhando lá e quinze dias em terra, de folga. Se bem que, muitas vezes, tinha que ficar 30 dias, 40 dias. Teve uma vez que eu fiquei até 28 dias direto trabalhando, sem descer, sem desembarcar. Era um trabalho que eu tirava de letra. Se bem que era um trabalho muito desgastante porque trabalhava, pelo menos, 12 horas por dia. Ainda hoje é assim nesse trabalho no mar, são turnos de 12 horas. Então, é desgastante, e realmente você fica muito cansado. Mas é um trabalho que é bem interessante porque a gente estava fazendo sempre coisas novas, sempre fazendo alguma coisa diferente. E trabalhar no mar é sempre um prazer. Eu gostava muito de trabalhar lá. Sempre gostei de trabalhar embarcado. SISTEMA DE PRODUÇÃO ANTECIPADA A idéia, fundamentalmente, era a seguinte: era você aproveitar a tecnologia já existente e comprovada e tentar colocar em produção um ou dois poços, ou a parte do campo. Era um modo de ter um retorno mais rápido do seu capital empregado e conhecer melhor o reservatório. Porque para poder conhecer o reservatório, tem que produzir o petróleo. Então, o interesse nesse sistema de produção antecipada era esse: era produzir mais rápido, de modo a ter o retorno do capital em pouco tempo e conhecer melhor o reservatório para projetar o sistema definitivo, o sistema que iria propiciar a produção no campo de maneira definitiva. Fundamentalmente, essa era idéia. Os principais trabalhos foram o de Enchova, que foi o primeiro, depois nós tivemos Enchova Leste, que já foi uma ampliação da Enchova, e, em seguida, tivemos o campo de Bonito, que era também próximo a Enchova. Depois tivemos Marimbá, Piraúna, Bicudo, Garoupa, Garoupinha, Pampo, Corvina. Houve uma época em que nós tínhamos 12 sistemas antecipados funcionando ao mesmo tempo. Nós fomos crescendo a profundidade o tempo todo. Então, esse sistema de Enchova, o primeiro que foi desenvolvido, foi feito para 100 metros de lâmina d’água. Garoupa também era em 100 metros de lâmina d’água. Era em Garoupa que tinha as células encapsuladas. Logo em seguida, passamos para Enchova Leste, passamos para 120 metros, para 130 metros. No campo de Bonito já estávamos em 200 metros de profundidade. Bicudo foi 250 metros. Em seguida, saímos aumentando. Passamos para 300 metros em Marimbá, 400 metros em Marimbá, que foi o primeiro passo grande que nós fizemos. Até aquela época, nós tínhamos equipamentos que podiam ser instalados no fundo do mar com mergulhadores. Mas depois desse ponto, passamos a trabalhar com sistema que independiam de mergulhador, quer dizer, para instalar o sistema no fundo do mar não usava mergulhadores. Não podíamos mais usar mergulhadores porque estávamos além do limite recomendável de mergulho. O limite de mergulho é em torno de 300 metros, até aí você consegue mandar o homem lá embaixo trabalhar. Depois disso, tem que trabalhar sem ninguém, é tudo por controle remoto. Isso aconteceu em Marimbá, onde foi o primeiro campo em que nós trabalhamos com um sistema completamente independente, sem mergulhadores. TECNOLOGIA OFFSHORE Realmente, no princípio, nós procurávamos estender a tecnologia de terra para o mar. Tanto que a Árvore de Natal era praticamente igual em mar e em terra. Só que no mar, a instalação dessa Árvore de Natal era um pouco mais complicada, porque dependia de mergulhadores. E o grande salto tecnológico foi esse: passar a não usar mais mergulhadores, fazer a instalação dessas Árvores de Natal sem o uso de mergulhadores e agora sem a cápsula. Isso aí foi um salto muito grande. Então, tem esse nome de tecnologia de Árvore de Natal Molhada. Nós sempre trabalhamos muito junto com os fabricantes de equipamentos. Os fabricantes de árvore de natal que existiam, sempre trabalhavam muito em conjunto conosco. Nós encomendávamos as Árvores de Natal a eles, e dizíamos como é que nós queríamos que eles fizessem as nossas árvores. Então, esse trabalho da Petrobras junto com o fabricante era muito próximo. Nós fazíamos quase que acordos de cooperação mútua em que eles desenvolviam equipamentos para nós e nós instalávamos e operávamos o equipamento deles. Mas isso aconteceu com várias firmas, que até hoje estão aí no mercado, como a Vetco, como a Cameron e outras. Muitas dessa firmas ainda trabalham conosco, especialmente, em relação à Árvore de Natal Molhada. Havia outros equipamentos que nós desenvolvemos também, como as linhas flexíveis. As linhas flexíveis são uma parte muito importante nos nossos sistemas, porque elas promovem a ligação entre os poços e as semi-submersíveis, quer dizer, as unidades de produção. Os poços produzem através de linhas flexíveis colocadas no fundo do mar até chegar na unidade de produção. Essas linhas flexíveis que foram usadas largamente nos nossos sistemas foram praticamente desenvolvidas no Brasil e na Petrobras. Nós trabalhávamos mais com os fabricantes do que com universidades. Não tínhamos nenhuma ligação com universidade não. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / BRASPETRO Eu fui cedido a Braspetro para trabalhar nesse projeto. Era um projeto que a Braspetro tinha com a BP, a British Petroleum. Nós tínhamos, no mar da China, uma concessão, uma parcela do mar da China que a Petrobras e a BP eram sócias. E o governo chinês estava querendo saber como é que eles iam fazer para colocar em produção se encontrassem petróleo nessa concessão. Eu fui lá trabalhar em cima desse projeto, para viabilizar o sistema. Mas nós não encontramos petróleo por lá. Os poços estavam todos secos. Chegamos a fazer o projeto e a apresentar para o governo chinês, que aprovou nosso projeto com a BP. Mas não havia petróleo. Nessa época em que estávamos trabalhando na Braspetro, fizemos contato com um pessoal norueguês, que estava interessado na tecnologia brasileira de produção em águas profundas. Então, a Petrobras entrou em contato com a firma da Noruega, e dessa sociedade surgiu uma firma chamada Brasnor, que existiu durante algum tempo na Noruega, vendendo tecnologia brasileira. Eu fui trabalhar lá também depois de algum tempo. Trabalhei na Brasnor e na Pagoflex. A Brasnor era dona da Pagoflex. Fiquei dois anos entre a Noruega e a Alemanha. Fiquei na Noruega mais ou menos uns três meses e um ano e oito meses na Alemanha, trabalhando na Pagoflex, que é uma firma que fabricava linhas flexíveis. Infelizmente, essa aventura – podíamos até chamar assim, essa firma que a Petrobras comprou lá na Alemanha, a Pagoflex – não foi adiante. A tecnologia que ela empregava para a fabricação de linhas flexíveis não era uma tecnologia moderna, era uma tecnologia muito atrasada e que não dava condições e competir economicamente com os concorrentes. Então, essa fábrica foi fechada. Como a firma fechou, nós voltamos para o Brasil. Mas foi uma experiência boa, porque eu aprendi muita coisa lá, muita coisa nova. A maneira de trabalhar na Noruega e de trabalhar na Alemanha são bem diferentes daqui do Brasil. A parte tecnológica e a parte administrativa são bastante diferentes do trabalho no Brasil. Então, foi uma experiência bem interessante, com certeza, além de conhecer outros lugares e pessoas de costumes diferentes. Eu morei durante três meses em Oslo e na Alemanha morei em Bremerhaven, um pouco ao norte de Bremen, durante um ano e oito meses. Chama-se Bremerhaven, porque é o porto de Bremen. Realmente, eu gostei mais da Alemanha, porque foi onde morei mais tempo. SEIMAR Quando eu voltei para o Brasil, eu já fui trabalhar em Macaé, para trabalhar no Seimar, como fiscal de embarcações, onde eu estou até hoje. Voltei a embarcar e fiquei trabalhando direto com instalações de linhas submarinas. BACIA DE CAMPOS – DÈCADA DE 70 Nós podemos dizer que a decisão de investir para valer na Bacia de Campos começou na década de 70. Foi logo no início. Assim que se começou a colocar em produção os novos campos da Bacia de Campos, se verificou a possibilidade, o potencial enorme dessa bacia. A Petrobras compreendendo isso, passou a dedicar praticamente todos os seus recursos na Bacia de Campos, como faz até hoje. A década de 70 foi muito marcante, porque nessa época entrou em produção os campos de Garoupa, Namorado, Enchova, Bonito. Então, foi uma época em que a Petrobras investiu para valer nisso aí. Para mim, o que apresentou maior desafio foi o campo de Enchova, porque foi o primeiro. Nós estávamos fazendo tudo novo, ninguém sabia nada sobre aquilo. Todo mundo ignorava completamente a tecnologia de produção de petróleo no mar. Ninguém tinha colocado um poço em produção no meio do mar, com uma semi-submersível, dedicada à perfuração, produzindo através de um petroleiro amarrado, no meio do mar, em quatro bóias. Quando nós levamos pela primeira vez esse projeto para mostrar ao pessoal na Fronape, eles quase riram da gente: “Vocês ficam fazendo maluquice. Isso aqui é doidice, não vai funcionar nunca.” E, realmente, conseguimos colocamos para funcionar, mas foi suado, deu muito trabalho. Havia ainda um espírito de equipe muito especial. PETROBRAS / TRANSFORMAÇÕES A Petrobras sofreu uma transformação muito grande de 1990 para cá, depois da era Collor. Até a era Collor, era uma Petrobras, hoje em dia ela é completamente diferente. Mudou, porque não existe mais esse espírito de equipe. A Petrobras partiu-se muito, fragmentou-se em muitos pedacinhos. E esses pedacinhos são considerados independentes. Não há uma integração hoje, a Petrobras não funciona integrada. Funciona muito disseminada, muito partida, muito fragmentada, vamos dizer assim. Inclusive hoje, está até um pouco mais complicado, porque ela está terceirizando demais. Na minha opinião, a Petrobras está terceirizando demais. A tecnologia que ela desenvolveu e a tecnologia que ainda hoje aplica está se perdendo muito por terceirizar demais. Naquela época, nós não tínhamos a terceirização como hoje. Então era mais fácil trabalhar. Hoje está mais difícil. Se tivéssemos que fazer hoje uma Enchova, íamos levar talvez uns quatro ou cinco anos, em vez de levar os quarto ou cinco meses que a gente levou a 20, 30 anos atrás. BACIA DE CAMPOS Nós tivemos muita sorte. A maioria dos nossos projetos deu certo. Nós tivemos muita ajuda de Deus, porque realmente estávamos fazendo coisas que nunca tínhamos feito. Mas tivemos sorte, e o nosso recorde é muito bom. Nós nunca tivemos um acidente, um problema maior em todos os nossos sistemas que nós instalamos. Isso foi uma coisa muito interessante, porque nós tínhamos uma filosofia de trabalho bem diferente: nós tínhamos sempre uma maneira de fazer se as coisas não dessem certo desse jeito, nós tínhamos um outro caminho. Sempre procurávamos abrir uma outra opção, nunca trabalhar, digamos: “se aqui não der certo, não há como ser jeito.” Nós tínhamos sempre uma outra opção. Por exemplo, no caso das Árvores de Natal, nós tínhamos uns controles que nós usamos, controles sofisticados chamados controles eletro-hidráulicos, que gostaríamos que funcionasse, mas nunca funcionaram. Mas nós tínhamos um sistema mais simples, menos complexo, chamado válvula seqüencial, que sempre funcionou. Não dava aquela facilidade de trabalho que daria o sistema eletro-hidráulico, mas funcionava. Então, se não podia funcionar com o eletro-hidráulico, nós utilizávamos a válvula seqüencial e tínhamos uma maneira de botar em produção, de qualquer forma, o campo ou o poço. Então, sempre houve esse interesse em fazer alguma coisa extra, em sempre deixar uma alternativa válida e capaz de ser usada se fosse preciso. Isso nos ajudou muito. O aprendizado era ali e na hora. Sempre na hora. Primeiro, sentíamos bem o chão para dar o passo e depois é que dávamos o outro passo. Isso foi sempre assim. Uma característica desse nosso projeto foi essa. COTIDIANO DE TRABALHO Recebíamos sempre pessoas novas, engenheiros novos e sempre os treinávamos na nossa equipe. Nós tivemos oportunidade de treinar muita gente desse jeito. Era um trabalho integrado. O que mais gostava no trabalho era a parte de instalação de equipamentos no fundo do mar, tanto de linhas como de equipamentos: manifolds, a árvore de natal molhada etc. Esse trabalho ligado à parte submarina ainda é o que mais me agrada, o trabalho no mar. Na realidade, esse trabalho até parece mesmo um jogo de computador, porque como você tem que trabalhar lá no fundo do mar, sem assistência humana, nós precisamos de uns robôs mecanizados com câmara de televisão. Então, trabalhamos com esse controle o tempo todo. Esses robôs são chamados de ROVs que são veículos submarinos com câmaras de televisão montadas, que são os nossos olhos lá no fundo do mar. É, praticamente, por ali que a gente faz todo o trabalho, baseado na observação e no próprio trabalho desses robôs, que tem braços articulados e são capazes de se movimentar, fazendo uma porção de trabalhos manuais lá embaixo. Isso é quase um joguinho mesmo, como você disse, é quase virtual, porque você não está lá. Você está vendo tudo através de uma televisão lá no fundo do mar e trabalhando manualmente com braço articulado mecânico. Na medida em que fomos tendo que trabalhar em lâminas d’água mais profundas, tivemos que desenvolver toda uma tecnologia baseada em veículos de controle remoto em substituição ao mergulhador. Foi Isso que aconteceu. Nós tivemos um trabalho grande preparando esses veículos de controle remoto para serem usados em substituição ao mergulhador. Não tivemos susto, porque a gente já estava acostumada a esses veículos para observação. Então nós já tínhamos uma idéia de como seriam as atividades com os ROVs, porque já usávamos esses veículos para alguns trabalhos. Foi uma passagem de fase natural. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Foi um desafio ir trabalhar fora do Brasil. Eu sempre na minha vida gostei dos desafios. Então, encarei como um desafio ir para a Noruega para tentar vender em um país de primeiro mundo uma tecnologia desenvolvida no Brasil, um país tupiniquim. Quer dizer, era realmente uma coisa meio difícil. Nós tivemos sucesso até um certo ponto, porque eles até hoje estão usando muitas coisas que aprenderam conosco. Mas, infelizmente, não conseguimos transformar isso em lucro para a Petrobras. É uma história muito comprida. Acredito que foi até por causa de certos problemas de gerenciamento. A maior parte dos problemas foi por conta de gerenciamento. Nós não conseguimos estabelecer uma estrutura gerencial competitiva, capaz de fazer marketing num país de primeiro mundo. Nós não tínhamos essa experiência. Então, acho que foi aí que nós pecamos. Com a Pagoflex, foi um problema mesmo técnico. Ela não tinha condições de sobreviver, porque a tecnologia que ela usava era uma tecnologia incipiente, não dava para concorrer com outras companhias. Mas a Brasnor poderia ter tido sucesso se tivesse uma gerência um pouco melhor, coisa que ela não teve. EMBARQUE NO MAR DO NORTE Eu também embarquei lá no Mar do Norte. Nós vendemos umas linhas flexíveis para o campo de Veslefrikk, Então, eu embarquei para instalar esses jumpers flexíveis que ligavam duas plataformas semi-submersíveis. Passei uns 20 dias embarcado. Era diferente da Bacia de Campos, o tempo era pior. Nós tínhamos um vento que rondava 360 graus o dia inteiro. Ele começava do norte, passava para leste, para o sul, para o oeste e voltava para o norte, de noite voltava para o mesmo lugar. E, de vez em quando, soprava muito forte. Era muito frio, nós tínhamos que usar uns agasalhos bastante pesados, o que tornava difícil o nosso trabalho. Trabalhar com agasalho muito pesado era difícil. Mas a organização é muito parecida com a nossa. Também andávamos de helicóptero, íamos de helicóptero até a plataforma. Só que, no helicóptero, nós tínhamos uns trajes especiais porque, se caíssemos no mar, nós teríamos no máximo quatro a cinco minutos para ser recuperados, senão a hipotermia matava. Então, os cuidados são um pouco maiores com relação ao transporte de pessoal lá no Mar do Norte do que aqui no Brasil. Já ia com roupa especial no helicóptero, que permitia sobreviver por mais algum tempo se caísse no mar. Lá eles têm mais vento. O vento que sopra mais forte, praticamente todo o ano. Na época em que nós instalamos esses tubos, esses jumpers, foi no inverno, no começo do inverno, e já estava muito frio. Mas as instalações são muito parecidas com as nossas, tanto a semi-submersível de produção, como a de perfuração, são muito parecidas com as nossas. A tecnologia é muito similar. BACIA DE CAMPOS: EQUIPAMENTOS E EXPANSÃO Os princípios básicos que permitiram a gente chegar hoje a quase três mil metros de profundidade são praticamente os mesmos, quer dizer, usamos a tecnologia de linhas flexíveis, risers flexíveis, Árvores de Natal Molhadas, semi-submersíveis ou então, navios petroleiros amarrados em monobóias ou em torretas, em torres, mas a tecnologia básica é a mesma. Só que sempre estão surgindo desafios novos, porque a idéia de melhorar os sistemas, torna-los mais simples e mais baratos e mais rápidos de ser instalado sempre existe. Então, sempre tem alguma coisa nova em caminho. Também chegamos a certos limites dos equipamentos que a gente está usando. A linha flexível, por exemplo, está chegando ao seu limite, três mil metros de profundidade, que é praticamente o limite máximo. Passar, além disso, vai ser muito difícil usando a tecnologia que nós já conhecemos de linhas flexíveis. Precisamos partir para um outro tipo de equipamento diferente da linha flexível ou, então, mudar radicalmente a concepção dela. Já as Árvores de Natal Molhadas você pode levar até bem mais profundo do que já está, com certeza. Dá para ir mais longe ainda. EQUIPAMENTOS SUBMARINOS Posso destacar a árvore de natal molhada, as linhas flexíveis, os risers flexíveis, e posso destacar a tecnologia de manifolds submarinos também, que foi desenvolvida pelo Gespa e que, até hoje, é muito usada. O manifold é uma maneira de você juntar vários poços num só ponto e daí levar somente uma ou duas linhas até a unidade de produção. Isso também é uma tecnologia que foi desenvolvida aqui. A cada vez que eu colocava em produção uma dessas instalações ou um desses campos era como se eu tivesse um filho novo. Na realidade era um trabalho muito grande, porque vinha desde o tempo da sua concepção até o dia dele nascer e até ele crescer e transformar-se rapaz e adulto. Era quase como uma situação desse tipo, de ver um filho crescer e se realizar. Um processo que, como Enchova, levava inicialmente seis meses, mas depois levava um ano, um ano e meio. Ou seja, desde que você começava o projeto até a hora que ele já estava produzindo de uma forma estabilizada, levava uns dois anos. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu comecei trabalhando com perfuração na Região de Produção do Nordeste, depois passei para produção. Em produção, fui chefe do Setor de Completação e Estimulação de Poços na Região de Produção do Nordeste. Vim para o Rio, e fiquei muito tempo na Divisão de Produção, não exerci nenhum cargo de chefia, fiquei sempre na parte de consultoria técnica. E, agora, eu estou como Fiscal de Embarcações, que praticamente faz a supervisão do trabalho da embarcação, que lança as linhas submarinas e lança os equipamentos submarinos de fundo do mar. Eu sempre gostei muito de trabalhar em realização, em fazer alguma coisa, instalar e colocar para produzir. Nunca fui muito bom em trabalho de escritório, sempre preferi estar na ponta da linha, onde se faz a instalação e a operação. No momento, eu estou no Rio, mas pretendendo voltar para a Bacia de Campos e voltar a embarcar como fiscal de embarcação. HOMENAGEM DO CENPES Fizeram uma senhora homenagem no Cenpes no dia 12 de outubro de 2004 e eu fiquei muito emocionado. Deram ao Laboratório Hiperbárico o nome de Zephyrino Machado. Foi uma honra muito grande para mim e eu fiquei muito sensibilizado. Preparam uma senhora homenagem, onde recebi uma placa e fiquei muito satisfeito de ver todo o pessoal que trabalhou comigo lá me homenageando. Isso me deixou muito sensibilizado. FAMÍLIA Eu casei em 1961, no ano seguinte em que entrei na Petrobras. O nome da minha esposa é Vólia Brandão Machado. Nós estamos casados há quarenta e quatro anos. Sobre o meu trabalho, ela é quem devia responder, mas eu acho que ela gosta. Ela sempre diz que quando volto dos dias em que passo trabalhando embarcado é como se tivéssemos nos encontrando pela primeira vez. De 15 em 15 dias, então, tem esse reencontro, e é muito interessante isso aí. É verdade. Comigo também é assim. Temos dois filhos, um casal, que também se chamam Zephyrino e Voglia.Pouca imaginação, né? Demos os nossos nomes aos nossos filhos Zephyrino e Voglia também. Os dois são professores. A minha filha ensina inglês na Cultura Inglesa e o meu filho dá aulas numa espécie de cursinho pré-vestibular em Maceió. Já tenho dois netos: Maria Luiza e Carlos Eduardo. Eles são filhos do meu filho. O meu filho é o mais novo, mas ele é já está casado. LAZER Eu gosto muito de ler. Eu estou sempre lendo um livro novo, sempre estou vendo uma coisa interessante, gosto muito de ver filmes na televisão. Eu gosto de ler mais livro de suspense, policial e de ficção científica. E gosto de filmes também na mesma linha. IMAGEM DA PETROBRAS A minha mulher disse que se eu tivesse que ter uma amante, ela seria a Petrobras. Eu sou um fã de carteirinha da Petrobras. Eu gosto muito dessa Empresa. Realmente, eu a vi crescer praticamente do início, desde os primórdios até hoje. Sou vidrado na Petrobras. Qualquer coisa na Petrobras me atrai. Acho que se eu tivesse mudado de profissão, voltaria a ser petroleiro. Se tivesse que voltar tudo de novo, seria petroleiro novamente. E da Petrobras, de novo. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho que é muito importante esse Projeto Memória na Petrobras. A memória ajuda muito a gente a reviver. O povo que não tem memória não é povo. Eu fiquei muito satisfeito de ter vindo até aqui e o que eu puder ajudar vocês, eu estou aí. E eu quero agradecer também por ter podido vir aqui e falar com vocês isso tudo. Se precisar de novo, eu estou à disposição.
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