Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Maria Conceição Alves de Castro – conhecida como Rosa
Entrevistado por Priscila Cabral
Brasília, 08 de fevereiro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB556
Transcrito por Flávia Penna
P/1 – Primeiro, eu queria que você falasse seu nome, onde você nasceu e a data do seu nascimento.
R – Eu me chamo Maria Conceição Alves de Castro, conhecida aqui na Petrobras pelos colegas por Rosa, que é meu apelido. Eu nasci em Baliza em Goiás, na divisa de Goiás com Mato Grosso. Em dez de dezembro de 1956.
P/1 – A Senhora se recorda quando a Senhora entrou para a Petrobras?
R – Sim, 18 de agosto de 1976.
P/1 – E como foi esse ingresso?
R – Esse ingresso foi bastante interessante. Eu trabalhava com a Euza, a Aparecida Euza de Carvalho, na CVB, uma companhia de vidros. A Euza foi indicada para fazer a prova – naquela época era por indicação, a gente chegava e fazia a prova. A Euza veio primeiro e depois me indicou. Eu vim, fiz a prova e comecei a trabalhar. Então, a Euza é a minha madrinha aqui na Petrobras.
P/1 – A Senhora sempre trabalhou aqui?
R – Não, eu já trabalhava em outros locais. Eu trabalhei num salão de beleza... Eu comecei a trabalhar com dez anãos. Depois trabalhei como caixa numa loja; trabalhei prestando serviço na Novacap, foi uma trajetória longa. Depois fui para CVB, companhia de vidros e depois entrei na Petrobras.
R – Em que áreas que a Senhora trabalhou aqui?
R – Aqui na área financeira, no antigo Setor Financeiro aqui no prédio, depois eu fui para o aeroporto, o antigo Dabra, hoje Gabra. Trabalhei 13 anos e pouquinho no Aeroporto.
P/1 – A Senhora podia me dizer o significa Dabra?
R – Olha, na época, era Depósito do Aeroporto de Brasília. Depois do Dabra, eu fui para a Baga, a Base de Barra do Graças, em Mato Grosso.
P/1 – Como foi trabalhar nesses locais? Como era o cotidiano de trabalho?
R – Olha, eu sempre...
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Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Maria Conceição Alves de Castro – conhecida como Rosa
Entrevistado por Priscila Cabral
Brasília, 08 de fevereiro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB556
Transcrito por Flávia Penna
P/1 – Primeiro, eu queria que você falasse seu nome, onde você nasceu e a data do seu nascimento.
R – Eu me chamo Maria Conceição Alves de Castro, conhecida aqui na Petrobras pelos colegas por Rosa, que é meu apelido. Eu nasci em Baliza em Goiás, na divisa de Goiás com Mato Grosso. Em dez de dezembro de 1956.
P/1 – A Senhora se recorda quando a Senhora entrou para a Petrobras?
R – Sim, 18 de agosto de 1976.
P/1 – E como foi esse ingresso?
R – Esse ingresso foi bastante interessante. Eu trabalhava com a Euza, a Aparecida Euza de Carvalho, na CVB, uma companhia de vidros. A Euza foi indicada para fazer a prova – naquela época era por indicação, a gente chegava e fazia a prova. A Euza veio primeiro e depois me indicou. Eu vim, fiz a prova e comecei a trabalhar. Então, a Euza é a minha madrinha aqui na Petrobras.
P/1 – A Senhora sempre trabalhou aqui?
R – Não, eu já trabalhava em outros locais. Eu trabalhei num salão de beleza... Eu comecei a trabalhar com dez anãos. Depois trabalhei como caixa numa loja; trabalhei prestando serviço na Novacap, foi uma trajetória longa. Depois fui para CVB, companhia de vidros e depois entrei na Petrobras.
R – Em que áreas que a Senhora trabalhou aqui?
R – Aqui na área financeira, no antigo Setor Financeiro aqui no prédio, depois eu fui para o aeroporto, o antigo Dabra, hoje Gabra. Trabalhei 13 anos e pouquinho no Aeroporto.
P/1 – A Senhora podia me dizer o significa Dabra?
R – Olha, na época, era Depósito do Aeroporto de Brasília. Depois do Dabra, eu fui para a Baga, a Base de Barra do Graças, em Mato Grosso.
P/1 – Como foi trabalhar nesses locais? Como era o cotidiano de trabalho?
R – Olha, eu sempre conto assim para os mais novos, porque acho que hoje eles não tem direito de dizer que está difícil, porque difícil foi na nossa época. Nós trabalhávamos aqui com faturamento, a máquina era aquela manual, Facit, que a gente apertava o numerozinho e rodava; a máquina de datilografia era manual, aquela manualzona mesmo, que você tinha que datilografar tudo, não podia errar os números. Daqui, eu fui transferida para o Aeroporto que era o mesmo sistema: a Facitizinha, aquela maquinazona pesada. Eu fazia todo o serviço de faturamento do Aeroporto de Brasília. De dez em dez dias, eu tinha que virar a noite trabalhando. Foi uma etapa bastante difícil na minha vida e foram muitos anos assim.Nos dias do fechamento, eu entrava às seis horas da manhã e saía nove, dez do dia seguinte, trabalhando direto com faturamento. É uma lembrança até um pouco triste porque, como eu não tinha resistência física, eu tinha que tomar coca-cola com café para suportar a jornada. Eu ainda tinha dois filhos, bem pequeninhos e chegava em casa quase meio dia do dia seguinte, depois de uma longa jornada. Eu folgava só naquele dia e no dia seguinte eu tinha que estar trabalhando novamente. Eu ficava assim im pouco agitada, porque não dormia direito, tinha o problema das crianças que a gente não podia dormir durante o dia e ainda comia de marmita. Quando nós começamos, gente, nós não tínhamos assistência médica, nós não tínhamos ticket, então comia de marmita. Era barra pesada, era difícil. E essa jornada de virar a noite trabalhando, não era fácil. A condução me pegava em Taguatinga cinco e vinte da manhã para eu entrar às seis horas no Aeroporto de Brasília e saía nove e dez do dia seguinte. Era uma jornada quádrupla, né, pode-se dizer e a gente superava e ainda agradecia a Deus. Hoje, eu agradeço a Deus por eu ter resistido.
P/1 – Quando a gente estava preenchendo a ficha lá fora, a Senhora falou que estava aposentada. A Senhora lembra a data da sua saída?
R – Sim, três de maio de 1997.
P/1 – Nesse período de Petrobras, quais as mudanças significativas que você percebeu dentro da Empresa?
R – O que marcou muito era que, como eu trabalhava com faturamento, era máquina de datilografia. Da manual, nós evoluímos para a máquina elétrica e depois veio o computador. O computador melhorou bastante. O trabalho continuava, mas de uma forma moderada, diminuiu a mão-de-obra, era mais ágil. Um trabalho que eu levava praticamente dois dias para fazer, no computador eu fazia em duas, três horas. Então, eu acho que foi a questão da informatização.
P/1 – Mas quando houve essa informatização houve dificuldade também para assimilar essa tecnologia nova?
R – Sim, houve. A gente costuma ser um pouquinho resistente às mudanças. Hoje, avaliando, eu acho que eu fui um pouco resistente, mas acompanhei. A gente tinha um pouco de medo, de receio, né, de mexer com o novo. Para a gente, o computador era uma coisa muita nova, mas eles deram curso, tinha uma pessoa que ia lá nos orientar, ensinar e isso tudo favoreceu.
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho também da presença da Petrobras aqui no Centro-Oeste, do papel do próprio Escritório aqui de Brasília.
R – Eu acho que a Petrobras aqui em Brasília é forte assim dentro do meio de pessoas que estão envolvidas com essa questão de combustível, dos aeroportos. Mas no dia-a-dia das pessoas que moram nas cidades satélites não tem, não altera muito não. A Petrobras patrocina muitas peças, muitos filmes, mas nas cidades satélites nós não temos nada, só aqui no Plano Piloto, na meiuca. Para o povo, para a população não tem nada. Eu não vi projeto nenhum patrocinado pela Petrobras aqui.
P/1 – Mas como é que a Senhora vê esse apoio da Empresa a esses eventos culturais.
R – Muito interessante. Outra coisa que eu gostaria que servisse de exemplo para os mais jovens: eu fui fazer faculdade depois que me aposentei. Eu dou aula por contrato temporário e, normalmente, dou aula na periferia, onde tem aquele pessoal mais pobre, mais carente. Então, há realmente, uma grande necessidade desses patrocínios, isso é muito importante. Eu até gostaria que a Petrobras investisse mais aqui no Distrito Federal porque têm muita gente pobre, muita gente carente precisando de patrocínio para tirar os jovens da rua, os jovens da droga, do vício. Eu dei aula numa escola, no ano passado para uma turma de quarenta alunos. Desses quarenta alunos, somente cinco tinham os pais morando juntos; cada um tinha uma história triste, uma história de violência. E você toda a carência, a falta das coisas, falta de comida, é triste. Daí, eu acho que é muito importante a Petrobras investir nesses projetos para ajudar a tirar os jovens da rua, ajudar a fazer um curso de línguas, um curso de informática, ajudar a encaminhar para o primeiro emprego. Eles têm muita dificuldade de conseguir o primeiro emprego. Eu acho que seria muito válido.
P/1 – Eu acho que a Senhora até já comentou, mas mesmo assim não poderia deixar de perguntar: se a aposentadoria mudou, de alguma forma a sua vida, seja no cotidiano, no dia-a-dia... O que mudou pra você depois da aposentadoria?
R – Olha gente, a liberdade, tá? É incrível, mas a gente deixa de cumprir horário. Eu me senti livre, com mais liberdade para fazer as coisas, para inventar, para criar. Toda vida eu tive vontade de trabalhar como voluntária, não tinha essa oportunidade. Aí, fui trabalhar com os deficientes visuais na Biblioteca Braile Dorina Nowill, que funciona em Taguatinga. Dou aula numa região carente. No ano passado, eu pude doar cestas básicas para vários alunos carentes mesmo, que chegavam à escola passando mal com fome. O dinheirinho do emprego temporário facilitou para que eu fizesse isso. Eu gosto de trabalhar com idosos. Sempre encontro um precisando consultar, marcar um exame e eu posso acompanhar, eu tenho tempo para acompanhar esse povo. Agora eu vou colaborar numa creche dando aula. A gente faz de graça, mas é muito bom. A gente sente uma satisfação enorme que não tem nem como explicar isso, de ser voluntário, ajudar de graça, sem estar ganhando nada e ver ali na sua frente, o retorno do seu trabalho. É muito bom.
P/1 – Primeiro, eu queria perguntar como você ficou sabendo do Projeto memória e como você chegou até aqui.
R – Além dessa atividade minha fora, eu sou colaboradora da (ABEP?), uma vez por semana. Então, foi através da (ABEP?) que eu fiquei sabendo.
P/1 – A Senhora foi sindicalizada?
R – Fui.
P/1 – E chegou a exercer algum cargo?
R – Não.
P/1 – Mas durante o tempo que você ficou aqui, como é que você via essa relação entre o Sindicato e a Empresa?
R – Olha, aqui no Distrito Federal nós tivemos muito trabalho há uns tempos atrás. Nós até fizemos a tentativa de fundar um sindicato, porque o sindicato que nos representa é um sindicato liderado por um frentista. Então, ele não tem muito interesse em defender a nossa classe. Então, nós tentamos montar um sindicato para ver o nosso direito sendo defendido e tudo, de forma que, até hoje, estamos mal representados, infelizmente. Ele assume que não interesse em representar a nossa categoria. Tanto é que eu me sindicalizei pelo Sindipetro de São Paulo.
P/1 – No caso, qual é o nome desse sindicato que você mencionou?
R – Sindicato dos Trabalhadores do Minério e Derivados de Petróleo de Brasília.
P/1 – Ele não é ligado ao Sindipetro?
R – Não.
P/1- A gente já está quase chegando no final, só faltam mais duas perguntas. Mas antes dessas duas perguntas, eu queria deixar você livre se você quiser falar alguma coisa e também perguntar se você tem alguma história interessante da sua época de Petrobras. A Senhora pode ficar a vontade para falar.
R – Olha, história interessante realmente eu não tenho. Quando eu fiquei sabendo eu até me questionei: “mas que história interessante eu tenho?” Porque na minha época foram só dificuldades. A gente era um pouco explorada, pode-se dizer. Jornada de trabalho estressante, a turma da minha época não teve valorização nenhuma, nós nos aposentados – pode-se dizer – tristes. Fomos nós que construímos essa Empresa, nós que começamos, a gente trabalhava feito maluco, em regime militar, na nossa época era um regime militar e não ganhamos quase nada com isso. Então, é lamentável! Não tinha quem nos defendesse, como aqui no Distrito Federal até hoje não tem. E é isso aí.
P/1 – Então, vou passar para outra pergunta que é: o que é ser petroleiro?
R – Gente, o que é ser petroleiro? É agradecer a Deus – isso eu faço, tá? Trabalhar de coração aberto; é você ver os seus direitos cumpridos; é você ter direito e liberdade de reivindicar; é você fazer a sua parte e ver que a outra parte também está tentando fazer alguma coisa para melhorar a sua qualidade de vida. E ter orgulho da Empresa que você trabalha, apesar dos problemas. É vestir a camisa e ter orgulho desse nosso Brasil.
P/1 – Para finalizar, queria que você comentasse um pouco o que você achou de participar do Projeto Memória, suas considerações sobre o projeto e, além disso, agradecer bastante por você ter vindo aqui dispondo seu tempo para participar.
R – Ah, eu achei importante porque, pra gente, é um orgulho ver um pedacinho do que nós passamos ser registrado, ser passado para outras pessoas, para eles verem que a nossa realidade foi uma, hoje é outra. Infelizmente, nós não fomos reconhecidos, não fomos valorizados, mas que as coisas melhorem, né? Vamos torcer para que a época dos jovens seja outra. Mas teve o seu lado positivo também. Foi muito bom, muito bom. É um desabafo também, ok?
P/1 – Obrigada, dona Rosa.
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