A neve não caía lá fora, pois o nosso Natal é de brisa quente e cheiro de jasmim, mas dentro daquela sala, o tempo decidiu parar. Eu, que tantas vezes carreguei o peso do mundo e das planilhas de engenharia nos ombros, sentia agora um peso diferente: um saco de veludo vermelho, transbordando não apenas brinquedos, mas a própria substância dos sonhos.
Ajustei a barba de algodão, sentindo o calor do meu próprio hálito, e forcei um \"Ho-Ho-Ho\" que brotou não da garganta, mas do fundo da alma de um pai que queria, por uma noite, ser eterno.
Quando a porta se abriu, o que vi não foram apenas meus filhos. Vi o nascimento do impossível.
Minha pequena, com seus três anos de cachos e laços, paralisou. Seus olhos cor de mel brilhantes, dilataram-se como se estivessem diante de uma estrela cadente que resolveu pousar no tapete da sala. Ela não gritou; ela reverenciou o momento com um silêncio sagrado. Já o pequeno, meu valente de dois anos, agarrou-se à barra do vestido da mãe, oscilando entre o temor do desconhecido e a euforia de ver a lenda ganhar carne, osso e botas pretas.
Aproximei-me, e cada passo meu era o som de um sino que ecoaria por décadas na memória deles.
O ouro do Natal não estava nos embrulhos, nem nos laços de fita que o chão decoravam. Estava no brilho daqueles olhares puros, onde a lógica e o mundo jamais alcançavam.
Entreguei os presentes. Toquei suas mãos pequenas com minhas luvas brancas. Naquele instante, eu não era o pai que corrige, o engenheiro que projeta ou o homem que se cansa. Eu era a prova de que a bondade existe, de que o universo é mágico e de que o amor, às vezes, precisa de um disfarce para ser visto em toda sua grandeza.
Minha esposa, ao canto, sorria com o olhar de quem guarda o segredo mais doce do mundo. Ela sabia que, por trás daquela máscara de látex e feltro, batia um coração que daria a vida para manter aquela chama acesa.
Saí da sala sob o som de adeus em vozes...
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A neve não caía lá fora, pois o nosso Natal é de brisa quente e cheiro de jasmim, mas dentro daquela sala, o tempo decidiu parar. Eu, que tantas vezes carreguei o peso do mundo e das planilhas de engenharia nos ombros, sentia agora um peso diferente: um saco de veludo vermelho, transbordando não apenas brinquedos, mas a própria substância dos sonhos.
Ajustei a barba de algodão, sentindo o calor do meu próprio hálito, e forcei um \"Ho-Ho-Ho\" que brotou não da garganta, mas do fundo da alma de um pai que queria, por uma noite, ser eterno.
Quando a porta se abriu, o que vi não foram apenas meus filhos. Vi o nascimento do impossível.
Minha pequena, com seus três anos de cachos e laços, paralisou. Seus olhos cor de mel brilhantes, dilataram-se como se estivessem diante de uma estrela cadente que resolveu pousar no tapete da sala. Ela não gritou; ela reverenciou o momento com um silêncio sagrado. Já o pequeno, meu valente de dois anos, agarrou-se à barra do vestido da mãe, oscilando entre o temor do desconhecido e a euforia de ver a lenda ganhar carne, osso e botas pretas.
Aproximei-me, e cada passo meu era o som de um sino que ecoaria por décadas na memória deles.
O ouro do Natal não estava nos embrulhos, nem nos laços de fita que o chão decoravam. Estava no brilho daqueles olhares puros, onde a lógica e o mundo jamais alcançavam.
Entreguei os presentes. Toquei suas mãos pequenas com minhas luvas brancas. Naquele instante, eu não era o pai que corrige, o engenheiro que projeta ou o homem que se cansa. Eu era a prova de que a bondade existe, de que o universo é mágico e de que o amor, às vezes, precisa de um disfarce para ser visto em toda sua grandeza.
Minha esposa, ao canto, sorria com o olhar de quem guarda o segredo mais doce do mundo. Ela sabia que, por trás daquela máscara de látex e feltro, batia um coração que daria a vida para manter aquela chama acesa.
Saí da sala sob o som de adeus em vozes infantis, deixando para trás o perfume do pinheiro e o rastro de uma dúvida maravilhosa. Tirei o disfarce no quarto, suado e exausto, mas com o peito leve. Eu sabia: eles cresceriam, os anos levariam a crença no bom velhinho, mas a sensação de ser visitado pelo extraordinário permaneceria neles como uma bússola.
Eles não se lembrariam do brinquedo de plástico, mas se lembrariam da noite em que o impossível bateu à porta e os chamou pelo nome.
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