Entrevista com Marlene Rosa Cainelli em 15/03/2022, que se encontrava na cidade de cidade de Porto, Portugal, a entrevistadora Juliana Andrade estava em Recife e o entrevistador Cristiano estava em Goiânia. O encontro foi realizado de forma online através da plataforma Google Meet.
Estavam presentes:
- Professora: Juliana Andrade
- Professor: Cristiano Nicolini
- Professora Marlene Rosa Cainelli
Legenda da transcrição:
E1: Entrevistadora 1: Juliana Andrade
E2: Entrevistador 2: Cristiano
R: Entrevistada: Marlene Rosa Cainelli
A transcrição foi realizada por Aldry Pereira Chaves e revisada por Juliana Miranda da Silva.
Juliana recepcionou a professora Marlene e apresentou o professor Cristiano, que também participou da entrevista e comentou brevemente acerca do roteiro
da entrevista e dos objetivos da pesquisa.
E1 - Então bom dia formalmente à professora Marlene Rosa Cainelli, que fala conosco hoje, que vai ser nossa primeira entrevistada do projeto Memórias e
História da ABEH. É um nome enorme viu professora Marlene, mas aí eu vou reduzir, não é professor Cristiano? Então a gente agradece desde já, a gente vai
pedir a autorização da professora Marlene para gravar. O protocolo dessa sessão ela segue todo um... Um debate dentro do corpo de ética da História Oral,
nós passamos no projeto um ano discutindo, foi construído um documento com mais de cento e poucas páginas, também se a professora Marlene Cainelli tiver
curiosidade ou quiser ter acesso a gente também vai disponibilizar, a Associação Brasileira de Ensino de História vai fazer uma edição e vai disponibilizar. Então
pergunto a professora Marlene se ela concorda com essa gravação, que em seguida também pode ser disponibilizada para ela conferir e ter. Professora
Marlene concorda?
R – Concordo, pode gravar.
E1 - Então a gente agradece, eu vou também passar a palavra para o professor Cristiano, que é pesquisador do projeto, assim como eu, e ele vai conduzir...
Continuar leituraEntrevista com Marlene Rosa Cainelli em 15/03/2022, que se encontrava na cidade de cidade de Porto, Portugal, a entrevistadora Juliana Andrade estava em Recife e o entrevistador Cristiano estava em Goiânia. O encontro foi realizado de forma online através da plataforma Google Meet.
Estavam presentes:
- Professora: Juliana Andrade
- Professor: Cristiano Nicolini
- Professora Marlene Rosa Cainelli
Legenda da transcrição:
E1: Entrevistadora 1: Juliana Andrade
E2: Entrevistador 2: Cristiano
R: Entrevistada: Marlene Rosa Cainelli
A transcrição foi realizada por Aldry Pereira Chaves e revisada por Juliana Miranda da Silva.
Juliana recepcionou a professora Marlene e apresentou o professor Cristiano, que também participou da entrevista e comentou brevemente acerca do roteiro
da entrevista e dos objetivos da pesquisa.
E1 - Então bom dia formalmente à professora Marlene Rosa Cainelli, que fala conosco hoje, que vai ser nossa primeira entrevistada do projeto Memórias e
História da ABEH. É um nome enorme viu professora Marlene, mas aí eu vou reduzir, não é professor Cristiano? Então a gente agradece desde já, a gente vai
pedir a autorização da professora Marlene para gravar. O protocolo dessa sessão ela segue todo um... Um debate dentro do corpo de ética da História Oral,
nós passamos no projeto um ano discutindo, foi construído um documento com mais de cento e poucas páginas, também se a professora Marlene Cainelli tiver
curiosidade ou quiser ter acesso a gente também vai disponibilizar, a Associação Brasileira de Ensino de História vai fazer uma edição e vai disponibilizar. Então
pergunto a professora Marlene se ela concorda com essa gravação, que em seguida também pode ser disponibilizada para ela conferir e ter. Professora
Marlene concorda?
R – Concordo, pode gravar.
E1 - Então a gente agradece, eu vou também passar a palavra para o professor Cristiano, que é pesquisador do projeto, assim como eu, e ele vai conduzir essa
parte inicial da nossa entrevista com a nossa pesquisadora professora Marlene Cainelli. Eu só esqueci de dizer a data, não é? Hoje, quinze de março de dois mil
e vinte e dois, é uma terça-feira no Brasil, às onze e trinta e cinco, e na cidade em que a professora Marlene Cainelli está, que é... Eu vou falar o país, Portugal,
que eu não sei a cidade.
R - É Porto.
E1 – No Porto, a cidade do Porto, são quatorze e trinta e cinco. Professor Cristiano, e o professor Cristiano fala de Goiás.
E2 – E a Juliana Pernambuco, é Recife, é isso. Vários lugares, no Sul. Então, primeiramente eu agradeço a professora Marlene pelo aceite, lembrando que o
seu nome surgiu de um levantamento que foi feito durante esse um ano de conversas. Nós fizemos todo um mapeamento de nomes que integrariam esse
conjunto de entrevistadas e entrevistados e o seu nome então surgiu a partir de consultas, anais da ANPHU, e todo esse mapeamento que abrangeu, Juliana,
desde a década de oitenta, pegando os anos noventa e depois uma segunda etapa nas pessoas que atuaram mais no século XXI, que começaram, não é,
nesse período. Por enquanto, então nós começamos com essa turma aí dos anos oitenta e noventa. E, professora Marlene, como eu já conhecia, já tivemos
contato prévio, nós do grupo fomos indicando nomes dessa lista que tínhamos mais proximidade. Como eu já conhecia a professora Marlene, já integrou a
minha banca de doutorado eu tomei a liberdade de fazer esse contato prévio. A primeira questão, primeiro bloco das conversas, diz respeito a identificação e a
família dos nossos entrevistados, então a gente começa nessa esfera da história familiar. Mas professora Marlene fica à vontade, nós temos esse roteiro prévio,
mas você tem toda a liberdade, fugir do roteiro, se quiser tocar em outros pontos que não estão aqui, fique à vontade. Então, para começo de conversa, nós
gostaríamos que você nos dissesse o nome completo, data e local de nascimento, e como você gostaria de ser chamada nessa entrevista.
R – Meu nome é Marlene Rosa Cainelli, eu nasci em vinte e quatro do nove de sessenta e quatro, de mil novecentos e sessenta e quatro, na cidade Dracena
no interior de São Paulo. Como eu vou ser chamada nessa entrevista? Acho melhor vocês saberem, não é. Porque eu posso dizer, mas vocês todos me
chamam de professora Marlene, então. (Risos). Professora, professora, professora. Eu sou chamada de professora já há mais de trinta anos, não é,
então pode ser professora Marlene mesmo.
E2 – Perfeito. Alguns dizem a Cainelli, não é. A Conceição.
R - É, a Cainelli, é, muita gente chama de Cainelli. Isso me lembra muito o meu pai, porque o meu pai é chamado de Cainelli, que meu pai é militar e o militar ele
é chamado pelo sobrenome, então o meu pai sempre foi o Cainelli. Quando as pessoas me chamam de Cainelli, a Cainelli a Cainelli, eu falo para elas: Meu pai.
Recuperei meu nome do meu pai.
E2 – Perfeito. Aí você já entra nas próximas questões já introduzindo, que é falar um pouco sobre a sua família, pais, avós. Essas memórias e narrativas que você
tem sobre é essa sua, sobre a própria família. O que a senhora lembra sobre a origem da sua família, sobre avós, se tem irmãos, o nome desses irmãos, e,
inclusive sobre como seus pais se conheceram, como se casaram e que atividade que faziam. Então, se você puder nos falar um pouco sobre essa sua
história de vida.
R - Tá. Eu vou começar e depois você vai me lembrando o que eu esquecer, de falar. Bom, vou começar pelos meus pais então. Os meus pais, é, meu pai, como
eu já disse era militar, é aposentado já faz muitos anos. A minha mãe sempre foi dona de casa. É, meu pai chama Maurílio Cainelli e minha mãe chama Helena
Rosa de Souza Cainelli. Meu pai é descendente de italianos, meu vô, meu bisavô veio da Itália, o nome dele era Pedro Cainelli e meu avô também chamava Pedro
Cainelli, meu tataravô também chamava Pedro Cainelli. Todos têm o mesmo nome, tanto que era o nome é... Foi muito complicado a questão é do reconhecimento, por exemplo, da cidadania italiana porque todos tinham o mesmo nome e tem o meu vô e bisavô inclusive as esposas tinham o mesmo nome. Era tudo muito confuso. Como as esposas perdem o nome quando casam, então todas eram só Rosa Cainelli, Rosena Cainelli, todas tinham o mesmo nome. É, a minha mãe, os meus avós por parte de mãe eles são da Bahia, vieram da Bahia, diz a lenda, reza a lenda, que ninguém confirma, que os meus bisavós vieram de Portugal, meu vô parecia muito português mesmo, um português baixinho assim chamado Manuel, só que ele veio da Bahia. Chamado Manuel, ele chamava Manuel, ele veio da Bahia ainda muito novo, reza a lenda também diz que ele veio a pé. E aí dizem que o mineiro é baiano cansado, não é, porque uma parte dos baianos que vieram da Bahia pararam em Minas, mas o meu vô veio até o interior de São Paulo e ele conheceu a minha vó ali mesmo, no interior de São Paulo. Todos são de Adamantina na verdade, aí a minha mãe nasceu em Junqueirópolis, se eu não me engano, ou Adamantina e depois eles foram todos para Dracena. O meu avô por parte de mãe era administrador de uma fazenda, que quando eu era criança eu achava que a fazenda era dele. Então quando a gente fazia aquelas redações na escola, não é, fale das suas férias, aí eu sempre fazia aquelas redações do tipo, é “minhas férias na fazenda do vovô”. Eu não sabia que a fazenda não era do vovô. (Risos). Eu achava que a fazenda era do meu vô, mas não era, meu avô só administrava a fazenda, administrador em uma fazenda enorme, fazenda Dracena, uma das maiores fazendas de café do interior de São Paulo, ali na região de Dracena. Então toda a minha infância, falando um pouco da minha infância, eu passei na verdade viajando para essa fazenda nas férias, não é. Meu pai era funcionário público não é, militar, então tirava férias de um mês e nós íamos todos para o interior de São Paulo e ficávamos lá. Meu pai e a minha mãe se casaram em Dracena, eles se casaram em Dracena, eles se conheceram nessa fazenda. Meu vô era administrador, minha mãe é a filha mais velha do meu vô, eles são cinco irmãos, e minha mãe conheceu meu pai nessa fazenda, meu pai trabalhava nessa fazenda, ele era colono, não é, dessa fazenda. E eles se conheceram nessa fazenda, a minha mãe tinha quinze anos e meu pai tinha vinte. E aí eles fizeram aquilo que muitos faziam, eles fugiram. (Risos). Minha mãe pulou a janela à noite, quem conhece a minha mãe não acreditaria em um negócio desse. Minha mãe pulou a janela a noite e fugiu com meu pai, porque meu vô não queria que minha mãe se casasse com meu pai, porque meu pai era colono da fazenda, era... brigava muito, jogava bola, ia nos bailes, aquela coisa de... E era uma fazenda tão grande, que a fazenda tinha, ela tinha... é, esses bailes, essas festas, ele tinha bares, tinha é... como é que chama? É, quitanda, tinha armazéns, não é, que chamava na época. Então era uma fazenda muito grande. E aí meu vô não queria que eles casassem por causa disso, porque ele conhecia o meu pai das festas, dos festões, e não queria que minha mãe casasse, minha mãe só tinha quinze anos, mas a minha mãe resolveu que era hora dela casar mesmo, dela fugir e fugiu. (Risos). Ela fugiu com meu pai, e aí eles fugiram, passaram um mês fora e quando voltaram aí não tinha jeito, aí aquela história não é, agora não é mais virgem, não sei o que, tem que casar. Aí casaram. A minha mãe tinha quinze anos, minha mãe era tão azarada que acho que no dia que transou a primeira vez com meu pai já ficou grávida de mim. Nove meses depois que ela casou eu nasci. (Risos). E ela casou em dezembro, eu nasci em setembro. Ela fugiu em dezembro, e eu nasci em setembro, quer dizer, foi imediatamente. (Risos). E eu nasci em setembro, aí logo depois ela teve a minha
irmã, três meses depois. Nove meses, dez meses depois que eu nasci ela teve a minha irmã. Aí ela ficou tão, tão assim, choca, tão traumatizada de ter dois
filhos em cima do outro assim que ela levou dez anos para ter o meu irmão, que eu tenho um terceiro irmão que é dez anos mais novo. E aí eles se conheceram
nessa fazenda, ela fugiu e eles, meu pai trabalhava ali, mas ele passou, minha mãe é, meu vô passou um tempo sem conversar com eles, só voltou a conversar
quando eu nasci. Que aí o meu vô diminuiu a raiva e resolveu conversar, não é, com o meu pai. E aí o meu pai nessa época ele trabalhava como entregador de
gás, se eu não me engano, de uma loja que tem até hoje lá em Dracena, trabalhava como entregador de gás. Passados uns dois anos, dois, três anos, que eles tinham casado, abriu concurso para Polícia Militar no Paraná, e aí o meu pai veio fazer o concurso da Polícia Militar no Paraná, foi não é, fazer o concurso para polícia militar no Paraná, passou no concurso, e aí nós mudamos de Dracena, eu tinha três anos, a, não tinha três anos ainda, e a minha irmã então era novinha, e nós mudamos de Dracena para Londrina no Paraná. E aí o meu pai começou a carreira dele como militar. Nós moramos, aí vem uma, assim uma, nós moramos em Londrina, é, alguns anos e aí depois nós mudamos para Arapongas, que é uma cidade próxima de Londrina. Aí o meu pai assumiu, na época da ditadura, um cargo, que aí os militares na época da ditadura assumiram vários cargos, não é. E nessa época, sessenta e sete, que nós viemos para Londrina, era o auge não é, da ditadura. E aí os militares assumiram vários cargos, e o meu pai assumiu nessa época o cargo de diretor de trânsito em Arapongas. E aí ele ficou de diretor de trânsito até o final da ditadura. Só que o diretor de trânsito, ele era nomeado pela polícia, mas ele era um cargo também político, então era um cargo que de quatro em quatro anos mudava, dependendo do prefeito. O prefeito podia dizer: – Ah eu não quero esse, quero outro. Esse tipo de coisa. Então eu morei, nós moramos em Arapongas, onde nasceu o meu irmão, depois nós moramos em Astorga, depois nós moramos em Santa Fé, então um meio nômade assim, eu não tenho assim uma cidade que eu possa me chamar, que eu possa chamar de minha cidade, nem da infância nem da juventude. Aí depois de Santa Fé nos mudamos para Jaguapitã, que foi onde o meu pai se aposentou, em Jaguapitã foi logo depois do fim da ditadura. Aí ele se aposentou, ele voltou a ser militar não é, quando a ditadura acaba em oitenta e cinco os militares que tinham cargos, e eram vários cargos, não era só diretores de Detran não, eram vários outros cargos, eles voltam para os seus cargos antigos. E o meu pai era soldado da polícia militar, então ele volta a ser soldado da polícia militar. Isso depois de quase vinte anos como diretor de trânsito, em um cargo burocrático, aí ele volta a ser militar. Aí ele não aguenta ser militar, ele na verdade volta para o... é, para a Polícia Rodoviária, que ele achou que era mais tranquilo, porque aí dão a ele a possibilidade de escolha, ele escolhe a Polícia Rodoviária. Mas aí ele achou que era mais tranquilo, só que aí não foi mais tranquilo, porque aí tinha os acidentes de carro, de caminhões, com crianças, e aí o meu pai realmente não aguentou e logo depois ele se aposenta,
aí ele se aposentou e jogou a pitanga mesmo. Eu volto para Londrina, para fazer faculdade, é, em oitenta e dois, quando eu passo no vestibular e aí eu volto para
Londrina para fazer a faculdade, de Jaguapitã aí eu volto para Londrina que foi a primeira cidade que eu morei, não é, quando nós viemos para o Paraná. Então
em oitenta e dois eu fui para Londrina para fazer a faculdade de educação física. Eu passei no vestibular de educação física, ninguém acredita não é. E aí eu faço
educação física um ano e depois eu transfiro para história, faço, peço uma transferência de... de curso, não é, na Universidade Estadual de Londrina. E bom, minha juventude, não tinha história da juventude, não é? Tem. Eu não passo a juventude, quer dizer, eu passo a minha juventude em duas cidades. E aí se você pensar na juventude, uma juventude mais alargada, eu passo em três cidades, Astorga, Jaguapitã e Londrina. Que aí quando eu passo no vestibular eu tenho dezoito anos, vou fazer dezoito anos. Eu passo com dezessete, vou fazer dezoito, eu tenho dezessete em fevereiro e eu vou fazer dezoito em setembro. É, então, depois eu vou para Londrina, e aí eu fico em Londrina até terminar a faculdade, só depois que eu vou para Curitiba fazer o mestrado. Então eu passei a minha juventude em Londrina, Jaguapitã e Astorga. Em Jaguapitã é aquela juventude mais é, mais adolescente, os primeiros bailes, o primeiro namorado, sair à noite, esse tipo de coisa. Já Londrina já é aquela juventude mais militante, não é, já é as associações, já entro no PT, já trabalho, entrar no PT assim não vamos falar exatamente isso, mas já convivo mais com o pessoal da esquerda, do PT, porque eu nunca me afiliei então não posso dizer que eu entrei no PT. E também, a questão da universidade, não é, aí a universidade abre outros caminhos. Eu lembro muito quando eu era jovem, quando eu era adolescente morava em Jaguapitã, que eu queria mudar para Londrina que eu queria morar em uma cidade grande. (Risos). Jaguapitã tem oito mil habitantes, Londrina tinha trezentos mil, então falava: Eu preciso morar em uma cidade grande, então vou para Londrina. E achava que Londrina era o máximo da cidade grande, e eu dizia assim: Ainda vou me mudar para Londrina. Então era um sonho, qual era o meu grande sonho da juventude? Era mudar para Londrina. O meu segundo sonho da juventude era ser atriz, eu achava que eu ia ser atriz, não sei por que eu achava que eu ia ser atriz, era ser atriz. Mas aí também esse sonho também não foi muito, porque eu era muito tímida, então como é que
alguém tímido vai ser atriz? Depois virei professora, não é, como que alguém tímido é professor? Mas aí eu era tímida demais para ser atriz, aí depois eu quis
ser jornalista, achava que escrevia bem então queria ser jornalista, aquela coisa toda. E aí acabei fazendo educação física, veja só, como a coisa vai, para se
encaminha para outros, outros ambientes que a gente não controla muito. É... É isso, acho que sobre a minha vida é mais ou menos isso, tive pouquíssimos
namorados quando era muito jovem, quando era muito tímida, e meu pai era militar, você imagina se os moleques tinham coragem, não é, de chegar perto?
Nem pensar. E meu pai é um italianão bem grandão, bem enorme assim, os moleques morriam de medo do meu pai. E assim então tive pouquíssimos
namorados na juventude. Aí depois quando eu comecei a universidade tive mais alguns assim, mas também foram muito poucos, muito poucos, muito poucos.
Não sou uma pessoa muito namoradeira, sou mais casadeira, tanto que eu casei já faz quase trinta anos, com um homem só, então não separei, então assim não,
nunca tive muitas experiências nesse sentido não. Apesar de ser da década de, do final da década, de ser jovem na década de oitenta, quem acredita, não é?
Os grandes anos oitenta, não é, das baladas, das discotecas, do sexo livre. Eu sempre lembro muito de um amigo meu, tem a minha idade, e aí ele dizia assim:
– Aí imagina, como eu sou uma pessoa azarada, logo que eu chego na idade de transar, vem a AIDS. Que foi bem nessa época, que descobrem a AIDS, e aí
falou assim: – Ah, a hora que eu chego na idade, vem a AIDS, e aí não pode mais fazer nada. Que ele é meio (? 19:22). Mas não pode mais fazer nada. Então
vejam, eu vivi a juventude nos anos oitenta, mas era uma cidade pequena, de Jaguapitã, eu vinha de uma cidade pequena, para uma cidade maior que era
Londrina, mas também cidade de interior, então não tive assim esse, essa experiência dos anos loucos anos oitenta que o pessoal fala, não vivi muito esses
loucos anos oitenta não. Bom, acho que da juventude acho que é isso. Aí como é que eu comecei a fazer o curso de história, é isso?
E2 - É, aqui na, tinha, na infância tinha algumas questões assim, caso você queira ainda. É que você falou sobre as cidades, que não havia uma
identificação. E a pergunta era assim, descrevendo um pouco sobre a rua, bairro, casa e lugar que morou e as brincadeiras. Eu não sei se...
R - Então, não lembro nada, nada. De nenhum lugar. Porque como eu mudei muito, até quando eu li o roteiro eu fiquei pensando: gente, eu não lembro nada.
Lembro muito pouco das ruas, das casas, é... Dos lugares, porque como a gente, como a gente vai mudando, a gente vai re.... Vai colocando no lugar das
memórias, outras memórias que vão sobrepondo as outras e vão desaparecendo. Como não houve nada assim, marcante, então assim, realmente eu me lembro, se eu tivesse que falar de uma casa era do meu vô. Porque a gente ia para lá todo final de ano, e ele nessa fazenda Dracena. Então se eu tivesse que falar de uma casa de infância é essa casa da fazenda Dracena. E depois quando eu fiquei adulta e assim, já tinha a Julia, já era casada com o Gilmar, nós voltamos lá em Dracena, eu fui visitar a minha vó e... resolvi ir lá na fazenda Dracena para rever a fazenda Dracena. A casa, não é. Aí fiquei muito decepcionada, porque era uma casa de janelas grandes que abriam para fora, aquelas janelas enormes, eles trocaram por... Por janelas com venezianas, aquelas coisas bem, bem simplezinha assim. Mas era uma casa enorme, era uma casa grande e... Ficava bem no centro da fazenda, você entrava por um carreador, e aí ela ficava no centro da fazenda assim uma casa enorme, aí depois tinha a colônia não é, com as casas dos colonos. Porque era uma casa de café, então ela tinha, as pessoas moravam ali, não é como hoje, que praticamente não existe pessoas que moram no campo, não, as pessoas moravam nessa fazenda. Então tinham várias, da casa do meu avô até a última casa eu acho que eram quinze casas, de pessoas que moravam ali. No meio tinha um, que eles chamavam de terreirão, que era onde se secava o café, não
é, se, quando colhia o café se secava o café, e tinha os armazéns que eles chamavam de tulha. As tulhas para armazenar o café. Aí tinha uma serraria nessa, também nessa fazenda, e logo abaixo da casa do meu vô tinha a casa do imediato que substituía o meu vô na administração, que ele era um senhor que conviveu muito tempo com a gente tudo mais, e logo depois que o meu vô morreu ele também morreu. E assim, essa casa da fazenda, que eu me lembro muito assim, eu me lembro muito das noites dessa casa, porque só o meu vô tinha televisão, e aí as pessoas vinham da colônia, vinham das suas casas e ficavam todos envoltas das janelas da sala e sentados no chão da sala assim, para ver o jornal nacional. E uma coisa que eu me lembro muito era que, é o jornal nacional e a novela, e uma coisa que eu me lembro muito que de Londrina para São Paulo havia uma diferença de temporalidade nos capítulos da novela. Então por exemplo, se no dia vinte de janeiro a gente vinha embora de Dracena e tinha assistido o capítulo da novela, a gente sabia o que ia acontecer na novela em Londrina no dia vinte e um, porque não era ao vivo, quer dizer, não era ao vivo não, não era ao mesmo tempo, era gravado. Então depois que vinha para as outras redes transmissoras, então não havia tudo ao mesmo tempo ao vivo, ao vivo não porque novela não é ao vivo, mas não passava tudo ao mesmo tempo para todo o país. Em São Paulo era um dia antes do restante do país, então isso eu me lembro muito. E me lembro muito das pessoas assistindo o jornal, aí depois do jornal metade ia embora, principalmente os homens, as mulheres ficavam para ver a novela, isso eu me lembro muito, lá, dessa, desse convívio em volta da TV, a TV. Foi o primeiro lugar também que eu vi uma TV colorida, que na casa do meu pai e da minha mãe não tinha TV colorida, só foi ter TV colorida já era adolescente, então uma TV colorida eu lembro de ver o... Carnaval colorido assim na TV, isso é uma lembrança que eu tenho e... Outra coisa que eu me lembro também, do convívio ali que a gente ficava dezembro e janeiro em, todas as minhas férias escolares eu ficava lá, meu pai deixava a gente lá em dezembro e buscava no início de fevereiro quando começavam as aulas. A gente tinha três meses de férias. Dezembro int... que as aulas terminavam geralmente no final de novembro, na educação básica, terminavam dia trinta de novembro. A gente tinha férias dezembro inteiro, janeiro inteiro, fevereiro inteiro, e as aulas voltavam dia primeiro de março, três meses de férias. O meu pai ele ia com a gente, ficava o mês que ele tinha de férias, depois ele deixava eu, minha mãe e minha irmã lá nessa fazenda e só voltava para buscar a gente depois dia primeiro de março. Então assim, tem algumas memórias que eu tenho dessa fazenda que me marcaram, por exemplo, a festa de reis, dia seis de janeiro, que vinham as é os foliões de reis, eles passavam pela fazenda para cantar e aquele tipo de coisa, todos caracterizados e eu e minha irmã tínhamos muito medo, a gente morria de medo da folia de reis. E aí a gente se trancava no quarto de medo dos repentistas, do pessoal que cantava e tudo mais, a gente tinha muito medo. Mas eu lembro que todo ano, no mesmo dia, vinha aquela folia de reis para tocar lá na fazenda e o meu vô recebia as pessoas lá, recebia com comida, com bebida e tudo mais, essa folia de reis, uma coisa também que eu tenho muita lembrança. Então se uma casa que eu teria lembrança seria essa casa,
porque as outras casas passaram pela minha vida, mas não são casas que ficaram na memória. Talvez a última casa em Jaguapitã, porque ainda é a casa
que a minha mãe mora, não é, mas eu já não era mais criança, não é, não é já mais a minha infância, eu já estava no magistério quando eu mudei para Jaguapitã, já estava fazendo o segundo, o primeiro ano do magistério, então é, eu já era adolescente, que é a casa que a minha mãe mora até hoje. Então dessa casa eu tenho algumas memórias assim, claro não é, meu pai e minha mãe moram lá ainda, mas tenho assim, memória muito grandes. Tem uma memória que eu tenho da minha casa, casa da minha mãe, é uma memória que a minha mãe tinha o hábito, que ela perdeu depois, depois de muito tempo, de que toda sexta feira tinha que é fazer faxina na casa, e a faxina na casa ela não é como é hoje, você passa o aspirador, tira o pó, não. A faxina na cara era uma faxina absurda, de tirar todas as panelas do armário, é, ariar como eles falavam com alumínio, porque era alumínio, não é, então tinha que lavar, tudo lavado já, mas você tirava tudo, lavava tudo de novo, deixava brilhando assim no sol secando, tirava todas as roupas do armário, passava tudo de novo, e aí limpava a casa e a casa ficava brilhando assim, na sexta-feira. Toda sexta-feira. Não tinha uma sexta-feira, esse negócio que os meninos falam hoje assim: – Aí sextou. Eu sempre lembro, falo assim: Nossa, sextou na minha vida era uma tristeza. (Risos). Na minha vida e da minha irmã era uma tristeza o sextou. Melhor coisa que aconteceu na minha vida e da minha irmã foi o dia que o meu pai chegou em casa com uma enceradeira. Porque a gente tinha que passar escovão, vocês são novos, não é, não sei se vocês conhecem o escovão. (Risos). Mas a gente tinha que passar cera na casa, aquele vermelho, aquela cera, e depois a gente tinha que escovar a casa toda, com o escovão. Aí um dia o meu pai resolveu comprar uma enceradeira, nossa! Foi a maior felicidade, nunca ficamos tão felizes na vida, no dia que ele comprou uma enceradeira, que não tinha mais que escovar a casa, passava a enceradeira na casa. Então é, o sextou para nós nunca foi um bom dia, era o dia da faxina, acordava de manhã terminava seis
horas da tarde a faxina. (Risos). Era um terror. Então assim, essas são mais ou menos as lembranças aí que eu tenho, mas, com uma vida muito nômade assim
eu não tenho assim uma lembrança muito forte de alguma casa ou de algum lugar. Eu não fiz amigos, por exemplo, eu não tenho amigos de infância, nenhum.
Os meus amigos, amigos são de Jaguapitã, que é do magistério, então são amigos aí de, já que eu já tinha quinze, dezesseis anos. Amigos antes eu não
tenho nenhum, nenhum amigo de infância, que nem a minha filha tem, que nem o meu irmão tem. Que o meu irmão quando mudou para essa cidade de
Jaguapitã, ele estava ainda na, na pré-escola, não é, então ele mora lá até hoje. Então os amigos, ele tem amigos desde que ele era pequeno, então esses
amigos dele, ele fez amigos de infância, de juventude, de adolescência e tudo mais. Eu já não tenho amigos de infância nenhum, nenhum. Não sei se isso me
marcou muito, mas é uma coisa que eu sempre penso nisso, que eu não tenho amigos de infância.
E1 – Oh Marlene, então nessa vida de migrante, você marcou agora um pouco, não é, a gente ficou impressionados com o seu sextou, realmente era diferente,
não é?
R – Muito.
E1 – E conta para gente um pouco então, como é que foi essa sua experiência do casamento, você falar o nome do seu esposo, da sua filha, como é que foi
essa experiência do casar e da maternidade, para gente encerrar esse bloco, não é isso, professor Cristiano?
E2 – Isso, e se, tinha terminado uma questão que eu acho bem importante, porque a Marlene falou da, além disso, como ela lembrou, não é, e não teve esse
vínculo, tem a questão da escola também, não é, se é igual Marlene?
R – Uhm.
E2 – Essas, esses primeiros anos escolares, algum professor nessas migrações,
ou professora, lhe marcou? Ou se...
R – Nenhum.
E2 - Não tem amigos, não tem casa e não tem escola.
R – Nenhum. É, eu tenho um professor do oitavo ano, na oitava série antiga, que é nono ano agora, que me marcou. Mas assim, as vezes eu vejo as pessoas
falando assim: – Ah, eu lembro tanto da minha professora que me ensinou as primeiras letras. Ah eu não lembro nada, absolutamente nada. Não lembro quem
ela era, não lembro como era. A escola eu lembro, mas eu não sei se eu lembro, ou se como é uma escola em Londrina que eu frequentei depois, acabou ficando
na minha memória, porque em Londrina, não é, no Jardim do Sol, e eu lembro dessa escola porque eu quebrei a perna na escada. Estava correndo na escada
e rolei a escada abaixo e quebrei a perna na escola. Então aí eu me lembro dessa escola que lá tinha uma escada, a escola se chama Escola Sagrada Família. Foi a escola que eu fiz o primeiro ano. Não tinha pré-escola naquela época, não é. Foi a escola que eu fiz minha primeira série, o primeiro ano, nem me lembro agora mais, se é ano ou se é série. (Risos). Porque foi ano, depois foi série, depois virou ano, agora virou ano de novo. Mas acho que era o primeiro ano. Eu fiz o primeiro ano nessa escola Sagrada Família em Londrina, isso eu me lembro. E me lembro também que foi a escola que a minha irmã também fez o primeiro ano, nessa mesma escola Sagrada Família. E me lembro, eu tenho uma memória muito forte dessa escola de um acontecimento com a minha irmã, porque a minha irmã sempre foi uma pessoa muito complexa, assim, vamos usar essa expressão. (Risos). Ela não vai ver a entrevista mesmo. Mas a minha irmã sempre foi uma pessoa muito complexa, principalmente em relação a escola. Ela odiava escola, odiava. Desde o primeiro ano! Ela odiava. E ela era terrível. E aí eu não sei o que que ela fez na escola, que também não me lembro mais, e a professora deixou ela de castigo. E o castigo naquela época era castigo mesmo, não era... (Risos). A professora pôs a menina é... Ajoelhada no milho, no milho. E assim, ela saia da escola, junto comigo, e a gente ia para casa. Eu saí da escola, ela não apareceu, ela não apareceu eu fui embora. Era uma rua longa, mas a gente não tinha que atravessar ruas, era um terreno baldio assim, bem longo, a única rua que a gente atravessava era a da nossa casa, então a gente ia sozinha, não é. E eu cheguei em casa e falei para minha mãe – Olha, a Marli não veio. Eu chamo Marlene, não falei o nome dos meus irmãos, não é. A minha irmã chama Marli e o meu irmão chama Mauricio. Bem, bem assim criativo por parte da minha mãe. A... falei assim: Ó, a Marli não veio porque está de castigo. Minha mãe falou assim: – Como assim de castigo? Está de castigo lá, ajoelhada no milho. Nossa, a minha mãe ficou brava. Ela estava com o chinelo assim, fazendo serviço, minha mãe sempre foi dona de casa, fazendo serviço não sei o que lá, foi lá para dentro colocou uma saia assim e saiu assim, achando que... Eu saí atrás dela, ela saiu e foi direto para escola. Chegou lá na escola, armou o maior fuzuê assim ó, confusão mesmo com a escola, pegou a menina, arrastou a menina embora e falou que ia na justiça, que ia na delegacia, que ia não sei o que, sei que estava... Isso lá em mil novecentos e sessenta... É, e... Que nós fomos sessenta e quatro, eu sou de sessenta e quatro, mil novecentos e sessenta e oito, sessenta e nove, não é, seis, eu tinha seis, sete anos. Então assim, ela já tinha essa, essa perspectiva com a escola, a minha mãe, aí foi lá, tirou a menina lá, isso é uma coisa que eu me lembro, me lembro da cena assim, porque ela partiu de um jeito assim tão determinada, que, que tirou a minha irmã lá do castigo e brigou com a professora e tudo mais. Mas eu e minha irmã sempre tivemos assim, nós somos muito parecidas assim, somos muito, temos uma diferença de idade muito pouca. A gente é o que, por exemplo, os psicólogos
chamam de gêmeos é... Tem um nome para isso, é, nós não somos gêmeos que nascemos no mesmo dia, mas somos gêmeas porque temos uma diferença de
temporalidade pequena, eu esqueci como é que... E a minha mãe além de tudo vestia a gente igualzinho, então a gente parecia gêmea mesmo quando a gente
era pequena. Depois não, porque daí eu cresci, não muito mais, mas ela ficou muito baixinha e eu cresci mais que ela, e aí a diferença, a gente nunca mais pareceu gêmea. Mas a gente teve sempre muita diferença de atitude com relação a escola. Que por falar em escola eu sempre fui a melhor aluna da escola, da turma, sempre fui. Só tirava dez. Dez, dez, dez, dez, dez. Nunca reprovei, só tirava dez e assim o boletim, não é, a minha mãe tem os boletins ainda em casa, aqueles boletins só nota dez, dez e os boletins da minha irmã era tudo seis, cinco, quatro, três, dois, um. Assim, aquele boletim terrível. E aí nós sempre tivemos, aí nós confrontávamos muito por conta disso, porque ela achava que eu fazia aquilo só para ela ficar com nota, ela ficar com – Ah, você faz isso só para eu parecer mais burra que você, não sei o que. Quer dizer, eu estudava, ela não estudava, mas ela achava que era... (Risos). E assim, nunca estudou mesmo, depois é, até ela levou muito tempo para fazer curso superior, casou muito cedo e só fez o ensino médio por insistência da minha mãe, porque a minha mãe, como ela casou com quinze anos, não teve um casamento feliz, e essa era uma coisa que ela falava para gente desde que a gente era muito pequena, primeiro estudar, depois casar. Falava isso mesmo, primeiro estudar, depois casar. Porque a ideia de que o estudo te levaria a um outro lugar, que o meu vô não deixou as filhas estudarem, só estudou o meu tio. Meu vô tinha quatro filhas e um filho, meu tio estudou, as meninas não, as meninas fizeram só o primário, e depois não precisava porque, para que que mulher vai estudar, não é? E aí a minha mãe não estudou e ela condicionava a ideia de que ela fugiu com meu pai porque ela não tinha estudado, porque se ela tivesse estudado ela não tinha fugido com meu pai. Aí como o casamento nunca foi um casamento muito feliz, ela não queria que a gente casasse, nunca quis, nunca quis. Aí a minha irmã fez a felicidade dela de casar também com dezesseis anos, com dezesseis anos a minha irmã enlouqueceu que queria casar, queria casar, queria casar, queria casar e casou. Com deze, eu tinha dezoito, ela tinha dezesseis. Aí, quer dizer, eu ia fazer dezoito, ela ia fazer dezesse... é quase dois anos a nossa diferença, mas não chega a ser dois anos, é um ano e pouco. Aí eu até tinha acabado de entrar na universidade, então eu tinha dezessete, tinha dezessete,
tinha acabado de entrar na universidade e ela casou, a minha irmã. E e essa, essa coisa da minha irmã casar muito nova, também forçou um pouco a minha
mãe, isso para levar lá no meu casamento, a ideia de que eu não ia casar, eu ia estudar. Que eu não ia casar de jeito nenhum, que a outra já tinha casado com
dezesseis anos também, e aí a minha mãe falou para ela: – Você pode até casar, mas você vai terminar o ensino médio pelo menos. Ela fez contabilidade. Aí ela
casou, e a minha irmã, minha mãe forçou aí ela terminou o ensino médio, terminou. Aí depois ela ficou casada acho que dez anos, vamos dizer, uns seis,
separou, separada até hoje, tem dois filhos, quatro netos já, não é, porque ela, como ela casou muito cedo, não é. (Risos). Então ela tem quatro, ela já tem neto
com dezoito anos, a minha irmã. E eu tenho cinquenta e... e sete anos, então ela tem cinquenta e seis, ela tem neto com dezoito anos já a minha irmã. E a minha
mãe, que tem setenta e dois, setenta e três anos, já tem bisneto com dezenove anos, com dezoito anos já. Então assim, foi todo mundo casando muito cedo e
aí, não é, foram tendo neto, bisneto, tudo gente muito jovem. Então da escola é isso, é... eu sempre fui estudiosa, mas não me lembro muito dos professores.
Me lembro do professor do oitavo ano, que eu ia falar para vocês, não é. É... Da oitava série, nono ano. Oitava série, que hoje é o nono ano. Professor da oitava
série, nono ano, ele dava aula de História e ele fechava porta e ele falava assim, bem baixinho: – Olha, eu vou contar uma coisa para vocês. Isso em oitenta e...
Dois, não, oitenta e dois eu entrei na universidade, setenta e oito, setenta e sete, não é. Setenta e oito, setenta e nove, oitenta, setenta e nove, oitenta, oitenta e
um, oitenta e dois. Setenta e nove. Que oitenta e dois eu entrei na universidade. É, então eu estava no oitavo ano, depois eu fiz três anos de magistério. Ele falava
assim: – Eu vou contar uma coisa para vocês, mas fecha as portas, vocês não podem contar para ninguém. E ele falava assim, tão baixinho, que a gente realmente imaginava que era uma coisa... (Risos): –Vocês não sabem, mas a gente vive em uma ditadura. Vocês sabem o que é uma ditadura? Os militares assumiram esse país. E eu era filha de militar, me escondia lá no fundo da sala: Se ele descobrir que o meu pai é militar eu estou ferrada. (Risos). Nossa, se ele descobrir que o meu pai é militar, e ele falar assim: – Os militares são a pior escória desse país, porque eles tomaram esse país de assalto. E eu, os militares para mim era tudo que é militar era (Risos) era, era... Ruim, era ditador, era sanguinário, era assassino. Ele falava – São assassinos, eles matam um monte de gente e não contam para ninguém. Ele chamava Evilásio. Professor Evilásio. E... E ele também foi assim, e é um professor que eu me lembro muito, se você perguntar assim, se eu lembro dele, da cara dele não, mas eu me lembro das aulas dele, e dessa, é forma como ele falava da ditadura. Aí ele falava assim – Não conta para ninguém que eu falei da ditadura, agora vamos voltar a independência do Brasil. Aí ele falava, dava aula. – Vamos voltar a Idade Média. Aí dava aula de Idade Média. Mas ele sempre, ele tinha o momento da sala de aula que ele resolvia falar sobre o que estava acontecendo: – Não, porque olha, mataram não sei quem, porque olha, não sei quem desapareceu. Então ele sempre vinha com uma história dessa da ditadura. – Vocês não vão dizer depois no futuro que vocês não sabiam que tinha uma ditadura. Isso foi no oitavo ano, na oitava série. Foi onde também eu comecei a ler muito, a escola tinha uma biblioteca e eu comecei a ler, ler, ler, ler, ler, eu era assim a fanática da biblioteca, assim, as minhas carteirinhas da biblioteca eram carteirinhas assim lotadas. Eu lia e eu tinha assim um, uma... Psicose que, se eu pegasse um autor, tipo... Sei lá, Sidney Sheldon, eu tinha que ler todos os livros do Sidney Sheldon, enquanto eu não lesse todos os livros dele eu não lia outra coisa, então eu lia tudo, todos os livros. J. Crawley eu lia todos os livros dele, não é. Então eu lia todos os livros assim, eu era a fanática do autor, então eu precisava ler todos os livros que o autor tinha, e se não tinha na biblioteca eu ficava louca, procurava outras bibliotecas, que eu precisava ler todos os livros daquele autor. Então foi antes também, foi ali nessa escola também que eu comecei a ler muito. Ampliei a minha, capacidade de entender o mundo através da literatura, foi onde eu li livros marcantes assim da minha, da minha vida, tipo (Risos). Outro dia alguém estava falando os livros, que livro que marcou a vida, eu falei: Gente, o livro que marcou a minha vida foi O Cachorrinho Samba. Não sei por que as pessoas falam de livros tipo sei lá, (? 43:19). O que marcou mesmo a minha vida foi O Cachorrinho Samba, e O menino do dedo verde, esses dois livros marcaram a minha vida. Marcaram assim para sempre, não é. Claro que Cem anos de solidão é muito bom, e outros livros que você lê na vida são ótimos, mas marcar a vida mesmo gente foi toda, toda a série do O Cachorrinho Samba. Não sei se vocês leram o Cachorro e o Samba, mas vocês deveriam ler, porque olha, O Cachorro e o Samba é maravilhoso. (Risos). Lê O Cachorro e o Samba, maravilhoso. E A Ilha
Perdida, O Cachorro e o Samba e A Ilha Perdida, nossa eu adorava, O Cachorrinho Samba. Então assim, da escola são essas coisas que eu lembro
muito. A outra coisa que eu lembro da escola...
E2 – Se você disser que leu Condessa de Segur aí eu e você estudamos na mesma escola.
E2 e R - (Risos).
E2 - Porque são os mesmos livros que eu li, eu tive uma coleção era A Lenda de Itaquarapoca, eu nunca esqueço desse livro, eu tinha ainda.
R - É, pois é, eu também tenho uns livros assim que...
E2 - São memórias boas.
R – Que são livros. Mas uma outra coisa da escola é... que eu, eu lembro que eu, assim que me marcou muito, era... não é a questão do bullying, porque nem
existia, não é? Ninguém falava em bullying. Até as pessoas dizem que as pessoas mais velhas são mais fortes, não é assim, o que as pessoas hoje falam
que é bullying a gente fazia e ninguém imaginava que era bullying. Isso foi um conceito criado, aí hoje as pessoas sabem, as crianças sabem. Mas é, uma coisa
que eu me lembro muito que na minha sala de aula, dessa mesmo oitava série, tinha uma menina que tinha tido poliomielite, e eu nunca esqueci o nome dela,
chamava Valdolene. Valdolene, ninguém pode chamar Valdolene, eu chamava Valdolene. E ela era uma pessoa extremamente é... Como é que eu vou dizer,
rancorosa, ruim. (Risos). Apesar da deficiência, a deficiência eu acho que ela, na verdade ela usava essa, a deficiência fez com que ela criasse uma carcaça,
hoje eu penso isso claro, hoje eu estou analisando, uma carcaça ruim, de atacar as pessoas. E ela era assim, e ela era uma turma de oitavo ano, de nono ano,
de nona série, de oitava série, não é, de nono ano, daquelas terríveis turmas, aquela que jogava coisa no professor, que conversava demais, que o professor
suspendia. Aí tinha na minha época tinha um chumbinho, um chumbinho, vocês quando eram criança tinha esse chumbinho, um chumbinho assim que você,
quando colocava ele assim na mão e ele pegava assim na, e a gente tinha uma professora de inglês, por isso que eu não, isso é castigo, por isso que eu nunca
consegui aprender inglês, por isso que até hoje o inglês para mim é uma coisa complexa. Uma professora de inglês que era uma professora muito difícil, e os
meninos começaram com esse chumbinho e jogavam chumbinho assim na professora, e a professora começou a chorar, não é, e eu virei professora e não
vou dizer que também não joguei, eu joguei também porque apareceu na minha mão e eu também (Risos), joguei o chumbinho. Aí veio o diretor, isso é uma coisa
que eu me lembro também desse ano, e o diretor virou e falou assim: – Muito bem. Só quem não jogou chumbinho é que continuará na aula, o restante vai ser
suspeito por três dias, por quinze dias, três dias, não sei o que, ser suspenso. Todo mundo ficou em silêncio, porque praticamente todo mundo tinha jogado o
raio do chumbinho, ela levantou a mãozinha dela assim: – Eu não joguei chumbinho em ninguém, eu não vou. Porque se ele tivesse que suspender a
turma todo ele não ia fazer isso, ia suspender uma turma inteira? Aí quando ela disse que ela não tinha jogado outros também ficaram incentivados a dizer que
não tinham jogado. E eu me lembro muito que ela virou para o diretor e falou assim: – Quem teve essa ideia foi a Marlene, Marlene que teve essa ideia de
jogar o chumbinho. Eu nem lembro se foi eu mesmo, falar a verdade. Posso até ter sido porque eu também não era muito fácil, pode até ter sido eu mesmo que
tive a ideia. E aí o diretor falou assim: – Duvido. Que eu só tirava dez, não é? Ele falou: – Duvido, Marlene, Marlene só tira dez. – Não, foi, foi, foi. Eu sei que
todo mundo foi suspenso. Isso na minha casa seria assim algo, é... Digno de não ter natal. Você ser suspensa da escola, isso não acontecia na minha casa, nunca. Todo mundo, a escola era a coisa mais importante, ir para escola era a coisa mais importante para a minha mãe e para o meu pai. E aí eu ia ser suspensa da escola. Aí eu falei para minha irmã assim – Olha, se você contar em casa que eu estou suspensa, você vai ver só o que acontece com você. A minha irmã: – Mas fazer o que, você vai fazer o que? Eu falei: Eu vou para escola todo dia. Então todos os dias que eu estava suspensa eu saia de casa, me arrumava, saia de casa e ia para escola. Só claro que eu não ia para escola não é, não podia, porque estava suspensa. Então eu parava uma quadra antes, ficava lá rolando para cá e para lá, até meio dia, aí meio-dia a minha irmã voltava e a gente voltava para casa. Só que no meio do caminho, dessa suspensão que eu não lembro quantos dias que foi, tinha que ir lá pegar o boletim. Se a minha mãe fosse pegar o boletim, ela ia saber que eu estava suspensa. Aí nessa época, eu tenho uma tia, que ela é muito parecida com a minha mãe, e ela não sei por que cargas da água estava lá na casa da minha mãe. E aí a minha mãe nunca, não gostava muito de sair de casa, por causa das coisas que tinha que fazer, almoço, jantar, limpar a casa. Aí a minha mãe falou para minha tia se a minha tia podia ir lá buscar o boletim, só que na escola, no meu boletim tinha que ser a minha mãe, porque eu estava suspensa. Aí no meio do caminho, não é, minha tia falou: – Não, eu vou lá e pego da Marli podia pegar, não sei o que. A minha mãe, no meio do caminho eu contei para minha tia, eu falei: Tia. Ela é a irmã mais nova da minha mãe, é uns dez anos também de diferença. Eu estou suspensa da escola, então a diretora falou que tem que ser a minha mãe a pegar o boletim, não pode ser a minha tia, tem que ser a minha mãe. Aí a minha tia: – Então a gente chega lá e fala que eu sou a sua mãe, eu falo que eu sou a sua mãe, eu pareço a sua mãe, não é, ninguém vai saber. Ela chegou lá e falou assim: – Ó, eu sou a mãe da Marlene. Olha, a minha tia: – Sou a mãe da Marlene. E foi lá e pegou o boletim. Eu sei que a minha mãe só foi saber que eu tinha sido suspensa da escola uns dez anos depois, eu acho que eu já estava na universidade, eu já estava casada, eu não sei o que eu tive coragem de falar que eu tinha sido suspensa da escola. Olha o que que você faz, não é? Ficava na rua, chovia, ficava na rua, é foi uns quinze dias a suspensão, foi bastante tempo. Mas nada, nada diminuiu a minha nota, sempre fui uma pessoa, assim, na verdade a escola, a escola para mim, e isso depois quando eu comecei a trabalhar na universidade com Metodologia do Ensino de História, eu percebi em muitos alunos, a escola para mim era muito fraca. Era... A média que eles achavam que era para, para, de conhecimento para as crianças para mim era muito pouco, tanto que eu fazia os exercícios muito rapidamente, eu fazia as
coisas muito rapidamente, eu tinha muito tempo para ficar lendo os meus livros. Então o professor dava exercício para eu fazer, eu fazia em dez minutos o resto
eu ficava lendo meus livros. O professor não gostava não, tinha que esconder os livros. O professor achava que aquilo era: – O que você está lendo essas
coisas aí? Tem que ler outras coisas. Não podia ler os livros, o livro estava sempre no meio de um livro de história, no meio de um livro de matemática. Eu
colocava os livros no meio desses livros para poder ler literatura, não é, que o professor achava que literatura era bobagem. Mas para mim a escola sempre foi
muito, não, não dava conta da cabeça, a cabeça ia muito mais rápido que a escola. Menos em física. Em física e química não, aí quando eu entrei no ensino
secundário aí a coisa ficou dura.
E2 – Todos da História dizem isso. Tem aquela questão do nome do esposo, sobre o casamento...
R – Ah sim.
E2 – ...Se você quiser finalizar, se não quiser falar dele também fique à vontade.
(Risos).
R - É. (Risos).
E2 - Aí depois é o bloco dois, que é sobre a profissão, só que agora são doze e vinte e sete, a gente pode manter até as treze começando a falar da profissão e
aí a gente pensa em uma nova data para não ficar...
R – Está bom, é. Eu sou meio prolixa não é, fico falando muito, eu falo demais.
E2 - Não, é isso, essa é a meta.
E1 – A gente aqui está admirado com a sua história, linda.
E2 – Era esse, esse, era esse que a gente ia marcar, ah lá o tal marido!
E1 - É isso, falou nele ele chegou.
R – Falou nele ele chegou, veio buscar a blusa dele.
E2 – E quando a gente bolou o roteiro Marlene, a ideia era essa, não é Juliana? Tomara que fale, tomara que fale. Quanto mais vocês falarem melhor. Fique à vontade aí.
R - É, bom, o meu marido é um caso meio complexo também, a parte na minha história. Bom, eu vou falar a verdade, porque se eu não falar a verdade, algum
dia lê e vai falar assim: – A Marlene mentiu aí.
E1- (Risos). E é a vida afetiva toda, começa do começo, do namoro, como se conheceram, não é? Não é só o casamento não, é todo esse processo.
R – Marlene mentiu, então eu tenho que falar a verdade. Bom, como é que eu conheci o meu marido? Eu falei para vocês que eu entrei no curso de educação
física, não é? Aí eu não gostei do curso de educação física, era um curso extremamente militarizado na época, eu entrei em oitenta e dois, era um curso
extremamente militarizado, era um curso extremamente machista, era um curso extremamente xenófobo, era um curso tudo. Não que ele não continue, porque
eu conheço muita gente que ainda faz e o curso continua simplesmente machista. Mas era um curso, para vocês terem uma ideia, era um curso que ainda tinha ginástica feminina e ginástica masculina, meninos faziam um tipo de ginástica, meninas faziam o outro. Meninas faziam balé, meninos faziam outra, é, faziam atletismo. Meninas faziam isso, meninos faziam, ainda tinha essa divisão no curso de educação física da UEL. E era um curso que estava muito pouco preocupado, como quase todos os cursos de licenciatura, em formar professor. Queria formar atleta. Eu, naquela época, até tinha uma condição física razoável. (Risos). Aí Deus. Mas eu tinha colegas que não tinham condição física razoável nenhuma, e por exemplo, a prova de atletismo, ela era assim, se você fizer três quilômetros, em vamos dizer, dois, dez minutos, nem me lembro quanto era o tempo, dez minutos você tira dez. Se você fizer treze quilômetros em dez minutos, cinquenta e oito segundos, cinquenta e nove segundos, você tira nove e meio, nove, nove; se você fizer em cinquenta e sete, nove oito; cinquenta e seis, nove e sete; vai diminuindo e diminuindo, até se você fizer em quinze minutos você tira zero. Para você ver, então assim, a prova de resistência, ela era, para a nota que você tirava, ela era condicionada a esse tempo, e eu achava isso um absurdo, tinha gente que quase morria para fazer a prova, porque não conseguia correr, em tantos metros em tantos segundos em tanto tempo. E eu tinha uma amiga que ela não conseguia mesmo, a menina quase morreu, quase teve um infarto e o professor ao invés de dar nota, era sete, ao invés de dar sete, deu seis vírgula tanto, ficava para exame, era um absurdo. E eu tive brigas homéricas com esse professor de, de atletismo, chamava João... João Campos. Tanto que uma vez eu tinha uma briga tão é, desisti de educação física porque eu tive uma briga enorme com ele e gritei com ele, ele gritou comigo e nós gritamos um com o outro, e eu virei para ele e falei assim: Olha, você fique bem atento, porque se um dia eu ficar rica e comprar um carro, eu te atropelo no meio da rua. Eu falei qualquer coisa assim. Depois eu voltei como professora na UEL, veja bem, e o João ainda era professor da UEL, e um dia nós nos encontramos em uma formatura, aí ele olhou para mim e falou assim: – Você já comprou um carro? Eu falei: Olha, para sua sorte eu não sei dirigir viu? Nunca consegui dirigir. (Risos). Aí ele falou: – Ai, ainda bem, não é? Eu sei que é assim, aí não consegui fazer educação física, aí eu tinha a opção de transferir o curso ou largar. Aí eu tinha mudado para Londrina, eu tinha feito uma briga homérica com meu pai e a minha mãe para, porque eu viajava, não é, de Jaguapitã, pegava um ônibus viajava para Londrina e voltava toda noite, todo mundo que estudou em Jaguapitã fazia isso, pegava o ônibus seis da tarde, ia para Londrina, voltava
meia noite, todo mundo fazia isso. A prefeitura pagava o ônibus, não é, para os estudantes fazerem isso. Mas eu queria me mudar, porque eu queria morar em
uma cidade grande, eu queria viver o mundo. Aí eu briguei com o meu pai, briguei com a minha mãe e me mudei para Londrina. Só que aí eu me mudei para
Londrina e aí queria desistir do curso, aí era muita coisa para o meu pai e para minha mãe, não é, largar a faculdade. Aí falei: Não vou largar a faculdade, eu
vou trocar de curso. Aí eu fui na... Na época, no setor da UEL que fazia essa transferência, que era o, que hoje chamam de PROGRAD, não é, Pró-Reitoria
de Graduação, na época chamava CAR, Coordenadoria de Assuntos Estudantis. Aí cheguei lá, inclusive o funcionário está lá até hoje, o funcionário está, tem
tempo para se aposentar, mas está trabalhando até hoje, conheço o funcionário até hoje. Cheguei lá para o funcionário, falei assim: Olha, eu queria transferir de
curso. Falou: – Ó, você e metade desse instituto, dessa universidade, quer transferir de curso. (Risos). Falei: Mas como é que a gente faz para transferir de
curso? Ele falou: – Ó, você pode transferir, você sabe que não pode transferir de educação física para medicina, não é? Eu falei: Eu sei, não é. – Mas você pode
transferir em toda área de Ciências Humanas, para qualquer curso. Eu falei: É? Ele falou: – É. O que você pretende fazer? Eu não sei, eu queria transferir de
curso. Aí eu peguei e falei para ele assim: Tem chance da gente não ser aceito, na transferência? Ele falou – Tem, se o curso não tiver vaga tem chance de você
não ser aceito, ou tiver pouca vaga e tiver muita gente querendo transferir. Aí eu falei para ele assim: Então o seguinte, qual é o curso que mais tem vaga para
transferência? Ele olhou assim: – História. Eu falei: História é a que mais tem vaga para transferência? Ele falou – É. Eu falei: Esse mesmo então que eu vou
transferir. Para você ver que eu fiz história por vocação, não é? Tudo que eu sempre quis fazer na vida. Aí eu fui lá e falei para ele assim: Então pode transferir. Ele falou – Tem certeza? Eu falei: Tenho. Para história. Ele falou – Oh, Ciências Sociais tem quase tantas vagas, mas história tem mais. Ele falou que tem mais, então vai ser História. Por que vai que eu não consigo transferência? Educação Física eu não vou fazer. Ele falou: – Ah então tá. Então faz História. Então fui lá e comecei a fazer História. Aí no primeiro ano de História, no primeiro dia de aula de História, eu... Quer dizer, eu já tinha um ano de Educação Física, quer dizer, eu já conhecia a universidade, não é, já tinha o traquejo da universidade. Aí o primeiro dia de História, da aula de História, esse eu nunca vou me esquecer. (Risos). Foi com uma professora, coitada, já morreu, é... Que até se tornou muito minha amiga, é... Uma professora chamada Maria Dulce. Maria Dulce não sei o que do que Alho Gotti, tinha um nome bem português assim enorme. E ela dava aula de Introdução aos Estudos Históricos. Aí a sala lotada, metade da sala era transferência, tanto que um... Um amigo meu, um grande amigo meu, que se tornou um grande amigo, estava vindo da Biologia, a outra estava vindo de Letras, a outra estava vindo de não sei do que, metade era transferência. Porque, imagine, oitenta e três, porque oitenta e dois eu fiz Educação Física, oitenta e três eu entrei em História, então (? 1:00:24), não é, ainda estava na ditadura, aquela coisa toda. Quando no primeiro dia de aula, ela começa a aula... Ela começa (Risos) pela lista de chamada, vamos supor – Adriana, Adriana Ferreira Oliveira Justino. Justino. Justino é de que família? Aí a menina que tinha o Justino: – Sei lá de que família. Aí, e ela assim: – Segundo nome, Bárbara. Tinha uns quarenta nomes na lista, vocês não têm ideia, mas era quatro aulas de Introdução aos Estudos Históricos, quatro aulas. E ela nome por nome, aí tinha uns nomes até importantes na cidade de Londrina, não é, nem me lembro mais, tinha uns nomes lá que eram até importante. Aí ela aí, quando ela encontrava um nome importante falava assim: – Ah, você é da família tal, que chegou em Londrina em tal época. (Risos). Deus do Céu. E eu lá sentada,
esse meu amigo do lado assim, nós dois lá. Aí ele falou assim: – Alguém já te disse assim, que as vezes você toma umas decisões na vida complicadas. (Risos). E eu pensando: O que que eu fiz da minha vida, Deus do Céu, transferi para História. E essa professora lá, ela era bem baixinha assim, sentadinha lá, nome por nome. Bom. Aí, chegou lá no meu, não é, Marlene Rosa Cainelli. Aí ela: – Então, Cainelli é de onde? (Risos). Aí eu falei: Ó, professora, Cainelli, o meu nome, vem lá não sei de onde, não sei o que, mas professora, você não tem outra coisa para falar? Eu não aguentei. Eu já estava, não é, no, a maior parte estava ali, foi a, foi colocando eram pessoas do primeiro ano, imagina não é, o povo estava morrendo de medo: Professora não tem outra coisa para fazer? Nós estamos aqui a quase duas horas. – Mas os nomes são muito importantes, de onde a gente vem é importantíssimo. Ela falava bem devagar. Aí até que ela terminou, aí meu deus do céu, não tem jeito, aí eu fui tomar um café, voltei, conversei com esse, acabei fazendo amizade com esse rapaz e tudo mais. Aí... ela me apresentou o primeiro livro que eu li na vida em História. Introdução aos estudos históricos do Glénisson. Vocês lembram desse livro? Do Glénisson. (Risos). Do Glénisson. Aí ela pediu um seminário, dividiu esse livro, que é um livro desse tamanho, não é. Pediu um seminário desse livro. Cada pessoa pegou um pedaço desse livro assim no seminário, tá. Bom, é só a primeira aula, não é. Primeira aula de História. A segunda aula de História, (Risos) não sei como é que eu não desisti do curso. Foi um professor (Risos) que ele já se aposentou faz tempo, chamado José Cesar. O professor nunca falava duas frases na aula, só fazia chamada. Aí depois ele ia para o quadro e escrevia no quadro. Escrevia, escrevia, escrevia, escrevia, escrevia, escrevia. E a gente copiava, copiava, copiava, copiava. Ele dava aula de História do Brasil, História Econômica do Brasil (Risos). Vocês não têm noção. Isso em oitenta e três. Bom, aí tinha outros professores, não vou dizer que eram todos professores ruins, aí tinha outros professores, não sei o que. Aí veio uma greve enorme na universidade, para contratação de professores. Porque todos esses professores, por exemplo, essa professora Maria Dulce, esse professor José Cesar, o professor José Garcia, são todos os meus professores, professor é... e outros professores eram todos graduados em História, eles não tinham mais que a graduação em História. Aí nós fizemos uma grande, a universidade fez uma grande greve para contratação de professores e coisa e tal, vieram dois professores, doutores, mestres, fazer um doutorado. Professor Antônio Celso Ferreira, que é de Assis agora, e a professora Nezila de Lima, que é uma professora de História do Brasil, doutora pela USP. E ele era doutor, ele era... É formado na UnB, e ela era formada na
USP. Esses dois professores fizeram uma revolução no curso de História, porque aí era um outro curso de História, não é. Professora de História do Brasil, aí ela
era professora de História do Brasil, marxista, ele marxista, ela tinha participado da ditadura, é era aquela coisa. Eu na verdade, por mais que o Evilásio tinha dito
lá na oitava serie o que era uma ditadura, eu só fui saber mesmo o que significava estar em uma ditadura no curso de História, que aí esses professores
começaram a... a dar a, não é, essa coisa da História. Mas, tudo bem, eu fiz um ano do curso de história e tranquei a disciplina, tranquei o curso. Que eu já não
sabia mais se era o curso que eu queria fazer na vida. Quando eu tranquei o curso de História, foi o ano que acabou a ditadura. E entrou o... Eu já tinha feito
dois anos, porque foi o ano que morreu o Tancredo Neves. Que aí teve a eleição, teve as diretas já, que não é, que a gente foi para, que a gente não conseguiu
nada, aí teve a... A eleição pelo, pelo congresso do Tancredo Neves, aí o Tancredo Neves morre e aí assume o... Sarney, não é. Sarney? Assume o Sarney. E aí eu tinha trancado o curso. Eu não sabia mais se eu queria fazer esse curso, então eu fui trabalhar, trabalhava em uma ótica, vendia óculos. Eu vendia óculos, mas nunca fui boa vendedora. Nunca fui boa vendedora porque eu tinha assim, um sentimento de interesse pelo indivíduo que eu estava vendendo óculos. E o dono da ótica ele queria vender os óculos, não é, não importava se o cara ia ficar bem ou não com os óculos, e foi nessa época que inventaram multifocal, sabe o multifocal? Que tem várias, porque na época só tinha o bifocal, que era aquele que tinha aquele cortezinho aqui, aí inventaram o multifocal, que era aquelas lentes americanas, varilux, que vinham aquelas lentes. E ele queria vender óculos para velhinhos multifocal, e os velhinhos não se acostumavam com aquilo, caiam na escada, não se acostumavam. E eu não vendia mesmo. A hora que o velhinho vinha com o bifocalzinho dele, e o médico que era o dono da ótica que eu trabalhava, tinha receitado para ele o multifocal, então ele vinha todo feliz, não é, com a cartelinha do multifocal, falava: – Olha, o doutor Leonardo falou para eu trocar agora, não é, para o multifocal, que é mais moderno, não sei o que. Eu falava: Troca não, troca não, porque olha, melhor o bifocal, é mais barato, não sei o que. Eu, doutor Leonardo ficava louco. (Risos): – Mas você tem que vender o óculos, Marlene. Eu falei: Eu sei, mas ele não vai se dar bem com o óculos. – Não importa, que ele compre o óculos, ele tem dinheiro, ele vai comprar os óculos. Então nunca me dei bem vendendo óculos. E aí eu tinha trancado o curso, foi quando o Tancredo morreu. Na morte do Tancredo, eu assim, foi um momento muito, vocês não tinham nem nascido ainda, quando Tancredo morreu, em oitenta e seis? Vocês tinham nascido? Então, vocês eram novinhos. Quando o Tancredo morreu, é assim, foi um momento bastante tenso da história brasileira, não é, e ao mesmo tempo muito
emocionante para os brasileiros, porque o Tancredo era, por mais que hoje a gente saiba que não era mesmo, porque era mais do mesmo, era uma esperança, e que foi abortada com a morte dele, não é, foi abortada essa esperança de um Brasil diferente com o Tancredo Neves. E aí quando o Tancredo morreu, eu pensei com os meus botões assim, no auge dos meus vinte e... Vinte anos, que eu terminei o curso com vinte e três. Vocês vejam, eu comecei Educação Física, eu tranquei o curso, e eu terminei o meu curso com vinte e três anos. Para vocês terem uma ideia do percurso, como eu entrei nova na universidade. Aí eu falei: Não, eu vou terminar esse curso, eu vou terminar alguma coisa na minha vida, vou terminar esse curso. Quando eu voltei para o curso de História, aí ouve um momento de, é... Mudança no que eu entendia pelo que era o curso que eu estava fazendo. Porque aí, politicamente, eu já era uma outra pessoa, não é, já tinha tido contato com as diretas já, os movimentos do PT, com um monte de coisa, aí eu assim, eu vi o curso com outros olhos. Aí eu conheci uma professora chamada Mariana Almeida, que era professora de estágio. E ela é na verdade mudou a minha forma de ver, não é, a importância da História, do ensinar História. E foi com ela que eu comecei a pensar nessa área do ensino de História, e na importância de ensinar História, apesar que o meu estágio foi horrível. Foi horrível, foi a pior coisa que eu já fiz na vida foi o estágio. A primeira aula que eu dei no estágio foi a coisa mais horrível da face da terra. (Risos). Ave Maria, nunca fiquei tão nervosa em toda na minha vida. Eu só fiquei mais nervosa quando eu defendi um mestrado. É... Eu escolhi para trabalhar (Risos), eu nunca vou esquecer, cada coisa que a gente faz, eu escolhi para trabalhar aquela música do Paralamas do Sucesso, era uma música longa, que ele fala do, da pobreza, não sei do que, não sei mais o que, é uma música bem longa. E assim, é... imagina, não é, tinha que ouvir naquele, é... gravador não é, que você apertava assim para... E os meninos, na oitava série também,
que odiavam a música, era uma música longa, parada, aquela coisa toda. A minha sorte que a Mariana estava lá, que aí a Mariana é, tomou conta do
negócio, porque se eu tivesse que ter, que ter tomado uma atitude com relação com a forma que os meninos reagiram à música, não é, eu tinha, não é tido um
infarto do miocárdio. Mas... repensar o curso, parar um ano o curso e voltar, realmente deu uma mudança na minha forma de pensar o curso de história. Tudo
isso para dizer como é que conheci o meu marido. Aí teve um grande concurso na universidade. (Risos). Teve um grande concurso, entrou muito professor,
novos, faziam mestrado, eram todos jovens, e aí entrou o professor Gilmar Arruda, era professor, ele tinha entrado como professor de... História Antiga. Mas
rapidamente ele já foi para História do Brasil, que é a área dele, não é. Ele não chegou a ser meu professor diretamente, porque eu já estava no quarto ano, não
é, e ele dava aula para os primeiros anos. Foi aí que eu conheci ele, estava no quarto ano de História, terminando o quarto ano e ele entrou como professor do
curso de História. E eu trabalhava como estagiária no arquivo, não é, que hoje é o Centro em documentação e pesquisa histórica, eu trabalhava como estagiária.
Eu sou uma das responsáveis pela, toda a organização, por exemplo, de jornais, que tem lá até hoje, eu, fui eu e a professora Dulce, essa professora lá do
primeiro ano, ela dirigiu esse arquivo histórico, que depois virou nome de centro de documentação, por anos a fio. Até que conseguiram tirar a mulher de lá,
depois entrou o professor Zé Cesar, esse que não falava nada, ele entrou no arquivo, aí ele ficava sentadinho lá no fundo, sem conversar com ninguém, e os
estagiários que tomaram conta de tudo assim, a gente fazia tudo que a gente queria fazer e... E na verdade revolucionamos o centro de documentação. Então
eu trabalhei nesse arquivo e o professor Gilmar ia muito lá, porque era uma coisa que ele gostava, não é, de centro de documentação, de arquivos, e eu conheci
ele ali, nesse, nesse centro de documentação e também através do professor Josimar, que tinha sido o meu professor de Teoria da História, se tornou muito
amigo dele, inclusive ele foi morar junto com o Josimar, que eu conheci o Gilmar. Só que daí eu terminei o curso em dezembro, não é, ele chegou em agosto. De
mil novecentos e oitenta e sete. Eu terminei o curso em dezembro de oitenta e sete, fiz a seleção do mestrado em Curitiba e me mudei para Curitiba. Fui
embora. Aí em oitenta e oito eu morei em Curitiba, não é, o ano inteiro em Curitiba, não vi mais o Gilmar, e morei em Curitiba fazendo o mestrado. O mestrado em Curitiba naquela época, era um mestrado maluco. Tinha dez disciplinas, é... quinze disciplinas, um monte de disciplina, era um mestrado de dois anos de disciplina que depois você ia fazer a dissertação, era uma coisa doida. Tinha, oitenta e, nossa, mil novecentos e oitenta e sete. E aí eu fiz as disciplinas do mestrado em oitenta e sete... e oitenta, e oitenta e oito, não é, porque eu entrei no final de oitenta e sete, em oitenta e oito eu fiz o, fiquei em Curitiba, morando em Curitiba. E aí mais ou menos nessa época eu namorava um... Um aluno de História. Um rapaz chamado Nenzo, que até já morreu, tivesse casado com ele teria ficado viúva. Aí é... (Risos) Um rapaz chamado Nenzo, e ele estava terminando o curso e eu estava fazendo o mestrado em Curitiba, em oitenta e, início de oitenta e nove, abriu uma vaga, eu tinha bolsa na época, bolsa de mestrado do CNPq. Em, no início de oitenta e nove, abril de oitenta e nove, abril de oitenta e nove abriu um teste seletivo para Metodologia e Prática do Ensino de História, na UEL. E a professora Mariana, não é, que eu já conhecia, eu tinha trabalhado com ela na pesquisa dela, não é, de mestrado, eu estava morando no apartamento dela em Curitiba, porque ela tinha um apartamento em Curitiba porque ela fazia mestrado em Curitiba também. Que ela fez um mestrado de oito anos. (Risos). Ela começou o mestrado, parou, voltou, começou. E na época fazia-se mestrado mesmo, longos. E aí quando é, eu terminei o curso e comecei o mestrado, ela ainda estava fazendo o mestrado em Curitiba, estava terminando, e ela tinha um apartamento que ela tinha alugado em Curitiba, então eu e uma amiga, que também era do curso de História, ficamos nesse apartamento dela. Mas ela vinha muito para Curitiba
ainda terminando a dissertação dela, que ela levou ainda mais dois anos para terminar, eu acho que eu terminei a minha ela terminou a dela logo depois. É,
ela vinha muito para Curitiba. E aí abriu um teste seletivo em Londrina. Em abril de oitenta, onze de abril de oitenta e nove, foi o dia que o primeiro, meu primeiro,
com a assinatura de contrato na UEL, mas no início de abril abriu o processo seletivo, e ela me ligou e falou para mim assim: – Marlene, abriu esse teste
seletivo, você não quer vir fazer? Aí lembro que a, a minha resposta para ela foi assim: Professora, como que eu vou dar aula de Metodologia e Prática de
Ensino de História, se eu nunca dei aula? Eu nunca dei aula no ensino fundamental e médio. Vocês vejam, eu saí do curso no quarto ano, já fui direto
para o mestrado. Como é que eu vou dar aula de metodologia se eu nunca dei aula? (Risos). Aí ela virou para mim e falou assim: – Marlene, não é sabendo
fazer, fazendo que a gente sabe fazer, há toda uma teoria... Ela foi uma das primeiras pessoas que me disse que há toda uma teoria sobre ensinar, que é tão
importante quanto a prática. Você não precisa dar aula, para ensinar a dar aula. Mas mesmo assim, eu tinha muita insegurança. Falei: Gente, como eu vou
ensinar a dar aula, se eu nunca dei aula? Não é? Minha única experiência era aquela aula horrível do estágio. E eu vou dizer para você, foi uma aula mesmo.
Porque naquela época, os alunos davam uma aula de estágio, uma. Eu dei uma no ensino fundamental e uma no médio, era toda a minha experiencia de dar
aula. Aí ela falou para mim assim: Ó, então faz o seguinte, você vem, faz o teste seletivo, se você passar eu arrumo aula, que é vinte horas só, eu arrumo aula
para você no Colégio Aplicação, e você dá aula no mesmo tempo que você tiver no curso dando aula no curso de História. Eu falei: Ah, posso tentar, não é. E
assim, eu tinha uma bolsa, gostei muito de Curitiba, fiquei muito tentada a não ir, mas eu tinha um outro problema mais grave, que era sobrevivência, e eu fiquei
com muito medo do bonde estar passando, sabe, do cavalo estar passando arriado na sua porta e você deixar o cavalo passar e não conseguir pegar ele de
novo. Um teste seletivo para UEL, e aí ia ter concurso público em agosto. Aí eu falei assim: Ah, eu vou fazer esse concurso, porque eu preciso trabalhar, não é.
Então fui fazer. Aí eu fiz o teste seletivo, tinham três professores na banca, a professora Mariana, claro, um professor chamado Cristiano, que era um professor de economia se não me engano, História Econômica depois ele foi para a Prática de Ensino e está na Prática de Ensino até hoje e um professor, que eu não me lembro agora quem era. Eram três professores. E fez esse teste seletivo, eu, uma professora, que era irmã da professora Inezila de Lima, que era professora de História do Brasil, que dava aula há vinte anos, e mais duas professoras, mais duas pessoas. E eu dei a aula, não é, já tinha perdido um pouco da, daquele primeiro trauma de dar aula, não é, fiz a prova escrita, que eu era muito boa nisso e depois dei a aula. E aí passei no teste seletivo. Passei no teste seletivo, falei: Agora eu vou ter que correr atrás do prejuízo, não é? Vou ter que primeiro dar umas aulas para ver como é que dar aula, como que é criança, como que é... Eu nunca tinha visto uma criança na vida, porque a primeira aula que eu tinha dado, dei uma só lembra, era no oitavo ano, criança de quinta série então nunca tinha visto. E pasmem. A gente achava naquela época, em oitenta e nove, que criança de dez, doze anos não aprendia História, porque não tinha capacidade mental, cognitiva para aprender, porque não estava, não tinha formado ainda, não é, a ideia do Piaget, não tinha ainda o pensamento abstrato (Risos). Como é que vai ensinar História para criança de quinta série se ela não tem o pensamento abstrato ainda? Bom, aí eu passei no concurso, nesse teste seletivo e voltei para Londrina. Fazendo o mestrado. Eu passava mais tempo no ônibus ida e volta do que morando em algum lugar. Aí eu tranquei o mestrado para dar aula. Eu precisava dar aula, não é? Aí eu tranquei o mestrado e comecei a dar aula no Colégio de Aplicação. Aí dei aula no Colégio de aplicação dez meses, nem foi um ano, dez meses. Porque aí veio o concurso público, aí eu tinha que estudar para o concurso público, aí estudei para o concurso publico. E na época a UEL estava com uns problemas graves de denuncia de... de concursos fraudados, fraudados não, mas de concursos, é, como a gente vê muito hoje, sabe aqueles concursos que já tem os amigos que vão passar? Você sabe que os amigos vão entrar, não adianta nem você tentar. Então a UEL com muita denúncia desse tipo. Então quando eu fiz o concurso na UEL, eu era exaluna. Nas bancas que foram cinco concursos naquela época, nas bancas daquele, daquela, daquele concurso não tinha nenhum professor da casa, todos
eram professores externos. Tanto que participou da minha banca professora Elza Nadai, o professor Pedro Paulo Funari e o professor... Nelson Piletti, sabe
o Piletti, dos livros didáticos? (Risos). Nelson Piletti, Pedro Paulo Funari e Elza Nadai, foi minha banca de concurso público. Aí eu fiz o concurso, passei no
concurso. E tudo o mais e comecei a dar aula na UEL. Aí que eu retomo, não é, o contato com o Gilmar Arruda, quando eu volto como professora. Aí eu volto
como professora em oitenta e nove e aí retomo o contato com ele como colega de trabalho, não é. Aí... E tinha vários ex-professores meus, por muitos anos
ficaram muitos ex-professores meus como meus colegas, e o Gilmar costumava dizer que eu tinha síndrome de ex-aluna, porque eu não conseguia ir contra os
meus ex-colegas que tinham sido os meus professores, que eu tinha que acabar com aquela síndrome de ex-aluna. E assim, eu odiava. Aí outra coisa que eu
odiava nele, ele é ateu, não é, e eu tinha um crucifixo no pescoço assim, e um dia ele chega para mim assim, ele sempre foi uma pessoa muito simpática, sabe,
muito, ele é até hoje. Mas aí eu tinha um crucifixo no pescoço, um dia eu estou assim na sala dos professores, ele chega para mim, pega no crucifixo e vira para
mim e fala assim – Quem é esse? Que isso? Eu falei: Nossa! Dois mil anos e você nunca ouviu falar de Jesus Cristo? Está atrasado hein? Aí gente, tinha
vontade de matar ele. (Risos). E aí os nossos primeiros contatos, foi assim, foi horrível, foi assim horrível. Eu achava ele chatessimo, chato, chato, chato. E ele
era mesmo. Mas aí a gente começou a sair, ia para bar, ia para isso, toda sexta feira ia para bar, meu sextou melhorou bastante depois que eu entrei na
universidade. Porque aí a gente, os professores solteiros, todos davam aula, o curso de História era noturno, não é, não tinha curso diurno, ele era só noturno.
E todos os professores solteiros davam aulas na sexta-feira. Então a gente acabava as aulas, ia para o bar. Ia para o bar, ia para o bar, não sei o que. Mas
nessa época, o Gilmar tinha uma namorada, já de muitos anos, afim, ia casar, tinha uma namorada. Aí em mil novecentos e noventa, ele volta para Campo
Grande, tranca, ele pede uma licença sem remuneração da universidade e volta para Campo Grande, abre um restaurante lá, porque ele tem vontade de voltar
para Campo Grande, casar com essa moça lá, que morava lá. E ele passa o meu ano inteiro de noventa em Campo Grande e eu passo em Londrina. Mas aí a
gente já tinha tido uns casos, assim (Risos) aí quando ele voltava para Londrina a gente tinha caso, se encontrava, aquela coisa toda. Em noventa e um o
restaurante não dá certo lá, ele volta para Londrina como professor, não é, volta em noventa e um. E a gente fica nesse lero, lero, nunca namorou, falar assim,
como é que a gente namorou? A gente nunca namorou, então não posso dizer assim: Foi meu namorado. Nunca namoramos. A gente teve um caso, ele tinha
namorada dele lá, noiva, que ficou com essa noiva dez anos se não me engano e... A gente tinha esse caso, esse rolo, não é, em Londrina, mas ele sempre
voltava para namorada lá em Campo Grande. Até que um belo momento o destino e falta de cuidado fez com que eu ficasse grávida (Risos), aí eu fiquei
grávida. Aí foi um rolo de uns tamanhos assim também. Imagina o departamento, imagine um departamento de História, a gente já tinha esse rolo, não é, aí eu
fico grávida, ele tem uma noiva, aí ele resolve ir buscar essa noiva, quer dizer, essa noiva resolve mudar para Londrina, porque eu tinha ficado grávida, ele
contou para noiva. Aí a noiva resolveu: – Não, então vou embora para Londrina, vamos morar em Londrina. (Risos). E nós morávamos no mesmo prédio. Ele
morava no décimo nono e eu morava no décimo quinto, andar. Olha, confusão. Aí...
E1 - Risos. Ele está escutando? Ele está ainda ouvindo?
R - Não, ele saiu, ele saiu. Ele foi levar a Julia no, na faculdade. Aí, mas ele sabe essa história é. Aí nós conversamos, aí eu fiquei grávida, ele falou: – Ah, mas
você vai ter criança? Eu falei: Claro. Eu falei: Filho, eu moro sozinha, eu tenho um emprego maravilhoso, razoável eu não vou ter essa criança por quê? – Ah
não, porque eu tenho uma namorada, ah porque eu não vou conseguir ser pai, ah porque eu não sei o que. Eu falei: Isso é problema seu, você se resolva, se
resolva. E nós tínhamos um amigo, ele tinha um amigo lá em Assis, que ele fazia o doutorado em Assis, e depois esse amigo dele até veio para Londrina, foi
professor e depois acabou morrendo de câncer. E aí um dia ele estava conversando com esse amigo lá em Assis, e aí ele fala para esse amigo: – Você
acha que ela vai ter essa criança mesmo? Aí esse amigo fala para ele assim: – Quantos anos que ela tem? Aí ele falou assim: – Ah, eu acho que ela vai fazer
trinta. – Ah, é? Ih... você está frito, mulher de trinta nunca vai tirar, de jeito nenhum. (Risos). E não ia mesmo, eu não ia tirar nem antes dos trinta. Mas aí,
nós conversamos muito, coisa e tal, e resumindo, nós voltamos, não, então vamos, vamos. Aí: – Mas eu vou casar com a... Com a outra lá. Vou casar com
a... esqueci o nome da moça: – Vou casar com ela. Ah, fazer o que, não é? Mas vai registrar, não é, claro e pagar pensão meu filho, fazer o que. Nesse ponto eu
sempre fui muito pragmática, muito prática. Aí a Julia nasceu, ele registrou, começou a pagar a pensão, e o noivado dele desandou. Por algum motivo, que
eu acho que é a Julia, não é, e aí ele vivia lá na minha casa, ele vivia lá comigo, ele vivia lá não sei o que, aí não sei o que. Aí esse meu amigo inclusive falava
assim, quando a gente resolveu ficar junto, esse meu amigo falou assim: – Você sabe que não vai durar isso, não é? Porque é tudo é por causa da criança, porque
a hora que essa criança crescer, ele não vai ficar com você não. Ele morreu, não viu que a gente já está a trinta anos. (Risos). Aí eu peguei e falei assim: Ah, durar
o que durou, vamos ficar juntos. Aí quando a Julia tinha... Seis meses, a gente resolveu ir morar junto. Nós fomos para a praia e na volta da praia ele falou
assim: – Vamos morar juntos então, não sei o que, vamos ficar junto. Só que era um ficar junto bem década de noventa, sabe, bem final da década de noventa.
Ele queria um relacionamento mais aberto, umas coisas muito modernosas para alguém que nem eu que vem do interior. Aí eu falei: Ah não, ter aberto eu não
quero nada. Então vamos separar e coisa e tal. Aí quando fazia, a Julia ia fazer dois anos a gente resolveu que ia separar, nós vamos separar porque
relacionamento aberto eu não quero não, ou a gente casa ou separa. Aí ele foi pescar, não, primeiro ele fez uma viagem para Espanha, ele fez uma viagem
para Espanha. Aí nessa viagem para Espanha ele sentiu muita falta do Brasil, ficou muito, esteve com banzo sabe, umas coisas assim, aliás ele tem banzo até
hoje. Hoje aqui mesmo ele está com banzo, está tomando remédio porque quer voltar, ele tem banzo do Brasil, ele sente falta. Aí ele voltou, aí foi pescar, aí
voltou e falou assim: – Não, então se é só casando, vamos casar. Aí casamos. Isso em mil novecentos e noventa e oito, vai fazer vinte e cinco anos ano que
vem que a gente casou, não é, que a gente casou vai fazer vinte e cinco anos, que a gente está junto faz vinte e oito, que a gente tem rolo já faz uns trinta e
tantos. Aí a gente resolveu casar em mil novecentos e noventa e oito e até hoje ele fala para mim: – Se a gente tivesse ficado só, eu economizava um tantão de
imposto de renda. Porque ele pagava pensão. (Risos). Quando deixou de pagar a pensão voltou a pagar o imposto de renda – É, tinha economizado um dinheirão
no imposto de renda, mas você quis casar, queria o papel. Aí meu Deus do céu. Mas é essa história, não é, melhor contar a história do jeito que ela é mesmo,
porque um monte de gente conhece a história, e a história era essa, a gente é...
E1 – Muita bonita a história, viu. (Risos).
R – Foi um horror no departamento. Imagina um departamento, vocês conhecem o departamento de História, não é? Se para fofoca já é bom, você imagine um,
em uma situação como nós vivemos. (Risos). Foi assim, maravilhoso. Até hoje a gente é uma história conhecida lá no departamento de História. (Risos).
E2 – Juliana, oh Juliana eu acho que vai ter muita história pela frente, essa é só a primeira. Vem Joana Neves por aí, vem Circe.
R – Essa é a história do nosso começo, não é, eu e o Gilmar. Que o Gilmar Arruda, é professor de História também, e a gente teve uma vida acadêmica também muito... Muito presente, ANPUH´s e coisa, nós tivemos uma vida acadêmica bem...
E1 – Sim, ele é bem (? 1:31:11), você e ele são bem...
R - É, a gente teve uma vida acadêmica bem grande. E... e todo mundo achava assim, que o casamento não duraria nem dois anos, (Risos), todo mundo falava
isso: – Esse casamento não vai durar, não vai durar. (Risos). E já faz um... Eu falei para ele outro dia, eu falei: Gilmar, acho que é melhor a gente não fazer
trinta, porque a gente tem que...(Risos), As pessoas falaram que não ia durar, não pode fazer trinta anos de casado, muito tempo.
E1 - Não, agora nós vamos fazer a festa de quase quarente, que vocês já estão a mais de trinta anos nessa história toda.
R – Na história toda é, na história é mais de trinta. De casado vai fazer vinte e cinco ano que vem, bodas de prata.
E2 – Oh pessoal, agora são três e seis, o que vocês acham, a gente encerra esse primeiro bloco, para Marlene descansar também e aí a gente pensa em uma nova data, não sei se vocês já querem sugerir, e seria a parte profissional mesmo, você já entrou em vários aspectos aí, mas seria mais a carreira acadêmica mesmo, as profissões, tudo isso. Eu acho que isso precisaria de um descanso agora para chegar lá, eu acho. E eu também tenho, infelizmente eu tenho que ir cumprir o estágio.
R - É, porque eu não tenho compromisso, mas se você tem compromisso podemos marcar outra data então.
E2 - É, ou se você e Juliana continuassem, não sei também que, você fica com a tarde.
E1 – Eu posso ficar um pouco mais, se Marlene estiver empolgada aí, eu posso, mas o Marlene, como é ele que está conduzindo, não é, a gente fica também
tranquila assim. De...
R - Não, por mim também pode marcar outra data, sem problemas nenhum.
Fim da entrevista, com conversas para marcar a continuação em outro dia.
Entrevista com Marlene Rosa Cainelli em 28/03/2022, em Portugal, cidade de Porto, a entrevistadora Juliana Andrade estava em Recife e o entrevistador Cristiano estava em Goiânia. . O encontro foi realizado de forma online através da plataforma Google
Meet.
Estavam presentes
- Professora: Juliana Andrade
- Professor: Cristiano Nicolini
- Professora: Marlene Rosa Cainelli
Legenda da transcrição:
E1: Entrevistadora 1: Juliana Andrade
E2: Entrevistador 2: Cristiano Nicolini
R: Entrevistada: Marlene Rosa Cainelli
A transcrição foi realizada por Aldry Pereira Chaves e revisada por Juliana Miranda da Silva.
E1 – Novamente professora Marlene, a gente agradece em nome da associação brasileira de Ensino de História é, a oportunidade de ouvir, não é, essa pesquisadora que foi de uma geração que contribuiu para formar, não é, fundar o campo do Ensino de História no Brasil. É, como o protocolo inicial da gravação,
é eu quero registrar a data de hoje, é vinte e oito de março de dois mil e vinte e dois, eu estou em Recife, a professora Marlene está no Porto, Portugal e o
professor Cristiano está em Goiás, Goiânia, Goiás. Então, eu vou passar, quem vai conduzir novamente a entrevista é o professor Cristiano, a minha intervenção
ela vai se dar a medida para complementar e a professora Marlene, novamente, fique à vontade, fique em casa, literalmente, não é, professora Marlene? Para
nos contar essas bonitas histórias que a senhora vem contando. Professor Cristiano, por favor.
E2 – Certo, bom dia aqui, boa tarde aí em Porto. Nós vamos então professora Marlene e Juliana seguir com a segunda parte, marquei aqui no nosso roteiro
para não esquecer, que seria a parte do desenvolvimento do trabalho. Na primeira etapa, nós falamos mais sobre... A infância, a juventude, essa dimensão
mais pessoal mesmo e agora essa parte vai se articular com a dimensão do trabalho, das produções, que trouxe a professora Marlene até esse campo, não
é? Então professora Marlene, sobre o desenvolvimento do trabalho a primeira questão seria sobre a sua decisão profissional, como foram as suas escolhas,
você já falou um pouco sobre isso na primeira parte, não é, mas se você puder aí retomar essa escolha mesmo, como ela aconteceu, e o que você lembra
dessas primeiras vivências que marcaram a formação inicial aí depois a gente pode partir para um outro bloco mais específico sobre o ensino de História e a
produção, mas fique à vontade, não é, se já quiser unir esses temas na sua fala, mas seria mais nesse sentido assim, na escolha mesmo, como chegou no
campo?
R – No campo do Ensino de História ou da História?
E1 – Da História.
E2 – Da História, como um todo. Isso. É que as questões ali depois elas vão especificando, não é, mas se você já quiser inserir o ensino agora não tem problema. Obrigada.
R - Então, como no campo da História, como eu já disse da outra vez, foi algo bastante... É, acaso mesmo, foi o acaso que me levou a licenciatura em História
que poderia ter me levado a uma licenciatura qualquer, licenciatura em Letras, que era uma coisa que eu também tinha vontade, qualquer outro tipo de
licenciatura. Então a História foi o acaso de uma mudança de curso que eu acabei, não é, por adentrar o campo aí do, da Historiografia e da História. Bom,
é... o meu percurso durante a graduação ela foi bastante atribulada, um percurso durante o fim da ditadura militar e o início da democracia, então a universidade
ela estava passando por diversos problemas e havia diversas greves, greves de professores, greves de alunos, então é, foi um percurso bem atribulado esse
meu percurso no campo de me formar professora de História. É, o curso de História da UEL era um curso extremamente tradicional, era (Risos), é um curso
extremamente tradicional, não é. É um curso que se desenvolvia e se desenvolve dentro da perspectiva eurocêntrica de formação do historiador, então a gente
tinha História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, História do Brasil um, dois, três e quatro e naquela época ainda a gente tinha duas disciplinas que
hoje o curso de História não tem, que era História Econômica do Brasil e História do Paraná. Ah, nós tínhamos também uma disciplina chamada História do
Extremo Oriente, que ela deixou de existir quando eu já era professora e na... Não sei se eu já era professora quando deixou de existir, o problema ocorreu
quando eu estava no último ano do curso, que essa disciplina era, ela era uma disciplina do último ano, do último semestre, eu fiz um curso semestral de
história, eram oito semestres. Então no último semestre tinha essa disciplina que era história do extremo oriente e o professor na época ele se transferiu para a
UNESP de Assis, foi uma época também que o curso, as universidades estaduais do Paraná perderam muitos professores para as federais e para UNESP porque o salário era muito baixo, as greves eram muito grandes, os professores mais qualificados foram todos se, é... Foram todos fazendo concurso em outros lugares e acabaram abandonando a UEL. E nessa época tinha essa disciplina que era História do Extremo Oriente, o professor se transferiu e não tinha mais ninguém para dar a disciplina, porque era uma disciplina muito específica e não havia nenhum professor qualificado para trabalhar essa disciplina, que era uma disciplina dada pelo professor Eduardo... Era Eduardo, que ele chamava Eduardo, que já morreu inclusive. Bom, então o meu curso ele foi exatamente nesse sentido, foi um curso, era um curso muito tradicional, mas que tinha algumas aberturas um pouco diferentes do que tem hoje. Hoje, por exemplo, nem curso de História do Extremo Oriente, não há história. Agora, nos últimos anos que foi incluída a disciplina de História da África, África e... História África e Afrodescendentes, eu não sei como que é o nome da disciplina, mas é uma disciplina obrigatória, não é, que foi uma disciplina obrigatória por conta das mudanças curriculares, foi inserida essa disciplina, mas ela também é uma disciplina optativa, uma disciplina que é inserida no curso é... Quando dá um espaço, uma brecha, não é uma disciplina efetivamente do curso de História. Bom, eu acho que entre as discussões sobre o campo, não é, da História e como é que é, eu terminei o curso de História em mil novecentos e oitenta e sete, final de oitenta e sete. Depois de eu ter trancado um semestre, depois eu voltei e aí foi quando eu voltei ao curso de História que na verdade eu me encaminhei para é... Uma perspectiva de prosseguimento de estudos no mestrado, doutorado porque eu conheci uma professora que dava Metodologia do Ensino de História, que era a professora Mariana Almeida e eu fui trabalhar com ela na dissertação dela. Ela fazia uma dissertação na área de História em Curitiba, no mestrado em História em Curitiba, mas ela fazia uma dissertação relacionada com a formação de professores. Ela entrevistava professores sobre suas carreiras, é... Sobre a sua formação, eu não me lembro muito mais qual que era o foco mesmo da dissertação dela. Mas ela já estava fazendo essa dissertação há muitos anos, a professora Mariana, acho que levou uns oito anos para terminar o mestrado, na época em que o mestrado era de quatro anos e a gente podia fazer mais quatro. Ela usou todos os oito anos para fazer o mestrado. Não era uma característica muito forte dos professores nesse período, fazer pós-graduação, então de todos os professores que eu tinha eu acho que eu tinha dois que eram mestres e o resto todos estavam fazendo mestrado, então não é, começaram a fazer mestrado nessa época, no final dos anos oitenta. Então assim, não era uma é... uma característica forte da graduação brasileira, da universidade brasileira ter professores pós-graduados, principalmente no interior que era o caso de Londrina, não é. E a professora Mariana ela tinha começado a fazer esse
mestrado em Curitiba quando eu ainda estava lá no começo do curso, aí depois ela parou um pouco, ela trancou também uma época, e retornou quando eu
retornei à universidade já estava fazendo estágio, e ela era professora de estágio e fazia a dissertação em Curitiba. E a dissertação dela, apesar de ser na área de
História, era uma dissertação que envolvia essa questão, essa interface com a educação, muito é... Superficialmente, bem de leve, mas fazia essa interface, a
orientadora dela, que também depois foi minha orientadora no mestrado, a professora Elvira Cubo, ela tinha essa abertura, não é, para essa possibilidade. O curso de mestrado de Curitiba era um curso bastante tradicional, era um curso coordenado na época pela professora Cecília Westphalen e era um curso, na verdade uma outra graduação. Você entrava no curso de mestrado, você fazia dez, doze disciplinas, dois anos de disciplina para depois você começar a pensar na pesquisa e tudo o mais. Então é, era uma época em que a pós-graduação, ela não confiava de jeito nenhum nos cursos de graduação de onde vinham os alunos, então ela fazia com que o aluno, um pouco como a UNICAMP ainda faz hoje, ela refaz o curso de graduação no que ele acha mais importante em diversas disciplinas. E é o curso da federal do Paraná era assim, e era um curso que ele recebia gente de muitos lugares, de muitos lugares do país. Como nessa época a pós-graduação era uma coisa muito limitada, não é, no Brasil só tinham nas capitais, então é, recebia gente do país todo. Eu mesma, quando eu fui fazer o mestrado, eu fiz o mestrado com professores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Nordeste, de vários lugares que vinham para Curitiba para fazer o mestrado. Curitiba não era, lógico, o lugar mais procurado pelos historiadores, porque era, o lugar mais procurado pelos historiadores era UNICAMP e USP, não é, e a UFF, no Rio de Janeiro e um pouco também Belo Horizonte, mas Curitiba tinha uma grande é, quantidade de pessoas, principalmente aqui do sul, aqui, aqui do sul (Risos), lá do sul. Principalmente do sul do Brasil que vinham para Curitiba. E eu quando fui, voltei ao curso e conheci a professora Mariana eu fui trabalhar com ela na pesquisa dela, fazendo a transcrição das entrevistas que ela estava fazendo com professores. Foi a pior coisa que eu já fiz na minha vida, se algum dia tivesse que trabalhar com História Oral, eu pensei comigo: Nunca que eu ia trabalhar com História Oral. Então é, muito difícil, porque era aquele gravador, não é, aquele gravador e era muito difícil entender o que as pessoas estavam falando na entrevista. E aí eu comecei a ir com ela nas entrevistas, para perceber como que o professor falava. Porque geralmente era professores mais velhos e eu não entendia depois na gravação, na gravação daqueles gravadores ruinzinhos, não é. Eu não entendia o que as pessoas estavam falando. Então tinha que ir voltar, ir voltar, diversas, então uma, para eu fazer cinco minutos de gravação eu levava em torno de duas horas e meia mais ou menos, e era aquela transcrição literal, eu tinha que transcrever tudo. Não, dos é, sons aos suspiros e aos coisa, era tudo, tinha que transcrever tudo que estava na transcrição. Então eu comecei a acompanhá-la nesse percurso dela de entrevistar os professores para fazer a dissertação dela. Aí desculpa. E
nessa, nessa caminhada junto com a professora Mariana eu me interessei pela questão da pesquisa, não é, na área de educação. Me interessei pela questão
da pesquisa e comecei a pensar, isso porque eu fui uma aluna, é... Mediana no curso de História, de mediana para é... Vamos dizer assim, desatenta, não,
mediana para desleixada. Meu lugar de... De... O lugar que eu mais gostava de estar na universidade era na lá fora ou no centro acadêmico. (Risos). Nunca
dentro da sala de aula, os professores até comentavam muito: – O lugar que a Marlene mais gosta de estar é no centro acadêmico. Um lugar que na
universidade aqui em Londrina chama de buraquinho, no CCH, que chamava de buraquinho do CCH. Tem até hoje os alunos gostam muito de ficar lá. Então era
o lugar que se quisesse me encontrar, era lá que eu estava, na sala de aula raramente. Mas eu nunca fui uma má aluna, não é, eu sempre fui uma aluna
bastante perspicaz, me apropriava dos textos com muita rapidez, não é, então assim, eu era uma aluna média, para um curso médio, para alunos médios.
Então assim, não precisava de muito, e vocês são professores, foram alunos e sabem que o curso é feito para o mediano, então o que vai mais um pouquinho,
ou vai muito rápido ou se desinteressa, então tem essas questões. E eu era uma pessoa assim, que como eu me apropriava muito rápido das leituras, não
precisava ler o texto inteiro, lia metade do texto e já puff, achava que sabia tudo. Então é... Eu ficava muito lá fora e coisa e tal. E foi muita surpresa para alguns
professores, que apesar de ser uma aluna média, não é, uma aluna desinteressada inclusive, eu me interessava por fazer pós-graduação naquela época, que era uma época que quase ninguém fazia pós-graduação. Mas aí teve dois fatores também de acaso, um é esse meu contato com a professora Mariana e o outro era a necessidade de sobrevivência, eu tinha uma necessidade grande de sobrevivência, porque meus pais não tinham como me sustentar e eu precisava trabalhar, e naquela época tinha as bolsas de mestrado que eram bolsas razoavelmente boas, era assim, um salário de um professor início de carreira das federais era o salário do mestrado, da bolsa de mestrado. E a... o mestrado das federais, do, da Universidade Federal do Paraná ele tinha muitas bolsas, então se você passasse em primeiro, segundo lugar você tinha grandes chances de ter uma bolsa aí pelos quatro anos do curso. Então também era uma coisa que me interessava, me interessava também ir embora de Londrina, não é, conhecer o mundo. (Risos). E aí eu resolvi fazer o mestrado nessa área de educação por muita influência da professora Mariana. Aí, mas aí eu (Risos). Lembro de uma conversa que eu tive com ela, falei assim: Mas professora, mas eu vou fazer com que tema? E ela era muito assim, pragmática. Aí ela foi lá, sentou e falou assim: – Ah, vamos fazer sobre escolas rurais. Aqui em Londrina tem um monte de escola rural. (Risos). Mas o que sobre a escola rural professora? – Não, porque a gente pensa assim, pensa assado, não sei o que, não sei o que. Ela era muito pragmática, muito é... Pensava muito rápido também. E aí... Lendo sobre a questão das escolas rurais em Londrina, que era uma coisa que naquela época tinha começado a acontecer a nucleação dessas escolas rurais, eram muitas escolas e a prefeitura começou a fechar essas escolas para trazer os alunos para a cidade. E havia uma documentação enorme
sobre as escolas rurais em Londrina. E eu fui com ela uma vez na prefeitura, até que a secretária na época depois se tornou minha amiga na UEL, a professora
Magda Tuman. E aí ela foi me mostrar o... O arquivo da prefeitura, onde tinha... Nossa! Era uma bagunça sem tamanho, caixas e caixas e caixas de material
tudo empilhado assim, era uma coisa absurda. E a professora Magda falou para mim: – Se você quiser pesquisar e dar uma organizada a gente agradece.
(Risos). Uma bagunça danada. E eu comecei a olhar essa documentação e nessa documentação eu descobri é uma... Uma campanha que tinha acontecido
na década de cinquenta, que era a Campanha Nacional de Educação Rural, que era uma campanha que tinha como objetivo civilizar o homem rural, e na época
estava muito forte as discussões do Alcir Lenharo, que era um pesquisador da UNICAMP, depois também, logo depois também morreu de, foi um dos primeiros
pessoas que eu conheci que morreram de AIDS no Brasil foi o Alcir Lenharo. E aí ele tinha um livro onde ele fazia essa discussão sobre a questão do homem
civilizado, da questão da civilização do homem, da modernização do homem rural, e tudo mais, do homem, não do rural, rural isso era essa campanha que se
aventava nessa discussão de civilizar o homem rural no Brasil. Aí eu vi essa campanha, achei que era interessante, falei: Ah, vamos fazer uma dissertação sobre essa Campanha Nacional De Educação Rural. Fiz o projeto. Fiz a prova. E acabei entrando, passei em segundo lugar na federal e acabei ganhando uma bolsa CNPq, na época os dois primeiros lugares ganhavam bolsa CNPq e os outros ganhavam da CAPES, porque a CAPES atrasava o salário, o CNPq não. E o CNPq era um pouco maior o valor da bolsa que o valor da CAPES. Então aí eu tive bolsa do CNPq e me mudei para Curitiba para fazer mestrado com a professora Elvira Cubo. Mas até esse momento não havia, você veja, é uma Campanha Nacional De Educação Rural, não havia nenhuma discussão sobre ensino de História. Tá, não havia na perspectiva. Nem na perspectiva da professora Mariana, porque a professora Mariana, apesar de ser professora de metodologia e prática de ensino a dissertação dela era sobre eu não me lembro mais, mas era sobre formação de professores, o que os professores pensavam sobre... me fugiu agora a ideia que faz tantos anos. (? 18:52)
E1 – Oh professora Marlene, me perdoe também, isso era na década de noventa, noventa e quantos?
R – Não, essa era na década, no final da década de oitenta. Eu entrei no mestrado em oitenta e oito, não é. Eu me formei em setembro de oitenta e sete, porque a universidade vivia em greves, então assim, as formaturas eram todas malucas, não é. Então me formei no dia dezessete de setembro de oitenta e sete. Aí eu fiz a prova do mestrado em Curitiba em dezembro de oitenta e sete e comecei o mestrado em Curitiba em fevereiro de oitenta e oito. Aí em fevereiro de oitenta e oito eu me mudei para Curitiba e fiquei fazendo o mestrado. Na época eu fazia mestrado, fiz até mestrado com pessoas bem, que depois também se tornaram historiadores importantes, não é, lá no Rio Grande do Sul, como o professor Cesar... Hoje eu estou mal de... Da aula lá na universidade lá em Porto Alegre, o Cesar... É eu sei que eu fiz com vários professores assim que depois se tornaram também professores das universidades federais e tudo o mais. É... Aí eu fiz um ano de mestrado em Curitiba, eu estava falando aqui para o Cristiano que era um mestrado que tinha muitas disciplinas, era um mestrado é... filhote da UNICAMP. Então eu vinha de uma formação tradicional marxista aqui em Londrina e fui fazer um mestrado foucaultiano em Curitiba. Porque o mestrado em Curitiba ele era um mestrado tradicional na parte que envolvia a professora Cecilia Westphalen, a professora Altiva Pilatti que era da questão da história quantitativa, mas ele era é dominado nessa época começou a ser dominado por todos os jovens que tinham entrado na federal naquela época, que hoje são todos aposentados, que era a professora Ana Maria Burmester, o professor é... Que também morreu depois de AIDS também, o professor, era vários professores que eram filhotes da UNICAMP, que vieram para depois vão participar do programa de mestrado e que trouxeram para a discussão da pósgraduação essa questão das representações foucaultianas. E quase todos que entraram nessa época comigo no mestrado lá eram marxistas. Então havia os marxistas que eram de fora de Curitiba e os curitibanos que eram foucaultianos. Então havia uma discussão muito forte dentro do programa, houve um embate forte aí entre os foucaultianos e os marxistas. E... e foi dentro dessa perspectiva que eu acabei me formando ali, fazendo esse primeiro ano do mestrado. Em abril, março, abril de oitenta e nove, surge uma vaga de professor temporário, substituto na UEL, na disciplina de Metodologia e Prática de Ensino. A professora Mariana sempre foi sozinha nessa área, ela era a única professora, ela tinha quarenta alunos e ela conseguiu no ano de oitenta e nove abrir uma vaga para ajudá-la nessa, nessa, na orientação de estágio porque ela queria terminar o mestrado. Que ela não tinha terminado. Vocês vejam, eu estava lá fazendo o curso de graduação, ela estava fazendo o mestrado, eu estava ajudando ela na transcrição das entrevistas, eu me formei, eu entrei no mestrado ela ainda estava fazendo o mestrado e querendo fazer, tirar uma licença para terminar o mestrado. E aí ela conseguiu essa vaga, e eu estava lá em Curitiba, mil novecentos e oitenta e nove, no segundo ano, entrando no segundo ano do curso
de mestrado. A, o teste seletivo era para graduado, porque na UEL não, até final da década de noventa não se abria para pós-graduação, para professores com
pós, acho que final da década de noventa começou a abrir para mestre, para mestre, ou para mestrandos, nem era para mestres formados, para quem estava
fazendo mestrado. Aí a professora Mariana me ligou e perguntou se eu não tinha interesse de fazer esse teste seletivo. Eu já tinha trabalhado um pouco com ela
nessa área de orientação de estágio, ajudado bastante, porque ela viajava muito para Curitiba e quem acabava orientando os meninos na época era eu, eu que
orientava e assistia as aulas, olha só que coisa absurda. Eu que orientava e ia assistir as aulas porque ela estava em Curitiba fazendo o mestrado. Tanto que
nessa época eu orientei, assisti e avaliei as aulas da professora Marcia Eliza Teté Ramos, por exemplo, eu sempre brinco com ela que ela foi minha aluna, é
que ela era minha colega. Mas eu estava no meu último ano e ela estava no penúltimo e eu que acabei orientando as aulas da professora Marcia. Aí é, eu
então ajudei muito nessa época, então eu tinha uma certa experiência com essa coisa de estágio, porque nessa época o estágio era isso mesmo, ele era um
estágio prático e se pensava no estágio dentro dessa perspectiva empirista mesmo, era ir fazer as aulas, ir dar aula e preparar plano de aula e preparar
planejamento e essas coisas. Aí ela me ligou e perguntou se eu queria fazer o teste seletivo, aí eu dentro dessa perspectiva de sobrevivência ainda não é, eu
tinha duas chances, ou eu ficava em Curitiba e ficava com a bolsa até o final do mestrado e depois eu pensava é... Nos concursos, ou eu já vinha, fazia o teste
seletivo e continuava fazendo o mestrado, porque eu não perdi a bolsa. Nessa época não tinha essa questão de você começar a trabalhar e perder, você podia
continuar se você já tivesse a bolsa podia continuar com a bolsa, porque também era um concurso de vinte horas só na universidade. Aí eu vim fazer o concurso.
Vim fiz o teste seletivo eu, e foi na época, eu já comecei essa discussão não é, que eu nunca tinha dado aula, então aí eu perguntei: Professora Mariana,
professora Mariana eu nunca dei aula, como que eu vou orientar estágio se eu nunca dei aula? – Não, porque você já tem experiência, não sei o que, aquela
coisa toda. Aí eu vim fiz o teste seletivo, comecei a dar aula, comecei também a dar aula, algumas aulas no Colégio de Aplicação para ter essa experiência do
ensino básico e continuei fazendo o mestrado, mas também não tinha nenhuma perspectiva ainda de fazer pesquisa na área de ensino de História porque isso
não existia, não existia esse campo. Aí eu tranquei o meu mestrado também, porque eu não tinha condições de fazer o mestrado e dar aula. Eu tinha que
aprender dar aula, não é, eu tinha que aprender a prática, eu tinha que aprender a ser professora, não é, então não tinha como fazer as duas coisas. Então eu
tranquei o mestrado e fui aprender a ser professora, então eu passei dois anos, um ano e meio, só como professora de Prática de Ensino. Nesse meio tempo
abriu concurso público para essa área, para essa vaga. Foram quatro concursos públicos que teve ao mesmo tempo no departamento de História e que aí eu
também acabei fazendo o concurso público, eu disse para vocês que foi o professor, a professora Elza Nadai, não é, o professor da UNICAMP, Pedro
Paulo Funari e o Nelson Piletti, que foram a minha banca e eu acabei passando no concurso público e comecei não é, então a minha vida acadêmica na UEL.
Então eu estou, fi... Estou na UEL, não é, fiquei na UEL de oitenta e nove, foi o meu primeiro concurso, foi meu primeiro e único concurso na universidade. E
comecei nessa disciplina de metodologia e prática de ensino de História. Na verdade, eu acho que eu sou uma das poucas professoras do departamento de
História que só deu aula de uma coisa, eu só dei aula disso. Nunca aceitei dar outra. Porque os professores como era poucos professores e muitas disciplinas,
professores davam aula de tudo. Professor era da Teoria da História, ele dava Brasil Econômico, bralalá, ia dando aula de tudo que tivesse, ia, não é, dava aula
de tudo. E eu nunca aceitei porque eu também não tinha condições é acadêmica, não é, de dar aula de outras coisas, então eu só dei aula de metodologia. Aí um
ano e meio depois que eu tranquei o curso eu é precisei voltar porque senão eu ia perder o mestrado, então eu voltei ao mestrado, já tinha feito as disciplinas,
não é, então voltei com a professora Elvira Cubo, terminei a dissertação e defendi a dissertação de mestrado que foi sobre, aí sobre essa Campanha Nacional De Educação Rural, trabalhei aí com essa perspectiva da civilização do homem, da construção do homem novo, das discussões do Getúlio Vargas sobre na década de cinquenta não é, sobre a modernização do Brasil e tudo mais. A minha dissertação foi sobre isso e... nunca nem, também foi uma dissertação que eu não, nunca nem fiz um artigo sobre ela, defendi, enterrei e está lá. (Risos). Tem gente que acha que inclusive que é melhor que a minha tese do doutorado, mas ela ficou lá e não foi muito, não teve assim, sabe aquela coisa que você não tem muito apego sobre? Eu não tinha muita, porque eu já estava em outro caminho, perspectivando um outro caminho, mas eu tinha que terminar essa dissertação, então não podia mudar totalmente o tema quatro anos depois. Eu terminei, eu fiz o mestrado em seis anos. Seis anos. Eu demorei mais para terminar o mestrado do que para o doutorado. O doutorado eu fiz em quatro, o mestrado eu fiz em seis anos. Aí, bom aí eu comecei a dar aula de Metodologia e Prática de Ensino de História. Isso já é oitenta e nove. Em oitenta e nove e noventa são as primeiras discussões que surgem sobre é... O campo do Ensino de História, são as primeiras discussões que começam a surgir sobre o campo de Ensino de História. Noventa, noventa e um tem algumas discussões, mas muito pouco ainda. Eu ainda não sou, não participo de eventos, a não ser as ANPUHs, mas na ANPUH não havia nenhuma perspectiva de ensino de História, nada, isso vai ser muito tempo depois que vai aparecer os primeiros simpósios de Ensino de História na ANPU. E em noventa e... já não vou me lembrar das datas certo, mas é na década de noventa que eu participo do primeiro, meu primeiro evento de é... Perspectivas do Ensino de História. Não dos pesquisadores, porque os pesquisadores ele só vai ser retomado um tempo depois, mas o Perspectiva do Ensino de História. Aí eu participo de um dos
primeiros eventos, o primeiro, o primeiro Perspectiva que eu participo é de mil novecentos e noventa e cinco, que foi em São Paulo, coordenado pela professora é... Circe Bittencourt. Que foi uma retomada dos Perspectivas, que estavam parados, os anteriores eu não me lembro de ter participado, eu participei desse de mil novecentos e noventa e cinco. A professora Circe faz um grande evento, é... Na USP, discutindo aí é o ensino de História. E é nesse evento, por exemplo, que surge a primeira discussão dos parâmetros curriculares nacionais, que depois a professora Circe vai coordenar em Brasília. Aí eu e a professora Regina Celia, que era da UEL, nós apresentamos um curso nesse simpósio, nesse perspectivas, um curso sobre é... Ensinar História através de jogos se eu não me engano. Foi o meu primeiro contato assim com o ensino de História, mas porque eu era professora de prática de ensino do que propriamente pesquisadora na área, não é. E a maior parte que estavam ali, eram quase todos, estavam porque eram professores de prática de ensino ou professores da educação básica, mas não necessariamente pesquisadores na área de ensino de História, tanto que a maior parte dos artigos, se vocês virem o, os anais deste, deste evento, eles são artigos de experiências. Experiências no ensino de História. Então experiências de metodologia, experiências de aula, experiências, não é, são experiências, não tinha ainda essa perspectiva é do campo empírico do trabalho de pesquisa no ensino de História. Então eu participo desse evento, convidada pela professora Circe Bittencourt, eu e a professora Regina damos esse curso. É nesse evento também que eu estreito o relacionamento assim com a professora Circe e ela me convida para fazer o
doutorado em... Na USP. Aí é... Eu tinha uma, a minha filha pequenininha, tinha oito meses nessa época, e eu estava com muito receio de é... Deixar ela, deixar
de, de deixá-la em casa para ir para São Paulo. E tinha também o problema de São Paulo, dos congestionamentos, da viagem longa e tudo o mais, acabei por
naquele momento não aceitar. Então eu vou voltar a ideia de fazer o mestrado em mil novecentos, o doutorado, em mil novecentos e noventa e nove. Aí eu vou
para São Paulo, converso com a professora Circe Bittencourt, mas não efetivo a, a... A ideia de fazer o doutorado lá. Mas por conta da cidade mesmo, eu
quando fui a São Paulo nessa época em mil novecentos e noventa e nove, eu peguei um congestionamento violento, eu cheguei lá de manhã, a noite eu não
consegui voltar porque eu perdi o ônibus porque tinha muito congestionamento, aí estava eu e uma colega falei assim: Ah, mas não vou vir fazer doutorado aqui
de jeito nenhum, isso aqui é uma loucura desse tamanho, eu sou de uma cidadezinha pequena, você imagina São Paulo, vixi Maria. Aí eu falei: Não, eu
não venho. Aí eu, não é, eu tinha a possibilidade de sair para o doutorado na minha universidade, eu tinha que fazer, e aí eu resolvo fazer novamente no curso
de História da Universidade Federal do Paraná. Aí eu converso com a professora Ana Maria Burmester e, que é da Teoria da História, e resolvo fazer o doutorado
então na Teoria da História com a professora Ana Maria Burmester. O que me causou uma séria é (Risos), uma séria desavença com a professora Circe, porque eu não quis fazer em São Paulo. Mas realmente não foi nem por conta da universidade, foi por conta mesmo do trânsito, do deslocamento, da logística, tinha filho pequeno, e ia ficar muito caro e aquela coisa toda, e aí eu vou fazer com a professora Ana Maria Burmester na Federal do Paraná. Que muita gente acha que eu fiz com a professora Dolinha, não é? Mas eu não fiz com a professora Dolinha, eu fiz com a professora Ana Maria Burmester o doutorado, que a professora Dolinha nessa época nem doutora era. A professora Dolinha nessa época, estava fazendo o doutorado ainda com... Ela começou com a professora Elza Nadai, aí a professora Elza Nadai morreu, não é, teve um infarto na praia, e aí ela tenta fazer com uma outra professora da USP, mas não me lembro também o que acontece que ela não consegue, e ela volta e vai acabar terminando o doutorado com a professora em Curitiba. Eu acho (? 35:17) também. Acaba fazendo doutorado com a professora Ana Maria Burmester, termina não é, faz outro doutorado não é, porque ela tinha começado na USP, mas aí ela faz um outro doutorado em Curitiba. Junto com assim, nós terminamos, ela terminou um ano antes que eu, eu acho, eu terminei um ano depois. E aí o meu doutorado, o meu doutorado na verdade é um doutorado é... Que foi uma primeira transição para a questão do ensino de História, mas também não é sobre o ensino de História. O meu doutorado é sobre História do Brasil, não é, eu fiz um doutorado entrevistando mulheres que nunca tinham ido à escola, não eram mulheres, eram pessoas, a minha ideia eram pessoas que não tinham ido à escola, mas por um acaso também só tinham mulheres no curso e aí eu acabei entrevistando pessoas que nunca tinham ido à escola sobre o que elas conheciam sobre a História do Brasil, em uma perspectiva muito mediada pelas discussões da época, principalmente da professora Taís Nivia, que ela escreveu uma tese sobre Tiradentes, e a professora Taís Nivia dizia que não havia nenhum brasileiro que não conhecesse a figura de Tiradentes. E eu ouvi
essa fala da professora Taís Nivia e fiquei pensando: Mas será, não é, que não existe nenhum brasileiro que não conhece Tiradentes? Eu que ia muito à escola,
trabalhava muito com supletivo, meus estagiários iam muito no supletivo. Eu falei assim: Ah, eu acho que isso não é certo não. E aí eu resolvi fazer uma tese para
descobrir qual a História do Brasil que conheciam brasileiros que nunca tinham ido à escola. E aí eu faço essa tese de mil novecentos e noventa e nove a dois
mil e três, que quando eu defendo em abril de dois mil e três na Universidade Federal do Paraná. E essa tese é uma tese sobre a História Oral, muito é, sem
muita discussão que deveria ter mais sobre História Oral, tem menos do que deveria. Mas eu entrevisto essas mulheres e eu faço essa tese discutindo qual
que é a história do Brasil então que se conhece, que conhecem brasileiros que nunca foram à escola. Tenho atritos, é problemas de pensar por exemplo, em
uma história escolar e querer ver essa história escolar em quem nunca foi a escola. Foi um dos primeiros problemas que eu tive aí nessas minhas entrevistas
sobre a História do Brasil, mas depois, não é... Repensando as entrevistas tudo o mais, aí a gente acabou, eu acabei descobrindo uma História do Brasil que se,
que caminha conjuntamente, paralelamente com a história escolar e que as pessoas conhecem e que tem muito, resvala muito para a historiografia, não é,
nacional. E eu faço essa tese e aí término essa tese em dois mil e três e na feitura dessa tese, e quando eu volto para Curitiba é que eu na verdade estreito
laços com a professora Maria Auxiliadora Schmidt, com a professora Dolinha. E em dois mil e três, a professora Dolinha me convida para escrever aquele livro
Ensinar História. É aí que a minha vida acadêmica ela ganha um caminho muito mais ligado a área do Ensino de História, em dois mil e dois, dois mil e três, nós
levamos acho que foi uns dois anos para escrever esse livro, que é lançado a primeira edição dele é de dois mil e quatro. Aí, nós escrevemos esse livro e
lançamos em dois mil e quatro. E nesse período aí, dois mil e um, dois mil e dois, dois mil e três é que eu começo a fazer projetos na área do Ensino de História.
E é também nesse período que o ensino de História também se firma e se consolida enquanto campo de pesquisa, que é no final da década de noventa e
começo dos anos dois mil. Não faz muito tempo, parece muito tempo mas não é muito tempo, é um campo que se consolidou rápido, mas é um campo que ele
não tem é... Muito tempo, não é, de é existência no Brasil, Aqui em Portugal mesmo, eu vim descobrir aqui com a professora Isabel Barca, semana passada,
que as primeiras pesquisas sobre é... Ensino de História aqui em Portugal vão acontecer já no início do, no final dos anos noventa também, a pós-graduação
aqui em Portugal ela vai começar nessas áreas de humanas também no final dos anos noventa, é mais, no Brasil começou antes que aqui. Aqui elas só se
firmam pós a... Fim da ditadura militar aqui também, não é, mas também depois que as universidades começam as e consolidar aqui, que é no pré... no pré união
europeia, na pré instalação da União Europeia, porque antes da União Europeia se instalar, o que aconteceu, eles é, criavam condições para que esse país
tivessem as mínimas condições de estar na União Europeia. Então o Banco Mundial injeta direito para formar professores, que aqui não tinha, formar professores e para formar os primeiros cursos de pós-graduação na área por exemplo de formação de professores. Isso é um pouco antes da união europeia que eu acho que é dois mil e um, dois mil não sei o que, que a União Europeia se instala, não é, que cria-se a União Europeia e Portugal é convidado também para participar. Então não é um campo com muito tempo de existência, mas é um campo que rapidamente se consolidou, principalmente no Brasil, não é, por conta das condições... É políticas, e tudo que estava acontecendo pós ditadura militar, a reformulação dos currículos, como havia uma necessidade de se pensar muito sobre isso acabou-se também que a pesquisa ela foi se desenvolvendo quase em um é... em um caminho paralelo a essas discussões sobre reformulação curricular, reformulação da escola e esse tipo de coisa pós ditadura, oitenta e cinco, oitenta e seis, não é. Então acho que é, acho que o começo é isso aí. (Risos).
E2 – Certinho, obrigada professora. Eu dei uma olhada aqui nos anais da ABEH, só para ajudar com as datas, fui dar uma, fazer uma colinha rápida. Provavelmente seja noventa e seis o evento que você citou porque fala da Circe como coordenadora na...
R - É, foi início de noventa e seis, a minha filha tinha oito meses, foi mesmo, ela nasceu em junho de noventa e cinco. (Risos).
E2 – Doze a quinze de julho de noventa e seis. Tem os anais, dei uma conferida. Que noventa e cinco...
R – Não, foi em fevereiro, os anais foi julho, mas o evento foi em fevereiro, tenho certeza.
E2 - Tá, tá então, é aqui eles colocam como julho e é os anais, deve ser os anais, é verdade.
R – Os anais, porque o evento foi em fevereiro.
E2 – E o de noventa e cinco é uma curiosidade, que era, tinha um outro título, ele acaba mudando de nome. Começou como Encontro de Pesquisadores da
Área de ensino, aí depois acabou se transformando no ENPEH, não é, esse aqui.
R – O ENPEH sim, os Perspectivas, porque tem dois, não é, tem o Encontro de Pesquisadores de Ensino de História e tem o Perspectiva do Ensino de História,
eram dois eventos separados. Um incluía os professores da educação básica e tratava bem mais das experiências que os professores tinham em sala de aula,
e o outro era um encontro de pesquisadores da área do Ensino de História, que ele é retomado, se eu não me engano em noventa e seis, noventa e sete, tem
um evento grande em Campinas...
E2 – Noventa e sete.
R - Coordenado pela professora Ernesta Zamboni.
E2 - Não, foi um ano depois, aqui diz noventa e sete.
R - Não, mas tem um em noventa e três não tem? Ou em noventa e três era ANPHU?
E2 – Noventa e três tem, ele chamava Encontro de Pesquisadores da Área de Ensino, tinha um nome um pouquinho diferente, Uberlândia.
R – Isso, foi em Uberlândia. E o de Campinas foi?
E2 – Noventa e sete. Um ano depois daquele da USP. É.
R – Isso.
E2 – A ABEH está organizando um site, tem alguns que ainda estão faltando aqui, mas já tem uma boa, um bom material lá, bem interessante.
R - É, porque eu lembro de um encontro que eu fui em Campinas, que foi um encontro que se reorganizou pesquisadores, que foi a professora Ernesta que
organizou e foi um evento que deu muita confusão, porque primeiro ela queria só convidar mestran... mestres e doutores, mas havia uns nomes, mestrandos
que também já faziam pesquisa e na verdade foi meio que colocar o carro na frente dos bois de um campo que ainda estava se organizando, mas eu não
lembro se foi em noventa e sete, eu lembro que foi na década de noventa, mas não lembro as datas exatas.
E2 – Oh, a sua memória está excelente, porque aqui nos anais realmente diz doze a quinze de fevereiro, é lá no site que alguém confundiu e botou em julho.
E1 e E2 - (Risos).
R - Não, era fevereiro, eu lembro que eu fui lá, Julia tinha oito meses...
E2- (? 44:31)
R – Eu fui em um dia e voltei no outro, porque ela era pequenininha eu fiquei desesperada, eu ficava ligando para o meu marido, (? 44:38), de cinco em cinco
minutos eu ligava para saber se ela estava com alguém.
E1 - Está vendo por que ficou na memória, não é? Porque teve um grande acontecimento na vida, impossível.
R – Eu fui em um avião da VASP ainda, em um avião da VASP.
E1 - (Risos). E tinha talheres de, talheres de verdade, copos de vidro.
R - É, avião da VASP. E ganhei o meu primeiro celular. Um Motorola desse tamanho assim... (Professora Marlene demonstra com as mãos afastadas o tamanho do aparelho.)
R - ... Para poder ficar ligando, ele falou que se ele soubesse, ele não tinha dado para eu ficar ligando, ligava de cinco em cinco minutos. (Risos).
R – Oh professora Marlene, mas vamos explorar um pouco essa memória, eu sei que não está lá na pergunta, mas uma coisa que a senhora falou na reunião,
na entrevista primeira, foi desse, desses pesquisadores, não é, desses profissionais, vamos chamar pesquisadores, mas, desses pesquisadores de História, que acabavam flertando, não é, a gente adorou esse nome, orbitando aí no campo do ensino, que hoje é um campo, não é, e que em noventa e seis eles, eles aparecem assim muito residualmente nos anais. Mas eu queria que, que a senhora também dissesse como foi assim, eles apareciam, tinham orientandos ou era só nessa produção de livro. Eu lembro, eles tinham essa coisa de livro didático, como o Nelson Piletti, o próprio Pedro Paulo Funari, estou citando aqui alguns só para gente refrescar a memória. É... Então eles tinham orientandos, eles participavam, quais eram as questões que esses que orbitavam aí nesse campo, que ainda estava se forjando, não é? E depois que responder isso, se em noventa e seis, não é isso Cristiano? Noventa e seis no evento a senhora já percebe uma mudança, não é, se a senhora disse que tinha muita coisa de relato de experiencia, mas de certo modo já tem alguns nomes, e além da Circe Bittencourt, quem são esses nomes que vão se tornar, não é, essa referência na sua caminhada como pesquisadora?
R - É, na minha opinião eu acho que essa, essa, esse problema do, da relação entre pessoas que não eram do ensino de História, mas orbitavam em torno vem
muito da confusão que estabelecia entre História da Educação e Ensino de História, não é. Até hoje é, por exemplo, no curso de História tem essa, tipo
dessa confusão, o que que é História da educação o que que é ensino de História. Por exemplo, a linha que eu participo no mestrado de educação da UEL,
ela é História da Educação, Ensino de História e Cultura. E o professor, e tem um professor de História, dois professores de História da educação, dois
professores de Ensino de História e por enquanto nenhum de cultura, então assim, nenhum de cultura, nenhum especializado nessa que eu nem como essa
cultura entrou aí nessa discussão. Mas o que que acontece, o que que é um professor que trabalha com História da educação e o que que é um professor
que trabalha com ensino de História, essa diferença, essa definição ela levou muito tempo para ser é consolidada, então por muito tempo é, por exemplo, um
professor que trabalhava com história das instituições escolares também era visto como professor que trabalhava com ensino de História, o professor que
trabalha, com por exemplo, vamos citar um nome, o professor Décio Gatti Júnior. O professor Décio Gatti Júnior é um professor da História da educação, mas é
um professor que orbitou nos eventos de metodologia, do Perspectiva e do Pesquisadores do Ensino de História por muito tempo, por quê? Uma pela falta
de eventos na área de História, que ele pudesse participar com as suas discussões, porque na área de educação tem. Porque a ANPEd tem o GT de História da Educação, mas na História mesmo, no, na ANPUH por exemplo, era um... Um meio onde ele não tinha espaço, mas ele tinha espaço junto aos pesquisadores do ensino de História, então quando começaram aqueles simpósios na ANPUH, em que o ensino de História começou a organizar simpósios, o pessoal da História da educação começou muito também. E as vezes junto com o pessoal do ensino de História, então as vezes tinha por exemplo, professor Décio Gatti, professora Margarida Dias. Professor é Kazumi Munakata, professora é... Carminha. Então juntava o ensino de História com o História da educação que contribuía para esse, para essa confusão, entre o que era história da educação o que era ensino de história. Por muito tempo quem era do ensino de História acabou sendo confundido com professores da História da educação. Então o que que era, como é que foi consolidar um campo, que é... tendia para uma História da educação, mas não é História da educação. Porque quem trabalha com ensino de História trabalha com outra perspectiva que não é a perspectiva da História da Educação. A minha perspectiva é a perspectiva do ensino aprendizagem da História. Não é da História da Educação, a História das histórias escolares, História da... Não é essa a minha perspectiva. Mas como que a gente confirmava esse campo, e aí o ensino de História foi ganhando um corpo tão forte, tão grande, que acabou por é... É, como é que eu vou dizer, atrair esse pessoal da história da educação, e atraiu muito, por muito tempo. Então às vezes a orientação por exemplo, o professor que é professor da História da educação aqui, as vezes ele orienta ensino de História, porque não tem um outro tipo de trabalho para ele, então ele orienta ensino de História, certo. E nesse, nessa época, os professores que orbitavam no ensino de História, muitos orientaram história da educação, bastante, não é, bastante orientaram ensino de história orientava História da educação e História da educação orientava ensino de História, esse campo se confundiu muito, por muito tempo. Por isso havia essa orbita. Há os que... dizem que essa diferença ela é, como que eu vou dizer, elitista demais, que não há essa diferença, mas eu acredito que há uma diferença enquanto campos epistemológicos. Então há uma diferença enquanto campos epistemológicos. Epistemologia do ensino de História é um, epistemologia da História da educação é outra. Mas pessoal orbitava muito, é, em noventa e seis o que que a gente começa a perceber, a gente começa a perceber nomes que se firmam na área do ensino de História mesmo, não é, que aí é a professora Circe Bittencourt, a professora Ernesta Zamboni, a professora Kátia Abud, que não é, que não vem do ensino de História, quer dizer, Ernesta Zamboni, Kátia Abud, Circe Bittencourt, não fizeram teses na área do ensino de História, mas
depois o próprio trabalho no campo acabou por é modificar, não é, por é... Mudar o campo de trabalho que elas vinham dessa área, vinham de outras áreas e
foram para o ensino de História por conta da disciplina que elas trabalharam na universidade que era Metodologia do Ensino de História, não é. É... que era,
bom, tinha a professora Elza Nadai, mas em noventa e seis acho que já tinha morrido, acho que ela morre em noventa e quatro, noventa e cinco. Quando a
professora Circe assume esse evento, ela é, ela que estava organizando, e ela é... A professora Circe acaba herdando esse evento, herdando inclusive a sala,
herdando inclusive a disciplina, herdando tudo da professora Ernes... da professora é Elza Nadai. Aí também tem a professora, aparece, aí já tem a
professora Maria Auxiliadora, a professora é... Selva Guimarães Fonseca, que aí está fazendo o doutorado, aí são o pessoal que está fazendo o doutorado, não
é, já em uma perspectiva mais ligada ao ensino de História. A professora Selva já está fazendo uma tese na área de currículo, a professora Dolinha também faz
uma tese na área de currículo, a professora Selva faz com o professor Marcos Silva, não é, e já é assim, um primeiro movimento é de uma segunda geração
da primeira fase do ensino de História, que já é um pessoal que pensa, que pesquisa nessa área a partir de suas teses. Agora, efetivamente teses na área
de ensino de História já é um movimento de uma terceira geração de ensino de História, aí é, são já professores muito mais jovens que são orientados pela
Circe, pela Ernesta, pela Kátia, que vão trabalhar com ensino de História. Porque essa primeira geração não fez teses nessa área. Fez projeto de pesquisa,
escreveu livros, mas não fez teses, não é. Essa primeira geração as teses todas eram em outras áreas que não pensavam o campo de ensino de história. Mas
em noventa e seis os nomes são esses, Ernesta, Kátia, Selva, é... a Maria Auxiliadora. Os que estão nas mesas redondas, não é, assim que eu me lembro
que são os tops, não é, estão nas conferências, mesas redondas. As conferências são muito, nessa época, muito voltadas para os franceses, não é,
porque a professora Circe era, tinha feito o doutorado dela na França, e era muito ligada ao grupo dos... Era muito ligada a um grupo francês lá que aí ela trouxe,
eu lembro nessa época a professora Suzanne Citron, que era da universidade de Sorbonne, que tinha uma tese sobre é... Ensino de História, sobre é,
identidade, identidade histórica que os alunos formavam na escola, quando as primeiras grandes teses discutidas no ensino de História no Brasil foi a tese
dessa professora Suzanne Citron. Porque no primeiro momento, as grandes referencias, do Ensino de História, são francesas, não é. É a professora Suzanne Citron, é o professor... São o pessoal dos Annales, não é, Marc Bloch, (? 55:20), mas tem o outro lá que foi orientador, foi, era muito amigo da Circe, aquele que trabalhava com livro didático, Alain... como é que é o nome dele?
E2 - (? 55:37)
R - Não. O Alain...
E1 - (? 55:41). É da, da coisa dos materiais, não é Marlene?
R – Dos livros didáticos, é. Ele é um francês que a Circe.
E1 – Esqueci o sobrenome dele.
R - É, um francês que a Circe trouxe muito também para o Brasil. Então nessa época, as nossas referências eram principalmente os franceses, os franceses é
que na verdade movimentaram o ensino de História, tanto nessa questão teórica, quanto na questão de se pensar o ensino de História na escola, não é. É a partir
dos franceses, por exemplo, do André Chervel, do... do André, do Chervel e do Chevallard, que a gente vai pensar como que se ensina história na escola,
principalmente a partir do Chevallard, que é a ideia da transposição didática e nós vamos usar essa ideia da transposição didática de forma monumental.
(Risos). Em todos os nossos cursos, em todos os nossos programas, nós vamos usar essa questão da transposição didática. Então o Chevallard nesse ponto ele
é muito importante para a formação do pensamento do pesquisador em ensino de História no Brasil na década de noventa, início dos anos dois mil. Tardif
também, mas aí é mais na questão curricular, não é. (? 57:02) Tardif, mas mais o Chevallard e o Chervel mesmo na história das disciplinas. Por que como é que
se constrói um campo, não é? Você tem que começar a pensar que esse campo ele tem referencias, então aí você vai pensar esse campo a partir do que? A
partir do que ele tem como diz lá o... dos códigos visíveis e invisíveis, não é, o que tem de visível e o que tem de invisível nesse campo que você está
trabalhando, e nesse ponto a gente vai construindo a partir desses franceses, só depois que entram os ingleses, mas isso já é mais século XXI.
E2 – Isso. Eu achei uma citação dela aqui do Alain Choppin, não sei se é isso?
R - É Choppin, não é, Alain Choppin. Isso mesmo. Choppin veio várias vezes ao Brasil, várias vezes, vários eventos.
E2 – As epigrafes dos textos dela são do Choppin. Então, aqui seguindo o roteiro na verdade tem várias questões aí que a professora já respondeu, não é
necessário retomar, a gente já poderia partir para o bloco que fala das suas orientações então, da sua atuação a partir dessas interações com o campo. Que
você já nos citou aí as referências, que era a questão anterior, já acabaram sendo citadas e como que a gente conhece também a sua trajetória agora com
a educação histórica, se você quiser situar esse encontro, geralmente cita aquele evento da Isabel Barca, dois mil e três na UEL, parece que é um marco assim
dessa chegada, dessas discussões. Se você quiser relacionar a sua trajetória com esse, com esse marco, não é. E também, já falando das suas orientações,
das suas pesquisas que foram desenvolvidas nesse sentido.
R - É, na verdade é... Eu começo a orientar em, na pós-graduação em dois mil e cinco. Eu termino a minha tese em dois mil e três, não tem mestrado no curso
de História, não é, em dois mil e três, aí em dois mil e quatro eu faço uma proposta para o programa de educação da UEL, para fazer orientação na área
de ensino de História dentro do programa na linha de formação de professores. Aí o programa aprova a minha entrada no Programa de Educação e eu entro no
Programa de Educação dentro dessa linha de formação, Saberes Docentes e Formação de professores. E a minha primeira orientação em dois mil e cinco,
dois mil e quatro, mas dois mil e cinco que ele termina, a minha primeira, minha primeira banca, não é, de orientação em dois mil e cinco. A minha, o meu papel
como orientadora e educação histórica elas se fundem, ela não tem duas coisas. Eu só orientei na área de educação histórica, por quê? Esse primeiro evento de
dois mil e três que você está falando, ele não foi em Londrina, ele foi em Curitiba. Em dois mil e três foi a primeira vez, antes de eu terminar, eu acho que eu tinha
acabado de terminar o doutorado ou estava terminando, que é quando a professora Isabel Barca vem a Curitiba, ou é dois mil e três, dois mil e quatro.
Ela vem a Curitiba, eu conheço ela, em Curitiba e ela faz, a professora Dolinha organiza o primeiro encontro com a professora Isabel Barca em Curitiba. Nesse
ano também vem o professor é... (? 1:00:30) que é da universidade de Sala, Salamanca não, de Santiago de Compostella e também o professor Ivo Mattozzi
que é da universidade de Bolonha. Eles vêm a Curitiba e aí há essa perspectiva da educação histórica, da consciência histórica, essa discussão toda. E eu
começo as minhas orientações já dentro dessa perspectiva. Que o, o meu primeiro projeto de pesquisa na verdade é um projeto de pesquisa que chamava
Instrumentalização para o Ensino de História, que eu pensava em como eu podia instrumentalizar os alunos para ensinar História. O segundo projeto que eu vou
fazer, já é um projeto totalmente diferente dentro dessa perspectiva da instrumentalização, já não tenho mais essa perspectiva de que existe uma possibilidade instrumental de ensinar, mas sim uma possibilidade epistemológica de ensinar, isso já vem da discussão da Educação Histórica. Em dois mil e cinco
eu organizo em Londrina a décima jornadas internacionais de educação histórica. A décima jornada são feitas em Londrina em dois mil e cinco, aí vem a
professora Isabel Barca, vem vários Portugueses, vários pesquisadores Portugueses, Júlia Castro, Marília Gago é Catarina Simão, são vários
pesquisadores Portugueses que vão a Londrina, porque depois de Londrina eles seguem todos para Nova York, onde teve um grande evento de é educação
histórica é, naquele ano. Então a organização desse evento em dois mil e cinco, que aí vão sair as atas dessa décima jornadas, as vigésimas jornadas foram
esse ano, esse ano agora foram as vigésimas jornadas de educação histórica, e eu organizei em Londrina as décimas jornadas, em dois mil e cinco. Que é no
ano que eu faço a minha primeira é banca, minha primeira defensa de mestrado, minha primeira orientação que defende, o Airton de Morais, ia falar professor,
mas ele não, nunca foi professor, como Airton de Morais, que era um ex-aluno de História, funcionário da UEL, e ele faz um trabalho sobre a consciência
histórica de alunos da quinta série, não é, do ensino fundamental. E o Airton, por exemplo, foi uma das pessoas que me fizeram pedir a... o credenciamento no
curso de mestrado da educação. Porque o Airton resolveu fazer uma, uma especialização na educação e o professor que orientou ele na especialização me
chamou para a banca dele, em dois mil e três, e aí o professor falou para mim – Por que você não trabalha aqui no mestrado de educação? Você tem várias
referências na área de educação e tudo o mais, por que você não faz o pedido? E eu acabei fazendo o pedido e o Airton que tinha feito essa especialização ele
acaba sendo o meu primeiro orientando no curso de História, no curso de Educação. Então eu estou desde dois mil e cinco no curso de educação, então
já faz, nós estamos em dois mil e vinte e dois, faz mais de quinze anos que eu trabalho no mestrado e agora doutorado em educação. Todas as minhas
orientações envolvem a perspectiva na educação histórica, noventa por cento, vamos dizer assim, noventa e nove por cento, porque eu tive algumas orientações que não seguem essa perspectiva, que não tem interesse nessa perspectiva, mas são ligadas ao ensino de História e tive duas orientações de História da Educação. Que foram dois alunos que foram, que eram alunos do professor de História de educação, mas foram abandonados pelo professor que se mudou da universidade, e eu e a professora Sandra acabamos herdando os orientandos dele, e nessa época eu e a professora Sandra acabamos orientando quatro alunos da História da Educação, não é, que eles já estavam com a dissertação em andamento, não tinha como mudar tema, nada e nós acabamos orientando essas dissertações. Mas as minhas orientações é, todas são nessa área. Que é muito difícil inclusive um... Um orientando, alguém perspectivar uma orientação comigo e pensar em outro área, não é? Porque desde dois mil e cinco que eu venho firmando os meus artigos, projetos, não é, na área da educação histórica, então não tem nem como, não é, a pessoa querer fazer uma orientação comigo e falar: – Ah, mas eu não gosto da educação histórica, eu quero outra coisa. A pessoa não vai falar isso, então são todas nessa área da educação histórica. Eu tive já muitos orientandos, uns quarenta acho no mestrado, uns trinta no mestrado, uns dez no doutorado, agora que o doutorado demorou, não é, na UEL, para gente conseguir montar o doutorado por conta das avaliações da CAPES, então agora que eu tenho os meus, eu tenho acho que dez orientandos, mas só três que terminaram até agora o doutorado, então eu tenho três tese de doutorado, orientei mais pós-doutorado do que doutorado, por conta que não tinha o doutorado na UEL, não é, na educação. Eu também sou professora do programa de mestrado em História, porque não tinha o mestrado em História então eu fui para educação aí depois a História abriu o mestrado. E a História abriu o mestrado na linha com a linha de Ensino de História, então afetivamente, eu me vi forçada a integrar também esse mestrado no curso de História, porque como é que eu ia estar no mestrado de Educação e não ia estar no mestrado que tinha uma linha de Ensino de História, um dos únicos do país. Então eu integrei esse mestrado até agora, agora eu vou sair dele, porque me aposentei, não tenho como aposentada ficar em dois programas, não é, aí é muita coisa, então eu vou sair do mestrado em Ensino de História. Mas também agora ele está bem consolidado, tem oito professores trabalhando, então não tem muitos problemas. Nesse caminho todo, eu esqueci de dizer, mas nesse caminho todo quando eu entrei no, no curso de História eu criei o Laboratório de Ensino de História. Um dos primeiros laboratórios criados de ensino no país. E também eu montei o grupo de pesquisa em ensino de História, que é o grupo de pesquisa mais antigo na área de ensino de História do país, ele é de mil
novecentos e noventa e quatro. Ele é um dos mais antigos grupos de pesquisa em funcionamento, nunca deixou de funcionar e sempre esteve ativo. E também
a revista História e Ensino. Que dentro das revistas das brasileiras é uma das únicas que tem esse perfil específico de discutir o Ensino de História. Ela não
nasceu como uma revista acadêmica, não nasceu, ela nasceu como uma revista que tinha como objetivo os professores da educação básica, discutir artigos,
discutir experiências para os professores da educação básica e com os professores da educação básica. Se vocês analisarem os primeiros artigos da revista História e Ensino, vocês vão perceber que eram todos artigos relacionados as experiências de sala de aula, mas o mundo acadêmico é um mundo muito difícil, competitivo e aí a revista acabou se tornando uma revista acadêmica, com Qualis, porque ela tem que ter, se não tiver Qualis os pesquisadores não querem publicar e isso e aquilo e ela acabou se tornando uma revista acadêmica. Hoje é uma revista que tem vinte e cinco anos, a revista história ensino e é uma revista que nesse Qualis novo está como A2, então ela é bastante procurada, é este ano mesmo nós tivemos que interromper o recebimento de artigos porque não tinha como e como tudo nas universidades públicas é feito pelo suor do professor, não é. Então todos os coordenadores da revista nunca receberam nada para coordenar, editaram, coordenaram, fizeram revisão tudo é... pelos, pelos olhos do ensino de História. E é muito interessante que essa revista foi coordenada algumas vezes por professores que não tinham nada a ver com o ensino de História. Porque quando o laboratório de Ensino de História foi criado na UEL, houve um movimento muito interessante de congregar nesse laboratório professores de várias áreas. História do Brasil, História Antiga, História Moderna, Contemporânea, História da América. Foi um laboratório que em determinado momento ele tinha quinze professores do departamento participando, dando cursos em eventos, dando cursos para o estado para professores, é publicando na revista, publicando em um boletim que a gente fazia e encaminhava para todos os professores do estado, a gente tinha um boletim que na página do laboratório tem às vezes, não sei se essa página funciona, mas tem os boletins, são boletins que a gente fazia com experiências, com artigos pequenos, com discussões, com notícias que iam para todos os professores do estado do Paraná. Iam nos malotes dos núcleos de educação e a gente enviava para todos os professores, era um boletim mensal e aí nós tínhamos, não é, congregava aí vários professores do departamento dentro desse laboratório que foi por muitos anos um projeto de extensão na verdade. Ele não tinha uma, a gente queria transformar em um laboratório, mas na época que a gente queria transformar em laboratório houve uma discussão é dentro das câmaras da universidade e um professor disse assim: – Mas como é que é laboratório? Laboratório só tem na biologia. Vocês querem ser um laboratório nas Ciências Humanas? Isso não existe. Não quis, não quis, não quis e não deixou que a gente chamasse o laboratório de laboratório do ensino de história como um laboratório, laboratório só podia ter na biologia, na química, na física, mas não nas ciências humanas. Então ele ficou por muito tempo um projeto de extensão que chamava laboratório de ensino de História, mas ele nunca conseguiu status mesmo de laboratório, de ensino. O... o Labhis ficou muito tempo, até que esses tempos atrás ele funcionava, a professora Marcia por muito tempo coordenou depois que, na época que eu saí para o doutorado e depois na época que eu saí para o pós-doutorado a professora Marcia coordenou, aí depois ele foi responsável pelo PIBID por muito tempo, o PIBID da UEL. Porque eu também coordenei o PIBID, dois mil e onze, doze, treze não que eu estava aqui, quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte. (Risos). Coordenei o PIBID e depois a residência pedagógica, então assim é... Esse laboratório eu
acho que ele meio que é... Deu uma cara para o curso de graduação da UEL de História, e foi muito importante para o que externamente se pensava desse curso
de História da UEL. Que era um curso que envolvia muito a questão do ensino de História, que valorizava, que isso, que aquilo, que não sei o que. Deu essa
cara ao curso de graduação da UEL e depois permitiu que o mestrado tivesse essa linha, que é uma das linhas mais valorizadas pela avaliação da CAPES, é
essa linha de História do Ensino, História e Ensino que tem no programa de mestrado em História da UEL, que é uma linha muito valorizada pela avaliação,
avaliação valoriza bem essa linha hoje em dia, não é, por conta da relação com a educação básica, relação com os professores e tudo o mais. Então é isso.
E2 – Muitas histórias e memórias, que vão uma puxa a outra, não é. (Risos). Eu lembro que nós fomos escrever um texto eu e a Conceição e um colega sobre
aula oficina, para aquele livro em homenagem a Isabel Barca, aí nós queríamos exemplos de aplicação da aula oficina, e aí a gente foi fazendo levantamento e
todas as vezes que aparecia era da UEL e do PIBID de Londrina. Lá pelas tantas a gente desistiu de fazer o quatro de exemplos e colocou o nome do quatro assim
Exemplos de aplicação na UEL. Virou o título do quadro, porque sempre que achava era da UEL, a gente não consegui achar um exemplo, foi muito
engraçado e está lá, está no texto lá publicado, o quatro virou UEL. Mas é, sobre essa articulação então, finalizando esse bloco, depois só tem mais um ainda que
é o bloco final. Esse bloco das produções, a pesquisa, a orientação, tinha uma questão ainda, que seria a articulação da sua trajetória com as instituições científicas do país mesmo, por exemplo, a ABEH, a ANPUH, também citando conflitos, esses desentendimentos que também têm no campo, por exemplo, agora a Juliana quando foi cadastrar esse projeto, nós nos deparamos ainda com aquele problema das áreas lá de financiamento que a gente coloca em Teoria da História me parece, não é, parece que o ensino vai lá para teoria. Não tem uma área...
E1 – Isso Cristiano. Cadastramos, nós cadastramos o nosso projeto professora Marlene, desculpa o barulho aqui que está tendo uma obra aqui, mas nós cadastramos o nosso projeto infelizmente, infelizmente no sentido que o campo já está consolidado, mas no CNPq e na CAPES para gente obter recurso a gente
tem que se cadastrar no campo de teoria, e isso gera repercussão, não é, assim tem um mérito e tudo, não é Cristiano? Mas por exemplo, dos dezenove projetos
contemplados nenhum abordava as questões de ensino. O nosso teve oito ponto noventa e oito, esse projeto que a gente está com a senhora entrevistando, mas
a gente não recebeu recurso, que é uma coisa bem chata, mas a gente vendo a senhora contar e tem muitas coisas que avançam, outras que...
R – Aqui também não tem, aqui em Portugal. Quando você vai registrar um projeto aqui também, na História, aqui na História é pior ainda, porque a História
tem História, História Contemporânea, História Moderna e só. Aí você nem tem Teoria da História por exemplo, não existe teoria da história aqui dentro das
linhas. E aí aqui, a Isabel me disse que eles, eles é cadastram na educação. Mas na Educação de forma assim, Educação, ponto. De forma geral. Também não
tem a... Eu fiz vários projetos, vários projetos aí e todos tinha que cadastrar na Teoria da História, não tinha como cadastrar, depois eu comecei a cadastrar no
ensino e aprendizagem, aí todos os projetos que eu fiz eu fiz dentro da área de educação na área de ensino aprendizagem, aí já não fiz mais na história, porque
não adiantava, na história você é para Teoria da História, não tem nada a ver com Teoria da História. Aí eu fiz todos eles no ensino aprendizagem, mas esse
é uma coisa que não caminhou mesmo, nem dentro dos departamentos de História nem dentro das instituições científicas, não é, a questão do campo de Ensino de História. Bom, as instituições científicas. Quando nós começamos toda essa discussão sobre ensino de história não tinha instituição científica nenhuma. (Risos). Específica, não é, de ensino. E... Tinha os dois eventos, o Perspectivas e o Pesquisadores, que caminharam muito bem durante anos aí depois as dificuldades financeiras acabaram juntando os dois eventos em um só, o que foi eu acho prejudicial para o campo. Quando você juntou Pesquisadores com Perspectivas foi prejudicial para o campo do Ensino. É... Mas aí os pesquisadores também já não queriam mais ir nos eventos do Perspectivas, porque os pesquisadores queriam ir em um evento de pesquisadores, não é. Porque é, antes não havia um grupo tão forte de pesquisadores, havia grupo forte de professores do ensino de História que estavam se formando. Aí depois começou a vir um grupo forte de pesquisadores, e aí pesquisadores A da CNPq, pesquisadores B, pesquisadores, dois, três, quatro, cinco e seis. Aí dentro da formulação do campo da consolidação do campo, eu não sei por que cargas da água, é... Sentiu-se a necessidade de se criar uma instituição, uma ABEH, sentiu-se essa necessidade de se criar um... uma, tipo Associação Nacional de História da América, lembra que tem a ANPHLAC? Associação Nacional de História Antiga. Ah por que a gente não tem também a nossa Associação Nacional de Ensino de História? (Risos). Surgiu dentro de uma discussão com a professora Ernesta Zamboni, na verdade a primeira discussão dessa questão dessa associação surgiu no evento no Perspectiva ou Pesquisadores, não lembro agora qual que foi, que foi organizado pela professora Maria Auxiliadora e a professora Sirlei Hanze, em Curitiba. Foi o primeiro momento que isso surgiu e já criou um... Uma tensão. Aí depois, a professora Ernesta encampou essa discussão, porque dentro da área também a gente tem pessoas que congregam
e pessoas que divergem. Pessoas que congregam, mas pessoas que afastam. A professora Ernesta sempre foi uma professora que congregava, que conseguia
juntar. E aí a professora Ernesta que foi a primeira que levou essa discussão de montar uma Associação Brasileira de Ensino de História. E ela, a professora
Kátia, elas achavam isso muito importante, muito mesmo. Elas sentiam essa necessidade de criar uma estrutura, como se essa estrutura fosse é... Importante
para consolidação do campo, não é. Nesse primeiro momento, eu acho que eu até fui tesoureira dessa associação, acho que fui da primeira montagem (Risos), então o meu nome deve estar em algum canto. Eu fui tesoureira dessa associação, a professora Ernesta era super complicada, super confusa, ela perdia dinheiro, perdia cheque, ela nossa! Ela foi falar com não sei quem no banco, uma vez eu fui com ela a São Paulo, fomos no banco conversar com o gerente do banco, ela tinha feito um monte de coisa errada, um monte de confusão, minha nossa senhora! Eu sei que assim, não fomos feitos para esse negócio, essa coisa muito burocrática, a professora Ernesta não foi mesmo. E isso meio que se enrolou, nos dois anos que eu fui tesoureira, e aí tinha que depositar cheque, aí não conseguiram depositar cheque, não conseguiram fazer nada. E rolou essa associação, aí eu deixei até sair da diretoria, a associação rolou, nem sei se teve outras diretorias, eu sei que nenhuma diretoria conseguiu mesmo levar isso para, a fundo. Aí depois alguma conseguiu criar o estatuto, porque você tinha que registrar o estatuto, registrar em um lugar, fazer não sei o que, é uma burocracia assim, do cão! E a professora Ernesta nunca foi boa nisso não. E assim, me enlouqueceu assim terrivelmente uns dois anos. Eu tinha que viajar para São Paulo (Risos), eu ia lá, aí ia no banco. Aí gente do céu, ela me enlouqueceu. Aí é... Eu nem sei como se resolveu, aí depois foi a professora Kátia, aí foi pior ainda. Professora Kátia, professora Ernesta impossíveis. (Risos). Não sei se a professora Kátia vai lembrar de tudo que ela, aí meu Deus do céu. Eu sei que elas não conseguiram registrar essa associação, nem sei quem é que conseguiu, eu sei que devem ter conseguido porque existe até agora. (Risos).
E1 – Marlene, deixa eu, se me permite, eu sei que não é para rir (Risos), não é, mas só conseguiu dois anos atrás.
R – Então, e eu acho que faz uns dez anos isso, que a primeira... Dez! Faz mais. Que a primeira discussão foi feita lá em Curitiba faz uns quinze anos já, quinze,
dezesseis anos. E aí elas foram tentando mesmo montar essa estrutura, montar esse, essa ata, não é, tinha que ter uma ata com presidente, tinha que estar em
um lugar e tinha que registrar em cartório, registrar não sei onde, essas coisas assim. E elas tentaram muitos anos fazer isso e nunca conseguiram. Eu acho
assim, o que que aconteceu nesse campo é... da construção da ABEH, e das estruturas de formação do campo. É, eu sou uma pessoa que eu acho que as
pessoas deviam compor mais e divergir menos, mas isso é difícil dentro da academia, e não é só no Ensino de História, isso é em todas as áreas. É, a chegada da educação histórica ela realmente criou uma tensão no campo do ensino de História que vinha muito calmamente é, se estruturando dentro dessa perspectiva que eu disse para vocês, da transposição didática, dos franceses, do Chevallard, de repente vem um campo que ele é rompe com essas primeiras discussões do ensino de História, que é o campo da educação histórica e o campo da perspectiva da epistemologia da História. É... e uma outra coisa que também, o rompimento desse campo se dá fora das estruturas é... políticas, econômicas do centro, não é, porque todo mundo sabe que é quando o centro perspectiva uma nova teoria ela é bem mais aceita que a periferia, e a gente sabe que o centro é USP, é UF, no máximo UFMG. E aí de repente essa estrutura ela vem sendo proposta por uma universidade de periferia, que é Curitiba, por mais que os curitibanos não se achem periferia. É uma universidade de periferia, uma universidade que não é do centro, é do interior, é do Paraná. E isso cria realmente uma tensão no campo do ensino de história e principalmente entre esse primeiro grupo que é o que vocês estão chamando de fundadores. Circe, Ernesta, mesmo a Kátia, vocês vão entrevistar a Kátia ela vai dizer para vocês com todas as letras: – Eu não sou da educação histórica, eu não concordo com a educação histórica. Entendeu. Então esse grupo é um primeiro grupo que cria tensão com relação a essas novas perspectivas, e quando esse grupo cria tensão ele cria tensão que se espalha, porque eles orientam gente do país todo. Quando a USP cria uma tensão, ela cria uma tensão para o Mato Grosso, ela cria uma tensão para Tocantins, ela cria uma tensão para Goiânia. Por quê? Porque a USP está em São Paulo, mas os seus orientandos estão no país todo. Hoje nem tanto, porque a pós-graduação se espalhou, então tem doutorado em Goiânia, tem doutorado em Recife, tem doutorado aqui em Londrina, tem doutorado em todo lugar. Mas houve um momento em que os doutorados em História ou em ensino de História estavam praticamente USP e UNICAMP. Todo
mundo ia para lá fazer. Ou ia na USP ou ia na UNICAMP. Grande parte dos, é que hoje trabalham no ensino de História ou se formaram na UNICAMP ou se
formaram na USP, ou no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro um pouco menos, Rio de Janeiro ganha protagonismo nessa área do ensino de História posterior aí
aos Profhistória, que aí ele ganha um certo protagonismo nessa área de ensino de história, mas protagonismo mesmo está na USP e na UNICAMP, com a
professora Ernesta, com a professora Circe. Elas vão formar praticamente todos os pesquisadores do ensino de História do país. E esses pesquisadores que elas
formam vão formar outros pesquisadores dentro da mesma, não é, linha. Que vocês podem ver é, a Selva, a Lana, o Luís Fernando Cerri, quem mais? Todos
são formados na UNICAMP, todos são dessa segunda geração formados pela UNICAMP pelas primeiras professoras aí dessa discussão, e outros não é, que
tem nessa área. É... dois momentos também, duas, dois grandes eventos eles vão consolidar o campo e vão é... firmar territórios, vamos dizer assim. Um é o
Profhistória, e o outro é o PNLD. O PNLD e o Profhistória são dois momentos que firmam territórios dentro do campo do Ensino de História, pelas críticas, pela
importância e pela, vamos dizer assim, disseminação nacional dos pesquisadores aí por esses dois eventos. Então isso vai resvalar no que? Vai resvala também na forma como se pensa teoricamente o ensino de História. Vocês vão entrevistar a professora Maria Auxiliadora, ela vai dizer para vocês, ela por exemplo sempre foi uma crítica imensa do PNLD, porque ela sempre achou que quem tinha que avaliar livro didático era professor e não acadêmico. E a gente sabe que o PNLD sempre priorizou acadêmico, tinha lá dois professores da educação básica para não dizer que não tinha, dois professorzinho de educação básica e o resto era tudo acadêmico, eu mesma participei trocentas vezes do PNLD. Então é... o PNLD ele também, ele, ele faz o que? Ele é... É, como vou dizer, movimenta esse poder do ensino de História para outra periferia. Antes, antes o poder de ensino de História estava onde? São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo e Campinas. O PNLD faz o que? Ele arrasta a questão do ensino de História lá para o nordeste, que a Margarida Dias vai ser a grande, por anos a fio, pesquisadora aí, vai se tornar depois uma pesquisadora importante dentro dessa área do ensino de História. E o Profhistória, que vai levar para o Rio de Janeiro essa discussão do ensino de
História. O que acaba acontecendo? Acaba acontecendo uma disputa de poder mesmo. Uma disputa de poder entre quem é que é... Define as teorias, define as
metodologias, define as fontes que são usadas para o campo do ensino de história, certo. Eu, por exemplo, não sou uma pesquisadora que digo que certa fonte não é utilizável para o Ensino de História ou certo grupo não trabalha com ensino de História, mas há grupos que, não é, trabalham nessa forma mais contundente de fazer críticas a pesquisas, para dizer: – Ah, isso não tem fundamento. Ah isso é uma, ou como diz o professor Munakata, que o pessoal da educação histórica é uma religião, quase uma (Risos), que o pessoal da educação histórica era totalmente fechado que era quase uma religião, que ninguém conseguia entrar. Ele escreveu isso inclusive em um artigo, que nós éramos tão dogmáticos, não é, que éramos quase daquela seita lá dos é... Terrorista lá do Daesh. (Risos). E... Por que o professor Kazume diz isso, até hoje eu mesma não tenho noção, não é? Qual foi a, quer dizer eu até tenho, mas assim, é, não creio que isso seja relevante para a coisa. Mas então, é esse tipo de é... De discussão, esse tipo de disputa pelo campo, em um campo em formação ela é muito forte mesmo, e aí ela acaba se é... Consolidando em um esfacelamento eu acho, de certos... Principalmente dos Pesquisadores. Eu acho assim, que os Pesquisadores agora retomou, mas ele passou um tempo que ele não tinha como juntar esses pesquisadores do ensino de História, e acho que ainda não tem. Acho assim que tem, por exemplo, pessoal da educação histórica pouco participa do Pesquisadores, até porque há uma rixa aí entre o pessoal do Luís Fernando Cerri e outros que nem são ainda pesquisadores de grande relevância no ensino de História, mas se acham, não é, e aí criam, vão criando atritos onde não deveriam criar porque não são ninguém ainda, sabe? Quem são na fila do pão para começar a criar atrito, nem deveriam criar atrito. (Risos). Mas começam a criar atrito lá nos seus lugares, nas suas regiões. Tentando na verdade chamar a atenção de um determinado grupo para a sua localidade, para estar em um lugar quem sabe daqui um tempo. O que é uma bobagem sem
tamanho, porque se eu fosse hoje uma iniciante, eu ficaria com todos os lados, para não me perder em lugar nenhum. (Risos). Entendeu. Eu não assumiria uma:
Ah não, sou do grupo da professora Maria Auxiliadora. Ah não, eu sou do grupo do professor Luís Fernando Cerri. Ah não, eu sou do grupo da professora Circe.
Que é isso? Você não é de grupo nenhum, filho. Você não é ninguém na fila do pão. Entendeu? A professora Circe vai esquecer de você no momento em que
ela virar as costas, não vai nem lembrar quem você é, entendeu? Mas não adianta, as pessoas vão criando atritos onde não deveriam existir, porque na
verdade o nosso trabalho devia ser pensar um ensino de História e ele é pensado, nós todos defendemos que o ensino de História deve ser pensado dentro da diversidade. E na hora que a gente vai... Politicamente isso, a gente pensa dentro do grupo, fechadinho. Dentro do nosso grupo, dentro da... Sabe? Mas isso é um tempo, é um tempo. E é um tempo que está, eu acho que logo vai estar aí em uma transição, não é, porque vejam, a professora Kátia se aposentou, a professora Ernesta se aposentou, a professora Dolinha se aposentou, já está aposentada, ainda está trabalhando um pouco, mas, a professora Dolinha tem setenta e cinco anos, vai trabalhar mais cinco, então é um período de transição mesmo, aí tem que ver o que vem depois da professora Dolinha, se isso vai, como é que isso vai se contornando dentro da perspectiva aí do ensino de História, dessa nova geração que vai surgir. Mas é claro que todas elas são importantíssimas para a formação desse campo. Importantíssimas. Sem Ernesta, sem Kátia, sem Maria Auxiliadora não tinha campo do ensino de História. Não tinha mesmo. Que elas que levaram isso, levaram no peito e levaram na discussão esse campo e produziram muito, muito. É o que eu sempre digo para a professora Maria Auxiliadora, em cem anos a
senhora ainda vai ser citada, não se esqueça. (Risos). Outros vão ser esquecidos rapidinho professora, mas a professora Maria Auxiliadora vai ser
citada em todos os artigos, em todos os programas de... De graduação, quem é que não cita a professora Maria Auxiliadora no programa de graduação? Só se
for louco. Não vai usar os textos da professora Maria Auxiliadora no programa de graduação, usa o que? Então isso que eu sempre digo para ela, não se
preocupe, porque tem é... Essa perspectiva de quem eu serei, não é, serei ou não serei lembrado, sou ou não sou citado, isso parece que não, mas influencia
muito a nossa área também. As pessoas querem isso, querem ser citadas, querem ser lembradas, não é. Será que daqui a vinte anos eu vou ser lembrado?
Espero que seja lembrada pelos artigos, não é, não pelas confusões que armou na vida. (Risos).
E2 – Eu brinco que a Schmidt é a mais citada e a mais citada errada porque o nome dela é bem difícil e os alunos vivem trocando o d e o t.
R – Vive trocando o Schmidt. O i.
E2 – E o Cainelli não escapa muito, não é, porque já vi com um l. Esses nomes com muita letra o pessoal não...
E1 – Com muita consoante, não é. Oh Cris e professora Marlene, mas são coisas que eu também me incomode é ouvindo, me incomoda assim porque como eu
estudei em uma escola é... Sou filha de professora, depois fui para uma escola que as freiras tinham um rigor assim no tratamento, não é porque, enfim, mas eu
te chamo professora porque enfim, professora Marlene. Olha aí oh, toda essa história dela eu não posso chegar e já achar que estou andando na janela. Mas
eu acho interessante também, Cris pode também dizer um pouco, que o menino, eu acabei de conhecer, meu aluno ou da graduação ou do mestrado, aí chamou
a professora Maria Auxiliadora Schmidt do mesmo modo que a professora Marlene chama. Então assim, eu não, por exemplo, eu não conheço a professora
é Maria Auxiliadora Schmidt, eu vou chamar o nome completo, não é? Professora Maria Auxiliadora, Maria Auxiliadora Schmidt. Mas ele já vai viu, eu não sei, tem um mito que se diz assim: – Não, todo mundo chama ela de Dolinha, ela mesmo. Aí eu fico assim: Meu Deus! Se a minha mãe ouvir uma coisa dessa vai dizer assim – Que falta de respeito com a professora, chamando o nome, abreviatura não é. Mas enfim, é um pouco de mim. E é isso que a professora Marlene trouxe para gente, não é. Esse ato de lembrar e esquecer, não é Cristiano, a gente passou um ano, viu professora Marlene, um ano fazendo a lista porque não encontrava, era, tinha muita coisa dessa memória, não é, tinha um grupo que dizia assim: – Não vamos entrevistar esses fulanos. E aí outros diziam: – Não, esqueceu esses. E aí, depois quase de oito meses foi que a gente disse: –Não, a gente vai seguir o que o projeto propõe, que é o que o Bourdieu chama de campo científico, vamos para os registros, não é, e aí tem essas camadas, a camada dos que orbitam, as camadas que é o pessoal mais que fica mais localizado como o Cristiano citou dos professores deles. Tem por exemplo um movimento aqui em Pernambuco que fundou a primeira linha, mas que não aparece, não é, nesse, nessas entidades cientificas, enfim, são várias camadas, a gente está com várias arestas aí para juntar. Mas se você puder com... Vou passar para Cristiano, era só um comentário mesmo, que você nos deixa sempre muito empolgado por ser uma excelente narradora. Mas é isso, o menino mal chegou, ele já quer andar na janela, é Dolinha, é Marlene, é ou Cainelli, chama Cainelli e ainda erra o, não é, bota e no final, enfim. Cris.
E2 – Certinho Juliana. Bom, agora são onze e quarenta e um, nós tínhamos combinado até meio dia. O bloco final, professora Marlene, seria a junção dessas
perspectivas para o tempo presente, a sua atuação hoje ainda você já comentou, já nos situou sobre onde anda no momento, mas se quiser especificar mais quais
são os seus projetos atuais, porque está em Portugal, se quiser também falar e também sobre as perspectivas, não é, que trabalhas aí por aí, quais são os
principais desafios para esse campo a partir daqui... o que mais diz aqui, e aquelas perguntas mais amplas assim, mais freirianas digamos, qual é o seu maior sonho? O que você achou de contar essa história, essa experiencia de estar aqui narrando? E se tiver mais alguma questão que você queira acrescentar, que teriam várias além desse roteiro, e no final também se puder expressar a sua autorização para que usemos essa entrevista nos trabalhos, claro que com a devida apresentação da transcrição. É isso, essa é, eu juntei todas as questões em um bloco final em questão do tempo aqui, mas se esquecer alguma pode perguntar que eu repito.
R – É, hoje a minha perspectiva é... na verdade eu nunca pensei assim em estar nesse momento dizendo isso, mas é... Eu sempre trabalhei na perspectiva de
que eu não ia me aposentar, eu ia trabalhar até ficar bem velinha, sempre pensei nisso. Eu tive uma professora que ela saiu arrastada da universidade, que ela
fez setenta anos, e aí foi expulsa, não é, a expulsória e ela saiu literalmente arrastada. Ela não queria sair, ela quis ficar, ela entrou na justiça. E eu fiquei, eu
sempre pensava: Eu vou ser essa aí, eu também vou sair só arrastada daqui. Mas aí na verdade, os últimos anos acabaram me atropelando aí pessoalmente,
na vida pessoal e eu acabei tendo que me aposentar, mas por conta da família mesmo, é... Aposentadoria veio em um momento em que a minha filha queria vir
aqui para Portugal fazer mestrado, o meu marido também estava desesperado por se aposentar e queria vir para cá também e aí eu não tinha como vir para cá
sem me aposentar, então aí, a aposentadoria veio, mais em uma perspectiva familiar do que propriamente profissional. Eu ainda oriento no mestrado e no
doutorado, mais no doutorado hoje do que no mestrado, porque como eu não tenho graduação, raramente eu tenho alunos interessados em fazer mestrado
comigo. Até essa semana eu recebi dois, por acaso, dois e-mail de alunos formados na UEM, que querem fazer mestrado na UEL e queriam fazer comigo,
querem fazer comigo coisa e tal, mas é muito raro isso, então eu tenho mais orientandos de doutorado mesmo do que de mestrado hoje. É, participo muito
de bancas de mestrados, doutorados, aqui em Portugal eles chamam de júris, de mestrado e doutorado já participei de mais de cem bancas de mestrado e de
doutorado, e para mim é uma coisa, eu gosto de participar das bancas porque é um momento em que eu também percebo um pouco o andamento da pesquisa
no Brasil, nessa acadêmica, da pesquisa acadêmica, porque eu participo de banca de norte ao sul, leste a oeste do país, então assim eu percebo um pouco
como é que o ensino de História, como é que se caminha o ensino de História. Participo muito de banca do Profhistória, que eu gosto de participar, ver o que
estão pesquisando. E aqui em Portugal na verdade eu estou mais por uma questão pessoal do que propriamente profissional, não é, não estou trabalhando
aqui, o meu trabalho é todo no Brasil, tive sorte da pandemia. (Risos). Eu e o Lula com sorte da pandemia, da pandemia porque aí eu pude fazer todo o
trabalho online, não é. Via meet o ano passado e esse ano eu estou finalizando algumas orientações, a universidade voltou presencial, eu estou lá como
professora sênior. Então, esse ano, eu não vou dar aula, vou dar aula só o ano que vem, que eu volto para o Brasil em fevereiro do ano que vem. Fevereiro nos
voltamos para o Brasil, espero que em uma situação melhor. Com relação com a vida profissional eu hoje desenvolvo um projeto aqui em Portugal, onde eu
estou estudando é... Como que os portugueses trabalham nos livros didáticos eventos que se relacionam com o Brasil. Independência do Brasil, escravidão,
como é que esses eventos são trabalhados nos livros didáticos portugueses. Como é que os portugueses, por exemplo, trabalham a independência, não é.
Esse ano eu estou mais focada na questão da independência, por causa que a independência está fazendo duzentos anos, como que esse, como é que os
portugueses trabalham essas perspectivas. E estou fazendo também, vou não é, fiz um, estou fazendo um questionário com os alunos portugueses e vou fazer
com os alunos brasileiros também, nessa perspectiva de entender como que portugueses e brasileiros viram, veem essa questão da independência, por qual
perspectiva. Porque no Brasil a perspectiva da independência ela passou por vários, várias, vários momentos não é, de uma perspectiva heroica para uma
perspectiva negacionista da independência para uma perspectiva crítica, um momento em que Dom Pedro era herói, depois Dom Pedro era só um... Um
cagão que estava lá. (Risos). Então, como é que essas perspectivas formaram identidades e formam identidades. Isso aqui em Portugal houve também essa,
essa perspectiva de entendimento de Dom Pedro I. O que eu estou notando nas primeiras pesquisas que eu estou fazendo é que é... a independência do Brasil
é trabalhada de uma forma extremamente rápida nos livros didáticos, meia página. É, Dom Pedro I, que para os Portugueses é Dom Pedro IV, é um herói,
nacional, assim sem nenhum tipo de é.. Ressalva, não é, ele é realmente muito bem visto pelos portugueses. E passada a independência do Brasil, Portugal
desiste da História brasileira. Aí não há mais História do Brasil em lugar nenhum dos livros portugueses. Então é, essa é a pesquisa que eu estou fazendo agora,
até por conta de uma discussão que eu e a Isabel Barca tivemos a respeito é... Da formação da, do pensamento histórico dos jovens, sobre essas duas
histórias, que se relacionam tanto, se divergem tanto e se separam em determinado momento. Mas que dentro de Portugal é uma relação muito forte
por conta da quantidade de migrantes brasileiros que tem aqui. Então, a imigração brasileira ela é forte no imaginário português, na fala, no jeito de
pensar, mas nos livros didáticos é... Ela termina lá na independência do Brasil, em uma, em uma perspectiva de, não é, discussão maior sobre o Brasil. O que
os jovens portugueses sabem do Brasil vem pela televisão, pelas novelas brasileiras, pela mídia, isso que os jovens sabem do Brasil é por aí. Hoje a
perspectiva dos jovens portugueses sobre o Brasil é péssima. Péssima por conta do Bolsonaro, é péssima por conta da atitude com a Amazônia, atitude com os
negros, atitude com indígenas, atitude com tudo. (Risos). Então a visão que os jovens hoje têm do Brasil é muito ruim, muito negativa. Então essa pesquisa que
eu estou fazendo agora. É, o que mais? Com relação aos meus sonhos, posso ser miss? Meu sonho é a paz mundial. (Risos). Você sabe que está dentro da
crista da onda, pensar na paz mundial, hoje em dia com a guerra batendo a porta aqui, pensar, sonhar com a paz mundial não é nada ruim. É... mas eu até na
verdade nunca fui uma pessoa que sonha.
E1 – (? 1:45:02). Pensa também quais são os desafios do campo, o que a senhora projeta para o campo.
R – Ah sim.
E1 – Além da vida, pensa para o campo também.
R – É, os desafios para o campo, só um minutinho... Alguém liga para a professora Marlene e ela atende ao telefone.
R – Oi... Tá bom... Eu não posso falar que eu estou terminando uma entrevista, tá, depois você me conta, tá tchau. Fim da ligação.
R – Minha carona. Então o grande desafio para o campo, qual é? O grande desafio para o campo do Ensino de História eu acho que é vencer as divergências entre os pesquisadores, que nem são grandes divergências teóricas, porque grande parte das divergências teóricas que são aventadas pelos pesquisadores não se sustentam, porque elas não existem. Eu acho que o que tem, o desafio para o campo hoje é vencer as divergências pessoais entre os pesquisadores e essas divergências possibilitarem que o campo se amplie é dentro de uma perspectiva de pensar um ensino de História diverso, um ensino de História é crítico, um ensino de História é com consciência que seja histórica, que seja do Rüsen, que seja do autor que for. Entendeu? Então eu acho que é esse o, para mim é o grande desafio para o campo é esse. É acabar com os grupos. É acabar com ah, é o pessoal do nordeste, ah, é o pessoal do Paraná, é o pessoal do Rio de Janeiro. Entendeu. O pessoal do Rio não convida o pessoal do Rio, o pessoal do Paraná não convida o pessoal do Rio e pessoal do Rio só convida eles mesmo, entendeu. Então é, eu acho que isso tem que acabar, essa, essa, essa divergência, essa disputa pessoal entre os pesquisadores. Porque na verdade é muito mais uma disputa pessoal do que uma disputa de teoria, de teorias. Porque as teorias convergem, na maior parte das vezes. Elas não divergem na discussão do campo do Ensino de História. Nós não pensamos diferente sobre o que é ensinar História. Não pensamos diferente sobre as perspectivas do ensino de História na escola, nos livros
didáticos e para a sociedade, pensamos igual e temos os mesmos objetivos, mas eu acho que o grande desafio é romper essas barreiras. Que eu acho que é
possível se a gente não perspectivar coisas que tem gente jovem que já organiza, já nasce pensando na divergência, já nasce pensando em criar barreiras entendeu. Nem é ainda um grande pesquisador na área, mas terminou o doutorado já está, criou asas. Asas e garras, não é. Contra tudo e contra todos. Então eu acho que, eu acho que esse é o grande campo. Eu acho que se as pessoas pensarem mais como a Ernesta Zamboni, talvez é o campo ele, ele... Ele ganhe com isso, entendeu? E uma grande coisa eu acho que o campo ganhou muito com a educação histórica, com, eu não digo com as pesquisas em educação histórica, mas com a discussão que a educação histórica trouxe, que o Rüsen trouxe, que foi trazer para dentro do campo da História a discussão do ensino, retirar um pouco da educação, da interface da educação essas questões de ensino, eu acho que História ganhou muito, ensino de História ganhou muito com isso. Nós ganhamos enquanto historiadores. Porque nós do ensino, a gente tinha as vezes vergonha de dizer que era historiador, no começo. Porque ninguém aceitava que a gente era historiador. A gente era da educação, a gente não era historiador. Tem uns professores do departamento que ainda acham isso, que a gente é da educação que a gente não é historiador. Mas aí quando a gente começa, quando nós fazemos as nossas discussões, eu tenho alunos que falam assim: – Prof, eu tenho duas aulas de Teoria da História, tem aula de Teoria da História na prática e aula de Teoria da História na teoria. Aí eu falo: Mas vocês queriam o que? Aula do que na prática de ensino? Queriam que eu ensinasse vocês a usar o quadro? A usar o powerpoint? É isso que eles acham que é a Metodologia do Ensino de História. Usar, e tem muito professor dos nossos departamentos que acham isso também, que a gente fica lá ensinando a usar powerpoint. Que antigamente na minha época era usando ensinar é era ensinando a usar o retroprojetor: - Ah eu achei que vocês iam ensinar a se usar o retroprojetor. Eu falei: É, pois é, a gente não ensina a usar o retroprojetor. (Risos). Mas é, então é essa, é esse tipo de pensamento sobre o que é o campo do Ensino de História que a gente, eu acho que é... Nesses anos todos a gente conseguiu é caminhar, não é, em uma modificação da ideia do que é esse campo, é... Precisa ser reforçado, e as brigas em torno dessa coisa aí acabam
que minam um pouco essa possibilidade.
E1 – Para vida, foi o que Cristian estava perguntando, para vida o que você deseja? Qual o seu sonho, não é Cris?
R – O que eu desejo para vida? Eu queria ser rica.
E1 – (Risos).
R – Não dá para ser rica? Eu queria ser rica, eu queria que o real valesse um euro, um real um euro. Nossa, eu ia ser feliz.
E1 – Eu também professora.
R – Eu queria que professor fosse valorizado, que é... Eu acho que um grande sonho para minha vida, na verdade é interessante pensar nisso se alguém faz
essa pergunta, é... Hoje aos cinquenta e sete anos, tenho cinquenta e seis, cinquenta e seis anos, vou fazer cinquenta e sete. Cinquenta e sete anos o que
que eu penso para a minha vida? Eu na verdade gostaria de continuar trabalhando na área de ensino de História, espero continuar por muito tempo
ainda, não é. É... Eu acho que eu ainda tenho muito a contribuir nessa área, é... Hoje eu, eu percebo que eu tenho muito mais contribuições é... Do que no
começo da minha carreira, que foram trinta anos aí pensando ensino de História, trinta anos pensando é... A formação desse campo, então eu, eu sonho que, eu
acho que para minha vida, que eu continue, que eu ainda tenha uma perspectiva grande aí de tempo para trabalhar e espero que a universidade me permita isso,
não é, porque no Brasil não é muito comum a universidade permitir que sênior fiquem muito tempo, eu acho que em Londrina são cinco anos só que eu posso
ficar, então assim é... Complicado. Eu espero conseguir continuar trabalhando mesmo que eu não tenha uma instituição. Que eu não queria fazer concurso de
novo, não é, não quero, mas se for necessário, claro que eu farei. Mas eu não quero fazer concurso, até porque eu participar de um concurso, não é, meio
complexo. Como é que eu vou participar de um concurso (Risos). É... Mas eu, eu espero continuar ainda por um bom tempo, espero poder dar essa
contribuição, eu acho que isso é uma coisa que os jovens têm que pensar muito. Quando você olha para a Kátia Abud, quando você olha para Ernesta Zamboni,
quando você olha para Marlene Cainelli, não pode olhar que a gente é um tempo que passou, a gente é um tempo que acumulou e esse tempo acumulado ele é
muito importante para os jovens. Todo o saber que nós acumulamos nesse tempo todo, ele hoje se reflete no que a gente fala, no que a gente escreve, no
que a gente comunica, no que a gente lê, isso é importante para os jovens, os jovens não poderiam perder essa dimensão, mesmo que as suas teses sejam
maravilhosas, as suas discussões sejam importantíssimas não é. (Risos). Eu percebo muitas vezes em teses por exemplo que os jovens esquecem desses
autores. Esquecem dessas, desses primeiros e desse saber é... Tradicional do ponto de vista tradição, que não pode ser esquecido, que tem que ser lembrado
sempre porque é de lá, é de lá que vieram as grandes discussões sobre o que ensino de História que a gente faz hoje. Se não fosse os primeiros, a gente não
estava discutindo o que a gente discute hoje. A gente estava lá ainda no retroprojetor. Em instrumentalizando os alunos para dar aula. E achando que
isso que é o correto.
E2 – Que interessante essa fala final, porque deu a volta lá para o início quando a professora disse que a História da educação participava dos eventos e agora
como necessário se reaproximar da História da educação, que é a História da educação tem muito a dialogar também com o ensino, para retomar esse
percurso, essas construções, e eu acho que é o que a gente está fazendo aqui, é esse projeto da ABEH. Agora até estou entendendo melhor o projeto agora na
prática do que antes, quando a gente ficava projetando, para mim está muito, muito evidente isso. Então a gente vai encerrar, (? 1:54:20) faltando um minuto
para o meio-dia, mega pontuais, pelo menos aqui no Brasil, pelo menos aqui em Goiás, um minuto. E aí, a gente gostaria que você deixasse gravado as suas
palavras finais e também concordando com o uso desse material.
R –É, eu acho muito importante que vocês tenham um projeto onde vocês é... Se dediquem a guardar essa memória do ensino de História, eu acho isso
importante. Já fui entrevistada outras vezes, em outro projeto sobre isso e na verdade isso é... Não é só importante para os registros, mas também é
importante para que nós possamos pensar o nosso campo. Quando eu volto e começo a rever o que eu fiz e a rever como que do primeiro projeto lá da
instrumentalização para o último projeto que pensa a epistemologia do pensamento, como que o meu campo, como é que o meu pensamento se
modificou nessa, nesse período. E uma coisa que eu acho bastante interessante, que vocês façam, é recuperar isso mesmo, não deixar esquecer, não é, esse
tempo que passou e como que, como se construiu esse campo do ensino de História. Eu autorizo a... O uso da entrevista por vocês, pelo projeto.
E1 – Professora Marlene, a gente agradece, Cristiano, pois não.
E2 – Não, fica à vontade, a minha palavra era essa mesmo, obrigado. Deixo a Juliana encerrar aí a parte mais técnica então.
E1 – A gente agradece, eu sei que a professora está com horário em cima é só para deixar registrado todas as seções de entrevista, elas vão ser utilizadas para
fins acadêmicos científicos. Trechos ou a entrevista completa, ela será transcrita e ao final nós passaremos para a professora Marlene, na medida em que o
projeto, na medida que tem uma bolsista, na medida que o projeto for ganhando mais bolsistas e claro, o andamento das transcrições não vai mais rápido agora
com a nova técnica, vi a professora comentando que antes tinha uma técnica bem complicada, não é, hoje eu acho que o campo da, da História Oral melhorou
bastante. Então, tudo o que for publicado com relação a História do campo do Ensino de História que envolva o nome da professora Marlene, previamente vai
ser disponibilizado para que ela confira. É, e mais uma vez eu e o professor Cristiano, nós agradecemos em nome da ABEH, da Associação Brasileira de
Pesquisadores do Ensino de História, tem o nomezinho, mas as vezes botam pesquisadores, mas eu me lembro depois que tirou esse pesquisadores, é só
Brasileira De Ensino De História, e é isso. Muito obrigada. Cristiano.
E2 – É isso, então.
Fim da transcrição.
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