Entrevista de Luís Fernando Cerri, realizado por Juliana Andrade, em 29/03/2022, da cidade de Recife e Cristiano Nicolini, na cidade de Goiânia. O encontro foi realizado via Google Meet.
Estavam presentes: - Pesquisadora: Juliana Andrade - Pesquisador: Cristiano Nicolini
Legenda da transcrição
E1: Entrevistador 1 (Juliana Andrade)
E2: Entrevistador 2 (Cristiano Nicolini)
R: Entrevistado
A transcrição foi realizada por Geovana Pereira Dias e revisada por Yomara Feitosa Caetano de Oliveira. No entanto, estamos assumindo aqui uma transcriação com parcimônia, uma vez que algumas poucas limpezas de repetições de palavras foram realizadas, não configurando então, exatamente uma transcrição bruta do material audiovisual.
Antes da entrevista a professora Juliana Andrade, falando de Recife (PE) agradece ao entrevistado, que está falado de Ponta Grossa (PR) a disponibilidade de conceder a entrevista, e se apresenta, como também o pesquisador Cristiano, que estava em Goiânia (GO). Explica as três sessões da entrevista e o que será perguntado, iniciando a entrevista.
E1- É a primeira parte Luís Fernando Cerri nós gostaríamos de saber como, o senhor, dissesse seu nome completo a data de nascimento, e o local de seu nascimento, e como o senhor gostaria de ser tratado nessa entrevista.
R- Ok. Eu sou Luís Fernando Cerri, nasci na cidade de Araras que fica no eixo da via Anhanguera ali, no caminho entre Campinas e Ribeirão Preto, é no dia
16/06/1971, que é numa quarta-feira um frio danado, chuva e nasci sem roupa. Então, impressionante neste frio todo ainda teve essa situação (risos).
Mas, acho que o pessoal me chama de Cerri, em geral. Eu tive um tempo de mais esquizofrenia, em que alguns me chamavam de Luís, alguns me
chamavam de Fernando, alguns chamavam de Cerri. Então, fui consolidando, então está ótimo Cerri, mesmo.
E1 - Ok Cerri já ia chamar de professor Cerri (risada), mas Cerri. Então, muito obrigada à gente...
Continuar leituraEntrevista de Luís Fernando Cerri, realizado por Juliana Andrade, em 29/03/2022, da cidade de Recife e Cristiano Nicolini, na cidade de Goiânia. O encontro foi realizado via Google Meet.
Estavam presentes: - Pesquisadora: Juliana Andrade - Pesquisador: Cristiano Nicolini
Legenda da transcrição
E1: Entrevistador 1 (Juliana Andrade)
E2: Entrevistador 2 (Cristiano Nicolini)
R: Entrevistado
A transcrição foi realizada por Geovana Pereira Dias e revisada por Yomara Feitosa Caetano de Oliveira. No entanto, estamos assumindo aqui uma transcriação com parcimônia, uma vez que algumas poucas limpezas de repetições de palavras foram realizadas, não configurando então, exatamente uma transcrição bruta do material audiovisual.
Antes da entrevista a professora Juliana Andrade, falando de Recife (PE) agradece ao entrevistado, que está falado de Ponta Grossa (PR) a disponibilidade de conceder a entrevista, e se apresenta, como também o pesquisador Cristiano, que estava em Goiânia (GO). Explica as três sessões da entrevista e o que será perguntado, iniciando a entrevista.
E1- É a primeira parte Luís Fernando Cerri nós gostaríamos de saber como, o senhor, dissesse seu nome completo a data de nascimento, e o local de seu nascimento, e como o senhor gostaria de ser tratado nessa entrevista.
R- Ok. Eu sou Luís Fernando Cerri, nasci na cidade de Araras que fica no eixo da via Anhanguera ali, no caminho entre Campinas e Ribeirão Preto, é no dia
16/06/1971, que é numa quarta-feira um frio danado, chuva e nasci sem roupa. Então, impressionante neste frio todo ainda teve essa situação (risos).
Mas, acho que o pessoal me chama de Cerri, em geral. Eu tive um tempo de mais esquizofrenia, em que alguns me chamavam de Luís, alguns me
chamavam de Fernando, alguns chamavam de Cerri. Então, fui consolidando, então está ótimo Cerri, mesmo.
E1 - Ok Cerri já ia chamar de professor Cerri (risada), mas Cerri. Então, muito obrigada à gente também mesmo sabendo que tem o protocolo, o termo de
concessão que será enviado para o e-mail à gente também, pega a autorização para que essa gravação, ela seja feita. Não sei se vai ser concluída hoje, mas nós gostaríamos que o senhor pudesse dizer na gravação, se autoriza essa gravação.
R - Manifesto favoravelmente a utilização desta gravação. A realização e a utilização desta gravação.
E1 - Tá certo, muito obrigada. Então dando continuidade Cerri a gente queria saber um pouco, que você contasse um pouco pra gente sobre sua família. O
que você lembra, da sua infância, se você tem irmãos, quais são os nomes deles, nome do seu pai da sua mãe. Contar um pouco dessa fase da sua vida.
R- Bom eu sou filho do Alcides Cerri. Ele era, aliás nasceu numa fazenda da família na verdade era de imigrante, que vieram para o Brasil para trabalhar
com café, no final do século XIX. Aí, lá pelos anos 1930, 1940 o conjunto dos irmãos, os filhos do Vitório Cerri, conseguiram comprar a fazenda em que
trabalharam. Aquele período da crise, logo depois da Crise de 1929 e a decadência profunda dos barões do Café, ali no estado de São Paulo, e a
gente fica exatamente naquilo que a gente chama de Oeste Paulista, que na verdade não é Oeste e Nordeste, mas é Oeste Histórico. Momento em que, o
estado estava sendo ocupado. Então, é exatamente o processo da caminhada do café no Brasil, ela começa no Rio vai para a Paraíba daí ela, entre aspas,
ela sobe para essa região nordeste no estado de São Paulo. Daí ela vai para Minas Gerais. Então, a nossa região ali, é uma região que surgiu com essa
marcha do café, e surgiu naquele período do surgimento do republicanismo. Então, boa parte os primeiros presidentes do Brasil, tirando os dois primeiros
militares, eles vinham daquela região de Campinas, de São Paulo. A gente tá inserido naquela região. É são esses imigrantes que vieram para substituir a
mão de obra escrava trabalhar no café, depois compraram as fazendas dos barões que tinham falido, e depois meu pai acabou, como todos os irmãos
acabaram vindo para a cidade. Porque a família vai se multiplicando, e uma parte vai comprando a outra porque não cabe todo mundo na fazenda. Meu
pai é mecânico ele começou a trabalhar nos anos 1950, com mecânica. Então, ele brinca que ele fez a manutenção da arca de Noé, porque desde
aqueles Ford Bigode, Citroën 1930, ele mexia com tudo. Depois ele se consolidou nos anos 1970, interessante como a gente vai fazendo uma
ligação com os processos históricos. Essa mesma região do café depois virou a região do álcool por conta do Proálcool. Hoje é só canavial por ali. E, aí ele
se especializou em mecânica de caminhão. Porque eram os caminhões que faziam o transporte da lavoura para as usinas de açúcar e álcool, essa foi
assim a trajetória dele. A minha mãe era operária, ela também nasceu numa fazenda, mas logo se mudou para uma usina, que fazia açúcar nos anos
1950, nos anos 1940, 1950 fazia basicamente açúcar depois ela foi recondicionada na produção de álcool também. E, mesma coisa eles ficaram
um tempo na colônia da usina de açúcar, e depois acabaram, não sei exatamente o motivo, mas a família toda veio para a cidade. Meu avô o pai da
minha mãe, abriu um armazém e depois de um tempo ela acabou indo trabalhar de operária. Ela ficou um cinco ou oito anos trabalhados como
operária, antes ela tinha trabalhado como auxiliar de farmácia, nessa colônia da usina de açúcar. Daí ela ficou esse tempo trabalhando como operária. Eles
se conheceram nos momentos de lazer. A cidade, da qual eu venho e da qual eu tenho muitas saudades, como diria lá o poeta: “Não permita Deus que eu
morra antes que eu volte para lá”. Ela tem uma praça central, na verdade são um complexo de três praças, uma do lado da outra. Então, aquilo nos anos
1950, 1960, não sei se 1970, também talvez tinha caído de moda. Tinha o futin, as pessoas iam para o jardim da cidade para andar, tinha o cinema na
praça, os meus pais contam que as mulheres andavam num sentido da praça e os homens em outro. E, daí quando eles gostavam de alguém eles faziam
sinal e daí saiam para conversar. Então, foi assim que eles se conheceram e depois acabaram se aproximando e tal, viraram noivos casaram e tocaram a
vida para frente. Ainda, sobre a família meus, eu tenho dois irmãos. O José Alberto e o Márcio Roberto. José Alberto e o primogênito, e hoje ele trabalha
no departamento de Engenharia Civil aqui na Tecnológica na Federal no Paraná, em Curitiba, e meu irmão do meio eu sou o caçula, o irmão do meio
que e o Márcio Roberto ele trabalhou por 35 anos nos correios, e agora está aposentado. Então, está ali fazendo as atividades dele, criando neto
participando de ONG etc., e tocando a vidinha dele também.
E1- O Cerri...
R- Oi...
E1- A gente queria que você falasse o nome da sua mãe e o nome de seus avós.
R- Certo, então minha mãe é Benedita Ferreira, Cerri depois, os pais da minha mãe são o Antônio Cerri e a Elvira Brambina Cerri, desculpe. Antônio
Ferreira e Elvira Brambina Ferreira, minha mãe e Brambina Ferreira. E, do lado do meu pai é Fortunata Dona Cerri e o Vitório Cerri. Eu convivi muito
pouco com o Vitório, ele morreu de infarto quando eu era, assim, bem com cinco anos de idade, e com a Elvira, era minha avó materna ela faleceu
quanto eu tinha sete anos. Aí, eu convivi mais com a minha avó paterna, que chamava de Nata, Vó Nata e com o meu avô, meu avô Antônio também, ele
viveu mais um período maior, mantinha aquela venda de secos e molhados. A gente passou boa parte da infância, indo para aquela venda, indo saindo, indo
pro estoque correndo pra lá correndo pra cá. Então, foi mais ou menos essa trajetória.
E1- Aproveitando que você está falando um pouco dessa memória da infância, da corrida da praça. Fala um pouco mais o que você lembra da sua casa do seu bairro, da sua rua dessa experiência de viver a infância nessa cidade. Quais eram suas brincadeiras favoritas, seus amigos, as aventuras e
travessuras, que você lembra aí na sua memória?
R- Bom, a minha casa era bastante grande, era um período em que geralmente as pessoas faziam casas maiores. Eram casas simples, só que grandes. Então, quando a gente se mudou eu me lembro bem, quando a gente se mudou a casa, por exemplo a cozinha não tinha forro era direto a
telha, o resto da casa tinha, mas ali a cozinha não e lá fora tinha uma garagem que era um rancho de madeira. O principal local da casa para mim
era a dispensa, que ficava atrás do rancho, que servia como garagem, porque como meu pai era mecânico e pescador, meu pai assim a paixão dele é a
pesca, então o que ele tinha de coisas assim de tralha de mecânica, tralha de pesca, e aí minha mãe com vasos de flores. Eu sei que ali era um depósito de
tanta coisa, que era um universo onde a gente criava tudo. Então, para vocês terem uma ideia a gente teve um período de brincar, os três irmãos a gente
chegou a brincar assim, embora cada um tivesse um grupo de amigos a gente brincava juntos. Mas a gente teve uma fase assim, a fase da corrida espacial.
Eu pegava todas as antenas de televisão eram feitas com tubos de aluminios o que a gente fazia, a gente pegava moldava a ponta do tubo, aí meu pai
sempre deixava lá junta. Eu lembro até hoje isso, era junta, era adesivo para junta de motor a diesel. Então, era um aditivo superforte, o que a gente fazia
recortava a lata de óleo, porque a gente tinha um maçarico manual, a gente recortava a lata de óleo, fazia aleta. E, colava as aletas no tubo, enchia o
tubo. Olha que perigo! Enchia o tubo de pólvora, e aí fazíamos os lançamentos. Aquele negócio subia, assim cinquenta metros de altura e tal. E,
assim a gente não morreu por sorte. Muitas vezes, o negócio saia e desviava e vinha na gente. Era só criança correndo para escapar do foguete. Então,
sempre teve muito isso, acho muito legal da minha infância, que hoje a gente não vê muito, que é de você criar seus próprios brinquedos, e muito essa
coisa da ficção científica. A gente vivia numa, não posso dizer que era precariedade, porque a gente viveu uma vida de classe média por quase todo
ano 1970, e por uma boa parte do 1980. E, aí quando o Proálcool decaiu a gente decaiu financeiramente também. Mas, então não posso dizer que foi
uma infância de privações, mas era uma vida muito simples, mas a gente assistia muita televisão. E, a televisão trazia muito isso, o brinquedo mais
divertido que eu criei. Era uma vez a gente tinha uma tia, que estava morando, naquela mesma usina de açúcar que minha mãe tinha ficado boa
parte da juventude dela. E, ela jogou uma televisão fora, e a televisão estava quebrada já, e eu falei: - “tia eu posso pegar umas coisinhas dentro”? Eu fui
arrancando circuito, arrancado pecinha, válvula e tal, botei numa sacola trouxe para casa, e usando aqueles adesivos, eu montei um foguete, que era uma
lata de Neston, que era uma lata grande, na tampa dessa lata, eu colei uma lata de Nescau, que era uma lata menor. E, aí eram dois modelos, da nave
espacial. E, eu colei todo aquele monte de coisas por dentro para ser os controles, aí se jogava o boneco lá dentro, atrás e na frente, aí tinha modo de
descida pra lua. Tinha tudo. Então assim, a nossa infância era muito isso, a gente criava barquinho, fazia calafetava o barquinho de papel. E, acho que a
rua que eu nasci, que eu nasci não, porque eu nasci em um lugar específico. Tem uma curiosidade sobre isso. Eu estava brincando, que eu nasci sem
roupa e estava frio, mas por um motivo bem interessante. No meu parto a minha mãe não conseguiu chegar no hospital. Então, ela estava se
preparando para ir pro hospital, ligou para o meu pai, para meu pai vim do trabalho e levar ela para o hospital, mas não deu tempo. Ela estava indo do
banheiro para o quarto e eu acabei nascendo. Então, nasci em casa mesmo. Daí nesse conjunto, a gente criava muita coisa. E, a rua em que eu fui morar
era avenida Mikirin. Mikirin era uma família da cidade, é uma família da cidade muito poderosa. Eles tinham uma metalúrgica, que chegou inclusive no auge
dessa metalúrgica eles chegaram a fazer guindastes para o porto de Nova York. Então, era um pessoal assim bem integrado, com a elite paulista e tudo.
E, na avenida mikirin, ela era cruzada por um rio, um riacho, um pequeno rio. E, logo depois a prefeitura Municipal tinha criado um de um pântano, eles
fizeram um lago. Com todas as questões de lazer, de gramado, patinho, pedalinho, um tanque de areia gigante, que a gente chamava de prainha, um
playground muito grande para as crianças, um zoológico. Então, era tudo perto da minha casa. Então, assim o que eu brincava quando eu era criança
basicamente era, aproveitar o ambiente que a gente tinha com todo o tipo de coisa que a gente consegui criar. Então, no rio e no lago a gente fazia
barquinho e ia mudando o projeto dos barquinhos, testando isso e testando aquilo. Época de agosto, a minha diversão era fazer pipa, ventava muita e
essa região tinha pouco poste, pouca fiação então a gente fazia muito. Na cidade tinha concursos de pipas. Tudo ali perto de casa também, então a
gente tinha muito isso de criar. E, bicicleta. Então como a gente tinha muito liberdade, era uma cidade que naquele momento acho estava com uns
setenta, oitenta mil habitantes é era uma cidade muito tranquila então a gente vivia, cada um tinha sua bicicletinha, não necessariamente nova, herdada do
irmão aquela coisa.
R- E, a gente saia e andava pela cidade absolutamente inteira. Então, ia até a borda da zona rural ia ao lixão da cidade. É aquela coisa, a gente está vivo
porque Deus cuidou. Porque a gente se metia em todo tipo de aventura, todo tipo de coisa insalubre, confusão, problema. É então, eu posso dizer assim, foi
uma infância que a gente teve muito espaço. A cidade praticamente era o nosso playground. A gente brincava, a gente andava em todos os bairros em
todos os campos, tinham amigos na cidade inteira, por conta da escola. Eu estudei numa escola que era bem centralizada. Então, dali você conhecia todo
mundo, ainda aquela escola pública que tinha o filho do desembargador, o filho do juiz, o filho do empresário e o filho da lavadeira. Então, estava todo
mundo na mesma sala de aula. Eu acho que isso deu uma experiência de vida, pra gente minha geração, que é muito interessante. E, uma clareza assim, das questões sociais a gente aprendeu na escola. Eu acho que assim, o meu envolvimento, depois com o meu movimento estudantil e partido
político etc., veio um pouco disso, um pouco de conseguir perceber, nem todo mundo percebia também, mas já na escola, e também das nossas aventuras
pela cidade, percebia ali as contradições sociais que a gente vivia.
E1- Ótimo contador, Cristiano, que ele já vai engatando na seção seguinte. Então, conta pra gente Cerri, se você tem memória dessa escola da sua
infância, do prédio, do pátio, das professoras e professores. Se foi, se tem alguma marcante na sua vida, e se essa escola, se essa infância toda foi em
Araraquara.
R- Na verdade, em Araras.
E1- Araras, desculpe!
R- É perto de Araraquara, não é longe. Mas, é a escola em que estudei, eu estudei na verdade, assim eu fiz a pré-escola como a gente tinha na época, o
“prezinho”, como as pessoas falam. Eu fiz no colégio de freiras, mas não deu certo, não me adaptei lá. Inclusive porque aconteceu uma vez que, criança é
muito ativa que deram, liberaram a gente para sair para o recreio, e eu sai correndo e pulei pelo vão da... tinha uma proteção assim, e as aulas ficavam
com a parte mais alta, subindo a escadaria. E, tinha um vão quebrado, e eu pulei por esse vão daí pra brincar, e aí caí de mal jeito e quebrei a clavícula.
E, as madres me deixaram lá, isso foi três da tarde, elas me deixaram quase até seis da tarde sem atendimento. Sem atendimento não, me levou pra
enfermaria, deixou deitadinho e tals, mas ninguém pensou que eu podia ter fraturado um osso. Eu não sei se foi isso que fez minha mãe mudar ou o fato
os meus irmãos já numa escola pública também, ou se foi alguma dificuldade financeira? Eu sei que me colocaram numa escola pública, e eu fiz assim toda
do primeiro ano até o terceiro, naquela época do segundo grau. Eu fiz toda na mesma escola que era o Cesário Coimbra. E, Cesário Coimbra a um desses
sujeitos que fez parte da elite paulista, ele foi deputado, foi político, aquela coisa toda. No fim, eu acabei estudado esses sujeitos no meu mestrado, de
alguma forma eu acabei indo atrás de conhecer um pouco mais isso. Era uma escola, então primeiro isso, era uma escola que tinha tudo, tinha da pré
escola até todos os anos do segundo grau. Tinha profissionalizante, tinha curso de magistério, chamado na época de curso de magistério e foi uma
conquista que a cidade fez.
R- Interessante que a cidade tem uma classe política conservadora. Tudo aquilo que a gente já conhece nas cidades do interior do Brasil, mas muito
bem articulada politicamente. Para vocês terem uma ideia, Araras e uma das poucas cidades da cidade do interior de São Paulo que tem uma obra
Niemayer, que um teatro estadual que é uma obra do Oscar Niemayer. Então assim, é muito bem articulada politicamente. E aí nos anos 30 a elite local
conseguiu fazer uma reivindicação e criar um colégio estadual, que era esse Cesário Coimbra, que foi feito, então pelo governo do estado. Quando eu fui
estudar no meu mestrado é assim, a gente tá naquela fase de tatear. Eu comecei a procurar referências, buscar referências estudei como a revolução
de 32 ali ensinadas nas escolas. E, aí eu comecei a tatear em outras cidades, fui pra Ribeirão Preto e eu tomei um susto, eu estava em busca de bibliotecas
de escolas, onde eu pudesse encontrar livros antigos. E eu tomei um susto, porque em Ribeirão Preto, em Pirassununga em várias outras cidades tinha
exatamente a mesma planta o colégio. Aí, eu tomei esse susto, porque o colégio em que eu estudava tinha vários outros iguais em outras cidades,
depois e que eu fui descobrir que existiam quatro plantas de colégio. E essa planta que a gente tinha era do maior colégio possível, então eu até imagino
assim que acabou ficando assim em desuso uma parte do tempo, porque não tinha tanta gente assim em Araras. Mas se conseguiu nos anos 30 um colégio
na planta padrão, a maior que existia. Então assim, era um colégio que tinha um auditório, um auditório grande. Onde aconteciam os festivais de música
nos quais eu participei, formaturas, palestras aconteciam tudo ali, com palco com coxia. O palco tinha uma parte subterrânea que você podia utilizar pra
colocar música, ou para colocando alguém para dar dica de fala ou aproveitar cenograficamente. A gente tinha um grande laboratório, um bom laboratório
de ciências, a gente tinha uma sala de educação física, três quadras de tamanhos diferentes lá embaixo. Então, é um colégio muito grande, com muito
espaço, muito recurso. E, a biblioteca do colégio eu tenho que dizer e a bibliotecária do colégio a Dona Maria Alice, era uma coisa fantástica. Essa
elite tinha doado pro colégio algumas coisinhas básicas, por exemplo, toda a coleção, coleção completinha da Calheta e da Fonfom, que são revistas do
comecinho do século XX. Então, estava tudo encadernado a disposição, muita coisa de ciências, muita coisa assim mais antiga. Então era uma
biblioteca grande para escola e uma biblioteca com muita coisa interessante. Então, acabei assim, no colégio como eu sempre fui uma criança mais
retraída, assim, como meus amigos não, mas quando você entra no mundo social que a escola representa essa porta de entrada pro mundo social daí eu
fiquei mais retraído, e até a personalidade mesmo que eu é mais introspectiva e tal, não e aquela coisa expansiva assim. Mas é, por isso eu acabei sendo
assim uns dos principais frequentadores da biblioteca. E, nisso eu fui descobrindo esse material que existia, que era uma coisa fantástica. Eu lia
naquela época uma coisa, assim entre a biblioteca Municipal que ficava perto dessa escola, que para uma biblioteca com o estilo modernista, estou falando
da elite política local, que sabia muito bem fazer as coisas. Nos anos 50 conseguiram uma biblioteca com o estilo modernista, com auditório, com
todas as salas de apoio, e com três pisos, que era uma coisa assim de 50 mil volumes pra uma cidade do interior. Então, a biblioteca municipal e a
biblioteca da minha escola foram locais que eu visitei muito, que eram coisas assim fora de série. Toda coleção de jornais da cidade desde o final do século
XIX, tudo está nessa biblioteca Municipal. É muito interessante a gente pensar como que vamos dizer de certa forma assim, o ideal republicano de São Paulo
ele ia muito nessa direção pena que se perdeu isso, espero que um dia se recupere. De criar instituições públicas culturais fortes para criar possibilidade
que as pessoas tivessem condições de fazer trajetórias importantes no mundo da ciência, da cultura, da arte, etc. Eram espaços assim que eu acabava
usando bastante, frequentando bastante, era todo um complexo, essa escola ficava bem no centro da cidade, e era todo um complexo, de biblioteca,
hospital, praça que a gente acabava também circulando bastante e aproveitando bastante esse espaço.
R- E, pensando na escola ainda, eu sou do tempo do centro cívico escolar, e não do grêmio estudantil que é da época da ditadura. E, nossa diretora ela era
muito rígida muito autoritária. Então, a gente considerava que o nosso desafio era enfrentar e superar a diretora no ensino médio principalmente. Porque foi
uma pessoa que assim a vida inteira ela foi a diretora e aí a gente fundou o movimento estudantil e hoje a diretora da minha escola, era vice-presidente
na União Municipal de Estudantes Secundaristas. Então, hoje ela é a diretora da escola, e lógico ela tem uma abordagem completamente diferente dos
processos lá, mas eu já voltei para o colégio, várias vezes. E, a gente toma um susto porque o colégio diminui de tamanho, quando a gente é criança o
colégio é muito maior e quando você volta depois de adulto o colégio diminuiu de tamanho. E, a gente mexeu nos arquivos um grupo lá lidou com os
arquivos do colégio, quando foi chegar a setenta anos, mas o colégio tá indo pra noventa anos de idade, na próxima década ele vai completar cem ano. E,
foi assim nesse colégio, que boa parte das primeiras coisas importantes que a gente tem que fazer na vida foi nesse colégio e tem uma memória afetiva
também.
E1- O Cerri e dessa memória afetiva, tem algum professor, alguma professora que você guarda, foi marcante pra você. Por que essa professora ou professor
foi marcante? Como era a sua sala de aula, depois ele ficou quieto Cristiano que uma pessoa sair correndo no pátio cair e quebrar a clavícula não é nada
fácil. Mas conta pra gente, já que você estava tão comportado nessa fase de escolarização, e como foi esse processo? Sabia ler escrever quando chegou,
se tem alguma professora que marcou fala um pouquinho mais sobre essa fase pra gente passar depois para parte da juventude.
R- Eu acho que sou uma das poucas pessoas que lembram de todas as professoras das séries iniciais. A minha primeira professora do primeiro ano
foi a dona Zélia, depois foi a dona Neide no segundo ano, no terceiro ano foi a dona Araci, e no quarto ano foi a dona Neli, a Neli Casali Padovani. Das duas
primeiras eu não lembro muita coisa, mas a dona Neide do segundo ano uma vez chamou meus pais, chamou não, reunião de pais e daí ela falei: - “olha
seu filho fez uma redação dizendo que ele detesta a escola e a gente não entendeu o porquê, e ele é um excelente aluno”, e aí me chamaram e
disseram: - “escuta porque você é um aluno tão bom e você disse que detesta a escola?” Aí eu disse: - uai! Eu estou indo bem pra ver se eu saio logo. Então isso era o menino da segunda série da escola, e não sai nunca mais. O fato é que a gente continua ligado a escola até hoje. Então, não adiantou a estratégia do Luizinho lá atrás, não funcionou. A dona Neli ela foi uma professora, aí na quarta série, já ela foi uma professora especial, ela era
mulher de um desses intelectuais, que vieram da Itália, e que marcaram a cidade. Então, a primeira casa que eu morei depois que eu me casei era o
nome do marido dela, que era seu Vicente Casali Padovani. Inclusive é nome de escola em Araras. É uma pessoa bem destacada. E, a dona Neli era assim
uma pessoa muito doce. Ela fazia questão que a gente tivesse uma cadernetinha, que a gente copiava letra de música, e toda aula, antes de a
gente começar a aula que era aquelas aulas com a professora única. Então, a gente começava cantando e terminava cantando, a gente tinha ali umas vinte
trinta músicas e todo mundo sabia cantar, e ela puxava e a gente cantava pra começar e pra terminar. Ela... isso eu fiquei sabendo depois, depois alguns
anos ela já era bem idosa, mas ela ia ter que se aposentar, tem um causo que as pessoas contam e muitas ficam com lágrimas nos olhos, que ela ia se
aposentar era o último ano dela. E, de repente todas as crianças ficaram de recuperação, então nossa recuperação acontecia depois, o pessoal ficava em
dezembro lá, até metade de dezembro final de dezembro e os pais todos reclamaram: - “meu filho tirou só nota boa, que história e essa que ficou de
recuperação”, e ela falou: - “e que é meu último ano, só queria ficar mais um pouquinho com eles”, (emoções na voz) E, aí os pais deixaram, todo mundo
ficou sensibilizado, deixou. Então, era uma pessoa muito doce e assim, tem um causo. Causo eu já no interior de São Paulo, gente, mas teve uma
situação ali que eu vivi com a dona Neli que eu fiquei apavorado. A gente tinha um amiguinho, que era o filho da lavadeira, a gente tinha vários alunos
negros na escola, como eu falei assim, até a quarta série ela era muito democrática, e nosso amiguinho era o Neco. E, o Neco não fazia tarefa era
muito difícil ele fazer tarefa, e aí assim, depois de várias vezes que ele não trouxe tarefa a dona Neli perdeu a paciência, catou ele pelo cabelo, e meteu
uns três ou quatro tapas na cara, na frente de todo mundo. Então, a gente ficou muito assustado, não sei se os colegas ficaram, talvez os colegas
tivessem falado: - “há ele mereceu não fazia tarefa”. Mas, eu fiquei muito assustado com aquilo. E, eu fiquei imaginando como é que pode uma mulher
tão boa, tão doce de repente ter uma atitude dessa. E, eu não sei, aquilo foi uma coisa que ficou fermentando na minha cabeça, e me fez ter ao longo da
vida vários momentos, em que eu me envolvi em questões do movimento negro, tanto nos cem anos da oposição da escravatura, que eu estava em
Araras ainda. E, eu tive assim, uma participação, uma aproximação importante no movimento negro, quanto a luta por cotas aqui na UEPG, que a
gente acabou seguindo depois, e uma compreensão do que é o racismo. O racismo não é exatamente um vício de caráter. A gente tem isso, a pessoa e
ruim por isso ela é racista, não. O racismo é uma estrutura, não tem a ver com você ser uma boa pessoa, ou não ser uma boa pessoa, tem a ver com o
processo histórico, no qual você acaba recebendo, registrando e escondendo sentimentos, que em momentos de descontrole vem à tona. Então, é o que eu
digo, todo mundo tem a ocasião, todo não negro tem a ocasião de ser racista e ele vai ter que estar preparado de ter que ter o seu racismo sobre controle, e
acho que a questão e essa nós fomos criados numa sociedade racista e a gente tem que ter o racismo sobre controle. Então, isso foi uma coisa que me
marcou a vida inteira nas séries iniciais. Agora no ensino médio eu tive vários, a gente vai falar assim dos professores eu tive vários, mas acho que a
professora mesmo, que eu preciso falar aqui é a professora de História, que ela foi minha professora não em todos os anos, mas no ensino médio foi em
todas as séries, todos os anos. E, no fundamental ali pelo menos uns dois anos ali foi com ela que era a Dona Magali Marceli, ela tinha estudado na USP
tinha feito iniciação científica, tinha começado a pensar num mestrado não sei se ela chegou a concluir o mestrado dela na USP, mas ela veio, voltou pra
Araras, prestou concurso e foi ali que ela tocou a carreira dela. Então, era assim, uma professora com uma capacidade muito grande de relacionar as
coisas de explicar e foi uma das pessoas que certamente me despertou o interesse pela história. Na matemática um tive um professor, que era o seu
Leonaldo é assim mesmo, seu Leonaldo, não Leonardo, como a gente tá acostumado. E, ele já era muito idoso quando deu aula pra gente, acho que
dois ou três anos depois ele se aposentou, mas ele era um matemático filósofo. Eu sempre gostei muito de matemática, sempre fui muito bem em
matemática. Eu era aquele aluno de matemática, na oitava série, que os professores falavam: - “vai embora! Não enche o saco aqui!”. Porque os
professores, geralmente, falavam resolve esse problema aqui de geometria, e eu escrevia na prova, assim dá pra resolver desse jeito aqui, e resolvia de um
jeito, e também pode se resolver desse jeito, e, resolvia de outro jeito, esnobava. É assim sempre nota máxima tal, e o seu Leonaldo, eu acho que
foi assim culpa dele de eu ter ido para ciências humanas não ter acabado indo para as exatas, porque ele tinha uma abordagem extremante filosófica da
matemática. Então, foi um professor que eu tive só um ano de aula com ele, mas ele marcou muito, ele era muito interessante, ele botava um ponto. Eu
lembro de uma aula, que ele colocou um ponto na lousa e disse: - “esse aqui é um ponto”, e começou a dar risada. Então assim, o ponto ele não existe
vocês têm que acreditar em mim, que o ponto não existe, o que é o ponto, o ponto é uma figura geométrica sem dimensão. Então, isso aqui não existe é
uma questão de fé, uma questão de crença, e aí dava risada. E, a gente achando estranho, aí ele explicando o que era reta: - “olha só a reta é o que?”
São muitos pontos que estão na mesma figura, ou seja, a figura que tem uma dimensão ela tá baseada na figura que não tem dimensão nenhuma. Então,
era essa a matemática dele, era muito interessante. A dona Magali a gente tem contato até hoje pelo Facebook. A gente sempre curte as coisas, as
vezes ela vai lá na ABEH, e curte as coisas da ABEH, coisas que eu estou multiplicando ali, compartilhando da ABEH. Ela está aposentada lógico, mas a
cena mais engraçada foi quando eu subi. O sindicato ficava na praça central a APEOESP, nosso grupo da APEOESP lá em Araras e eu subi a escada do
sindicato, entrei já tinha me filiado, entrei pra fazer alguma coisa lá que também fiz parte de várias greves. É na hora que ela me viu entrando, ela
disse: - “eu não acredito nisso, mas eu estou velha mesmo, eu dei aula pra esse rapaz quando ele usava calça curta. Ele vem aqui agora, se veio fazer o
que aqui no Sindicato. Quem você pensa que é?” A gente deu muita risada dessa situação, porque ela também era militante, ela também estava
envolvida e a gente acabou se encontrando no sindicato. E, a gente tem contato até hoje. Inclusive ela tem parentes aqui em Curitiba e a gente está
combinando. Um dia se ela vier, quando ela vier pra Curitiba pensa em dar um pulinho a mais aqui, mas 100 KM vem tomar um café em casa. Porque é uma
professora, assim que a gente tem, acho que todos a gente tem sempre uma memória muito afetiva, mas a dela destaca muito porque até segui a
profissão. Então, acho que foi um pouco por aí.
E1- Coisa boa, Cerri, então vamos aproveitar já que está falando do ensino médio. Fala um pouco, então de como era sua vida social? Na escola que é
uma vida social, mas um pouco fora dessa escola, como era um pouco da juventude, em Araras? Qual era a sua principal diversão? E, você pode falar
um pouco da sua vida afetiva, como ela foi construída essa relação de namoro, casamento, se você tem filhos, e qual é o nome deles ou delas.
R- Uhum! Então, vou dizer assim no primeiro ano do ensino médio, eu estava muito focado. Eu tinha assim, eu tinha colocado isso na cabeça, eu tinha
colocado porque, enfim, pela nossa corrida espacial, que eu já falei assim entre os irmãos, vocês devem imaginar assim que a gente gostava muito
dessa questão aero espacial, aviação etc., inclusiva meu irmão mais velho é piloto. Ele não trabalha como piloto trabalha como professor de universitário
tem um breve inclusive, fez toda uma formação de piloto. Então, a gente gostava muito de aviação de tecnologia etc., e o que eu tinha como foco até o
primeiro ano do ensino médio era ter as melhores notas possíveis, ter um bom desenvolvimento físico para passar nas provas para o ITA. O meu universo
era o ITA. Queria fazer, queria ir para o instituto da aeronáutica. A gente sempre ia várias vezes para academia da força aérea de Pirassununga.
Porque como meu irmão era piloto, ele tinha que se apresentar todo ano, era da reserva. Então, todo ano ele se apresentava, e a gente ia para lá
aproveitava, para passear, para olhar, para ver os aviões. A esquadrilha da fumaça e baseada lá. Então, sempre é muito interessante, que sempre que a
esquadrilha está treinando, eles estão voando também no céu de Araras. Então, a gente tem esse privilégio de poder ver a esquadrilha durante a
semana, sem ser ocasião nenhuma. Assim, até o primeiro ano eu tinha praticamente nenhuma vida social. Minha vida é estudar, cumprir os
compromissos da família. Era basicamente isso. Mas, eu já vinha desenvolvendo um interesse pelas questões sociais, como eu falei.
R- Aí no segundo ano, no segundo ano do ensino médio, surgiu a oportunidade do movimento estudantil. Então, eu acabei começando a
participar do movimento estudantil, no final das contas eu sempre fui uma pessoa muito reservada, muito tranquila, muito na minha. De repente eu me vi
liderando uma passeata exigindo que nossos professores entrassem em greve. Olha só que situação. A gente falou olha está estourando uma greve,
quem que era o governador? Acho que era o Quércia, já falecido. Está estourando uma greve em outras cidades, a greve é por melhorias para os professores, mas é por melhoria para escola também. Nós precisamos ajudar os nossos professores a tomar uma decisão para entrar junto. E assim, como Cesário Coimbra era escola mais importante, quando Cesário entrava em greve toda as outras escolas entravam também. Então, assim a gente fica passando nas salas e o pessoal: - “não... vamos lá, vamos lá!” É de repente saiu uma passeata, e todo mundo levantou, saiu da sala foi para o centro da cidade. Foi para a prefeitura, e saiu uma passeata. É discurso. É sei lá o que é. Não sei das quantas, de repente a gente voltou para escola, foi para o auditório, e aí me jogaram na frente. Como eu tinha feito o negócio de passar nas salas, me jogaram na frente do palco. É agora você faz um discurso. E, aquele rapaz que não tinha né, que ficava na sua que só estudava para o ITA, tem que fazer um discurso e assim foi uma porcaria, aposto que foi uma porcaria. Nem lembro o que foi o que eu falei. Mas, sei que o movimento se estendeu e que chamaram os professores, e os professores falaram: “- a gente não tem como não entrar em greve depois de uma manifestação dessas, dos nossos alunos, sendo solidários com nossas questões e tal.” É foi aí que começou a greve. Foi uma as duas ou três semanas que a gente ficou junto no comando de greve com os professores e que começou minha vida política. E, o interessante, que a social começou junto. A gente tinha um festival de música inspirado nos festivais da Record etc., aquelas coisas da redemocratização. Vamos retomar o que a ditadura tirou da gente. A gente tinha um festival de música no colégio que era o FIM, que chamava de Festival Interestudantil de Música. No ano anterior eu tinha concorrido como letrista com meus amigos, e aí depois a gente fundou o grêmio. Aí o grêmio assumiu a organização do festival. E, assim, organizar festival, passava a noite lá, aí depois saia. Então, assim o movimento estudantil me levou nessa direção. É ao mesmo tempo eu tinha sido um... Nós somos de uma família católica, minha mãe foi catequista por 50 anos. Meus pais tiveram uma
atuação muito forte no encontro de casais com Cristo, desde os anos 70 eles participavam muito. E, eu era um revoltado, eu achava onde já se viu esse
negócio da opressão da igreja católica e no sei lá o que, resultado ela me obrigava eu ir fazer as aulas de crisma no sábado e eu gazeava, como diz aqui no Paraná fazer gazeta. Eu escapava e não ia para crisma, até que eu fui expulso da crisma. Você não volta aqui. Mas ali naquele momento, eu também comecei a participar de... Porque assim a gente tinha contato, embora eu não participasse tanto, a gente tinha muito contato com a Teologia de Libertação, é aquele momento era muito forte na igreja. Então assim, a Teologia de libertação, veio primeiro como forma de contestar os pais. Eles queriam tanto que a gente fosse para igreja, mas não ela teologia da libertação, então eu assim eu vou na igreja, mas eu vou por essa tendência. E, ao mesmo tempo em que, a gente organizava o movimento estudantil, tinha um grupo de seminaristas dos padres Canossianos, uma congregação Italiana, e os seminaristas em Araras ficava o seminário menor deles, e acho
que em Ribeirão Preto ficava o seminário maior deles, de quem fazia formação universitária. Então, no movimento estudantil acabei fazendo
amizade com os seminaristas, os seminaristas eram todos numa perspectiva revolucionária, e a gente acabou tomando contato cada vez mais com a
Teologia da Libertação, e aí eu resolvi fazer crisma então, agora eu preciso...enfim se eu estou envolvido, também com a igreja agora eu vou me
crismar, aí eu fui fazer supletivo, fazer a madureza (risos) da crisma. E, fui assim, a gente juntou um grupo de pessoas que escaparam da crisma, que
estavam além da idade já, e a gente fazia com um catequista, eram três rapazes e um catequista no sábado às cinco da tarde, aí ele fez uma
formação e a gente acabou... Eu me acabei de crismando em oitenta, em 1987. E, aí a gente nesse ato contínuo comecei a participar do grupo de
jovens da igreja, até porque esses seminaristas queriam organizar, queriam não, começaram a organizar a Pastoral da Juventude Estudantil, que era a
nossa forma de interferência no movimento estudantil, numa perspectiva católica progressista, nessa lógica progressista. E, aí no grupo de jovens, eu
comecei a participar, no começo eu achei muito reacionário, muito perdido em termos sociais aquele grupo etc. Mas eu achei a coordenadora do grupo até
que assim bastante interessante, e em outubro de 1987 a gente começou a namorar, e eu já tinha tido duas namoradas até então, tudo em 1987. Tudo
para mim aconteceu, no segundo ano do ensino médio. E, no final do ano a gente começou a namorar, e já estamos casados, ano que vem a gente faz 30
anos de casado. Então, foi assim a minha namorada, e a gente começou em 1987, e a gente casou em 1993, nessa perspectiva. Aí dali do movimento
estudantil quando a gente... Ela era um ano mais nova, então ela já participou junto do movimento estudantil, quando a gente se formou no ensino médio, a
gente já no mesmo ano do movimento estudantil. A gente já começou a militar no PT, porque tinha os colegas de igreja que se candidataram a vereador pelo
PT é faziam toda a discussão e etc. Então, eu ainda sou, eu ainda peguei o PT romântico, que a gente fazia, vendia camiseta, vendia adesivo, fazia
feijoada para juntar dinheiro, dava dinheiro no bolso aí fazia campanha em cima de fusca, em cima de caminhãozinho ¾ que a gente mesmo montava
palanque pra fazer os comícios que ninguém ia. Ficavam três ou quatro assistindo os comícios do PT. Aí, comecei a militância no PT também, e como
eu falei eu casei em 1993, 1993 e nós. Nós ficamos ali eu participei de pelo menos duas campanhas municipais, fui praticamente coordenador de
campanha, de uma campanha de 1992 do PT, em Araras. E, nós nos mudamos, e eu comecei a dar aula em uma faculdade em 93, foi no mesmo
ano que eu me casei. Comecei a dar aula numa faculdade particular lá em Araras. Eu concluo meu curso de graduação em 1992, e comecei dar aula em
1993. E, em 1994, eu entrei no mestrado em educação, em 1995, a gente se mudou para Ponta Grosso, porque eu passei no concurso para professor
temporário, concurso não, teste para professor temporário. E, aí de 1995 em diante toda essa minha militância, ela acabou meio que esfriando muito, eu
perdi...eu não transferi o título, eu não fiz militância do PT aqui. Mas, aqui eu ajudei. Eu fui da Associação a Docência e ajudei a fundar o sindicato né,
vinculado ao Andes aqui na UEPG. Então, tive também uma atuação sindical no final da década dos 2000, no começo da década dos 2000. E, depois
acabei também me afastando dessa militância para outras coisas. Mas, acho que eu estou avançando muito o cronograma.
E1- De forma alguma, depois vou passar também para o Cristiano, mas só para você nos dizer é um pouquinho dessa vida afetiva. O nome da sua
companheira, o nome dela e se você teve filhos ou filhas? Quais são os nomes e como foi essa história da paternagem? Depois se Cristiano quiser
intervir depois da sua resposta, também o microfone vai ficar aberto.
R- Minha esposa é a Maria de Lurdes, a família dela é a família Massucato, também é uma família italiana, com algumas raizinhas na Áustria mais aí e
outra coisa. É então, ficou Maria de Lurdes Massucato aí ela contraiu, eu contraio casamento, e ela contraiu meu nome, e o nome da minha família
também. E, aí a gente teve em 1994 nasceu a Maria Luiza, que é minha filha mais velha e em 2000, duas semanas depois que eu defendi o doutorado
nasceu a Ana Cecília, que é a nossa segunda filha, temos essas duas meninas. E, a gente brinca que eu sou muito parceiro do professor Gonçalo De Merzula, que era ... ele se aposentou agora da Universidade de La Plata e tá só no mestrado de ensino de história, da Universidade Nacional de Três de Frebero, e o Gonçalo em exatamente a mesma configuração. Ele é casado e tem duas meninas. Aí, ele falou que fundaria Argentina a Assoromo, que é a
Associação de Hombres Rodeados de Mujeres. E, aí falei eu vou criar a sucursal Brasileira, da Assoromo, porque ele brincava isso vai dar... é uma
associação para dar auxílio psicológico, financeiro, e inclusive jurídico para homens que vivem em mulheres, que vivem em famílias só de mulheres. Mas,
acho que uma das vantagens, é que a gente vai... de ter meninas, ter filhas meninas só é que a gente vai mudando muito o modo que a gente encara a
relação homem e mulher. É eu acho que assim, as minhas filhas têm me tornado cada vez mais um companheiro da causa feminista, minha mulher
também, a gente sempre procurou ter até por conta da nossa perspectiva política e tal, um traço igualitário de divisão de tarefas de discussão conjunta
dos rumos da família e tal. Mas, a perspectiva mais ideológica e mais doutrinada de feminismo elas veem com as minhas filhas, por uma questão, até da geração que elas tão na qual elas se formaram. Então, esse é um pouco o quadro eu digo que eu me sinto muito à vontade, a gente tem uma piada interna, que fica registrado agora também, que eu sou péssimo em futebol. Uma vez eu fui fazer, foi muito engraçado, que eu estava daquele chinelo de dedo, e eu fui fazer embaixadinha com uma bola na frente da minha mulher, que estava grávida, e ela riu tanto que ela quase teve o neném ali mesmo, de tanta falta de habilidade que eu tenho. E, aí as pessoas falando você não se arrepende de não ter tido um menino: - “eu falo eu queria muito ter um menino para ensinar futebol pra ele” É, essa que é a piada que todo mundo da risada (risos). Eu não queria ensinar futebol para ele. Mas é mais uma brincadeira mesmo. É eu acho que eu assim me sinto muito tranquilo muito confortável nessa configuração familiar. Então todo mundo assim estudando fazendo as coisas e tal, mas todos nós moramos juntos né, até o momento. Vamos ver. A gente vai nesta perspectiva, porque elas estão estudando e sabe que algum momento elas vão sair de casa, e são fases que a gente vai ter que ir se acostumando. Todo mundo vai ter que se acostumar, mas todo estamos confortáveis. (Risos)
E1- Cristiano querido, você quer fazer alguma pergunta? Alguma questão sobre essa primeira etapa?
E2- Sim, eu fiquei com uma questão ali vou abrir um parêntese se o professor quiser cometar ou não sei se ele tem a resposta. Me chamou muita a atenção
quando você se referiu as professoras como donas, que é uma... eu vivenciei isso também, experenciei esse período, é quando você falou de professor
você falou professor. Esse. Ele tem alguma relação com o lugar, São Paulo, ou é da época mesmo é temporal. Por que eu nos anos 1990 e 2000, em
alguns lugares eu ainda ouvia os alunos se referir as professoras como donas, lugares, cidades que eu trabalhei não todos, mas na minha se referiam como
professor. É curiosa essa denominação.
E1- Uhm. Eu acho que tem a ver com essa região de São Paulo, é aquela coisa da cidade surgida em volta das fazendas de café. E, aí o Dona é um tipo é... e quase um título de nobreza, porque Dona de certa forma vêm de... Se a gente for lá ver o dom, que vem do dominus, e o dona e uma espécie de domina que é senhora. Então, é o jeito, eu não sei de outras regiões, mas eu sei que na nossa cultura, que é uma cultura caipira no interior de São Paulo, e o jeito de você dizer senhora, senhora fulano. Tanto que o professor, por exemplo o Leonaldo, eu não falo professor Leonaldo, eu falo seu Leonaldo, porque seu e a contração de senhor. Então, é muito essa relação e o que eu acho interessante nesse processo é eu chamo meus pais de senhor e senhora até hoje. Não peço benção, que não é mais minha geração pedir benção, mas a gente chama de senhor ou de senhora, mas as minhas filhas elas, não tem isso. Elas chamam pai, mãe, chamam pelo nome, mas não tem isso de chamar de senhora. Então, acho tem que a gente tinha essa relação de professores de uma certo distanciamento e reverência, pela questão da
idade, então assim os mais velhos a gente vai falar de dona ou seu, pros mais velhos, e pros professores, ainda mais porque os professores eles eram
naquele momento eles eram referências, não existia de um professor. Existia muito, muito isso sabe, a dona Araci da terceira série ela tinha uma prática de
beliscar e puxar a orelha da gente, que não ficava quieto na fila, isso era normal na época, assim, mas ele me beliscou e falava: - “menino se comporte melhor”. Porque é uma questão de hierarquia tão bem delimitada, tão bem estabelecida que os pais não contestavam isso né. Não tinha isso de aí meu
deus vamos lá reclamar da professora porque ela beliscou, se ela beliscou é porque você está errado, por algum motivo você criança está errado. E, a
gente também apanhou em casa, assim, a relação que a gente com essa questão de bater, questão, eu não vou chamar de violência física porque acho que não é exatamente violência física é repreensão com meios físicos, sei lá como a gente pode achar um termo para isso, mas, acho que isso tá muito ligado à nossa origem escravista, de você tem ali o vou corrigir meu filho. Vou corrigir o filho é: - “eu vou bater no meu filho”. Então, essas hierarquias todas elas estavam muito colocadas, e que vem os termos, essas formas de tratamento a dona e o seu, que são senhores, senhor e senhora.
E2- Quando eu comecei no meu magistério em 1996 eu já era o fessor ou sor.
R- Isso! Exatamente.
E1- Então, nesse bloco sempre rende tão boas histórias? Por conta desse primeiro bloco. Então, nesse segundo bloco, se chama o desenvolvimento do
trabalho, da nossa vida profissional. E, Cerri, eu queria saber como foi essa sua entrada, nessa sua vida profissional a formação a escolha pelo curso de
história, licenciatura, se foi a primeira opção. Então, que você contasse um pouco. Se foi lá em Araras, que você estudou? Como foi o seu passo, depois
que largou essa escola tão querida de que passou tanto tempo. E, se você lembra de algumas vivências marcantes nessa formação inicial, então vou
iniciar nessas duas perguntas porque depois vem coisas mais específicas do ensino de história? A primeira, e a visão profissional, de ser professor de
história de cursar licenciatura, se foi a primeira opção, contar um pouco, nesse ingresso na vida profissional e depois quais foram as vivências marcantes.
R- Então, a gente começa a fazer essas reflexões e começa a fazer essas escolhas, no final do ensino médio, e para mim no final do ensino médio foi a
questão dessa abertura para o mundo político, paro o mundo social, para o mundo afetivo, enfim a aeronáutica ficou para trás, o ITA ficou para trás, poderia ser muito legal, mas assim tinha coisa muito mais legal, muito mais interessante que isso. É como eu acabei passando de uma postura de aluno exemplar, pro aluno contestador. É eu lembro de uma situação muito interessante que o professor de biologia que era também um professor muito carismático, muito jovem. A gente encontrava com ele nos bailinhos, ele sempre estava por ali, e ele me chamou no canto uma vez e falou o que que tá acontecendo com você, que você anda tão contestador, anda tão rebelde, tirando suas notas caíram muito, que história e esse né, se você continuasse no ritmo que você vinha no ano passado você tinha uma vaga no ITA tranquilo, ou em qualquer outra universidade que você tinha no país você entra, você entraria na universidade né. É eu não lembro exatamente a resposta que eu dei pra ele, mas eu falei: - “olha isso aí ficou pra trás para mim, não é mais prioridade na minha vida, as coisas mudaram, mudaram muito, e eu vou pra outro canto.” A minha primeira perspectiva, porque ali no movimento estudantil você vai tendo contato, a gente foi no congresso paulista de estudantes,
mantendo contato com bastante coisa do campo da esquerda. E, então ali eu comecei a ler os Marxistas, comecei a ler... Ao mesmo tempo que, a gente lia
o Leonardo Boff, a gente lia Che Guevara, a gente lia o Marx, a gente lia o Lênin, a gente foi lendo tudo. É eu falei: - “não, não tem jeito”. Um cara que
não entende nada de marxista, mas eu adorava era o Jhon Kenneth Galbraith que escreveu um livro: - “Era da incerteza”, um economista, inglês keynesiano. E, tinha uma série de televisão exatamente nessa época sobre a história econômica, que era outra coisa que eu achava muito interessante. Aí eu falei, não meu campo é sociologia. Daí eu olhei a sociologia e eu falei não existe aula de sociologia no ensino médio, não se dá aula de sociologia e eu sei, porque naquele momento a gente já estava num processo de problemas financeiros bastante graves na família. Meu pai, por exemplo, ele foi o dono de uma oficina junto com o irmão dele, uma oficina de caminhões e ali naquele momento a gente já estava numa crise um pouco importante. E, eles estavam numa crise mais profunda.
R- Então, eu sabia que não ia ter facilidade, que eu ia ter que trabalhar para ter que sobreviver, não ia ter muito jeito. É falei sociologia não vai dar.
Sociologia talvez eu não consiga um emprego como sociólogo. Deixa eu... é assim, continuando como professor se eu me tornar professor, além de fazer
uma coisa que eu gosto, eu tenho uma oportunidade de militância mais direta em escola, no movimento sindical e assim por diante. E, a gente sentia muita
falta sabe? Quando a gente estava no movimento estudantil, a gente ia muito nas escolas para ajudar a criar grêmio e etc. É tinha muita resistência dos
professores, e eu pensava: - “poxa, como seria bom ter professores que nos apoiassem, que tal eu ser esse professor, que vai apoiar os próximos que vão
fundar o grêmio e etc.?” Então, eu acabei pensando: - “eu vou ser professor, mas eu vou ser professor do quê?” Aí, eu olhei em volta e a gente é vizinho da
cidade de Rio Claro que tinha o campo da UNESP. É ali em Rio Claro tinha o curso de geografia, então a primeiro vestibular que eu fiz foi para geografia. É
assim, com muito orgulho eu digo que eu passei em primeiro lugar no vestibular para geografia ali na UNESP. Mas, lá na igreja tinha um rapaz que era músico, fazia teatro e estudava matemática na Unicamp, e lá na igreja a gente conversando e tal, a Unicamp é legal e etc. Mas, acho que eu nunca vou conseguir passar na Unicamp, porque a gente tinha aquela áurea, aquela mística como a Unicamp como “A” Unicamp aquela coisa toda. É aí ele falou assim: - “eu acho que você deveria tentar a Unicamp, porque a Unicamp está buscando o teu perfil, o perfil de alguém que está olhando tudo, que está estudando, que tem um pensamento crítico, que lê, lê de tudo.” Aí eu falei: - “a o que pode acontecer, eu posso fazer o vestibular e não passar”; e, eu continuo em frente com a minha perspectiva de fazer geografia na UNESP, que em termos financeiros era muito mais tranquilo, porque da casa que a gente morava até a porta do curso de geografia em Rio Claro eram 20 minutos. Era muito fácil de estar ali, porque nesse eixo da Anhanguera as cidades estavam muito próximas umas das outras, quase não tem zona rural
ali. Então, ir para Rio Claro em termos financeiros ia ser muito fácil, muito tranquilo. Mas, ele falou: - “olha tenta, porque o seu perfil é o que a Unicamp busca”. É aí assim, as pessoas que são decisivas. Ele se chamava Miguel esse rapaz. Eu nem sei se ele terminou o curso de matemática na Unicamp, mas ele foi uma pessoa que falou olha tenta o que... eu imaginava que não seria possível. Fui passei e aí pesou né, na hora de você fazer geografia na UNESP ou história na Unicamp, eu acabei fazendo história na Unicamp. Um pouco por história, mais muito mais por ser Unicamp, por causa do nome que a Unicamp tinha, mais essa coisa do “oh a Unicamp”. É aí eu então, e acabei indo. Foi nessa perspectiva, acabei indo para história, e eu peguei um período, eu comecei o curso em 1989, então eu me lembro muito bem que eu já era militante do PT na minha cidade, e a gente teve a eleição em 1989 no segundo turno do Collor contra o Lula. E, a gente tinha assim várias disciplinas e a gente tinha também na grade nossa tinha naquele momento geografia e sociologia. É lembro que quando a gente chegou o segundo turno foi em dezembro, porque era 15 de novembro a eleição. E, aí quando chegou o segundo turno, eu fui ao professor de sociologia e falei: - “olha é o seguinte: eu sei que, eu não conclui os créditos, eu sei que eu não concluo todos os trabalhos, mas eu vou para minha cidade para fazer a campanha para o Lula, não tem...se isso vai me fazer reprovar paciência, semestre que vem eu volto e a gente conversa.” É a ela me passou algumas tarefas, alguns trabalhos, eu bati o trabalho, não sei se vocês lembram o termo bater trabalho, que é bater a máquina o trabalho, é acabei mandando pra ela, mandei pelo correio, não lembro exatamente como é que foi, mas assim nas outras disciplinas eu já tinha conseguido aprovação é fui fazer. Fui fazer campanha para o Lula, a gente fez tudo que a gente pode para ver se a gente elegia o Lula, e no fim não era daquela vez, não tinha que ser daquela vez. Mas já estava nesse movimento. Mas, o que marcou nesse período da universidade, é que eu entrei, quando caiu o muro de Berlim em 1989, e em 1991 quando eu estava no terceiro ano acabou a União Soviética. E, a nossa formação foi muito em cima do: - Olha! Esse negócio do marxismo é bobagem”. Nossos professores todos, e eu tinha professores muito famosos ali na Unicamp. Começando com Jaime Pinsky, mas por exemplo, o Batalha que hoje é representante, e coordenador de área na CAPES, foi meu professor, a Stella Bresciani, Zé Roberto Amaral Lapa, Paulo Miceli. Então, a gente tinha um dream time, que a gente dizia lá, um time dos sonhos de professores. Mas eles estavam o tempo todo dizendo olha vou jogar fora meu livro de marxismo, e a gente brincava olha professor: - “quando for jogar fora, avisa que a gente vai de baixo da janela pegar os livros” (Risos). Para poder ler que a gente não tinha acesso a tudo, a todo esse material. Então, a gente assim acompanhou com uma certa descrença esse desembarque do marxismo, mas ao mesmo tempo a gente recebeu essas tendências pós-marxistas, essas abordagens da escola dos Annales, alguns discursos começavam a chegar na educação para uma perspectiva neoliberal. Então, a gente recebeu o primeiro impacto disso em termo de estudo e de leitura, e como a gente estava ligado ao movimento estudantil. Eu tive uma participação discreta no movimento estudantil na Unicamp, porque eu já era secretário do PT de Araras, tinha um monte de compromisso, não ficava o final de semana em Campinas até porque eu estava namorando já a Lurdes. Então, não ficava e ia para Araras fazia essa militância de igreja de partido e etc. Mas ainda sim, eu ia em algumas reuniões, participava de algumas coisas do movimento estudantil lá da Unicamp, e a gente ia acompanhando esse processo com uma certa resistência. É o ano que eu terminei o curso que foi em 1992, foi o ano do impeachment do Collor. Então, foram essas coisas que marcaram, podemos dizer que foi uma graduação agitada, porque eram essas coisas que estavam acontecendo naquele momento. É quando acontece o impeachment do Collor a gente tem... a gente consegue como país dar um freio de arrumação naquela primeira investida neoliberal. Acho que a gente consegue segurar e atrapalhar um pouco esse movimento, que depois ia ser retomado pelo Fernando Henrique, e aí veio com tudo, essa onda veio com tudo acho que
até, conto depois, que atrapalhou minha perspectiva de doutorado, não tinha financiamento, não tinha bolsa, foi nossa um período muito complicado. Mas
eu penso, assim eu acabei indo para história pela questão da Unicamp. Eu fiz uma trajetória que começou com a história política, porque eu estava
envolvido. Então, eu fui na iniciação científica né, meu primeiro orientador foi o Zé Roberto Amaral Lapa, mas assim nossa você foi orientando do Lapa, eu
digo mais ou menos, porque o Lapa tinha 800 orientandos, e quintas e sextas ele estava no plantão pra orientar. Então, você chegava no centro de memória
que ele era diretor, e você sentava e a gente brincava que era a fila no INPS, não tinha o SUS, ainda. A gente sentava na fila do INPS. E ficava, cinco
minutos com o Lapa para ele orientar a gente, mas assim os cinco minutos que ele orientava, eram os cinco minutos precisos que a gente acabava
aprendendo tremendamente. Então, comecei pesquisando ali com o Lapa história econômica. Eu pesquisei ferrovias no estado de São Paulo, daí eu...
não sei porque eu não continuei com o Lapa. Eu consegui uma bolsa de auxiliar de pesquisa do Robert Lemes, Bob Lemes aí fui pesquisar demografia
e história da escravidão. Fui pesquisar não, fui ajudar ele na pesquisa dele nesse campo e a última pessoa, ultimo professor que me orientou na
graduação foi a Vavy Pacheco Borges de volta pra história política. E aí comecei a estudar a oligarquia Paulista, chegando próximo a revolução de 32
e etc. E, essa foi mais ou menos a minha trajetória. Mas, ao mesmo tempo, naquele momento não existia linha, não existia perspectiva, assim a Ernesta
Zamboni que foi minha orientadora de mestrado e doutorado, ela estava fazendo o doutorado dela naquela época a Elza Nadai, ou com a Raquel?
Agora não consigo lembrar quem foi orientadora dela, mas enfim, quando ela foi nossa professora de estágio, ela é a Carolina Galzerani. Ela estava
terminando do doutorado dela. É a Carolina terminou depois, e duas coisas me chamavam muito a atenção. Tinha um descaso até um pouco de desprezo
muito grande no estudo de filosofia e ciências humanas com o pessoal da educação, tinha piadinhas machistas, assim: - “eles não são tão bons quanto
a gente e etc.” É tinha um pouco o seguinte também sabe, a gente recebia aluno especial da PUC, que também tinha curso de história, e a gente
percebeu que tinha o desprezo dos colegas e de alguns professores em relação a esses alunos, e aquilo assim me desagradava profundamente: - “o
que a gente pensa que a gente é para”... Há eu tive uma experiência muito legal também de pesquisa, eu esqueci de falar, com o Marco Aurélio Garcia
que depois virou secretário do Lula para política internacional, eu tive assim a muito pouco de estudar o acervo que o Lula mandou para Unicamp, e também
acabou não acontecendo. Eu fiz uma disciplina, um tópico que a gente fazia com professores. Então, não cheguei a ser orientando dele em iniciação
cientifica até porque ele desaparecia. Como ele trabalhava com relações internacionais do PT, ele sumia por três, quatro semanas alguma coisa assim.
É fui uma experiência que eu tive ali na graduação. Mas, eu tinha um pouco esse...ao mesmo tempo, que havia essa resistência com a educação e com
era de fora da Unicamp, que era uma coisa que me incomodava muito: - “você achar que era melhor que os outros por algum motivo, até porque minha
formação anterior, minha formação naquele momento era vinculada a teologia da libertação, era Paulo Freiriano, antes de ler Paulo Freire, por conta da
teologia da libertação.” A gente fazia trabalho de base na zona rural sabem, a gente dizia assim esse trabalhador rural pode não ser estudado, mas ele
sabia muito mais coisa que você. A gente já tinha dessa perspectiva de não aceitar isso, e eu acabei pensando assim, vou fazer alguma proposta no
campo da educação. Isso somava o fato de Vavy Pacheco Borges, eu falava Vavy: - “eu vou me candidatar ao mestrado aqui”, e ela falou: - “não você está
muito cru, estuda mais um pouco, espera mais um ano, faz alguma coisa aí você”. Aí eu falei: - “enquanto eu espero mais um ano, eu vou tentar fazer
mestrado na educação”. Aí eu conversei com a Ernesta, desenhei um projeto que era baseado no que eu estava estudando com a Vavy, que era sobre as
oligarquias Paulista a história política de São Paulo, procurando adaptar aquilo para uma perspectiva de história da educação, mas não a história da
educação escolar, também a história da educação escolar, mas não aquela perspectiva que a história da educação tinha que era acompanhar legislação,
acompanhar reformas aquilo. Mas, uma perspectiva de história cultural da educação. Ou seja, como as ideias históricas circularam alunos e professores
vinculados a questão da revolução de 1932, que foi um momento máximo, foi o ápice do poder dessa oligarquia Paulista. E, acabei fazendo essa proposta
para educação, mas outra coisa que eu acho importante dizer da minha graduação e que no terceiro ano eu já comecei a dar aula como professor
substituto. Só que aí como eu já tinha uma militância política e religiosa lá em Araras o que eu fazia era disputar aulas, que ficavam na quinta e na sexta
feira. Então, na quinta-feira eu assistia a aula na Unicamp, pegava o ônibus que era uma hora de Campinas pra Araras é uma hora de viagem, ia para
casa tomava um banho rapidinho, pegava o fusca do meu pai. Daí eu ia lá para periferia, para última escola, para o último bairro da cidade, para dar aula
na quinta é na sexta-feira.
R- Então, eu já comecei a dar aula durante a graduação. No terceiro e no quarto ano eu trabalhei numa escola de periferia lá em Araras. É acho que foi
mais um menos por aí que eu acabei decidindo ser professor, e não pesquisador, e acabei sendo pesquisador também depois (Risos). Mas a
decisão de fazer mestrado, eu lembro de estar discutindo com o meu irmão mais velho, como o José Alberto, que a gente chama de Beto. É eu falei: -
“olha, eu quero ser professor, e acho que o que eu tenho para trazer pra sociedade, tem que ser via, via ser professor não continuar, não vou fazer
mestrado nada”. Aí ele falou: - “só que se você faz mestrado aquilo que você tem pra passar adiante, aquilo que você tem pra contribuir você pode ser
professor universitário é você pode multiplicar isso, não precisa não ser professor, mas se você quiser avançar na carreira e se um dia você chegar a
ser professor universitário de modo, que você achar que tem que ser, você vai disseminar isso, isso vai te dar um poder multiplicador”. Aí, eu acabei
decidindo fazer mestrado. E, deu certo, da gente praticamente abrir a área de pesquisa em ensino de história na faculdade de educação da Unicamp, que
até então não era um tema, nem para história, nem para educação. É eu tive essa oportunidade. Eu não fui exatamente o primeiro orientando da Ernesta
Zamboni, porque a Maria do Carmo Martins, que acho que se aposentou na faculdade de educação da Unicamp. Ela tinha entrado algum tempo antes,
mas a gente estudou juntos, a gente praticamente estudou junto e a gente praticamente abriu a área de orientação de pós-graduação no ensino de
história na Unicamp.
E1- Nossa, que responsabilidade, Cristiano. Então vamos. Nesse processo Cerri se você lembra ainda, quais eram as principais referências que vocês
mobilizavam nesse debate de formulação de um projeto, abertura de um campo, com os orientandos da professora Ernesta na Unicamp. Se essas
referências seguiram ao longo da tua trajetória como intelectual, como professor, se você lembra, se elas continuaram, e quais foram... acho que pra
encerrar, pra não emendar, se não vai ser outro assunto, mas desse momento, como era o espectro você não seguiu na história, você começou lá,
quais eram as leituras, o que você mobilizou pra junto com essa outra colega serem os primeiros orientandos.
R- Eu sou daquelas pessoas que podem dizer, que quando chegou aqui era tudo mato (risos). Porque tinham três livros do ensino de história na biblioteca,
eram três livros, uma revista que era um caderno do CEDES número 10, que era sobre o ensino de história, e, tinha aquele livro que a ANPUH lançou que
o Marcos Silva organizou, que era o Repensando a história, e a gente tinha o Ensino de História revisão urgente, que era da Conceição Cabrini, toda uma
equipe que era vinculada ao pessoal de São Paulo, pessoal da PUC de São Paulo. E, a Conceição Cabrini foi descobrir depois que ela também é de
Araras, é agora ela se aposentou e voltou para Araras, então, a família Cabrini, inclusive conheci muita gente Cabrini, e não imaginava que ela
também era ararense. Agora ela está morando lá. Ela já conquistou o direto de voltar para Araras.
R- É assim eram essas três referências que a gente tinha em ensino de história. Um pouco depois, acho que o livro da Selva, que saiu pela papiros
ele era para gente uma coisa muito recente, aquele...é... esqueci o nome puxa, ensinar a história e o da tese, mas era do mestrado dela, esqueci o
título, do primeiro livro da Selva Fonseca que era o que estava chegando de mais novo, artigo praticamente não existia, livros eram esses, de vez em
quando alguém fazia...O primeiro evento de ensino de história que nós tivemos foi o perspectivas, a gente tinha o perspectivas que foi em 1988, portanto tinha sido um ano antes de eu entrar na universidade. Aí a gente teve o segundo perspectivas, que acho que foi em 1992, na verdade não foi em 1992 não. Porque eu lembro que eu já participei como professor e foi depois, acho que foi 1995, o segundo perspectivas teve um baita intervalo entre um evento e outro. É o primeiro, pesquisadores foi em 1993, então quando a gente entrou em 1992, a gente tinha basicamente isso, o perspectivas que era um tijolão assim, muita coisa desigual sobre o ensino de história, aquele caderno do CEDES e aqueles dois livros. Então, era uma área que estava tudo assim, por fazer. A gente tinha a dissertação de mestrado da Circe, que depois virou livro, que era uma outra referência também. E, aí tinha assim a tese da Elza Nadai, mas assim cabe no dedo de duas mãos tudo que a gente tinha de referência na época, a gente tinha que começar praticamente do zero, e a nossa influência na graduação acho que assim, ali na Unicamp
principalmente por conta do pessoal da área de história social do trabalho, mas também o pessoal do ensino de história, a Carolina trabalhou muito com
gente perspectiva do Thompson. Então, o Edward Thompson foi uma referência importante é era uma referência que encaixava, na ideia no direito de classe, tudo, não era difícil de encaixar na referência de classe, tanto político quanto educacional, acho que fica mais fácil reconhecer que nossa influência freiriana, era muito forte, muito decisiva, e a gente acha, a gente avaliava que era uma coisa que dava para encaixar. Então a gente fez... isso que eu digo, apesar de estar muito interessado no ensino de história, a minha dissertação ela tem um pé, de dois pés, ela tem um pé pelo menos na história da educação, mas a gente tinha ali. Acho que principalmente o Thompson, os franceses todos que era o curso de graduação daquela época era Duby, Le Goff, Marc Ferro, eram essas referências importantes na nossa formação. É nós começamos a fazer leitura ali junto com Paulo Freire da pedagogia crítica norte americana, nós...talvez acho que generalizando. Eu fui muito atrás disso porque era a referência que a gente podia buscar. Por exemplo, um dos primeiros textos que eu li que me levou para essa direção, foi os rituais na escola do Peter Mclaren, porque eu estava exatamente preocupado em entender, como que os processos de festas cívicas referente a revolução de 32 nas escolas Paulistas funcionavam nesse processo de circulação de determinadas visões da história. Então, assim um dos capítulos da minha
dissertação ela vai nessa direção. De o que são, como funcionam e como foram as festas cívicas articuladas com a noção da paulistaniedade. E, aí a
gente estabelece esse contato. Aí, eu começo a ler outros autores também vinculados, o Michael Apple, e toda a sequência desses autores que vão
chegando na...nessa discussão. Então, assim na... da graduação para o mestrado a gente foi chegando nessas referências nesses autores. No meu
doutorado, na introdução eu digo tem alguma coisa que está aí que a gente não consegue definir muito bem que é, aquela história do cego descrevendo
um elefante. É esse elefante é aquilo que a gente chamava de consciência histórica. E eu defendi no finalzinho de março de 2000 a minha tese de
doutorado preocupado com questão da consciência histórica. E, eu não tinha... apesar do Rüsen ter vindo para o Brasil em 1987, inclusive para
Curitiba, para São Leopoldo, em vários lugares que o Rüsen vinha. Ele vinha pela história, para discutir com pessoal de história, é isso não estava
articulado. Essa discussão não estava articulada com o ensino da história. Então, foi uma figura, até acho muito engraçado que a gente discutia, no
doutorado, eu já estava aqui como professor do EPG, e tinha um número da revista história: questões e debates, que tinha dois textos um era do tal Mayer,
sobre a identidade nacional, que era discussão que eu estava fazendo. E, o texto seguinte que era do Rüsen. Eu fui descobrir dez anos depois que eu fiz
xerox de um texto vizinho do Rüsen, no final dos anos 1990. E, eu não citei o Rüsen. Então não entrou na minha tese de doutorado, porque eu não li, não
me chamou a atenção, não foi uma coisa interessante. É daí assim, as minhas referências para discutir, para começar a arranhar o conceito que acho que é
caro para mim, embora eu acho que está desgastado, tenho uma série de coisas para dizer sobre isso, que é o conceito de consciência histórica. É ele
veio para mim através da Agnes Heller, que eu fui conhecer da biblioteca da faculdade de educação, não foi nem da história foi lá da educação que eu
acabei achando é buscando. Buscando esse conceito de consciência histórica e do Marc Ferro nos textos, de falsificações de história que ele vai... é outros
livros dele que ele vai falar de consciência histórica, mas não é nessa perspectiva tão analítica, tão interessante que o Rüsen trabalha. É acho foi assim essas referências, que a gente mobilizou lá no começo. É aí lógico vai chegando ao longo do comecinho dos anos 90, a gente vai conhecendo, a gente já conhecia a dissertação, mas a depois a gente conheceu a tese da Circe, a tese da Ernesta, a dissertação da Selva, que vira o livro. Meu Deus do céu! Como é que sumiu!? Ela basicamente estudava no primeiro livro dela a questão do como que a gente superou os Estudos Sociais, ao longo da ditadura militar para reconstrução do estudo do ensino da história. É daí assim, no começo dos anos 1990 a gente começou a crescer, começou a avançar e ali a gente teve em 1995 eu acho, a gente teve o segundo pesquisadores do ensino da história, 1995 ou 1997, não 1997 em 1995, no pesquisadores foi pelo pessoal da UFF, em Niterói, mas o encontro foi na
praia vermelha, lá no Rio. Esse foi o primeiro encontro que eu fui no ensino da história foi em 1995, é aí o seguinte foi nós que organizamos lá na Unicamp lá
em 1997. Então, ali nesse momento começou a surgir muito mais gente, é a gente passou a ter contato com várias outras pesquisas, com muitas outras
pessoas que foram aparecendo, publicando, pesquisando. Eu acho que foi 1995, que surgiu a Revista História Hoje. A gente foi tendo contato com os
primeiros números, e de lá para cá, a gente tem esse processo de expansão geométrica da área.
E1- Cerri, então que bom! É hoje, a gente queria saber quais são os conceitos que os autores que influenciam, se foi até a década de 1990, é hoje quais são
essas referências esses conceitos que acabam norteando seus estudos, teus trabalhos? É após responder essa questão é se você poderia falar um pouco
sobre as suas atividades como professor. Onde você atuou, o ano que você iniciou você já falou um pouco mais, queria que você entrasse um pouco
nessas atividades como docente, seja na educação básica ou no ensino superior.
R- Certo, eu acho assim, eu venho mais ou menos, no comecinho dos anos 2000, quando eu defendi o doutorado. É eu comecei a trabalhar na ideia de
construir, replicar no Brasil o projeto Youth and History do pessoal da Europa, e conversando com alguns deles, eu lembro que eu fiz contato com a Nicolle
Tutiaux-Guillon e o François Audigier. Eles falaram, olha estou preocupado com essa questão aqui e tal, o que vocês poderiam me sugerir, olha tem um
cara aqui chamado John Rüsen, que a gente utilizou como nosso referencial pra esse projeto. Vou buscar, vou ler e em 2001. Saiu...em 2000, acho que foi
2000, 2000 ou 2001, que saiu a primeira publicação, primeiro livro do Rüsen, que era Razão Histórica, é que eu lembro que eu li assim que saiu, duas ou
três vezes, que não era um autor fácil ler. E, ali que vi que tinha uma interface muito interessante com a questão do ensino de história, é era um autor que eu
estava buscando. Então, assim o primeiro texto de ensino de história mencionando Rüsen, sem ninguém me apresentar, outro acho que foi o meu, em 2001, na revista de História Regional aqui da UEPG. Em que eu falo: “Possibilidades do conceito de consciência histórica”. Então, essa discussão da consciência histórica ela... de certa forma ela foi eixo, ela estudou, tem estruturado a minha carreira como pesquisador. E, daí do Rüsen, vão vir outros pesquisadores, além dele que a gente tem tentado seguir, tentado acompanhar com toda dificuldade, acho que...Desculpe, eu esqueci do Klaus Bergman, que é do grupo do Rüsen. Ele tinha um texto traduzido que foi fundamental para minha tese, e acho que é um texto que até hoje é importante. Como eu nunca achei tempo, nem sei se eu conseguiria aprender alemão. A gente acaba não se aprofundando mais, a gente fica muito tempo dependente do que tem do Rüsen. E, Sadi lá da Federal de Goiás, diz que: -
“a gente fica muito limitado por conhecer só Rüsen”. É de fato é assim, acho que isso é um grande problema. Eu penso assim, eu tenho trabalhado muito
em cima da perspectiva de fazer pesquisa quantitativa no ensino de história. É em busca de alguma coisa, ainda em busca disso, o que é esse éter no qual
as ideias históricas, circulam na sociedade. Hoje eu tenho avançado mais para o conceito de cultura histórica, que eu acho que é mais abrangente é
mais explicativo, muito individual eu diria que assim quase que uma abordagem neoliberal, não é. Vamos dizer isso aí que o Rüsen é neoliberal, longe disso, ele é um centrista, e é outra perspectiva, mas abordar esse fenômeno pela perspectiva de um fenômeno mental e individual é muito limitante. É uma posição que a gente assume. E, na perspectiva de estudar isso na lógica da coletividade, ou seja, da formação de acervos culturais coletivos me parece muito mais interessante. Por isso é um conceito Rüsen trabalha também, mas outras pessoas trabalham, de cultura histórica que tem me chamado muito mais a atenção hoje. E, desde de meu pós-doutorado que eu fiz na ciência política, eu tenho tentado conciliar esse conceito, com o conceito de cultura política, com o conceito de cultura histórica com o conceito de cultura política. Entender quais são os componentes históricos da cultura política e quais são os componentes políticos da cultura histórica, então eu tenho procurado ir por essa direção. E, acho que quando acabar meu mandato na ABEH, e quando acabar meu mandato na coordenação do curso. Eu vou poder voltar a me dedicar a isso com a intensidade que eu gostaria, mas eu penso que é esse o caminho que a gente está andando. Em termos que pensar a escola, eu sempre gosto da perspectiva da pedagogia crítica, tanto nos autores norteamericanos, quanto da pedagogia crítica que se faz no Brasil também, Tomaz Tadeu da Silva, com esse pessoal todo aí, com o Gondin. Uma série de autores que têm procurado trazer e procurar essa perspectiva, é uma coisa que eu tenho usado também trazer na formação do professor seja inicial, seja continuada.
R- E, assim no ano passado um grupo de pesquisa no qual que eu lidero desde de 2003 que é o GHEDI. A gente fez dois momentos de estudos, um foi dos autores decoloniais, então isso foi, a gente levou oitos meses, e depois a gente leu todas as obras do Paulo Freire, todos os livros, da obra é demais, a gente leu todos os livros do Paulo Freire ao longo de oito e nove meses é veio estudando isso, então acho que essas são referências, não só minhas mas
desse grupo que a gente de certa forma tem tentando nuclear ao longo do tempo, é a outra era sobre as ações que eu desenvolvi.
E1- Suas atividades profissionais, como professor na Educação Básica, no ensino superior, como é que deu essa relação. Você contar pra gente um pouco como é que foi essas principais ações como docente.
R- Certo, então em 1991 como eu falei. Eu comecei a dar aula como professor extraordinário, na rede pública do estado de São Paulo, 91, 92, 93 é como
professore dessas redes. 1994 eu comecei mais não terminei, porque eu passei no mestrado é comecei a receber bolsa. Então, eu optei por ficar com a
bolsa, fazer pesquisa e não continuar na rede estadual. Em 1993 eu comecei a dar aula na Faculdade de Ciências e Letras, na cidade de Araras, e fiquei
1993 e 1994, é em 1995, comecinho de 1995. Eu fiz o teste seletivo para professor temporário, o colaborador aqui na UEPG, que eu fiquei 1995, e
1996. E, a pergunta assim porque a UEPG? Por que Ponta Grossa? É por que meu irmão namorava a qual, a qual não a esposa dele e ela trabalhava aqui
em Ponta Grossa, toda...meu irmão fez a graduação dele em São Carlos, na Federal de São Carlos. E, lá ele conheceu a Marcia, a esposa dele, é a Marcia
em todo grupo da química e da engenharia de materiais fez concurso e veio pra cá, a universidade falou vamos abrir um curso de engenharia de materiais,
ninguém tem engenharia de materiais. Aí todo mundo veio pra cá, aí tinha uma comodidade de pessoas, aqui da química e da engenharia de materiais
que de certa forma acolheu, ele falou olha vai abrir teste seletivo você não quer fazer? E, eu fazendo o mestrado falei vamos embora e daí fiz o teste,
passei e me mudei pra cá. E, aí foi assim a gente desmanchou a casa, eu me casei em 1993, a Maria Luiza nasceu em 1994, e a gente se mudou pra cá,
em 1995, mas ela nasceu em julho. Então, ela veio pra cá com seis meses de idade, ou seja, a gente veio assim eu tinha 23 anos na época a Lurdes tinha
22, e a Malu tinha 6 meses. E, a gente veio assim bem na loca mesmo, com um salário que eu lembro que o salário de colaborador era 500 reais, e a
gente veio com salário de R$ 500,00 reais para morar no Paraná, para arriscar morando aqui no Paraná, e aí eu fiquei esses dois anos como colaborador na EPG, professor de estágio. E, daí em 1996 eu comecei a trabalhar também nas escolas particulares da cidade. Então, eu fiquei em 1996 trabalhando em duas escolas articulares aqui em Ponta Grossa, em 1997 eu fiz o concurso público em março, em fevereiro, e a gente já foi contratado em março. Então, 13 de março de 1997 comecei com professor efetivo da UEPG, e estou até hoje, completando, portanto, desde o comecinho desde de magistério, trinta anos, esse ano vou fazer. Já fiz 30 anos de magistério, e acho que vinte e sete de UEPG, vinte e seis de UEPG, alguma coisa assim. Então, já sou da geração dos dinossauros da universidade, a gente vai vendo o pessoal desde quando a gente estava aqui. A gente chegava e tinha o pessoal que estava a muito tempo na universidade, e a gente falava “nossa!” e de repente esse pessoal vai se aposentando, aposentando a hora que você olha, em volta fala: - “Eu estou entre os mais velhos do departamento”. Eu sou, eu acho a gente tem um número de pessoas que entrou no ano de 1990. E, eu sou de 1995. Então, esse pessoal de 1990, tem grande parte que está se aposentando, mais ainda está tranquilo, pois eles vão levar mais alguns anos para se aposentar, mas logo é a minha fase. Minha vez, daqui a pouco a gente já vira decano no
departamento, mas isso já fazer parte do processo.
R- E, eu acho que na universidade, eu lembro tem uma parte sobre extensão, na universidade meu primeiro projeto de extensão foi um projeto chamado: -
“Brasil outros quinhentos” que era, a proposta era a gente construir coletivamente um documentário em vídeo, discutindo o problema do Brasil, do
quinto centenário do descobrimento do Brasil, e preparar atividades didáticas. E, então a gente fez, a gente criou o vídeo, eu devo ter ele em algum lugar até
hoje. E, daí a gente andou com esse vídeo, em associações de moradores da periferia da cidade durante os anos 2000. E, nós fizemos trabalho de formação de professores, nós criamos material para trabalho de grupo de professores. Então, esse foi o meu primeiro grande projeto de extensão. Eu comecei a atuar na pós-graduação na Universidade Federal do Paraná. Eu fui convidado pela professora Maria Auxiliadora, assim que eu terminei o meu mestrado. Porque assim, ao eu entrar na UEPG, e começar a participar do movimento sindical, eu logo me dispus as pessoas que estavam mais no poder na universidade. Inclusive não sei nem se eu posso dizer isso mais, não vou nem dar detalhes, mas eu cheguei a ser ameaçado no começo quando eu estava em probatório ainda, ameaçado de demissão por conta da atuação no sindicato, é mais pra frente isso acabou fazendo com que a gente ficasse persona non grata. Então, quando eu terminei o doutorado eu fiz o processo, falei quero entrar no mestrado. Quero dar aula no mestrado em educação e aí o pessoal do mestrado falou não, não precisa, agradecemos muito, mas seu trabalho aqui no nosso mestrado. É porque você pesquisa São Paulo e aqui é Paraná, na verdade nem se deram o trabalho de olhar a minha tese, minha
tese era sobre milagre econômico e os processos de memória, e de aprendizagem histórica, mais enfim. E, aí eu fiquei meio, sem pai nem mãe, tem gente que disse, vai para o outro programa, eu falei não vou pra outro programa eu quero lecionar, porque eu tenho alguém com doutorado em educação, que não pode dar aula no mestrado em educação na UEPG. Eu vou ficar fora para tencionar, isso para que essa pergunta seja feita. E aí eu acabei recebendo o convite da Maria Auxiliadora Schmidt pra trabalhar no mestrado como colaborador no mestrado/doutorado em Educação da Federal do Paraná. E, eu fiquei lá de 2002 até 2005, e eu orientei três mestrados, e depois a gente se desentendeu, por coisa que envolvia também o GT de ensino daqui do Paraná, que nesse período acho que em 2004, 2005 eu me tornei coordenador do GT de Ensino de História do Paraná, e ali a gente acabou se desentendendo, e cada um seguiu o seu rumo e eu terminei
minhas orientações. Na verdade assim, a gente se desentendeu e a CAPES começou a avaliar mal os colaborador, os colaboradores eu lembro que teve um época que a gente...a nossa produção não somava, mas o nosso número dividia a produção média dos professores, então falei o gente não quero atrapalhar o programa, mas vou sair e tal, mas vou sair até porque ali nesse período 2004, tinha acontecido uma mudança importante geracional no UEPG, e aquele pessoal que disse não, não venha para o nosso mestrado aqui você não interessa, saiu. E, o pessoal que teve que pegar o rojão, segurar o rojão, por que assim as principais pessoas que já tinham construído o programa, e tal saíram e que deixaram os moços ali, desesperados para conseguir dar conta de todas as orientações, de produção, etc. E, aí me chamaram, falaram venha pra cá e aí acabei me integrando no programa de educação. E, lá na educação, eu fiquei de 2004 até 2017, alguma coisa
assim. Até 2017 e 2018, eu sei quando surgiu o ProfHistória aqui, eu já estava. E a gente concluiu em 2004, 2005, não pera aí desculpa, 2012, 2013 e aí a gente começou o mestrado acadêmico de história, quando a gente criou... Eu estava dando o mestrado em acadêmico história, no mestrado e doutorado em educação, e quando a gente começou o profHistória, Eu falei: - “não, eu não consigo mais ficar no doutorado de educação”. Eu fui nesse período então, pensando nessa coisa organizativa, eu fui coordenador do GT de ensino do Paraná. Eu fui diretor, fui presidente da ANPUH Paraná, acho que isso foi 2006, 2007 alguma coisa assim, daí eu fui coordenador do GT de ensino junto Elison e a Margarida acho que foi 2008, 2009. Foi ali que a gente criou a lista de discussão do GT de ensino, pessoal gostou muito, foi muito interessante. E, aí a Ana Monteiro ela era segunda secretaria da diretoria nacional, e ela me ligou, e me convidou falou olha a gente conversou com algumas pessoas aí, o trabalho que vocês fizeram foi bem legal do GT de ensino, você não quer assumir a segunda secretaria, e aí eu topei, assumi e participei na gestão da ANPUH 2009-2011, comemorou os 50 anos da ANPUH. E, nesse período também a gente teve que se adaptar ao novo código civil, e aí nós consolidamos no estatuto da ANPUH, que a segunda secretária é para as questões de graduação, paras questões de ensino de história. Isso está em estatuto. Eu lembro que uma vez lá em Recife um colega perguntou: - “mas o que que obriga que a segunda secretaria seja voltada para o ensino de história?” Falei está no estatuto da ANPUH, mais nada, além do estatuto da ANPUH, mais nada, o que seja. E foi nesse momento que a gente fez essa transição, de lá pra cá não assumi mais cargos na ANPUH, e aí no final da década de 2018, que a gente teve um encontro perspectivas, em Porto Alegre que eu me dispus, formamos uma chapa e eu fui eleito pra presidência da ABEH. Em 2018 ainda, no comecinho de 2019 a gente tentou regularizar a situação da ABEH que ela é de 2006, que eu estava na fundação da ABE em 2006, mas a gente não conseguiu, e aí o que a gente fez foi meio que refundar a ABEH que é um outro CNPJ. E, isso foi feito na assembleia de 2019. Então, eu fui presidente da antiga ABEH de final de 2018 comecinho de 2019, mas a gente refundou a ABEH, e aí a gente mudou um pouquinho a diretoria, mas eu continuei na presidência de 2019 até 2021, e agora a gente está, no segundo mandato na verdade, não é o terceiro mandato, a gente fundou uma outra entidade, mas eu não pretendo continuar ... nem o estatuto deixa nem eu pretendo continuar nesse segundo mandato que vai até 2023. Na graduação ainda em 2010, eu fiz uma proposta, abriu um edital no PET do Programa de Educação Tutorial, vinculados a CAPES, vinculado ao MEC, eu fiz a proposta para criação do PET de história da UEPG em 2010, e aí eu o primeiro tutor. A gente conseguiu, nosso projeto foi aprovado, eu fui o primeiro tutor. Então, eu fiquei de 2010 até 2014 como tutor do PET, e aí a gente teve muita atividade de extensão mesmo, a gente tinha um jornalzinho para escolas que chamava: - “POP História”, que era a gente trabalhar com os perspectivos da história da cultura POP, para fazer vinculação com o conteúdo de história. A gente distribuía nas escolas para os estudantes, e a gente fazia pesquisa de opinião, de gostos, de afetos e de ideias dos estudantes sobre história, utilizando a metodologia do projeto residente ... jovens em história. Pegava todo aquele material e fazia a formação de professores, um exemplo do que a gente fazia no PET. Em 2015 eu acabei passando o bastão no PET, e em 2015 eu fui eleito diretor do setor de humanas, aqui da UEPG, e fui até o comecinho de 2019, foram quatro
anos de direção. E, eu diria assim, o setor de humanas seria uma espécie de Centro de Ciências Humanas, que a gente tem aqui na universidade, são seis
setores. Eu era diretor de um deles, então foram quatro anos de muita atividade administrativa, e muita coisa de gestão cientifica, mas foi um período
que assim, para mim, eu me afastei muito de ir para congresso, de participar de eventos ... Boa parte dos eventos, eu não fui pra Aracajú, eu não fui pra
São Paulo, eu não fui pro Rio de Janeiro nos eventos da ABEH, por que eu estava envolvido com a atividade administrativa. Ajudei a construir a
corregedoria de assuntos estudantis, aqui na universidade, e estava para ser pró-reitor na mesma época, que eu me elegi presidente da ABEH, e aí eu
desisti da pró-reitoria. A equipe foi eleita e eu não podia ser nomeado próreitor, quando o reitor foi eleito por que não existia a pró-reitoria, mas vamos
três meses criando, construindo, elaborando e finalmente foi aprovado nos conselhos e na hora de eu ser nomeado eu conversei com o reitor e falei “olha
eu não vou dar conta! E é melhor a gente fazer em uma outra perspectiva” foi muito interessante por que a gente conseguiu em uma cidade do Sul do Brasil
que acha que os negros não existem que a gente já tinha brigado lá atrás pra criar cotas pra negros ... na universidade etc... foi interessante por que essa
minha desistência criou as condições pra que o reitor pudesse nomear a primeira mulher negra pró-reitora na UEPG, para essa pró-reitora de assuntos
estudantis, que é uma pessoa fantástica no curso de letras ... e de certa forma não deixa de ser uma contribuição, não fui pró-reitor mas a gente criou a
oportunidade para que uma pessoa ai com uma relevância social, étnica tão importante pudesse assumir essa pró-reitoria, que agora na pandemia foi
decisiva, foi uma das prós reitorias mais importantes pra dar conta da...dos estudantes se manter na universidade é tudo. Eu não sei se eu falei, eu acho
que eu estou fazendo, assim um sobrevoo das coisas que eu fiz, mas eu acho que essas talvez sejam aí uma das mais importantes da carreira.
E1- Sem dúvidas Cerri, a gente já chegou no limite do nosso tempo da... dessa primeira sessão, de fato um bom narrador né, nos deixou bem envolvidos aqui. Ficaram algumas questões sim, deu uma sessão inteira e uma parte dessa né, sobre tudo com relação as tuas pesquisas, um histórico dessas tuas pesquisas, dos temas, de como e que se deu as orientações que você realizou ao longo desse tempo você anunciou algumas que você fez na federal do Paraná, mas de lá pra cá foram muitas orientações, a gente também queria saber um pouco mais?
A entrevistadora Juliana Andrade informa do limite da gravação, marca outra sessão e o vídeo é interrompido para começar outra sessão.
Entrevista com Luís Fernando Cerri, ma cidade de Ponta Grossa, realizada por Juliana Andrade, na cidade de Recife e Cristiano Nicolini em Goiânia, em 05/04/2022, da cidade de Recife. O encontro foi realizado via Google Meet.
Estavam presentes: - Juliana Andrade - Cristiano Nicolini
Legenda da transcrição
E1: Entrevistador 1 (Juliana)
E2: Entrevistador 2 (Cristiano)
R: Entrevistado
A transcrição foi realizada por Geovana Pereira Dias e revisada por Yomara Feitosa Caetano de Oliveira. No entanto, estamos assumindo aqui uma transcriação com parcimônia, uma vez que algumas poucas limpezas de repetições de palavras foram realizadas, não configurando então, exatamente uma transcrição bruta do material audiovisual.
A entrevistadora Juliana Andrade realizou a segunda sessão da entrevista com o
professor Cerri, na presença do professor Cristiano, de Goiás. E, foram realizados testes de gravação desta entrevista.
E1- Muito bom! Então, vamos dar continuidade a esse roteiro que nós estabelecemos para fazer a conversa, a entrevista na verdade, com nossos pesquisadores que contribuíram com a formação de um campo científico aqui do Brasil que se chama ensino de História. Então, retomando Cerri para ficar registrado, porque isso é a produção de um documento. Eu queria que a gente partisse do ponto que a gente conversou, um pouco na semana passada, e queria que retomasse para engatar essa conversa. Eu queria que você dissesse para gente: quais foram suas principais atividades e ações que você realizou no início, e ao longo da sua trajetória de pesquisa no campo do ensino de história?
R- Uhum, ok! Bom, eu vim de uma trajetória, que assim, funcionava como ensino de história, mas já expandida, já partir de uma perspectiva dupla. Primeiro assim, dos processos sociais de circulação do conhecimento histórico, que envolvem processo de ensino e aprendizagem, mas não necessariamente escolares e não necessariamente formais. No caso o que eu estava enfocando, na minha tese de doutorado, exatamente processos não formais e não escolares, em perspectiva histórica. Eu vim trabalhando com situações que se referiam a ditadura militar, e trabalhando com pessoas, que traziam as suas memórias do período da vida delas durante a ditadura militar. Então, eu quando cheguei para começar a trabalhar na pós-graduação, a perspectiva que eu tinha, as primeiras tentativas que eu fiz e torno de eu elaborar projetos de pesquisa novos depois do doutorado, tinha alguma coisa a ver com a história da educação, história do ensino de história. Eu lembro que no terceiro encontro de pesquisadores do ensino de história, que foi na Unicamp, eu era mestrando lá na época, e eu fiz essa proposição falei olha: -
“vamos fazer uma mesa do de história do ensino de história e tal”, depois...muito mais depois que eu nem mexia mais com isso, muita gente veio aderiu essa perspectiva e etc. Então, eu começava nessa preocupação e nessa dimensão, fazendo essa busca levantando materiais, procurando fazer um levantamento histórico de trabalhos, de textos e assim por diante. E, ao longo do tempo, eu acho que eu tem a ver também com a linha de pesquisa na qual eu acabei me alocando, a gente tinha uma diferença com o pessoal que trabalhava especificamente com História da educação, no então o mestrado em educação da UEPG, que foi o primeiro programa que eu tentei me credenciar, inclusive foi esse mesmo pessoal que trabalhava com história da educação e o pessoal que disse: - “olha seu perfil não interessa pro programa”, e eu acabei indo pra federal do Paraná. Então, tanto na federal do Paraná quanto depois, que houve essa mudança geracional no mestrado, e depois no doutorado de educação da UEPG, o espaço que eu encontrei para me credenciar em programa e para começar a trabalhar com pós-graduação foi o espaço da reflexão sobre o ensino de aprendizagem, tanto era a linha de culturas escolares, essa perspectiva de ensino de aprendizagem, lá na federal do Paraná, quanto aqui em Ponta Grossa em linha de ensino e aprendizagem também. Então, acho que isso acabou me direcionando, primeiro para clarear
pra mim, o que quer e o ensino de história e o campo do ensino de história que eu acho que ele envolve, ele tem um olhar para História da Educação,
mas ele não é História da educação. E, acho que contribuiu, ... se construindo uma contribuição no sentido também de fazer essa diferenciação. E, mais
tarde em disputas curriculares e disputadas de todo o tipo, sempre tem no departamento de história. E, eu nesse processo fiz uma transição, que eu entrei na universidade no concurso de estágio, de estagio supervisionado. Eu fui professor colaborador por dois anos de 1995 a 1997. Aí eu fiquei como professor efetivo de 1997 a 2000, e no ano dois mil eu solicitei, que houve um processo de negociação muito intenso que envolveu a minha transferência no departamento. Então, de métodos e técnicas de ensino para o departamento de história no contexto de construção na prática de ensino. Então, eu sou um professor do departamento de história desde de o ano 2000, e também assim ali no departamento de história nos processos de disputa, ne? quando a gente estava construindo currículo etc., reformulando currículo, currículo de bacharelado e de licenciatura para mim acabou ficando claro para muitos colegas do campo da história, especificamente, ensino de história só e concebível com História da educação.
R- Então assim, não é história se você não estiver fazendo historiografia. E, essa e uma grande argumentação que eu faço, que história não e só historiografar, história também e o processo de refletir sobre o próprio processo de historiografar, que se chama teoria da história e refletir sobre o processo do ensino de aprendizagem da circulação desse conhecimento, que vai se chamar didática da história. Que é uma opção possível de nome, e poderia se qualquer outro. Mas, que reflete este campo. Então aí, essa caminhada ao logo dos anos 2000, principalmente, tanto na federal quanto na UEPG, depois mais claramente na UEPG porque nós não tínhamos mestrado de história, nosso mestrado de história entra em 2012. Então, nessa década dos dois mil toda, eu tive em dois programas de educação e desenvolvendo essa perspectiva de construir o campo de reflexão sobre o ensino da história. Mas sempre, acho que isso e interessante apesar de ter feito mestrado e doutorado em educação sempre pensando a partir da história, porque desde de muito cedo, eu me transferi pra um departamento de história, que na verdade a possibilidade de transferência para esse departamento de história se construiu ao longo do tempo no processo de negociação, processo de
conversa com o colegiado de história, no qual eu colaborava com as modificações curriculares, com a implantação da prática de ensino, ou seja, já
havia desde muito cedo uma força de atração no departamento de história por conta, dos meus posicionamentos na minha forma de entender o campo, e já
havia uma força de distanciamento no departamento de métodos e técnicas de ensino. Não conseguia participar da revista, não consegui publicar na
revista de departamento de métodos, eu não conseguia participar de especialização do departamento de métodos. Também teve aquele episódio,
isso foi posterior foi lá já nos anos 2000 estava falando da década de 1990, de que eu não conseguia entrar no mestrado como docente, que era conduzido
por boa parte do departamento e métodos.
R- Assim, havia uma força de expulsão, uma força de afastamento por parte do departamento de métodos, e uma força de atração por parte do departamento de história. Então, eu acho que assim essa década dos anos 2000, para mim e acho que para muita gente, também significou isso uma construção. Não uma construção, porque acho que a fundação desse campo científica é nos anos noventa, e nos anos 2000, a gente começa a depurar, o que esse campo faz, e o que esse campo efetivamente é. Então, se você olhar algumas das teses, por exemplo das teses que eu acho que tem, dissertações que tem caráter fundador é da Selva Fonseca, que está discutindo ali a ditadura militar, o processo de construção de recuperação da história ensinada, os caminhos da história ensinada. A dissertação da Circe também ela vai se referindo aí nos processos de ensino de história dos anos vinte e trinta em São Paulo, na perspectiva regional. Então, assim são dissertações, que tem um caráter fundador, tem outras também citei só duas em que você percebe que as pessoas, que trabalham com o ensino de história, estão fazendo um movimento típico do historiador, que eu vou olhar para o passada em busca de reconhecer esses objetos, de entender esses objetos me relacionar com eles numa perspectiva de historiografá-los. E, no meu caso, o meu mestrado também, nos anos noventa e um pouco depois, um pouco depois assim três, quatro anos depois de Circe, e da Selva sem nenhuma dimensão de querer alcançar essas professoras têm para o campo que é muito maior, mas também foi um movimento de buscar o passado, o que é esse campo, ou seja, isso eu não tinha pensando antes to pensando agora na entrevista. A gente vai buscar o objeto usando ferramentas na nossa formação inicial, que a ferramenta da história. Por mais que nos estejamos abrigados em departamentos em faculdades de educação, porque a história não tinha lugar para gente, a História olhava para a gente, e dizia: - “isso não é história, isso e outra coisa”. Então, assim a gente faz o movimento que tem a ver com a nossa formação, em busca da construção desse objeto, esse movimento, é um movimento de historiografar, embora no campo da educação, porque ele vai ser entendido, e vai ser encaixado, vamos dizer assim, ele vai ser subsumido no ganchinho conceitual História da Educação.
Nos anos 2000, acontece se faz esse movimento de destacar. Quer ver uma coisa assim muito clara? O ensino de aprendizagem era uma coisa assim da
epistemologia genética, era você fazer laboratório etc., era uma coisa que estava muito mais no campo da pedagogia, do qual a gente se aproximava
pouco, e o que surgiu primeiro no ensino de história foi uma perspectiva de tentar historiografar o que era esse ensino no passado. E, nos anos dois mil
se tem essa perspectiva de entender, tá não é historiografia, nós não historiografamos a história do ensino da história no passado, nos até fazemos
isso, mas não é isso que define o campo, e a definição do campo ela vai indo para esse caminho. E, eu acho que assim…
E1- O Cerri!
R- Sim, diga.
E1- Desculpa pode continuar.
R- Não eu, eu estou tentando assim contar agora onde que foi o ponto nos anos dois mil mais ou menos, que a gente começa a fazer esse caminho, e falar: - “não”! O ensino de história é especificamente isso. Eu acho que isso merece um estudo. Revisar toda essa produção e tentar entender isso, mas vamos dizer assim, do ponto de vista da minha trajetória, especificamente, vai nesse movimento. Eu acho, de busca entender como que as pessoas aprendem, quais são os processos não escolares de aprendizagem, que no final das contas o que eu estou assim, para usar uma expressão do Chevallard, eu estou tentando fazer uma epistemologia do aprender, uma antropologia do aprender, no campo específico da história. E, assim, e uma trajetória de algumas orientações, orientações do campo da formação do
professor etc. Mas, aquela ideia da consciência histórica que o Rüsen vai trazer, vai chegar no Brasil, com a tradução dos livros dele principalmente vai começar, assim esse grande ‘bum’. Ele vai colocar essa perspectiva, o que nós estamos fazendo, é um outro campo que é entender, como que as pessoas no presente se relacionam com esse conhecimento. Então, tanto em termos de aprender, quanto termos de como esse conhecimento forma essas pessoas, nas mais variadas esferas da vida humana, quanto também de que maneiras esse conhecimento é modulado, é transformado, com ou sem relação com a academia, para produzir exatamente esses efeitos nas várias esferas nas vidas das pessoas. Ou seja, também a um processo intencional na circulação do conhecimento. Isso vai acontecendo nas orientações, vai acontecendo, também em algumas pesquisas, algumas preocupações não saberia dizer exatamente assim agora, porque foi um momento que a gente foi fazendo as coisas assim conforme pareciam. E, para mim, eu acho que assim, o momento definidor depois foi quando a gente montou o Projeto Jovens na História, que e dois mil e sete, dois mil e oito, que a gente começa a construir um projeto piloto. E, daí assim, e um trabalho que não é pessoal e
um trabalho coletivo, mas eu devo indicar, que eu tive um processo, uma condição de liderança nesse processo todo, mas é um trabalho de procurar trabalhar especificamente com ‘o aprendido’, ou seja, quando a gente olha o final do processo todo da discussão do ensino da aprendizagem histórica na escola ou fora da escola, o que que resulto? E, de certa forma e isso que a gente trabalhou até hoje, acho que os últimos quinze anos foram fazendo esse trabalho. Então, acho que assim pra resumidamente esse seria minha trajetória em termos de projeto de pesquisa.
E1- Então para pegar o gancho, você poderia destacar sobre as suas orientações alguma mais significativa, qual foi a que ... falasse um pouco sobre esse processo de orientar.
R- Hum.
E1- Como foi pra você essa experiência, você contou de como foi orientando, depois como ingressou. Como é que foi essa experiência? Quantas orientações já fez, fala um pouco para gente.
R- Somando tudo de todos os níveis eu acho que eu estou com umas setenta orientações, mais ou menos, e uma galera a que já passou.
E1- Muita gente.
R- Que já foi de atrapalhar e desorientada por mim (risos), mas assim uma das minhas primeiras orientações, quando eu ainda estava lá em Curitiba no mestrado e doutorado em educação deles. Sim teve várias pessoas, sem querer diminuir a importância de ninguém, mas uma pessoa que necessariamente tem que destacar e a Janaina de Paula do Espirito Santo, que foi minha orientanda lá no mestrado, discutindo o Rocha Pombo, que é o livro didático do Rocha Pombo. E, olha que interessante a tese dela, é buscar um autor do século dezenove, na transição do século dezenove para o vinte, que era um autor, que participava do Instituto Histórico Geográfico Paranaense Brasileiro, e etc., quer dizer ele atuava como um historiador nos parâmetros da época, mas ao mesmo tempo era um escritor de livro didático, era um professor de ensino médio. Então, a gente estava buscando nesse trabalho de pesquisa isso, como são as relações entre ciência e docência ou quais as origens, mas veja que a gente está fazendo um trabalho que é da História da Educação, mas já buscando esse viés da relação dos saberes, da
circulação dos saberes da universidade escola, da pesquisa e do ensino. Acho que esse foi um grande tema dos anos noventa, dos anos dois mil. A Janaina
daí ela fez o doutorado dela em História na Federal de Goiás sobre os quadrinhos que se referiam a segunda guerra mundial, na perspectiva de educação histórica, então quer dizer ela utilizou as categorias do Rüsen para estabelecer, tanto as discussões teóricas dela, quanto boa parte do instrumental metodológico. Isso é outra coisa interessante foi o processo de construção das relações entre teoria e metodologia, acho que esse é o desafio que a gente está no meio dele hoje. Se for pensar, assim em termos da evolução da área, esse é o desafio que a gente está enfrentando hoje. E, acho que de alguma forma vai chegar na construção de instrumentos particulares do ensino para lidar com a pesquisa. Outra pessoa que eu orientei até antes da Jana, que foi a Ângela, que fui orientador de mestrado e
doutorado. Ela já trabalhou com formação de professores e ela foi a minha primeira defesa, primeira doutora, doutoranda, doutora que eu orientei que trabalhou na formação de professores etc. Então, também as duas, tanto a Janaina quando a Ângela elas estão hoje no mesmo departamento de história que eu, a Janaina e coordenadora de curso a Ângela e coordenadora do ProfHistória. Então, são pessoas assim que seguiram nesse trabalho e tão avançando nisso também. Também orientei mestrado e doutorado lá na educação do Willian Barow, o Willian Barow ele fez uma dissertação em que ele estudou o impacto do Rüsen na produção do ensino de história, e depois trabalhou com a questão da consciência histórica no impacto da identidade latino-americana do doutorado ali sendo vamos dizer, assim primeiro doutorado, que eu consegui estabelecer uma parceria, entre o estudo do doutorado do pesquisador com o projeto mais amplo, que eu estava tocando, na verdade. Eu continuo tocando até hoje, que a gente chamava de Jovens na história na época, e hoje chama de Projeto Residente. E, uma pessoa que eu
também orientei no mestrado e depois fez doutorado na Unicamp foi a Caroline Pacievitch, que ela assim em termos de destaque no campo de ensino de história, acho que a pessoa que hoje tem o maior destaque uma pessoa, assim por onde ela passa, ela e reconhecida, tanto como uma grande pesquisadora, como uma grande pessoa também. E, assim dá muito orgulho de ter sido orientador tanto da Carol, tanto dessas outras pessoas que eu destaquei, fora todas as outras tem orientações, que são mais bem sucedidas outras menos bem sucedida, outras nada bem sucedidas, mas todas elas têm sua importância, e além dessas, acho que teria muitas outras que eu sobre as quais eu gostaria de falar, poderia falar tanto que tem uma limitação de tempo, se não daria uma entrevista só sobre isso.
E1- Que bom, que bom. Cerri e com relação as suas ações de extensão. Você também poderia falar um pouco como e que foi? Você desenvolveu nessa sua longa trajetória. Você desenvolveu alguma ação de extensão aí na sua universidade ou nos lugares que você já trabalhou?
R- Uhum. Então, a gente falou um pouquinho na primeira sessão que foi aquele projeto sobre o Brasil outros quinhentos a gente já falou um pouquinho
dele, e acho que assim outra ações que eu gostaria de descartar são as ações extensionistas do projeto do PET. Projeto de educação tutorial, que eu fui o primeiro tutor do PET história aqui da UEPG, projeto foi aprovado tocou nos primeiros três anos do PET, que era principalmente voltado para escolas em vários sentidos, mas sempre procurando fazer uma articulação com as comunidades da cultura afro-brasileiros locais. Então, a gente tem comunidades quilombolas que a gente visitou, a pessoa fala: - “Paraná e um estado branco europeu, a Rússia brasileira, maior concentração de ucranianos no Brasil tá aqui no Paraná e etc.”, mas você tem trinta e quatro comunidades quilombolas, remanescentes de quilombo. Então, aí você começa a olhar e ver como e que foi esse processo de apagamento de
invisibilizarão dessa população, na nossa história e agora tão fazendo essa recuperação. Então, a gente teve em pelo menos 3 comunidades quilombolas
uma delas e aqui em Ponta Grossa. A gente também foi visitar outras, a gente teve assim muita preocupação, com essas perspectivas da cultura afro
brasileira no Paraná, e também das perspectivas do ensino de história. E, foi muito legal porque foram grupos, eu acho que eu cheguei a orientar ali vinte e
quatro penianos e duas gerações, duas turmas. E, desse grupo você tem hoje acho que pelo menos uns três ou quatro que já são doutores, vários outros
que estão fazendo mestrado. Então, foi um grupo que assim teve uma intervenção nos processos tencionistas que foram bem interessantes, bem importantes, e que continuaram a vida acadêmica, tocaram a vida acadêmica para frente, grande parte são, são pessoas engajadas, são pessoas participativas. Eu acho que em termos de extensão eu destacaria isso. Esse projeto dos anos 1999, 1998, dois mil, e depois o PET história, mais diretamente, na década de 2000. Eu não sei se isso pode ser considerado extensão, mas eu tive assim várias intervenções, no sentido de assessorar o governo do estado, com elaboração de currículo e formação de professores. Eu acho que entra na conta, e foi principalmente no governo Requião. Eu fui por três messes coordenador da área de ensino de educação de Ponta
Grossa, que são núcleos que reúnem vários municípios e tal. Isso foi 2003, comecinho de 2003 até por abril, março, mais ou menos, mas eu não ‘abri o
bico’, não dei conta de levar a vida acadêmica. Eu estava começando a atuar, eu estava em dois mestrados, e estava também como coordenador. Então
não dei conta, passei adiante. Mas, mesmo assim o governo do estado me chamou em duas ocasiões, tanto pela elaboração curricular tanto pela
elaboração de material para os professores, nesse período eu fiz esse trabalho, junto aos professores. Só para lembrar que era o período do
Requião. Lembrando que quando eu cheguei em Ponta Grossa o governador era o Lerner, então não tinha chance, mesmo assim eu participei de uma ou
duas formações de professores lá em Curitiba, mas é porque eu tinha contato com pessoas que tinham contato com o Governo do Lerner. Daí durante o
Requião, eu acho que assim foi o período que eu tive a minha participação mais extensa, aproximação mais extensa que eu tive com o governo do
estado. E aí depois do Requião, vem o Beto Rische, agora a gente tem o Ratinho Júnior, que são... Não é que eles não deixam as universidades se
aproximarem de atividades. É que eles, não tem, simplesmente não tem. São governos neoliberais de estado mínimo, e que baseados em posição de
política para professores. Então, não tem o que fazer. Eles não têm nenhum programa de articulação com universidades, a não ser, pegar pessoas da
universidade que topem fazer trabalho. Fala claro, trabalho sujo desse para cima dos professores. Então, aí a gente já não teve muito contato com o
governo do estado. Certamente tem mais coisas, se eu for pegar o Lattes, e olhar, eu vou encontrar mais algumas coisas, menores em termos de
extensão. Acho que as grandes linhas de extensão são essas. Comentário do entrevistado sobre o congelamento da imagem da entrevistadora 1.
E1- Parou em convênios neoliberais a internet, né? instável. Desculpa.
R- Eu acho que gravou, você ficou travada mais a gente foi andando.
E2- Sim!
R- Eu só estava falado que certamente vão ter outras atividades extensionistas se eu for dar uma olhada, mas essas são as principais.
E2- Sim!
R- Acham.
Entrevistadora Juliana Andrade desliga a conexão da sala do meeting, e a entrevista continua com o entrevistador Cristiano Nicolini.
E2- A próxima questão ela toca em alguns pontos que você já falou que são as relações com as associações científica de classes, instituições foi inevitável
ne, falar da ABEH, nem tanto, mas ABEH. Mas, se você quiser retomar mais especificamente, essa questão, um ponto que seja importante falar sobre essa
relação com as associações de classes, que instituições e associações científicas.
R- Certo! Então só recapitulando. Eu comecei a minha trajetória ali associativa com a ANPUH no GTs de ensino da ANPUH do Paraná eu fui coordenador
uma vez. Daí na sequência eu fui diretor, fui presidente da ANPUH do Paraná foi por um período, fui membro do GT nacional de ensino, como eu falei que
foi quando a gente criou a lista do GT de ensino da ANPUH. Então, ele já tá indo para mais de quinze anos a lista. E, e legal que tá tudo lá arquivado, esse
histórico todo de mensagem está arquivado. Não sei se alguém está fazendo a tese, dissertação, mas é um material que está para ser utilizado, para fazer
esse...aquilo que está arquivado. E, isso acabou me levando pra primeira secretaria, logo depois da Ana Monteiro, diretoria nacional da ANPUH, e paralelamente, também participei dos eventos que a gente pré-discutiu a ABEH. Eu lembro que desde Ouro Preto, a gente veio fazendo desde os ‘Perspectivas’ em Ouro Preto, a gente vinha fazendo essa discussão, talvez antes, mas eu não participei. E, a fundação ...a própria fundação da ABEH em Belo Horizonte, se eu não estou equivocado, estava presente ali na assembleia de fundação e tudo, depois quando eu fui diretor de setor aqui em Ponta Grossa, eu fiquei afastado. Eu acho que eu fiquei uns quatro anos sem participar de evento fora, porque a direção de setor ela, ela absorvia assim completamente. E, depois agora no retorno, eu acho que assim primeiro reconhecer a importância que essa associação tem e precisa ter, por conta também dos embates que a gente teve na BNCC. Eu acho que como eu falei, eu sou associado da ANPUH tenho ali uma trajetória dentro da ANPUH. Acho importante isso, acho a ANPUH muito importante. Mas acho também que a ANPUH e insuficiente, quando a gente pensa em campos, em termos do campo da história a ANPUH tem uma contribuição relevante, mas ela tem algumas contradições, que nos exigem ter uma associação própria. Eu vou dizer o seguinte na discussão da BNCC nós tivemos na confrontação com historiadores, que não tinham prática de trabalhar com o ensino de história, e quando a ANPUH vai se posicionar, do meu ponto de vista, até já falei com o atual presidente, do meu ponto de vista, a ANPUH se posiciona do lado dos historiadores, que não lidam com o ensino de história, e está certo. Eu acho que tá certo, em termos de representatividade, os didatas da história entre aspas somos em número menor dentro da ANPUH. Então, quando se a ANPUH, tem que escolher, ela vai pela sua maioria, embora também tenha que proteger a sua minoria, mas essa é um dos motivos, que faz com que eu imagine que nós precisamos de uma associação própria também. A gente não vai sair da ANPUH, não vai secundarizar a ANPUH pela importância que a entidade tem, mas para mim ficou muito claro a importância da ABEH. Eu acho também por outro fator, a gente tem que destacar que é recordar, a professora Ernesta Zamboni ela foi minha orientadora de mestrado, e de doutorado, foi a pessoa que mais incentivou, mais trabalhou pela formação da ABEH, primeira presidente da ABEH. E ao retornar, ao deixar a direção do setor e me reaproximar de novo das atividades associativas. Eu me senti muito no dever e no prazer de dar continuidade para isso. Um agradecimento
não só pessoal, mas coletivo a todo esforço que a Ernesta teve por constituir a ABEH. E, ela estava... a associação estava num momento difícil, em termos
organizativos, ela estava num beco sem saída, do meu ponto de vista ne burocrático, um beco sem saída burocrático. E, aí a gente teve a possibilidade de receber aí a confiança dos colegas, assumi a presidência e rearticular a ABEH, tanto em termos de solucionar os problemas burocráticos dela, aí a partir de destravar isso consegui ter ganhos organizativos ganhos na parte financeira, na organização da parte financeira, na organização parte civil, na organização da parte comunicação, que foram uma série de fatores que nos levaram. E, aí assim a tarefa da diretoria e criar as condições, e a comunidade cria o movimento. Eu avaliei quando a gente foi se candidatar à reeleição da presidência da ABEH, eu avaliei que nós estávamos vivendo, e acho que nós estamos ainda, apesar de todos os pesares, uma primavera mesmo dentro do ensino de história, em quantidade de iniciativas, de qualidade de iniciativas de capacidade de avanço, que a comunidade teve de forma coletiva, e também as condições para que várias pessoas, vários novos pesquisadores pudessem aparecer e despontar no campo. Então, eu acho que tudo isso resulta da força dessa comunidade, e com certeza também vem da contribuição da...Vamos dizer assim, de a ABEH ter conseguido nos últimos quatro anos se
reestruturar, se organizar e cumprir, não tudo que a gente espera da associação, mas boa parte daquilo que a comunidade esperava da associação.
E2- Certo, perfeito! Enquanto a professora Juliana tenta reconectar aqui, vamos seguindo então. Finalizando, então o primeiro e último bloco, são duas
questões finais que talvez você já tenha colocado nelas, mas para dar oportunidade de fechar com elas. Um pouco sobre as principais publicações
que você considera as mais importantes no seu trajeto profissional e também os desafios que o campo de ensino de história enfrentou e que você participou, talvez inclusive já tenha até falado sobre eles, mas se quiser ainda finalizar e sobre essas publicações, porque... Professora Juliana? Tudo ok aí?
Eu finalizei o bloco, o penúltimo bloco, só para você se situar aí sobre as publicações.
Conversa sobre a conexão instável
R- E, eu acho que assim publicação a gente sempre acha que e mais importante a mais recente. Então, por exemplo, hoje eu acho uma das minhas publicações mais importantes é o texto que saiu na TOPOI, ano passado, que é encruzilhada entre a Cultura Histórica e a Cultura Política. Mais isso e porque foi o tema do meu segundo pós-doutorado, e eu acho que também pela emergência do tema. A gente está vivendo aí um período em que a população voluntariamente levou ao poder um governo de extrema direita, baseado em ideia históricas completamente equivocadas e radicalizadas no campo social, mas principalmente político. E, eu acho que faz com que a gente tenha um tema que eu considero, que hoje, é um dos mais importantes. Mas, eu acho que assim, não tem como não destacar também, eu acho que mais pelo fato disso ter um caráter de bastante disseminação do que qualquer outra coisa, o livrinho que saiu pela Fundação Getúlio Vargas, ensino de história e consciência histórica, e o subtítulo que eu esqueci agora. Ele acabou sendo uma publicação, que disseminou muito o meu trabalho, tornou
meu nome bastante conhecido em vários lugares e está entre os materiais que eu escrevi que são os mais citados, mas não é o mais citado, se a gente
for pegar esses critérios dos textos mais importantes. Eu tenho um texto que eu não dava nada para ele, se chama acho que o ensino de história… agora
não vou conseguir lembrar, e de 2010 que saiu na Revista de História Regional que é uma revista local, em que eu procuro fazer uma síntese de
meio do caminho. Eu tinha começado a discutir consciência histórica no ensino de história, no começo dos anos dois mil. Aí, a gente teve o livro que
saiu, eu acho que 2010, esse livro e se eu não me engano 2010, 2011 tem um artigo que eu escrevi na Revista História Regional, que é talvez o meu texto
mais citado, quando você olha no google, mas é basicamente um texto de síntese. Agora o que eu, uma coisa que tem me entusiasmado já um bom
tempo, são… Isso, é uma contradição, são os textos que eu trabalho com várias pessoas, não só que eu trabalho, que a equipe que a gente consegui
montar trabalha com as representações sobre o ensino de história, as aprendizagens do ensino de história, numa abordagem quantitativa. Então, a
gente já conseguiu publicar um livro em 2018, sobre os jovens na história no Brasil e na América do Sul etc., e quando você olha no seu Google escola
você percebe que é um material que é muito pouco citado, portanto é um material muito pouco lido. E, aí assim eu acho que é contraditório, e o tipo de
coisa que mais me empolga, mas não sei se é a forma de comunicação, não sei se é o conteúdo, não sei se é a metodologia, mas não empolga muita gente não. E, o tipo de coisa que não empolga. Eu diria que, assim ali estão as contribuições mais importantes, nas quais eu tenho trabalhado, e essa equipe toda que trabalha junto também, tem produzido em vários países na América Latina, vários estados do Brasil etc. Mas, é um tipo de coisa que não interfere no debate, o que eu percebo assim que mais interfere no debate são textos entre aspas “doutrinários”. Textos em que estabelece, é isso e a definição disso, exemplo disso, essas coisas assim que estão mais definidas em teoria, mais definidas no campo, é o que mais utilizado. E, eu acho que talvez isso reflita, na característica que talvez nosso campo tivesse que superar que é o fato de buscar referenciais para se fundamentar teoricamente. Eu acho que isso faz com que, esse texto seja um dos mais citados. Mais ainda falta muito de discussão metodológica, uma discussão empírica dos resultados, eu acho que talvez isso a gente faça pouco ainda, portanto são esses textos mesmo com uma discussão empírica. Textos nos quais eu participo, textos dos quais eu ajudei a construir de alguma forma, são textos que são muito pouco discutidos.
R- Eu acho que por conta dessa relação, me parece aí, a gente já começa a falar dos desafios da área também, me parece que a gente precisa para avançar entrar um pouco nisso. De fazer um balanço mais sistemático, de resultados de pesquisa no campo da discussão metodológica e na elaboração na rediscussão dos aspectos empíricos, que são como eu falei, são coisas que do meu ponto de vista tem aparecido menos, tem sido menos discutido. E, acho que daí, eu já começo a engatar um pouco nessa questão dos desafios. A impressão que eu tive até determinado momento e que o campo do ensino de história estava patinando. Patinando no sentido de que muitas pesquisas, não que elas se repetiam, cada um tem uma abordagem absolutamente nova, mas elas discutiam de certa forma as mesmas coisas e davam enfoques diferentes, enfoque regional ou enfoque discutindo a mesma questão de outro ponto de vista de referencial teórico etc. Mas que em termos de discussão não se avançava muito, e em termos de... está: - “qual é o próximo passo?” Não se avançava muito, então o que eu percebo e que de
uns tempos pra cá, a gente tem conseguido ainda muito, de forma muito recipiente, coisa para incentivar muito mais, para fomentar muito mais trabalhar nas grandes sínteses, ou seja, nos grandes balanços, isso foi feito quando a área fez dez anos, lá na metade dos anos dois mil, quer dizer quando o ENPEH comemorou dez anos. Se fez um pouco esse balanço etc., mas uma coisa muito temática, muito temática, não foi muito conceitual, não foi muito em termos de achados empíricos, sabe, não se entrou muito nisso. E mais o que falta para gente então, eu acho que é, e constituir desafio são esses grandes balanços teóricos de resultados empíricos e de reflexões metodológicas, e assim balanços mesmo no sentido de serem coisas construídas coletivamente. E, a gente não vai passar por isso sem construir ferreamente eletrônica pra lidar com texto, porque hoje o que você tem de ensino de história e uma floresta, quando eu comecei a pesquisar o ensino de história existiam quatro livros, cinco artigos e hoje se tem uma biblioteca inteira de ensino de história, que a gente não vai conseguir fazer balanço sem
se preparar para fazer balanço, sem esses balanços de meta-análise, e é uma coisa que exija acúmulo, exija que você entenda como que funciona , que você s municie de ferramentas em termos de programa, conhecimento de base etc., E, para fazer e um trabalho de equipe, que eu acho que deveria tá na base. E, outra coisa eu acho e a questão da agenda. Nós não temos uma agenda, talvez isso seja tarefa da ABEH. Agenda de pesquisa. O que falta saber sobre o livro didático, por exemplo, que todos nós vamos dizer: - “realmente isso, vamos fomentar os grupos de pesquisa e os programas de pós-graduação, aí atrás desse movimento desse tipo de coisa”. Nós ainda estamos muito eu acho, numa perspectiva de responsiva, e aí você pega assim todos os programas de pós-graduação, no qual você tem linhas, ou tem pessoas orientando no ensino de história, todo o ProfHistória. E, olha e encontra muito isso, a gente responde a emergências, coisas que a gente tem que resolver logo, porque a realidade política, social e educacional está pressionando, e interesses que os professores tem, interesses que os
pesquisadores estão chegando tem. Então assim, é uma coisa bastante voluntarista, não sei se eu vou ser mal interpretado com essa palavra, mas eu quero dizer que não parte do estabelecimento coletivo de quais são as agendas que nós temos que desenvolver para que o campo avance, a partir de uma análise estabelecida coletivamente.
R - Eu penso que esse é um problema, esse é o desafio, é montar/construir legítima e de forma conceituada essas agendas de pesquisa e avançar dentro
dela, isso permite que a gente pare, porque assim nós estamos crescendo sim. O campo de história cresce e cresce muito, mas ele cresce mais ou
menos como de forma desorganizada, é uma geleia, ele não está construindo o edifício, ele está estruturando, falta estrutura, falta organização, falta
estruturação pra gente começar a ter ganhos a ter este avanço mais rápido. Eu acho que um outro desafio no campo é a sua identidade por que na
medida de você cresce rápido eu acho que uma das coisas que fica ameaçada é a identidade, nós tivemos o processo de construção da
identidade da área de história, lá nos anos noventa e foi um processo que estabeleceu uma identidade e de certa forma a gente ficou vinculado aquilo e o mundo mudou/girou. Acho que um dos desafios do campo do ensino de história é justamente a mastigação da pesquisa no ensino de história. Se eu for parar para pensar, só no ProfHistória eu tenho trinta/quarenta núcleos, que formam doze a quinze pessoas por ano, então eu tenho 600 dissertações formadas por ano. Agora eu vou ter o doutorado também, está em caminho o doutorado, e quer dizer se eu tenho 600 por ano, em dez anos vão ser seis mil dissertações, nós saímos assim muito claramente de um período que a gente não tinha nada, para um período que o ensino de história vai se tornar a maior área de produção, dentro do campo de história. E, eu imagino que o desafio que vai se colocar, e o desafio da identidade. Quero dizer nós continuaremos sendo esse campo que reflete que faz assim, estuda o que acontece, o que pode acontecer, e o que deveria acontecer, em termos de ensino de história do Brasil, ou seja, nós somos esses processos de reflexão? Ou, nós vamos a passar a ser um campo, passar a ser uma engenharia. Então, quer dizer assim o que eu quero dizer, que a gente vai encontrar entre ciência base e ciência aplicada, porque o risco que a gente pode acabar encontrando por parte de quem não entende que ensino de história, não é História da
Educação, embora possa ser não se resume a produção de material para o ensino. Produção de material para o ensino para mim é: - “mais ou menos como utilizar a física, química e outras coisas para dar o manual de como eu construo melhor as casas”. Utilizar os conhecimentos básicos para compor uma engenharia, que vai me dizer como que vai construir casa, quando na verdade nossa discussão é, como que devem ser as casas, como que as casas atendem a identidade de seus moradores, qual que a relação entre casa e meio ambiente, qual é a relação entre casa e economia. Porque nós nos constituímos, porque essa comunidade se diferenciou do que se pensava e fazia em termos de ensino de história na ditadura militar. A ditadura militar dizia, todo a formação de professores etc., ela dizia assim olha ensino de história e o estudo de como ensinar, e nós conseguimos superar essa limitação, e passar para o ensino de história estudo de como, por que, para quem, desde onde, ensinar e aprender. Então, o campo hoje ele é assim, ele é uma ampliação e praticamente a explosão do projeto que existia antes de
limitação, do que seria esse campo dentro do modelo de ciência que havia nos anos setenta. Para um campo que é completamente distinto, então a gente deixou de ser uma técnica, um estudo técnico sei lá! Você tem ali a técnica da paleografia. A paleografia é importante para o historiador, porque isso, isso aquilo e você em o ensino de história que é uma técnica de como você transmite o conteúdo e mais ou menos essa concepção. Ensino de história é uma técnica. A gente passou para o ensino de história é o campo do conhecimento é uma disciplina, eu acho, uma disciplina fronteiriça. Eu e outras pessoas achamos que é uma disciplina fronteiriça, entre vários campos, mas é uma disciplina de produção do conhecimento que também por acaso contribui com os processos técnicos de ensino. Se nos chegarmos lá na frente e a gente acabar...não dermos conta desse desafio da identidade que a área conquistou a gente corre o risco de voltar pela condição de que
ensino de história é uma técnica, pela qual eu transmito conteúdos, mais sofisticado tanto de uma técnica se passa para uma capacidade de manipular as tecnologias, mas dentro da mesma concepção. Ou seja, eu acabo é refinando o processo da técnica de ensino, sem passar pela perspectiva reflexiva, pela perspectiva crítica, transformadora a capacidade de pensar a função da história no mundo. Eu acho que assim se eu fosse resumir o extrato mais nobre do ensino de história. O extrato mais nobre do ensino de história é, qual a função existencial da história na vida das pessoas. É isso que é ensino de história. Por isso que muita gente, os alemães principalmente acham que isso aí, é um campo da teoria da história. Eu diria que a teoria da história raramente se preocupa com isso. Embora, também se preocupe lógico, mas não é a tradição dela se preocupar com isso, a teoria da história e muito para dentro dos muros, e a didática da história como eu gosto de chamar, não tem nenhuma necessidade de ser chamado assim pelos outros. Podem chamar do que bem entender. Porque não é igreja, não é uma escola de pensamentos, que nem outra que já se formaram na área. Eu acho que assim a perspectiva da didática da história é hoje mais complexa e sofisticada, do que uma técnica. Então, eu penso que esse é o desafio. E boa parte desse desafio acaba também, gerando uma discussão de legitimidade. Porque acho que um dos desafios que nós temos hoje e o fato de que... não to dizendo que é o ProfHistória, o ProfHistória e muita coisa junto, o ProfHistória é uma coisa
só, mas é o ProfHistória é uma ocasião em que muitos colegas, que nunca se detiveram sobre ensino de história, passem a lidar com isso, passem a atuar num mestrado profissional, e logo num doutorado profissional, em ensino de história. Sem considerar o campo, ou seja, e imaginando que não a mediação entre o campo de conhecimento dele história antiga, história regional etc., e o ensino, quando na verdade eu tenho todo um processo de construção de referenciais, de reflexões, de contextos e conteúdo ao logo trinta anos para que isso possa ser feito de uma forma, vamos dizer assim não é sofisticado não no mal sentido, mas o que eu quero dizer, numa forma mais complexa, de uma forma mais estruturada, mais capaz de dar resposta para atualidade, que muitas vezes o colega, ou grande parte dos colegas desconhece. As vezes desconhece, porque nunca lidou com isso, porque faltou oportunidade de conhecer, e as vezes faz opção de desconhecer, o que é pior. Porque aí na verdade a pessoa está questionando e legitimidade toda do campo do ensino de história. Dizendo olha: - “isso é desnecessário, como se diziam nos anos 1970, você não tem que aprender a ensinar história. Você tem que aprender história, porque ensinar você aprende na prática. Não existe isso de você aprender a ensinar”. Inclusive... essa ideia de que o campo de ensino de história não existe, é desnecessário, não é só um preconceito, não é só uma piadinha que as pessoas contam, como quem faz piada politicamente incorreta em algum canto escondido, tem gente que está eorizando sobre isso. Tem pessoas que estão começando a fazer o processo de teorização e formalização de que não existe ensino de história: - “não se preocupe com isso porque isso não existe”. Então, eu acho que esse... isso é um desafio não vou dizer que é existencial, mas é um desafio muito sério. E, eu começo a
pensar que nós temos que ter uma identidade diante das agências de financiamento. Isso é uma coisa que eu discuti no ENPEH, em Londrina. E, eu não vou conseguir lembrar a data, acho que foi ali nos anos 2000 na metade da década, nos anos 2000. E, fui assim massacrado, fui rechaçado, fui rejeitado. Eu falava: - “a gente tem que ter uma área do conhecimento na tabela das áreas do conhecimento, do CNPq ou da CAPES.” Por que se não a gente vai estar sempre fazendo, assim, eu tenho que pesquisar o ensino de história, onde é que eu peço financiamento, onde é que eu me encaixo, onde é que eu encaixo minha pesquisa, quando eu vou fazer a formalização dela, ou é na história, que não existe nenhum lugar que fale sobre o ensino de história. Aí as pessoas colocam em teoria da história, que particularmente eu coloco em teoria da história por exemplo por que eu estou no departamento de história, e na educação as pessoas colocam em ensino e aprendizagem, mas o ensino e aprendizagem, não é o ensino e aprendizagem de história, e ensino e aprendizagem com uma reflexão do fenômeno de ensino e
aprendizagem em geral. Então, a gente está órfão. Eu acho que a gente precisava ter para que a gente pudesse começar, a se definir o ensino de história poderia deixar de ser uma coisa no campo da história, ou no campo da educação, e passar a ocupar um espaço no campo interdisciplinar, talvez seja um caminho diante desse desafio.
E1- Cerri e Cristiano, eu vou fazer minha última pergunta para deixar Cristiano e vocês aqui na nossa sala. Cerri a gente sabe que você ainda atua no campo
do ensino de história, tem aqui essa pergunta se atua no ensino de história no momento. Se sim, diga onde é como, e o que você avalia com relação ao
ensino de história na escola desde o início da sua ... de mudança né na escola, desde o início de sua experiência profissional o que foi que mudou, ao
longo, dessa longa trajetória como professor de história, observando a escola, atuando na escola o que que o ensino de história mudou nesse espaço.
R- Uhum.
E1- Vou escutar mais um pouco aí.
R- Então, é quando eu comecei a atuar no campo, eu atualmente sou professor numa licenciatura de História, e oriento no mestrado em História, oriento no projeto de ensino de história, continuo em contato com os professores. Esse ano especificamente, eu voltei a trabalhar no estágio, eu estou orientando três, dois alunos de estágio, que a gente teve, um momento especial o departamento necessitou disso. E, a gente dividiu o estágio entre as pessoas que estavam disponíveis para fazer. O que eu consigo pensar na... no final dos anos 1990 para atualidade, e o salto impressionante da qualidade dos professores que eu conheço. Acho que assim todo professor se dedica, todo professor merece nosso respeito, mas o que eu percebi e que os professores que haviam sido formados, com quais eu trabalhava no campo de estágio no final dos anos 1990 que haviam sido formados no começo dos anos 1990, ou nos anos 1980, eles tinham uma formação muito precária em conhecimento da história, que era razoável, mas a reflexão sobre o ensino de história e as suas funções sociais era muito precária. E, por outro lado, eu
acho que assim material didático teve um avanço fantástico a impressão que eu tenho e que os alunos, apesar de continuarem tendo todos eles as mesmas
características, as mesmas irreverências, muitas vezes o mesmo. A recusa ao mundo dos adultos, afirmação de uma cultura própria etc., os alunos, pensando principalmente nos alunos que nos recebemos no primeiro ano de licenciatura, também tiveram um avanço fantástico. Então, eu penso que assim nos avançamos, formação dos professores, nos avançamos muito no livro didático, a formação dos nossos alunos ela já é diferente, os alunos já vêm muito melhor, para universidade aqueles que escolhem fazer história. E, eu quero sentir agora, sentir o peso dos retrocessos que nós tivemos, é, os últimos quatro anos foram períodos de retrocessos. E, eu não consegui, ainda, não tive a oportunidade o suficiente para avaliar quanto foi esse retrocesso. Se for contar com os meus alunos de primeiro ano, quer dizer eu estou dando aula para esse pessoal de primeiro ano, desde a metade do ano passado. Eu acho que chuva, trovoada, tempestade não afetou a qualidade e vontade desses alunos. Então, eu sou otimista de que muito se fez para destruir, isso gera uma reação contrária que é até mais forte, que esse esforço de destruição, e acho que assim a gente tem esse processo de avanço. Eu estimo que não foi afetado pelos retrocessos políticos, política educacional, de destruição das políticas públicas do PNLD de legislação e etc., eu acho que o nosso povo segurou firme aí no chão, e está aguentando essa tempestade
passar. Eu tenho uma avaliação positiva assim, dessa trajetória toda.
E2 - Certo, a professora Juliana teve que ir ao campus. Então, agora é a etapa final mesmo, tem algumas questões aqui que acabaram já sendo respondidas quando você falou dos desafios, creio que não será necessário retomá-las. Aí depois dessa parte mais profissional, acadêmica que a gente começou falando da vida pessoal, e vai se ampliando quando chega na sua vida acadêmica realmente aparece conceito, referencias. Mas, agora no final voltamos pra essa dimensão mais pessoal, que seria, falar sobre a sua família atualmente, com quem o senhor mora, e além do trabalho o que mais você gosta de fazer, além desse mundo do ensino de história que acaba nos tomando muito tempo, quais são os sonhos, perspectivas e o que você achou da experiência de participar, de contar da sua história aqui para o nosso projeto.
R- Uhum! Bom atualmente eu moro com a minha esposa, com as minhas duas filhas, elas estão no processo de formação. A minha esposa é trabalha, ela e técnica administrativa na universidade, trabalha em recursos humanos, mas agora no momento nos estamos todos na UEPG, sou professor, minha esposa e funcionária, minha filha mais velha e doutoranda em engenharia de alimentos na UEPG, e a minha filha mais nova é formanda em farmácia na UEPG, então está todo na UEPG de certa forma. A minha filha mais velha pesquisou no mestrado é um cogumelo, o Cordyceps Militaris, ela trabalhou com algumas possibilidades e perspectivas de que esse cogumelo pudesse ter princípio ativo favorável para tratamentos de diabetes. Então, ela colaborou nesse processo de pesquisa, e hoje por ela estar nos alimentos, ela está estudando como que esse mesmo cogumelo, esse mesmo fungo ele pode ter uma aplicação no sentido da favorização de bebidas alcoólicas, no caso a cidra de maçã, que é um campo de pesquisa bastante importante aqui da UEPG. Ela quer ver por exemplo se é possível se utilizar esse cogumelo pra amadeirar o sabor da cidra. E a minha filha mais nova está fazendo farmácia a Cecília, ela, assim está fazendo estágio, na correria do 4° ano, agora depois ela vai para 4° ano para os estágios em indústria e tudo, mas o que eu percebo muita e que ela tem muita...muito gosto pela questão da saúde pública sabe. O que ela mais se interessou, o que ela mais gostou de trabalhar até hoje foi com essa perspectiva de saúde pública. Então assim, são duas meninas assim, muito conscientes, são duas feministas assim, bastante acirradas, tão sempre inclusive reorientando o nosso vocabulário, o nosso comportamento em relação a muita coisa do campo das questões de gênero. Então, tem isso, e eu acho que assim, até por conta de como a situação econômica está hoje tão com a gente, vão estar com a gente aí até conseguirem uma possibilidade de se manterem sozinhas, etc.
R - O que eu gosto de fazer fora do trabalho e uma coisa que me preocupa muito, porque, eu venho de uma trajetória na qual eu trabalho tanto que eu
parei pra pensar no que eu gosto de fazer além de trabalho, quando vocês fizeram essa pergunta no roteiro, que eu olhei e pensei o que eu faço além de
trabalhar nesse vida, mas tem algumas coisas que eu já tinha pensando, e quando eu me aposentar, e não tiver o trabalho, o que eu quero fazer? Uma
coisa eu tenho claro pra mim, sabe, quando eu me aposentar eu quero me aposentar mesmo. Não quero ficar né, quer que eu fique assim mais 2,3,4
anos né atuando na pós-graduação. A minha perspectiva não é trabalhar para sempre, só que essa discussão da reforma da previdência acabou, fazendo
um pouco isso com a gente. Eu quero trabalhar pra sempre, eu não quero, como é que é. E eu tenho isso claro, quero fazer outras coisas. Quero começar fazer outras coisas, e eu vi assim, o que eu gosto de fazer, e são coisas assim que eu sempre gostei. Eu acho que é, uma certa militância no campo cultural, eu tive um canal de Youtube, ele está lá no Youtube até hoje, eu não mecho... faz mais de um ano que eu não posto nada, mas era um canal que se chamava “História recente”. É o tipo de coisa que eu gosto de fazer. Eu gosto de debater as questões sociais, aproveitar o conhecimento que eu fui acumulando, tanto na militância, nos tantos anos de militância, eu acabei nem falando também, mas eu fui fundador do sindicato dos docentes aqui da universidade. Eu acho que eu não falei, enfim, todas essas trajetórias que teve ao longo da vida para colaborar na formação também das ideias das pessoas. Eu gostaria de ter esse tempo. Eu parei porque eu não consigo ter tempo pra fazer isso, eu não consigo dar conta de fazer tudo que eu faço durante a semana, as coisas que a gente tem que são da nossa vida doméstica, no final de semana, e aí ainda fazer o canal de Youtube, mas, eu penso assim alguma coisa nesse gênero eu provavelmente eu vou fazer
porque é o tipo de coisas que eu gosto. E, de entrar nesse debate, discutir grandes questões nacionais, sabe, de estudar grandes questões econômicas,
questões sociais, são coisas assim que eu gostei na verdade do...da minha adolescência. Porque, fui participante de um movimento estudantil, fui
participante de grupo de teatro. Enfim tive muitas participações que envolviam esse tipo de abordagem, essa é uma coisa que eu gosto de fazer. E, outra
coisa que eu gosto de fazer são, também tem um pouco a ver com a minha infância que eu falei, são questões de trabalho manual. Eu gosto de
jardinagem, eu gosto de construir coisas, eu gosto de concertar coisas, pintura, bato um concreto, ali uma inchada numa boa, consigo fazer. Esses
dias eu construí, com muito orgulho, um sistema de aproveitamento de água de chuva. Aí eu comprei o material, fui pesquisando como que faz para filtrar
água e montei uma serpentina de cano de pvc, e a calha não sei ‘das quantas’, para fazer a base para colocar o reservatório em cima. Eu bati o
concreto também, fiz ali moldei e tudo. Quase morri, nessa idade que eu estou, quando eu tinha vinte anos eu batia concreto tranquilo, agora quase
morri ali, quase que eu precisei chamar SAMU para terminar o processo. Mas é...me dá muito prazer. Eu fazer isso é uma coisa, que eu não tinha pensado
que eu gosto de fazer. Eu fiz porque eu precisava. Precisava, porque a gente precisa guardar a água de chuva mesmo, a maioria das pessoas não guarda,
mas eu acabei pensando: - “não, vamos fazer e uma coisa legal, quero ter esse reservatório de água, tal”. Então, são coisas assim que eu gosto de
fazer, gosto de consertar, de arrumar, gosto de cozinhar eu percebo isso. Eu acho, como eu tenho um cotidiano que é muito do trabalho intelectual, o meu
lazer é muito de trabalho manual de fazer coisas, cujo o resultado você olhe e enxergue, materialmente. Então o conjunto de vasos plantado, esse sistema
de água de chuva, uma parede pintada é um outro tipo de prazer na produção, que é diferente do trabalho. No trabalho você tem uma pessoa que
foi orientada é uma coisa abstrata, você tem um texto que foi escrito hoje em dia você nem tem o texto na sua frente, você tem no computador, não chega
mais à revista que você publicou na tua casa para você ler materialmente. Agora é tudo muito simbólico, muito abstrato. E, aí as coisas que eu gosto de
fazer vão nesse sentido de coisas que geram resultados mais concreto. Eu acho que é isso que tem me divertido e pra onde eu vou, o caminho que eu
vou tomar quando terminar minha vida produtiva trabalhista, porque a gente continua sendo produtivo depois. Mas, eu não sei Cristiano eu acho que eu
respondi.
E2- É, foi exatamente. E a última questão é sobre essa experiência de narrar, provavelmente você já deu muitas entrevistas, inclusive eu já li a entrevista do
Rafael Sadi, mas é sempre muito voltada para pesquisa para profissão. Esse projeto aqui da ABEH, também essa outra dimensão pessoal de memórias,
inclusive de família e da infância. Então, se você quiser registrar essa sua impressão sobre isso, e também declarar no final para gente deixar registrado
que você autoriza o uso da entrevista. Claro que depois da transcrição nos devolveremos a transcrição, para verificar o que é ou não possível de ser
divulgado e publicar.
R- Uhum! É então eu acho que essa experiência foi bem diferente, foi bem interessante porque como ela mescla aspectos profissionais e pessoais, a
gente meio que faz um pouco de balanço de vida, se faz esse ponto de parada e reflexão sobre a própria trajetória. E, como eu te falei, tem coisas
que eu nunca tinha pensado, tido tempo para parar, para pensar sobre mim mesmo, sobre a minha trajetória antes dessa entrevista. Então, o que eu achei
muito interessante é essa oportunidade, fazer esse balanço. E, eu acho que também a valorização que isso significa você sente no estado de um grupo de
pessoas considerarem. Você deve ser entrevistado para fazer parte de um cabedal de conhecimento, sobre uma determinada realidade. É honroso. É um
tipo de coisa, que te anima. E, dá uma injeção de ânimo, porque é uma legitimação de que a tua vida está fazendo algum sentido para as pessoas
que estão te cercando. Vou te dizer uma coisa, nesses dias que a gente está vivendo, não é pouca coisa não, a gente está sofrendo, tanta coisa aí para
derrubar a nossa autoestima pessoal e coletiva, que realmente significa muito. E, eu queria agradecer a equipe pela oportunidade, de fazer essa reflexão e
também pelo interesse em me ouvir. Deixar um abraço, e gratidão, mesmo para todo mundo que faz parte da equipe. E, por fim declarar formalmente a
autorização para que a pesquisa utilize essa entrevista. E, acho que é isso, não sei se tem que formalizar mais alguma coisa, mas acho que é isso.
E2- Autorização prévia na verdade depois nós teremos a fase da transcrição que também teremos a documentação escrita para acatar as assinaturas.
R- Sim.
E2 - Aí a professora Raquel que vai coordenar essa parte, mas é isso então. Agradeço em nome do grupo, foi um privilégio estar aqui, conhecendo
pessoalmente, porque todos nós somos os seus leitores e vamos construir juntos isso que você falou. Agradeço demais!
R- Maravilha Cristiano, muito obrigado!
Encerrada a entrevista com despedidas de ambos.
Recolher


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