Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Fátima Valença Espíndola Rocha
Entrevistada por Douglas T. de Oliveira
Macaé, 06 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB367
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Fátima, eu queria que você começasse falando o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Eu me chamo Fátima Valença Espíndola Rocha, nasci em Macaé. E trabalho, hoje, na Petrobras, na gerência (OP-P-25?) Ativo de Alvacora.
P/1 – E o que você faz, exatamente, qual é a sua função?
R – A minha função é na área de custo, ou seja, eu. Às vezes, eu estou em casa, eu fico, assim, imaginando os milhões e milhões de dolares que eu falo, que eu vejo, aqueles números escritos, mas eu não tenho noção desse montante, desse dinheiro, né? De dolares na empresa. Que eu orço pra, eu ouvi meu gerente uma vez falar: “Você vai calcular o que a gente vai gastar, Fatinha, pra ver a P-25 produzir durante o ano”. Então, assim, eu me senti muito importante quando ele falou isso, né? E fiquei, assim, imaginando: “Gente, quanto dinheiro, né? Que tem, em uma plataforma pra ela produzir petróleo em um ano. Quantos e quantos milhões de dolares, né, que são gastos?” Às vezes, as pessoas aí fora não têm nem noção, né? E você, ali, mexendo com aqueles dados. Eu aprendi muito nessa área de custo, né? Porque quando eu entrei na empresa, em 86 eu fui admitida, eu lembro como se fosse hoje, pro Pólo Nordeste, quando foi criado o Pólo Nordeste. Aí, houve o concurso em 84 pra 85 e eu fui admitida em 86, no setor de pessoal. Eu lembro. E, depois, fui pra Corprel, que era a coordenação das plataformas novas. E, ali, eu estava fazendo a parte de secretaria, né? Atendendo viagem do gerente pros novos projetos, pessoal de canteiro de obras na construção das plataformas. E, eu lembro, que tinha um documento que a gente fazia pra eles viajarem pra canteiro chamado PH, que...
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Depoimento de Fátima Valença Espíndola Rocha
Entrevistada por Douglas T. de Oliveira
Macaé, 06 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB367
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Fátima, eu queria que você começasse falando o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Eu me chamo Fátima Valença Espíndola Rocha, nasci em Macaé. E trabalho, hoje, na Petrobras, na gerência (OP-P-25?) Ativo de Alvacora.
P/1 – E o que você faz, exatamente, qual é a sua função?
R – A minha função é na área de custo, ou seja, eu. Às vezes, eu estou em casa, eu fico, assim, imaginando os milhões e milhões de dolares que eu falo, que eu vejo, aqueles números escritos, mas eu não tenho noção desse montante, desse dinheiro, né? De dolares na empresa. Que eu orço pra, eu ouvi meu gerente uma vez falar: “Você vai calcular o que a gente vai gastar, Fatinha, pra ver a P-25 produzir durante o ano”. Então, assim, eu me senti muito importante quando ele falou isso, né? E fiquei, assim, imaginando: “Gente, quanto dinheiro, né? Que tem, em uma plataforma pra ela produzir petróleo em um ano. Quantos e quantos milhões de dolares, né, que são gastos?” Às vezes, as pessoas aí fora não têm nem noção, né? E você, ali, mexendo com aqueles dados. Eu aprendi muito nessa área de custo, né? Porque quando eu entrei na empresa, em 86 eu fui admitida, eu lembro como se fosse hoje, pro Pólo Nordeste, quando foi criado o Pólo Nordeste. Aí, houve o concurso em 84 pra 85 e eu fui admitida em 86, no setor de pessoal. Eu lembro. E, depois, fui pra Corprel, que era a coordenação das plataformas novas. E, ali, eu estava fazendo a parte de secretaria, né? Atendendo viagem do gerente pros novos projetos, pessoal de canteiro de obras na construção das plataformas. E, eu lembro, que tinha um documento que a gente fazia pra eles viajarem pra canteiro chamado PH, que era, Pedido de Hospedagem, era tudo naquelas máquinas de escrever antiga, batendo tátátá, aí, saía correndo, porque tinha que levar pra uma outra gerência, que tinha a hora certa de entregar pra poder providenciar o hotel, as diárias, e, a gente naquela loucura saindo correndo. Hoje, é tudo na informática, apertando botãozinho, que como uma mágica, assim, você já tá tudo pronto e o hotel tá lá reservado, assim, num passe de mágica, falei: “Meu Deus! Como que as coisas evoluiram, como que as coisas mudaram, né? Em 22 anos de empresa, que eu vou fazer”
P/1 – Fatima, eu vou pedir pra você falar, até, um pouco de novo, também. Quando e como você ingressou na Petrobras?
R – Bom, eu ingressei em 15. No dia 15 de setembro de 86 eu assinei o contrato com a empresa, né? Num concurso que eu fiz em 84, até, muito estimulado pela minha mãe, pela minha irmã, que já estava aqui. Nessa época eu estava morando em Nova Friburgo e eu já dei até esse depoimento nos 20 anos, né? Que é a história, né, da minha vida profissional. Eu tive um apoio muito grande do meu esposo, ele tinha uma, ele já estava fixo numa empresa, numa indústria alemã, metelúrgica em Friburgo, tinha um cargo, lá, de gerência. Mas quando a Petrobras abriu esse concurso eu falei com ele: “Eu vou fazer esse concurso. Você apóia?” “Apóio” “Se eu passar você vai embora comigo pra Macaé?” Porque ele não gosta de Macaé, porque é muito quente. Aí, ele falou: “Não, eu vou sim”. Ainda me ajudou, era o último dia de inscrição, ele me trouxe até o meio do caminho pra pegar o ônibus pra vim pra Macaé, estava uma fila imensa, até aquele Hotel Lagos Copa, pra lá do Lagos Copa, quase lá, naquele Restaurante Ponto de Encontro, a fila. Aí, eu cheguei, entrei na fila, saí, quando estava no meio do caminho, voltei de novo, quer dizer, foi a melhor decisão que eu fiz, né? Foi ter voltado.
P/1 – Eu não entendi. Você morava aonde com o seu marido?
R – Eu sou macaense, mas eu me casei e fui morar em Friburgo. Então, nessa época, eu estava morando em Friburgo, quando eu vim fazer o concurso pra Petrobras.
P/1 – E, além do fato, então, da sua irmã e da sua mãe trabalhar aqui na...
R – Não. Só a minha irmã trabalhava na Petrobras e ela me deu muita força, me incentivou muito. Eu lembro que eu estudava sozinha, né? Já com um filho pequeno, o Diego, e, eu morava num sobrado. E eu ficava tipo, assim, até uma hora da manhã estudando e na datilografia, naquela máquina tátátá. (riso) Aí, a vizinha de baixo, no dia seguinte eu fui trabalhar, ela falou assim: “É, hoje você ficou estudando até uma e meia, hein. Que eu ouvi o barulhinho da máquina” (riso) Pra poder, né, passar, me dediquei muito, né? Naquela época, há 22 anos atrás, o concurso da Petrobras era todo feito por ela mesma, não era grande, né? Do jeito que ela é hoje, né? A Bacia de Campos.
P/1 – E a realidade que você encontrou aqui na Petrobras, você começou com a máquina de escrever, como que foi isso? Conta um pouquinho essa parte...
R – Era, era. É, foi da máquina de escrever, né? Aí, começou a surgir a conversa de informatização administrativa: “E, aí, com a informatização, com a era dos computadores vai diminuir pessoal” “E vai ter que, então, gente vai ser mandado embora, tem alguém”. Ao mesmo tempo que existiam expectativas boas, existia, também, um pouquinho de medo na gente: “Ué, então a gente vai ser mandado embora?” Idêntico a história do (SAP-R3?), a mesma coisa, né?
P/1 – O que é o (SAP-R3?)?
R – O (SAP-R3?) é esse programa, é, implantado na empresa, onde você, a empresa tem acesso às informações todinha da empresa aonde ele estiver, a Petrobras no Rio, a Petrobras no norteste, através desse programa, ela acessa a Bacia, a Bacia acessa o nordeste. É um programa, vamos dizer, assim, que tem a contabilidade, tem o planejamento, a produção tudo nele, os materiais, o controle de saída de material, neste programa. Pra você ter uma tomada de decisão rápida na empresa, você não depender só de informação de um, daí, dois dias de outra gerência. Então, a promessa, que com a implantação do SAP ia diminuir, também, o pessoal, que o programa era só apertar botão. A mesma história de 20 anos atrás. Então, é um círculo, é um círculo. E eu, assim, amei isso, ao mesmo tempo que você sofre com essa mudança, né? Porque o SAP entrou, então, muita coisa em inglês, muita coisa, assim, rápida e os jovens entrando. Agora, a brincadeira desse jovem de hoje é o computador, que é diferente da minha época. Então, tudo pra eles no SAP é rápido, foi fácil, já nós, mais antigos, tivémos dificuldade, sofremos muito. Eu sofri muito com isso, sofri muito essa época, essa transição. Mas quando você passa essa fase de aflição, de você querer aprender logo, e, ao mesmo tempo competindo com outra geração na empresa, você passa isso, que você amadurece, aí, você desfruta: “Aí, como que é bom! ” Né? Quanta coisa eu aprendi, não é? E que no momento, naquele momento da aflição você nem consegue enxergar isso, você fica nervosa, você se debate, mas tudo, assim, foi válido. É, eu costumo dizer pros jovens que estão entrando hoje: “A Petrobras, vocês aproveitem, porque a Petrobras é uma escola”. É uma escola em tudo, em relacionamento humano, em crescimento profissional, é, o relacionamento com outras empresas exteriores, então, você cresce muito, você aprende muito. Eu aprendi muito nessa empresa, muito! E, por isso que eu valorizo muito ela, porque eu sei o que é que eu tinha e o que eu passei a ter depois da Petrobras. E, por isso, eu incentivo. Eu já tenho uma filha que está trabalhando aqui e tenho um filho que trabalha em prestadoras de serviço, também, na área de petróleo. Eu estimulo muito eles.
P/1 – E nesse período que você está aqui, desde 86, você se lembraria de alguma função que deixou de existir, assim, nesse processo de informatização?
R – Ah, deixou. Eu lembro, eu lembro, deixou. Olha, a empresa, hoje, ela não tem mais os administrativos dela, né? É mais, é, contratos. É, deixou de existir, também, o auxiliar de portaria, que ela tinha e que não tem mais os auxiliares de portaria. Auxiliares de plataformas, não tem mais, hoje.
P/1 – Mas, isso, em função da implantação das novas tecnologias?
R – Não, eu não vejo não. Eu não vejo que foi, assim, em relação à tecnologia, não. Mas por modernização, né, do mercado de trabalho, empresa de petróleo. Eu acho que a empresa foi vendo que não havia essa necessitade de ter esses empregados direto, sendo que ela poderia ter uma mão-de-obra, né, contratada, sem o vínculo, né? Com a empresa.
P/1 – Fatima, qual foi o maior desafio que você enfrentou aqui na Bacia de Campos?
R – O meu maior desafio? Olha, como é que é o seu nome?
P/1 – É Douglas.
R – Douglas, eu vou te dizer, o maior desafio que eu estou enfrentando, por incrível que pareça, é o meu final aqui na empresa. Eu, ontem ou anteontem, ainda estava falando com o meu marido: “Juarez, eu fiz o programa de preparação pra aposentadoria e eu estou com o meu coração igual que está, assim, um troço apertando ele”. Porque ao mesmo tempo que eu estou querendo sair aposentada, falta um ano e pouco, dois anos. Eu já posso sair se eu quiser. Eu não quero, por que? Porque eu sinto aqui a continuação da minha casa, da minha família. Então, eu acho, eu não gosto nem de falar muito que dá vontade de chorar, eu acho que isso aí vai ser um corte muito grande pra mim e eu, depois desse programa de preparação que a gente fez, eu, assim, eu passei a me preocupar mais, porque eu estava muito na espectativa de sair e tal. E sair aposentada e tal. Mas só que eu fico olhando os meus colegas que já estão aposentados e estou sempre perguntando a eles como que é a vida de aposentado: “Tem aquele, a impolgação dos primeiros seis meses e, depois, volta a rotina que não é muito. Se você não estiver bem preparada pra sair, com muito desejo de sair, eu acho que o negócio não vai ser bom não”. Mas pra mim, hoje, isso está sendo o maior desafio, porque vários desafios eu já passei na empresa e graças a Deus eu superei. Esse do SAP, então, nos últimos cinco anos, meu Deus! Foi muito grande pra mim.
P/1 – Mas do que você acha que vai sentir mais saudade?
R – O que eu vou sentir saudade é dessa relação, né? Da gente estar aqui oito horas por dia com os nossos colegas de trabalho, com os nossos gerentes, com os desafios, é, com as cobranças e que você tem que dar conta, né? “Tal dia você tem que entregar isso. Tal dia você tem que fazer isso”. Isso, de uma certa forma, é, eu chamo, assim, como se fosse um óleo na gente pra fazer a gente produzir. (riso) Pra gente mesmo e pra empresa, entendeu? Essas cobranças, esse relacionamento que a gente tem com os colegas, é, as brigas. A gente briga, discuti, mas daqui a pouco está tudo bem. Igualzinho em casa. Então, hoje, minha filha já casou, meu filho já está adulto, não casou ainda, mas vive nas farras dele, então, é mais eu e meu marido, então, eu já sinto falta disso aqui. Nem saí, mas eu já sinto falta da Petrobras. Então, eu acho que esse relacionamento é fora de série. Eu vejo assim. Tem gente que não, mas eu gosto muito.
P/1 – E você lembraria de alguma história interessante, engraçada ou triste que tenha marcado esses seus anos de Petrobras?
R – É a história linda que. A história triste é que são. A história mais triste, que cortou comigo, que acabou comigo foi o afundamento da P-36, né? Que eu acho que não foi só pra Fatima, pra empregada, pra petroleira Fatima, mas foi pro Brasil inteiro, né? Pra empresa toda. É, isso aí foi, isso foi uma coisa que me marcou muito, aquela imagem até hoje eu tenho na minha mente. Quando eu vejo, quando acontece qualquer acidente na empresa, sempre que falam em algum acidente na empresa, a primeira imagem que vem, vem daquela P-36, assim, de lado afundando. Então, isso me marcou muito, eu fiquei muito triste com isso. E, assim, a coisa que me emociona, que eu gosto demais, é quando a P-25 está sempre subindo os recordes dela de produção, que é a plataforma do Ativo de Albacora, onde eu trabalho. P-25 e P-31. Então, cada vez que a P-25 está com eficiência maravilhosa de IUGA. Ah, eu fico feliz da vida, né? O IUGA é um índice de utilização do gás, né? Quando você queima pouco gás, você utilizou bem o gás. Então, a plataforma P-25 é, assim, uma referência. Então, isso eu me sinto orgulhosa, porque eu faço parte da P-25.
P/1 – Existe algum tipo de comemoração característico, assim, quando você recebe boas notícias, por exemplo, da P-25?
R – Ah, sempre tem uma plaquinha, né? Sempre tem um elogio. Isso faz bem pra gente. (riso)
P/1 – No dia do afundamento da P-36 você estava trabalhando? Você se lembra como foi?
R – Eu estava. Foi, eu acho que foi em março, foi no mês de março. Eu não lembro bem. Eu estava saindo de casa umas seis e meia e o vizinho falou que tinha ouvido na televisão. Eu falei: “Gente, mas, assim, de repente. Não é possível”. Eu não conseguia acreditar naquilo que o vizinho falou, eu achei que aquilo já foi um aumento das pessoas. E quando eu cheguei aqui e deparei que era real, que era verdadeiro, eu vou te dizer, a senção é como se tivesse entrado um ladrão na sua casa e roubado alguma coisa sua. Eu comparo esse sentimento. Quando eu vi a P-36 afundando foi como se tivesse um ladrão entrado na minha casa e me tirado alguma coisa.
P/1 – Fatima, o que é ser petroleira?
R – Eu vejo o que é ser petroleira, é você estar constantemente aprendendo. Você nunca pode dizer que sabe tudo, a gente está sempre sendo desafiado. Quem inventou que o desafio da Petrobras é a nossa energia, o nosso desafio é a nossa energia, foi uma pessoa muito sábia, que inventou essa frase, esse slogan, porque, assim, eu achei lindo e maravilhoso, porque isso é na prática. Isso é verdade. No nosso dia-a-dia ser petroleiro é enfrentar todo dia um desafio novo. E quando a gente consegue, aí, eu dou pulos de alegria. (riso)
P/1 – Fatima, você quer dizer alguma coisa que eu não tenha perguntado, que tenha escapado?
R – Não, eu acho que foi tudo bem. Eu acho que não tem nada mais a acrescentar, não.
P/1 – Pra terminar eu queria saber da sua opinião a respeito do nosso projeto, que é de contar a história da Bacia de Campos, né? Através da história de vida das pessoas que trabalham aqui.
R – Eu acho esse programa excelente. Eu achei lindo. Esse programa está de parabéns, quem criou, quem inventou isso aí, porque isso vai servir pra essa geração nova que está chegando. Pra mim vai ser um arquivo, né? Pra eu mostrar futuramente pros meus netos. Então, eu acho esse programa maravilhoso, está de parabéns quem criou ele.
P/1 – Está bom então.
R – Obrigada.
(FINAL DA ENTREVISTA)
Lista Dúvidas:
(OP-P-25?)
(SAP-R3?)
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