Memória Petrobras
Depoimento de Reubem Luiz Moreira Faria
Entrevistado por Morgana Maselli e Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PETRO_TM043
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Boa tarde!
R – Boa tarde.
P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que você nos diga: o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome é Reubem Luiz Moreira Faria, eu nasci em 30 de julho de 1954, em São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro.
P/1 – Qual é a sua formação, Reubem?
R – Eu sou formado em Engenharia e em Direito.
P/1 – Primeiro em Engenharia e...
R – Eu me formei em Engenharia pela UFRJ, em 1978 e, depois, em 1996 eu prestei novo vestibular, eu fui pra UERJ, onde eu resolvi estudar Direito, né?
P/1 – E o seu ingresso na Petrobras?
R – Eu entrei na Petrobras em 25 de janeiro de 1979, logo depois que eu me formei em Engenharia.
P/1 – Foi o seu primeiro emprego?
R – Não, eu já tinha trabalhado antes em outras...mas não na atividade de engenharia, né?
P/1 – E na Petrobras você foi trabalhar em que área?
R – Eu comecei trabalhando na divisão de planejamento do departamento comercial, é, eu trabalhava no setor que cuidava de informática e que estava praticamente começando na Petrobras, né, era inexistente, estava começando ali, era o setor de organização e métodos, eu fiquei por um tempo ali, logo depois, é, eu fui trabalhar no setor de preço, que se tornou uma divisão de preços, e aí, foi toda uma história, uma longa história nessa área de preços. Posteriormente eu trabalhei, é, na área de gás natural, inicialmente no próprio departamento, na própria área comercial, né, e depois fui cedido pra Braspetro, que se tornou depois, é, a área de gás e energia e, mais tarde, retornei para a área de abastecimento, é, inicialmente no transporte marítimo e, atualmente, estou no marketing e...
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Depoimento de Reubem Luiz Moreira Faria
Entrevistado por Morgana Maselli e Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PETRO_TM043
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Boa tarde!
R – Boa tarde.
P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que você nos diga: o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome é Reubem Luiz Moreira Faria, eu nasci em 30 de julho de 1954, em São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro.
P/1 – Qual é a sua formação, Reubem?
R – Eu sou formado em Engenharia e em Direito.
P/1 – Primeiro em Engenharia e...
R – Eu me formei em Engenharia pela UFRJ, em 1978 e, depois, em 1996 eu prestei novo vestibular, eu fui pra UERJ, onde eu resolvi estudar Direito, né?
P/1 – E o seu ingresso na Petrobras?
R – Eu entrei na Petrobras em 25 de janeiro de 1979, logo depois que eu me formei em Engenharia.
P/1 – Foi o seu primeiro emprego?
R – Não, eu já tinha trabalhado antes em outras...mas não na atividade de engenharia, né?
P/1 – E na Petrobras você foi trabalhar em que área?
R – Eu comecei trabalhando na divisão de planejamento do departamento comercial, é, eu trabalhava no setor que cuidava de informática e que estava praticamente começando na Petrobras, né, era inexistente, estava começando ali, era o setor de organização e métodos, eu fiquei por um tempo ali, logo depois, é, eu fui trabalhar no setor de preço, que se tornou uma divisão de preços, e aí, foi toda uma história, uma longa história nessa área de preços. Posteriormente eu trabalhei, é, na área de gás natural, inicialmente no próprio departamento, na própria área comercial, né, e depois fui cedido pra Braspetro, que se tornou depois, é, a área de gás e energia e, mais tarde, retornei para a área de abastecimento, é, inicialmente no transporte marítimo e, atualmente, estou no marketing e comercialização como assistente do gerente executivo de marketing e comercialização.
P/1 – Qual é o nome do gerente?
R – É, José Raimundo Brandão Pereira.
P/1 – Eu gostaria de explorar. No seu início, no departamento de comercialização, já era DECOM?
R – Era o antigo DECOM.
P/1 – E era um departamento grande? Conta pra gente como era lá.
R – Ali, bom, era uma...o departamento comercial tinha diversas divisões que cuidavam, né, da comercialização de derivados de petróleo e, também, cuidava das importações, não é? O que hoje se tornou o abastecimento era, na verdade, né, dividido em três áreas principais: que era a área do departamento de transporte e que se tornou depois a Transpetro, o DEPIN, que é o departamento industrial, e o departamento comercial, que era o DECOM. No DECOM existiam várias divisões, né, uma que cuidava do petróleo, das importações de petróleo, outra da comercialização de derivados, que tinha um setor que era responsável pelo mercado externo e outros pelo mercado interno, tinha uma divisão que era de controles e perdas, que eu me lembre, assim, que era a DIMOV, a Divisão de Movimentações e Perdas, tinha uma divisão de produtos especiais, que era a DIPRE. A antiga DIPRE tinha uma divisão de planejamento, que dentro dela tinha um setor de preço, tinha um setor de orçamento, de organização e método, um setor de estudos, tinha – então, deixa eu me lembrar – é, uma divisão de abastecimento de navios, que era a DINAV, tinha uma divisão de novas energias, que era a que cuidava de álcool, carvão e, depois, veio, é, também cuidar de uma parte do gás natural, né – deixa eu ver se não está faltando alguma outra – então, tinha a divisão de petróleo, divisão de derivados, de produtos, né, de comercialização de derivados, basicamente é isso daí que eu me lembro.
P/1 – Até, pra gente dar um salto, quando é que vira abastecimento?
R – Tornou-se abastecimento, se eu não me engano, foi, é, em 1996, quer dizer, virou primeiro ABNKC, Abastecimento, Marketing e Comercialização, né, e outras divisões que foram incorporadas ao abastecimento, mas foi, se eu não me engano, foi em 96.
P/1 – Você trabalhava dentro dessa divisão de planejamento, como era o seu trabalho lá?
R – Bom, na divisão de planejamento aonde eu comecei, né, eu cuidava, eu trabalhava no setor de organização e métodos, que começou a projetar, a fazer, a estudar os processos e a implantação de sistemas de processamento de dados dentro do antigo DECOM, pra quem hoje vê uma pessoa, um trabalhador qualquer, todo empregado da Petrobras com um micro computador na sua frente, né, não consegue avaliar, a imaginar o que era no passado, né, que em todo departamento comercial existiam dois terminais de processamento de dados, todo processamento de dados era feito no 15° andar, no antigo SEPROD, é, Serviços de Processamento de Dados, e o resto, e as áreas todas eram, é, de no máximo um ou dois terminais ligados à ele, onde o acesso era compartilhado, né, e havia muita disputa por um terminal de processamento de dados, inclusive, tinha um aspecto interessante, quer dizer, apesar dessa disputa por quem gostava de processamento de dados, mas era basicamente tudo feito manualmente, né, todos os serviços, relatórios e etc, cadastro, tudo, tudo era manual, tudo era feito com datilografia, né? Eu me lembro de começar a fazer o que a gente chamava de (Speed Ent?), hoje todo mundo conhece por (DIPS?), né, mas tinham os expedientes pra diretoria, tinham as (CI’s?), que eram as comunicações internas, tinham os formulários próprios, então, nós fazíamos o rascunho, né, a mão e, depois, mandava pras secretária e tal que datilografafam e tudo, depois, vinham os erros, a gente corrigia os erros e tal, né? Os expedientes que eram longos, às vezes, tinham que ser imendados, colados pra poder facilitar o trabalho, né, o retrabalho. E processamento de dados não existia, né, esses softwares, essas coisas, todos esses recursos que conhecemos hoje não existiam, né? Então, por exemplo, quando eu fui trabalhar na área de preços eu me lembro de um colega que fazia, ele tinha umas planilhas enormes, né, aonde tinha o nome de todos os produtos, e ele fazia aqueles ensaios todos projetando o mercado, é, se o preço variasse de tanto pra tanto, aí, ele fazia aqueles cálculos, lá, naquela máquina elétrica, né, e aí, ele anotava tudo a mão, anotava, aí, fazia aquelas projeções em milhares – oh, eu, (riso) em milhares – é, dezenas de planilhas, todas feitas a mão, e com base nisso, né, é, nessas planilhas, essas planilhas eram enviadas, as projeções eram enviadas pra Brasília, onde o antigo departamento, o antigo CNP, Conselho Nacional do Petróleo, né, fazia os estudos, e com base nisso, é, publicava, editava os preços dos derivados de petróleo, não é? Mas tudo era feito manualmente! O computador, é, a propagação, né, de processamento de dados, só veio acontecer na década de 80, no final, né, e assim mesmo ainda com terminais, quer dizer, a multiplicação de terminais de processamento de dados nos diversos setores, depois, quer dizer, bem depois, na década de 90 é que vieram surgir as planilhas eletrônicas, que servem...por exemplo, primeiro foi (supercalc?), então, teve a primeira etapa de, é – como é que chama? – de minicomputadores, né, com planilhas eletrônicas complicadas que, às vezes, era mais fácil trabalhar manualmente do que com essas planilhas, e depois, muito depois é que veio surgir, né, o excel, veio a surgir o word, né, que facilitou bem o trabalho, hoje, cada um faz o seu próprio trabalho, não tem que mandar pra secretária pra, né, pra interpretar, às vezes, a letra de quem escreve, né, que antigamente as secretárias tinham o serviço duplo de escrever e interpretar a grafia, vamos chamar de caligrafia de quem escrevia, né, então, às vezes, eram verdadeiros garranchos e ela, coitada, tinha que fazer tudo aquilo, né?
P/1 – Reubem, quando você entrou, você entrou em 79, né?
R – Em 79.
P/1 – Você pegou a crise do petróleo...
R – É, quando eu entrei em 79...
P/1 – ...entrou num momento de crise, como é que era?
R – Quando eu entrei, na verdade, no primeiro momento eu ainda tive que fazer praticamente uns dez meses de curso, não é, que era o curso preparatório lá do, é, era um nome, o maior nome de cargo que eu já tive na Petrobras, o nome era técnico de importação de suprimentos de petróleo e derivados estagiário, era um cargo com nome pomposo, né? (riso) Depois, esse cargo, esse título, né, ele foi mudando, né, é, hoje seria analista de – nem eu mais sei – analista de comercialização e logística, mas já foi analista de comércio e suprimento, então, é, pro mesmo cargo, pra mesma função, é, vários nomes, não é, que nós tivemos ao longo da nossa história, né?
P/1 – Mas e aí, você fez esse curso e...
R – Foi bom, foi no auge da crise do petróleo, né?
P/1 – Pois é, e como é que estava o departamento?
R – Não, ele estava...
P/1 – A sua rotina se alterou?
R – Não, ele estava em fase de crescimento.
P/1 – Estava em fase de crescimento?
R – É, porque nessa fase tinha um aspecto interessante, porque a Petrobras, por ser uma empresa estatal, monopolista e brasileira, certo, ela fazia muitos contratos, é, tinha muita facilidade, né, de fazer contratos de compra de petróleo no mundo Árabe, né, então, tinha certa facilidade, lá, pelo papel da Petrobras, o papel de monopolista e de estatal, naquela época eu acho que isso foi muito importante pra que a Petrobras tivesse assegurado o suprimento de petróleo no Brasil, na verdade, naquele momento nossa produção interna era irrisória, né, é, praticamente 90% ou mais do petróleo era importado, e importado de países da OPEP, não é, então, foi muito importante a atuação do departamento comercial, é, na celebração de contratos, porque existiam as compras (spot?), né, que é chamado de compras (spot?), com variações muito bruscas, e a Petrobras tinha, mais ou menos, uma garantia não só do fornecimento, mas de um preço mais estável, isso aí, quer dizer, quem pode falar melhor a respeito disso é o pessoal da área de petróleo, né, que cuidava da área de contratos de petróleo, quer dizer, eu estou passando aqui uma informação muito rápida, mas não...
P/1 – E você foi pra área de preços?
R – Aí, em, mais ou menos, 1981 ou 82 eu fui convidado pra trabalhar no setor de preços da mesma divisão de planejamento, o gerente, lá, na época, o chefe era o Antônio Sérgio de Cajueiro Costa, o Cajueiro, que hoje está na TBG. Aliás, seria muito interessante que ele fosse convidado, ele é diretor da TBG, seria muito interessante que ele fosse convidado, que ele pra mim é uma pessoa importantíssima pra essa memória, né, pra esse histórico. Então, ele me chamou, é, ele quis me realocar pra essa área, que era uma área muito demandada de pessoal, e aí, começou todo o meu aprendizado de preços.
P/1 – E foi complicado, como é que foi?
R – Não, foi..., quer dizer, era uma área, que quando eu saí do curso, né, ninguém queria ir, praticamente ninguém queria ir pra lá, aliás, um pedido que eu fiz, eu disse: “Olha, por favor, eu vou pra DIPLAN, desde que não seja pra trabalhar com preços”. Eu achava muito complexo, muito ligado, assim, a Brasília, muito política, né, e, assim, era uma área muito misteriosa, muito, assim, é, de muitos segredos. Eu não sei se vocês se lembram, mas nessa época, né, até, o Governo Itamar, né, os preços só eram divulgados à meia-noite, ou depois da meia-noite, alguém se lembra disso ou não?
P/1 – Eu lembro vagamente. Por que tinha essa lógica de...
R – Primeiro, porque era pra ninguém abastecer o carro com o preço antigo, (riso) né, então, pra não ter corrida aos postos. E outra, porque, é, com essa crise do petróleo, né, os preços sempre subindo e tal, então, o Governo fazia muito mistério quanto à essa divulgação dos preços, então, a área de preços, ali, naquela época foi vista como uma área muito misteriosa, até mesmo pra quem trabalhava lá, haviam muitos segredos, por exemplo, quando ocorria uma alteração de preços, então, nós só éramos avisados: “Olha, fique de plantão”, aí, a gente sabia: “Olha, pode acontecer e pode não acontecer”. Aí, quando dava, lá, por volta das 11 horas da noite, dizia: “Olha, vai ter, confirmado!”. Então, sem processamento de dados, sem equipamento de nada nós pegávamos umas folhas de papel carbono, é, várias folhas de papel carbono, que era com o papel carbono que nós aprontávamos os, é, manualmente, né, os telex de informação de preços pros órgãos de faturamento, pros clientes, quer dizer, os preços vinham de Brasília, os preços básicos de faturamentos, né, os da estrutura. Agora, a inclusão dos tributos, assim, a inclusão de outros elementos nós é que calculávamos dentro da Petrobras, então, era muita gente pra calcular, pra fazer vários preços, isto é, pra divulgar esses preços. E saíamos com as mãos azuis, por causa do carbono, tá certo?
P/1 – Mas o preço vinha fixado de Brasília, então?
R – Olha, o preço, como é que era? Tudo era controlado pelo Governo, o preço na bomba era definido em Brasília, o preço da gasolina, dos principais produtos, do diesel, é, do querosene iluminante, né, mas principalmente da gasolina e do diesel, aí, depois do álcool também, né, do álcool hidratado, tudo era fixado na bomba, e o preço era igual no Brasil inteiro, em todos os postos, certo? Então, outra coisa, você não, é, não podia comprar...não existia praticamente cartão de crédito, e mesmo quando passou a existir os postos não poderiam vender com cartão de crédito, a venda, o pagamento com cartão de crédito passou a ser um avanço por quê? O preço tinha que ter um rigor do fluxo de pagamento, certo, o posto recebia a vista, né, tinha um prazo pra pagamento à distribuidora, o CNP fixava o prazo também, é, no pagamento à Petrobras, tá certo, por região, na Amazônia um prazo, cada produto num prazo diferenciado, então, tudo era dentro dos rigores do CNP, então, o que acontecia, é, como é que você fazia? Montava uma estrutura de preços em que o consumidor lá em Manaus pagava o mesmo que o Rio de Janeiro, era uma coisa bem complexa, né? Tinha, aí, o transporte ferroviário, o transporte rodoviário, tinha a margem de distribuição, a margem de revenda, é, tinha o preço do petróleo como um fator também, né, que ele influenciava no custo de importação, a taxa de câmbio, vários elementos da estrutura e, depois, veio a ter o álcool, o preço de aquisição do álcool ao produtor, não é, que na mistura passou-se depois a ser misturada à gasolina, então, toda a composição dependia disso. Qualquer alteração, é, de frete ferroviário, era definida pelo Governo e influenciava a estrutura de preço. Qualquer alteração na margem de revenda, né, no preço pelo qual o posto era remunerado, era influenciado também e definido pelo Governo, tudo era tabelado pelo Governo, qualquer alteração no frete rodoviário, tá certo, então, tudo era controlado, e qualquer mudança em qualquer ítem desse significava uma nova estrutura de preço, tá certo? Se o Governo, por exemplo, resolvia reconhecer que a Petrobras tinha que ser, é, mais bem remunerada ou adequadamente remunerada pelo petróleo que importava, tá certo, podia, às vezes, não ter influência no preço final ao consumidor, mas tinha influência na estrutura interna, tá certo? Ao longo de toda essa história, por exemplo, né, nós passamos por preço controlado, mas num regime ainda do imposto único, que foi antes da Constituição de 88, né, e depois da Constituição, com o ICMS, então, é, com o ICMS, então, foi uma multiplicidade enorme de preços pros mesmos derivados, então, tinha estado, por exemplo, que elegeu a Petrobras como o contribuinte substituto, ou substituta, né, do ICMS, a Petrobras efetuava os recolhimentos, é, em diversos níveis, outros elegeram a distribuidora, e outros simplesmente deixaram toda a cadeia normal, então, foi uma mudança também, é, muito ampla, né, nos trabalhos de formação de preços.
P/1 – E isso foi quando?
R – Isso foi, quer dizer, de 89 em diante. Mas continuou ainda tudo sendo controlado pelo Governo, né? Bom, aí, o que aconteceu também? Nessa fase, principalmente em 88, 89, tivemos, experimentamos um período de inflação extremamente elevada, então, quer dizer, tivemos inflação acima de 40, chegamos, até, quase a 70% de inflação ao mês! O impacto disso na receita da Petrobras era enorme, a tal ponto do seguinte: se você desse um prazo de 25 dias, de dez dias, isso aí, né, implicava numa queda da receita, brutal, então, tivemos também que atuar junto ao CNP, ainda, né, no sentido de reconhecer que a estrutura de preço, quer dizer, que o preço de venda da Petrobras tinha que ter, é, uma fixação a vista, né, no estabelecimento dele era a vista e, por conta dos prazos que se davam pro pagamento, né, tivemos o direito de incluir encargos financeiros, com isso, é, a área responsável pela formação de preços, né, na qual eu também trabalhei por vários anos como chefe de setor, é, de preços, que a gente é que fazia a divulgação de todos os preços e dos estudos também, é, tivemos que fazer, às vezes, duas estruturas, quer dizer, quatro estruturas por mês, só, por conta de encargos financeiros que mudavam toda a semana, então, nós tinhamos estrutura, em função de encargos financeiros, pelo menos quatro por mês, em função de correções internas, é, dos custo de petróleo, da taxa de câmbio, em função do reajuste de frete rodoviário, do frete ferroviário, é, que era devido pela rede ferroviária federal, tá certo, em função do preço de álcool, qualquer ítem...
P/1 – Tudo isso por causa da inflação?
R – Por causa da inflação e por conta de ajustes mesmo, né, do próprio segmento, né? Se subia o preço do produtor de álcool, isso impactava a estrutura de preço do álcool e da gasolina, tá certo? Se havia um reajuste pra remunerar adequadamente o transporte rodoviário, também impactava em toda a estrutura, então, era uma complexidade enorme, né? Se eu fosse falar isso aqui, era (riso) tinha que preparar uma apostila, uma aula, não sei o que, né? Bom, por isso, né, quer dizer, no início, lá, quando eu fui trabalhar na área de preços, não era tão complexo assim, porque ainda não estava numa situação de inflação elevada e, também, por que era uma estrutura mais simples e com um imposto único na maioria dos produtos, mas ao longo, né, a partir da década de 80 a coisa foi se complicando, né, e com a inflação, então, ficou insuportável, não é, ficou um trabalho extremamente elevado, não só pra divulgação de preços, mas também pros estudos, projeções, né, porque também é uma coisa que é inegável, né, que, é, os preços de derivados impactavam na inflação e a inflação impactava nos preços, quer dizer, é uma coisa correndo atrás da outra, né, então, por muito tempo o Governo teve que usar a estrutura de preço pra controlar a inflação, só, que o que acontecia, né? É, revendedor não pode ter prejuízo, operar com prejuízo, se ele estava defasado o Governo tinha que considerar a necessidade dele de remunerar os seus custos, né, de pagar os custos. As distribuidoras que eram, é, privadas em sua maioria, também reclamavam. Os produtores de álcool queriam remuneração adequada pra eles, no meio disso tudo quem ficava? A Petrobras, certo, então, a Petrobras, às vezes, tinha que ficar ali segurando, sustentando uma situação de desiquilíbrio, tá certo, pra poder tentar equilibrar a situação de controle da inflação do Governo, então, por vários anos a Petrobras teve defasagem de preço, né, enquanto comprava, adquiria petróleo no exterior a um preço muito alto, e o câmbio, também, muito elevado, aí, foi se formando o que se chamou a conta petróleo: “Um dia vai se pagar. Um dia vai se pagar”. Depois, teve a conta a álcool, nós chegamos a uma situação tal, em que o preço do álcool, é, no produtor era mais caro do que na bomba, vocês imaginam, nós vivenciamos essa situação, quer dizer, pra Petrobras seria mais vantagem (riso) comprar na bomba, né, no posto de revenda do que no produtor, mas ela era obrigada a comprar do produtor. Então, tivemos situações, e situações diversas, é uma história muito complexa, se eu for contar isso aqui, não termina!
P/1 – E você ficou nessa área de preços, e você foi pra área do gás quando?
R – Eu fiquei nessa área de preços de, é, 1982 até 1996, né? Então, o que aconteceu? O meu setor, né, o que eu chefiei, era responsável por enviar todas as informações pros órgãos de faturamento, e daqui, da própria sede, né, nós desenvolvemos o programa num software que ninguém gostava de usar, que era o FCS, e poucas pessoas sabiam usar, com isso nós modernizamos aí, né, a alimentação de dados para os próprios órgãos locais, né? Então, nós administrávamos, de álcool, cerca de mil e 600 preços, em códigos, né, de álcool anidro...
P/1 – Esses mil e 600 preços são de todos os...
R – Só de álcool!
P/1 – Só de álcool?
R – É.
P/1 – Por que tem tanto preço de álcool?
R – Porque é o seguinte: o álcool anidro é usado pra misturar a gasolina, então, ele tinha que ser vendido a preço de gasolina pra distribuidora, basicamente é assim, né? Como ele era, é, produzido em diversas usinas, tá certo, então, e os preços também eram diferenciados por região, não é, então, você teria que fazer uma estruturação tal, que quando ele chegasse ao distribuidor ele fosse preço de gasolina, e tudo, é, a estruturação por dentro é que era diferenciada, então, ali tinha: transporte ferroviário, transporte rodoviário, às vezes, é, em duas bases, tá certo, saía, por exemplo, de uma usina lá no Paraná, ou lá no interior de São Paulo, aí, você considerava o transporte dele pra uma base, é, em Bauru, aí, de Bauru saía de trem pra outro lugar, pra uma outra base em Goiânia, aí, de Goiânia saía pra um outro ponto, entendeu? Então, toda a estruturação era definada, é, de tal forma que, é, chegasse ao consumidor a preço de gasolina, tá certo? Então, e isso dava um trabalho enorme, né, pra montar essa estrutura de formação do preço de álcool, então, o álcool de uma usina tal, pra um centro de mistura tal, tinha toda uma estrutura, era um único preço, certo? Se fosse pra outro centro de mistura? Era outro preço. Se saísse de uma outra usina? Era outro preço, e assim, né, tínhamos vários preços, eram cerca de mil e 600 preços por administrar todo mês. Aí, o que acontecia também? Se mudasse o preço da gasolina, por conseguinte o álcool também mudava essa estrutura. Dos diversos produtos? Tinham mais outros dois mil preços, por exemplo, por administrar de outros produtos, por quê? Por conta de tributos, se era, é, sem ICMS, com ICMS de 12%, com ICMS de 17, 18, 25, então, cada um era um preço, não é? E, é, então, tínhamos esse programa pra alimentar, e tínhamos também, que fazer a formação, a composição do preço junto ao CNP e, depois, ao Departamento Nacional de Combustíveis, né, aonde ficava toda a composição, até, a parcela que a Petrobras efetivamente recebia, né? Bom, com base nessa parcela que a Petrobras recebia, que a gente chamava, né, de preço de realização, ou valor de realização. Do valor de realização nós fazíamos toda a projeção, de tal forma que, é, que buscássemos, né, junto ao Governo uma remuneração mais adequada, tá, que era com base em quê? Em quatro grupos, né, que – pô, se (riso) eu começar a falar isso aqui vai...
P/1 – É muito complicado.
R – É. Eram quatro grupos, então, você tinha, né, um grupo que remunerava petróleo importado, o petróleo nacional, ele não entrava nessa conta, quer dizer, né, pelo menos, porque na estrutura inicialmente montada, ele era insignificante. Então, remunerava o grupo um, que era petróleo, o grupo dois, que era o pessoal envolvido na comercialização, o EIP praticamente não existia, né, não era considerado, tinha o grupo três, que eram outros custos, e o quatro, que era a remuneração do parque de refino, né? Então, montava toda essa estrutura. Bom, esses quatro grupos, né, formavam um valor que deveria ser o valor médio de realização da Petrobras, mas como se chegava a essa equação? Aí, pegava-se o valor de realização de cada produto, vezes a média ponderada, né, pelo mercado trimestral desse produto, então, a somatória do valor de realização, pelo mercado do produto, dividido pelo mercado total, teria que dar igual aqueles quatro grupos, quer dizer, é uma coisa chata, complexa, né? Quer dizer, não é tão complexa, porque, é, há uma equação bem definida, mas pra se chegar de uma coisa a outra, né, aí, se diz: “Bom, isso aqui não pode subir aqui, eu não posso subir o (Cif-Estrutura?), porque senão vai ter inflação”, então, é uma conta que para se chegar é muito complicado, pra você, é, conseguir o seu objetivo, né, dava trabalho! E aí, começávamos a fazer projeções de preços pra próxima estrutura, fechada uma: “Vamos fazer a outra”, porque, também, pra que os preços fossem uniformes existiam parcelas compensatórias internas, certo, no início eram as alíneas e, depois, passaram a ser os fretes de uniformização de preços, que eram parcelas da estrutura de preços – a Luciana vai poder falar melhor sobre isso daí, né, ou, eu não sei, quem mais for entrevistado, se a Isabel, né – é, então, existia uma parcela que crescia ou diminuia a cada estrutura, tá? Bom, então, tínhamos que fazer as projeções, fazer a alimentação de dados, relatórios pras gerências, né, pros diretores, não é? E quando pensávamos que estávamos livres de uma, começava uma nova estrutura, e além do mais, nós tínhamos que alimentar o sistema de faturamento da Petrobras, o que a gente chamava de faturamento e cobrança, ou sistema FACOB, então, o que acontecia? Se o órgão de faturamento lá na ponta, no núcleo de venda, emitisse uma fatura que não batesse, que não casasse com a informação constante do banco de dados da Petrobras, do banco de dados de preços, né, isso gerava um relatório de erros, e relatórios enormes de erros, tá certo, onde ia se, é, se ver aonde é que tinha acontecido o problema, em qual órgão que tinha acontecido o problema, e esse órgão tinha que fazer as correções devidas, então, existia também – eu até me esqueci de dizer no momento – uma divisão finaceira, né, dentro do departamento comercial e que era responsável por esse controle. Aí, tem um mundo de outras história, né? Bom...
P/1 – Hoje isso é muito mais fácil, né?
R – Bom, depois, no final, a partir do Collor e depois do Itamar, e com o real, né, é, partiu-se para uma, é, uma perda de controle, quer dizer, uma redução de controle pelo Governo, tá certo? Então, os tabelamentos na ponta deixaram de existir, então, ocorreu o que nós chamamos de – eu não me lembro exatamente o termo – mas é uma simplificação no processo, tá, de tal forma que no início alguns produtos menos impactantes pro consumidor final como: óleos combustíveis e etc, né, que tudo era tabelado, depois, a gasolina e o diesel, então, os tabelamentos passaram a ser por algumas regiões e, hoje, ele é...não existe um tabelamento, quer dizer, não existe mais nenhum tabelamento definido pelo Governo, né, hoje, a estrutura é parametrizada pelo mercado internacional e, é, as informações são prestadas à agência, né, à INP. Mas hoje eu, quer dizer, hoje eu já não sei mais nada sobre essa estrutura de preços. Mas em 96, quando eu saí da área de preços, já estava, praticamente, tudo definido como desregulamentado, essa é a palavra.
P/1 – Você pegou o processo dessa...
R – Sim, eu peguei o processo de desregulamentação.
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho sobre isso também.
R – Bom, a desregulamentação começou, praticamente, com o Plano Real, certo? Bom, no início do Plano Real, antes, que eu não sei se vocês se lembram, teve um momento que a moeda foi URV, então, nessa urvização, né, nós tivemos que fazer vários ensaios e definir preço a preço de produto em URV, com base nas médias de não sei quantos meses antes, foi, também, um momento de um trabalho gigantesco, não é? Bom, aí, uma vez que foi, é, que foi implantado o Plano Real, né, os valores em URV foram convertidos pra reais, a partir do real não houve mais inflação, tá certo, a inflação foi controlada, né, mas a inflação, é, até houve deflação, né? Então, aquelas estruturas que aconteciam duas vezes por mês, por conta do Governo, ou várias vezes, por conta de outros produtos ou de outras parcelas, e quatro vezes, por conta de encargos financeiros, deixaram de existir, então, primeiro houve essa estabilização que permitiu esse tipo de coisa, né, e, depois, partiu-se pra uma situação de um preço mais realista, ou seja, aquela política de que a gasolina tinha que custar a mesma coisa em Manaus ou no interior de Goiás, e a mesma coisa que nas áreas próximas das refinarias, isso aí foi pouco a pouco deixando de acontecer, então, nós trabalhamos nesse processo junto, né, lá, integrados com o antigo departamento nacional de combustíveis, de tal forma a fazer um processo gradativo de definição de poucos preços, tá certo, e nós participamos de tudo junto com eles, junto, lá, em reuniões em Brasília, trabalhos mesmo braçais, em computador, lá, em Brasília, né, e quando chegou, creio que em março ou abril de 96, ou 97, acho que em 95 – o Plano Real foi em que ano?
P/1 – Em 94.
R – É. Mas em março de 96 eu já estava...
P/1 – O real foi até 93. É, eu acho que é antes, né?
R – Não, eu acho que o real foi em 94 ou 95, por aí. Mas em março de...eu sei que foi, correspondeu, mais ou menos, ao ano que eu saí de lá da área de preços, não é, em março de 96 já estava, praticamente, tudo desregulamentado, né, e, então, tinham poucos produtos que tinham, é, definições feitas pelo Governo, pelo antigo DMC.
P/1 – Isto vocês já estavam prevendo também e trabalhando por conta do mercado?
R – O Itamar não era muito de abertura, mas chegou-se a um processo, a uma situação em que a abertura, é, se mostrava irreversível, né, porque o Governo controlava...
P/1 – Na quebra do monopólio, que estava até na Constituição?
R – Eu não creio que seja ainda pela quebra do monopólio, não! Mas é que era uma situação que o Governo controlando...quando o Collor assumiu, tudo era controlado! Tudo, todos os preços eram controlados, né? Então, existia uma máquina muito pesada no Governo pra controlar tudo, e era difícil, era chamado, até, tinha até o CIP, né, o Controle Interministerial de Preços, que controlava, é, remédios de farmácia, controlava preço de cotonetes, e tudo era (riso) o CIP, e se você manter uma máquina dessas pesada no Estado, não é, era custoso, era oneroso pro Estado, então, de fato, com o Collor, né, veio uma abertura, é, veio uma...começou o processo de saída do Estado disso daí, porque senão, né, como é que se poderia manter uma máquina pesada e controlar a inflação, né? Então, chegou-se a conclusão de que, né, o Governo, o Estado, né, chegou a conclusão, a sociedade chegou a conclusão de que não era praticável, não era mais aceitável uma situação dessas, né? E, também, que a sociedade deveria pagar, é, quer dizer, não tão pesadamente, né, você não vai onerar um consumidor lá do Acre, porque está no Acre, mas também você não pode, não seria justo que um consumidor próximo à refinaria tivesse que pagar o subsídio como uma pessoa lá no Acre, então, isso aí passou a ser, é, mais bem distribuído, mais bem equilibrado, tá certo, de tal forma que: “De fato, eu assumo uma parte, mas ele também paga uma parte por estar no Acre”.
P/1 – E isso aí foi depois do plano?
R – Foi em 96! Foi em 96!
P/1 – Depois do real?
R – É, foi depois do Plano Real. E com isso daí, você pôde diminuir a gestão de preços, a gestão da política de preços pelo Estado, que era de fato, é, muito complexa, tá certo, e o Estado pôde cuidar de outras coisas mais importantes do que, é, controlar tudo, preços em todos os níveis, tá certo? Também, com o controle da inflação isso foi possível, né? Eu creio que a gestão pesada do Estado era necessária com uma inflação elevada, no momento que a própria sociedade passou a se regular, tá certo, o Governo pôde sair e a própria sociedade mesmo, né, o próprio mercado, né, se controlava e, com isso, depois, deu margem, evidentemente, para o processo de quebra do monopólio que, na verdade, né, se chamou de uma flexibilização, mas, na verdade, o monopólio sempre foi do Estado, não foi da Petrobras, né, havia... Eu mesmo, que eu fui um defensor do monopólio da Petrobras, né, eu tenho que reconhecer que, na verdade, não tem, não existe, na verdade, nunca existiu monopólio da Petrobras. A Petrobras exercia o monopólio estatal de importação, de exportação, de transporte, de todos, né, quer dizer, de petróleo e derivados e, até, do álcool anidro, né?
(interrupção para troca de fita)
R – Bom, com o processo de desregulamentação e a simplificação de tudo, né, também, nós desenvolvemos lá um sistema mais simples, em excel, de alimentação de dados, de cálculos, de projeções, né? E aí, houve uma orientação lá, houve uma mudança, né, foi planejada uma mudança na área de preços, né, que não chegou a ser implementada, por conta da restruturação, né, criando o abastecimento, mas nesse momento...
P/1 – Isso em 96, então?
R – Em 96. Aí, é, eu...
P/1 – O que mudou com o abastecimento, assim, na área, ele aumentou, como é que foi?
R – O interessante é que algumas áreas, por exemplo, bom, antes da criação de abastecimento eu fui transferido pra área de gás.
P/1 – Mas essa área era dentro da comercialização?
R – Que era dentro do antigo DECOM, era uma divisão de gás que foi criada em 1983 ou 84, era uma divisão de gás que foi criada muito em função, eu não sei (riso) se eu deveria até falar isso, mas essa divisão de gás foi criada muito em função de se resistir ao papel, a influência, né, da atuação da CEG. A CEG queria todo o mercado de gás do estado do Rio, tá certo, na época do primeiro goverdo Brizola, então, a CEG queria expandir muito o negócio gás, a atuação dela na área de gás, e a criação da área de gás foi uma forma de, mais ou menos, de preservar o papel da Petrobras, né, nas vendas de gás pros grandes consumidores fora da área do anel da CEG, né?
P/1 – Deixa só eu perguntar: a Petrobras já vendia gás antes disso ou não?
R – O gás natural era muito...
P/1 – Ou era muito queimado, desprezado, como é que era isso?
R – É, o gás natural tinha um papel insignificante, né? Por exemplo, o gás que existia no Rio de Janeiro, por exemplo, consumido aqui, o gás da CEG era um gás produzido a partir de nafta, tá certo, era um gás de síntese, né, não existia a importância do gás natural, como o nosso gás produzido aqui na Bacia de Campos era associado ao petróleo, tá certo, quer dizer, pra produzir petróleo você produzia gás, você não produzia gás sem o petróleo, né, você não podia reservar, então, pra produzir petróleo, que era o produto importante, tá certo, o gás, ele era queimado, e nós tivemos que desenvolver o mercado pra esse gás, né, que foi quando começou a se desenvolver na área de gás, né, na antiga divisão de gás do DECOM, então, foi inicialmente fornecido naquela área ali de Cabo Frio, né, Arraial de Cabo, Álcalis, é, (Companhia Salinas Perynas?), quer dizer, seriam em substituição ao óleo combustível, mas não tinha ainda em volume suficiente pra, né, pra vendas, é, em pontos mais distantes, mas aí, então, o que começou a aconter é que foram construídos os dutos, e aí, ele foi fornecido, começou a ser fornecido pra Companhia Siderúrgica de Volta Redonda, pra outras indústrias próximas aqui de Caxias, e a Ceg começou a ter muito olho nessa área, tá certo, nesse mercado.
P/1 – Isso já na década de 80?
R – Na década de 80. Mas ainda, eu, até, estava vendo alguma coisa sobre gás aqui, porque, recentemente, eu fui, quer dizer, recentemente, não, há bastante tempo eu fui chamado pra auxiliar o jurídico num processo envolvendo, até, é, comercialização de gás natural pra uma dessas refinarias de sal de Cabo Frio, que se achava, teve gente que achou, como a Petrobras, a alternativa da Petrobras seria queimar o gás, então, esse gás tinha que ser dado de graça, (riso) como se não tivesse valor comercial algum, né? Bom, mas aí, eu entrei, quando eu entrei na área de gás esse mercado já estava desenvolvido e, também, já tinha sido definido pela Constituição de 88, que a comercialização de gás natural, né, e de gás canalizado seria efetuada por empresas, é, estatais, dos próprios estados, então, com isso a Petrobras, que no início desenvolveu um mercado de gás dentro do estado do Rio, principalmente em São Paulo, né? Mais no estado do Rio! A Petrobras teve que sair aos poucos, quer dizer, desenvolver, também, no nordeste, aí, a Petrobras construiu o Nordestão, o chamado, né, o gasoduto Nordestão, né, para a comercialização de gás naquela região, e teve que ceder espaço para as empresas distribuidoras locais, em alguns lugares, se eu não me engano, no Espírito Santo, né, a BR foi eleita como a empresa distribuidora, no monopólio, né, na distribuição de gás no estado do Espírito Santo, e gás canalizado, né? Em São Paulo tunha a Congás, que era no início, também, pouco representativa, né, em relação a CEG. A Ceg era o grande peso mesmo, né, a CEG era o grande distribuidor de gás canalizado do Brasil! Hoje, é a Congás, né? Então, é, com a Constituição, né, que estabeleceu o monopólio...no início a Petrobras continuou comercializndo gás diretamente para o grande consumidor, na área do anel da CEG essa comercialização continuou sendo feita pela CEG, que passou, também, a receber gás natural, né, no início pra indústria e, depois, pra residência, né, houve até a substituição, algumas complicadas, aí, na área da Zona Sul do Rio, né? Bom, aí depois, mais tarde, eu creio que em 97, 98 foram criadas, houve uma divisão, né, aqui no Rio, a CEG continuou com...que aqui foi privatizada, né, passou a ser responsável pela área do Rio de Janeiro, da região metropolitana, e no interior foi criada a CEG Rio, aliás, a Rio Gás, não é, e em São Paulo foram criadas três distribuidoras, e assim, é, nesse momento, quer dizer, nessa ocasião já começamos a importar gás da Bolívia, gás natural da Bolívia, basicamente pra São Paulo e pros estados do sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, né? Bom, quando eu cheguei na área de gás, eu não sabia nada sobre (riso) um contrato, o que seria um contrato de gás natural, as suas características, né, então, eu tive que praticamente esquecer preço, que foram 14 anos e tantos, né, dentro dessa área, e tive que aprender sobre contrato de gás natural, porque têm características muito próprias como: (take or pay?), quer dizer, aquela é uma cláusula que dispõe que o comprador tem que adquirir um volume mínimo, né, um volume determinado, uma quantia mínima, ou então, pagar por essa quantia, por esse volume que ele não retirar dentro do mês, então, eu tive que aprender todas essas coisas: o (take or pay?), o (delivery or pay?), quer dizer, era a contrapartida, quer dizer, se o fornecedor não entrega aquela quantia, ele vai pagar uma certa penalidade ou entregar produto alternativo.
P/1 – E quem eram os clientes da Petrobras pra gás?
R – Olha, dentro do estado do Rio tinham vários, né, tinha a Álcalis, a Refinaria Nacional de Sal, a (Companhia Salinas Perynas?), tinha, é, a Usina Siderúrgica de Volta Redonda, né, a Companhia Siderúrgica Nacional, tinha siderúrgica dentro, aqui, da cidade do Rio, tinha a Térmica de Santa Cruz. Fora do estado do Rio e no nordeste, todos os consumidores industriais eram clientes diretos da Petrobras, isso significava, também, diversos preços de gás natural, tá certo?
P/1 – Eram as grandes indústrias?
R – Eram grandes indústrias, e o consumo residencial era todo, e as próprias companhias estaduais, distribuidoras também eram clientes da Petrobras, tá certo, então, a Petrobras vendia pras distribuidoras, a CEG, a Congás em São Paulo, né, e pros grandes consumidores industriais que sibstituiram o óleo combustível que anteriormente usavam, tá certo? Bom, então, quando eu cheguei lá na área de gás eu peguei de pronto um contrato, é, de fornecimento pra Congás em São Paulo, um contrato novo, um contrato que teve que ser, né, adaptado às regras, né, que antes não existiam pra isso, né, umas regras, quer dizer, que antes não eram bem observadas pra isso, né, em padrões, mais ou menos, internacionais, compátiveis com a chegada que ainda aconteceria do gás da Bolívia, então, quer dizer, tivemos que passar o fornecimento de gás nacional, mais ou menos, nos padrões dos contratos de venda de gás da Bolívia e, também, peguei de frente uma importação de gás da Argentina, um contrato de importação de gás da Argentina para uma usina termoelétrica do Rio Grande do Sul, em Uruguaiana, então, esse contrato, quer dizer, pra um recém-chegado foi um (riso) bom aprendizado, né? Mas aprendemos, né, graças a Deus, aprendemos com certa facilidade e conseguimos negociar esse contrato lá na Argentina, que foi o primeiro, né, foi o primeiro contrato pra térmica.
P/1 – Essa área de gás, dentro da área de comercialização, ela representava o quê?
R – Bom, deixa eu contar a história como é que foi, né? Bom, tinha a divisão de gás até 96, né, até a criação da (BMKC?), e por uma visão meio estranha, essa divisão de gás se tornou um setor da divisão de combustíveis, então, na reformulação, né, foi criada uma divisão de combustíveis, e comercialização de combustíveis que eu não me lembro exatamente o nome, que incorporou a divisão de gás, que tinha, eu acho que dois ou três setores, certo, e se transformou num setor só, quer dizer, foi uma visão, no mínimo, esdrúxula, porque no momento em que o negócio gás começava a se expandir, tá certo, a divisão de gás se tornou um setorzinho, que foi nesse setor aonde eu fui trabalhar, aí, logo adiante viram, né, o equívoco, perceberam o equivoco e esse setorzinho de gás, é, se tornou uma gerência de gás natural dentro da própria (BMKC?). Por coincidência, né, o gerente dessa área nova de gás natural, é, veio a se tornar o atual diretor, o Paulo Roberto Costa, né, quer dizer, ele foi o primeiro gerente dessa área, antes dele chegou-se, por um tempo curto, o sobrinho e, depois, o diretor Paulo Roberto, o atual diretor Paulo Roberto. Então, por um tempo essa área ficou ainda dentro do departamento do abastecimento, é, com...
P/1 – E você ficou lá quanto tempo?
R – Eu fiquei ali pelo tempo que existiu dentro do (BMKC?), né?
P/1 – Mas isso foi, mais ou menos, quanto tempo?
R – Foi de 96 ou 97, até, eu creio que 99 ou 2000, uma coisa assim, foi...ou 98, por aí, foi antes de 2000. Aí, é, posteriormente, com a expansão do negócio de gás da Bolívia, né, toda essa comercialização de gás que estava no (BMKC?), no abastecimento, passou para a Gáspetro, então, é, todo o pessoal de gás ou saiu da área de gás de dentro do abastecimento ou foi cedido para a Gáspetro, tá certo, pra trabalhar, pra continuar no mesmo negócio, foi nesse momento que eu fui cedido para a Gáspetro, e ali eu continuei tratando de contratos, muitos contratos, é, pra témicas, pra usinas termoelétricas, foi uma fase que se planejava construir um grande número de térmicas, porque houve a crise de energia elétrica, né, então, o Governo intencionava construir diversas usinas termoelétricas, então, começamos a negociar contratos em diversos estados, né? Bom, aí, posteriormente, foi criada a unidade ou a diretoria – eu não sei, eu não lembro exatamente (riso) como é que foi essa coisa – de gás e energia, dentro da Petrobras, quer dizer, então, a Gáspetro que antes cuidava disso, cuidava de todo negócio de gás, né, se tornou uma empresa, é, de propósito específico, uma coisa assim, e todo negócio de gás passou a ser, é, gerido pela Unidade de Gás e Energia e, depois, pela Diretoria de Gás e Energia, então, foi uma coisa interessante, que um setor, quer dizer, a divisão de gás que se tornou um setor, depois, se tornou uma diretoria, (riso) né, dentro da Petrobras, quer dizer, mostrou que houve no momento ali da criação da (MKC?), a (BMKC), do abastecimento, né, foi, como é natural, né, foram cometidos alguns equívocos que, depois, foram consertados.
P/1 – Eu queria, só pra deixar registrado pra gente, enfim, a (BMKC?) pra quem também vai ouvir daqui alguns anos...
R – É, a (BMKC?), abastecimento, quer dizer, é, abastecimento, M de marketing, M, né, MK e C de comercialização, Abastecimento, Marketing e Comercialização. Bom, aliás, eu tenho que confessar uma coisa, né, hoje eu não tenho mais capacidade de absorver tantas siglas, né, que se tornou dentro da Petrobras. Hoje, eu estava comentando aqui, é, com tantas siglas eu estou caminhando para um AVC, não é, porque tem MC, mas não sei o que, tal, tal, então, aí, vem os (DIPS?), né, os...(riso) e essas coisas todas aí, né? Eu fiz até uma brincadeira lá com um dos assistentes, eu disse: “Olha, com tanta coisa, aí, tem...e mais um atraso na PLR e mais não sei que, então, eu vou acabar tendo um AVC”, pra não sair do siglário, né? No passado as siglas eram mais, é, mnemônicas, né, então, é, por exemplo...
P/1 – E eram menores, né, hoje têm umas enormes.
R – Não, por exemplo, você tinha DIPLAN! DIPLAN, Divisão de Planejamento. Agora, você tem lá umas letras, um festival de letras, né, eu sei que vai ser impossível. Sem contar as letras dentro das letras e aquelas coisas todas que são criadas, eu não sei, é, de fato eu devo estar próximo de ter que me aposentar compulsoriamente pela incapacidade de absorver tamanho é esse festival de siglas, né? Então, (riso) eu acho que isso aí é um estímulo, (riso) como é que se diz? Seria um contraponto, a resistência, né, a aposentadoria. (riso)
P/1 – Reubem, me conta quando é que você volta da Gáspetro, então pro...
R – Eu voltei da...não é Gáspetro! Quando a atividade de gás natural voltou à Petrobras, né, eu voltei à Petrobras e continuei lá no gás e energia. Bom, aí, ali nós tivemos um bom desenvolvimento, era um trabalho bem diversificado, e quando o atual diretor Paulo Roberto foi chamado pra ser presidente da TBG, né? Outra sigla, né, que é Transportadora Brasileira de...TBG! Eu não sei. (riso) É a responsável pelo transporte de gás importado da Bolívia, tem a TGB e a TBG. Bom, aí, ele passou um tempo lá e, depois, ele foi chamado pra ser diretor de abastecimento, e quando ele veio a ser diretor de abastecimento algumas pessoas que trabalhavam com gás natural foram convidadas a voltar pro abastecimento, e nessa leva estava eu. (riso)
P/1 – E você voltou para qual setor?
R – Aí, eu fui trabalhar lá no transporte marítimo, né, na logística, inicialmente na logística, no transporte marítimo com o Fernando Martinez que tinha sido meu chefe no gás, é, e, depois, também, quer dizer, quando o gás estava ainda no abastecimento, depois, quando foi pra lá pra Braspetro e, depois, na diretoria, né, de gás e energia, e quando ele voltou e assumiu a gerência de logística, né, quer dizer, AB, LO, TM, então, vamos lá, Abastecimento, Logística, Transporte Marítimo, ele era o gerente do transporte marítimo e me convidou pra integrar a equipe dele, aí, mais uma coisa que eu tive que aprender, né, que é transporte marítimo, as negociações com contrato de transporte, fretamento, né? E...
P/1 – E o planejamento todo na logística, vocês também é que cuidavam dos...
R – Também, mas na área eu estava diretamente ligado...
P/1 – ...cabotagem e tudo?
R – ...eu estava diretamente ligado ao gerente de transporte marítimo, então, eu tive que ter uma visão do fretamento, né, do planejamento da frota, dos contratos com a Transpetro, né, que hoje...
P/1 – Como é essa ligação com a Transpetro, vocês que planejam tudo e passam pra Transpetro?
R – Não, a Transpetro foi uma empresa criada por, né, por conta da lei do petróleo, né, que determinou, a meu ver, erradamente, que, também, a atividade de transporte marítimo, para o exercício do transporte marítimo da Petrobras, a Petrobras teria que criar uma subsidiária, tudo bem, que nós entendemos que a Transpetro teria que ser criada para o transporte, e, também, a visão, né, (riso) entendeu, é, para cuidar dos gaseodutos, dos tanques e etc, mas o transporte marítimo, eu não sei se teria que ser criada uma empresa para o exercício dessa atividade, não é, ou se teria que estar totalmente na subsidiária, tanto, assim, que não está todo na subsidiária, né? É, a Petrobras afreta navios de terceiros e afreta navios da Transpetro, só, que ao criar a Transpetro a Petrobras, é, trasferiu todos, praticamente todos os navios da sua frota para essa nova subsidiária, que é a Transpetro, quer dizer, todos, exceto quatro navios, porque se a Petrobras transferisse todos os navios ela não poderia ser uma empresa brasileira de navegação, para ser uma empresa brasileira de navagação ela tem que te navio, pelo menos um, tá certo? Então, e se ela não fosse uma empresa brasileira de navegação ela não poderia afretar navios lá fora pra fazer importações de produtos, movimentação de produtos daqui, tá certo? Então, ela precisa, pra ser uma empresa brasileira de navegação, ter navio. Bom, então, ela ao criar a Transpetro, ela transferiu os navios, não é, pra subsidiária na forma de aposta de capital, não é, e reservou pra si quatro navios, e para a operação desses navios celebrou contratos com a Transpetro, contrato em que a Petrobras fretava esses navios pra Transpetro e a Transpetro fretava pra Petrobras por período, quer dizer, a Petrobras fretava, é, a casco nu, tá certo? Sabe essa expressão, não? Casco nu, quer dizer, é só o navio, só a unidade, sem tripulação. E a Transpetro tripulava o navio e fretava esses navios para a Petrobras, né, é, incorporando esses custos adicionais, só que, também, a ANTAQ, né, que é a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, entendeu que essa metodologia, né, essa forma como a Petrobras estava atuando, não dava, não habilitava a Petrobras a ser uma empresa brasileira de navegação, então, o que a Petrobras fez? Ela reservou um navio e celebrou com a Transpetro um contrato de operação desse navio, então, na verdade, a Transpetro opera um dos navios, tá certo, tem um contrato de gerenciamento técnico e a Petrobras é responsável pela movimentação desse único navio, não é? É, se eu não me engano, é o Pirajuí. Então...
P/1 – Foi nisso que você ficou também...
R – Eu também trabalhei, cuidei dessa parte.
P/1 – ...trabalhando nessa parte?
R – É. Bom, os contratos com a Transpetro, então, são contratos com uma empresa independente, né? É, mas numa situação especial, porque é a Transpetro, mas tem que ser tratada como uma empresa independente, e que tem regras que deve seguir, regras de mercado etc e etc, tá certo? Então, e é normalmente um contrato, é, trabalhoso, porque... (riso) as pessoas foram pra lá, mas eram oriundas da Petrobras, então, fica, no início, difícil entender, né, eu creio que fica difícil entender a quebra, né, de um vínculo formal, não é? Aparentemente todo mundo é Petrobras, mas existe uma diferença formal, existe uma empresa chamada Transpetro, que tem navios e que freta esses navios pra Petrobras. A Petrobras, quando contrata, afreta! E quem cede o navio, freta, tá certo? E a Petrobras também celebra contratos com empresas, é, fora do âmbito da Transpetro, então, temos contratos com a Transpetro, em que pagamos em moeda nacional, e temos contratos com empresas, é, do exterior, que pagamos em dolares, e temos, também, contratos com a Transpetro, quer dizer, como subsidiária da Transpetro, tá, em que pagamos em dolar, quer dizer, é uma subsidiária da Transpetro, que é a Fronape International Company, que é uma empresa situada no exterior, uma subsidiária da Transpetro que contrata navios lá fora e, depois, contrata, né, a casco nu, a Transpetro, é, provê a tripulação, tá certo, e, depois, nos freta esse contrato também por período, tá certo?
P/1 – Isso é tudo dentro de abastecimento, né, que comanda?
R – É tudo dentro do abastecimento logística, é da outra área, é da área de onde eu acabei de sair agora, em agosto, que agora eu estou no marketing e comercialização, que, na vardade, era a minha área de origem, né? Quando eu voltei para o abastecimento...
P/1 – Você foi convidado ou você pediu pra voltar, como é que foi?
R – Não, eu fui convidado. Quando eu voltei para o abastecimento eu voltei via, é, na área de logística, que era o antigo Detran, tá certo, Departamento de Transporte, sem a Fronape, tá certo, quer dizer, a Fronape virou a Transpetro, né, e o Detran cuidava, é, da atividade de transporte marítimo, mas de afretamento no exterior e etc, então, é, a logística pra onde eu voltei, né, que era o transporte marítimo, era uma das atividades do antigo Detran, então, eu voltei para o abastecimento em uma outra área e, depois, que o gerente de transporte marítimo, é, assumiu a gerência executiva do marketing e comercialização, é, ele me convidou e eu voltei de fato às origens do antigo DECOM, tá certo? (riso)
P/1 – E como é que foi voltar, o que você faz hoje?
R – Não, hoje, é, eu estou como assistente dele...
P/1 – Assistente do?
R – Do gerente executivo, então...
P/1 – Qual é o nome dele?
R – Eu já falei, (riso) já foi falado, José Raimundo Brandão Pereira, é o Doutor Pereira, né? Porque, hoje, é uma situação completamente diferente, né, é completamente diferente de tudo o que existia, não dá... Pra quem vive hoje o momento do abastecimento, no MC, né, não tem idéia do que era no passado, né? Pra começar, por exemplo, as salas! Existiam salas! Cada setor era uma sala, com mesas grandes, né, com mesas de...o chefe de setor tinha uma mesa maior, aí, tinham as secretárias, com mesas menores, né, os demais empregados, com mesas de porte médio, com gavetas, é, mesas de metal, às vezes, tinham prateleiras com arquivos em pastas, né, com todos os arquivos em papel e, como eu já falei, não existia computador, tá certo, existia, no máximo, uma calculadora manual, tá certo, ali, escrevia pralalá, rolava aquela fita de papel, né, e com o progresso passamos a ter terminais e, depois, passamos a ter um micro, dois micros em cada setor, no máximo, né? Mas os setores eram dentro de salas, né, você não tinha contato visual com pessoas de outras áreas quando você estava dentro da sua sala, pra você ter contato você saía e entrava na sala de outra pessoa, eu, particularmente, preferia, eu achava mais, é...
P/1 – Preservado.
R – É, e, também, integrava melhor essas pessoas da própria gerência, dava certo a indidualidade, entendeu, eu achava que era mais interessante. Depois, né, veio essa história do layout, desse layout atual, que pra mim é um transtorno, né, ninguém tem privacidade pra nada, né, você passa...
P/1 – Sem divisória, né?
R – Não, você passa...se você recebe um visita está todo mundo vendo, que está trabalhando, o computador ligado, não sei o que, a pessoa não tem, sabe, uma privacidade, uma individualidade, quer dizer, todo mundo tem acesso a tudo de todo mundo, entendeu?
P/1 – E o barulho de todos, né?
R – É, e nesse mundo de siglário você nem sabe, você passa, você vê a pessoa, mas você não sabe que área é aquela ali: “O que é isso aqui?”. Antigamente, você chegava na porta e tinha ali, né, por exemplo: (CET?), (CEPRENT?), né, (DIPRER?), tudo ali vinha bem definido, as divisões, os setores, tudo ali bem definido e dentro da suas salas. Hoje, você chega lá e vê o nome de uma pessoa que você não sabe a o que está ligada, entendeu? E um ambiente, assim, eu não gosto de usar essa palavra, (riso) é, eu não vou usar essa palavra, né, porque, sei lá, mas um ambiente muito, é, misturado, de diversas áreas, pode ser que integre, mas eu não vejo muita integração, assim, essa esperada integração que se propagou com o layout, né? Nós copiamos muita coisa dos modelos de empresas estrangeiras, né, mas uma coisa curiosa, né? Eu estou aqui com esse livrinho do: Resoluções e Decisões Plenárias, isso é uma xerox de informações do antigo CNP, tem alguma utilidade? Houve um momento na empresa que todo mundo resolveu fazer, é, quantos esses?
P/1 – Cinco esses.
R – Cinco esses! Aí, resolveu que tudo que era papel era pra se jogar fora, quando tivemos um processo, esse processo que eu falei, né, que eu funcionei como um assistente técnico da Petrobras, uma ação judicial contra a Petrobras e que eu precisei de informações, de dados em papéis pra juntar, cadê? Não existia nada, tinha a minha memória, alguma coisa que está aqui, que eu tive que recuperar, tá certo? Porque tudo o Governo joga fora, os seus papéis, né: “Ah, não, o negócio não...vamos nos livrar disso”, porque nada é exigível depois de cinco anos, né, vem com essa tese aí, com essa coisa. Nada é exigível, mas você não está impedido de usar aquilo em sua defesa, tá certo?
P/1 – E é péssimo pra memória da empresa também, né?
R – Então, e é péssimo pra memória da empresa! Porque esses que nos recomendaram jogar as nossas coisas fora, eles não jogam as coisas deles fora, os papéis fora.
P/1 – Reubem, eu queria, também, aproveitar, porque a gente sempre pede pra contar uma história, mas eu vou direcionar a história que eu quero que você conte: o por que de você ter feito outro vestibular?
R – (riso) Bom, eu sempre fui visto lá na empresa, né, hoje mesmo eu falei com um antigo chefe de divisão: que eu gostaria que ele participasse, né, desse trabalho, mas ele disse que prefere curtir na íntegra a aposentadoria e o ósseo, né, (riso) ele falou isso com aquele ar bonachão que ele sempre teve, é uma pessoa que eu prezei e prezo muito até hoje, o Doutor Reinaldo Mendes de Morais, né, pra mim umas das figuras notáveis, além da Dorinha, a Maria Auxiliadora Jacobina Vieira, que eu também espero que venha participar disso daqui, né, desse trabalho, ela foi diretora do DNC, é, a Nilcéia de Azevedo Lima, que pra mim foi uma pessoa...uma memória incrível, um trabalho que é, né, ela amou tanto a Petrobras, né, que quando se aposentou voltou, é, às vezes, me importa dizer o seguinte: que o nosso trabalho, a nossa dedicação, né, na Petrobras passava pelas madrugadas, o nosso trabalho lá, às vezes, começava à meia-noite, continuava à meia-noite, né, depois de um dia inteiro. Não foram poucas oportunidades, né, que nós viramos noites e continuamos o trabalho no dia seguinte e, às vezes, essas coisas não eram reconhecidas, não eram...as pessoas não podiam perceber o nosso nível de estresse, não é? Mas, então, por que eu estava falando do Doutor Reinaldo Mendes de Morais? Ah, do quanto...
P/1 – Não, eu perguntei da sua história: por que você foi fazer vestibular?
R – Ah, sim! Então, é, ele estava comentando sobre o meu zelo, né, pela linguagem, principalmente, a linguagem escrita, ele estava comentando isso pra mim: “Eu me lembro uma vez, que você passou várias horas tentando achar a palavra certa, porque você achou que essa palavra não estava adequada pra aquilo”. Então, eu sempre fui muito, assim, zeloso pelo idioma, pela escrita, né, e pela correção dos contratos, apesar de eu ser engenheiro, até isso, pra você falar: “Apesar de eu ser engenheiro”, como se engenheiro não fosse nada, né? Não, mas eu sempre tive, assim, muito zelo por essas coisas, pela correção na forma escrita, pelos contratos, né?
P/1 – Que não são características de um engenheiro, enfim.
R – É, dizem, né? Aí, quando na década de 90, é, no início ali, quer dizer, por volta de 94, 95 eu já pensava em fazer lá um curso de direito, porque eu também sempre lidei muito com contratos, não é? Aí, surgiu aquela oportunidade de melhoria, né, que eles dizem hoje, né, quando surgiu a situação de risco, né, de processo de privatização, de não sei que, eu disse: “Bom, se eu saio da Petrobras, eu teria um aspecto pra falar sobre a minha saída da área de preços? Que foi uma saída traumática, eu diria, até, desrespeitosa por parte, né, de quem, praticamente, me defenestrou dessa área”
P/1 – Isso você nem tinha contado.
R – Eu preferia não falar, porque eu estaria dando muita importância a essa pessoa, porque eu tinha um grande apreço por ela, e pra mim foi uma espécie de um golpe, não pela decisão em si, mas pela forma, a forma foi tão traumática, ele disse assim: “Eu quero que você tire férias, saia e não volte”, e no dia seguinte mandou me chamar pra fazer um trabalho, eu não voltei, porque (riso), né? Bom, então, se eu fui...
P/1 – Conta da sua história do vestibular.
R – ...se eu fui, assim, defenestrado dessa forma, né, e fui obrigado, assim, me vi, assim, depois de 14 anos e meio, é, impedido, até, de participar de uma reunião onde se definiria a nova estrutura, tá certo, então, por que não acontecer uma possibilidade de numa mudança, né, da forma de atuar da empresa, por que não ser demitido também, né? Eu disse: “Bom, se eu saio, depois desse tempo todo de empresa como engenheiro, o que eu vou achar no mercado? Nada!”, tá certo? “O que você sabe fazer?” “Eu sei cuidar de Petrobras e, especialmente, preços de derivado de petróleo”, (riso) eu vou fazer o quê, né? Virei um especialista. Então, mas eu também não...quer dizer, é uma preocupação, né, assim: “Se eu saio, é, se eu tiver um curso de direito, eu posso estar recém-formado, mas ninguém vai saber, um velho advogado recém-formado, tá certo, é digno de mais respeito do que um velho engenheiro com muito tempo de carreira”, é uma coisa interessante, né? Quer dizer, então, aí, bom, como eu, é, resolvi prestar vestibular de novo, na UERJ, graças a Deus, passei no tempo que eu queria e no prazo certo, com todo, né, com toda essa luta aí de pequeno burguês, da história lá do nosso Martinho da Vila, eu consegui concluir o tempo, né, eu me formei em 2000, a minha turma é a UERJ 2000, é uma turma até famosa, tem quadro lá e tudo. Então, foi uma forma, também, para eu me preservar, e que foi útil, né, é, acabou sendo útil dentro da minha carreira, porque eu, também, pude, é, atuar com mais intensidade nos contratos, com um maior grau de preparo...
P/1 – Ainda mais nessa parte, né, que contrato é...
R – É, e no final das contas, né, eu acabei sendo reconhecido dentro da empresa, né, quando recebi lá, né, eu fui indicado como consultor senior, porque com o tempo, com o preparo em duas áreas, com outras coisas, com o curso de pós-graduação, também, na área de petróleo, direito do petróleo, então, é, quer dizer, todo aquele trauma, né, foi, na verdade, compensado, eu fui muito bem gratificado, né, porque ao invés de representar pra mim um motivo para me deprimir, ficar arrasado, como eu vi várias pessoas que passaram por um processo semelhante, né, de ficar, é, lendo jornal ou brincando de – como é que chama? É aquele negócio de computador, aquele joguinho?
P/1 – Paciência!
R – De paciência, né? Eu vi muitas pessoas que quando perdiam o cargo, principalmente depois de muito tempo, que ficavam lá brincando, né? Representou um desafio, né, que com a ajuda do criador, sempre importantíssima, tá certo, é, eu pude vencer obstáculos e ir até mais adiante.
P/1 – Que bom, né?
R – Acabou?
P/1 – Não! Reubem, eu queria, enfim, também perguntar: se ficou alguma outra coisa que a gente não conversou aqui e que você gostaria de deixar registrado?
R – Não, eu acho que, basicamente, isso é o que eu acho que dentro das pessoas que eu vi convidadas, né, pra participar desse trabalho, eu acho que seria muito importante o convite à Dorinha, né, que é nome, a forma carinhosa que a gente chama a Maria Auxiliadora Jacobina Vieira, que é uma pessoa que começou na empresa com um nível médio, eu não sei se foi como assistente administrativa ou auxiliar, ajudante administrativo, e teve uma carreira brilhante, né...
P/1 – A gente vai tentar procurar, sim.
R – ...e, é, chegou a diretora do Departamento Nacional de Combustíveis e, é, ela foi reclassificada com o nível superior, e uma pessoa, assim, que tem uma memória da Petrobras muito importante, então, como a Nilcéia que, felizmente, agora, eu soube que ela foi convidada, né, pra participar, e o outro é o Frederico Grimberg, eu não sei se ele também já foi convidado.
P/1 – A Nilcéia deu o nome dele também, a gente está tentando localizá-lo.
R – É, então, eu acho que essas pessoas, dentro dessa história de preços, são pessoas que não podem deixar de participar, porque elas são a verdadeira história, elas fizeram o nascimento e toda a base, é, de toda essa história importante, né, dentro da empresa. E todo mundo que aprendeu, aprendeu com essas pessoas.
P/1 – Tá certo! Eu queria perguntar se você gostou de ter vindo aqui e de ter contribuído pro Projeto Memória?
R – Sim, eu me sinto invaidecido, né, de ter sido lembrado, né, pra participar, e espero que eu possa ter contribuído à altura, né? E peço desculpas pelos excessos e pelas falhas, inclusive, pelas falhas de memória, hoje, já, com (riso) do alto aqui dos meus cinco ponto quatro, muita coisa, né, pode ter sido, é, deletada pela desatualização das células, né? (riso)
P/1 – Imagina, teve muito poucas! A gente agradece por você ter vindo aqui colaborar com a gente.
R – Então, muito obrigado.
P/1 – Obrigada!
(final da entrevista)
Lista de dúvidas:
(Speed Ent?)
(DIPS?)
(CI’s?)
(supercalc?)
(spot?)
(Cif-Estrutura?)
(Companhia Salinas Perynas?)
(take or pay?)
(delivery or pay?)
(BMKC?)
(MKC?)
(CET?)
(CEPRENT?)
(DIPRER?)
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