Meu nome é Cléria Nascimento e a data de nascimento é quatro de novembro de 1947. Moro em São Mateus, Espírito Santo. Nasci em Nova Venécia, município do Espírito Santo também, e resido em São Mateus há 33 anos.
Eu vim para Vitória fazer um curso de Enfermagem. E, antes do término, eu tive oportunidade de fazer provas em várias empresas. Inclusive, eu fiz na CST, na Vale, na TELEST, e a minha irmã descobriu que tinha uma prova de enfermagem em São Mateus e veio me avisar. Eu estava no Instituto de Cardiologia e ela veio me avisar. Nesse momento, ela falou: “Oh, Cléria, tem uma prova em São Mateus. Você quer fazer?” “Ah, Maria, estou tão bem aqui Eu não estou com vontade de voltar a São Mateus.” Ela falou: “Vamos fazer a prova” Aí eu fui, fiz a prova e passei, graças a Deus, bem classificada e fui trabalhar dentro de poucos dias, em São Mateus. Mas aí, o que eles fizeram comigo? Fui admitida em Vitória, fui para Macaé, de Macaé para o Rio e do Rio para Aracaju. Fiz um pequeno estágio de 30 dias e retornei a São Mateus, onde fiquei durante 19 anos e seis meses. Eu fui primeiro para o Rio e fiquei uma semana. Depois, saí do Rio, fui para Macaé e fiquei uma semana. Depois de Macaé, me mandaram ir ao Rio, mas, do Rio, me mandaram para Aracaju. Em Aracaju, fiquei 32 ou 33 dias fazendo curso de treinamento para poder ingressar na Área de Campo. Em São Mateus, era Área de Campo, não existia Administrativa. Era a parte de produção e perfuração. E, quando eu cheguei lá, já existia um galpão de um hotel, que chamava Giliá Hotel, e ali eu fiquei, junto com eles. Eu trabalhava junto da segurança, que era dividida numa salinha de dois por dois, mais ou menos. E, logo em seguida, nós fomos para um outro prédio que a Petrobras fez, próximo uns quatro quilômetros.E ali nós ficamos, foi melhorando... Era a sede da Petrobras.
O meu cotidiano era corrido porque, de 1979 até 1984, eu trabalhava só nessa área de...
Continuar leituraMeu nome é Cléria Nascimento e a data de nascimento é quatro de novembro de 1947. Moro em São Mateus, Espírito Santo. Nasci em Nova Venécia, município do Espírito Santo também, e resido em São Mateus há 33 anos.
Eu vim para Vitória fazer um curso de Enfermagem. E, antes do término, eu tive oportunidade de fazer provas em várias empresas. Inclusive, eu fiz na CST, na Vale, na TELEST, e a minha irmã descobriu que tinha uma prova de enfermagem em São Mateus e veio me avisar. Eu estava no Instituto de Cardiologia e ela veio me avisar. Nesse momento, ela falou: “Oh, Cléria, tem uma prova em São Mateus. Você quer fazer?” “Ah, Maria, estou tão bem aqui Eu não estou com vontade de voltar a São Mateus.” Ela falou: “Vamos fazer a prova” Aí eu fui, fiz a prova e passei, graças a Deus, bem classificada e fui trabalhar dentro de poucos dias, em São Mateus. Mas aí, o que eles fizeram comigo? Fui admitida em Vitória, fui para Macaé, de Macaé para o Rio e do Rio para Aracaju. Fiz um pequeno estágio de 30 dias e retornei a São Mateus, onde fiquei durante 19 anos e seis meses. Eu fui primeiro para o Rio e fiquei uma semana. Depois, saí do Rio, fui para Macaé e fiquei uma semana. Depois de Macaé, me mandaram ir ao Rio, mas, do Rio, me mandaram para Aracaju. Em Aracaju, fiquei 32 ou 33 dias fazendo curso de treinamento para poder ingressar na Área de Campo. Em São Mateus, era Área de Campo, não existia Administrativa. Era a parte de produção e perfuração. E, quando eu cheguei lá, já existia um galpão de um hotel, que chamava Giliá Hotel, e ali eu fiquei, junto com eles. Eu trabalhava junto da segurança, que era dividida numa salinha de dois por dois, mais ou menos. E, logo em seguida, nós fomos para um outro prédio que a Petrobras fez, próximo uns quatro quilômetros.E ali nós ficamos, foi melhorando... Era a sede da Petrobras.
O meu cotidiano era corrido porque, de 1979 até 1984, eu trabalhava só nessa área de saúde. Eu atendia todos os acidentados, encaminhava aos hospitais, tinha a parte de AMS (Assistência Médica Suplementar), que era com a gente, e ainda com um pouco do lado de assistente social, tinha que encaminhar, ver. O meu chefe ficava em Macaé, o Doutor Madeira, e a assistente social era a Cora Maria. Eles é que vinham dar o apoio para a gente. Mas vinham de mês em mês, faziam o periódico de mês em mês. E, antes disso, nesse intervalo, nós tínhamos o contato com o Doutor Wallace Tirone, aqui em Vitória. Os funcionários precisavam fazer o periódico. Quando a gente tinha muita urgência, o Doutor Wallace Tirone nos dava apoio em Vitória. No caso de acidentes graves, uma doença, uma coisa rápida, um mal súbito, o Doutor Wallace é que nos socorria.
Peguei muitos acidentes, seriíssimos. Teve uma época que a Petrobras cresceu escandalosamente, dentro de poucos dias praticamente – eu falo assim porque foi muito rápido. Nós estávamos com quatro sondas e em uma das sondas eles tinham uma produção de perfuração que ganhavam tipo um abono – eu não sei o que quer dizer –, uma promoção quando perfurava muito. E dava muito acidente, teve um dia – só esse que eu me lembro – que eu vim em Vitória quatro vezes acompanhando acidentados. Porque, em São Mateus, nosso hospital era pequenininho, nós não tínhamos recursos – até hoje ainda é um pouquinho precário, mas já temos muita coisa –, o Hospital melhor era aqui, nós não tínhamos Neuro lá em São Mateus, o Hospital intermediário – que era o Rio Doce – vivia lotado. E o Hospital que nos atendia aqui era o São José, Santa Mônica e Clínica dos Acidentados. Já tinham convênio com esses hospitais e eu prestava os primeiros socorros, todos os primeiros cuidados. Inclusive trouxemos um colega de helicóptero. Só Deus para nos dar muita força hoje Porque, sinceramente, quantos perigos a gente já passou: ambulância saindo da estrada com motorista, pegamos helicóptero com paciente gravíssimo e eu não sabia o que ia fazer, eu falei assim: “Seja o que Deus quiser” E, hoje, é o Prefeito da Barra, esse acidentado era chefe da sonda na época. Quando um, o Luis Fernando, se acidentou, ele falou assim: “Cléria, o cara vai morrer. O médico disse que não põe nem a mão.” Eu disse: “Nós vamos arriscar, levar para Vitória, o que é que a gente pode fazer?” Ele disse “Oh, tô pegando o helicóptero aqui.” Ele ligou para o doutor Avelino, pegou o helicóptero, parou no pátio da Petrobras, me pegou – porque esse acidente ocorreu em Conceição da Barra e até São Mateus dá quase 35 quilômetros, mais ou menos. E ele parou no pátio, porque se parasse no aeroporto não tinha como, era tudo muito pequenininho na nossa cidade e muita coisa antiga. Nossa cidade é histórica, têm coisas muito antigas. Aí, quando ele parou, o piloto passou no meio de dois fios de alta tensão. Nossa Eu só fiz assim: “É agora Eu vou morrer” Eu consegui ainda fazer uma respiração no cara, conseguimos fazer bastante coisas e ele chegou vivo, graças a Deus. E graças ao Doutor Wallace Tirone, muito amigo da gente, generossíssimo, ele já estava com uma ambulância e todos os médicos prontinhos para prestar os cuidados. E engraçado foi que, quando eu cheguei na porta do hospital, a porta da ambulância abriu e quase que o cara sai por trás. O acidentado quase que se acidenta mais Eu falei: “Meu Deus, já não chega o que eu passei e ainda vou ter que responder a alguma coisa?” Naquela época, era processo, não tinha como. O trabalho de perfuração é um trabalho de alta periculosidade. Tem que ter muitos cuidados. Ele, em vez de ficar prontinho no lugar dele, pisou numa mesa rotativa que não poderia ter pisado e rodou com isso. Ele teve fratura exposta das pernas, teve o braço com fratura exposta, teve um traumatismo craniano seriíssimo. E não tinha recursos em São Mateus. A área é muito perigosa. Porque toda área de Petrobras é perigosa, graças a Deus que as pessoas, no dia-a-dia, não percebem muito. Mas é perigo mesmo
Meu trabalho era muito movimentado, depois de 1985 não. Melhorou porque chegou outro técnico de enfermagem, chegou um médico lá que nos ajudou muito. Inclusive, está lá até hoje, Doutor Mariano (Mariano da Cunha Coutinho), uma pessoa ótima E a Tonica (Antônia Barbosa Firme), minha amigona, trabalhamos no hospital juntas, depois ela foi para São Paulo e veio para a Petrobras. E ela está até hoje. Em São Mateus, eu trabalhava no campo, algumas vezes tinha manutenção na plataforma... Trabalhar no campo era uma rotina. Por exemplo, tinha uma manutenção de uma estação de petróleo, a gente tinha que estar ali presente para, se acontecesse algum acidente, estar ali prontinha para socorrer. E a gente ficava 10, 12 dias, revezava. Logo em seguida, chegou o enfermeiro, porque nós não tínhamos enfermeiro, nós tínhamos técnicos em enfermagem e um médico.
Teve tantas coisas boas e engraçadas que a gente vai lembrar de poucas. Eu me lembro que o Reginaldo (Reginaldo Bispo Moura) era irmão de um que trabalhava no transporte e o nome dele era Moura, José Moura. E seu Silva (Antônio de Jesus Silva), nosso chefe – ele hoje está em Salvador e é uma pessoal superlegal –, falou assim: “Reginaldo, você hoje vai levar a Cléria e o Almeida em Linhares.” Só que ele era bem matutinho do campo, sabe? Por exemplo, eu estou aqui, Linhares está para o sul e São Mateus para o norte. O que ele fez? Ele conhecia muito pouco das rodovias, isso eu tenho certeza porque deu para perceber. Ele, coitado, pegou o norte. Aí eu falei: “Ué, Almeida, o que aconteceu?” Ele disse: “Vou fazer o trevo.” No entanto, ele deveria ter atravessado e ido para Linhares. Até hoje ele se lembra disso e a gente pegou no pé dele por um bom tempo Ele, tadinho, não teve culpa disso
Sempre fui sindicalizada. Você sabe que, quando fundou o Sindicato de São Mateus, eu fui uma das primeiras mulheres a se sindicalizar? Fui e sou até hoje. Não participei de nenhuma diretoria. Nada, nada. Eu acho – é meu ponto de vista, não sei se todos pensam assim – que o Sindicato é importante sim dentro de uma Empresa. Porque é um intercâmbio entre empregados – ele é nosso representante – com a Empresa. Até porque hoje eu estou aposentada e tenho algumas vantagens que, se não fosse o Sindicato, eu não teria. Eles brigaram, levaram a sério e a gente se unia. Você sabe que a minha área não poderia fazer greve, mas eu sempre – não sou rebelde não – fiz a greve, reivindicava direitinho junto com a turma toda. Mas eu acho que o Sindicato é importante sim, porque, se não tiver isso, quem é que vai nos representar? Tem que ter representatividade.
RELAÇÃO SINDICATO - PETROBRAS
Membro do Sindicato é empregado da Petrobras e um representante do Sindicato, que resolve as coisas, é indicado pela Empresa. Então, os dois não estão juntinhos? A própria Empresa põe alguém lá para brigar com ela porque ela sabe que existe isso aí. No meu entendimento, é isso que eu vejo. Acho que é isso aí.
Vou contar uma história do gerente da Petrobras, Doutor Amauri (Amauri da Cunha Coutinho), super fechado. Falava com poucas pessoas, mas é o jeito dele. Aí, quando eu vim de Aracaju: “Nós vamos para Macaé.” Eu teria que ir para Macaé aprender a fazer um serviço que eu nunca tinha visto na minha frente, nem lembro mais o nome, sei que eram umas siglas que eu tinha que aprender, porque teria que passar para o médico em siglas. Deve ser algum CIDE, alguma coisa que eu nem me recordo. Nisso, tinha um aviãozinho, você sabe aqueles aviõezinhos que passava em filme, aquelas coisas bem feinhas? Doutor Amauri, Doutor Joel (Joel dos Santos Arcos), o advogado da Empresa, eu e mais dois radio-operadores e o piloto era o Pedrinho. E o Pedrinho era deficiente, mas ele era piloto – ele é piloto, ele não morreu. Nós chegamos em Campos e pegamos um temporal. Perdemos a rota, fomos parar no Rio. Do Rio, o Pedrinho chegou até Macaé – ele é muito experiente. Quando nós chegamos em Macaé – o Doutor Joel, até hoje, me encontra e fala disso –, o Doutor Amauri – é medroso que só ele mesmo – estava tão branco Eu consegui levá-lo para o hospital, mas fiquei preocupada E Doutor Joel disse que eu, de preta, fiquei cinza. “Mas Doutor Joel, como o Senhor fala isso comigo? Eu que socorro vocês?” ”É você não conseguia ver.” “O Senhor está falando alguma coisa que não é verdade, Doutor Joel.” Mas ele era muito brincalhão, super engraçado. Foi assustador, Deus me livre Você já pensou: perder uma rota de Campos e ir até o Rio? Não é fácil, não Aviãozinho pequenininho, você fica perdidona Eu acho que eu nem percebi o que estava acontecendo, na realidade. Depois que eu cheguei em Macaé é que fui perceber. Não percebi porque eu vi as pessoas passando mal. Até porque a gente não tinha costume de andar de avião, porque se tivesse... Hoje, até as crianças percebem o que está acontecendo.
A Petrobras nos preparou para a aposentadoria, inclusive deu o título “Tem vida lá fora”. E eu fiz essa preparação, só que não parei de imediato. Primeiro, ingressei em comunidades carentes, com trabalho voluntário, isso me preencheu, e na Igreja também. Até hoje estou na comunidade e na Igreja, fazemos um lado social legal. E não parei, eu tenho as minhas clientes da Natura – eu vendo Natura também – que são da Petrobras. Ainda vou lá, mantenho contato, tenho as minhas clientes.
Demorou demais Porque têm tantas pessoas que sabiam as coisas que foram passando e já morreram Olha, nós tínhamos pessoas aqui, nossa mãe O Machado, que faleceu, era um cara super culto, de uma inteligência... Perdeu muito tempo, eu acredito. Perdeu tempo demais Tinha que ter feito antes. Gostei de ter participado. Acho que faz parte, gostei sim. É bom a gente participar das coisas, a gente tem que participar. Eu acho que a gente passou por uma empresa que é a Petrobras – não estou dizendo que outra não é igual –, mas é um pouco difícil. Pelo que nós vivemos aqui dentro, o que eu vivi e vivo aqui fora, a Petrobras é sempre a Petrobras. É uma empresa brasileira, uma empresa brasileira de um certo nome. Está sendo bom fazer parte dela. Muito bom Está sendo ainda. A gente sempre discute, meus parentes, meus sobrinhos, meu cunhado, todos trabalham na Empresa, todos eles. Têm alguns em São Paulo que também participam.
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