Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Rita de Cássia Castro dos Santos
Entrevistada por Morgana Maselli
Macaé, 06 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB369
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Rita, vamos começar a entrevista pedindo pra você dizer o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R – Meu nome é Rita de Cassia Castro dos Santos, nasci em Niterói em 22 de maio de 1966.
P/1 – Rita, qual é a sua formação?
R – É, hoje eu estou fazendo serviço social, né? Mas sou formada em técnico em contabilidade.
P/1 – Conta pra mim, como foi que você ingressou aqui na Petrobras e quando é que foi isso?
R – Bem, a minha história foi muito legal, porque eu comecei como estagiária. É, pra entrar, né, pra selecionar os estagiários a gente fazia uma prova, né? E você imagina, numa cidade pequena, né? A Petrobras no final de 1983, início de 84, eu saindo, né? Terminando o segundo grau. E aí, fiz a prova sem ter os 18 anos, tinha que ter mínimo de 18 anos, né? E eu consegui fazer essa prova, eu sempre fui muito, assim, comunicativa, né, e consegui. E, na época, eles queriam mesmo, eles precisavam de mão-de-obra, né? E aí, eu fiz a prova, passei e eles me chamaram. Aí, eu disse assim: “Eu não tenho 18 anos completos”. Aí, eles falaram: “Não tem problema, né, quando você completar os 18 anos a gente liga pra você”. Aí, fiquei um pouco triste, falei: “Ah, não vai ligar nada, né?” Aí, quando foi, fiz 18 em 22 de maio, né? E passou, assim, uns 10, 15 dias eles ligaram pra mim. Tinha uma vaga lá no Parque de Tubos. Aí, lá fui eu, né? Com a minha comunicação: “Ah, o Parque de Tubos é muito longe, né, será que não tem uma outra vaga por aqui” Eu fui filha única muito tempo, né, então, desgarrei, assim, da minha mãe. Então, não tinha muito essa coisa, né, de ser muito vivida, tinha medo, essas coisas todas. Aí, eles falaram:...
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Depoimento de Rita de Cássia Castro dos Santos
Entrevistada por Morgana Maselli
Macaé, 06 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB369
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Rita, vamos começar a entrevista pedindo pra você dizer o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R – Meu nome é Rita de Cassia Castro dos Santos, nasci em Niterói em 22 de maio de 1966.
P/1 – Rita, qual é a sua formação?
R – É, hoje eu estou fazendo serviço social, né? Mas sou formada em técnico em contabilidade.
P/1 – Conta pra mim, como foi que você ingressou aqui na Petrobras e quando é que foi isso?
R – Bem, a minha história foi muito legal, porque eu comecei como estagiária. É, pra entrar, né, pra selecionar os estagiários a gente fazia uma prova, né? E você imagina, numa cidade pequena, né? A Petrobras no final de 1983, início de 84, eu saindo, né? Terminando o segundo grau. E aí, fiz a prova sem ter os 18 anos, tinha que ter mínimo de 18 anos, né? E eu consegui fazer essa prova, eu sempre fui muito, assim, comunicativa, né, e consegui. E, na época, eles queriam mesmo, eles precisavam de mão-de-obra, né? E aí, eu fiz a prova, passei e eles me chamaram. Aí, eu disse assim: “Eu não tenho 18 anos completos”. Aí, eles falaram: “Não tem problema, né, quando você completar os 18 anos a gente liga pra você”. Aí, fiquei um pouco triste, falei: “Ah, não vai ligar nada, né?” Aí, quando foi, fiz 18 em 22 de maio, né? E passou, assim, uns 10, 15 dias eles ligaram pra mim. Tinha uma vaga lá no Parque de Tubos. Aí, lá fui eu, né? Com a minha comunicação: “Ah, o Parque de Tubos é muito longe, né, será que não tem uma outra vaga por aqui” Eu fui filha única muito tempo, né, então, desgarrei, assim, da minha mãe. Então, não tinha muito essa coisa, né, de ser muito vivida, tinha medo, essas coisas todas. Aí, eles falaram: “Então tá, quando aparecer uma vaga em Imbetiba a gente chama você”. Aí, não fui pro Parque de Tubos e, aí, saiu uma vaga em Imbetiba e eles me chamaram. Aí, eu vim pro DPSE, né? Que era Distrito de Perfuração do Sudeste na época, fiquei os 11 meses que era possível estagiar. O salário era, assim, bem pequenininho, estagiário trabalhava de sete às cinco, eu trabalhava muito. Hoje, representava, assim, 40 Reais que eu ganhava como estagiária, o valor era muito pequeno. Mas foi, assim, uma experiência maravilhosa. Então, nesse período de estágio de 11 meses abriu um concurso pra Petrobras, aí, eu fiz a inscrição, fiz a prova, passei. Aí, quando terminou o meu estágio eu consegui um emprego numa firma de mergulho, que chamava Subaquática, né? Hoje ela nem existe mais. E aí, trabalhei durante sete meses. Aí, quando, no final de sete meses a Petrobras me chamou, fui admitida, né? E eu sempre tive um sonho de trabalhar em banco, por conta da máquina de calcular. Aí, quando eu cheguei aqui eles falaram assim: “Oh, é aqui no setor de pessoal. Você pode escolher. Tem cadastro e pagamento” Aí, eu falei: “Puxa vida, eu sou doida pra trabalhar com máquina de calcular, então, eu quero ficar no pagamento”. Aí, fiquei no pagamento. Calculava rescisão de contrato à mão, né, tudo, horas extras, né? A gente tinha os formulariozinhos que a gente calculava e depois digitava tudo. É, posso falar? Aí, entrei no coral, fui fazer parte do coral. Tive o privilégio de cantar no Teatro Municipal com aquela beca, né? Foi muito legal, também, essa experiência. Embarquei pra cantar na plataforma. Balançava, assim, a gente cantando, né? E balançando. Ficamos hospedados no Safe Jasminia, né? Que era um flotel de hospedagem. Então, quer dizer, foram experiências, assim, bem legais. Então, você vê que o meu destino era Petrobras. Saí de estagiária, fiz a prova, né? E passei. Tenho muito amor por ela, né? Que eu casei, tive três filhos, né? Amadureci, virei mulher, profissional, assim. Então, foi muito bom isso.
P/1 – E agora, você trabalha em que função? Continua lá no pagamento?
R – Não. Aí, eu trabalhei no pagamento, depois, durante 13, 14 anos na operação mesmo, depois, fui pra área de gestão, porque foi quando o RH foi começando a mudar, né? E foi criando a área de gestão. Nesse meio tempo eu tive uma história muito, assim, engraçada e ao mesmo tempo dolorosa, porque um empregado, ele surtou, né? A gente atendeu ele no balcão, ele tinha três pensões judiciais, naquele mês o salário dele veio zerado e, aí, a gente atendeu ele, ele saiu, foi por trás do prédio, pegou um ancinho, que era um negócio de jardim, né? E saiu quebrando os vidros, ali, da minha gerência inteira. Eu saí correndo, minha filha, desorientada, querendo sair da Petrobras, porque a gente não sabia o quê que era. O médico me segurou lá na frente com o segurança, teve que bater no meu rosto pra eu voltar a si, porque eu só dizia assim: “Eu tenho um filho pra criar. Eu preciso ir embora”. (riso) E, aí, algumas pessoas se cortaram, né? Por causa do vidro. Dois colegas seguraram ele, né? E, depois, ficou tudo tranquilo. Isso é até o que a gente viveu no setor de pessoal, né? Aí eu vivi 16 anos, depois, fui pra área de gestão. Quando foi criada a área de recursos humanos no (AppServ?), né? Que era no Parque de Tubos. Eu fui convidada a montar essa equipe, pela minha experiência. Aí, fui pra lá, fiquei dois anos, dois anos e meio, depois, fui pro Rio de Janeiro, o meu marido foi transferido eu fui com ele, fiquei mais dois anos na área de contratos, mas cuidando da parte de gestão, voltei, porque eu tinha um sonho de trabalhar na comunicação, né? E sempre gostei de relacionamento, de gente, né? E aí, quando eu voltei do Rio eu tive a oportunidade de ficar na comunicação, trabalhei dois anos e seis meses, tem dois meses que eu saí. E, agora, eu estou com o PROMINP, que é um programa do Governo Federal e que a Petrobras, ela é gestora dele junto com o governo.
P/1 – É um programa de quê?
R – O PROMINP? De qualificação profissional, que é do governo, né? E que a Petrobras, ela é a gestora desse programa com o governo, entendeu?
P/1 – E como é, nesse seu trabalho atual, o seu cotidiano?
R – Ah, é bem dinâmico, porque a gente faz muitas viagens, né? Porque o projeto mesmo, é, a gente é um fórum regional aqui na Bacia, né? O nacional fica no Rio. Então, agora a gente teve o terceiro ciclo, a gente fez uma caravana com todos os municípios de abrangência da Bacia de Campos, né? A gente andou todos esses municípios levando o projeto, falando, né, de como seriam as inscrições, como que as pessoas seriam selecionadas pra ele. Então, ele é bastante dinâmico.
P/1 – O quê você acha, Rita, que foi nesses vinte e tantos anos de Petrobras o seu maior desafio?
R – O meu maior desafio? Ai, foram tantos. Mas o meu maior desafio foi quando eu fui embora pro Rio de Janeiro. Eu sou de uma cidade grande, niterói, mas vim pra cá pequena, então, me habituei à cidades pequenas. E quando e fui para o Rio eu tinha que começar uma nova vida, viver numa cidade muito grande, né? Com o ritmo de vida totalmente diferente, apesar de eu ser muito agitada, mas era um ritmo que eu não estava acostumada a viver, longe da minha família, porque eu nunca tinha me separado dos meus pais, né? Do meu irmão, porque eu só tenho um. O meu filho mais velho ficou, não foi comigo, entendeu? Então, eu acho que esse foi o meu maior desafio. Eu ter que viver longe e ter que conviver profissionalmente num ambiente que eu não estava habituada, apesar daqui ser uma área operacional, né? Eu fui pra uma sede da Petrobras. Mas foi uma experiência maravilhosa, foi muito boa essa.
P/1 – Você conseguiria, assim, definir quem é o trabalhador, aqui, da Bacia de Campos?
R – Quem é? Olha, eu acho que todo mundo, assim, mas eu, pela minha experiência de setor de pessoal. O trabalhador que você quis dizer é a característica dele?
R – Olha, cara, ele é muito empreendedor, ele tem uma garra enorme, os desafios pra eles, assim, pra nós, né? Podem ser grandes, podem ser muito grandes, mas a gente consegue, entendeu? Pela boa vontade, pelo entusiasmo. Porque eu acho que aqui o petroleiro, né, quem trabalha aqui com a Petrobras, eu acho que ele tem o entusiasmo muito grande, até, pelos desafios que ela tem, que ela vem, né? Cada dia tendo, né? Crescendo, né? E essas fases todas que a gente passou é bem legal, você vê aonde que a gente chegou, entendeu? E aonde que a gente vai chegar. Então, isso é muito legal.
P/1 – Você falou de fases daqui da Petrobras, você destaca alguma fase da produção que você tenha achado, assim, mais marcante na história da Bacia?
R – Auto-suficiência. Eu acho, assim, que quando a gente, né? 2 milhões de barris e a gente divulgou isso, né? Eu acho que pro Brasil, não é só pra gente que está aqui dentro, não. Eu acho que isso foi, assim, acho que daí pra lá a gente podê mostrar mesmo a Petrobras que a sociedade acreditasse, né? Que confiasse nela. Que aqui não tem gente pra fingir que está trabalhando, a gente está trabalhando mesmo, de verdade, entendeu? Eu não queria, esqueci de uma passagem que foi em 2001, quando o Lula esteve aqui. Que ele não era presidente. Que ele desembarcou aqui no heliporto, tentou falar com a gente, né? Mas não permitiram que ele entrasse no auditório, por questões que a gente até entende. Mas foi uma experiência, assim, de você estar do lado e depois vê aquele cara lá como o seu presidente, transformando esse Brasil, transformando a Petrobras e mostrando que a gente pode, e, que o Brasil é possível para brasileiros.
P/1 – Você falou que veio pra Macaé pequena, né?
R – Foi
P/1 – Então, você percebeu, assim, uma mudança na cidade feita através da Petrobras?
R – É, quando eu vim pra cá não tinha a Petrobras ainda, né? Tinha o Sesc, que era aquele hotel Imbetiba, ali. Meu tio era gerente, meu pai trabalhava com eles, a gente pescava dali. Então, quando a Petrobras se instalou tudo foi acabando um pouco, né? A cidade mudou completamente. E sem estrutura, porque era uma cidade muito pequena, né? De turismo mesmo, porque era legal, tinha praia, né? Imbetiba era ponto turístico. E aí, depois, com a instalação da Petrobras, das outras empresas. Realmente, a cidade ficou muito diferente.
P/1 – E o crescimento, assim, da Petrobras mesmo, novas sedes, novos prédios?
R – Ah, com certeza, não tinha, era tudo muito pequeno, né? Depois, foi construindo, foi crescendo, entendeu? Foi uma mudança.
P/1 – E como que é trabalhar aqui com gente tão diferente, assim, de várias partes do país?
R – Ah, eu adoro, né? Porque eu aprendo, assim, eu adoro ouvir as pessoas, né? Adoro me comunicar, conversar, né? Porque eu acho que isso é que faz você um ser humano bom, porque você vai tirar as características boas das pessoas, né? Você vai buscar o que ela tem de melhor. Então, eu acho que isso é um grande ensinamento, você poder estar dividindo o seu espaço com pessoas de todos os níveis, né? De países diferentes, de capitais diferentes, com culturas completamente diferentes. Isso é muito bom, muito bom.
P/1 – Você tem, assim, além da história do Lula que você contou, né? Qual a outra história...
R – E do ancinho que eu contei, né?
P/1 – Do ancinho, também. É verdade.
R – Eu contei.
P/1 - Tem alguma outra história que você queira contar?
R – Ai, olha, eu acho que eu tinha tantas, mas, assim, a minha memória não é muito boa mais. (riso)
P/1 – Você tem percebido, assim, mudanças nos equipamentos, na forma de comunicação?
R – Ah, é a tecnologia, né? Antigamente era tudo tão manual, agora, a gente, sabe? Clicou um botão você já consegue fazer a coisa chegar mais rápido naquela pessoa que está aguardando a resposta, né? O e-mail, né? A forma tão boa de se comunicar com o outro, de fazer chegar mais rápido a comunicação, né? Assim, você percebe, aquilo que você viveu lá atrás, com tudo muito na mão. Máquina de datilografia, hoje, você tem essa tecnologia aí, entendeu? Então, o trabalho fica mais fácil, né? Por isso, os desafios, a gente encara com muito mais vontade, porque, também, a tecnologia ajuda, né? (riso)
P/1 – Você lembra de alguma função de quando você entrou aqui, que, de repente, hoje em dia não existe mais por conta da tecnologia?
R – É, pois é. Os cálculos que a gente fazia eram manuais, né? É, MVF, era movimentação de valores em folha, a gente tinha que preencher aquilo ali pra poder mandar, hoje não, hoje é tudo feito pelo computador. Hoje, você joga o período e ele vai calcular o 13º, as férias proporcionais, entendeu? Então, o guia de embarque de material, quando eu fazia, que eu era estagiária, a gente ia lá no pier pra ver o material, pra anotar a especificação. Hoje, você acessa do computador o que você tem no estoque, né? Então, isso é uma das coisas, imagina na área de operação.
P/1 – Como você acha que vai estar a Bacia de Campos no futuro?
R – Olha, se hoje já está assim, né? Se você clica, né, um botão. Eu acho que vai estar muito mais digital, eu acho que você vai poder conduzir uma plataforma daqui da terra. Eu acho, né? Porque a tecnologia vem avançando a cada dia, né? Eu acho que as coisas são possíveis, né? E eu acho que vai estar mais dinâmico, porque, né, quando a tecnologia implanta e ela muda a cada dia, você tem que ir buscando coisas novas, você vai ter que pesquisar mais. Eu acho que vai estar num ritmo muito mais acelerado, muito mais. É isso.
P/1 – Tem alguma outra coisa que você queira falar que tenha escapado?
R – Não, não. Eu só quero dizer que eu aprendi muito. Que eu aprendo todo dia com a Petrobras. Ela é uma grande escola, né? E eu tive muitas alegrias, poucas tristezas. Graças a Deus, até agora. Porque eu vim de uma família muito pobre. Eu acho, assim, que ela proporciona, né? Uma vida melhor pras pessoas que são empregadas dela mesmo e às outras pessoas que ela tenta inserir no mercado. Eu acho que a Petrobras é uma grande empresa e é muito bom fazer parte dela.
P/1 – Bom, pra concluir, Rita, eu queria que você dissesse o que você achou de participar de um projeto como esse, de contar a história da Bacia através das lembranças dos trabalhadores?
R – Ah, eu achei super, assim, eu já estava lá. Quando esse projeto foi implantado eu estava na comunicação, eu achei que a gente precisa disso. A história precisa ficar guardada, né? E isso é uma preocupação muito, muito mesmo, boa. Assim, de quem imaginou isso, que foi a gente quando montou. Eu acho que as histórias não podem se perder. Por mais que sejam histórias, que tecnicamente não façam diferença, mas são as histórias, né? Das pessoas que montaram isso aqui, que vêm montando, que vêm construindo. Então, eu acho que foi, assim, foi muito legal. E está de parabéns, aí, o trabalho de vocês.
P/1 – Obrigada, Rita.
(FINAL DA ENTREVISTA)
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