Pedro Messias dos Santos nasceu em Aracaju no dia 29 de junho de 1956.
Eu entrei na Petrobras no dia 22 de novembro de 1976, aqui na UEPSEAL –Unidade de Produção de Sergipe e Alagoas, antigamente era RPNE – Região de Produção do Nordeste, em Aracaju. Fui direto para a equipe sísmica S27 que estava aqui em Divina Pastora, Sergipe. Existiam duas equipes de pesquisa de petróleo no país, era a S26 na Bahia e a S27 aqui em Sergipe, que vinham do Rio Grande do Norte e estavam começando a operar na pesquisa de petróleo em Sergipe, na área de Divina Pastora.
Meu trabalho era árduo. Quando eu entrei na Empresa, eu era auxiliar de apoio. A Empresa não tinha essa estrutura que tem hoje, era uma estrutura de acampamento, de alojamento. A gente vivia nas barracas igual cigano. Época árdua, de muita luta e muito trabalho. Não tinha essa estrutura todinha, a gente dormia em barraco de lona, comia no que tinha, as quentinhas vinham num saco plástico. Isso foi no início, em 1976. Foi mudando, depois foi chegando novos tempos, mudamos os tipos de barracas. A cama que a gente dormia não era nem beliche, era cama de ferro, com um colchonete em cima. Depois foi chegando trailer, foi mudando. Foi passando os tempos. Depois eu saí de auxiliar de apoio para auxiliar da equipe geofísica, passei para ajudante de sondador e terminei como operador de petróleo na equipe.
Tem várias histórias que a gente passou nesse país. Percorremos o país todo, só não estive na Amazônia. Tinha muita rotatividade pelo país. Às vezes, chamavam a gente de cigano porque mudávamos muito, tinham muitas atividades. Trabalhamos aqui, em Alagoas, na Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraná e Fortaleza. O problema da equipe é que ela tinha aquela rotatividade. Trabalhamos em Alagoas toda, em Paripueira, São Miguel dos Milagres, São Miguel dos Campos, Coruripe. E também em várias cidades: Entre Rios, em Beira do Pombal, Inhambupe, Olindina. Estivemos em Antas, na...
Continuar leituraPedro Messias dos Santos nasceu em Aracaju no dia 29 de junho de 1956.
Eu entrei na Petrobras no dia 22 de novembro de 1976, aqui na UEPSEAL –Unidade de Produção de Sergipe e Alagoas, antigamente era RPNE – Região de Produção do Nordeste, em Aracaju. Fui direto para a equipe sísmica S27 que estava aqui em Divina Pastora, Sergipe. Existiam duas equipes de pesquisa de petróleo no país, era a S26 na Bahia e a S27 aqui em Sergipe, que vinham do Rio Grande do Norte e estavam começando a operar na pesquisa de petróleo em Sergipe, na área de Divina Pastora.
Meu trabalho era árduo. Quando eu entrei na Empresa, eu era auxiliar de apoio. A Empresa não tinha essa estrutura que tem hoje, era uma estrutura de acampamento, de alojamento. A gente vivia nas barracas igual cigano. Época árdua, de muita luta e muito trabalho. Não tinha essa estrutura todinha, a gente dormia em barraco de lona, comia no que tinha, as quentinhas vinham num saco plástico. Isso foi no início, em 1976. Foi mudando, depois foi chegando novos tempos, mudamos os tipos de barracas. A cama que a gente dormia não era nem beliche, era cama de ferro, com um colchonete em cima. Depois foi chegando trailer, foi mudando. Foi passando os tempos. Depois eu saí de auxiliar de apoio para auxiliar da equipe geofísica, passei para ajudante de sondador e terminei como operador de petróleo na equipe.
Tem várias histórias que a gente passou nesse país. Percorremos o país todo, só não estive na Amazônia. Tinha muita rotatividade pelo país. Às vezes, chamavam a gente de cigano porque mudávamos muito, tinham muitas atividades. Trabalhamos aqui, em Alagoas, na Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraná e Fortaleza. O problema da equipe é que ela tinha aquela rotatividade. Trabalhamos em Alagoas toda, em Paripueira, São Miguel dos Milagres, São Miguel dos Campos, Coruripe. E também em várias cidades: Entre Rios, em Beira do Pombal, Inhambupe, Olindina. Estivemos em Antas, na Bahia, Mossoró, no Rio Grande do Norte, Pitanga, no Paraná. Estivemos em toda a parte, graças a Deus, trabalhamos no país todo.
O dia-a-dia da gente era viagem. O trabalho era pesado, mas a gente tinha a tarde de lazer, que era muito gratificante. Eu não tenho nada a dizer. Em termos de Empresa, foi maravilhoso, teve muita coisa. O dirigente muda, mas a Empresa tratava a gente bem. Passamos muita coisa árdua, mas fomos levando a vida. Tínhamos aquelas amizades com as pessoas. Houve o desenvolvimento da Empresa, foi crescendo e depois foi mudando. Em 1995, nós fomos transferidos para SAG – Serviço Aquisição Geofísico – na Bahia, em Salvador. Eu me aposentei na SAG, em Salvador.
Tem a história que a gente saía aqui, naquela época a Empresa era muito liberal, a chefia da equipe. Às vezes, tinha chefe compreensível e tinha chefe ruim. Tinha uma história de dois companheiros nossos que foram para a cidade, aqui em São Miguel – foi uma história muito engraçada –, os dois pediram o carro para vir para o alojamento e andaram mais de seis quilômetros, um com medo do outro, na pista. Quando chegaram na entrada do alojamento se encontraram, depois de seis quilômetros que andaram um do lado da pista oposto, outro do outro lado, e um com medo do outro, porque não se conheciam. Eles ficaram na cidade, se encontraram, vieram pensando que um ia assaltar o outro. Naquela distância ficaram passeando. Na entrada do alojamento, em Alagoas, foi que se conheceram, que viram que eram realmente dois amigos. Mas vinham separados, com medo de um assaltar o outro.
Sou sindicalizado desde 1977. Eu sou diretor do Sindipetro desde 1993. Em 1990, nós construímos uma chapa do sindicato, perdemos. Quando foi em 1993, nós ganhamos a direção do Sindicato e eu estou lá até hoje. Está terminando agora o mandato, em 2005, aí vamos ver como vai ficar. Mas foi muito boa, muita luta, muita greve. A greve de 1995, a greve de 1994, 1993, muitas greves, muitos embates na Empresa.
Acho que a mais marcante foi a greve de 31 dias, em 1995. Essa foi a greve contra a quebra do monopólio do petróleo. E foi puxado, porque durou muito, teve muito embate. Teve companheiro nosso que foi demitido. Nós tivemos uma faixa de cento e poucos companheiros demitidos no país, 11 aqui em Sergipe-Alagoas, foi uma das unidades com maior número de demissões. Inclusive, graças a Deus, estão voltando. Esse ano voltaram alguns, outros já tinham voltado. Mais foi uma greve de luta, de muito impasse, muita expectativa, muito nervosismo. Nós não tínhamos uma greve de 31 dias num país desse, com a repressão que estava na época. Foi uma greve muito intensa. O movimento sindical sentiu um embate grande, aquele movimento foi em todo país, mas também teve conquistas. A gente hoje não pode reclamar. Aquela greve foi a mais marcante que existiu. Eu acho que, depois das outras greves que eles tiveram, de 1970, por aí, essa foi a mais marcante que eu participei. Houve vários problemas, protestos, companheiros nossos foram ameaçados pela polícia. Muito embate com policial, muita coisa, a gente tem muita história. Foram muitas coisas que aconteceram naquela época. Hoje a gente está esperando que cumpra a Lei da Anistia que está aí, os dias parados que foram perdidos por muita gente naquela época. Nós mesmos, do Sindicato, fizemos muita cesta básica para dar para os companheiros prejudicados. Foram 30 dias, tinha companheiros nossos que não receberam salário nenhum. Para os que não receberam salário, a gente fez cesta básica. Muitos perderam férias, décimo-terceiro. Essa greve prejudicou várias pessoas. Teve gente que fez 31 dias, teve gente que fez 14. Na época que a greve estava começando, tinha gente que estava desembarcando, outros estavam embarcando, era um problema. Mas teve muitos companheiros que sofreram repressão mesmo do governo. E hoje vêm sofrendo ainda mais porque não receberam os atrasados. A gente esperava que hoje fossem pagos os dias parados para os nossos companheiros que perderam na greve. Mas não, estão pagando o reflexo, os dias parados disseram que não vão pagar. Atingiu mais os aposentados, a gente está sofrendo uma repressão, discriminação. Não é por causa disso que a gente achava que não deveria ter discriminação entre aposentado antigos e novos.
É discriminação porque, quando a gente estava na ativa, o pagamento teve uma adequação da Petros, a gente aumentou a contribuição para a Petros, uma contribuição para ter o mesmo direito de quando a gente se aposentasse. E hoje está havendo essa discriminação, salário diferenciado, reajuste diferenciado entre aposentado e ativo, novos ganhos. A gente está sofrendo, os aposentados estão sofrendo o máximo. Em 1976, quando eu entrei na Empresa, não era essa empresa toda, nós construímos com muita luta, muito aposentado morreu lutando para ver o crescimento da Petrobras. E, hoje, justamente essa Empresa, os dirigentes não reconhecem que nós lutamos, o que nós fizemos pela Empresa para ela crescer. Quantos vários poços de petróleo a equipe sísmica não descobriu? Tudo começa pela equipe sísmica. Com o tempo, a gente viu a importância que a pesquisa de hoje, de petróleo, tem no país. Tudo começa da geofísica e vai crescendo gradativamente. Os poços estão hoje aí. Os milhares de poços, de 1976 para cá, foram construídos com vários companheiros de luta, vários companheiros de sonda, de plataforma, geofísica. E várias pessoas construíram. Hoje, tem essa discriminação entre os aposentados e os ativos. Entre os companheiros, a discriminação é pouca. Tem alguns companheiros dentro da Empresa, da ativa, que sentem aquela discriminação, que se é aposentado não pode ter o mesmo direito, mas isso é pouco, é minoria. A maioria é mais consciente e sabe que hoje ele é da ativa, mas amanhã ele será o aposentado. Eu me aposentei no dia 10 de dezembro de 1998. A minha vida mudou. Uma coisa que não mudou mais foi a amizade. A gente, logo no início, sente aquele impacto. Eu trabalhei 23 anos na Empresa com vários companheiros, várias amizades, com várias pessoas que a gente hoje encontra. Eu rodei o país todo, conheço várias pessoas diferentes, várias cidades, vários costumes diferentes. E a gente vê que o que mudou foi isso. No início, nós temos aquele impacto, que eu não senti muito, mas vários companheiros sentiram quando se aposentaram. Eu estava no movimento sindical, na direção do Sindicato, então eu tinha aquela ocupação para fazer. Mas muitos companheiros sentiram que não tinham atividade nenhuma. Vários outros estão aí sofrendo hoje, que se envolveram no alcoolismo. Porque fica aquela ansiedade, quando sai da Empresa a primeira coisa é o impacto da ansiedade. No início, com 30 dias, você sente que está de férias, depois que começa a passar o tempo, se você não tiver uma atividade para se dedicar vai levar para outros caminhos, beirar o alcoolismo, complicações em casa. Porque quando o aposentado trabalha no campo e depois passa a ficar em casa, começa a ver coisas diferentes com a família, que ele não via antes.
Foi assim: nós começamos na equipe sísmica trabalhando 20 por 10, a gente trabalhava 20 dias e folgava 10. Depois, passou para um por um. Hoje já trabalha um, folga dois. Foi uma mudança radical. Mudou muita coisa e muita coisa nós passamos por aqui. Na época que eu entrei, tomava água de brejo, não tinha essa estrutura, tomava água de poço, era óleo, era em cima de caminhão, em cima de caminhãozinho, em cima de pick-up. Hoje não, hoje a Empresa dá uma estrutura totalmente diferente. Naquela época, não tinha segurança. E Deus era do lado da gente, porque nunca aconteceu um acidente grave. Nós andávamos junto com explosivo, com óleo, com ferramenta, tudo em cima dos carros, a estrutura era essa antigamente. E hoje não, essa coisa está totalmente diferente, a estrutura é outra em todo país.
Fica aquela ansiedade, não tem aquela atividade para fazer. Tem uns que procuram uma atividade, outros não procuram. Tem uns que têm a compreensão de que o alcoolismo existe. Mas muita gente mesmo começa a se sentir afastado da atividade que estava fazendo e vai para aquela coisa que é mais fácil, bebe um dia, dois dias, depois está no alcoolismo. A gente vê muito isso com companheiros e fica triste com isso, a gente vê muito isso na categoria aposentada da Petrobras, é uma coisa realmente preocupante.
Continuo na direção do Sindicato. Hoje eu sou diretor financeiro do Sindipetro. Comecei como diretor normal, porque eu tinha uma atividade, trabalhava, e nunca fui liberado. Depois que eu me aposentei passei a me dedicar. De 1998 para cá, comecei a exercer uma atividade fixa dentro do Sindicato.
Hoje existem relações boas entre a Petrobras e o Sindicato, depende muito do ambiente que se dá, da gerência, do Gerente Geral das regiões. Já tivemos vários problemas com GGs que passaram na RPNE – Região de Produção do Nordeste-, na UEPSEAL – Unidade de Produção de Sergipe e Alagoas –, mas hoje tem gente muito aberta. Ainda temos um problema, a gente esperava que na mudança de governo fosse ter mais abertura com os sindicatos, mas continua aquele problema de gerente que existia. Tem horas que a gente tem abertura com o gerente geral, que já foi sindicalista. Tem um ainda aqui na Fafen – Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados. Mas tem ainda uma área que tem aquele pessoal antigo que não quer saber de sindicato de jeito nenhum. Está melhorando, tem melhorado bastante, já foi pior do que hoje. Hoje ainda tem aqueles gerentes que acham que não devem se envolver com o Sindicato, porque o sindicato é aquilo, tem que ficar longe. Mas a gente tem conseguido fazer assembléia dentro das áreas. Tem gerente de área que não quer, tem outros que aceitam. A gente está quebrando esse gelo. Vamos devagar, porque a gente vê que não pode ser tudo de uma vez, expandir de uma vez, tem que ser gradativamente, devagarinho vamos conquistando aquele gerente.
É um projeto válido, aceito. Acho que vai trazer muito conhecimento para as pessoas fora e dentro da Petrobras. Tem muita gente aí que não sabe ainda o que é realmente a Petrobras. Muito engenheiro que vem hoje, que está entrando agora, não sabe como a Petrobras começou, como surgiu na Bahia, em Candeias, como surgiu aqui em Sergipe, como surgiu no Rio de Janeiro e tal. “A Petrobras é isso, hoje ela é grande, é uma das maiores empresas do mundo” Mas não viu como ela começou, o passado dela. E com esse projeto várias pessoas vão ver, a população brasileira vai ver como é a história da Petrobras. Acho que várias empresas deviam fazer isso. A gente vê hoje lá na EDIPA – Edifício sede da Petrobras em Salvador - a sonda P1 que está encostada, a primeira sonda de produção que começou na Bahia. Para a gente, é gratificante. Em Candeias também, a gente olha, vê o primeiro poço da região aqui do Nordeste. Isso é muita satisfação. Muita história que muita gente não sabe, principalmente a juventude que está chegando. Essa Empresa tão grande, com o maior número de poços em Campos, no Rio Grande do Norte, em Sergipe, em vários pontos, mas as pessoas não sabem como ela surgiu e como o petróleo é importante para a sociedade em geral e para o mundo todo. Muitas barracas, muita coisa que começou daquele tempo. Muitos companheiros de sonda que andavam em cima do caminhãozinho, que dormiam em alojamento perto de sonda, que carregavam tubo nas costas. Aquilo tudo, aquela área todinha da Petrobras. Toda essa história da gente. Na geofísica, teve época de se dormir no mato. O carro quebrava, não tinha condições de outro carro chegar para dar socorro, nós dormíamos todos no mato. Várias vezes dormimos dentro das pirambeiras, nas grotas. Aparecia bicho. Às vezes, a pick-up quebrava e nós dormíamos oito homens dentro de uma pick-up de cabine dupla, porque ninguém queria ficar de fora. Passávamos a noite todinha, até no outro dia chegar socorro. Porque os carros chegavam perto, mas não tinham condições de descer porque era noite. Era muita pirambeira dentro de uma grota, os carros atolavam lá em baixo e não conseguiam subir de jeito nenhum. Tem várias histórias de caminhões atolados, de pessoal dormindo no mato. Pessoal de sonda, pessoal de campo foi sempre um pessoal sofrido. Hoje não, há outra estrutura na Empresa. A Petrobras hoje é totalmente diferente daquela dos anos 1970. Agradecimentos Eu quero agradecer a você, agradecer à Empresa, aos sindicatos, por esse projeto. Vai ser uma coisa que vai ficar guardada na memória de todos os brasileiros e uma coisa que vai ficar num museu escrito para sempre, que é a história de uma das maiores empresas do país, porque muitas pessoas não estão inteiradas e só vêem a estrutura de hoje dessa Empresa tão grande. Quero agradecer a vocês e ao Sindicato, muito obrigado pelo projeto.
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