Luiz Carvalho. Nasci no Rio de Janeiro em 16 do 4 [abril] de 1949. Entrei [na Petrobrás], se não me engano, dia 26 de outubro de 1980. Nessa época, eu trabalhava na Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro, no Metrô. Aí uns colegas, divulgação nos jornais, comentários, falavam: “Vamos entrar na Petrobras.” E era o eu sonho, realmente. Eu vim de muitas firmas estrangeiras e falei: “Eu vou entrar pra Petrobras que é nacional, é uma firma que tem um maior porte, mais estabilidade, um emprego estável.” Aí um pessoal viu no jornal, me comunicaram e viemos num grupo de umas cinco a seis pessoas pra fazer concurso em Macaé. Fomos do Rio pra Macaé, fizemos o concurso, pernoitamos do lado de fora, no sereno, eu e mais uns quatro ou cinco companheiros. Eu passei num dos primeiros lugares; eu e mais uns dois, e os outros, infelizmente, não passaram. Entrei. Fui chamado diversas vezes, recusei, porque me interessava trabalhar em alto mar, não em terra. Porque eu já trabalhava e o salário da Petrobras, na época, era compatível com o salário que eu estava ganhando no Metrô. Então, eu saí de um emprego em que eu já estava seguro e ir pra outro começar... Ficava na dúvida e eu falei: “Na dúvida eu não vou.” E recusei diversas vezes.
Na terceira vez, o chefe do Diman [Divisão de Manutenção] - hoje a nomenclatura mudou, não sei como chama agora, porque eu estou aposentado - aí me chamou, pela terceira vez e me deu um ultimato: se eu não aceitasse trabalhar em terra com eles, eu seria excluído do quadro da Petrobras, de funcionários. Eu falei: “Bom, o negócio é o seguinte, fica a critério do senhor. O senhor é quem sabe. O meu objetivo é trabalhar na Petrobras, ter maior conhecimento, expansão profissional.” Daí, expliquei tudo, convenci o engenheiro a me aceitar. Nessa época, tinha acontecido em 7 de setembro, um acidente no PP Moraes; um acidente na torre que ancorava o navio. Eu não podia entrar no navio porque...
Continuar leituraLuiz Carvalho. Nasci no Rio de Janeiro em 16 do 4 [abril] de 1949. Entrei [na Petrobrás], se não me engano, dia 26 de outubro de 1980. Nessa época, eu trabalhava na Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro, no Metrô. Aí uns colegas, divulgação nos jornais, comentários, falavam: “Vamos entrar na Petrobras.” E era o eu sonho, realmente. Eu vim de muitas firmas estrangeiras e falei: “Eu vou entrar pra Petrobras que é nacional, é uma firma que tem um maior porte, mais estabilidade, um emprego estável.” Aí um pessoal viu no jornal, me comunicaram e viemos num grupo de umas cinco a seis pessoas pra fazer concurso em Macaé. Fomos do Rio pra Macaé, fizemos o concurso, pernoitamos do lado de fora, no sereno, eu e mais uns quatro ou cinco companheiros. Eu passei num dos primeiros lugares; eu e mais uns dois, e os outros, infelizmente, não passaram. Entrei. Fui chamado diversas vezes, recusei, porque me interessava trabalhar em alto mar, não em terra. Porque eu já trabalhava e o salário da Petrobras, na época, era compatível com o salário que eu estava ganhando no Metrô. Então, eu saí de um emprego em que eu já estava seguro e ir pra outro começar... Ficava na dúvida e eu falei: “Na dúvida eu não vou.” E recusei diversas vezes.
Na terceira vez, o chefe do Diman [Divisão de Manutenção] - hoje a nomenclatura mudou, não sei como chama agora, porque eu estou aposentado - aí me chamou, pela terceira vez e me deu um ultimato: se eu não aceitasse trabalhar em terra com eles, eu seria excluído do quadro da Petrobras, de funcionários. Eu falei: “Bom, o negócio é o seguinte, fica a critério do senhor. O senhor é quem sabe. O meu objetivo é trabalhar na Petrobras, ter maior conhecimento, expansão profissional.” Daí, expliquei tudo, convenci o engenheiro a me aceitar. Nessa época, tinha acontecido em 7 de setembro, um acidente no PP Moraes; um acidente na torre que ancorava o navio. Eu não podia entrar no navio porque ele estava em reparo. Aí o engenheiro falou assim: “O senhor aceita trabalhar, que o senhor está querendo trabalhar no mar, no navio, esse negócio todo, pra aprender, mais? O senhor tem anos de experiência, nós estamos querendo pessoas assim.” E eu: “Tudo bem, eu gostaria de trabalhar na Petrobras, se o senhor me aceitasse...” “O senhor vai trabalhar, mas não vai ficar no hotel onde estão os outros que já são efetivos da Petrobras. O senhor vai pra casa todos os dias.” “Com o maior prazer.” E assim foi feito, eu fiquei trabalhando e hoje sou aposentado pela Petrobras.
Na época, ingressei como mecânico. Eu trabalhei dois anos e dois meses como mecânico e fui indicado para a supervisão, contramestre de mecânica. Fiz um concurso, um testezinho, eu tirei acima de cinco e me aceitaram como contramestre mecânico e fiquei, de lá pra cá.
O navio ficava preso a uma monobóia. Era uma bóia com o diâmetro de cinco metros, com seis âncoras; cada uma pesava - acho - 30 toneladas, ao longo do fundo mar, com as correntes fortíssimas, violentas e ele ficava preso. De acordo com as correntezas e com a maré, ele saia se deslocando pro lado, pro outro, com o vento e foi isso aí que deu problema; quebrou, voou a torre pra cima e pegou fogo. O navio teve que ir pra reparo. Nessa época em que aconteceu o acidente foi quando eu estava me inscrevendo e eu não pude trabalhar nele. Então, ele foi pra Baía de Guanabara, pra ser restaurado, e eu fui também, justamente para fazer o reparo, ajudar, fiquei trabalhando lá.
Sempre trabalhei embarcando. Só foram uns quatro meses que eu trabalhei em Cabiúnas, fazendo um estágio. Eu não sei por que cargas d’água eu ficava muito tempo na plataforma. Não sei se por confiança da chefia ou se não tinha vaga pra trocar, não sei. Eu sei que eu ficava muito tempo em uma plataforma. Fiquei muito tempo mesmo. Só na Moraes, eu levei dois anos e meio, porque ele teve que se deslocar não sei pra onde e aí me transferiram pra S-5, uma plataforma semi-submersível; ela é flutuante, também com âncoras, bóias, esse negócio todo. Daí eu fui pra S-17, só pra fazer o estágio, voltei pra S 5, da S-5 fui pra S-11 e lá me aposentei. Eu gostei. Aquele período na PP Moraes foi maravilhoso. Aprendi muita coisa mesmo e justamente o meu objetivo, na época em que eu me inscrevi na Petrobras foi atingido, me aperfeiçoar profissionalmente, inclusive os cursos que a Petrobras patrocinou pra mim foram muito bons.
Eu tenho muito que agradecer a essa firma. O horário, realmente, era um sacrifício. Você trabalhar das sete da noite às sete da manhã, realmente, tem horas que, mesmo que você não faça nada, dá um cansaço. Mas compensa na outra semana, que é de dia, tranqüilo, você faz seus trabalhinhos, vai descansa, aí depois volta e tem as duas horas pra descansar. Aí tem uma pescariazinha... A pescaria era permitida, mas com certas restrições. Só que o brasileiro, realmente, não pode dar muita guarida que ele abusa. Então a pescaria era muito tranqüila, pra mim era o meu passatempo, porque eu não fumava. Lá tinha muito filme pornô, por isso era masturbação mental, não tinha o que ver, a televisão não pegava, porque era via satélite, não sei o que era, e o navio horas deslocava do lugar e perdia o sinal, aí eu desisti de ver novela, filme, repórteres, não tinha. Filme lá eram, na época, filmes ruins, sucata de locadoras, a gente assistia àqueles filmes diversas vezes pra não ficar assistindo filme pornô, mas o pessoal, a maioria só queria ver essas coisas e eu doido pra assistir uma novela, um passatempo. Aí eu optei pela pescaria, eu ficava só pescando, ficava lá vendo a lua, vendo o mar, as estrelas... E pescando, me divertindo. Agora, o pessoal abusava, dentro da barriga do peixe botavam um salaminho, chave inglesa e o pessoal também começou a fazer comércio com os peixes, abusavam do peso, ou botavam materiais, ferramentas, como peso, pra linha. Ou seja, era um prejuízo pra empresa, aí a gente falava, mas não adiantava nada e acabou a empresa cortando.
O Ney Pavie era instrumentista. Hoje é falecido. Na época, ele usava uns óculos fundo de garrafa e estávamos pescando juntos. Então nós, pescando no navio, a lâmina d’água, de onde eu estava no convés pra água, eram uns dois metros – a altura dele são 60, mas de lâmina d’água são oito – ele estava seis metros de água, porque estava carregadinha de óleo. Aí nós pescando lá, quase dois metros, ele sem querer encostou naqueles óculos fundo de garrafa e caiu, já com o peixe fisgado, o peixe preso na minha linha e na dele, os óculos caíram: “Juruna Juruna” – que é o meu apelido – “Por favor, pelo amor de Deus Pega meus óculos” E eu falei: “Rapaz, eu vou mergulhar agora pra pegar seus óculos? Deixa a gente pescar os peixes aí. Se tiver um com óculos, daí você põe ele de volta.” Mas isso é verdade, os óculos do rapaz cair dentro d’água, em alto mar, é ruim, hein Se ele caísse dentro da água claro, evidente, nós jogaríamos bóia, tem todos os aparatos ali pra isso, mas é aquele negócio, como era óculos, agora perdeu, dançou E ele ficou assim, sem ver nada, que não enxergava quase nada, coitado. O peixe já estava fisgado e nós trouxemos o peixe e aí ele parou de pescar, ele já não estava enxergando mais nada. Eu continuei, mas não peguei o peixe com os óculos dele não. (risos)
Eu acredito que hoje já não tem muito esse contato de irmandade, de amizade, como tinha antigamente. Antigamente nós éramos irmãos mesmo. Era uma festa só, uma festa na plataforma. E a festa continuava em terra, a gente marcava, programava churrasco, futebol... Eu não jogava futebol, mas ficava com uns colegas meus pelo menos pra filmar o pessoal jogando futebol, tomando cervejinha, churrasquinho, batucada... A confraternização continuava. Começava na plataforma e terminava em terra. Às vezes, marcava e não combinava, não conciliava, um tinha um problema ou doença, coisa e tal e aí não dava. Mas quando dava era uma festa só, eu tenho recordações muito boas e gostaria que voltasse o tempo, 1980. Meu objetivo era que meus filhos trabalhassem também embarcados, porque é uma lição de vida. Nem tudo é possível. Cada um caiu pra um lado, estão prestando concurso, não passam, é muita gente pra concorrer, a disputa é violenta. Agora tem muita gente pra concorrer, naquela época não, era mais fácil.
O maior desafio pessoal foi ficar longe da família. Era um tédio. As doze horas que não tinha nada o que fazer, às vezes, eu chorava, ficava lá quietinho. E o camarote é uma cama, um beliche e tinha uma cortina. E eu ficava ali quietinho, enquanto meus colegas fumavam - eu nunca fumei, eu respirava aquele ar poluído de cigarro - mas eu ficava tranqüilo ali lendo meu livro, lendo uma revista ou, às vezes, eu levava a minha televisãozinha, porque naquela época não tinha essa mordomia que tem hoje, eu levava e eu conseguia passar pelo meio dos dutos, dos forros, uma antenazinha pra poder assistir a minha televisãozinha. Só quando tinha um filme novo, tipo o Tropa de Elite, se na época tivesse um desse, aí todo mundo ia querer assistir, mas o resto era só filme porcaria. Eu ficava longe dos meus filhos, filhos pequenininhos, tinha saudade, ficava olhando o retrato; às vezes, também ia lá no telefone passar o tempo, porque na época telefone era de graça, não cobravam nada pra Campos. Aí eu deitava os cabelos porque a única diversão era isso, vou falar com a minha família, meus filhos: “Oi papai Tô com saudade, beijo” Era uma coisa de louco. Agora, profissionalmente, o problema era o que tem em todo lugar, tinha um chefe chato, que não entende nada ou entende demais e quer ser o bam bam bam da coisa e, na realidade, não é assim. Nós estamos ali no mesmo barco e se afundar vai todo mundo junto, vai desde o superintendente até o peãozinho mais novo, igual ao Titanic. Então, eu tinha umas desavenças com eles lá, de vez em quando, batia cara a cara com eles e discutia, porque eu era a favor da peãozada, da minha galera, pessoas que trabalhavam comigo, eu lutava por eles porque eles faziam por onde, então eu brigava por eles. A gente tinha alguns conflitos e, na época, eu fui prejudicado várias vezes em avaliação, mas isso não me afetou em nada, me afetou lá na época, profissionalmente, mas na minha vida, eu estou aqui, tranqüilo.
Minha área era manutenção. Eu tinha sorte, papai do céu me acompanhava. Nunca me aconteceu nada, nem acidente, nada, nada de grave. Uma única coisa que aconteceu de grave, uma vez foi no Moraes - como sempre o Moraes é o pivô da Petrobras, porque é o projeto piloto da Petrobras – e pegou fogo lá, nós tivemos que apagar. Graças a Deus, foi debelado o incêndio, tranqüilo, graças aos cursos que a Petrobras ministra, também que são de muita valia. Só eu fiz pra mais de dez cursos sobre esse negócio de segurança, salvatagem. E também uma vez que eu não gostei, que foi erro da chefia de terra. O Moraes já estava no seu limite, capacidade total, ele já estava com meio metro de lâmina d’água no convés, meio metro fora o... A maré como estava jogava água de um lado para o outro, lavava o convés do navio e o pessoal de terra não mandou parar a produção esses dias. Eu tive medo esse dia, achei que o navio ia a pique mesmo. Nós paramos por nossa conta, porque não ia arriscar a vida por causa de produção. Eram setenta pessoas... Não me lembro. Mas aquele dia eu fiquei com medo. No fim, o cara parou a produção, a nossa força, nosso pedido, os caras aceitaram e parou a produção.
Sempre houve equipamentos dos mais modernos. O mais moderno que tinha de petróleo; existiam os equipamentos bons, muito bons. Mas alguns equipamentos – a Petrobras estava começando também – que só tinha um técnico; só ele podia mexer, nós não podíamos mexer. Eu, como supervisor de manutenção, não podia meter a mão no aparelho, tinha que esperar Fulano de tal, tinha que ser com o consentimento de não sei o quê, que eu acho errado. Entregou, se comprou o equipamento, você tem que operar. Por mais arriscado que fosse, você tem que pegar essa pessoa, pode ser qualquer funcionário, não só quando esse cara morrer ou se acidentar ou se ausentar, ficar doente, como é que vira? Eu achava aquilo errado e era isso que eu batia de frente com a minha chefia. Por não poder mexer, porque tinha que esperar um técnico japonês, sei lá de onde. Um absurdo, mas como era no início, tudo bem.
Ah, pra mim é bom. Foi muito bom, na época, agora eu não sei. Não posso falar de agora, mas na época era muito bom. A cobrança era muito forte, mas valia à pena. Valia à pena porque o convívio era muito bacana e depois, tinha os 15, 14 dias que valia a pena, o dinheiro também, os dois lados. Eu me aposentei em 96 e sinto saudades de muita coisa. E se eu pudesse... Não digo pra trabalhar mais na minha função, mas bastava me chamar pra trabalhar, que eu iria com o maior prazer, por que não? Foi bem bom, vale à pena. Como diz a Globo, “Vale a pena ver de novo”.
Eu acho uma idéia muito boa, porque você retrata o passado de uma empresa que hoje, se não é a maior, é uma das. Eu acho isso importantíssimo, pra todos nós brasileiros.
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