Projeto: Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de: José Maurício Linhares de Azevedo
Entrevistado por Larissa Rangel
Rio de Janeiro, 24/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB432
Transcrito por: Flávia Penna
P/1 – Para começar a entrevista, gostaria de saber o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Eu vou aproveitar esse tempo para desmistificar uma coisa. O meu nome completo é José Maurício Linhares de Azevedo, eu sou natural de Campos, nascido em oito de junho de 61.
P/1 – Qual a sua formação?
R – Eu sou técnico de Mecânica Industrial
P/1 – Como e quando ingressou na Petrobras?
R – Como?
P/1 – Se o Senhor passou em concurso
R – Ah, sim! Eu fiz o concurso em abril de 83, passei na primeira turma e fui admitido em 20 de junho de 83. Foi um processo rápido, estavam precisando de operadores e entrei como praticante de produção, hoje seria o técnico de operação júnior, porque a carreira é técnico de operação júnior, pleno e sênior. Hoje eu sou técnico de operação sênior. Naquela época, era praticante de produção, depois operador de produção. Depois a gente fez concurso para capataz, para auxiliar técnico e técnico de petróleo, como era a carreira.
P/1 – E como foi esse início?
R – Antes desse início, para quem me conhece e está vendo a minha imagem, sabe que quem está falando aqui não é o Zé Maurício, é o “Bala”. Todo mundo me conhece como o Bala. Eu vou logo explicar o porquê, como surgiu esse Bala. Porque fica aquela história: Zé Maurício, Bala, Zé Maurício, Bala... Muitas vezes, eu me apresento como José Maurício e ninguém sabe quem é, mas fala Bala, todo mundo sabe quem é. E isso ai já se mistificou na Bacia de Campos, tá? E por que Bala? Porque a gente sempre gostou de atuar de uma maneira rápida na resolução dos problemas. Eu sempre me questionei muito se era uma atitude correta ou não, e por ser uma...
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Depoimento de: José Maurício Linhares de Azevedo
Entrevistado por Larissa Rangel
Rio de Janeiro, 24/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB432
Transcrito por: Flávia Penna
P/1 – Para começar a entrevista, gostaria de saber o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Eu vou aproveitar esse tempo para desmistificar uma coisa. O meu nome completo é José Maurício Linhares de Azevedo, eu sou natural de Campos, nascido em oito de junho de 61.
P/1 – Qual a sua formação?
R – Eu sou técnico de Mecânica Industrial
P/1 – Como e quando ingressou na Petrobras?
R – Como?
P/1 – Se o Senhor passou em concurso
R – Ah, sim! Eu fiz o concurso em abril de 83, passei na primeira turma e fui admitido em 20 de junho de 83. Foi um processo rápido, estavam precisando de operadores e entrei como praticante de produção, hoje seria o técnico de operação júnior, porque a carreira é técnico de operação júnior, pleno e sênior. Hoje eu sou técnico de operação sênior. Naquela época, era praticante de produção, depois operador de produção. Depois a gente fez concurso para capataz, para auxiliar técnico e técnico de petróleo, como era a carreira.
P/1 – E como foi esse início?
R – Antes desse início, para quem me conhece e está vendo a minha imagem, sabe que quem está falando aqui não é o Zé Maurício, é o “Bala”. Todo mundo me conhece como o Bala. Eu vou logo explicar o porquê, como surgiu esse Bala. Porque fica aquela história: Zé Maurício, Bala, Zé Maurício, Bala... Muitas vezes, eu me apresento como José Maurício e ninguém sabe quem é, mas fala Bala, todo mundo sabe quem é. E isso ai já se mistificou na Bacia de Campos, tá? E por que Bala? Porque a gente sempre gostou de atuar de uma maneira rápida na resolução dos problemas. Eu sempre me questionei muito se era uma atitude correta ou não, e por ser uma empresa estatal, a gente encontra dificuldades. É uma máquina grande, hoje está mais ágil, mas eu nunca me conformei, por quê? Se a empresa paga a gente, é para a gente tentar resolver os problemas. Então eu sempre cobrei e, até hoje, eu tento me segurar mas não consigo. O meu negócio é agilidade, a gente trabalha para que o problema não ocorra, mas quando ocorre nós temos que estar prontos para atuar imediatamente e para resolvê-lo. Daí que surgiu “Bala”, “vamos meter bala nisso aqui”, “bala na agulha”, “temos que agir rápido”... E ai esse apelido de “Bala” pegou e ficou até hoje. Já eternizou. Na Bacia, quem não conhece, já ouviu falar do Bala. No fundo, no fundo, eu tenho muito orgulho, fiz 25 anos agora no dia 20, então já confunde um pouco com a história da Bacia, que tem 30 anos. A gente já participou de diversos projetos ai com muito orgulho, tá?
P/1 – E qual foi o primeiro projeto?
R – Bom, a gente começou na antiga SS-8, era uma plataforma em uma antecipação no Campo de Bonito. E esse concurso de abril de 83 foi para completar uma equipe de operadores, na época, para operar um turbo compressor; era o terceiro ou o quarto. Naquela época, estava iniciando o escoamento de gás. Então a gente começou na antiga SS-8, que era uma plataforma afretada da Penrod, uma empresa americana, e depois, em um curto espaço de tempo, a gente foi para a SS-6, que hoje está na UN-BC, fazendo tratamento de água produzida do Ativo Sul da UN-BC. Depois, a gente foi para a antiga SS-19, que hoje é a P-12. A gente ficou no período de 84 a 88, em torno disso, tá? Daí, eu recebi um convite para trabalhar na antiga SS-44 – desculpa pelo termo “antiga”, mas é porque mudou, né?. Hoje é a P-15, onde ficamos até o final de 89, 90. Ai, apareceu uma missão para mim em Enchova, após o incêndio. E a gente ajudou na reconstrução de Enchova, produzindo os poços de Enchova; a cabeça dos poços era Enchova e a planta de processo era S-6. Então, veja como era difícil naquela época, Enchova pegou fogo, ai já entra a capacidade dos nossos técnicos, né, foi uma experiência fantástica porque nunca se poderia imaginar produzir os poços numa plataforma, porque infelizmente tinha ocorrido um incêndio, então a planta de processo não existia, tinha a cabeça dos poços, tinha a sonda, tinha a obra para reconstruir a planta como tem até hoje. A gente mandava a produção para a planta da S-6. Quer dizer, tem a cabeça dos poços, normalmente fica tudo junto e aí controla tudo. Então, a gente ficou um período lá e foi um aprendizado muito grande. Eu fiquei lá um ano e pouco. Em 1991, recebi um convite para ir para o canteiro em Salvador da P-20. Lembro também que eu sou um pioneiro de Marlim, que já está com mais de 15 anos; já está com 17 anos. Então a gente foi lá para o projeto da P-20. E por feliz coincidência ou obra do destino, recebi a pouco tempo, nos 12 ou 15 anos de P-20, o primeiro boletim de produção. eu estava como auxiliar técnico na época – hoje seria o (Coprod?). Só que trabalhava em turno, o supervisor – e eu estava lá na hora em que entrou o primeiro óleo. Eu trabalhava em turno, e o primeiro boletim foi assinado por mim. Então recebi a cópia do boletim, o pessoal resgatou, fez a cópia e passou para mim. Eu guardo com muito orgulho isso daí.
P/1 – E isso ai foi quando?
R – 92, abril ou junho de 92. Eu não lembro da data precisamente, não tenho porque fui pego de surpresa. Eu poderia ter trazido o livro, me preparado [para a entrevista], não é o caso aqui.
P/1 – O senhor me contou, nessa trajetória, dez anos de Petrobras, mas como era o início, as dificuldades? Qual era a diferença nesse curto período?
R – Olha só, no início não era fácil. A dificuldade muito grande que nós tínhamos na época, mas que o pessoal que está entrando hoje não vai dar o valor que nós antigos damos, é com relação à comunicação, à telecomunicação. Então, tinha época que a gente ligava para casa via rádio. Teve um tempo, que você tinha marcar, cada unidade tinha direito a três ou cinco ligações por dia, você tinha que agendar com o radio – operador, na data tal, torcer para ter alguém em casa naquela data, ele fazia a ligação, a gente falava três ou quatro minutos e depois pronto, como tinha muita gente a bordo... Então, teve uma evolução muito grande. Antigamente não tinha TV, eu cheguei lá na época em que não tinha TV ainda, entendeu. Aí, passou, nós temos agora skype e, graças a Deus, a comunicação é muito boa. E dificuldade mesmo, até preocupação com as aeronaves. Hoje, estatisticamente, os vôos na Bacia e Campos, nós temos um dos melhores índices de segurança do mundo, mas isso aí foi se aprimorando, as manutenções... Já passamos aí por experiências de pane em aeronaves, época em que as aeronaves chegavam e não tinham o nome certo do passageiro. Teve um caso na SB em que fizemos um sorteio, eu fiquei e o pessoal foi. Eu só fui no outro dia. Então, hoje nós temos uma evolução muito grande. A gente acompanhou isso tudo. Hoje é tudo informatizado, não tem aquele negócio, ligou: “arruma um vôo”. Acabou isso, entendeu? Hoje é tudo planejado. Aquela época era 1983, 1984, 1985 e 1986. Hoje nós estamos em 2000 aí, 21 ou 22 anos após. Então, tivemos uma evolução muito grande e a gente acompanhando isso tudo e, a cada vez mais, aumentava o nosso amor pela nossa Empresa, o nosso orgulho de fazer parte disso tudo, entendeu? Eu posso falar com uma tranqüilidade muito grande que a minha carreira – que são 25 anos de Bacia de Campos. Hoje eu estou na UN-RIO , mas a gente produz a Bacia sedimentar lá que é chamada Bacia de Campos, tá? Então, já estive na área sul da UNBC de hoje, no Pólo Nordeste que também pertence a UNBC, Marlim. Depois voltei para a área Sul, onde eu trabalhei em Enchova e Pampo – a gente vai chegar lá ainda – e depois vim para o Campo de Roncador, que é também um campo muito grande, onde hoje já é maior produção da UN-RIO, o nosso Ativo, e com uma produção decisiva para a auto-suficiência do petróleo que a gente tem hoje, que o país tem.
P/1 – Esse período você poderia dizer que foi um marco, que deu certo a Bacia de Campos?
R – Com certeza, com certeza. E foram essas experiências baseadas com a parte técnica, com os projetos, os estudos, tanto por parte do antigo Segen, que hoje é Engenharia, como parte de projeto do Cenpes, onde temos profissionais espetaculares que acompanharam essa evolução, colocando novas tecnologias. Naquela época, nunca poderia se imaginar a gente produzindo numa água profunda. Eu sou da época em que só poderia intervir nos equipamentos submarinos através de mergulhadores, que são 200 e poucos metros, entendeu? Tinha pressurizar o cara lá. Hoje a gente já produz com lâmina d’água de 1700 metros. Inclusive, volto a falar, sou um dos pioneiros nisso, porque eu participei do projeto da P-20, que já era o piloto lá em Marlim – a P-20 teve um pré-piloto em outra Unidade SS-20 e P-20 foi um piloto que com o tempo virou um projeto definitivo. Ela era uma antecipação lá de Marlim e depois virou um projeto definitivo. Então, eu alcancei a época da água rasa e onde a gente começou a controlar a planta de processo através de uma Estação de Controle de Operação, chamada ECOs, onde hoje você com o mouse mexe no set de uma válvula, abre e fecha, coisa que naquela época não poderia imaginar nunca. Essas antecipações na Bacia de Campos, no período de 1980 a 1990, foi o que nos proporcionou essa base toda de estudo para a gente chegar aonde a gente está hoje. Foi baseado nessas experiências, ousadias de nossos técnicos , falo com muita tranqüilidade, profissionalismo. Orgulho de estar fazendo parte dessa empresa, de estar acompanhando a tecnologia e chegar no patamar em que a gente está hoje, em busca sempre das melhorias operacionais, com segurança. A parte de segurança foi uma coisa também que a gente acompanhou a evolução muito grande.
P/1 – Como era a segurança na plataforma?
R – Olha, antigamente, a gente nem sabia direito. Tinha produzir e nós não tínhamos muita noção disso. Sempre teve, a Petrobras é uma empresa que sempre cumpriu todas as normas de segurança do trabalho. Isso ela cumpre tranqüilamente, não tenho dúvida que é uma Empresa muito séria, cumpre todas as normas. Então, sempre existiu o técnico de segurança a bordo, sempre existiram as normas de segurança, mas existe um divisor de águas chamado SMS, que foi nos idos de 1997, 1998. Nesse meio tempo, a Empresa foi criando uma cultura. Eu posso considerar o que eu presenciei de 1983 a 1990, um passo grande em termos de segurança. De 1990 a 1998, outro grande passo e, a partir da implantação de SMS, que é a política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde – em que eu tive também a felicidade de participar, porque quando ocorreu a auditoria final de certificação, eu estava como Geplat de Enchova e foram direcionadas 12 plataformas que estavam com um índice muito bom de SMS e Enchova era uma delas. Então, a gente participou “a quente” ali. A gente precisava passar e a gente participou daquilo ali e passou. Então, pós a implantação do SMS, a Empresa deu outro passo maior. Lógico que a fatalidade vai existir sempre,mas nós somos cobrados e já está em nosso sangue. Hoje, um operador se achar que está numa condição insegura, ele não tem que chegar lá e avisar o Geplat, não. Se ele achar que está muito inseguro, ele pode parar a planta na hora e não vai ter qualquer tipo de coisa contra ele. Lógico que ele tem que ter o discernimento, mas numa condição de emergência, de insegurança que pode ocorrer em qualquer instante, o cara pode e qualquer pessoa pode ir lá parar a produção. Nós orientamos, somos orientados para isso. Nós temos a bordo, equipamentos e pessoas, então a gente tem que zelar pelas pessoas e equipamentos. Então, eu alcancei o pré, o andamento e hoje, o nível em que a gente está, eu considero um nível muito bom.
P/1 – Eu gostaria que você comentasse sobre a plataforma de Enchova, que sofreu um acidente grave na década de 80.
R – Isso.
P/1 – O Senhor presenciou esse momento?
R – Não. Eu não embarcava. Eu fui para lá após o incêndio, onde eu passei um período de um ano e meio, depois fui para o projeto de P-20 e retornou para lá em 1998, onde tinha a obra de reconstrução, mas aí já tinha uma planta de processo. Eu deixei sem a planta. Passei sete anos fora e depois voltei e fiquei lá cinco anos, de 1998 a 2002. Também foram momentos de aprendizado muito grande. Na época do acidente em si, eu não embarcava lá, mas tenho uma relação muito grande com Enchova, porque eu passei por lá duas vezes, né?
P/1 – O Senhor que teve um aprendizado importante dentro da Plataforma de Enchova. Qual esse aprendizado?
R – O aprendizado maior que eu tive como profissional e, principalmente como ser humano, é que a gente tem que acreditar – vendo aquele monte de ferro retorcido lá – que querendo, a gente pode reconstruir uma plataforma, uma vida e o que for. Esse foi o grande exemplo: em qualquer patamar da sua vida você pode reconstruir alguma coisa e a da criatividade, da gente manter as cabeças dos poços lá e produzir em S6, uma plataforma ao lado, que é uma coisa quase que inédita. Então, o aprendizado maior que tive em Enchova foi esse aí, porque quem via aquilo lá, achava que não ia ter mais nada e está lá até hoje. A jaqueta é a mesma, que passou por dois incêndios. Acho que é um aprendizado muito grande.
P/1 – Qual a fase de produção da Bacia que foi mais marcante?
R – Olha, em termos de produção, eu considero que eu participei efetivamente. Aí eu já estava no Campo de Marlim como Gerente Setorial em Terra da P-18 e teve um fato que me marcou e que eu sinto muito orgulho até hoje. A P-18, sob a nossa gestão, se não me engano, foi em janeiro de 2007, ela foi a primeira plataforma do país a quebrar o marco de produção de 100 mil barris. Foi uma coisa que nos deu muito orgulho de, naquele instante, estar fazendo parte daquela equipe, e a gente como mentor, como gerente, foi uma satisfação muito grande. Realmente, é aquilo que eu falo, para a gente sentir orgulho, primeiro tem que aprender a gostar da Empresa. É o que a gente procura passar para os novos. Sem isso, a gente não vai ter orgulho nunca, entendeu? Então, eu acho que a gente tem que curtir cada momento desses que a gente passa. E, por sorte, eu participei de muitos bons momentos e também maus momentos, porque faz parte, né, nem tudo são bons momentos. Passamos por Unidades difíceis, todas elas são, mas a gente está aqui para tentar resolver e passar por cima dos obstáculos. Então, assim, marcante foram esses 100 mil barris lá na P-18, realmente, marcou muito.
P/1 – E dentre as dificuldades, qual é foi a maior?
R – Dificuldade maior foi quando eu estava um período em terra e saí. Eu estava com vontade de embarcar de novo, tá, como Geplat, que até então, eu não tinha sido. Então, eu aceitei o desafio de embarcar em Enchova e depois Pampo. Então, em Enchova tinha um flotel ao lado e em torno de 270, 280 pessoas, ainda estavam reconstruindo. Fiquei até 2002, quando Enchova voltou para a rota das comitivas. Depois, quando estava tudo ok, aí já não serve muito para mim, a gente já acostumou com o movimento, aí eu fui para Pampo. Recebi um convite para Pampo, onde tinha 350 pessoas. Aí foi um desafio muito grande, onde eu fiquei de março de 2002 ao final de 2005, com sonda a bordo, e produzindo e reconstruindo Pampo, onde se descobriu através de novas tecnologias de exploração que ainda tinha muito óleo naquele reservatório. Então, tinha que se investir na integridade, em top site, na planta e tinha que ter muita gente a bordo, uma (carteira?) muito grande. Como Geplat foi um aprendizado muito grande porque lá, você tem que ser Geplat, você tem que entender de produção, tem que entender de obra, tem que entender de perfuração, tem que ser assistente social, tem que ser psicólogo, tem que ser pai, tem que ser mãe, tem chorar quando o cara chora. É incrível, entendeu?
P/1 – E Geplat é...
R – Geplat é o Gerente Setorial de Plataforma, é a pessoa que embarca. Hoje eu estou como Gerente Setorial de Operação em terra, ou seja, é o gerente da fábrica; gira tudo em cima dele. Numa plataforma com 350 pessoas, só te procuram para problema, problema, problema, ninguém chega: “Ah, está tudo bem...” Passava o embarque e você nem percebia e também não percebia que você estava dormindo quatro horas, três horas só, entendeu, porque era ligado o tempo todo, era problema toda hora. A gente estava lá fazendo uma obra na parte de controle, que se chama hoje de painel lógico de processo, que é o PLC, onde, durante essa fase, acarreta muita queda, muito alarme falso. Então, você imagina uma plataforma com 350 pessoas, contêiner na quadra, reforma em cozinha, reforma em refeitório. Aquela quadra servia para tudo menos para jogar bola, lazer; quando não era camarote, era contêiner de cozinha, refeitório. Enquanto estava em obras, aquela quadra, eu falava que era igual a Bombril, tinha mil e uma utilidades, menos a principal que era o lazer. Espero que hoje estejam usando a quadra para o fim que ela é feita. Mas foi uma experiência fantástica, que eu sinto muito orgulho. Há pouco tempo, em 2005, a Petrobras já estava em implantação para a certificação da responsabilidade social. Então nós tínhamos uma plataforma com 350 pessoas, com ruídos, com tudo de ruim, essa parte de acomodação, essas coisas todas, né, que prega a ISO – eu sei que lá no mar não é bem a ISO, porque o cara embarca, mas teve uma auditoria externa. A auditora chega, pega a relação de pessoas a bordo e aleatoriamente diz: “eu quero falar com esse, com esse...” Ela pegava Petrobras e contratados. Então, aquela plataforma enorme, com tudo em obra, tinha tudo para ser ruim, mas o comentário que ela fez foi: “O que existe em Pampo?” E o que tinha era calor humano , era muito legal. O ISO estava baixo, a gente deixou o ISO em setenta e poucos. Mesmo nessas condições, na época, foi a plataforma que mais cresceu em termos de ISO, né? E a gente sempre tratou as pessoas da mesma forma, independente da firma ela seja, então eu acho que começa tudo por ai, tá? Eu acredito muito em gestão de negócios com pessoas, onde sempre pratiquei. Na Faculdade de Administração, quando eu vi isso daí, a gente já praticava há muito tempo, eu acredito que pratico até hoje. Eu vejo assim: Enchova e Pampo, no mar, foram duas experiências espetaculares.
P/1 – O Senhor falou que na plataforma de Pampo tinha muitas pessoas, como era a diversidade cultural, como lidava com essa dinâmica?
R – Olha, não é fácil, não é fácil, porque a gente de participar dos briefings, de dar as boas vindas às pessoas, né? Então eu tinha um tipo de briefing para um certo tipo de equipe, com uma cultura um pouco maior, e um certo tipo de briefing para outro tipo de equipe, falando a mesma linguagem que eles. Mas, realmente, é interessante, o choque cultural, porque lá você labuta com engenheiros, com técnicos, com homem de área, com cozinheiro, com a pessoa que arruma a cama, com pessoas que “se bobear” nem sabem ler direito, então tinha um lado muito técnico e outro que era só força bruta, entendeu? E você tinha que tentar manter a força de trabalho bem
P/1 – E tinha as diferenças regionais também, né?
R – Regionais e isso tudo. Mas só estando lá e só vivenciando. Eu volto a dizer é um enriquecimento, é uma escola que não se acha em outro lugar.
P/1 – E a diferença de tecnologia entre as plataformas de Enchova e Pampo?
R – Na época já era parecido, como hoje é parecido. Naquela época, nós estávamos nos adequando a situação que é hoje. Então todas elas já tinham sistemas ECOs, em termos de tecnologia, elas já estão no patamar que estão as novas, não mudou muita coisa não. Isso foi agora, em 2005, e todas estão mais ou menos assim.
P/1 – Nós comentamos a sua dificuldade, e qual foi o seu maior desafio?
R- O meu maior desafio? Olha só, volto a dizer, para mim, foi gerenciar a bordo Enchova e Pampo, apesar de hoje estar gerenciando a P-54, que é uma plataforma para 180 mil barris. Ela começou a produzir em 12 de dezembro de 2007 e nós precisávamos bater o recorde até o dia 24, 25 de dezembro. Então, nós precisávamos de três poços, e a gente entrou com o último poço no dia 24 e o recorde foi dia 25. Imagina como fica isso ai, para a gente colocar mais um poço em produção... Sempre o maior desafio é aquele que estou, porque volto a dizer: sozinho, eu não sei nada, mas com minha equipe eu sei tudo. Hoje, eu tenho uma equipe espetacular a bordo, a gente está em comissionamento, já com uma produção de 85 mil barris/dia, uma produção muito grande, e vai chegar ao ano que vem a 180 mil barris. Estamos comissionando, produzindo e sendo cobrados como uma plataforma de três, quatro, cinco anos pronta, entendeu? Então, eu acho que hoje é um desafio muito grande ter sido convidado para assumir uma unidade do porte que ela é, porque hoje 180 mil são as maiores unidades de produção que a Petrobras tem. É um desafio muito grande, não acha não? Desafio é sempre o último, tá ok?
P/1 – E o senhor pode contar alguma história interessante ou engraçada, que ocorreu nesses anos de trabalho?
R – Interessante e engraçada, eu tenho um monte.
P/1 – Me conte um delas
R – Ai eu tenho que parar... Ah, tem muitas... Teve uma que o contramestre de movimentação de carga em Pampo, inclusive ele hoje está aposentado, ele se chama Fausto, um grande amigo meu. Fausto, se você tiver vendo: um grande abraço! Ele chegou para o Geplat e falou que tinha ganho na Mega-Sena, mas não era nada disso. Ai criou-se aquela festa toda, aquele negócio e tal, que vai desembarcar, e todo mundo sabia menos o Geplat que estava a bordo. Quando ele descobriu aquilo ali foi aquela risadaria toda. Teve também um outro caso de um Geplat que estava saindo de uma unidade para outra, e que a equipe chegou para ele e disse: “Fulano, a gente fez um abaixo-assinado aqui para você”. E ele: “Poxa, muito obrigada, eu não esperava isso.” ; “Mas não, o abaixo-assinado é para você não voltar!” Tem diversas histórias assim, tem muitas histórias interessantes.
P/1 – Você comentou as grandes mudanças em termos de tecnologia, de comunicação, mas o que você poderia descrever como o que mudou da Bacia de Campos desde a sua entrada? O que você percebe o que
R – Sim, olha só, o cenário que eu entrei era de 83, nós estamos em um cenário de 2008, tá? A produção naquela época era “X”, hoje é “Y”, temos uma produção muito grande, temos uma reserva no país que a gente nunca esperou ter, e a grande diferença que eu vejo é na parte empresarial. Hoje, a Empresa não deixou de lado o social, porém é uma empresa muito mais empresarial, que visa lucro para os acionistas. Então a diferença maior é: a gente ficou sem contratar durante dez ou 11 anos, então na força de trabalho temos um gap e ainda tem o rótulo: esse é velho, esse é novo. E isso não deveria ter. São pessoas com outro tipo de cabeça que estão agora. E nessa parte empresarial, hoje a empresa visa lucro, para que seja atrativa e o pessoal invista nela. Naquela época, ela era muito mais social, hoje ela continua social, mas está muito mais empresarial.
P/1 – E quem seria esse trabalhador da Bacia de Campos? Como ele é? O Senhor poderia descrevê-lo?
R – Esse trabalhador, eu não tenho dúvida em afirmar que ele sente muito orgulho da empresa, coisa que para esse grupo que está entrando agora, nos últimos, um dois, três, quatro anos, acho que vai demorar um pouco, porque a criação é outra. A nossa criação era uma, as dificuldades, aquelas coisas todas. E nas adversidades é onde você realmente aprende a gostar. Essa geração está entrando com uma situação mais confortável, as plataformas que a gente gerencia, estamos sempre em cima disso daí, com esse foco, mas tem que estar no sangue deles. Acho que a grande diferença é essa aí, tá? A palavra da minha geração é “orgulho”, e essa geração nova está ainda aprendendo a gostar.
P/1 – E como o Senhor vê a Bacia no futuro?
R – A gente espera que a nossa Empresa tenha condição de continuar investindo, tendo a competência e a sorte de continuarmos muito bem na exploração. E ainda que o Brasil alcance o que a gente espera: ser um dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo. É isso que eu espero ver. Hoje tem tanta coisa, que eu já nem falo em muito espaço de tempo, tá? Fazendo jus ao meu apelido – eu sou o Bala, né? – eu espero que isso ai seja em um curto espaço de tempo. Eu estou bastante otimista. Tem que ser reconhecida. E como ela é uma empresa que está atrelada diretamente ao país, que seja uma das maiores produtoras de petróleo e de energia; a maior da América Latina e uma das maiores do mundo.
P/1 – O Senhor gostaria de comentar ou relatar alguma história que não tenha falado?
R – A satisfação que eu tive em vir aqui participar dessa entrevista, e foi para deixar um recado para essa geração nova, porque ela que vai assumir a nossa empresa num curto espaço de tempo. Nos próximos dez, 15 anos, a minha geração vai estar saindo, então que esse pessoal trabalhe com afinco e que aprenda a gostar da empresa, que sintam orgulho que a gente sente! Nós vamos torcer pela longevidade de nossa empresa sempre, então mesmo quando a gente parar, vamos estar atentos para, e vai estar nas mãos desse pessoal que está assumindo agora, dessa nova geração que está assumindo agora. Esse é o recado que eu gostaria de deixar para todos: que tenham orgulho, a nossa empresa é muito boa. Eu tenho muito orgulho dela.
P/1 – Fazendo mais uma pergunta: o que é ser petroleiro?
R – O que é ser petroleiro? O que é ser petroleiro é trabalhar numa indústria de petróleo, não é isso? Acho que é a essência disso aí, é trabalhar numa companhia de petróleo ou num ramo de petróleo, independente de que companhia seja. É trabalhar no ramo de petróleo e gás. Eu entendo como isso.
P/1 – E o que o Senhor achou de ter participado dessa entrevista, contribuindo com a memória dos trabalhadores da Bacia de Campos?
R – Bem, se pelo menos, o recado que eu deixei para a nova geração, se eles tiverem saco de assistir ou vocês editarem e passarem para a nova geração, eu já me sentirei bem confortável, tranqüilo e agradecido pela chance, tá? Foi muito bom.
P/1 – OK! Obrigada.
R – De nada.
Fim da Entrevista MBAC_CB_118
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