Entrevista de Izilda Aparecida de Toledo
Entrevistado por Teresa de Carvalho e Natália Santiago
São Paulo, 19 de outubro de 2023
Projeto Conte Sua História
Entrevista número PCSH_HV1391
Transcrita via Transcriptor
Revisão de Nicolau Gayotto da Conceição
P/1 - Entrevista de Izilda Aparecida de Toledo, entrevistada por Teresa de Carvalho e Natália Santiago. São Paulo, 19/10/2023. Projeto Conte sua História, entrevista número PCSH_HV1391. Então, a primeira pergunta é: vou pedir para você falar o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Izilda Aparecida de Toledo. 71 anos. Nascida e criada aqui em São Paulo, Paulistana.
P/1 - Qual que é o dia que a senhora nasceu?
R - Nasci no dia 8/04/1952. 71 aninhos.
P/1 - E a senhora sabe sobre o dia do seu nascimento, como foi?
R - É, eu tenho, assim, uma vaga lembrança, né? Nasci na moca. É... E algo bastante interessante, eu nasci um ano certinho para a minha mãe ter perdido o primeiro filho. Então, ela casou-se em 1950, em julho de 1950, 8 de abril de 51 nasceu o meu irmão, né? E faleceu. E eu nasci em 8/04/1952. Então, essa é uma... é algo, assim, que, né? Ficou bem registado, que são as datas de nascimento e o horário também é 5 minutos de diferença, do horário dele para o meu. Só que o único detalhe era que ele era homem, né? Eu, mulher. E como foi essa aceitação? Como é que foi para o pai, para a mãe? Para a mãe uma benção, para a família toda, mas o pai teve resistência. Então, enfrentei, assim, uma... É uma luta muito grande, né? E ela se estendeu por muitos anos, essa rejeição. Eu tive uma rejeição por parte de pai. E aí, através do trabalho dele, ele era jogador de futebol profissional, e então, ele saía muito, viajava muito. Então, eu vivi mais com minha mãe e com membros, os parentes paternos, avó paterno, tios e primos, enfim. E aí, assim, lembro da minha mãe contando, que ele chegava de viagem. Ele só carregava ou só queria carregar...
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Entrevistado por Teresa de Carvalho e Natália Santiago
São Paulo, 19 de outubro de 2023
Projeto Conte Sua História
Entrevista número PCSH_HV1391
Transcrita via Transcriptor
Revisão de Nicolau Gayotto da Conceição
P/1 - Entrevista de Izilda Aparecida de Toledo, entrevistada por Teresa de Carvalho e Natália Santiago. São Paulo, 19/10/2023. Projeto Conte sua História, entrevista número PCSH_HV1391. Então, a primeira pergunta é: vou pedir para você falar o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Izilda Aparecida de Toledo. 71 anos. Nascida e criada aqui em São Paulo, Paulistana.
P/1 - Qual que é o dia que a senhora nasceu?
R - Nasci no dia 8/04/1952. 71 aninhos.
P/1 - E a senhora sabe sobre o dia do seu nascimento, como foi?
R - É, eu tenho, assim, uma vaga lembrança, né? Nasci na moca. É... E algo bastante interessante, eu nasci um ano certinho para a minha mãe ter perdido o primeiro filho. Então, ela casou-se em 1950, em julho de 1950, 8 de abril de 51 nasceu o meu irmão, né? E faleceu. E eu nasci em 8/04/1952. Então, essa é uma... é algo, assim, que, né? Ficou bem registado, que são as datas de nascimento e o horário também é 5 minutos de diferença, do horário dele para o meu. Só que o único detalhe era que ele era homem, né? Eu, mulher. E como foi essa aceitação? Como é que foi para o pai, para a mãe? Para a mãe uma benção, para a família toda, mas o pai teve resistência. Então, enfrentei, assim, uma... É uma luta muito grande, né? E ela se estendeu por muitos anos, essa rejeição. Eu tive uma rejeição por parte de pai. E aí, através do trabalho dele, ele era jogador de futebol profissional, e então, ele saía muito, viajava muito. Então, eu vivi mais com minha mãe e com membros, os parentes paternos, avó paterno, tios e primos, enfim. E aí, assim, lembro da minha mãe contando, que ele chegava de viagem. Ele só carregava ou só queria carregar se não tivesse, se tivesse bem sequinha, mas não gostava de carregar. Então, a rejeição foi grande, se estendeu pela infância, a adolescência e vida adulta. Então, sou filha única. Muito amada pelos... Fui única até aos 8 anos de idade, tanto da parte paterna quanto materna, então, é... Eles acabaram suprindo essa falta paterna, né? Mas não supre. Porque, né, algo que está, né, dentro da gente tá embutido. Então, é difícil. Mas eu fui muito amada, né? Pelos tios, pelas tias, então, fui uma criança, assim, que eu posso dizer que fui uma criança feliz. Eu tive uma infância feliz no sentido de... de ter os brinquedos da época, né, porque eles faziam sacrifícios e davam. É então, assim, eu curti muito, aproveitei muito minha infância, tive, brinquei muito na rua com as coleguinhas, mas... pode dar continuidade, né? Então, mas também tive meus problemas, né? Aos 5 anos eu sofri essa paralisia facial. Então, e aí, como é que foi lidar com isso? Então, hoje eu creio que..., mas a sequela tá, então, tá visível ainda. Mas na época ela era muito mais, a minha boca ficou torta. Então, a época período escolar. Né? Foi duro? Foi. Difícil. Minha mãe transava os cabelos, então, eu não conseguia ouvir meu nome. Eu amo meu nome. Eu não consegui ouvir meu nome, né, falado pelos coleguinhas de sala. Eu era... Ou era a negrinha boca torta ou era trancinha, mas o meu nome mesmo não conseguia. Duro, né? Muito. Mas como é que se supera? É muito difícil, final de aula é... É, era marcada para apanhar, porque era muito boazinha e não sei o que tinha que as crianças resolviam que tinha que bater em mim toda a tarde. Aí um dia a minha mãe, bastante severo, ela falou: “bom, se hoje você chegar chorando em casa porque você apanhou, você vai tomar uma bela de uma surra”. E aí eu resolvi-me, já estava com que, entrei com 7 anos, na época era, né? 7 anos. Hoje é 6. Já estava com 9 anos, eram 2 anos já que vinha apanhando toda a tarde. E aí eu resolvi que eu tinha que, né, revidar. Aí bati, a menina que mais me batia, ela tinha, ela sofria dessa doença, da, do cabelo. Ela usava peruca e eu consegui detectar isso. Arranquei a peruca dela? Então, acabei ficando, né, que a turma toda... E a partir daí eu comecei a me impor. Mas foi fácil? Não, não foi. sempre muito inteligente. E chegou no período... hoje é complicado, porque na época era primário, depois ginásio, essas coisas, então, na parte, chegaram na parte de ginásio, por conta desse bullying mesmo, né? E pela minha inteligência, eu tinha que achar uma forma de me..., né, de sobreviver, de me impor ali. E foi através da matemática, sempre gostei muito de matemática. Então, pronto. O pessoal sempre teve muita dificuldade. Através da matemática eu consegui me fortalecer, né? Então, me fortaleci espiritualmente, mentalmente, fisicamente. Se me maltratasse não tinha cola, não tinha ajuda. Então, passei a ter um pouco mais de tranquilidade e conseguir sobreviver. E a partir daí, eu fui sempre procurando, buscando. Sempre fui de muito desafio. Enfrentar os desafios para mim foi sempre é... É uma palavra de honra, sabe? Não é que. Tenha sido fácil. Até que eu cansei na parte... é, esse período escolar fui até a quinta série, chegou na época quinta série, na época de admissão para entrar no período ginasial. Falei: “não aguenta mais”. Porque... esse racismo é algo que não é de hoje, né... Então, hoje a gente luta muito contra, mas é pensar que imagina se é 50/60 anos atrás, né? Coisa era muito pior, não dei conta. E aí, com 12 anos, eu decidi que parar, parei, abandonei os estudos. E aí a minha mãe foi empregada doméstica a vida toda. “Ai, filha, vamo então, já que você não vai, vamos procurar. Então, vamos trabalhar em casa de doméstica. Você ganha livre, né?” A cabeça deles era isso. Você come, bebe, né? E fica na casa. Ok. Um ano e 3 meses em cada casa. Nas 4 casos que eu trabalhei: as quatro casas saí obrigada, né? Não suportei. Meu Deus, não é para mim. Mas porque eu não suportei? Porque eu já vim, né? Já cresci nesse berço, da de forma que, né? Acompanhando minha mãe, meu pai era jogador profissional, mas aquela coisa, o dinheiro na casa não chegava, né? Então, minha mãe teve que trabalhar para poder me sustentar, para poder sustentar. E morava com a sogra, porque nem casa ele, né? Então, onde ficava o dinheiro dele? Só Deus sabe. Do jeito que acontece naturalmente. Mas enfim. E acompanhando esse sofrimento da minha mãe o tempo todo, essa humilhação o tempo todo, né? Casa de família doméstica. Falei, não, não quero isso para mim. Aí decidi, então, fiz o curso de datilografia. E junto tinha um curso de noções de administração, noções administrativas. Mas também não consegui colocação, né, nessa fase. Então, com 14 anos, era a época que a gente podia sair para trabalhar. Hoje não pode, né, procurar trabalho e tal. Aí fui para uma oficina de, conseguiu, é... trabalho numa oficina de costura. Ah, mas também, puxa vida, difícil, né? Aí era uns colarinhos. No primeiro momento, lógico, menor. Vamos fazer o trabalho de, né, o menor aprendiz, que hoje é menor aprendiz, mas na época, arrematar essas coisas, até que fui pra máquina. Mas muito difícil a costura normal, costura, de repente um colarinho. Ah, não, não tenho paciência para isso. Eu sou... as minhas coisas têm que ser muito rápidas. Aí tem numa fábrica de cortina. Nessa fábrica de cortina, dominei, né, porque o que acontece: era tudo reta, né? Ô maravilha, então, põe no pé... Então, tudo é, ui! A forma sabe, de repente uma liberdade, maravilha. Num instantinho que deu, não deu nem 3 meses eu tinha dominado todas as máquinas da oficina, né? E enfim, aí era, assim, ah, eu resolvia, louca, sempre fazendo a cabeça das, do, do, dos funcionário. É época de, tinha noções de administração, né, de administrativa, e aí chegava a hora de pagamento, de hora extra, vinha errado, eu já fazia por (inaudível), ai meu Deus do céu, fazia cabeça das meninas. E queria ver os cheques, salário delas; não deu errado, vai lá, ih, não parava, né, minha filha, todo mundo mandava embora, é, Bom Retiro, saia daqui, entrava ali, então, uma beleza. Assim foi minha vida. Até que 15 para 16 anos. Voltar a estudar? Nem pensar, nem pensar. Se estudar, aí não me falem em estudo, não me fala em escola. Então, isso fica claro, né, o quanto é o racismo, o preconceito, essa coisa, hoje bullying, né? Quanto que elas judiam, judiaram, né? Continuam judiando, né? Porque a gente acompanha bem os dias de hoje, mas é algo, assim, muito triste. E você toma um pavor, é algo, assim, que traumatiza de forma tão veemente a vida, que você não pensa é, é, você não consegue ver na educação, algo que venha, sabe, trazer algum benefício. Então, isso se arrasta até os dias de hoje, né? Então, é muito difícil você ver uma adolescente, um jovem negro, que não tenha uma base segura, ou alguém, ou que venha de algum projeto que tenha sido criado em projetos, essas coisas, que tenha pela educação algum afeto. Não existe, né? E então, também claro, né, através dessa luta toda, para que, as cotas, essa coisa toda para tentar, né? Mas aí dizer que: “uh, que maravilha, deu certo!”. Elas ajudam, ajudaram, continuam ajudando, continuam a ajudar. Só que não é essa é a realidade que a gente tem, que é... como foi encarada, como ela foi jogada para a sociedade, que não é nada disso, né? E a sociedade acabou que recebendo de uma forma negativa, né? Então, é assim: o negro vai tirando o lugar do branco e eu vou ter que competir com um branco ou com um negro. E não, entendeu como é? Poder é nosso. Entendeu agora? Vocês querem o que, né, então... difícil. Então, você já passa por um processo, né? É, é, é, que ele já vem. Eu digo sempre, né? Essa tensão, ela é, é, é necessária, porque já desde a barriga da mãe, sabe a partir do momento que a mulher negra engravida, ela já, e hoje é constatado, né? Antigamente, aí vai nascer, vai levar uma semana para abrir o olhinho, blá, blá, blá. Hoje é constatado, né, que tudo que está na superfície, essa criança ela é alimentada por tudo isso. Então, esse racismo, essa humilhação toda que é vivida por uma mãe negra já vai. Então, essa criança já nasce, né? É, é, é... Vamos dizer que meio que preparada para o enfrentamento, mas o enfrentamento que é desigual, é o enfrentamento que sabe, não tem... não são todos que conseguem passar pelo processo, né? É... de uma forma tranquila. E normalmente nas famílias negras não existe esse apoio, né? Então, para dizer, assim, famílias negras que têm: a educação é primordial, filho, você vai ter que estudar. Não trabalho de dia e estuda à noite, faça um sacrifício, não, sabe? Você precisa trabalhar para você ajudar a criar seus irmãos e pronto, (inaudível). Então, essa preocupação com as cotas que houve com a sociedade é algo, assim, que não sabe, não teve razão e não tem razão, né? Porque se vivêssemos de berço esplêndidos, como vêm, né, a branquitude, se tivéssemos esse, esse encaminhamento para educação, né? Talvez fôssemos é, ameaça, né? Mas não somos, não Serenos, né? Mas por conta disso, né? Através da minha história eu digo: Eu vivi tudo isso, então, eu falo com propriedade, certo? Então, educação nem pensar, estudar não. Aí, com 16 anos, meu pai resolve comprar uma casa em Bragança Paulista. A cidade, é cidade da minha mãe, né? Cidade materna, cidade de nascimento dela. Então, mudamos para Bragança. Morei até aos 15 anos. Então, nessa região de primeira zona leste, depois aqui. É... Viemos aqui para o para o centro de São Paulo. Até foi isso que ele estava falando, que ele me levou para dar uma recordada. Ali foi Santa Cecília, Barra Funda, Cambuci e depois Bragança Paulista. Nossa, fui muito revoltada, nervosa, não queria. Já tinha namorado essa coisa toda, mas cheguei em Bragança com 16 anos. E já, todas as férias de julho eu passava lá em Bragança com a minha avó materna, com minha tia e aí juntava com os primos todos e vamos passear, curtir. Então, julho era Bragança Paulista. Ouvimos conversa da minha avó do pessoal todo, então, foi-se criando uma memória. Uma memória muito ativa e de resistência e de acordamento. Hoje se fala em gatilhos, né? Então, gatilhos que foram disparando dentro de mim. Bom, 9 anos eu subindo na Rua Principal ali para dar na praça central de Bragança Paulista, tem um clube, clube literário, é um clube de elite. E aí, subindo... Subindo a minha prima, disse, assim, disse a minha prima Ivone... Ivone Painca, tô registando porque, de repente, a gente fala das pessoas e a gente não registra os nomes, eu acho, assim, de suma importância. Então, Ivone Painca: “prima, vamo precisar atravessar a rua”, “atravessar, por quê?”, “porque, ah, eu sei que eu sou, né, eu sou da Raça Negra e tal, mas a minha pele é clara, agora você, pretinha, você não pode passar, você não pode pisar na calçada”. Nove anos de idade, já passando por todos os processos. “Como é que é?”, é, não vai poder, não pode, é proibido”, “mas quem que falou que é proibida?” “aí, não pode, não pode entrar no clube, não pode pisar na calçada”. Muito bem, pronto, esse foi o maior gatilho que eu possa ter. Porque daí eu fui buscar, né, da onde surgiu essa coisa de militância, essa luta toda. Tudo bem que eu sempre fui bastante, é, pimentinha mesmo, né? Assim, injustiça, injustiça próxima não ia ter mesmo, sempre fui de buscar justiça e acabou. Muito bem, então, atravessamos a rua. Aí eu fui começar a prestar atenção na cidade, né? Até então não morava, só passava férias, né? 9 anos fui para lá com 16. E aí, prestando atenção, muito bem. Então, tinha o tal do fut na, na, na praça central. Então, era negros de um lado e branco do outro, rico de um lado, pobre do outro, uma coisa, assim, maluca. Bragança é louco demais. Na época era assim. Então, ok. Clube Três de Maio, minhas, minhas mães, minhas tias, todas cresceram dentro desse clube praticamente. Era o clube da cidade literário, não podia entrar no clube negro, era o clube de pretos, né? Mas que era diferente. Lá não tinha esse problema de branco não poder entrar como tinha no literário. A entrada era... então, os brancos, inclusive, iam nesse clube preto para aprenderem a dançar, para poder ver. Muito bem. E as histórias do clube, então, chegavam as épocas, né, Tradicionais do interior, as grandes festas do clube. Aí minha mãe vinha para cá, encontraram com os parentes, com as amigas. Clube Três de Maio, clube Três de Maio, esse é outro registo que ficou para mim. Mudamos e aí uma revolta danada. Aí nos fundos da casa, era um bairro novo, primeiro núcleo de casas popular na cidade. Uma vizinha do sul, meu pai sempre gostou de estar com vizinho, de casa cheia, essa coisa toda. Aí essa vizinha logo fez amizade e ela trabalhava na Santa Casa de misericórdia, tanto ela quanto a irmã. Aí ela pergunta para mim: “você não gostaria de fazer o curso de enfermagem?”. Reabriu um curso de enfermagem de atendente na Santa casa e eram as irmãzinhas que tomavam conta da Santa Casa, que da administração. Falei: “enfermagem?”. Falei, nossa, que legal, olha lá, gostaria algo diferente, né? Aí fomos, fiz a inscrição, tudo, e aí começa uma trajetória totalmente diferenciada na minha vida. Aí eu começo a fazer o curso de atendente, que na época tendente de enfermagem. Que valia hoje como, é, uma enfermeira padrão. Que é algo, assim, fora do comum. E aí as irmãs observando, sempre minha letra foi sempre foi muito bonita, as irmãs observando aí: “Nossa, caligrafia bonita demais, você é muito educada, cê é muito diferente”, só faltou falar que eu tinha alma branca. E disse: “você não gostaria de trabalhar com a gente? Nós estamos com uma vaga na recepção e a gente gostaria que você fizesse parte do quadro de funcionários”. E, nossa, é lógico que eu gostaria. Bom, a partir daí eles começaram a ser as oportunidades criadas na minha vida e os desafios, né? Então, eu passo a trabalhar no período noturno. PBX, mó barato, coisa linda, nossa apaixonada. Só que eu era recepcionista, né? Aí eu fui ganhando problema de explorar espaço, uma coisa impressionante, nunca fui de ficar, sabe, eu preciso explorar. E começo daqui começo de lá, ok, está tranquilo, plantão. Fiz amizade. Na época era parteira, tinha um médico, que ficava de plantão, se desse algum problema, mas quem fazia os partos era eram parteiras. Ai que delícia... primeiro parto, assisti. Pronto, é isso que eu quero para minha vida. Que coisa linda. Assisti, ajudei, pronto. Toda parto que tinha me chamavam, tava tranquilo o plantão, sobe, vem ajudar. Aí eu ia. Tava trocando já, acabei trocando mesmo a recepção pela, estava terminando o curso também, né? Então, a partir daí. A minha vida foi obstetrícia, ginecologia, a maternidade. Mas olha para você ver o quanto, o quanto que essa coisa do racismo, que depois a gente vai fazer a leitura e a reflexão disso tudo, o quanto que ele é atormenta a nossa vida, que você nega a educação e você nega a educação de uma tal maneira, né, que veja: é, eu fiz o curso de atendente, aí depois eu fiz o curso de auxiliar. Por que é que eu não fiz o curso, por que é que eu não fui para, para, para, para o padrão, por que que eu não fui buscar a enfermagem padrão? Você veja a resistência. Como ela estava já e sabe instaurada. Então, não conseguia visualizar. Aí descobri na enfermagem a minha vocação, a minha, sabe, foi a minha vida, né? Meu Deus, não poderia ter me formado, né, enfermeira obstetra? Que era, fui pela obstetrícia, seria tudo na vida. Por que que eu estacionei sendo inteligente, como sempre fui, por que que eu estacionei? É, é, é... Na, no auxílio a um técnico de informático. Por quê? Porque eu não fui em frente, tinha que estudar, mas bom, muito bem. Essa parte, então, passou a ser a primeira negra, primeira negra a assumir um posto, né, tão importante, né, numa instituição tão importante na cidade, num hospital. E, assim, foi, fui me tornando conhecida, querida. Aí, muito bem, casei. Casei, em 73. Volto para São Paulo, marido proíbe: nem pensar em hospital, ok? Engravidei 3 vezes, abortei os 3 espontaneamente. Aí, na quarta que a minha filha mais velha. Depois de 3 anos, ela nasceu em ela nasceu em 76, isso mesmo, em 76, 3 anos aqui em São Paulo. Aí, dia 9 de abril, a gente, a gente volta, eu volto para Bragança. É... violência doméstica? Violência também. Apanhou? Não, não cheguei a apanhar, mas era melhor que tivesse batido do que falado, do que agido. Enfim, passei por tudo, ok. Talvez isso possa ter ajudado a esses abortos espontâneos? Talvez, mas tudo bem. Aí, com 9... no dia 9 de abril, decidi: não quero mais, vou voltar para casa dos meus pais. Você fica e eu... Só que a... o caminhão de mudança chegou e as coisas dele subiu primeiro do que as minhas, né? Fica aqui sozinho? Tá maluco. Muito bem. Eu grávida. Bom, meu pai, feliz da vida. Não suportava ele. Família do meu pai, por sinal,interessante, né, as coisas que a gente carrega, mas quando eu apresentei esse meu ex-marido para a família, a minha avó paterna falou, assim, minha avó paterna e a irmã mais velha do meu pai, ela era de pele mais clara: “meu Deus do céu, o que é que você foi fazer? Ao Invés de você clarear a família, você vai escurecer”. Olha para você ver como é que são as coisas, certo? Eu disse, mas porque eu também fui pegar o mais preto, o tinto, tinto lindo, maravilhoso. E aí é dele que eu gostei, mas a família detestou e meu pai que já não gostava de mim, então, marido ele vai gostar menos ainda, né? Mas voltamos para a casa do meu pai. Meu pai detestava, ok. 9 de abril. No dia 30 de abril, minha filha nasce. E aí muda a vida dele também. Sabendo que meu pai não gostava e ele ainda não gostava de trabalhar aqui e tal lá, mas lá o cara virou o profissional. A ponto de se eu abrir minha boca na cidade para de repente falar algo, entendeu, que pudesse ter acontecido em casa ou que ele fez. Acho que mandava, acho que me botava no hospício, que é o cara mais querido da cidade. Hum, trabalhador. Daí porque, assim, ele tinha formação? Tinha, entendeu? Então, o SENAI para ele foi algo, assim... só que aqui em São Paulo ele não trabalhava. Mas chegou em Bragança ele decidiu que tudo o que ele sabia, tudo o que ele tinha passado no SENAI que ele tinha, entendeu? Então, ele era muito bem remunerado na, na, na, nas firmas que ele trabalhava e, além disso, jogava futebol. Então, maravilha, né, nossa vida, além de, de, de, de, de, de carregar, do gerente de produção essas coisas todas, aí, de mecânica, de maquinário, né, da das oficinas, ele ainda jogava futebol. E aí começa o quê? A beber também. Problema de mulher não tive, de dizer que pudesse ter traído essas coisas, não tive. Tinha loucura, mas pelo contrário a violência era por conta dos ciúmes, né? Muitos ciúmes, muitos ciúmes. E então, sofri muito conta disso. Mas aí ele começa a beber, então, a bebida também acaba judiando bastante, né? Mas ok. A minha filha nasce dia 30, abril. Passou maio, junho, julho, eu já estava empregado e tinha voltado de novo para áreas, né, da enfermagem. Aí trabalhando, trabalhando, trabalhando o tempo todo. Só que meu pai levou para Bragança algo que, é, não aconteceu. Todo final de ano ele gostava muito de casa cheia. E aí ele jogava, aí, sofreu lesão no joelho, precisou se afastar, precisou parar com o futebol, passou a ser motorista. É, primeiro motorista de táxi, que também era uma beleza, motorista de táxi que a mulherada o tempo todo, né? Então, aquela festa, ok. Aí ele passa a ser motorista particular. E nos finais de semana, aí ele ficava aqui em São Paulo, na casa da minha avó, a mãe dele, e nos finais de semana ele ia para Bragança. E muito, fazendo muita amizade. Daí fazia minha mãe fazer as coisas, trazer o pessoal aqui, aquela coisa toda. Então, eu chegava final de ano, vamos reunir a família, como sempre, lá em casa, aqui em São Paulo era um cômodo, reunia todo mundo. Agora em Bragança era, assim, imagina, né? Lá é família e mais os amigos. Então, casa cheia, né? Você larga a tua cama para outro dormir, enfim. E meu pai faleceu em 86. E o que acontecia? Reunia aquele povão, tiras os móveis, tudo para o pessoal poder, uma sala dele desse tamanho, menor, tá? Aí, a vitrola. Naquele tempo era vitrola. Samba, pagode, samba-enredo e o povo amanhecia. E vinha vizinhança, então, era aquela coisa maravilhosa. Final de ano, onde quer? Na casa da dona Izilda, na casa do seu Gera, na casa do seu Geraldo, ok, casa lotada. Meu pai faleceu em 86. E eu resolvo que tem que continuar. Ai meu Deus do céu, porque? Bragança não tem atrativo, Bragança não tem nada, né? E o pessoal sente falta. Aqui a gente tinha os bailinhos que ia, né, os clubes, aquela coisa toda. Ah, 87, eu meu primo Gilmar. Ai, se o Gilmar nasceu 8 anos depois, que é filho da minha tia, irmã caçula da minha mãe, que foi criado em casa e que praticamente era a minha boneca. Era o meu boneco, sabe? Então, criei ele, meu primo irmão, loucura. Mora em na Praia Grande, casado, mora na Praia Grande. “Gilmar, vamos levar para Bragança os bar chique show, essas coisas”, naquele tempo, né, tinha. Agora que tá voltando? E a gente se uniu mais 2 amigas lá em Bragança, que é Assunção e a Débora, e começamos a realizar os bailes. Como começamos como? Por conta da Santa Casa, por conta de tudo. Então, Dona Izilda fez, assim, né, popularidade, todo mundo conhecia Dona Izilda, como conhece. O pessoal é, é da prefeitura, vamos procurar então, vamos ver a prefeitura. Atrás da prefeitura, então vamos ver algo que a gente possa criar alguma coisa aí, portas abertas. Aí tive apoio do pessoal da prefeitura. A Secretaria de Cultura é, é... Comissão de turismo, era uma coisa, assim, porque agora é, é... Agora leva outro nome. Secretaria de política Cultural. E aí, Celso Dias: “aí a gente está com a ideia de trazer pra Bragança diversão, principalmente para a Raça Negra. Tem tanto negro aqui”, mas quem que falou que Bragança tem negro? Eu estou falando que Bragança tem negro. Ora bolas, né? E trazer, sabe, para todos, não é especificamente para negros, mas o som do preto nós teremos aqui na cidade e tal. Ah, tudo bem, aí cedeu, é... É uma parte do ginásio esportes que é um salão, né, doutor Ari Ramos, que é o pessoal, um salão ao lado do Ginásio de Esportes, Lourenção. Cedeu o som. É que mais a gente precisava do público, né? Aí vamos divulgar aquela coisa toda. Então... deu certo? Não. É, só para resumir, meu primo tinha um Chevette na época, né? E aí ele perdeu o carro, porque? Aí levamos até Moisés da rocha, que na época era sucesso, ainda é, né? Mas naquela época fazia caravana e tal, dos artistas, né, os artistas e nome e tal. Ah, vamos levar o Moisés da Rocha, caravana. Quer dizer, perdeu o carro para o Moisés da rocha, porque cadê dinheiro para pagar, cadê o público para entender? Mas o que aconteceu aqui: é, os bailes, como é que são? É traje porte fino. Aí você leva para o interior e não pode entrar com boné, não pode entrar de tênis. Pronto, o povo não tinha roupa, o povo não tinha, só usava boné, só usava tênis. Aí cadê o povo para ir para o baile? Nossa, que prejuízo menino. 3 meses fazendo, fizemos mais 3 meses, foi 4 no ano. E ficamo com a dívida, né? Apesar de som, mas tinha contrato do artista que ia tocar no pagodeiro ou do grupo de pagodes. Você tem que pagar e o povo, né? Demorou pra chegar. Tudo isso foi criando, né, vínculo, tudo isso foi criando os vínculos. Até que... 1988. Centenário da abolição. Precisa fazer alguma coisa. Aí tem um amigo, doutor Domingos Alves dos Santos, é do administrativo da prefeitura, prefeitura todo mundo já conhecia as nossas encrencas. Não, precisamos montar uma associação. Tá, que que você entende de associação, hein? Mas tudo bem, quer montar monta. Ele tinha planos políticos, ele tinha tudo agendadinho, tudo acertadinho para uma carreira política. Então, vi em mim o quê? Opa, uma abertura para o cargo político dele? Algo depois, um se candidatou a vereador, né? Então, Izilda chama público, Izilda é um bom nome, né? Então, monta essa associação. Você conhecia alguém dessa associação que foi colocado nessa diretoria? Nem eu. Eram todo colega dele, olha a laranjona, vai lá, tudo bem? Montou. Montaram com o estatuto, com tudo certinho, muito bem. Endereço, quem vai ser, quem é presidir? Dona Izilda. Endereço da Dona Zilda. Olha que legal, associação com o nome da Dona Izilda. Qual o endereço da Dona Zilda, o CPF da Dona Zilda? E é para dar certinho, concorda? Uma mulher preta, que não é do município que não é da cidade, nem que fosse. Mais uma associação no nome dela, né? Associação Recreativa e Cultural Afro-Brasileira, ARCAB. E onde vai funcionar? Na casa da Dona Izilda, e a Dona Izilda tem uma casa que caiba uma associação? Casa popular. Acabei de falar para vocês, casa popular. O que que é a casa popular? É, é... monte de casinha igual, sabe? Entregue. E assim... lado profissional, viu né? Maravilhoso, lindo. E esse outro lado cultural? Meu Deus do céu. Vamos lá, uma associação nas costas. Sem ter espaço, Centenário da abolição, monta-se uma comissão. Nessa comissão tá: secretário de educação, que hoje é o prefeito da cidade, só precisa ter noção, hoje ele é o prefeito da cidade. É só tinha gente importante. Esse meu amigo Celso dias, que era do turismo, né? É mais uns 3, inclusive esse Rabelo, né? Esse Rabelo era a, foi a cabeça, assim, maravilhosa, né, que? Conheci aqui em São Paulo, conhecia o pessoal do Embu. Ele era um agente, né, é, é cultural. Então, é... Acaba que foi um sucesso, né? Ele se encarregou. Íamos até Embu, contratou os artistas e essa a primeira feira, né? Feira Afro aconteceu na praça central, nunca tinha acontecido, pra você vê, praça central de Bragança Paulista. E todos esses artistas aqui do Embu, plásticos, enfim, vocês conhecem bem os artistas do Embu, né? Uma maravilha. Tem ainda pra mãe de Santo, a mãe de Santo tá jogando búzios, tudo o que podia conter dentro de uma feira afro, artesanato, essa coisa toda, culinária, né? Então, aconteceu a primeira feira afro em 88. Muita gente de fora, foi um negócio, assim, fantástico. Isso em maio, quando foi em novembro vamos repetir. Novembro, novamente traz Nossa, traz o pessoal do Embu de novo, lindo, mais o pessoal da cidade, todo mundo que era da área cultural, convida todo mundo para tá junta, aquela coisa toda. Mas que maravilha, né? Passou, terminou o Centenário da abolição, vocês vão pra onde? ARCAB tava em alta, o nome da ARCAB tava em alta. E, esse espaço da ARCAB onde tá? Ó, só pra vocês terem noção, 1988, nós estamos em 2023, praticamente terminando, indo para 2024. A ARCAB tem um espaço? A ARCAB existe? Como é que tá hoje? Bom, garagem da minha casa, garagem que cabe um carro. Garagem da minha casa e pracinha, a praça próxima a minha casa. Todos os finais de semana. Parecia, algo assim, que não dá pra explicar. Parecia formigueiro, sabe? Nossa, cada final de semana era uma turma nova, sabe? Aquela criançada, aquela criançada, meu Deus do céu, aquela incursão de adolescente? Mães que acompanhavam cada final de semana, mais e mais e mais. Sem nenhuma ajuda. Nessa Pracinha a gente colocou, então, os voluntários. Aí tinha voluntário de teatro, tinha voluntário pra tá com as oficinas de educação sexual, tinha voluntário para dança, tinha, tinha voluntário para tudo. Então, a cada momento, mais crianças, mais crianças, porque eles estavam se formando. Conclusão, pra eu dizer para vocês: nós acabamos lidando com uma geração, que independente de raça, cor ou credo. Pra vocês terem uma noção, tinha um grupo de dança, então, a gente dizia balé afro não era dança afro, contemporânea. Balé afro. Então, dependendo das músicas, a gente via e estudava as músicas direitinho, então, músicas que pudessem sensibilizar, tocar a vidinha deles. Então, eles ensaiavam os passinhos, tudo certinho, eles apresentavam, né? Se apresentavam desde pititico, até... Muita criança, muita criança, todo mundo queria dançar. Aí não era só balé, aí tinha a dança do passinho, lá é... hoje é funk, não, na época era... ih, esqueci o nome. Mas passinhos marcados. Muita criança, muita criança. Aí começaram as escolas. Elas tinham responsabilidade, como tem até os dias de hoje. Com a Consciência Negra, oh Consciência Negra! Então, vai vendo. Vamos dizer de 90 para cá, né, até os dias de hoje, perguntar: quantas palestras você tem para novembro agendadas, né? Chama a ARCAB, chamar a ARCAB. Não existia nenhuma responsabilidade em maio, agosto e novembro chama a ARCAB. Então, era criançada, mais adultos, mais... mais tudo o que tive, levo. Professor, professor. E a gente fazendo a parte. Isso foi até 2000 e alguma coisa. Falei: “tá errado, chega, né?”. Porque não tinha. É... Não ofereciam absolutamente nada, né? Para as crianças, até que era, foi algo, assim, foi um momento prazeroso, porque além deles terem ali dentro do projeto, toda a educação, o amor, o carinho, tudo o que faltava na casa, né? Eles tinham também essa oportunidade, né? Porque nós acabamos fazendo a região toda. E olha que a região é grande. São 12 municípios e saímos fora, fomos para Minas. Entendeu? Por conta da apresentação deles. Então, era algo, assim, fantástico: eles mandavam um ônibus e tal, depois comecei a exigir a alimentação, porque eu punha do bolso, né? Comecei a exigir a alimentação, tudo. Então, sim, foi ótimo. Então, era raro o final de semana que eles não tivessem algum local para fazer apresentação. E, assim, a gente foi criando essa moçada. Aí. Então, como falei, maio, agosto e novembro depois. Aí depois eu falei: “não vamos fazer o seguinte”. Vamos aproveitar esse tempo, né? Aí dentro das apresentações começarem a entre as palestras, né? Aí comecei a palestrar. Aí, sabe, foi indo, foi indo, o negócio foi crescendo, foi tomando um rumo, que eu falei: “bom, agora a gente só vai para as escolas para oferecer oficina”. Os alunos têm que estar juntos, entendeu? Professor, porque professor, ó, tá, caia fora. Então, se não tiver, então, a gente vai... Os alunos vão ter que realizar o evento. Não, a gente vai estar para ajudar. Então, os alunos vão dançar, os alunos vão declamar, os alunos vão fazer tudo o que tiver de ser feito, né? Que teve escola que a gente ficava, teve tempo que a gente de a gente ficava 15 dias numa escola fazendo trabalho, entendeu? É, para tentar trabalhar a ler 10.639, né? Então, aquela coisa toda, e faz miss e mister Afro nas escolas e bom. Mas essa moçadinha foi crescendo, chegou o momento, educação ali pronto. Não foi para mim, mas eu fiz para os outros. E vê, tem que estudar. Ah, mas quem tem? Ah, não, eu quero, quero fazer, quero partir e tal, ok? 1,2,3,4,1,2, ok. Então, na garagem de casa, um cavalete, dois cavaletes, uma tábua... não, primeiro foi uma mesinha mesa, dois alunos, eles começaram a esse processo de preparação, né? vindo de escola pública, essa coisa toda, para o vestibular? Eram 2, foi para 4, foi para 8, foi para 9. Esses 9 se juntaram. E esses 9, estudar. Estudaram, se prepararam como deu. Aí eu tive ajuda do da diretoria de ensino. Que a abertura ela sempre foi, sabe? Sempre existiu respeito nesse sentido. Aí conversei com dirigente, ele falou: “arrumo uma van”, e esses meninos vieram prestar vestibular aqui na Fuvest. A gente conseguiu colocar esses 9 pra esse vestibular na Fuvest. Foi lindo, porque eles conseguiram sentir. Eles tiveram esse prazer. Eles tiveram a oportunidade, né? Primeira fase foi lindo, maravilhoso. Segunda não conseguiram, não tinha como, sozinhos ainda, né? Eles se buscaram só. E aí, pronto, desses 9, começou, foi como... nossa, né? Se fosse um já, né, já fervilhava, né? Mas foi a semente que tinha que ser plantada, né? E a partir daí entra o curso pré-vestibular, ok? Já existia na cidade? Já. O Educafro já estava, né? Só que não em Bragança, ele estava em Atibaia, estava fora, Em Bragança, não. Aí entra o projeto (inaudível), teve o apoio da diretoria de ensino, teve a escola central que nos cedeu, né, a sala. E aí, resumindo, o que acontece? É, todos os projetos... como a gente não tinha espaço, que que acontece, nessa escola central, além do cursinho, a gente tinha, os projetos foram todos para a escola, né? Então, era superlegal, final de semana, pronto, aí curtia, porque se chovesse não tinha na pracinha, né? Aí estando lá no nesse espaço da escola, poxa, todos os projetos acontecendo ali, mais as 2 salas que eram do cursinho pré-vestibular. Então, isso se... uma gama muito grande, graças a Deus. Muitos formados muito. Aí, assim, a cursinho era só pra preto? Não. Como projeto também portas abertas para, né? Especificamente a sala era em torno da cultura afro, em torno, né, de se viver afro. Mas não se barrava. Eram duas regras que eu sempre tive muito forte: não se pergunta a religião de ninguém aqui, entendeu? E é... Independente de raça ou cor, todos são iguais, todos têm a mesma, terão a mesma oportunidade, tratamento igual para todos. Então, para resumir, tinha testemunha de Jeová que dançava afro. Então, você vai vendo como é que foi o negócio, né? Muito bom, muito bom, graças a Deus. Desse cursinho, foram 7 anos, quase 8. Então, a gente tem muita gente encaminhada: médico, veterinário, todas as profissões, com exceção da medicina, né? Medicina e odonto. São os 2 que, né? Mas em se tratando de outras, existe um pouco mais de resistência, né? Mas em se tratando dos outros, tudo que se possa imaginar a gente conseguiu formar. Então, dentro do município é, a nível federal e a nível, é, até por conta, né, do PROUNI e tal, então, muita gente pelo privado, mas a gente tem muita gente pelo federal. Então, independente da, do, da, da educação formal, ensino técnico, também muita gente formada em ensino técnico também. E desse pessoal, né... Quem não conseguiu acompanhar, porque foi muita gente, hoje tá tendo, não é hoje tá havendo necessidade, então, independente de, de tempo... quanto Dona Izilda falou e hoje estão sentindo a falta de, de repente, né, ou de ter abandonado o estudo, alguma coisa nesse sentido, então, estão voltando. Em 2008, aí foi o último ano do cursinho e eu resolvi, né, buscar, porque daí já estava ficando difícil para mim, né? É difícil em qual sentido? É você, é, é impulsiona você. Você não podia encontrar comigo aquela coisa educação até os dias de hoje, não. Isso aí é uma coisa tá em você, né? Como é que você incentiva? Você não é espelho, você não é exemplo. Tá bom? Vamos lá, vamos lá. E meu filho, meu filho, mãe, mãe, mãe, ok, vamos lá. O mesmo processo. Ou é... Já tinha voltado, já tinha terminado o ensino médio, tá tudo bem. Prestei o ENEM e passei, ok, bonitinho. E fui contemplada com a bolsa 100%, pedagogia. Maravilha. Onde saiu essa bolsa? Bolsa 100%. Extrema. Extrema de carro, meia hora de Bragança, já é município de Minas, ótimo. Essa bolsa sai na terceira chamada. Quando eu chego na faculdade, uma maravilha.
P/1 - Quantos anos a senhora tinha quando entrou na faculdade?
R - Hã?
P/1 - Quantos anos? Filho?
R – Magina! Agora, filha, 2008!
P/1 - E aí, vou aproveitar, voltar um pouco. Você falou do nascimento da sua primeira filha, né?
R - Uhum
P/1 - E só pra eu entender, então, você estava trabalhando no hospital e a sua primeira filha nasceu, e os seus outros filhos, o outro filho foi com outro marido?
R - Não, não, não. Eu voltei depois que ela nasceu. Daí abril, maio, julho, eu volto para a área da enfermagem, ok? De hospitalar, muito bem. A minha mãe, ajudando criar essa coisa toda, ok? Passado 3 anos, 2 anos e meio para 3, que a mãe filha tinha de idade, a minha mãe sofre um AVC, bem lembrado. Minha mãe sofreu um AVC, aí eu precisei parar pra poder cuidar dela, filha única, né? E desse tempo, o que acontece? Eu engravido novamente. Que daí nervoso, aquela coisa toda sempre tensa também.
P/1 - Do mesmo marido?
R - Não desse marido. Não, só tive um, tá bom? Eh! Nossa, tá bom demais, não. Aí engravido, né? Eram gêmeos. Fazendo, trabalhando no hospital, fazendo pré-natal que daí tinha os médicos ali tudo, fazendo pré-natal. Ninguém conseguiu detectar que era gêmeos. Pra você vê, que maravilha, né? Aí cuidando da minha mãe e tudo. Minha mãe se recuperou, graças a Deus ela ficou sem sequela. Nasce prematuro de 7 meses, um pouquinho, um casal. Meu Deus, eu não tinha nada preparado para um. Aí, fala, assim, é dois. Ó, me põe pra dormir, aplica um trem aí, quero dormir, pelo, quero ouvir mais nada, né? Muito interessante, nasceu um casalzinho igualzinho. Coisa Mais Linda, né? Eu não tive deslocamentos pra sempre. Eu fui pra cirurgia pra cesárea rapidinho e tal. E aí a menina é durou 24 horas. Ela Foi a primeira, sofreu baque. E o menino? Ele nasceu com um quilo e meio, então, Denise Carla nasceu com 1 kg e 600, 40 cm e o Rodnei Fabiano nasceu com 1 kg e meio e 40 cm, também. As crianças, nasce com 47 para frente, nasceu com 40. Então, você vê, né? Uma belezinha. Coisinha, cabia na caixa de sapato, cabia. Aí, assim, muito bem, cesária, ah, tá, tá aí foi aquela correria e tal. Num santinho, tinha enxoval para 4 crianças muito bem, só tinha um e nada cabia, nada cabia neles porquê, né? Não é criança normal, né? Então, foi uma loucura, cabia na caixa de sapato. Aí, com 2 dias, né? Vai embora, vai embora porque você tem prática você vai cuidar muito melhor do que aqui, pela infecção e tal. Graças a Deus, foi uma benção. Depois ele teve anemia. Aí, foi, me internou, tomou um pouquinho de sangue, tudo pronto. Hoje é um baita de um homem com quase um metro e 90, negro lindo de morrer. Graças a Deus, maravilhoso. Quando esse homem foi embora, quando a gente se separou, ele tinha 3, ele tinha 3 anos e minha filha tinha 6. Aí nos separamos e aí eu continuei, aí foi mãe solo, praticamente criei. Minha mãe, eu e minha mãe, né? E, ok, agora se me pergunta, porque agora já não sei onde tava.
P/1 - Aí a senhora morava com a tua mãe nessa época em Bragança, ela voltou pra Bragança e ficou lá.
R - Sempre com a minha mãe, né? Até quando a gente foi, ficamos lá um pouco com a minha mãe e daí alugamos uma casa. Mas é aquilo, durou muito pouco, porque daí minha mãe já teve, né, o AVC, aí eu voltei para aí tive que voltar para poder cuidar dela, né? E construímos um outro quarto e ficamos morando com ela.
P/1 - Qual que é o nome dela?
R - Pedrina da Silva Toledo. Coisa Mais Linda, minha parceira, companheira. É... nossa. Tempo todo ali juntinho, sabe? Ela ficava doida com essa loucura, porque minha casa não tinha. Pensa numa casa que não se tem seco em momento nenhum. Essa casa ela praticamente um cenário confessional, né? Todos os problemas chegam e não tem hora, e telefone que não para. Aquela coisa, aquela loucura. Mas ela reclamava, mas ela gostava, sabe? Ela nossa, aí nos eventos, sempre junto, dando forças, sabe? Nossa, minha mãe foi, assim, algo muito, muito, muito especial, muito especial, né? Então, e aí... eu vou para a faculdade, maior sonho da vida dela, mas não consegue me ver formada também. E na faculdade? E aí esse processo todo é muito interessante, porque, aí é, é... É a primeira, passa a ser a primeira negra ali, ok, um registo. Daí, quando vai para a faculdade, na formatura, então, existiam mais 2 turmas: contabilidade, enfim. FAEX o nome da faculdade lá em Extrema, tá? Faculdade de ciências... ciências e letras. O EX é de Extrema, é... E aí acabam que eram 3 turmas se formando: pedagogia, contabilidade e uma outra que eu não lembro agora. E eu era a única é... a pessoa mais a mais idosa, né? Então, vamos dizer, assim. Terceiro, terceira chamada, ok. Quando eu cheguei na faculdade, já tinha tido um mês de aula. Aí foi muito legal, por que, pedagogia, aí você enxerga uma sala do quê? Jovens, certo? E jovens da elite de Extrema. Aí chega nega velha, bate o olho além de, né? Mas meu Deus do céu, acho que um olhou pro outro e falou: “o que que veio fazer aqui? Com um mês ainda de aula que nós tivemos”. Eu tive que repor essas faltas, porque aí estava com falta, né? Então, esse mês todo eu tive que fazer trabalhos para repor essas faltas desse um mês. Ok. Quando existia, tava ali, estávamos em aula. Agora vamos separar em grupo. Isso aí é outro trauma que a gente carrega, uma coisa bárbara. E olha, eu digo que as coisas continuam porque eu tenho uma neta com 12 anos. Ela estuda no CESI, em uma escola excelente, lá em Bragança. A minha neta tem pavor, entendeu? Por quê? Porque ela acaba tendo que fazer o trabalho sozinha, né? Só que é interessante, porque daí comigo, o que que acontecia? Não, ninguém queria fazer trabalho comigo. Na cabeça deles, acho que eles imaginavam, estavam com 50 e poucos anos, 57: “acho nós vamos ter que carregar, né?”. Só que eles não tinham noção. Então, é isso que eu sempre digo. Sempre falei pra moçada toda, sabe? Vocês não julguem nunca as pessoas, né, pelo olhar, sabe, pela aparência, presta atenção, cê nunca sabe com quem está falando, você não conhece. Respeita, né? Tenta chegar um pouquinho mais perto, para depois você julgar, você falar, você ter a sua opinião. Mas você bater o olho e já, né? Mas, assim foi. Então, e todos os trabalhos que eu fiz sempre voltaram para a cultura afro. Não, é tanto que eu trabalho de conclusão, também foi em cima. Até tava conversando com o Juliano, tava falando. Tive resistência na aceitação? Tive. Porque é aquilo, a orientadora, imagina, na graduação, entendeu? Mas agora você imagina, na pós-graduação, mestrado, qualquer coisa que você leva a sua, que você venha a trabalhar com o tema negro. Nossa, sempre, sempre, sempre vai ter problema. Então, na graduação você tem, imagina não respeitar a idade. Poxa vida, você está dentro disso, você é uma militante, você está dentro do trabalho, você vai trazer é... É algo que, de repente, desconhece. Pra vocês terem uma noção, eu fiz 3 palestras na pra FAEX toda, entendeu? É uma faculdade grande, entendeu? Por que, né? Totalmente, o desconhecer é total. Eu tinha um professor que ele era dirigente de ensino, professor de história. História e antropologia. Ele desconhecia totalmente, inclusive a lei, e ele era dirigente de ensino e racista. No final do curso, ele falou para mim, ele me abraçou, ele falou para mim: “olha, Izilda, eu quero te agradecer”. Dono de duas granjas, não tinha um negro trabalhando com ele. Nunca teve, na casa, na criação. Já tinha idade, viu? Ele é um doce. “Eu nunca suportei”. Sim, eu sei, deu pra sentir, deu pra perceber. A gente sabe, a gente, no olhar a gente sabe, que se passa, né? E quando fala de política, ele já joga, jogava, entendeu? Se eu pusesse camiseta, tinha camiseta, toda a cor da cor. Aí eu ia com a vermelha: “ah, tinha que ser petista”, sabe? Aquela coisa, mexia uma coisa, assim, horrorosa, então, sempre soube. “Mas agora eu vou te dizer uma coisa, você me deu uma lição de vida que eu vou levar para o resto da vida”, “Por quê?”, e que bom, eu sabia que tinha conquistado ele, né? Ele falou: “é, sabe, eu desconhecia tudo isso”. Esse senhor, sendo professor de história, sabe? Poxa, ele não é professor, você é docente, cara, né? Mas o que que a gente vai fazer? É isso, é isso que nós estamos fazendo. Cabe essa releitura, esse recontar da nossa história. É preciso. Você tendo a oportunidade, você vai falar. E foi o que eu fiz. Nesses 4 anos nunca carreguei uma DP, entendeu? Que foi o susto total. Pessoal, também, e eu sempre gostei muito de tecnologia, então, aí apresentar os trabalhos, né, em slides, essas coisas. “Ah, mas quantos filhos você tem?”, “tenho um casal”, “é... são eles que fazem, né?”, “Não, sou eu quem faço”, “ah, não acredito”, “o problema é seu, sou eu que faço”. Então, sempre essa dúvida, né? Sempre esse questionamento e, principalmente, o questionamento no ser humano é normal, mas de repente uma mulher negra e com idade, entendeu, ele é muito maior. Então, é aquilo que, fui para trocar óculos, aí cheguei na, na, a menina me atendendo. Então, aí na hora que eu vou falar a idade, imagina só: “você não tem essa idade”, “por que não tenho? Lógico que eu tenho”, “mas como uma senhora, tá?”. Ah tá, então, porque é aquilo, né? Antigamente a gente via 70 anos, né, não tava, nem saía de casa, né? Mas eu estou aqui, fazendo minhas coisas, passando meu cartão, graças a Deus, e vou longe, entendeu? Mas não são tantos que vão longe. E não são tantos, né? Pela idade, ô pela idade: pela raça, né? O pessoal diz, assim, nessa coisa da resistência que a gente é, tem um pouco mais. Mas o racismo não deixa a gente viver, né? Então, pra você sobreviver a, tudo isso tem que ter, tem que ser esperta, né? Tem que ter muita estratégia. O que seria saber mais? Cê sorriu igualzinho à Ângela, agora.
P/1 - Eu vou voltar bastante.
R - Ah, vamos lá.
P/1 - É, porque a senhora tava falando bastante dessas mudanças de casa lá na infância, né? Então, esse nascimento da Mooca, depois foi para o centro, depois pra Bragança. E eu queria saber, é, como que era a casa que a senhora nasceu, se a senhora lembra ou alguma dessas casas da infância, assim, descrever mesmo, como que?
R - Então, a minha mãe morava com a minha avó. Então, é, quando eu nasci, eu nasci numa casa onde... o que tinha? Um quarto, cozinha, um quarto/cozinha e 5/6 pessoas. Né? Que era a família do meu pai. Então, minha mãe logo tratou de arrumar algum local que ela pudesse, uma outra casa que ela pudesse, é, me criar. É, daí ela conseguiu, mas eu acho que até uns 3 anos, 3/4 anos. 4 anos. A minha mãe viveu, assim, próximo com a minha avó, na mesma casa ou próximo. (inaudível) zona leste. Aí depois a minha mãe veio, veio para o centro. É foi por cento de São Paulo, no centro, nós estamos em São Paulo, tá. Ali na Santa Cecília. Rua... Alameda. Não, esqueci o nome da rua agora. Aí a minha mãe arrumou um trabalho de doméstica. Minha mãe veio trabalhar neste... aí, a minha mãe me trouxe. E aí, esse trabalho, a minha mãe dormia. Então, tinha é, é... embaixo, né, da, da do da casa que ela trabalhava. Então, tinha ali um acho que era um quarto. Lembra de um quarto que tinha uma cama? E era, é, acho que a cama dela e a minha, eu lembro da minha caminha, não sei, não lembro da cama dela. Dali, a minha mãe começa a libertação dela também. Que daí ela sai da casa do, do é, é, da minha avó, da casa do mãe do meu pai, e ela diz: “chega, não quero mais, eu quero, né, ter o meu canto”. E aí, o primeiro local que a gente vai... Alameda Barros, né? A casa era em frente. Aí, um desses casarões, cortiço, a minha mãe, praticamente em frente, a minha mãe, é, decide que não vai mais tal. Aí ela aluga, aí ela dá o xeque-mate no meu pai, aí ela aluga essa é esse quarto aí, esse cômodo. É louco demais. Aí meu pai foi comprar. Aí a gente foi ter... meu pai foi comprar um jogo de quarto. E pronto. Tinha jogo de quarto. Como ela morava no emprego e ele fazia, né, os trabalhos dele, de motorista, então, ninguém ficava em casa, fechava a casa, fechava o quarto. E a coisa era tão brava, né, que eu lembro dele pulando a janela para entrar no quarto para não dar a volta, porque enfim, cortiço. Dali a gente foi para a Rua Fortunato. Ali a gente ficou muito pouco tempo, a gente ficou, acho que, uns 23 meses. Aí minha mãe achou um outro cortiço na Rua Fortunato. Ali na Santa Sicília, certo? Então, ali era bem melhor. Ali a gente ficou muito tempo, a gente ficou muito tempo, aí chegou, mudamos, aí eu já estava com 6 para 7 anos. Isso mesmo. É nessa época 5. 4 e meio 5, que ela dá o xeque-matei no meu pai. Aí a gente vem. Aí minha mãe consegue esse cômodo ali na Alameda, na Rua Fortunato. E aí esse cortiço, então, a gente entrava tinha várias casas, elas eram quartos, é divididos com... Como é que chama esse material de papelão mais grosso? É o catex, acho que é... Eles eram divididos, assim. Só que a nossa, o nosso quarto, era o último, então, dava, né, aqui era quintal, né, no tanque ali. Então, a gente tinha uma certa liberdade, e o quarto era grande. Então, aí coube esse dormitório que meu pai comprou, daí ele já comprou fogão. Aí, devagar, a cama. Daí trouxe essa cama que essa patroa da minha mãe, né, cedeu, que foi minha cama. Ai, minha mãe, né, aqueles é armariozinhos, né? Improvisado, coiso, até que podes ter. Não tinha geladeira, não tinha, não tinha televisão. Nossa, mas você com 6/7 anos não assistia televisão? Assistia, a gente pagava. Aí tinha alguém que tinha o cortiço, que tinha televisão, aí as criançadas tudo ia lá pra assistir as coisas, pagava. Muito legal. E era como se fosse cineminha pra gente, né? E a escola ela era ali: Arthur Guimarães. Então, aqui era a casa, subia, virava à esquerda, já estava na escola, né? Ainda tá lá, passamos hoje lá, ainda tá. E no prédio que a minha mãe e a minha mãe trabalhava, também, na Rua Fortunato, aí minha mãe passou a trabalhar nessa casa. Então, do prédio que a minha mãe trabalhava, ela conseguia enxergar o pátio da escola. Então, ela tinha um controle, porque eu ficava sozinha, né, para trabalhar. Então, assim... esse foi esse período de 7 a 12 anos. Isso, de 7 a 12 anos, 5 anos na Rua Fortunato. Dali nós fomos para o Cambuci, ok? Esse Cambuci aí, já tava, bem mais tranquilo. Minha mãe já tinha aqui, separou do meu pai. A gente foi pro Cambuci, eu e ela. Nesse lugar do Cambuci, nesse, nessa casa, que também era um cortiço, mas era um cortiço mais organizado. Então, de um lado era, aqui, vamos lá, os quartos e aqui as cozinhas. Então, já era uma coisa mais, né? Mas era um banheiro único também, tanque, dois tanques, então, sempre essa dificuldade. Tá. Minha tia morava, que é mãe desse meu primo, morava e ela que é, trouxe minha mãe para morar ali, então, a gente morava dali nós ficamos, é, 3 anos. Foi o tempo que o meu pai foram ser padrinhos de um casamento de uma prima lá em Bragança e tavam saindo dessas casinhas, aí ele enlouqueceu, né? Então, foi aonde ele conseguiu, que até hoje a gente não sabe como, mas ele conseguiu da entrada, já tinha uma pessoal tinha moradores. Ai, esse rapaz que casou conseguiu proo meu pai. E quando a gente viu a gente estava em Bragança, entendeu? Dentro de uma casa que a gente nunca teve, né? Que eu tinha meu quarto, daí eu tinha meu quarto, aí o quarto deles e sala e cozinha e quintal. É, entendeu? Foi uma vida porque a gente não imaginava, né, viver. E a partir daí as coisas foram melhorando. Foram acontecendo, né? Aí ele se firmou. A gente ficou um bom tempo. Ele faleceu em 86.
P/1 - Ele era jogador de futebol, qual time que ele jogava? A senhora lembra?
R - Ah, ele jogou, nossa, em muitos times. A gente está fazendo um levantamento agora, hoje a gente consegue porque, né, com essa tecnologia. Mas ele joga muito fora daqui. Então, no sul, sabe? Às vezes, minha mãe... então, eu com 3 anos, eu estava andando de avião, ai, que chique, entendeu? Indo lá pro sul. Minha mãe não conseguia ficar, porque muito frio, né? O Rio Grande do Sul sempre foi muito frio, né? E eu tenho recordação, sabe, do avião ainda e mandando eu sentar, sabe quem não podia ficar ali, porque tinha que passar o cinto, essas coisas? Então, assim, é o que eu digo, entendeu? Foi uma infância, assim, maravilhosa, porque imagina eu andar de avião, né? Porque minha mãe ia lá, não, não costumava, voltava. Então, o Rio Grande do Sul, Londrina é, é... Santa Catarina ele jogava muito fora. Entendeu? Até que... era muito querido.
P/1 - E daí ele se aposentou do futebol e foi ser motorista, é isso?
R - Isso. Primeiro motorista de praça, né, motorista? Chofer, né? E aí depois é particular. Aí ficou só no particular. O último emprego, inclusive, quando a gente foi para Bragança, ele tava com a... motorista particular,.Daí ele ia, nossa, sucesso, né, porque ele ia, e aí o patrão, né, porque sempre foi um excelente motorista, aquela coisa toda, deixava levar o carro, aqueles puta carrão. Onde chegava: ah, nego bonito, sabe? Oh, diacho de homem bonito. E chegava com aqueles carrões, nossa vida, O pessoal viajava nele. E nem, ele sempre, nada, foi exibido, né? Então, é aquela coisa muito, muito, muito legal, assim, acho muito legal, é bonito, meu pai.
P/1 - Como ele se chamava?
R - Geraldo de Toledo. Muito bonito. Ai, ai, ai, deu trabalho, mas nós ficamos amigo, viu? No final a gente ficou bastante amigo. Foi, foi, é, é cruel, foi cruel, né? Poderia ter sido melhor, mas aí doença, né? Morreu com 57 anos, super novo. Teve um câncer de pâncreas e... mas aí a gente já estava muito bem, né? E daí em Bragança mesmo, a gente, né? Aí foi, foi conviver. Aí ele foi descobrir a filha que tinha, né? Demorou, né, para me descobrir. O pai sabe, mas tudo bem. Pai, ok, então, bem-vindo, que bom que você me descobriu. Podia ter sido hilário. Quanto tempo que eu perdi, né, minha filha? Fazer o quê? Era Para Ser, assim, né? Então, tudo bem. Foi, e deve estar muito bem, espero. Que mais?
P/1 - Eu vou fazer um outro pulo, é para quando você trabalhava com é, enfim, no hospital fazendo parto, né? Como é que era, assim, ter esse trabalho? Se tem alguma história marcante desse período, assim... porque é um trabalho bem, íntimo, né?
R - Oi?
P/1 - Meio íntimo assim.
R - Ai, eu digo para você que foi uma das melhores fases da minha vida, né? Porque ele foi, assim, tão... Nossa, sabe, preencheu uma descoberta, sabe? Nunca tinha pensado que pudesse estar dentro do hospital, trabalhando, salvando vidas, sabe? Esse cuidado todo é algo que... foi uma descoberta tão grande, então, houve uma dedicação, uma entrega total, sabe? Então, foi uma das melhores, ou melhor, fase da minha vida, sabe? Eu tenho pra dizer, em se tratando, né, de trabalhar, é, é..., assim, você tem uma noção, é, eu ando, assim, hoje ainda para a rua, as pessoas elas, né? Você lida com o público, você não consegue, né? Mas as pessoas não esquecem as pessoas, olham, é muito interessante, sabe? “Quero te agradecer, foi muito legal”, eu sei, entendeu? Eu não lembro das pessoas, mas foi o melhor de mim. Foi dado com certeza. Sempre. Que eu me dedico, né? Sempre me dediquei a vida dessa forma, sempre o melhor, eu sempre passei para todo o mundo: dê sempre o melhor de você. E eu sempre dei o melhor de mim, então, foi a fase, sabe? Uma fase marcante. É... pós hospital, vamo lá. Aí, eu vou para. Eu vou para um, é, é... Tenho uma grande amiga, de muitos anos, e essa amiga ela assume a vice-presidência de um serviço social, vamos dizer, mas não é isso, é de atendimento, é uma creche, serviço médico hospitalar. SAMA, de filantropia. Então tinha, aqui no centro a presidência, tinha a presidência, que era a doutora Alzira, Alzirinha (inaudível), e era parte do internato. E a doutora Ângela pegou a vice-presidência na periferia de Bragança, creche. E daí ela me convida para ser supervisora dessa creche? Essa creche, por sinal, ela foi da mãe do atual administrador da cidade. E teve uma história muito complicada, porque era internato lá e foi uma história meio brava. Teve... Foi interditada, essa, esse, esse internato. E aí essa minha amiga advogada e ela acabou pegando a vice-presidência dessa creche. E aí ela convidou pra mim ser supervisora, então, a gente chegou, estava tudo, assim, muito ainda... que tinha ficado fechado muitos anos. E aí a gente chegou com uma média de 80 crianças. Então, era eu e mais 6 (inaudível). Então, eram divididos, né, por: Jardim Santa Lúcia, bairro bem periférico de Bragança. E, aí a gente chegou, uma cozinheira, 5 (inaudível), uma secretária... 2 cozinheiras, 30, 40, 80, 120, pronto, devia ter 120 crianças. Fases de 0 a 10 anos. E aí foram 2 anos. Então, nesses 2 anos, veja bem, olha que coisa interessante que a vida da gente. Eu falo que morava na zona leste, tudo bem, certo? Sempre casa com muita casa cheia, muita gente. Aí venho pro cento morar em cortiço, essas coisas todas. Vou cá em Bragança. Só que eu nunca tinha vivido na periferia. Eu nunca vivi na periferia, nunca vivi. Nunca tive contacto com a periferia. E lá em Bragança foi ter, né? Pra vocês terem uma noção, época de inverno, de chegar tirando o agasalho, embrulhando as crianças, crianças roxas. Aquela, aquela, sabe, loucura, né? Então, esses 2 anos foram de cuidado, de todo sentimento. Carinho, amor, afeto, alimentação, educação, recreação, tudo. Essas 120 crianças. Dali foi o que eu prestei concurso. Antes disso, abriu um... no parque dos estados, que também é uma área periférica de Bragança, quando é, é, foi lançado esse, esse, empreendimento, eram 900 casas, então, é muito grande. Na periferia também. E aí, o primeiro posto de enfermagem, a USP, hospital universitário, é, que, é... colocou ali na, no parque dos estados, e a primeira pessoa que teve contato com quase, com quase esses 900, fui eu. Então, ali, no atendimento, ali na, nas marcações, ali, no, nas coletas de Papanicolau, então, sempre muito focada, com essa coisa íntima, né? Da mulher. Então, nossa, elas têm um carinho enorme, eu não lembro de ninguém, mas elas lembram de mim, tá bom também, né? Então, também fiquei marcada nesse bairro por conta disso tudo. E aí foi que eu prestei o concurso, foi o último concurso da Secretaria de Saúde de estado, e eu prestei o concurso, que na época também era atendente, né? E graças a Deus deu certo. Aí no que eu começo... aí é uma loucura, né? No que eu começo, todo o procedimento é, é documentação, essa coisarada toda. Meu pai já estava doente. Acabou emprestando o dinheiro para mim e tudo porque tinha que vir para aí para Campinas para ser a documentação. Tudo, não é? Não teve também não consegui dar esse prazer. Soube que eu tinha passado, mas também não teve prazer de me ver na atuação. Ele faleceu antes aí. Eu começo a trabalhar. A Secretaria de saúde ela tem um processo, pelo menos tinha, né, ele é revolucionário, né? Você, a partir do momento que você entra, passa nesse processo de, de... concurso. Então, eles abrem muitas portas, muitas portas para... oferecendo, é, é especialização essa coisa toda. E eu não perdi tempo nenhum, né? Tudo o que tudo que abria e se tratando nessa parte de vacinação, tudo. Aí depois, enfim, dentro do centro de saúde. Eu, assim, na área toda, que na época era sala de vacina, sala de enfermagem, pré-natal, ginecologia obstetrícia, secretaria, aí o pessoal do hanseníase é... DST AIDS. O departamento. Então, sabe, a gente foi preparada para estar em qualquer dessas áreas. Então eram muitos cursos. E eu não tinha preguiça não. Vai ter tal, então... entendeu? E eu me especializei, já tinha esse atendimento da ginecologia e obstetrícia, e eu me especializei no atendimento ao adolescente. Então, é, é, eu fiz essa opção, atendimento especializado, enfim, multiprofissional. E também me deu grandes oportunidades, né? Então, era porta de entrada do, do, e aí eu já tinha, né, aquele histórico todo dessa moçada toda, né? Então, era a porta do recebimento, era o acolhimento desses menores, dessas mães, que levava os seus filhos adolescentes, essa coisa toda. Aí, me especializei nessa área de do atendimento integral à saúde do adolescente, que me proporcionou ser monitora para Aracaju, Rio de Janeiro, Bahia. Levar os adolescentes para os encontros, né? Internacionais e nacionais. E então, foi, assim, maravilhoso. Então, além dessa área, né... é o que eu digo, você vê, é os desafios, né, todinhos, então, muito especial, muito bom. Bom, acabo me aposentando do centro de saúde. Mas trabalhando no centro de saúde também, no início é, eram 6 horas, né? Então, tinha as outras 12 horas, né? Aí continuava trabalhando em hospital, saía do centro de saúde pro hospital. Então, essa foi a minha vida, poder criar os filhos, né? Só o salário do estado. Salário-mínimo, praticamente. Então, e a pensão, ele dava pensão? A mesma história que você já conhece, muda só o endereço.
P/1 - E aí então, a senhora se forma em pedagogia, voltar lá onde a gente tava, e aí?
R - Foi lindo. É aquilo que eu falei, não fiquei com nenhuma, não carreguei nenhuma DP, nunca. Consegui conquistar, além dos professores, descentes, docentes e a faculdade, né? Então muito... especial esse momento também. E na formatura foi isso, é... era a mais idosa, acaba recebendo homenagem. Foi muito lindo, também não esperava e, assim, bastante chocada por conta da mãe ter perdido, não está ali. Enfim, né? Você não consegue falar putz. Mas, enfim. E... mas aí dava neta, né? Já tinha nascido a neta, então a neta que fez a homenagem, que entregou, pitititica, não entendia nada, mas a mãe tava junto, carregando. Aquele puta buquê de flores e tal, que era da turma toda. E... as falas. Puts! Ai quase mata a gente, sabe? Falei, meu Deus do céu, que coisa. E gente, foi muito interessante porque, eu não sei se é eu que busco ou as coisas vão acontecendo, porque a partir daí não para mais, né? Não para, não para, não para, não para. Vamos lá, vai por parte que cê quer saber?
P/1 - Ah, você pode contar, aí, aí, depois de você se formar em pedagogia, é... como que se desenrola, você pelo menos uma pós-graduação, né? Como que foi?
R - Fiz pós. Pós em... menina é coisa de louco, eu sempre esqueço. Docência no ensino superior, oxe! Tá, docência? E... aí fez mais uma porção de, especialização, aí, na USP. Fiz a especialização, é, nos muros da escola, (inaudível). Por Santa Catarina, Universidade Federal de Santa Catarina. Me especializei. Então, quando eu digo que eu fui buscar, lá atrás, quando eu digo preciso ir buscar. Exatamente por isso existia essa brecha, né? Como eu comecei a palestrar? Então, era, é, algo é, é, vivencial, vivência, certo? Mas você começa a lidar com a docência, e eles não são nada bonzinho, né? Assim como as crianças, você lida também com essa parte da docência. Aí eu falei: “não, não posso, né? Eu estou buscando algo que... opa, isso não é não é para aprendizes, né?” Você vai, você vai bater de frente, você vai bater de frente com propriedade, você conhece ou você não conhece. Então você só ter a experiência de vida, ela não te dá, infelizmente, né, ela não te dá o valor real como vivência. Aqui, o milho, aqui uma certa pessoa dá, mas a vida num contato que ela precisa do quê, né? Certificação então você tem que buscar certificação para provar para a sociedade que você é, que você pode, que você foi, que você é algo assim muito, muito. Estarrecedor, sabe? Eu acho assim. E essa parte rebuscada da academia eu não gosto. Então, pra mim usar só se for muito preciso, né? Eu sou isso, eu sou essa, certo? Então você vai me ouvir? Ok, você vai ouvir verdades, você vai ouvir propriedades, você vai ouvir uma pessoa, né, que realmente sabe o que está falando. Então, cabe a você decidir se vale a pena ou não. Acho que tem valido a pena, sabe, que o pessoal fica tudo emocional, chora, mas não regista nada que você fala. Eu fico nervosa. Tem hora que eu fico nervosa, enfim. Então, são muitas. Muitas, muitos é... momentos que eu, oportunizados, especializações, eu fui fazendo. Entendeu? Pela USP, uma porção que abre, assim, né? Então, bastante, tinha bastante coisa. Mas é... é, a minha especialidade é mesmo, né? Na étnico-racial, entendeu? E gênero também é hoje é algo, né, que está dentro. Enfim, eu falo da vida, eu falo do momento conforme, eu uso sempre a fala, né, conforme o público a fala. Então é isso, mas... Muito bem que mais?
P/1 - E como que é a tua vida hoje, hoje em dia?
R - Pós aposentadoria. Então essa loucura, sabe? Sempre trabalhando, sempre dedicando, sempre doando. Doação ela sempre foi, é... e vai continuar sendo. Muito bem, chega em 2015. Antes disso, tem um clube, Três de Maio, esse clube é um clube negro, que é o clube lá de trás: minha mãe e as histórias que eu ouvia, que fui registrando, então pela memória, aí eu decidi que carregaria, né? Esse histórico todo dele. E assim foi. Quando foi... E aí, por conta de (inaudível) essa coisa toda, e a gente sem espaço, quando foi em 2003, quem estava na gestão do clube faleceu. Que era o seu Arsénio de Oliveira. E aí, porque eu já tinha inclusive feito, a gente já tinha feito um evento lá, e aí eu falei para ele, falei, senhor, Arsenal, o senhor tem o que a gente precisa, que é o espaço e para colocar essa moçada toda. E a gente tem o público, né? Vamos fazer uma parceria, a gente se ajuda e tal. Daí ele queria cobrar, ele queria R$50.000, na época, imagina, para poder usar, poder usar espaço, e já não aconteciam mais os eventos como eram, né? Como foi a formação do clube, lógico, lá atrás. Não conseguimos. Aí conseguimos fazer uma noite de beleza negra lá. Que também dentro da nossa programação, existe uma programação, né? De elevação de autoestima, então, além da educação, todo esse processo, né, com o pessoal da cultura. E aí conseguimos com que ele cedesse o espaço para a gente fazer. Seu Arsenio, o senhor se prepara porque, né? Vai... Já não acontecia mais nada lá mesmo, né? A gente vem, vem com tudo. Ok, mas ele não, ele não acreditou, daí precisou sair correndo para buscar as coisas, porque já vem gente fora tudo, né? Foi um evento lindo. Ele ficou emocionado, encantado, e ele, fizemos uma homenagem pra ele, que ele não entrou, que nem nada, né? Então fez uma homenagem para ele, pra que ele se sentisse, né, valorizado, aquela coisa toda. Pronto. Esse o homem ficou com a gente na cabeça que não saía mais. Mas aquilo já era mesmo, né? Os ancestrais trabalhando, aquela coisa toda. Bom, esse homem falece em 2002, foi atropelado. E aí a minha filha dizia: “mãe, 13 de maio”, “o que que tem o 13 de maio?”, “tá lá, mãe”, “ué! Vai ficar, qual é o problema?”, “Mas, mãe, vamos ver a possibilidade de estar, né? Vamos procurar, tem todo o pessoal aí na mão”, “aí, Agnes o que tiver que ser, o que tiver que ser vai ser, sabe? Não, não vou atrás”. Aí se descobriu que tinha um vice-presidente, porque daí só assim, é só assim, né, que nem Dona Izilda, Dona Izilda, Dona Izilda é incrível. Eu falei, escuta, eu fiz um trabalho coletivo, mas não adianta, ficou a dona Izilda, né? E com o Arsenio é a mesma coisa, então era Arsenio, Arsenio, Arsenio e pronto, aí aparece um vice-presidente, sabe? Aquelas é, é, é instituições que não andam, né? Não muda, estatuto que não vira. Aí foi, e falou, olha o seu Arsenio desde o evento que vocês fizeram lá e não falavam outra coisa, e se Deus o livre acontecesse alguma coisa com ele algum dia, era para passar para vocês. Em? Como? Né? Muito bom amigo, maravilhoso, ok? Acerta tudo, traz a moçada, traz a diretoria que tinha na época, ok? E ele vem com a chave, o estatuto antigo, o estatuto antigo, (inaudível) antigo. Foi uma coisa muito bonita, linda de morrer, todo mundo na maior Felicidade está bom, você está na rua, você está num, num, numa garagem. Aí você entra num espaço com 2000 m², 744, 844 construído e mais o restante. Eae? Se lida com quem? Se lida com a criançada da periferia, certo? Então são pais poderosíssimos, em condição de ajudar e ajudar muito, né? E a manutenção disso, como é que fica? E o povo foi chegando. Tanto o município, a prefeitura, através da cultura, essa coisa toda, enviava eventos pra dentro do espaço, né? Como o outro. De repente, Maracatu. Aí tudo o que você pensar teve lá maracatu, capoeira, nossa. Tinha tudo. Mas ninguém queria ajudar com nada, não quis. Entendeu? E quem paga essa conta? Porque tinha água, tinha energia. Imposto, que já veio com um imposto, já veio com uma dívida, eu falei: “nós não vamos pagar isso nunca, entendeu?” Vai até entrar, entrar, tudo bem, mas aí você vai tomando, porque é aquilo que eu falei: 88, pronto, é laranjona, não tinha noção, né, mas pronto, em 2003 já estava esperta para caramba, você sabia que você estava pegando um puta elefante branco, não tinha como. E o que você faz com essa criança, o que você faz com essas famílias? Como é que se toca tudo isso, como é que você faz? Aí uma reunião, tudo registrada. Chama todo mundo. Mas não, na cabeça das pessoas elas estariam, é, me beneficiando, beneficiando a diretora e eles que estavam usando o espaço. Muito triste. Aí. Conseguimos levar até que também o cursinho sai da escola, vai para dentro do clube 13, entendeu? Muito bem. Aí, quando chegou, em 2015. Ali, não, não, não temos. Ninguém tinha. Eu não tinha mais perna, já estava devendo até o que precisava, que não precisava. Quase perdi na casa. Porque teve um lance em 88, 90, 90 e 90. 90 e alguma coisa de buscar um espaço próprio, entendeu? Teve esse lance? É, mas e aí? Através... 92. Através de, é, alguma... acerto político, entendeu? Alguma coisa teve por trás que a Dona Izilda não soube, mas ganhamos um espaço, maravilha, entendeu? Mas e aí, quem paga, né? Terminou a parte, sabe, eleitoral passou: “Ó, pá, pronto, agora cabe a vocês aí”. Aí demo conta como, né? A gente conseguiu ficar 2 anos. E teve que entregar. Devendo. Ainda para minha mãe, aí, no caso, minha mãe pede o bujão não quiser entrar. Olha, vou contar para você, só Jesus. Voltamos para a casinha da Dona Izilda, né? E aí foi que deu, em 2003, esse homem maravilhoso falecer e a gente entrar nesse espaço. Pronto, tá bom, sai da rua, vai pra dentro. E a organização para? E os parceiros? Cadê os parceiros para? Qual a ajuda institucional ou ajuda que vocês possam ter? Nenhuma. Então prefeitura acha que pode mandar, a Secretaria de cultura mandar, então ficava... teve um festival de festival de inverno. Olha, é o inverno, né? É o mês todo. E foi lá dentro do espaço com a criançada, construção de instrumento e tudo. E quem paga essa energia? Eles foram embora e nós também fomos. Não tinha como, entendeu? Então essas foram as partes, né? Foi muito. Muito produtivo, sabe? Cultura é, é, é complicado. Não é valorizado mesmo. A gente sabe disso. Muito bem, chegou em 2015. Aí foi feito, que já tinha sido a segunda já. Proposta para uma associação de escritores. Em 2014 para 2015. Se eles é, é, aceitariam que a gente fizesse uma parceria e porquê? Eles têm um concurso estudantil. Então, cada ano é um tema. E o 13 tava fazendo acho que 80 anos, 80 anos. Então, eu falo 13 é um clube, tá? Aí, vamos, vamos então comemorar o 13. A memória, porque não é aquele espaço, porque ele não foi naquele espaço construído. Aquele espaço é um espaço que foi feito doação. Eles construíram e tal. Mas a história, então eu digo sempre: é, eu trabalho com a memória, né, do clube, não com espaço. E então vamos fazer, ok. Então é um concurso, que também agora terminou um outro, ele acaba atingindo todas as faixas etárias, né? Então, tanto do município, tanto do municipal, estadual e privado. Então é, é, é do infantil, infantil não, do fundamental um ao ensino médio. E aí a gente levou esse tema. Então eu consegui, eu passei por... eu não sei quantas escolas, mas eu fiz 30, 36 ou 38 palestras sobre o clube. E aí eu aproveitei, né? Então a história do clube que as pessoas desconhecem e ainda maioria desconhece. E aí a gente vem falando faz tempo, então a história do clube. Aí, Bragança tem um histórico de um clube de escravos Fundado em 1881. 7 anos antes da Abolição da Escravatura. Então levei tudo isso para educação, entendeu? E homenageando uma professora é, é, negra. Ela Foi professora de matemática por mais de 50 anos, então a gente fez essa homenagem para ela, Helena Faria, nesse concurso. Então foi assim, né? É, é, foi uma forma também de manifestar essa é, é, é a história, né, a cultura, o que tem, né? Porque, assim, tava como se Bragança é, não tivesse tido esse período de escravidão, como se a plantação de café, de algodão, não, não teve escravo, né? Então é muito difícil, né? É uma cidade assim, coronelista. Uma cidade muito racista. Então, trabalhar tudo isso é coisa mesmo de é para ficar para a história, entendeu? Não é algo que a gente vai dizer assim: “olha, de repente reconheceram”, imagina, né? Mas a gente continua insistindo, né? Não para nunca. E através desse concurso, então, foi maravilhoso. Tudo bem. E aí no 2015, aí eu passo a chave. Passa a chave no clube. Não aguento mais. Mas antes disso tinha aparecido um, rato de porão, que é assim que ele tem que ser classificado, é... vocês já ouviram falar esse termo, já, né? É? Rato de cartório. Falei errado. Rato de cartório. E não precisa dizer nada, né? O que aconteceu? Ele conseguiu, aí chegou com conversinha, eu já cansada, né, comunidade que, né, não responde. Até hoje. Isso foi em 2015. Olha, é 8 anos, ainda tem gente que não sabe que 13 de maio não está nas nossas mãos, você acredita? Até hoje. E esse senhorzinho conseguiu fazer um estrago enorme. E aí ele conseguiu, ele foi, ele mexeu no cartório, já veio com a informação, olha, quando a gente menos esperou, disse: “aqui ninguém pisa mais”. Acabei perdendo acervo que era... olha, ele botou fogo numa porção de coisas... Eh! A comunidade não sabe. Entendeu, porque então... Então, assim. Difícil. Entendeu? Muito difícil. Pronto, encerrou. E eu tô bem tranquilinha, né? Bem sossegada, fazendo meus cursos. Olha, agora tô cheio, pagando conta, né? Recebi, não recebia. Já tudo no banco. Ai meu Deus, que triste, que tempo, mas passa, né? Tudo passa, passou. Muito bem. Quando chegou em 2020... mas mesmo assim o pessoal chamava para palestras, essas coisas, escolas, mas, né? Deu um tempo. Quando chegou em 2020, a escola de samba, uma escola de samba famosa, resolve, agora estamos chegando no fim da história, resolve que ela tem que trazer um tema afro. Agora veja, a escola ela é é também elitizada: bairro Taboão, fala Bragança Paulista. Como é, o Lago do Taboão é o ponto principal, então não precisa nem dizer para vocês, né? E a escola de samba tem ali a sua sede, ok. Escola de samba 9 de julho e resolve para ter um tema afro. Bom, e aí cadê os preto para sair com o tema afro, onde que tá na escola que, né? Só tem branco. Como que vocês vão botar um tema afro e não tem. Dona Izilda, acode nois, acode. E a gente tá tudo sossegado, cada um no seu canto. Inclusive, Dona Izilda vai até fazer parte da abertura do samba enredo. Há uma loucura, menina, coisa de loca. Bom Dona Izilda liga para um liga para outro, bom a conclusão: saiu as 3 gerações, né? Aí sai vó, sai filha, sai neto, tudo, vem tudo. Foi lindo, maravilhoso. Ganhamos carnaval? Ganhamos. Sim, nós podemos. Que legal maravilha. Daí foi, não parou mais. Aí a gente conhece esse casal, a casa tombada, Juliano e Ângela. E daí você já viu um pedacinho da história, mas a gente repete que não tava gravando, né, é... Casa tombada, casa tombada, casa tombada, mas o que que é isso, gente? Vocês ouviram falar a casa tombar. Eu falei, caramba, o que que é? Entra no site, vamos ver o que é casa tombada, me interessou, só que eu estava atrás saber o que era e eles atrás de mim eu não sabia, né? Aí, quando foi? Um dia ele chega comenta com um das uma das pessoas que ficavam lá, que é o Samuel, Samuca. Professor de francês. Não, é minha amiga e tal, não sei o que. Ele deu um toque, né, pelo zap: “Izilda, tudo bem? Olha, eles querem conversar com você, ver. Quero que você conheça a casa. Você já conhece?”, “não, não conheço”, “a gente marca qualquer dia eu vou até aí”. Há então, inclusive, aí a Shell, que foi, que é jornalista e já fez uma porção de trabalho, também deve muitos (inaudível). Muito. Uma das primeiras que pôs a gente, né, na mídia. Aí outro detalhe, sabes agradecer muito à mídia. Mídia de Bragança escrita, falada, televisada. É a abertura total. Nunca tivemos nenhum tipo de problema, qualquer evento eles estão ali disposição, portas abertas para a gente. Daí, tudo bem. “Não, então, o que eles estão pensando em fazer?” “uma foto e tal”, “Ah, essa foto, foto para quê? Para onde?” “Não, Dona Izilda...” Ai meu Deus do céu, quando falou no cobre eu quase caí de costa. Falei, pronto, só falta essa, né? Vamos lá conhecer, então? Vamos. Vamos, genro? Vamo. Que é difícil carregar meu genro de casa. Aí quando vocês tiverem oportunidade de assistir o documentário, ele tá no documentário, na época ele era, ele está dando depoimento dele, na época ele era técnico de segurança do trabalho e bombeiro civil e tava cursando engenharia ambiental. Hoje ele já, ele já é doutor em engenharia ambiental e... Ah, é tanta coisa que não dá, então ainda tem isso, esses meninos todos são de 2,3 graduações, sabe? Mais especializações, coisa de louco. Então muito orgulho, muito. Muito bem, vamos lá? Vamos. Chegamos na casa, meu Deus do céu, chega na casa de tombar em um dia que está tendo exposição desde a parte que é garagem, jardim, aquele monte de barraquinha. Tem uma, meu Deus do céu, o que é que é isso? Parou todo mundo. Meu genro é desse tamanho, né? Minha filha tinta, minha neta tintinha. E eu? E aí estava com um vestido áfrico. Nossa, acho que pensaram que a gente tinha vindo da Etiópia de algum canto, sabe? Parou todo mundo. Eu falei, meu Deus, o que é isso? Muito bem, chega neles. Ai meu Deus, Juliano já querendo pingar lágrima, Ângela, “aí, até que enfim você veio”. Falei, nossa, que bom ser recebido assim, né? Mas muito prazer e tal. “Não, vamo aproveitar que o sol já está entrando, não sei o que vamos fazer a foto”. “Ah, mas que foto menina? Vim aqui pra conhecer a casa, não vem fazer foto nenhuma que vai ter que me explicar. Como é que vai tirando foto? Não, não é assim não”. “Não, Dona Izilda, a gente tem ideia e de onde colocar”. Aí quando ele mostrou a parede, falei: “mas minha cara preta nessa parede, gente, é muito cabeça, não?” Tem necessidade disso? “A casa é sua?” “Não”. Área central, super elitizado o negócio. Falei mais aonde? Tudo bem que a gente fez um trabalho que merece respeito, eu sei o tanto que, né, mas não. Aí quando falou no cobre, eu falei “ah, não, não, mas não vai por minha cara no cobre cobra, parada aqui em Bragança, ah, era só o que faltava, né?” Graças a Deus, graças a Deus não deu, mas enfim. E a partir daí, o quê? O quê? 2015, 2020, 5 anos não é bem tranquilinhos. Teve o sucesso da, da, da, da, do, da escola sair campeã, maravilha. Aí vinha a Casa de Tombada, pronto. Muito bem, eu realmente tava daquele jeitinho, quando a gente fez a reunião. E eu falei para ele, nunca vou esquecer dessa frase, e nem tampouco eles. Eu falei assim: “olha, eu me sinto amputada. Sabe quando você deu, deu, deu, deu, e tá faltando. Você buscou, buscou, buscou, buscou, mas você não fez a entrega total. Apesar de toda essa repercussão, apesar de todo esse processo que ele é muito positivo, em se tratando daquilo que foi proposto, em se tratando dessa geração que a gente cuidou, né? Mas...” E aí eu lembro que o olho dele encheu d’água. Ele falou: “nossa, é muito, muito forte isso que você está dizendo, né?”. Eu falei: “então assim, se vocês, eu não sei o que vocês têm para me oferecer, né? Mas é saber que não oferecer para mim é uma comunidade toda, sabe? É, é.... Eu não sei como é que a gente é... Trabalha isso”. Bom, ele abriu a porta. A gente se precisava. Essa é a grande verdade. Então foi, assim, é uma fusão de almas, de, de espiritual é uma coisa muito forte, muito forte, muito forte. E foi a família toda. Daqui a pouco eu vim falando pra ele no carro. Eu falei, olha que na família sempre tem alguém, né? Porque imagina, cada um que se aproxima, olha, mãe, cuidado, mãe, então depois, quanto mais depois dessa, esse homem. Francisco Nobre, esse é o nome do ser. Nobre, ele não tem nada. Mas enfim. Ah detalhe, mas ele conseguiu tocar? Ele reformou e fez uma porção de coisas, mas não consegue, não consegue abrir. E o último, o último é porque se ele já registrado, o último é passo que ele tentou dar, ele é, tentou alugar para uma igreja evangélica. Botou um cartaz. Ah, imagina, aí foi, foi, entendeu? Se enterrou por quê? O terreno é doado para Cultura Afro. Então que tá salvando ele, ele pôs uma capoeira lá, sabe? É o que está salvando ele mesmo assim, né? Tem um processo em cima. Mas vamos lá então, Casa Tombada, tá? Então acabamos levando o documentário, levando o pessoal para lá. A gente foi se trocando, se ajudando e não parou lá mais. Por conta da Casa Tombada estou aqui hoje. Aí eles foram reconhecendo, conhecendo mais a história, tudo bem. Bom, 2021, 2021, documentário. Pandemia. Aí vem o documentário: boom. Documentário quer dizer o quê? Os clubes sociais negros de Bragança e Bragança Paulista. Daí ele traz o histórico do clube 13, do clube dos escravos. E, ele está assim de um é, é num formato. Então esse rapaz, Mário de Almeida, ele teve assim muita luz. Ele foi muito, muito, muito, muito, muito orientado espiritualmente. Eu digo isso mesmo porque, veja, ele só trabalha com... Com coisas de viola. Os documentários dele são nada a ver. É a primeira vez que ele vem para um, é pra lei, né? Aldir Blanc, que tava na pandemia, que ele veio para um formato negro. Nunca tinha lidado com nada disso. Mas a contextualização de tudo o que ele tinha mais conhecido, conhecia um pouco da história de um outro momento que eu pude estar com ele. E ele falou: “não, a gente tem que fazer alguma coisa”. E a partir daí, sabe, então tá maravilhoso. Ele acaba sendo um material. Ficou com um material, sabe, para estudo em se tratando do município, né, da história do município. 2021 o documentário. 2022: o reconhecimento através da prefeitura do município, já teve honra ao mérito, como funcionária, tanto do município voluntário, como na Secretaria de saúde, já tinha recebido. Mas o município resolve me. homenagear com a comenda, com uma comenda. Que que é essa comenda? É, é, são os fundadores da cidade, né? Então, o... a imagem deles e mais o dizer deles, que são Pires Pimentel, Ignácia Pimentel. E essa comenda então torna, né? Então Dona Izilda comendadora. Ai que chique, meu Deus do céu, tá ok? Isso foi no dia, foi em 2022. Nesse 2022, quando eu vou receber, está executivo e legislativo, aí eu já tenho um projeto que é pra restauração dessa Capela Santa Cruz dos enforcados, que é uma história única da cidade. É a história negra, raiz, de 1900, entendeu? Tá lá, nessa Capela, então ela nos pertence, então não temos nada, mas aquilo ali é nosso e está na história do usucapião, então não quero nem saber, eu vou, mas aquela Capela vem para o pessoal, vem. Então esse processo, esse projeto, ele está bem redondo, sabe, em cima de tudo, buscando pessoal das universidades. Tanto na área jurídica quanto na área da saúde mental, enfim, sabe? Trabalhando tudo, enfim. E aí eu falo pra eles, falam, olha, eu estou muito agradecida pela homenagem e tal da comenda, acho assim suma importância, mas eu quero deixar um pedido aqui: é em nome de toda a comunidade, é aquele espaço que nós queremos, é daquele espaço que nós precisamos. Ele tem que ser, é, é, tem que voltar para a gente, pra comunidade. Ficou registrado porque estava no mundo, né, ok? E estamos aí no processo. Tem esse espaço hoje? Não. Está buscando, então. Depois, o ano passado, 2023, é o ano passado, ainda esse ano. Acabo sendo homenageada com uma rua. Imagina Izilda sendo homageada com uma rua. Quebrei, pronto. Tem uma rua, um bairro residencial, bem para, 5 minutos da minha casa, bairro chique. Aí vamos conhecer a rua, né? Isso foi obra. Antes disso, em 2022, também eu recebo a medalha zumbi dos Palmares. E recebo essa medalha por conta dessa vereadora, que é vereadora, missionária, Pokaia, que também existe uma resistência muito grande, porque ela é missionária, então, não preciso nem dizer que ela é evangélica. Como é que vai trabalhar com o movimento negro? E então ela é, foi, eu já avisei, ela foi a maior que você está fazendo, porque bom. Bem, enfim, não é porque, é o problema é dela. E ela me deu e me indicou. Me deu não, né? O projeto é dela. Medalha Zumbi dos Palmares. Então fui contemplada. E ela também acaba me contemplando com essa rua... Izilda Aparecida de Toledo. Gente, como é isso? Pois é, então, mulher preta ganhando uma rua em vida. Então é algo assim que a gente é, é o que pode dizer, né? Que é um dia recompensa bem, eu acho, assim, que eu deixo para vocês assim é o seguinte: É. É, não queiram nunca nada, sabe? De ontem pra hoje, esteja preparado. Espere um momento. Eu não esperei nada disso, eu não me preparei para nada disso. O trabalho aconteceu e acontece naturalmente. Não tem. Então o que eu tenho? Eu tenho muito amor. Eu consegui me, me libertar, sabe? De rança, sabe, eu não carrego essa coisa é ruim de é... sabe, é, essa guerra da braquitude com a negritude, sabe que tem que ter. Que ter nada disso, porque como é que eu vejo, sabe? Vocês. Aí eu digo vocês. Não pode ser, não pode ser responsabilizado por aquilo sabe que os seus, né, que os seus antepassados trabalharam. Então eu não posso te ter como racista. Você pode até ser, mas eu não posso olhar para você e te tratar como. Nem tão pouco para você, nem tão pouco para você, entendeu? Porque não é dizer, de repente, é que todos os negros vivam em perfeita harmonia, todos são conhecedores da sua história, da sua identidade e tenha o mesmo movimento de luta. Não é igual. Nós não somos iguais, certo? Então é, é, é, é preciso haver, né? Eu digo sempre, é mais amor, precisa de amor, amor, amor é mais escuta, nos odeiam, como é que se ama? Você vem falar de amor quando existe tanto ódio. Mas o amor vence o ódio. Não é possível, não é possível, né? Que não chega um momento, sabe? Que haja um entendimento, que haja o respeito, que é o que eu digo sempre que precisa ter o respeito. Se você ensinar as crianças de hoje a respeitarem, a partir do momento que elas respeitam, que elas saibam que é respeito, não vai ter essa, sabe? Essa divisão, por raça, por classe, por gênero. Nada disso, nada disso. Respeita. Veja o outro como... o difícil para nós é isso, não consegue nos ver com a capacidade, não consegue nos respeitar com a nossa intelectualidade e com o nosso conhecimento, com a nossa, sabe? Mas quem é essa negra pensa que é? Isso precisa ser derrubado, né? Eu sou um ser normal, sabe? Nem me sinto nenhum artista, nada disso, nada disso. Se eu puder passar algo para você de positivo, você vai receber. Agora de negativo você não vai receber de mim. Se você vier com a negatividade, você vai, vai, vai vim, vai voltar com ela, entendeu? Porque ela não vai me atingir. Então eu quero crer que é a vida seja isso, sabe? Eu jamais podia imaginar, jamais, porque devia imaginar que pudesse acontecer algo aqui parecido, né? Assim como foi o documentário, né? Eu, eu não acreditava, eu assisto ainda e não consigo acreditar dessa forma estar aqui, então eu quero agradecer, sim, sabe, de coração vocês todos, eu sei que não terminou, eu estou terminando. Tem alguma coisa? Sabe? eu penso em que possa ter. Eu só tenho a agradecer, em primeiro lugar, a Deus. Aos meus ancestrais. Aos meus pais, que me deram a vida, e que se não fosse por eles, nada disso, não seria eu sou. Então, por tudo na vida, né, que a gente passou, a todos, a todos que se aproximaram, se fizeram presente, que foram parceiros. Aos meus filhos. Aos meus filhos, é, que suportaram tanta falta da mãe. E... a minha neta é feliz porque ela consegue ter avó, né, na criação? É... aquela Dandara, que você possa se formar do jeitinho que a gente sonha. Então, ao casal, Casa Tombada. Tudo, tudo de melhor, meu muito obrigado. É, que Deus abençoe vocês todos. Vocês que tiverem paciência para me aguentar esse tempo todo e muito obrigado. Deus abençoe vocês profundamente.
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