O meu nome é Estevão Fontoura Ribeiro, eu nasci em Pelotas, em 11 de novembro de 1952.
Entrei na Petrobras em 1986, logo após um curso técnico que fiz na cidade de Pelotas. Abriram inscrições para concurso. Fiz o concurso, ainda em Pelotas, onde faziam os regionalizados, e passei. Fiquei sempre na Refap como operador.
Trabalho na operação. Trabalho na área tomando conta da planta em si. A gente aprende a planta e trabalha produzindo combustíveis. Trabalho numa área com fórmulas e com a trocadora de calor. Conheço também o procedimento operacional das produções e participo direto, dando opiniões e sendo perguntado. Essa é a forma básica de trabalhar do operador. Tem outras coisas que é do envolvimento humano, porque que trabalhamos oito horas juntos, noite e dia, o que é gostoso também.
A alternância de turno é algo bastante interessante. Temos três horários: de oito às 16 horas, de 16 às 24 e de meia-noite às oito. Isso propicia algumas liberdades, porque você pode estar em casa num horário em que outros trabalhadores não poderiam estar. Você pode levar os filhos no colégio e participar da educação direta deles. Pode passear com eles, ir no shopping, por exemplo, que é uma coisa moderna hoje. Você não tem nada para fazer e vai ao shopping com as crianças. Tenho filhos pequenos e o turno propicia essas possibilidades de poder assistir um show, futebol, teatro. Isso é bom. O que mais deixa a gente triste são os horários da noite e de fim de semana. Quando se é jovem, se sofre muito com isso: “Pôxa, uma meia-noite de fim de semana... Todo mundo está indo para o baile, pra festa e eu vou trabalhar”. Mas aprendemos a conviver com isso. Do ponto de vista de remuneração, por trabalhar nesses horários, tem algumas vantagens. Durante algum tempo sofri um pouco, agora já me acostumei. Estou quase no fim de carreira. Gosto de trabalhar em turno.
É muito complexo falar sobre o funcionamento. Basicamente, você tira...
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O meu nome é Estevão Fontoura Ribeiro, eu nasci em Pelotas, em 11 de novembro de 1952.
Entrei na Petrobras em 1986, logo após um curso técnico que fiz na cidade de Pelotas. Abriram inscrições para concurso. Fiz o concurso, ainda em Pelotas, onde faziam os regionalizados, e passei. Fiquei sempre na Refap como operador.
Trabalho na operação. Trabalho na área tomando conta da planta em si. A gente aprende a planta e trabalha produzindo combustíveis. Trabalho numa área com fórmulas e com a trocadora de calor. Conheço também o procedimento operacional das produções e participo direto, dando opiniões e sendo perguntado. Essa é a forma básica de trabalhar do operador. Tem outras coisas que é do envolvimento humano, porque que trabalhamos oito horas juntos, noite e dia, o que é gostoso também.
A alternância de turno é algo bastante interessante. Temos três horários: de oito às 16 horas, de 16 às 24 e de meia-noite às oito. Isso propicia algumas liberdades, porque você pode estar em casa num horário em que outros trabalhadores não poderiam estar. Você pode levar os filhos no colégio e participar da educação direta deles. Pode passear com eles, ir no shopping, por exemplo, que é uma coisa moderna hoje. Você não tem nada para fazer e vai ao shopping com as crianças. Tenho filhos pequenos e o turno propicia essas possibilidades de poder assistir um show, futebol, teatro. Isso é bom. O que mais deixa a gente triste são os horários da noite e de fim de semana. Quando se é jovem, se sofre muito com isso: “Pôxa, uma meia-noite de fim de semana... Todo mundo está indo para o baile, pra festa e eu vou trabalhar”. Mas aprendemos a conviver com isso. Do ponto de vista de remuneração, por trabalhar nesses horários, tem algumas vantagens. Durante algum tempo sofri um pouco, agora já me acostumei. Estou quase no fim de carreira. Gosto de trabalhar em turno.
É muito complexo falar sobre o funcionamento. Basicamente, você tira folga de alguns dias. Hoje, por exemplo, é minha última zero hora, vou tirar uma folga de alguns dias, que a gente chama de “folga grande” e depois volto a trabalhar no 16/24. Trabalho um fim de semana inteiro de 16 às 24 horas, até domingo. Segunda-feira tem uma folga de 32 horas e volto de oito às 16 na terça-feira. Faço três dias e tenho uma folga de mais 32 horas, e entro na zero hora. Essa é tal a zero hora de fim de semana, as horas tristonhas. Você começa na zero hora de sábado – sexta para sábado –, trabalha quatro noites e tira a “folga grande” de novo.
Gosto de trabalhar na Petrobras. Tem empregos bons, do ponto de vista de remuneração. É um emprego sério trabalhar com energia e é do governo. Isso é muito importante que a energia seja estatal. Gosto de trabalhar numa empresa que tem justiça. Uma vez ou outra o governo toma uma atitude mais radical, mas mesmo assim a gente consegue trazer novamente a discussão do que é justo. Sempre existe a possibilidade de resgate do que é bom. Trabalhar numa empresa estatal de energia e, acima de tudo, numa empresa que pode sempre melhorar e dar exemplo para as outras de como aceitar e respeitar um trabalhador é fundamental do ponto de vista estrutural. Isso também produz boas relações. Temos boas relações entre nós. A empresa tem isso dentro dela, uma possibilidade de resgate do que é bom e do que é justo.
Não saberia especificar direto quando começou. Mas as obras de ampliação foram boas. São obras que dão qualidade ao nosso produto. O diesel está no nível de exportação, o HDT, da unidade 300. Não trabalho lá, mas sei como as coisas funcionam. Aumentou a produtividade, o que dá mais lucro e dá um produto de qualidade. Acho que isso vale a pena. A unidade 300 é a unidade de URFCC. É um projeto mais novo de produção de gasolina. Não trabalho lá, mas sei que o forte ali é a produção de gasolina. O diesel que dava ali não servia para a produção. Um HDT se torna diesel e aumenta a lucratividade, porque era um produto que antes não tinha valor de mercado, ele é tratado e já se torna um produto rentável.
Trabalho na destilação. Costumo dizer para alguns trabalhadores novos: “A unidade 01 é minha”. Porque foi a unidade que comecei. Quando acontece alguma coisa fora de padrão, de uma ingerência qualquer, pressinto que não é bom para o trabalho pela experiência. Eu falo: “Vamos com calma aí, vamos ver o que está acontecendo, porque isso aqui é meu”. Nessas palavras, mas numa boa. É um relacionamento fraternal. A unidade 01 é a mais antiga da empresa. Ela sofreu algumas modificações na parte industrial. É algo que deve causar orgulho para nós todos, petroleiros ou não. As partes metálicas foram construídas em aço inox para processar o petróleo brasileiro. Ao fazer essa reforma foi possível processar o petróleo nacional com tranqüilidade, porque as linhas novas e as regiões de corrosão vão suportar por muito mais tempo do que a outra estrutura metálica num permitiria. Do ponto de vista nacionalista é muito bom, porque vamos pegar o nosso petróleo na Bacia de Campos. Isso gera independência e para o país é maravilhoso. A empresa estatal pode gerar mais benefícios para a sociedade. Nesse aspecto me sinto feliz de estar participando. Tivemos agora a parada de manutenção por dois meses. Fiquei praticamente um mês e alguns dias ali e depois fui para a unidade 50.
A parada de manutenção é um período para fazer reformas e adaptações, troca de equipamentos e de sistemas novos, seja da parte de controle ou da parte industrial, para melhorar a qualidade do que se faz. Leva certo tempo, a unidade pára e enche de pessoas trabalhando: caldeireiros, mecânicos e soldadores.
Entrei na Petrobras em 1986. Trabalhava em padaria antes de entrar aqui e estava estudando. Quando entrei aqui já tinha um envolvimento sindical. Em seguida começamos a discutir coisas. Foi final do Governo Sarney, naquele período em que começaram a tirar benefícios e as conquistas da classe trabalhadora. Nesse momento houve o surgimento da FUP. Eu me envolvi e foi muito legal esse período de luta, organização de classe e discussão das coisas que estavam politicamente erradas. Discutimos e fizemos greves. A greve mais forte que tivemos foi em 1995, onde tivemos muitas perdas depois por punição. Fui um dos punidos, mas hoje está havendo o resgate disso. Foi legal ter se envolvido. Lutamos para que o Brasil não fosse entregue às multinacionais, essas coisas. Eu me senti feliz de estar dentro daquilo. Fui uma pessoa atuante junto com os companheiros, como se diz na linguagem sindical. Nunca participei de diretoria de sindicato. Me candidatei e perdi a eleição, mas tudo bem. Gostei, sinceramente, de ter participado. Continuo ativo, mas aqueles foram momentos muito fortes. Hoje me sinto melhor do que naquele momento, porque era muita tensão. Mas a lutamos para que não acontecesse o que estava previsto: a venda da empresa e a entrega do patrimônio. Também lutamos muito durante o período da quebra o monopólio estatal do petróleo. Eu me lembro quando era criança, que o pai me levava ao barbeiro e na parede da barbearia tinha escrito “O monopólio estatal do petróleo”. Mas não entendia muito bem. Depois fui crescendo e lutei para não perder também. Acabamos perdendo o monopólio estatal do petróleo. Gostaria de tentar resgatar isso enquanto estiver na ativa. São coisas interessantes, que nem agora. Estava ali fazendo aquela parte de fotografia e chegou um rapaz, o Itamar, que conheci no sindicato em São Paulo. São momentos interessantes, porque quando estávamos em Minas Gerais no congresso de petroleiros, na época do Collor, lutamos para tirar uma palavra de ordem que era o “Fora Collor”. Foi uma disputa muito acirrada, porque havia colegas que tinham outras idéias para palavra de ordem. Eu estava lutando pelo “Fora Collor” e ganhamos. O Itamar estava lá também. Teve coisas legais de tudo aquilo que falei no início sobre o envolvimento com a luta para não entregar o patrimônio. E agora enxergo o Itamar chegando. As pessoas que lutaram durante um tempo arriscando emprego estão na Petrobras. Acho legal isso.
Eu diria que com a troca de presidente, os sindicalistas da FUP foram mais ouvidos. Muitas coisas mudaram. Hoje se chama o sindicato para discutir. Existe um espaço de diálogo muito maior que resgata muitas coisas, como a readmissão de pessoas que foram demitidas por um arbítrio qualquer ou por estarem envolvidas numa luta. Pessoas que tinham uma vida legal e perderam tudo porque alguém um dia demitiu aquele cara que estava fazendo uma luta sindical, uma greve ou coisa assim. Existem outros agrupamentos, mas quem representa os trabalhadores é a FUP, que é um órgão colegiado eleito em congressos. A relação mudou para melhor. Claro, tem esgotamentos e coisas que não vão se resolver. O que foi feito está feito e não tem como mudar, só se for através de algo político mesmo. Tem que haver discussões políticas para que as coisas mudem. Nem tudo se realiza através da vontade, do desejo da categoria. São discussões políticas e acordos.
Gostei, porque você fez alguma coisa, mas o tempo passa e acabou. Aqui podemos falar o que quiser. Tentei falar coisas que acho mais interessante ou que mais me emocionaram. De repente, se fosse numa outra oportunidade, falaria outras coisas. Mas estou feliz por estar aqui. Acho que vale a pena a empresa produzir estas coisas que envolvem o lado humano e sentimentos. Isso é algo valioso, porque alguém vai ouvir o que disse e vai achar bom ou ruim, mas vai ouvir.
Veio uma equipe aqui na base que escolheu pessoas que estavam dispostas a participar. Eram somente imagens. Fui um dos que participaram. Um colega às vezes falava para mim: “Você está na abertura do documentário do Pelé”. Achei legal aquilo, porque o filme do Pelé é interessante e é bem brasileiro. Naquele dia, na unidade, quando me convidaram para participar, fomos eu e outros colegas. Num dado momento, apareço numa outra situação para um público mais aberto. Estavam lá os colegas petroleiros na cena feita aquele dia e eu apareci no filme. Achei muito legal estar ali. Foi gostoso.
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