P - Vamos lá então, do começo. Qual é teu nome completo?
R - Rogério Chaves dos Santos.
P - Que dia tu nasceu cara?
R - 25 do 12, 78.
P - Aonde?
R - Fortaleza.
P - E Babau? Da onde vem esse nome?
R - Cara... é interessante, né, Babau... primeiro porque é... eu tive vários apelidos, eu... como eu... eu vim das gangue e, né, com 15 anos... 14... que esse ano eu entrei na gangue, com 15 anos eu comandava talvez um dos bairros mais violentos, que foi um dos bairros mais violentos de Fortaleza que era o meu bairro, a Serrinha e no... no que no apogeu do baile funk e eu tinha um apelido de ser chamado de homem elástico... o homem elástico. Por... borracha, né, de se esticar, aí também conhecia uns boneco naquela época, o Super pau, Mulher maravilha e tal... tinha uma coleção e o Homem elástico eu gostava e aí era o Homem elástico e isso... era um apelido mais de infância, foi pra dentro das gangue e as gangue chamou “é o elástico É o elástico É o elástico”. E isso ficou e... é na época... muito sangue de 92, muito... muito envolvimento... um parceiro meu morreu e isso... isso... era... o Rio de Janeiro, a capital do funk, né, o estado do funk e Fortaleza era a capital do funk então assim, tinha época que nós... que o Ceará... Fortaleza era... tinha muito mais... muito mais bailes do que o próprio Rio, muito mais violência do que o próprio Rio. E aí a polícia começou a fazer uma intervenção de.... infiltrar a polícia pra pegar os cabeça, né, das gangue. E aí a nossa gangue a... que era... que era a... várias favelas... várias favelas... e agente começou a se juntar e começou a trocar e mudar os apelidos e de Homem elástico ficou pra Borracha, né, tinha coisa muito a ver, de elástico foi pra Borracha e ficava... e carinhosamente a galera ficava “Babu Babu Babal Bubal”... e ficou Babal, né, e disso passou... foi pra Babal e aí so coroou o... o... quando a minha geração foi toda...
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R - Rogério Chaves dos Santos.
P - Que dia tu nasceu cara?
R - 25 do 12, 78.
P - Aonde?
R - Fortaleza.
P - E Babau? Da onde vem esse nome?
R - Cara... é interessante, né, Babau... primeiro porque é... eu tive vários apelidos, eu... como eu... eu vim das gangue e, né, com 15 anos... 14... que esse ano eu entrei na gangue, com 15 anos eu comandava talvez um dos bairros mais violentos, que foi um dos bairros mais violentos de Fortaleza que era o meu bairro, a Serrinha e no... no que no apogeu do baile funk e eu tinha um apelido de ser chamado de homem elástico... o homem elástico. Por... borracha, né, de se esticar, aí também conhecia uns boneco naquela época, o Super pau, Mulher maravilha e tal... tinha uma coleção e o Homem elástico eu gostava e aí era o Homem elástico e isso... era um apelido mais de infância, foi pra dentro das gangue e as gangue chamou “é o elástico É o elástico É o elástico”. E isso ficou e... é na época... muito sangue de 92, muito... muito envolvimento... um parceiro meu morreu e isso... isso... era... o Rio de Janeiro, a capital do funk, né, o estado do funk e Fortaleza era a capital do funk então assim, tinha época que nós... que o Ceará... Fortaleza era... tinha muito mais... muito mais bailes do que o próprio Rio, muito mais violência do que o próprio Rio. E aí a polícia começou a fazer uma intervenção de.... infiltrar a polícia pra pegar os cabeça, né, das gangue. E aí a nossa gangue a... que era... que era a... várias favelas... várias favelas... e agente começou a se juntar e começou a trocar e mudar os apelidos e de Homem elástico ficou pra Borracha, né, tinha coisa muito a ver, de elástico foi pra Borracha e ficava... e carinhosamente a galera ficava “Babu Babu Babal Bubal”... e ficou Babal, né, e disso passou... foi pra Babal e aí so coroou o... o... quando a minha geração foi toda morrendo... foi toda morrendo eu já vinha curtindo Rap, Hip Hop já... né, já acompanhando esse processo e tal e eu estudava na escola, eu era muito dedicado, na escola era um cara nas rua era outro... na escola era um cara extremamente estudioso, nas ruas era muito violento e dentro da rua eu comecei a ganhar esse conceito, né, social, esse conceito crítico através de um professor que foi me estimulando e... dentro desse processo agente começou a se organizar pra disputar o grêmio da escola, comecei a entender que era necessário se organizar e agente começou a formar e formamos um fã clube de Rap, né, ___________________ aquela coisa toda isso aí, quando começou as fitas... as fitas pequenininha... cassete é?
P - Cassete.
R - Fita cassete... do tipo... já vinha do... de câmbio negro, de Brasília, do _________ de Brasília, Racionais, né, o Raul Seixas de Brasília tocava... aquele febre então... “porra Essa é que agente quer”. E aí a nossa idéia era de fazer bailes e festas e ganhar alimento, levar pro... pro interior pra trocar... pra informar a galera que não votasse no presidente... no governador... tinha toda uma história de viagem mas, tudo conceito político, tudo nós era um bocado de jovens e eu criei dois... dois ambientes, um ambiente de rua, de gueto, de droga, de prostituição, né, de muita onda, muita violência e de um outro lado indo por outro caminho e fiquei nesse equilíbrio e aí quando... de muita treta, né, agente começa a mudar os apelidos... as polícias começa... não saber quem era mais... só que eu tive que... com 17 anos eu engravidei uma menina, que é minha mulher até hoje, né, dentro dos bailes agente se relacionou... engravidei essa menina... e eu comecei a pensar porque... eu... teve finais de semana... teve uma semana que eu enterrei três amigos... né, isso era... “porra Eu vou morrer Eu vou morrer”, eu ficava louco... “o próximo sou eu, o próximo sou eu”... e morrendo todos os meus amigos... minha geração toda morrendo... tudo morrendo... isso me desesperei, entendeu? E continuo me... estudando. E aí nós ficamos sabendo que existia uma... um movimento: o MH2O. E aí a nossa idéia: “vamo entrar nesse movimento e vamo ter a faca e o queijo na mão... vamos se organizar”. E aí... esse outro grupo era uma galera muito massa Uma galera que estudava, uma galera que trabalhava, que... que queria mudar, fazer algo pra nossa comunidade, né, e quando nós formamos isso e entramos no MH2O e ganhamos todo... outro conceito, né, o movimento começou a trazer um... pra nós a questão da luta de classes, né, pobre versus rico que agente não matava... pobre... como é que nós dentro de um baile... dentro de uma favela... brigando por quê? Pra quê? Não fazia sentido... era pobre matando pobre, era preto matando preto... quando ________ e nossa consciência? Aí eu disse “bicho cara Tenho que parar com isso”. Isso foi um choque pra mim... só que... a única opção pra periferia naquele época era os baile funk... então tava no sangue, bicho, via subindo os caminhão, sabe, 500 pessoas... 1000 pessoas... era duas Scania saindo do meu bairro... “pô, aí E...e... aí tudo bem... vou pro baile funk”... comecei a fazer um trabalho inverso, né, eu e os parceiros e fui fazer... fazer um trabalho inverso de tipo... de conscientizar a galera pra não ta se matando. E aí foi... foi indo e só que a treta da rua... tipo assim, é... quem bate... quem apanha nunca esquece, né, quem bate esquece e aí... mesmo assim eu não consegui me livrar do meu passado e tava... muito... muito recente e uma das fita que rolou lá, né, eu... eu... o cara tipo me deu... rolou uma missão lá que um dos... um dos malando bem antigo, era um dos cabeça... muito antigo... um cara muito respeitado... eu era pivete, tinha 15, 17 anos... o cara me deu uma furada... me encurralou, me deu uma furada... e eu peguei um _______ consegui me... escapar. Nessa missão eu fiz um cheiro pra ele, né, eu fiquei chamando um __________ eu fiz um cheiro do queijo pra ele... eu consegui um oitão e pedi um... ele trabalhava no mercantil entregando gás, eu liguei lá e pedi um gás __________ ele descorou... ele veio entregando num carrinho eu cheguei e com o... botei o revólver na cabeça dele e... chegou... “tu vai morrer”. O cão engatilhou... o cão engatilhou... ele __________ pulou eu puxei, o bicho passou entre a cabeça dele e a mão dele, né, eu... eu não matei o cara e ele correu e... “pá Pá Pá Pá”... atirando. E aí nesse processo ficou uma guerra pessoal entre nós... e aí um dos emboscadas que ele deu vindo do trampo e eu entrei numa casa e aí a polícia encostou... foi maior onda e aí... na hora que... pra botar o apelido... a polícia tava atrás do elástico Né? Ela tava atrás do elástico... quando eles... “é o elástico É o elástico”, me acusando. Eu algemado disse “Não”. Aí o policial em cima e baixo... “como é teu nome?”... “ O Babal”. “Ah, tu é o Babal?”... “é”... “tu é o Babal?”... “Sou”... “Cara Agente tava afim de te pegar maior cara”. E fui pra delegacia. Quando chegou na delegacia era... com... e eu fui pra delegacia e ele chegou lá e disse assim “ele é o homem elástico”. Cara Como apelido o elástico tinha uma ficha gigantesca... tinha aleijado um policial, tinha roubado o mercantil, tinha feito tudo isso... coisa que o meu envolvimento era com a trilha da gangue, não tinha nada a ver... não tinha nada a ver com assalto... tinha... agente não roubava... era muito envolvido com a gangue. Eu não me drogava... eu não me drogava... eu era cabrera pra caralho com esse tipo de droga e tal. Então era muito... muito essa questão da violência... então... e aí o... rolou isso e eu disse “não, puxa a minha ficha”. Aí me botaram dentro de uma cela enorme... me botaram dentro de uma cela e os policial “tu que atirou no sargento e tal Peguemos o cara, que meu irmão ta com quatro anos que nós tamo querendo te pegar...”. E aquele coisa e eu lá... “pô lá, bicho”. Aí minhas primas chegou aí quando foram olhar minha ficha... “oh Comissário... Delegado... Delegado, eu tô limpo... eu não to... se esse cara... sou um cara trabalhador... sou aquilo outro, minha mulher chegou, meu sogro era sargento, chegou... ó... olha o meu apelido?”... aí tinha Babal. “Rapaz ta tudo errado Ta tudo errado”. “E olha a ficha daquele um... daquele sem vergonha lá que foi atrás de mim? Que veio dizer”... Quando foram olhar o cara lá tinha... tinha sido pego por tráfico, o cara tinha a ficha toda... extremamente suja... eu reverti o quadro. Nesse processo aí eu disse “meu irmão... parei... parei”. E aí eu já vinha entrando no Hip Hop, né, por exemplo eu ia pro baile no sábado, no domingo vinha baquiado, sujo de sangue e... treinar e quando... quando ________ a formação, nego dormindo e os meninos do movimento fazendo pirâmide social, né, topinho... cinco por cento da população é rica e tal... pirâmide social... nego aprendendo tudo isso... aparelho ideológico do estado... “pra que que serve a escola? Pra que que serve a família?”, entendeu? A família é preconceituosa, ela é patriarcal e tal e tal... __________ conceito político ideológico e eu... sangrando e assistindo isso. E isso... fui ganho pelo Hip Hop... o Hip Hop, né, teve todo um processo de me salvar. Então, eu atualmente... hoje eu to com 13 anos no movimento, né, é... hoje eu sou coordenador nacional do movimento, eu rodei uma porrada de estado já por conta do Hip Hop, ainda moro num bairro extremamente pobre, ainda moro na mesma favela, entendeu? Eu... quando eu entrei no Hip Hop, quando eu ganhei essa consciência social... esse senso crítico... agente começa a fazer um trabalho, né, com a galera lá, com uma porrada de parceiros e agente conseguiu mudar nossa comunidade... quando nós fazíamos o torneio das gangue... que botava dentro... que botava todas as gangue de nossa comunidade dentro de um campo e a galera vinha armada... vinham tudo e nosso juiz que ficava apitando era armado... dia seguinte: “ meu irmão... quer se matar, vai se matar no futebol... se tretar agente vai passar o rodo em vocês todinho”... e assim... porque que agente faria? Por que nós tínhamos uma moral Então assim... dentro do crime... tu conseguir... tu conseguir viver na atividade... um ano... tu veve muito... eu to falando de atividade intensa, ação por ação... intensa. Então, ninguém consegue viver... e nós conseguia viver porque nós... ficava... no pé do crime, andava com os caras, trocava idéia com os caras e fazia um lado bom. Até hoje ainda é assim Ganhamos a moral na comunidade... minha geração toda morre... o Hip Hop hoje talvez, dentro do meu bairro... talvez... é talvez se fosse falar em gangue é a maior gangue, né, em termos de quantidades comparando as outras... os outros bairros... nós somos em média de 50 militantes... 50 militantes ex é... viciados, ex-presidiários, né, ex-homicida, né, é... ex-traficante, né, uns ainda tão no pé no... vício e... né? Então nós estamos querendo trazer isso... “sai sai sai”. ____________ no movimento tinha excluído... que discute político, que discute... né, melhores condições pra comunidade... conseguimos implementar dentro de nosso bairro que “pobre não roba mais pobre”, hoje isso atualmente... então assim, o Hip Hop é... com ele... me salva, salva minha família, salva todo mundo... salvou minha mãe, né, porque... por conta do ataque de coração do meu pai... salvou todo mundo... e salvou uma porrada de gente que poderia ter matado alguém... ou ter me matado... isso tem virado uma bola de neve... então, salva todo um processo e isso é muito bom, né, então assim, hoje a comunidade lá respira isso... ninguém roba ninguém... hoje... é criaram... que estão a lei dentro da comunidade, ninguém roba... ninguém roba pobre... se roubar a negada vai cobrar e tudo. Hoje nós sai de cena... nós sai de cena... nós mal se envolve hoje... conversa com a galera do tráfico... quando agente anda na favela... mora na favela... mas hoje nós... começa a... fazer atividade em outras comunidades... tentando organizar a comunidade como nós aqui... como o nosso bairro hoje tudo... então essa é a história do Babal...
P - Ahan... é? Muito bom meu... foi muito bem Eu... já larguei minhas perguntas aqui... não vou seguir aquilo ali pra tu não... de tu eu quero saber uma coisa cara... Tu veio pra vida pra fazer o quê?
R - Pois é E ó... e assim... nesse sentido é interessante por que... é... por exemplo... eu acho que nada é por acaso entendeu? Nada é por acaso... então assim... eu tive uma escolha e... isso eu falo isso pra minha mulher, eu falo pra qualquer... qualquer um... “ meu irmão tu tem uma opção bicho... tu tem opção... tu quer ir pro tráfico vai... tu quer fumar tu fuma meu irmão... não quer... tu não quer”... entendeu? Então assim... sempre agente tem opção... só que a maioria das vezes agente não tem opção... porque ninguém chega pra dar uma opção, né, e você ____________ ou você acha que a única opção é aquela... e eu hoje, por exemplo, quando... quando... eu tenho uma chance de... de chegar pra um irmão... trocar uma idéia... dar uma idéia... é porra... é... ou cantar o pau tal... ___________ uma pessoa ou pra uma escola... bicho... isso dinheiro nenhum vai comprar... dinheiro nenhum vai comprar... ta entendendo? Que é... pô... agente poderia... poderia tar muito bem hoje... com carro... com nosso apartamento, ganhando uma grana... poderia ter sido dinheiro pra qualquer político... pra qualquer partido... Tó Tranqüilo... agente é assediado o tempo todo... eu disse “não bicho... não vou me vender porque eu tenho uma consciência... eu tenho uma ideologia”... entendeu? Movimento me deu isso, as ruas me deu isso... então... se eu faço isso, né, quem vai ser que... os militantes da Tiradentes? Que ta aqui o Doidera, que é um irmão que tem um irmão que ta dentro do PCC... poderia tar seguindo, né, o crime... não ta... ta dentro do Hip Hop, ta... organizando o Hip Hop em São Paulo, o Hip Hop militante... não é aquele Hip Hop comercial... então... por conta... por conta de um trabalho tal... então assim isso acho... isso que é o significado da vida ta entendendo? Irmão de você fazer... eu to vivendo pra dar a vida a essa pessoa... que essa pessoa vai dar a vida a outra e vai dar a vida a outra e vai dar a vida a outra e isso é uma bola de neve. Então dentro do Ceará, que é o meu estado, pra lá tem... quando nós comecemos... isso come... no nosso bairro então... repente eu tava em outra quebrada... puxa nós tava em outra quebrada e era um coletivo de bicicleta e puf puf puf... palestra... apresentando, dançando, cantando... então pois era... até hoje tem irmão nosso... chegou na comunidade pra pedir um autógrafo e assim... “não... mano, não”... “dê cara... dê porque esses cara aqui não vê nada e ta vendo... ta vendo coisa legal... pro deles... não frustra... não frustra... não frustre”... então os irmão dão... então... assim... então, eu acho que agente tem um papel muito massa entendeu? Esse processo de... desenvolver... talvez... vim pra vida com um pouco disso, né, por exemplo... vim pra vida foi... quando eu ganhei esse senso crítico... convencer meu pai e minha mãe... que... que... tinha de parar com aquele conservadorismo... que minha irmã... minha irmã mais nova é lésbica... e eles entender que... que isso é uma opção sexual, tem que ser entendido, ta entendendo? Então assim... a minha mãe, meu pai... com tanto tempo começou aprender isso então... o sentido da vida, né, se voltou, né, o meu pai é um cara extremamente conservador e hoje um... não gostava de morar na favela, veio morar na favela, né, tem um respeito pela própria comunidade... ele mesmo conquistou isso e entende de política pra caralho, entendeu, entende muito de política... pô nós... respira política... participa da vida da comunidade... é... porra... hoje... “pai, tem que votar num partido de esquerda... tem que votar num candidato de esquerda... esse candidato de esquerda... é esse aqui pai... por isso, por aquilo, por aquilo outro”... “mas nem conheço ele”... “não precisa conhecer não pai... o... ele é assim, assim, assim... o programa é assim”... entendeu? Pai... “não, é realmente e tudo... “, então assim... o pai... as vezes eu chego com uma pessoa... meu pai é analfabeto, minha mãe é analfabeta... então assim... e hoje... por conta que fizemos isso, por conta que agente teve um processo, então assim... tive uma chance de viver de novo. O Hip Hop, né, o MH2O me deu uma chance de viver de novo... se ele me deu uma chance de viver de novo... então o seguinte, essa chance vai ter que ser passada... “pega o bastão irmão... ta contigo...”.
P - Legal mano... Me diz um lance só que eu não entendi? O MH2O... é isso?
R - Hum hum.
P - Ceis tem uma atuação com o esporte também? Por que... era...
R - Sim.
P - Tu não falou de esporte, né, e pra mim era tudo voltado pra isso aqui...
R - Isso... e... isso... assim o MH2O por... aí... agente trabalha com o Hip Hop, né, a... e dentro... 2006... 2006... o... o crack... o crak... é tava dentro do Ceará, acho que já faz uns 13 anos... 13, 15 anos, né, então o crack deve ser um... ta virando jovem agora... e já matou geral... testou a periferia... todo mundo... pivete ta fazendo boquete por dois conto, né, irmão roubando irmão... ta aquela onda, entendendo?.... o cara se prostituindo... um homem garotão, malandrão... ______ o cara deve ser antigo... o cara se vendendo o corpo... pra fumar crack... _________ como é que pode um cara antigão... e... e vacila... vacila pra pedra? Então assim, começou toda uma epidemia... o crak avança do interior... no sertão, imagina, o cara vendendo o seu único transporte... o único meio de trabalho... a sua enxada... a sua enxada... __________ o cara vendendo a sua enxada pra comprar crack, velho, então... ó como chegou... e ninguém vem discutindo nada, ninguém fazia nada, ninguém abria o debate... poder público... ninguém, a organização, ONG, ninguém. E aí agente trocando idéia... “e aí bicho? Nós tem que fazer essa idéia aí né irmão... nós tem que fazer alguma coisa... fazer alguma coisa...”. E foi na época que tava rolando maior onda do basquete de rua... aquela onda toda e tal... e dentro do Ceará não tem essa cultura do basquete... São Paulo tem pô... tudo Hip Hop tal, aquela coisa, né, aquela coisa assim mais americana e no... lá nós não tinha... tinha cara que jogava e tal... nos organizado... tava batendo bola mas, predominantemente o esporte da... dentro... era o futebol, ta entendendo, era o futebol... e agente “porra bicho”... e rola... rolando umas... e um irmão nosso que é do movimento, né, o Cristal... o Cristal fazia todo ano torneiozão de pivete, de piveta e tal... o cara sozinho ele articulava toda a comunidade... e disse “bicho”... e aí... nós trocando uma idéia... e aí... isso foi idéia não de uma pessoa... parece assim... parece uma coisa muito... muito é... muito mágica... por que tava num dia certo, numa hora certa, né, tava um... pessoas de vários bairros discutindo e batimos o martelo e deu um... um starte E agente fez um... vamo fazer uma campanha de combate ao consumo... com esporte de rua... e agente fez com o futebol de travinha, né, futebol de travinha... “ta feito Futebol de travinha”... “vamos fazer?”... “vamo... futebol de travinha”... as regras da rua, entendeu? Então nos comecemos a... fazer uma metodologia que as ruas tem problemas e as ruas também tem as soluções... a solução tava lá... tava lá a rua... então assim... nós passava e via os pivete com... com duas garrafa PET... “bota num rachão na rua”... agente passava tinha lá os pivete ba... com dois tijolos, né, agente chegava na quadra lá tava lá o cara tirando um sapato... tirando o sapato e falando... e contando “um, dois, três... ó três passos, o que importa os passos sou eu, né, eu tenho os pés muito grande”... e tal, e fazendo com isso... porra Oh... dez... dois é... um gol... dez minutos é um gol... por isso... porra ... e isso na rua Os cara bicho... ta aqui E o que que nós fizemos, peguemos o esporte de rua, futebol de travinha... fizemos dois eixos: primeiro, futebol de travinha... vai ser o dia todo... o som é Rap rolando e a galera cantando... puf nós fazendo... e fizemos um folderzinho falando sobre o crack... que que o crack fazia... é... é... a... em poucos segundos... cinco segundos ela... ela tá no seu cérebro... o mal que acontece e isso aquilo, aquilo outro... uma campanha de prevenção e isso rolando rachão, os Rap cantando, o som rolando, o futebol de travinha rolando, ta entendendo?
P - Ahan.
R - Então assim... esse era o primeiro eixo: informar. Segundo eixo... segundo eixo: pressionar o poder público. E nós fazia um abaixo assinado pancada, uma discussão pancada... assim ó “ta aqui Precisamos de clínica de desintoxicação urgente Já irmão... já”. Isso 2007... bicho Fizemos isso e mobilizemos várias comunidades... do bem do nada fechemo uma rua... ta fechemo uma rua... ta lá no meio da pista... meu bairro ti... tem quadra mas nós fizemos no meio da rua que era pra galera entender que... quando você quer irmão não precisava depender do governo... depender a... dependia de tu fazer... era como tu... talvez esse era o terceiro eixo, né, estimular o militante, estimular as pessoas que ela pode fazer... ela é aquela andorinha que pode fazer algo... que esse... tinha aquele ditado “uma andorinha só não faz verão”... faz irmão Faz a parte dela... ela faz sua parte. E aí as comunidade (bvraah)... meu irmão foi pancada... gente de um lado, gente do outro, tinha comunidade que não tinha nem pista elas... nem quadra, não tinha porra nenhuma e campo... era um... um barro, uma poeira... e aí... como é... como é que uma dança de rua vai entrar? Ah o cara “não meu irmão... calma aí calma aí”... o cara ia, que é um morador da comunidade que não era do movimento, não era da __________ ia lá trazia o tapete dele e botava no chão mano... aí eu disse “porra bicho”... ou “cara bicho tava precisando de um som”... ou “o som ta baixo”... “não, pêra aí que eu vou pegar uma caixa”... “onde é que tem uma caixa”... o cara vinha “oh... oh...” com a caixa nas costas e o sonzão atuando, futebol de piveta rolando... futebol de pivete rolando... os adultos jogando e a comunidade toda rolando e os irmão cantando Rap e sabe aquela interação... uns fumando, outros bebendo... aquela comunidade... mas e nós tocava... e politizando... e politizando... então dentro de 2007 rodou 25 bairros... 2008 nós de novo... 2008 nós avança com a política pública. Conscientizemo todo mundo... e todo mundo... a cidade... começou a discutir... as organização começou a discutir... tem um problema: é o crack... tem um problema: é o crak... o povo foi pro crack... e nós discutindo... por isso que a nossa central é de dentro da rede. E aí hoje nós temos uma metodologia... nós tem é uma campanha chamada Crack versus Craque... _______________ é um trocadilho, é crack versus craque... que é dança de rua, basquete de rua e futebol de rua que é o futebol de travinha, então assim... então 2007 nós começa a entrar pesadamente dentro do esporte... mas com essa função, né, com essa função... não com uma função de... de marca ou de grana mas com a função extremamente social... então 2009 nós começa a avançar... quê que... e hoje a metodologia... hoje ela muda, né, nós avançamos a metodologia mudou... então... primeiro dia nós mobiliza toda a comunidade, sabe, poder público, posto de saúde, escola, diretor, empresa... quem quer Bota dentro de uma sala, seja lá o que for... uma discussão sobre a droga... sobre os avanços da droga e soluções. Faz uma nota... um documento... esse aqui... é o que a comunidade ta propondo pra combater o avanço do crack. E outro dia, que agente chama de dia D, é um dia de competição... um dia de festa, que os artistas da comunidade vão cantar, falar sobre música temática... é um dia que vamos celebrar a vitória e o dia que o jovem é... viciado não vai estar fumando porque vai ta jogando, que vai ta ouvindo música boa... então essa é a nossa metodologia e que agente talvez é... até apresente amanhã...
P - Porra... mandou muito bem, Velho. Obrigado Babal... mandou benzasso.
R - Massa... massa... massa...
P - Pelo papo aí...
R - Brigadão...
P - Valeu.
FIM.
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