IDENTIFICAÇÃO [Meu nome é] Ivan Dantas Mesquita Martins, Dantas de Sergipe, Mesquita Martins do Ceará. Nasci no Rio de Janeiro, nesse bairro de Botafogo, em 13 de dezembro de 1958. FAMÍLIA [MInha mãe chama-se] Terezinha Dantas Mesquita Martins e [meu pai] Eudes Mesquita Martins. Eles são médicos. Minha mãe é sergipana e meu pai é cearense. Se conheceram aqui no Rio, estudando, uma coisa muito interessante... Minha avó, mãe da minha mãe, foi cliente do meu tio, irmão do meu pai, que era médico. Estudava também aqui no Rio, era cearense. Aí quando ela se restabeleceu de uma cirurgia, como era hábito na época, o médico da família foi chamado para almoçar em casa, e ele levou o meu pai, como contra peso. Porque ele morava aqui numa pensão, aqui no Centro do Rio, e falou: “Pô, comida de graça, vamos lá.” (risos) Aí chegou lá e conheceu a minha mãe. Se engraçaram, namoraram e casaram. Vieram a casar, e eram colegas de faculdade e não sabiam disso. [Estudavam] na antiga Medicina e Cirurgia, que hoje é a Unirio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro]. Ele veio com 18 anos para cá, para fazer vestibular, o irmão já estava estudando medicina, e ela veio também com a família para se estabelecer aqui. Vovô, pai da minha mãe, era militante do partido comunista, a minha avó também era militante do partido comunista, então tinham uns probleminhas aí da esquerda e tive que viajar às vezes, meio que forçado. Essa vinda para o Rio foi meio [para]... saírem do foco de uma desavença política lá em Sergipe. Conheci todos [os meus avós], menos dos da parte do meu pai, porque o meu pai é o filho mais novo de 14 irmãos. Ele está com 79 anos, é o mais novo de 14 irmãos, então é do século passado. A família dele [é] do interior do Ceará. A minha avó e o meu avô não, são mais recentes e viveram muito. Meu avô morreu com 94 anos, minha avó morreu mais cedo, com 70 e poucos anos. Era...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO [Meu nome é] Ivan Dantas Mesquita Martins, Dantas de Sergipe, Mesquita Martins do Ceará. Nasci no Rio de Janeiro, nesse bairro de Botafogo, em 13 de dezembro de 1958. FAMÍLIA [MInha mãe chama-se] Terezinha Dantas Mesquita Martins e [meu pai] Eudes Mesquita Martins. Eles são médicos. Minha mãe é sergipana e meu pai é cearense. Se conheceram aqui no Rio, estudando, uma coisa muito interessante... Minha avó, mãe da minha mãe, foi cliente do meu tio, irmão do meu pai, que era médico. Estudava também aqui no Rio, era cearense. Aí quando ela se restabeleceu de uma cirurgia, como era hábito na época, o médico da família foi chamado para almoçar em casa, e ele levou o meu pai, como contra peso. Porque ele morava aqui numa pensão, aqui no Centro do Rio, e falou: “Pô, comida de graça, vamos lá.” (risos) Aí chegou lá e conheceu a minha mãe. Se engraçaram, namoraram e casaram. Vieram a casar, e eram colegas de faculdade e não sabiam disso. [Estudavam] na antiga Medicina e Cirurgia, que hoje é a Unirio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro]. Ele veio com 18 anos para cá, para fazer vestibular, o irmão já estava estudando medicina, e ela veio também com a família para se estabelecer aqui. Vovô, pai da minha mãe, era militante do partido comunista, a minha avó também era militante do partido comunista, então tinham uns probleminhas aí da esquerda e tive que viajar às vezes, meio que forçado. Essa vinda para o Rio foi meio [para]... saírem do foco de uma desavença política lá em Sergipe. Conheci todos [os meus avós], menos dos da parte do meu pai, porque o meu pai é o filho mais novo de 14 irmãos. Ele está com 79 anos, é o mais novo de 14 irmãos, então é do século passado. A família dele [é] do interior do Ceará. A minha avó e o meu avô não, são mais recentes e viveram muito. Meu avô morreu com 94 anos, minha avó morreu mais cedo, com 70 e poucos anos. Era uma figura muito interessante. [Chamavam-se] José Chaves Dantas e Melânia Silveira Dantas, ambos eram militantes. A minha avó foi, inclusive, envolvida com a Liga das Mulheres do Brasil, era amiga de Jorge Amado. E eles eram separados. Quando a minha mãe [se] formou, meu avô saiu de casa. No dia seguinte que ela formou, ele saiu de casa. Já vivia muito tempo dentro da mesma casa, mas não maritalmente com a minha avó, e aí, teve essa opção. Naquela época era muito difícil você tomar essa opção. Tomou, e aí a minha avó tinha a trajetória dela e ele a trajetória dele. E continuaram assim. Muito interessante. [isso] pesou muito para mamãe, essa questão de ter os pais separados. Ela veio resolver isso com a análise depois de muitos anos (risos). Mas é um negócio muito interessante. A família tipicamente nordestina, a culinária lá de casa é toda nordestina. Tenho três irmãos. Eu sou o mais velho, dois anos, sempre dois anos, porque é um critério médico (risos). Então eu tenho o meu irmão Celso, que é médico também, tem a Denise e a Deise. Ambas são professoras. A Denise foi bailarina, foi do Corpo de Baile do Municipal. INFÂNCIA Nós fomos criados num bairro do subúrbio, chamado Lins de Vasconcelos. Na época era um bairro de classe média. Depois fomos para o Méier, que era um bairro próximo também, emergente, um bairro interessante na época, tinha colégio, tinha tudo. O primeiro Shopping do Brasil, segundo eles diziam, foi no Méier, tinha Bob´s, tinhas essas coisas que são hoje corriqueiras, [e que] eram inovações. A gente andava o bairro todo. Tinha a Cultura Inglesa, tinha o colégio de qualidade, tinha o clube, que era um clube que a gente fazia natação. Sempre fui obrigado a ter um esporte, lá em casa isso era obrigatório. Eu lembro, a minha irmã mais nova, era preguiçosinha, perguntava se piano era esporte (risos), porque fazia piano e queria que isso fosse esporte para não fazer nada (risos). Então, as meninas enveredaram para balé e a gente enveredou para a natação. Depois fomos [para a] Barra da Tijuca, que foi uma coisa conseqüência natural da classe média da Tijuca, do Méier, se mudar para a Barra da Tijuca, enquanto casa de veraneio. A Ilha do Governador era um lugar [em] que papai levava a gente para tomar banho de mar. Mas eu lembro de papai falando do petróleo, tirando gasolina do tanque do carro para limpar o pé da gente, falava: “Olha, essa praia não está prestando mais (risos), vamos sair daqui.” Porque aquilo ali era uma maravilha, La Côte d’Azur do Rio de Janeiro, quer dizer, era maravilhoso, a gente pegava mariscos. Lembro da gente pegando mariscos na Ilha do Governador. Essa questão da deterioração da Baía de Guanabara é um negócio muito presente, para quem vivenciou. Aí tivemos que ir para fora da Baía, Barra da Tijuca, [que] é uma Barra do Rio Tijuca, e aí começamos a freqüentar a Barra e muitos amigos de papai compraram casas num condomínio na Sernambetiba, e nós compramos. Naquela época a Sernambetiba não tinha nem asfalto. Aliás, Sernambetiba tinha asfalto, era uma pista só, com asfalto. A [avenida] Airton Senna, era pontilhão de madeira, gado andando, e a gente ia, era um fim de semana mesmo assim. Marapendi, que hoje é pertinho, era longe pra caramba, era muito longe. (risos) A infância foi maravilhosa. Nós morávamos numa vila, num contexto muito interessante. Uma vila, de casas novas, [em] que uma porção de profissionais liberais, no começo de carreira compraram as suas casas. Tinha 25 casas, eram de três quartos, casas amplas e com famílias razoavelmente numerosas: três, quatro, crianças por casa. Era uma zona federal, era criança pra caramba, briga pra caramba. Tinha uma festa junina maravilhosa, que tinha quadrilha dos pais, quadrilha dos jovens, quadrilha das crianças. Era um negócio muito interessante, e pessoas de várias matizes, militares, advogados, depois chegaram juízes, médicos, bancários. Era a classe média mesmo, uma coisa mesmo da formação do momento que a classe média estava se estruturando no Brasil. Eu lembro que me pareceu isso, não sei se era isso exatamente. Mas foi muito gostoso. A minha casa era sempre muito nordestina. Papai era o último filho de 14. [Ele] era muito sisudo, muito carinhoso, mas muito sisudo. Fazia carinho à noite. Tem um negócio muito interessante, que ele vinha enrolar a gente, à noite, e a gente pedia... (choro). [Era] essa coisa da família nordestina, de papai chegar, de carro, era obrigação nossa – [embora] nunca ninguém tenha dito – dar um beijo nele. Essas coisas da vivência. [Mas tinha muita] disciplina. Tinha que estudar e dar conta do recado. Não precisava ser gênio não. Essa coisa sempre foi colocada: “Olha, não precisa ser gênio não. Da média para cima está bom. Ninguém precisa ter expertise, aqui em nada não. “Agora, tem que cumprir seu papel. Tem que fazer as suas coisas. Tem horário pra tudo.” E mamãe trabalhava. Tínhamos atribuições, todo mundo tinha que saber fazer a sua cama. Mas a gente nunca fazia (risos), mas sempre tinha que fazer. Papai batia na gente. Ele tinha essa coisa, ainda antiga, ele tinha correia. Eu me lembro de duas surras (risos), bem merecidas, uma muito interessante, essa coisa bem nordestina, do castigo. Eu e o meu irmão brigamos e ele pegou um cinto, um cinturão, [por] coisa de adolescente, que hoje em dia a gente acha horroroso, mas a casa era pintada com tinta a óleo – a porta tinha um detalhe de cor no meio, eu lembro bem disso – [estava] novinha. O meu irmão veio e eu saí correndo, me tranquei no banheiro, aí ele veio com cinturão, aquele cinturão de calhambeque, sei lá o que era aquilo, tacou na porta: “Pam, pam, pam.” Foi abrindo a porta assim, estragando a pintura toda da porta (risos). Chegou mamãe, [ele] só falou: “Foi aquilo, uma cena degradante, dois irmãos brigando...” Aumentou um pouquinho. Papai também não se abalava, falava: “Subam os dois, aguardem lá que eu vou jantar, ver o jornal...” Era o Repórter Esso, naquela época. E o interessante era a nossa discussão: “Pô cara, como é que a gente vai fazer? Quem é que vai apanhar primeiro, (risos) quando ele estiver te batendo, pede pra ele parar.” (risos) Aí ele vinha, [era] muita cena, muito teatro aquilo tudo, aí evoluiu pra bolo, com chinelo, assim: tá, tá, tá, dois bolos pra cada um. Ele sempre batia. Uma coisa que eu aprendi, existe tecnologia para isso, de médico. [Ou seja], bater calmo, nunca no impulso, e saber o que está fazendo, e sempre bater nas pernas. Meu pai nunca deu um tapa no rosto. Eram três pancadas e tal, tal, tal: “Vai pra cama dormir.” (risos) Entrava muito mais moral, mais do que qualquer outra coisa. A surra que a gente recebia era uma coisa, tinha: “Não faz mais isso.” FORMAÇÃO [Fiz] engenharia florestal. Foi uma decisão muito imatura, não teve nada de excepcional. Eu ia fazer medicina, filho de médico, ia fazer medicina. [A expectativa era] minha. Meu pai sempre foi muito liberal com isso, muito mais que eu, inclusive. Eu ia fazer medicina porque eu achava que ia fazer. Eu achava que ia fazer pediatria, porque eu adorava criança. Aí fiz um vestibular, inclusive, na Bahia no segundo ano de Científico. A gente tem família na Bahia, passava as férias lá sempre. “Ah, tem um vestibular na Católica da Bahia, vai fazer.” Fiz, não passei, não tinha nem completado o segundo grau, e vim pra cá com aquilo, mas também não interessava muito não. Aí comecei a fazer Cesgranrio, na época, pra medicina. Tinha uma namorada, a gente namorava, achava que a gente ia ficar juntos para o resto da vida. E aí falei: “Olha, tem a [Universidade Federal] Rural [do Rio de Janeiro], a Rural é um negócio interessante, porque a gente mora lá (risos), resolve os problemas todos (risos), a gente fica morando junto.” (risos) E eu, com 17 anos, ela tinha 18 anos e aí, aquela história, terminamos o namoro. E eu já tinha conhecido a tal da engenharia florestal, fui ver que curso tinha na Rural, aí fui ver a engenharia florestal. Engenharia florestal, para mim tinha um desafio, que era matemática. Eu sempre fui ruim em Matemática, era o desafio. E tinha uma coisa que eu adorava, que era toda a botânica; toda a zoologia; toda a parte de indústria madeireira, estudo da madeira, como um todo; a parte de ecologia, que era, assim, lateral, estava ainda começando, era nova; a parte toda de zoologia, principalmente, que eu gostava muito. [Isso eu já gostava] desde criança. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇA Eu sempre fui muito bom em Geografia, História e Biologia. Sempre fui o primeiro aluno em História, e em Geografia eu também era muito bom. Tem uma passagem, na época profissional, já, na Rural, aliás, nós trouxemos um palestrante, o Doutor Célio Patero. Eu era do Diretório dos Estudantes, tinha o movimento estudantil, aquela coisa toda, aquela luta toda, e fomos lá buscar o Célio Patero em São Paulo, que era o dono da Manasa, uma grande madeireira. Pegamos um trem, de noite, aqui, eu e o colega, só com dinheiro pra comer pastel em São Paulo, dinheiro do Diretório. Fomos lá, com a cara de pau, falamos com o Secretário do Meio Ambiente de São Paulo. Chegamos lá e demos sorte, aí ele marcou a entrevista com o Lupatelli. Aí, pegamos um ônibus e fomos falar com o Lupatelli, ele ficou admirado com a nossa odisséia e falou: “Vou dar uma palestra pra vocês.” Aí pegamos um ônibus de volta, o “Cometão” de volta, viemos para o Rio, com mais um pastel com caldo de cana (risos). Eu me lembro bem, [um] blazer emprestado, porque a gente não tinha blazer. O Lupatelli veio para falar essa coisa de Geografia, veio fazer uma palestra. O grande negócio na época era Manejo Florestal Sustentável, se falava nisso, e a Ásia era o lugar onde se fazia isso, que não fazia nada, [era] conversa mole, mas tinha toda uma metodologia. Enquanto ele falava de Malásia, Cingapura, eu fui mostrando na transparência os países todos e ele falou: “Olha, é a primeira vez, que numa palestra, alguém acerta onde são esses países.” (risos) Porque não tinha nome [nem] nada marcado, eu marquei, por causa do meu interesse em Geografia. FORMAÇÃO / MILITÂNCIA Eu gostava muito de Geografia, cheguei a saber todas capitais da África, os países da África, as capitais da África, da Europa. É muito do meu avô isso. Meu avô conhecia a Segunda Guerra Mundial, com todo o avanço da frente alemã, da frente russa, então, os moleskines, até chegar em Stalingrado. Ele acompanhou e conhecia isso tudo. Sempre falava disso com a gente, falava da Segunda Guerra. Isso era muito interessante, era fascinante pra gente. [Meu período de faculdade] foi muito bom. Eu me consolidei como cidadão. Cheguei um garoto, 16 pra 17 anos, meio que por acaso. Eu não conhecia a Europa. Quando eu cheguei lá fiquei abismado, “Isso é a Universidade”. Aí me transformou, de garoto em cidadão. Ali que eu tive a minha vivência toda. Aí com o movimento clandestino, de esquerda, a gente tinha uma ligação meio que esquerda com o MEP, Movimento de Emancipação do Proletariado, era uma tendência marxista-leninista, mais dura, mais da esquerda, e aí a gente foi para o Diretório e nós criamos o Centro Acadêmico de Engenharia Florestal. Inclusive o [José Eduardo] Dutra, que foi o Presidente da Petrobras, era nosso contemporâneo, ele fazia Geologia na Rural e ele era a liderança da Geologia, que era um curso muito avante, em termos de política. O que tem o [curso de] direito de atrasado, atrasado no meu ponto de vista, de direita, tem a Geologia sempre muito a frente. E eu me lembro do Dutra, eu garoto, ele era mais velho, a gente chegando ao Diretório, depois que eu fui saber que era o Dutra, não ligava uma coisa com a outra, de jeito nenhum. Careca hoje, sem barba; ele era cabeludo, com barba, e eu também. E ele falava pra gente como é que tinha que fazer, o que ele tinha feito no Centro de Estudos de Geologia e que não podia ser Diretório, tinha que ser Centro de Estudos, porque não podia se chamar Diretório. Agente ia fazer Centro de Estudos de Engenharia Florestal. Ele explicou como é que fez, como é que não fez, numa noite meio escondida dentro do alojamento da Rural, aquelas coisas de conspiração, aquelas coisas todas (risos). E foi uma vivência enorme disso, saímos fazendo greve em partes do país. Fui ao Paraná pra ensinar o pessoal a fazer greve, que não sabiam fazer greve: como é que faz contato com a Imprensa, comissão de Imprensa, aquelas coisas de greve. Meu avô era vivo. Ele adorou [isso tudo], mas ficava meio quietinho porque meu pai era sempre um cara de direita, era uma pessoa séria, de direita, que acredita naquelas coisas. Papai era um cara desses. Então, ele não falava muito não (risos), mas ele gostava. A mamãe era uma mulher de esquerda, casada com homem de direita. Ela no meio todo, dessa coisa de esquerda, ela foi ser médica para prestar serviço. Meu avô disse: “Se sua mãe não casasse...”. Era aquela ideia que ela tinha que casar: “Se ela não casasse, a gente estava andando o mundo todo, fazendo medicina. (risos) E ela se prestaria a isso, não tenho dúvida não, porque era uma doação total, até hoje. Eu só estudava, e a Rural tinha essa coisa de você ficar lá o tempo integral. E era classe média, quer dizer, essa coisa de revolucionário de classe média. Foi importante, sem dúvida. [A classe média] não faz o movimento, ela faz o começo, é o estopim e se não tiver a massa junto não sai nada. Me formei em 1981, com um ano a mais do que devia. Com essa dedicação ao movimento estudantil, a estudar Lênin, Marx, Mao e outros bichos mais, a gente realmente largava a matéria, e eu era meio irresponsável, mas meu pai nesse ponto também [dizia]: “O problema é seu, já está dado o start, vai tratar da sua vida.” Tive muito isso também, recebíamos um salário mínimo mais ou menos, que eu recebia por mês e tinha que me virar com aquilo. [Participava] do movimento, mas nunca fui filiado a nada. Era uma visão meio anarquista a minha. Eu sempre apoiei o PT [Partido dos Trabalhadores], desde que era PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], desde que era o Eudes, era aquele outro de São Paulo, que saíram depois, era o Olívio. O Olívio [Dutra] eu conheci em Brasília, ia buscar no aeroporto, uma figura fantástica, que eu boto no nível do Lula, assim, em termos de admiração. [Mas] filiado nunca fui. O pessoal já [estava] voltando, eu me lembro muito quando voltaram os primeiro anistiados. Nós fizemos uma festa enorme na Rural, era um negócio muito interessante. A Rural realmente foi uma escola de vida, fantástica. PRIMEIRO EMPREGO [Me] formei em 1981. Fiz uma prova dentro da Universidade. Tinha um professor, que era o Professor Roberto Sanmarino Mercado, hoje ele é Diretor da FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], em Roma, e ficou muito amigo meu. Mas ele era um cara de direita e eu era petulante a ponto de discutir Economia Florestal com esse cara, dentro da sala de aula. Ele era o único cara no Brasil que dava aula de Marketing de Produtos Florestais de Inteligência de Mercado, essa coisa que ele trouxe, e eu era bom nisso, entendia disso, aqueles termos todos de preço, CIFs [Cost Insurance Freight], FOBs [Free On Board], isso tudo são nomenclaturas do mercado internacional. E o IBDF [Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal] estava precisando botar novas madeiras no mercado internacional para viabilizar a floresta. Nossa floresta tem centenas de espécies, e se você ficar trabalhando com [uma] espécie, você se quebra, você tem que trabalhar com muitas espécies, senão você não viabiliza aquela floresta, ela fica com capacidade de competição nenhuma, até com gado. Então você derruba a floresta por causa disso, porque ela não tem vantagem comparativa para você manter com gado, que é o pior uso que você pode dar a uma terra da Amazônia, por exemplo. Mas o ganho é da floresta. Então, a idéia era aumentar o número de madeiras comercializáveis, conhecer essas madeiras. Fizemos um trabalho enorme de tecnologia de produtos florestais e o IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas] entrou conosco, e o Roberto falou: “Óh tenho três vagas lá, vamos fazer uma prova aqui, pra eu ver quem dos meus alunos vai pra lá.” Fiz a prova, tirei em terceiro lugar, por conta do inglês fraco. Aí ele me chamou: “Olha, você vai pra Brasília, trabalhar lá.” Falei: “Vem cá, eu tirei em terceiro.” fiz essa pachorra ainda, “Como é que eu estou indo em primeiro lugar?”. Ele falou, “É que eu preciso de um idiota comunista pra trabalhar pra mim lá.” (risos). Depois chamou os outros dois colegas, vieram também, e aí ficamos os três lá em Brasília, para trabalhar. Então foi dessa forma que foi o primeiro emprego. [Eu tinha] 21 anos. TRABALHO / CASAMENTO Fui pra Brasília, tranqüilo, fui num 707. Foi a primeira vez que eu andei num avião comercial, porque eu tinha andado num 747, num C47 da Aeronáutica, num Búfalo, mas nunca tinha andado em um avião comercial. Então fui num 707, de terno e gravata para Brasília, muito gozado. [Fui] falar com o cara lá, para assumir. Eu fiquei pouco tempo. A minha mulher atual, nós éramos namorados, foi pra lá, morar comigo na república. Eu conheci ela no ônibus, paquerando no ônibus (risos). [Foi] uma linha que já acabou, era 235, era Lapa – Lins de Vasconcelos. Eu vinha paquerando no ônibus. Aí no Grajaú, ela entrou, uma loira de olhos verdes, um olho verde meio caramelo, toda queimada de praia, um cabelão loiro e falei: “Ah não, não vai sair sem...” Aí falei: “Ah, eu queria falar com você”. Ela: “Tô descendo.” “Eu desço também.” Aí desci atrás. [Ela se chama] Márcia. Não começamos [logo] a namorar porque ela tinha um namorado. Ela teve que acabar esse namoro ainda (risos), e aí depois, começamos a namorar. Aí são quase, 26 anos. Ela foi morar comigo em uma república. Era um apartamento do Banco do Brasil, de um cara. Hoje todo mundo fala dessa coisa de Brasília, que fazem e que acontecem. O Banco do Brasil alugava apartamento para o camarada, de quatro quartos, numa quadra privilegiada, e o cara tinha uma casa no Lago, funcionário do Banco do Brasil. Aí falou: “Fulano”, para um amigo meu, “vai para lá que eu não tenho armário embutido, eu vou guardar, vou manter esse apartamento, vocês pagam o aluguel e só não podem usar o armário embutido porque...”. Fizemos uma república lá no apartamento do cara, sem armários, e ele pagava uma merreca, a gente pagava essa merreca que o Banco do Brasil pagava o resto. Brasília é isso, Brasília é favores em cima de favores. E a gente morou lá algum tempo. Ficamos algum tempo nisso, depois desfizemos o namoro. No emprego eu fiquei três anos. Aí pedi demissão. Não agüentava aquela época de mudança de Governo, eu ainda reagia a isso. Era o governo do Sarney. Não acontecia nada, tudo parado, gente enrolando o tempo todo. Aí você já viu, garoto cheio de... O meu pai tem um irmão na Bahia, que era médico, e era grande fazendeiro na época, de cacau, e o meu pai tinha uma fazenda na Bahia, mas era uma fazenda que a gente ia lá uma vez ao ano, um negócio que estava lá, como uma economia dele. Falei: “Ó, meu pai, vou para a Bahia, vou fazer suco de cacau e vou plantar, vou pegar aquela fazenda e vou tocar.” Falou: “Vai, quer ir vai”. Agora, ponderou sobre isso, falou tudo. Aí fomos. Ela pediu demissão, nessa época ela já tinha feito o concurso, já tinha voltado, nós tínhamos voltado, casado. Aí eu notei que ela era a mulher da minha vida. [Ela] foi viajar com uns amigos nossos para o Peru, a Bolívia, no Trem da Morte e eu conseguia achá-la por telefone, em qualquer canto. Falei: “Essa mulher vai sumir da minha mão, não posso perder ela não.” (risos) Eu ligava, ligava na hora do almoço, ia pra casa procurando ela na Bolívia, em La Paz, se já tinha chegado no hotel, se não tinha chegado. Aí trouxe de volta, falei: “Quer casar comigo, vamos casar.” [A Márcia estudou] Educação Física. Aí casamos. Uma coisa que ela não perdoa até hoje, [conforme] ela falou: “Quer casar?” “Eu caso, não queria casar não, mas caso (risos), nessa situação eu caso, pra mim isso não faz diferença nenhuma não. Mas vamos aproveitar as bodas de prata do meu pai e da minha mãe, que aí a gente só paga metade da despesa.” (risos) Aí casamos nas bodas de prata dos meus pais. Foi muito legal. Mas ela é muito ciumenta. [Depois] pedi demissão, ela pediu licença. [Ela tinha passado num concurso] da Educação, no Distrito Federal. Eu queria sair de Brasília, porque eu não agüentava aquilo mais, eu entendia que aquilo estava muito ruim, que era um momento muito ruim da vida nacional, a gente de lá sentia isso muito claramente, e não sabia pra onde que ia aquele negócio. E aí saímos. Eu fui para a Bahia ser produtor rural. FÁBRICA DE SUCO DE CACAU Fui ser produtor rural. nós fomos pra Barreiras, que é uma cidadezinha, e ela foi grávida. [Fomos] num Corcel II que eu tinha (risos), e esse carro quebrou no meio lá daquele cerradão, ela grávida, era brincadeira, mas chegamos bem. Aí começamos a construir essa fábrica e eu comecei a trabalhar na fazenda do meu pai. Fábrica de suco cacau, numa época em que estava começando suco de cacau. Nós ajudamos a definir padrões, essas coisas todas. Construí uma fábrica de 700 metros quadrados. Não era uma coisa pequena não. Depois não deu certo. A gente bota a culpa nos sócios sempre Mas não deu certo. Mas aí é questão de comercialização. Produção, a gente conseguiu produzir bem. Muito fácil produzir. O problema é comercializar. Aí fiquei lá, fiquei mais do que devia, o nosso casamento sofreu muito com isso, porque eu trabalhava [muito]. Eu tinha que chegar às seis horas da manhã na fazenda, pra poder colocar o pessoal pra trabalhar. Aí eu saía às cinco da manhã e aí eu tinha que despachar o suco de noite na rodoviária, para o cara pegar em Salvador pra vender. E então, chegava às 11 horas em casa, à meia noite. Era uma vida muito puxada, mas foi uma felicidade que não tinha igual. ESCOLA AGROTÉCNICA Aí teve uma oportunidade: foram fazer uma escola agrotécnica nessa cidade, cidade de Ipiaú na Bahia, na beira do Rio de Contas. Tem até um ramal de gás que passa lá agora. Na época não passava. E hoje é um polo minerador, acharam níquel lá e cacau está em queda total. Essa mineradora está mudando a vida da cidade. Mas na época era cacau e cacau em crise. E eu fui chamado pelo Waldir Pires, na época, por intermédio do Doutor Euclides Neto, que era um político da região, que era administrador vinculado à Reforma Agrária, era um pessoal de esquerda, do PMDB, e foi secretário do Waldir Pires, e ele falou: “Ivan, você quer ser o Diretor da Escola Agrotécnica Estadual Democrática Chico Mendes? (risos) Só tinha eu como nomeado e mais nada, e os ônibus, e os tratores, e a estrutura da escola. Mais nada mesmo. Nós perguntamos: “Como é que faz?” A experiência do Ministério Público me ajudou, a fazer um convênio: “Pega a cooperativa, que hoje chama a Cooperativa dos Produtores, faz um convênio com a Secretaria da Educação e contrata os professores para a Cooperativa, até fazer um concurso”. Isso foi bom, em termos de administração. Aí fizemos, e foi uma das experiências mais interessantes da minha vida. Eu acredito no poder revolucionário da Educação. Eu acho que os professores acreditam muito pouco nisso. Eu acredito e é revolucionário efetivamente. Não é brincadeira não, ele é revolucionário. E nós formamos uma turma. E foi muito interessante, que hoje estão todos colocados, a maioria colocado e fora da área agrícola. [A Escola] está lá ainda, com uma característica diferente, com o Antônio Carlos, que tomou o poder depois, e aí não podia deixar o brilho do Waldir. Porque a escola ganhou prêmio de destaque regional, na época. Eu tive que mobilizar os meus amigos para dar aula. Falei: “Ó, não tenho dinheiro para pagar ninguém, vem cá médico, você é professor de Biologia, vem cá arquiteto”. Então os Professores eram pessoas que não precisavam daquilo, e faziam aquilo por gosto. Dentista, médico, tinha uma oficial de justiça. A Márcia era a engenheira química. Inclusive ela dava a parte Química. O nosso laboratório tinha todos os reagentes, conseguimos no pólo petroquímico, tinha a vidraria toda, fazíamos todas as reações de óxido de redução, todas as reações, aquelas que vemos na cidade. Os garotos vivenciavam isso no laboratório. A escola particular queria fazê-la dos ricos, queria ir lá fazer aula na Escola Técnica, Agrotécnica de Química. Então foi uma experiência muito legal. Acho que [fiquei] seis anos na Bahia. Em 1991, seis anos, até me desatar. VENDEDOR DE ESFIHA / RJ Voltei para o Rio de Janeiro, desempregado, em cima de um caminhão de um amigo meu, com o meu carro em cima, que era um Fiatizinho, e a metade da mudança. A outra metade eu vendi pra poder fazer o frete do caminhão. Essa coisa de não pedir nada pra ninguém. Meu pai, estava lá, tinha uma situação boa, mas a situação era minha e vim pra casa dos meus sogros, aqui no Rio. Não deu certo a fábrica e a Escola não tinha muito sentido. Não tinha quem sustentasse. Nessa época eu trabalhava até quinta feira na Escola, sexta, sábado e domingo tinha três fazendas que eu tomava conta, pra poder ganhar um salário, pra poder pagar a conta. E já estávamos [indo para] o segundo [filho], Leonardo e o Rodrigo. O Rodrigo já nasceu aqui. A Márcia começou a ficar aqui mais tempo, falou: “Óh, não volto não.” Uma hora ela falou: “Não volto não.” E ela tinha a razão. Aí eu vim embora, sem lenço nem documento. Comecei vender esfiha congelada no Rio de Janeiro (risos). Falei: “Olha, tem que fazer alguma renda.” A Márcia pôde – porque tinha ficado suspenso o contrato –, pôde voltar a ser professora do Estado, aqui no Município. Aquelas coisas de funcionário público, que suspende o contrato. Aí voltou, e depois fez outro concurso, era muito boa na profissão dela, ela consegue sempre fazer os concursos, estudar e passar. Aí fez o concurso e eu fui estudar para concurso e fazer esse trabalho pra vender esfiha, também. Que aí foi um aprendizado (risos), do ponto de vista humano, fantástico, eu me botei no meu lugar. Eu achava que eu era o máximo, eu conversava com o governador, com o vice governador da Bahia, com os prefeitos da região, mobilizei os prefeitos de cinco partidos pra ajudar a Escola. Todo mundo puxando o meu saco, [eu como] Diretor. Chega aqui eu era vendedor de esfiha e eu não sabia vender esfiha, não sabia vender nada, sou muito ruim de vender qualquer coisa. Eu tinha que esperar nos lugares, e eu não sabia que boteco, por exemplo, não comprava esfihas eu achava que o produto era bom e que o cara do botequim queria me enrolar. O português me deixava lá duas horas esperando: “Isso não serve, isso é uma porcaria”, e me enrolava. “Muito obrigado, foi um prazer, está aqui.” (risos) E aí, consegui ter uns clientes, porque aí eu entendi o que era Delicatessen, essas coisas, que compravam esfihas, aí eu fui vender pra esses caras. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Depois eu fui fazendo concurso, fazendo concurso, e aí um dia eu entrei em contato com um colega, aí falei: “Pô, cara, eu estou de saco cheio aqui, será que não tem nada aí não?” Um colega do Paraná, do antigo IBDF, que já era Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais], falou: “Tem um trabalho para você cara. Tem uma Consultoria da FAO, em Brasília e a Cléria”, que era uma amiga nossa, “é chefe lá agora, e ela lembrou de você outro dia. Você tem o perfil pra fazer esse trabalho.” [Era] certificação de origem das espécies, dos produtos florestais, porque ia ter uma reunião em Tarapoto, que ia definir padrões pra isso e precisava de um estudo de consultoria no Brasil. Aí eu voltei para Brasília, ganhando mil dólares por mês, ganhava em dólar, chique Eu comecei a viajar o país todo, e aí reatar contatos que eu tinha da época do IBDF, aquela coisa, que no IBDF a gente fazia uma revista, um jornal, que circulava na Amazônia inteira, tinha um jornalista, que era parceiro nosso nisso. A gente fazia um enfoque em madeireira. Ele era funcionário do IBDF também, a gente fazia esse enfoque madeireiro, que levava oportunidades comerciais para Amazônia, de madeira. O Itamaraty dava àquelas empresas, que [iam] no mundo inteiro procurar madeira, eles iam lá, nós botávamos e chegava ao interior do Brasil todo. [Isso] pelo cadastro, porque o IBDF fez um cadastro, que eu participei, em caráter de informatizado. Mas isso daí é uma outra odisséia. Implantar um cadastro informatizado no IBDF era muito gozado. As pessoas lidando com aquelas listagens que nunca tinham visto, nossa, foi muito interessante. Eram enormes, aquilo andando pela Amazônia inteira. Imagina eu levar aquilo para um posto lá, em Ariquemes (risos), que era “Aritremes”, na época. Era um negócio muito maluco. [Estava] nessa consultoria quando um amigo meu, que era diretor, foi para o Ministério, falou: “Ivan, preciso que você seja um coordenador de um projeto do PNUD, no Ministério do Meio Ambiente. Você vai?” Falei: “Vou.” Aí de três meses eu fiquei dez anos, de projeto PNUD em projeto PNUD. É aquele artifício que se usava para contratar. Teve época [com] 300 projetos PNUD na Esplanada, contratando as pessoas. Era bom, porque a gente ganhava em dólares, não pagava imposto de renda, na época, depois passou a ganhar em real e pagar o imposto de renda, aí não valia muito mais a pena. [Fiquei em] Brasília e a família aqui. Ficava indo e voltando, indo e voltando. Foi muito bom, nós construímos o Ministério. Começou com um paraense, esqueci o nome dele, Coutinho Jorge foi Secretário do Ministério do Meio Ambiente, Secretaria Geral ligada ao Presidente da República. O cara não tinha nada a ver com o Meio Ambiente, não sabia nem se era de comer ou se de passar no cabelo. Tem outro aí que foi ministro também, que não atrapalhava, era ótimo. Eu não vou falar porque está (risos)... Ele era ministro do gabinete dele, e isso era ótimo, e deixava os secretários trabalharem. Isso era ótimo pra gente, enquanto funcionário, porque os projetos não paravam, nada, tudo ia avançando. O Ministério foi uma construção muito interessante, que foi a Sema [Secretaria Especial do Meio Ambiente], a antiga Sema, o pessoal da Doutora Sueli, da que foi Presidente do IBDF, do Ibama, Marília, Marreco, figuraça, todas muito gente boa. Teve o Kraus, que foi um Ministro interessantíssimo, muito gozado também. O Ministro Kraus falava assim: “Quando vocês começarem a pensar em décadas, vocês tomem cuidado, você estão ficando velhos" (risos). INGRESSO NA PETROBRAS Foi aí que eu comecei a fazer concurso, lá em Brasília. Eu ficava em Brasília, sem nada para fazer, e pensando: “Estou ficando velho”. Aí eu comecei a fazer mestrado. Consultor tem que ter mestrado, no mínimo, porque não adianta tempo de serviço. Daqui a pouco vai chegar um garoto aqui dizendo que tem doutorado e eu vou ficar olhando para o cara... Aí tive que ter o título, e foi muito bom. Fiz um mestrado no Centro de Desenvolvimento Sustentável, da UNB [Universidade de Brasília], fiz uma prova concorrida, passei, fiz o curso, foi bom, fiz uma dissertação, [com] uma orientadora fantástica e foi [com] um grupo muito gostoso, do Cristóvão Buarque, aquele pessoal todo. Foi o único mestrado que eu conseguiria fazer mesmo, mestrado profissional e muito ligado à nossa vivência profissional. [A Petrobras] era um dos concursos que eu podia fazer, aí eu fiz, para engenheiro ambiental. Aí tem uma coisa, eu fiz um concurso para Codevasf, Companhia do Desenvolvimento do Vale de São Francisco e Parnaíba, também, agora. Passei em terceiro lugar, era engenheiro florestal, aí fui pra lá. Cheguei a ser coordenador, porque lá tem coordenador, diretor e presidente. Depois fui [para a] assessoria da presidência e pedi pra sair. Quando eu passei na Petrobras, pela segunda vez... A primeira vez eu passei, [mas] não fui aceito porque eu não tinha os créditos, não tinha o curso de especialização, nem o mestrado, só tinha os créditos do mestrado, que por acaso era maior do que qualquer curso de especialização, mas não aceitaram. Eu até tirei uma classificação melhor do que na segunda prova. [Isso] foi em 2002. Eu fiz dois concursos. Aí entrei nesse segundo, até não esperava mais entrar, porque eu fiquei muito mal classificado, mas a Petrobras estava precisando de pessoal nessa área, foi a única que teve para engenheiro pleno. Porque tem um negócio, eu não passo nunca quando é engenheiro júnior, porque é coisa de faculdade, que perguntam nos concursos. Ibama mesmo eu fiquei em milésimo lugar lá, porque os caras vieram com conceitos básicos de Ecologia, e eu já não me lembro de nada disso, hoje, efetivamente. [Entrei] aqui no Rio, fiz justamente pra vir para o Rio. [Entrei direto] como pleno. Me pareceu uma estratégia, porque era um setor que a Petrobras não dominava e foi ao mercado buscar gente de engenharia ambiental. O que é o mercado de engenharia ambiental, agora não tem mais, só tem tido concursos para júnior. Fui trabalhar lá no Edita [Edifício Torre Almirante], com o Ailton, no IEPQF [Implementação de Empreendimentos da Área Petroquímica e Fertilizantes], que era como se fosse assim, uma maternidade de projetos. Todos os projetos começam ali, quando criam asa, criam perna, aí vão ser criados os empreendimentos. TRAJETÓRIA / COMPERJ [Meu primeiro projeto] foi o Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro]. Tinha outros, [como] o Polo Acrílico, mas o que andou foi o Comperj. Aí foi o que alocou a mão de obra que estava lá. Lá são vários projetos sendo encubados, quando ele toma asa, quando ele cria perna, aí se cria um empreendimento. Aí quando se criou o Comperj eu fui junto. Já fui para o Comperj mesmo. Eu era fiscal do contrato do EIA-Rima. [Contratamos] uma consultoria, pra licitação, foi a Concremat. Tivemos inúmeros problemas, e eu não tinha experiência, porque eu sempre fui do ministério, eu nunca tinha sido empreendedor. Então estava do outro lado. Era meio complicado. Eu tive um colega que estava junto conosco nos ajudando que tinha mais experiência na Petrobras, porque a Petrobras é um susto, um susto de competência. Impactou muito. Eu conhecia muita coisa, já participei de reunião internacional em comissões ministeriais, trabalhei em vários ministérios na Esplanada, mas nunca tinha visto tanta concentração de competências juntas. Não é porque eu estou lá não, tem carranquice também, tem tudo como em qualquer lugar, mas é incrível a quantidade de expertise que você tem naquela empresa. É um negócio assustador. Uma moça lá, do Recursos Humanos, foi me levando: “É aqui”. Aí me apresentaram o meu chefe, que foi uma grata surpresa, o Fernando Oliveira, que está conosco no Comperj, uma pessoa de alto nível e de uma sensibilidade administrativa muito grande. Ele e o Aílton fazem uma dupla que, futuramente, se tiver oportunidade, volto a trabalhar com eles. Eu tinha alguma experiência, e aí foi pelo currículo, e eu era para ir para o Cenpes [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello]. Uma moça me ligou do Cenpes: “Você vem prá cá, não vem?” Falei: “Olha, mas eu não sou especialista, não gosto de ser especialista, eu sou generalista, meu negócio é gestão, não é pesquisa. Vocês só olharam o mestrado.” Nessa segunda opção foi um acerto enorme, me parece. Apesar do Cenpes ser um colosso. Mas eu não tenho esse perfil de pesquisador. E eu estou tendo a engenharia como uma coisa de aprendizado muito grande. E o Comperj é um negócio de louco. O projeto era menor, no sentido da área verde, e nós que fustigamos (risos), e daí eu sou o culpado, de certa forma. O pessoal tinha visto uma área, eu tinha até isso na documentação, a área era um pouco menor. O pessoal pensou na área Industrial, o projeto é isso aqui, fizeram um sobrevoo, como é de praxe. Houve aquele EVTE [Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica], era de uns dois mil e poucos hectares. Mas aí nós começamos a falar, colocar esses conceitos todos na cabeça das pessoas que estavam decidindo. Isso é que eu achei muito interessante na Petrobras, todo mundo escuta o que você tem a dizer, um negócio interessante pra caramba. Não quer dizer que vai levar a sério, mas que escuta, escuta. O seu chefe escuta o que você tem a dizer, isso parece que é a cultura da empresa, isso eu consegui captar. O cara às vezes está falando besteira, mas está todo mundo escutando, não dá prosseguimento, evidentemente, mas todo mundo escuta. É um negócio muito interessante isso aqui. E aí eu comecei, eu e não só eu, mas eu e as argumentações que a gente tinha. COMPERJ / LICENCIAMENTO Tudo aquilo era novo pra mim, e tudo aquilo de meio ambiente também, no tom que eu estava dando, que não era licenciamento. Licenciamento é uma parte ínfima do processo, é um instrumento que você pode usar para melhorar o teu projeto, inclusive, e as pessoas não tinham visão disso, é uma coisa, é uma chateação que a gente tem que passar pra poder fazer o nosso projeto de engenharia. Falava: “Não, de jeito nenhum, licenciamento é um instrumento de aprimoramento do teu processo. É um instrumento de aprimoramento da tua engenharia. A gente vai chegar lá e vai melhorar muito. Vamos fazer um projeto que tem a ver, vamos botar estas considerações dentro do projeto.” E aí, por exemplo, o Comperj está no terço inferior de uma bacia hidrográfica. Isso é extremamente estratégico para o Comperj, porque o Rio Caceribu tem um regime, o Rio Macacu tem outro regime totalmente diferente, que vamos manter. Vamos manter a inundação que existe todo o ano nas partes baixas do Comperj; propondo fazer um dique e hermético, e se você está numa bacia de inundação, qualquer centímetro que você tira de inundação, você cresce muito em termos de altura da enchente. Então se você tira aquela área toda do Comperj da planície de inundação, nossos vizinhos iam ficar embaixo da água. Aí o cara: “Não, desapropria e vai comprando.” Olha a visão tacanha. E isso um grande letrado, um grande cientista, falando essas coisas, mas é aquele cara da cultura desenvolvimentista: nós podemos tudo, estamos como a oitava empresa do mundo, ou como nona, sei lá. “Podemos tudo”. [isso] não da Petrobras, um consultor contratado. Nós falamos o contrário, procuramos nos respaldar em gente de nível, pra discutir com essas pessoas. Eu tenho o meu “mestradozinho”. Fomos procurar doutores para discutir com eles, doutores que defendiam outras teses, e conseguimos, hoje temos um projeto arredondado. Eu acho que o sucesso no licenciamento foi em decorrência do perfil que foi dado ao projeto. Considerando isso tudo, eu falo: “Estava do outro lado.” Quando você fala isso para uma pessoa de meio ambiente, com a linguagem que a gente está tratando, com os conceitos, com as diretrizes que o nosso projeto tem, o cara fica mais confortável. Como é que nós licenciamos o Comperj, qual é o grande impacto urgente dessa primeira fase? É a terraplanagem. Vamos licenciar a terraplanagem? Vamos licenciar a urbanização e a terraplanagem? Vamos. Como é que a gente faz isso? É diferenciado dos outros processos. Mas por quê? O analista ambiental lá, sabe quais são os impactos da terraplanagem, só que ali é a maior terraplanagem. Ninguém ficou falando muito que era a maior terraplanagem na América Latina já feita até hoje. Mas é bom tomar cuidado [por causa] da erosão, transporte de finos e transporte de fragmentos grosseiros para os rios. Isso é o que a gente tem que evitar. Tem que tomar todas as medidas pra evitar isso, minimizar e quantificar, e é isto que nós temos feito no Comperj. [Isso] deixa o analista ambiental, com muita tranqüilidade, porque você está falando a linguagem dele, está explicando as preocupações que você tem, e aí o corredor veio nesse meio, o corredor ecológico, entrou como coroamento, os puristas chegaram logo: “Isso não existe, corredor.” Que eles acham que corredor é uma coisa que é conectada eternamente, que vai chegar daqui a... e não é. Você tem inclusive a figura dos trampolins de biodiversidade, [ou seja], você faz núcleos para que seja a fauna, a própria flora, que a gente acha que árvore não anda e árvore anda. A árvore tem dispersores, ela encomenda dispersores, inclusive, paga por isso. Se você olhar uma semente, você tem grandes chances de saber se tem o dispersor, se é o vento. Se ela tiver uma retribuição ali, uma carnezinha, é bem provável que tenha alguém que venha roer aquilo e levar pra logo adiante. Se você não tem nem interesse, se ela não é colorida, se ela é simples, se ela é levinha, é o vento. Eu não vou convencer ninguém a levar, o vento leva pra mim. Estas coisas todas passamos no projeto, essa questão de ecologia, mais aprofundada do projeto. O Comperj não tem bota fora, o Comperj tem ADME, Área de Material Excedente. Área de Depósito de Material Excedente. Por quê? Ah, é besteira? Só mudou o nome? Não. Nós estamos tratando de terraplanagem, estamos tratando de solo vegetal, que não aceita compactação, e solo mole, que não aceita compactação. Você tem que tirar da área pra poder botar argila e compactar, a terraplanagem, pra você botar peso em cima, você tem que tirar aquilo, bota isso no lugar, e a cobertura orgânica toda. Mas isso aí é uma área que tem que se manejar futuramente, então tem que planejar onde vai botar. Se vai botar dentro de uma drenagem, pode ser, mas tem que ser no começo da drenagem, cabeceira da drenagem. Você vai botar com que declividade? Que povoamento vegetal você quer pra aquilo? A que unidade vai ficar próxima, qual o povoamento que tem a ver com aquilo? Então, esse estudo está sendo feito. Difícil? Muito difícil. Não é brincadeira. TRAJETÓRIA / COMPERJ Minha principal atribuição é estar nessa coisa dos ADMEs. Por exemplo, amanhã eu estou indo para a área, definir se as espécies que eles botaram, no talude, lá, se estão ok, se não está ok. Vou ter que discutir com o técnico lá da empresa, que está fazendo um teste pra gente, usando um tipo de manta, pra talude, pra segurar os taludes. [Tem coisas que] são novas para mim, e tem muito oportunismo também. Tem que ter muito cuidado porque senão eles sabem que a Petrobras não tem expertise. O cara de engenharia da outra empresa sabe, a Petrobras, se eu for conversar petróleo é uma coisa, mas se eu for falar de meio ambiente o pessoal está preocupado com licenciamento, e agora nós estamos com muito mais gente na área de meio ambiente. Então sobra tempo pra gente poder ver as outras coisas, que não só o licenciamento. Sobra tempo em termos, [ou seja], dá um tempinho. COMPERJ / CORREDOR ECOLÓGICO Nós implantamos [o corredor ecológico]. O pessoal não tinha pensado nisso. A Cláudia Laguna até hoje brinca comigo. É um conceito muito comum em refinaria, que é um conceito militar. Inclusive a gente aprende na engenharia florestal, em Cultura 1, a primeira materiazinha, que dá aquela coisa, do bicho quando entra na escola, do calouro, fala do efeito estratégico da floresta. Então um dos efeitos estratégicos da floresta, isso é antigo. Hoje em dia isso não tem mais sentido, era parar exércitos, a questão militar, criar florestas pra não deixar os exércitos avançarem por aquele ponto que é um flanco, que é um flanco desprovido de quartéis, [proteger] do que for. Então você fecha e canaliza para outro lugar. Isso até hoje é meio verdade, mas não é essa verdadezona. [Com] o poder mortífero e destruidor dessas armas hoje... Mas a Petrobras incorporou isso, o desenvolvimento industrial incorporou isso por causa da engenharia. Nossa engenharia vem toda da engenharia militar, essa coisa toda, incorporou com os cinturões. Cinturão é uma vegetação, geralmente eucaliptos, você bota no entorno das áreas industriais, que é muito comum em distrito industrial para você isolar a tua área, esconder até a tua indústria, porque é uma coisa a ser escondida, não é uma coisa a ser mostrada. É uma coisa a ser escondida, eu não quero que gente chegue, eu não quero que ninguém entre, eu quero ficar sozinho, eu quero ser o administrador. Isso não é verdade, quer dizer, um complexo como o Comperj, você nunca vai estar sozinho. Você vai botar os holofotes, vai botar as câmeras pra todo mundo ver. Nós vamos estar em rede pelo resto da vida. Nós temos estações meteorológicas instaladas no Comperj, uma área que não tinha nenhuma estação meteorológica, se você pensar nisso, no Rio de Janeiro, uma área como aquela do Caceribu e do Macacu, não tinha uma estação meteorológica de qualidade. Nós, para fazermos as primeiras simulações, tínhamos que contratar uma simulação, com dados de arquivos, pra poder fazer a simulação do vento, da área do Comperj, porque não tinha nada ali, e é aqui do lado de Itaboraí. Eu, quando trabalhei na Bacia do Parnaíba, que eu fiz o Plano de Desenvolvimento Regional da Bacia do Parnaíba, na Codevasf, a Bacia do Parnaíba tinha mais informação do que a Bacia do Caceribu e do Macacu, sendo a área ocupada desde 1500 e pouco. O Rio Macacu e Caceribu são ocupados desde 1500 e pouco, então, é desleixo do Estado do Rio. O Estado do Rio é realmente é uma herança que a gente tem. O corredor, a qualquer momento ele [pode] retroagir. Ele tem que estar dentro do projeto, a Petrobras já reconhece isso, é uma grande vitória. A Petrobras reconhece como projeto, como diretriz de um projeto: implantar um corredor. Mas quando se fala corredor, também, as pessoas que não conhecem, falam: “Pelo amor de Deus tem que plantar isso tudo?” Não é bem assim, não vou conectar tudo, nós não somos agente de ação fora da nossa área. Nós somos agentes de fomento fora da nossa área. Somos agentes de ação dentro da nossa área. Fora da nossa área nós somos fomento, então nós precisamos da rede pública para trabalhar conosco, o antigo INF, Instituto Nacional da Floresta, para poder levar à frente o corredor. Sem essa parceria com esse tipo de pessoal, a gente não vai avançar. Contratou-se a Embrapa, pra fazer um conceitual desse corredor ecológico, eu estou até. O MDE que contratou, estava aí comigo. E fala-se conceitualmente [sobre] o que é o corredor. É uma coisa que aí eu digo: “Isso ali foi eu que fiz mesmo.” (risos) Porque que a gente estava contratando a Embrapa. Ninguém sabia muito bem o que queria contratar, e eu tive que botar isso em termos técnicos. (risos) O Abastecimento fez [parceria] com a Embrapa, o diretor Paulo Roberto tem uma “culpa” nisso aí, [ou seja] um mérito nisso aí. Ele foi à Índia, ver uma refinaria, uma das maiores refinarias do mundo, na Índia, e lá é uma área semi-árida. Lá no entorno da refinaria fizeram um plantio de manga, uma fruticultura de manga muito grande, e um milhão de pés de manga. Tem esses números: um milhão, quatro milhões... E aí ele falou: “Eu quero uma coisa parecida”. Aí nós tivemos que demovê-lo. Nunca falei com ele, mas a hipótese inicial era fazer fruticultura. Mas [tivemos que] demovê-lo dessa idéia, porque não tem sentido, fruticultura do lado de uma refinaria, não tem muito sentido. O Cepnes foi parceiro nisso, fez um parecer contrário, mas aí, foi a chance que a gente teve de entrar com a idéia do corredor e conseguiu o aval da instância superior da empresa. Quer dizer, o aval inicial pra essa idéia. Quando nós aprofundamos a idéia, o pessoal técnico todo aprovou, achou interessante, nós estamos trabalhando nessa idéia, que eu acho que não é um processo perfeito, acabado não. O conceito, a diretriz está definida, vamos trabalhar nessa direção. Agora, esse convencimento dessa articulação futura, isso tudo é uma coisa ainda meio... Eu estou acostumado, eu instalei o Ministério do Meio Ambiente. Eu ia pra reunião com o Ministério do Planejamento, reunião de orçamento, aquela fatídica de que o Ministério do Orçamento vai cortar o bolo em pedacinhos, o que sobra do bolo, o que está cortado pelo Executivo já está lá, aí vem: “Sobrou isso aqui, pra quem é?”, aí os Ministérios menos importantes, como eles chamam lá, caem em cima daquele resto do orçamento. Quando a gente falava em meio ambiente, “nego” só faltava rir na cara da gente. E hoje não é assim mais. TECNOLOGIA AMBIENTAL Eu não peguei essa época aqui [na Petrobras], mas eu já peguei a mudança em andamento. Até o pessoal acha quem tem algumas coisas excedentes, exageradas, que eu acho que é normal do processo de adaptação de qualquer tecnologia. Essa é uma tecnologia, tem que ser entendido como tecnologia. Não é capricho, não é bondade, não é nada disso, nós estamos incorporando tecnologia ambiental aos nossos processos produtivos. Isso que eu tento vender aos colegas da engenharia. Os caras são feras, são pessoas fantásticas, em termos de engenharia. COMPERJ / DESAFIOS Eu acho que o grande desafio que a gente vai ter é esse, como a gente gosta de falar em vocabulário de projeto, o extra-muros, que é onde a gente não manda, no nosso quintal é mais simples fazer. [É] muito difícil. A gente tem conhecimento, a gente tem mobilização, a gente tem a capacidade, eu acho, estabelecida, já construída para fazer o corredor dentro do nosso território, vamos dizer assim, dentro de casa. Agora o extra-muros, como a gente gosta de dizer, fora, para criar este corredor, tem compromisso de licença, tem condicionantes ambientais de licença importantes, a gente vai ter que trabalhar, aí é o cliente, aí é o Abastecimento, tem essa tarefa que eu advogo como hercúlea, de avançar, de identificar esses parceiros. Porque os parceiros estão identificados, o Instituto Estadual do Ambiente é indispensável, sem ele a gente não vai a lugar nenhum, porque ele é o agente público da política de meio ambiente do Estado. Então ele tem que vir junto com a gente. Tem que vir junto não, tem que ir à frente dizendo o que a gente vai fazer. Quer dizer, está feito um documento já, dito lá nas suas condicionantes ambientais, mas como a gente vai fazer, aonde, com que parceiros. E as outras [parceiras] são as prefeituras, essas 11 prefeituras, que tem que trabalhar com eles também, essa coisa eu aprendi. Eu aprendi no projeto da Bacia do Parnaíba, nós conversamos com 4% da população da Bacia do Parnaíba, fazendo parte do planejamento participativo, e eu fui coordenador desse trabalho. E melhorou muito o nosso projeto, melhorou muito escutar o que a população acha. E tem outra coisa, não adianta querer que o povo, aquela coisa, muito Marxista, do super-operário, daquele cara que sabe tudo, que é forte, que é imune, que é inteligente. Tem tudo isso: tem forte bonito e inteligente, mas tem coisas que as pessoas não sabem nem ousar querer, e você tem que levar. Lá no caso de Parnaíba, por exemplo, era o reflorestamento industrial. As pessoas não sabiam nem o que era, então elas não podiam nem propor isso, que é uma coisa importante. O Vale tinha espaço pra isso. Então, a gente vai ter que ir à comunidade, e isso vai ser uma tarefa muito grande para o dono do projeto, entre aspas, que é o Abastecimento. Pois o projeto é da Petrobras, mas quem vai gerenciar é o Abastecimento. Isso não se faz em um ano, nem dois, mas como a gente está lá pra ficar cem anos... Essa coisa de educação ambiental é crítica, o pessoal chama de educação ambiental, mas é pra outra conversa. Eu acho que a gente tem que avançar no esclarecimento mesmo. Eu acho que, mais do que educação, esclarecer as pessoas do processo: o que está acontecendo, quem somos nós, estamos vindo pra ficar, não é extemporâneo, seu neto vai nos ver aqui, seu bisneto vai nos ver aqui, não vai ser mais eu, não vai ser mais o senhor, não vai ser o seu filho, seu neto, seu bisneto. Isso tem que ficar claro. Num projeto, dessa envergadura, facilita a gente falar nessa coisa do tempo, mais longo. Porque o máximo que a gente consegue raciocinar, o ser humano é assim, são 100 anos. É difícil falar além disso. A gente fala em 100 anos, de repente, sei lá, mas eu acho que dura mais. Ela vai ser reformada, não vai ser mais esse Comperj que hoje a gente está vendo, mas vai ser outra coisa, uma dinâmica de mercado, vai mudando ela, mas essa área é uma área estratégica que não deve perder importância para a Petrobras tão cedo. MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho fantástica [essa ideia]. Eu gosto muito disso, gostaria de ter muita coisa pra ver de outro empreendimento da Petrobras, empreendimentos já mais antigos. Eu acho interessantíssimo isso, eu acho essa experiência de vida... é disso que a gente se nutre para agüentar os tropeços. Enquanto um bate papo, achei ótimo. IMAGEM PETROBRAS A gente tem muito a contribuir. A área ambiental da empresa tem muito a contribuir, com o desenvolvimento da engenharia nacional. Eu me vejo como engenheiro ambiental ou engenheiro florestal, ou engenheiro da área de meio ambiente, como queira, mas eu acho que a gente tem muito a contribuir. E a gente tem que deixar de ter esses pré-conceitos, de tratar a questão ambiental, que é normal, que é natural. Já passei por esse processo no setor público federal, é amadurecimento. Quando a gente vai evoluindo e se colocando no mercado de forma mais adequada, a gente vai ver que é necessário, é indispensável, tratar a questão ambiental como a questão tecnológica, dento do processo produtivo. Então eu acho que isso é imprescindível. A empresa está fazendo um esforço enorme pra isso, diferenciando-se no mercado profundamente com relação a isso, e ninguém conhece a Petrobras estando fora dela. Eu era do Ministério do Meio Ambiente, que tem uma relação importante para a Petrobras, há muito tempo, Ibama também, que tem uma importância relativamente importante, uma relação importante para a Petrobras, e Petrobras para mim era muitos postos da BR e a Refinaria de Duque de Caxias. Quer dizer, um cidadão do Rio de Janeiro. E é muito mais do que isso. O cabedal de conhecimento que existe nessa empresa é um dos maiores patrimônios que ela... Sem falar na estrutura toda, que isso é físico, para as pessoas verem, esse cabedal de conhecimento é um negócio assustador. É intangível. FAMÍLIA / FILHOS Tenho dois meninos, o Leonardo e o Rodrigo. Têm 24 e 21 anos, um fazendo medicina, terceiro ano, e o outro fazendo direito, formou-se em direito agora. Leonardo acabou o direito e o Rodrigo está fazendo Medicina, está no sexto semestre de Medicina. Eles são danados
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