A tapera mal-assombrada
Raimundo Sulivan da Mata veio de família humilde e teve uma infância muito feliz. Não tinha muitos recursos para comprar brinquedos, mas isso não o impedia de brincar. Os brinquedos, que ele mesmo confeccionava, eram carrinhos com latas de sardinha e pneus de sandália de borracha; já para jogar bola improvisava com garrafas de água sanitária. Brincava de peteca, que fazia com penas de galinhas e sabugo de milho. Tinha também bandeirinhas e pião. Quando chovia, era a ocasião perfeita para brincar de triângulo (desenhava um peixe na terra e com raio de bicicleta jogava). Mas a brincadeira de que mais gostava era o cavalinho: pegava um galho, amarrava uma corda e saía galopando, era tudo muito divertido. Estudava em uma capela, onde funcionava a Escola São Tomé. Seu Sulivan se recorda que, ao redor da escola, era cheio de mato, e passava um grotão ali bem perto, onde também se divertia tomando banho. Era uma criança muito arteira. No caminho para a São Tomé, tinha um sítio e uma vaquinha chamada Estrelinha. Seus colegas e ele mamavam no peito da vaca. Eram bons tempos, conta. Na escola, bem simples e bem acolhedora, divertia-se na hora do recreio. Seu lanche, ele trazia em latas, comia peixe frito com farinha. Os colegas se envergonhavam de comer os lanches, mas para Sulivan tudo isso era diversão. Recorda-se com saudade de sua casa da infância. Era uma casa de madeira com muitos pés de frutas (laranja, acerola, bananeira), onde foi muito feliz, pois sua mãe fazia suas comidas favoritas, todas feitas com muito amor. Como não tinha televisão naquela época, ele e os colegas ouviam Trapalhões pelo rádio da família. Na região onde morava, tinha uma casa mal-assombrada. Era uma tapera velha e existia uma lenda de que lá havia o fantasma de uma porca. Uma noite, quando sua mãe passava em frente à tapera velha, escutou um barulho e se desesperou. Sentiu muito medo e gritava: Corre, meninos!. Todos correram pelo...
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A tapera mal-assombrada
Raimundo Sulivan da Mata veio de família humilde e teve uma infância muito feliz. Não tinha muitos recursos para comprar brinquedos, mas isso não o impedia de brincar. Os brinquedos, que ele mesmo confeccionava, eram carrinhos com latas de sardinha e pneus de sandália de borracha; já para jogar bola improvisava com garrafas de água sanitária. Brincava de peteca, que fazia com penas de galinhas e sabugo de milho. Tinha também bandeirinhas e pião. Quando chovia, era a ocasião perfeita para brincar de triângulo (desenhava um peixe na terra e com raio de bicicleta jogava). Mas a brincadeira de que mais gostava era o cavalinho: pegava um galho, amarrava uma corda e saía galopando, era tudo muito divertido. Estudava em uma capela, onde funcionava a Escola São Tomé. Seu Sulivan se recorda que, ao redor da escola, era cheio de mato, e passava um grotão ali bem perto, onde também se divertia tomando banho. Era uma criança muito arteira. No caminho para a São Tomé, tinha um sítio e uma vaquinha chamada Estrelinha. Seus colegas e ele mamavam no peito da vaca. Eram bons tempos, conta. Na escola, bem simples e bem acolhedora, divertia-se na hora do recreio. Seu lanche, ele trazia em latas, comia peixe frito com farinha. Os colegas se envergonhavam de comer os lanches, mas para Sulivan tudo isso era diversão. Recorda-se com saudade de sua casa da infância. Era uma casa de madeira com muitos pés de frutas (laranja, acerola, bananeira), onde foi muito feliz, pois sua mãe fazia suas comidas favoritas, todas feitas com muito amor. Como não tinha televisão naquela época, ele e os colegas ouviam Trapalhões pelo rádio da família. Na região onde morava, tinha uma casa mal-assombrada. Era uma tapera velha e existia uma lenda de que lá havia o fantasma de uma porca. Uma noite, quando sua mãe passava em frente à tapera velha, escutou um barulho e se desesperou. Sentiu muito medo e gritava: Corre, meninos!. Todos correram pelo mato, batendo nos cipós, foi um grande desespero. Quando já tinham corrido, veio uma mobilete velha fazendo muito barulho e sua mãe descobriu que ela era a assombração. Outro fato que o marcou foi um dia em que ele ganhou muitos bolos de palmatória durante a aula por não saber a tabuada. Durante uma viagem de barco, se esforçou para aprender as multiplicações e se sentiu muito inteligente. Depois de tanto esforço, a chuva molhou os papéis, mas o que aprendeu ficou guardado na memória. Raimundo tem 44 anos, mora em Itaituba (PA) e trabalha como vigia na Escola São Tomé.
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