Sou Maria, de uma pequena cidade do interior de São Paulo. Aqui, da Boca da Mata, minha cidade chamada Cajuru (do tupi-guarani kaa Iuru - tão amada! ) . O hino de minha cidade diz \"...aqui eu nasci, aqui me criei e aqui, com a graça de Deus, morrerei\". E espero que assim seja, InshAllah!
Pois não é que, como em toda cidade pequena, há um prefeito, um delegado, um padre, um juiz, uma puta e um louco. Minha narrativa é sobre o louco, também amado, chamado Ronaldo (deu uma rima, mas não a solução rs ), Ronaldo Moreno, aquele que acha, não, aquele que tem certeza de que é um carro (corre todas as ruas da cidade dirigindo veículos imaginários. Meu Dom Quixote de La Kaa Iuru! ).
Eis que Antônio, o santo, foi o responsável por nosso caso amoroso (eu, a adorável Dulcineia, ops, a Cidinha, chamada carinhosamente pelo meu Quixote, o louco da aldeia, de Ci; e chamado por mim de Rô).
Pois bem, voltemos ao santo. Eis que, na festa do dito cujo, havia novena, quemesse, correio elegante, forró, comidinhas várias e... pastel. Ah! como adoro pastel. Pensei vou até lá, compro uns pasteis e volto.
Como boa católica e admiradora de Antônio, o de Pádua, entrei em sua capela. Fiz as genuflexões usuais, me dirigi à imagem do santo e não disse nada, só olhei. Ele, que teve o poder da obquidade, com certeza, sabia a mensagem que eu enviava.
Não sei se disse, mas se já o fiz, que fique registrado novamente: sou machadiana (amo aquele pretinho também) e, assim como Brás, não me casei, não tive filhos, não transmiti ao mundo o legado de nossa miséria. Ah! e também sou professora de literatura, daí minha paixão pelas palavras, pela ficção, pelo mundo dos loucos, dos insanos, das putas, dos marginalizados, dos excluídos, dos incuráveis por Mnenonisi, pela Memória).
Sim, sim, eu sei que dou voltas em círculos concêntricos, que viajo, que mudo de assunto, mas que também sei usar a técnica do flashback e acabo voltando pelo lugar de...
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Sou Maria, de uma pequena cidade do interior de São Paulo. Aqui, da Boca da Mata, minha cidade chamada Cajuru (do tupi-guarani kaa Iuru - tão amada! ) . O hino de minha cidade diz \"...aqui eu nasci, aqui me criei e aqui, com a graça de Deus, morrerei\". E espero que assim seja, InshAllah!
Pois não é que, como em toda cidade pequena, há um prefeito, um delegado, um padre, um juiz, uma puta e um louco. Minha narrativa é sobre o louco, também amado, chamado Ronaldo (deu uma rima, mas não a solução rs ), Ronaldo Moreno, aquele que acha, não, aquele que tem certeza de que é um carro (corre todas as ruas da cidade dirigindo veículos imaginários. Meu Dom Quixote de La Kaa Iuru! ).
Eis que Antônio, o santo, foi o responsável por nosso caso amoroso (eu, a adorável Dulcineia, ops, a Cidinha, chamada carinhosamente pelo meu Quixote, o louco da aldeia, de Ci; e chamado por mim de Rô).
Pois bem, voltemos ao santo. Eis que, na festa do dito cujo, havia novena, quemesse, correio elegante, forró, comidinhas várias e... pastel. Ah! como adoro pastel. Pensei vou até lá, compro uns pasteis e volto.
Como boa católica e admiradora de Antônio, o de Pádua, entrei em sua capela. Fiz as genuflexões usuais, me dirigi à imagem do santo e não disse nada, só olhei. Ele, que teve o poder da obquidade, com certeza, sabia a mensagem que eu enviava.
Não sei se disse, mas se já o fiz, que fique registrado novamente: sou machadiana (amo aquele pretinho também) e, assim como Brás, não me casei, não tive filhos, não transmiti ao mundo o legado de nossa miséria. Ah! e também sou professora de literatura, daí minha paixão pelas palavras, pela ficção, pelo mundo dos loucos, dos insanos, das putas, dos marginalizados, dos excluídos, dos incuráveis por Mnenonisi, pela Memória).
Sim, sim, eu sei que dou voltas em círculos concêntricos, que viajo, que mudo de assunto, mas que também sei usar a técnica do flashback e acabo voltando pelo lugar de partida, feito Fabiano, Sinhá Vitória e os Meninos.
Mas, também tenho um coração dividido entre a esperança e a razão e me misturei com o louco, cheio de esperança e ilusão. Comprei os pasteis na barraca central. Dia de pagamento, festa lotada, barracão lotado. Tô saindo e ouço, bem alto \\\"Cidinha, meu amooooorrrr\\\". Pensei, mas já santo Antônio? Olhei para trás e eis que surge o cavaleiro andante, digo, viajante, ajoelha-se aos meus pés e, literalmente abraça um deles.
Eu, feito galinha piada - lembre-se de que sou do interior- mexia a perna presa (uma aliteração) , e falava solta Ronaldo, solta Ronaldo. - a festa toda olhando pra mim. Sabe o mineiro ? aquele da pedra no meio do caminho? então, lembrei do bonde cheio de pernas, pernas amarelas, pretas... as minhas eram brancas, quase transparentes. E assim começou, publicamente, nosso namoro.
E o namoro durou mais de quinze anos (agora estamos casados)! Até que noivamos no pátio do Colégio Pirâmide, onde também eu dava aulas - sabe como é, professora, inevitável mais de uma escola - horário do intervalo, todos os alunos no pátio.
Ele entrou (entra em todo lugar, basta encontrar a porta aberta), levou uma aliança gravada com meu nome e me pediu em noivado. Como não aceitar?!
E desde então ficamos noivos. Era pelos idos da década de 80, Legião Urbana, Renato cantando, o amor no ar , e não tive outra opção - nem queria - e aceitei. E , desde então, tenho aprendido com ele, quase todos os dias da minha vida - porque TODOS os dias me visita.
Perdi o primeiro amor de minha vida, meu pai, aquele que acariciava as cordas do violão e da viola, que cantava pra mim, que me ensinou a ler as horas, que lia histórias infantis quando eu ainda não sabia ler, que me ensinou ordem alfabética, que me ensinou a fazer palavras cruzadas, que me dava livros quando eu aprendera a ler, que me presenteava com tudo o que eu sonhava e, muitas vezes, com livros cujo assunto ele não sabia falar comigo, como \\\"Amor, Sexo e Erotismo\\\"... que abria a porteira, à noite, enquanto os sapos coaxavam, os grilos cantavam e os temores noturnos já me assombravam, quando voltávamos de sua casa paterna, que me ensinou a dirigir, com 11 anos, que me guiou pela vida e pelo mundo... até quando pôde.
Eis que, momento de dor pujante- o corpo chega ao velório. Senti aquele abraço, aquela mão confortando meu ombro direito, minha alma, meu coração. Era ele! O meu príncipe encantado, o noivo que desejara, o presente de Antônio. E, porque era ele, porque era eu, me senti mais aliviada.
Não se disse, sim eu sei, também fui professora de filosofia e lidei com a vida, com a morte e seus mistérios.
Desculpe o leitor, avisei que sou machadiana, por isso abuso da metalinguagem, da ironia, das metáforas, do ir e vir da narrativa, da reflexão sobre o homem e seu mundo.
Meu primeiro amor me ensinou o mundo das palavras e o das palavras-mundo , ensinou-me a ler o mundo e os homens; e Ronaldo, meu outro amor, me ensinou sobre empatia, esperança, amor, loucura, ilusão, sonhos, realidade, violência sexual (sim, na pequena cidade também há os abusadores que desviavam (desviam?) seu caminho e abusavam (abusam?) dele , sem que o delegado prendesse (prenda?).
E vivemos e vivemos (passado e presente) uma linda história de amor, feito Romeo and Juliet, e vivemos um com o outro, em casas separadas, em mundos distintos...
Sei que ele faria tudo por mim (dançaria tango no teto, limparia os trilhos do metrô, iria a pé do Rio a Salvador, aceitaria a vida como ela é (ele aceita), viajaria a prazo pro inferno, tomaria banho gelado no inverno, deixaria de beber, se bebesse, ficaria rico num mês, dormiria de meia pra virar burguês, mudaria até o nome, viveria em greve de fome, me desejaria todo dia).
Mas, (adoro as adversativas!) nos encontramos em nossa loucura e em nossa sanidade... e somos felizes!
Não, não é o final da história. Não se apresse, caríssimo leitor, aguarde o próximo capítulo de uma vida repleta de alegrias, emoções, aprendizados, choro, riso, memórias boas e más ... de uma vida bem ( e mal) vivida, carregada de antíteses , paradoxos e ME MÓ RIAS!
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