Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Rafael Schettini Frazão
Entrevistado por Paula Ribeiro e Mirella Fontes
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_HV039
Transcrito por Transkiptor
00:00:35 P/1 - Vamos começar o depoimento. Seu nome completo, cidade e data de nascimento, por favor.
00:00:40 R - Rafael Schettini Frazão, Salvador, Bahia, minha cidade natal. E 23 de fevereiro de 1953.
00:00:51 P/1 - O nome dos pais, por favor.
00:00:52 R - Meu pai se chamava Deolindo da Silva Frazão. E minha mãe, Maria Teresa Antônia Schettini Frazão.
00:01:00 P/1 - A origem dos pais, por favor.
00:01:02 R - Meu pai era piauiense. E minha mãe, italiana. Minha mãe veio com meus avós na época da guerra e chegou no Brasil com dois, três anos de idade. Para uma cidade chamada Poções, no interior da Bahia. Essa cidade fica a uns 300, 350 quilômetros de Salvador e as cidades mais próximas são Jequié e Vitória da Conquista.
00:01:28 P/1 - E a profissão do seu pai?
00:01:31 R - Meu pai era engenheiro cartógrafo. Meu pai estudou na Bahia quando se casou com a minha mãe, mas só veio a concluir o curso de engenharia depois de casado na antiga Universidade do Estado da Guanabara, na UEG. Ele foi a primeira turma de engenheiros cartógrafos do Brasil. Ele trabalhou até se formar e trabalhar no IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
00:01:56 P/1 - Você conheceu esses avós imigrantes?
00:01:59 R - Até uns 6, 7 anos de idade, eu vivi em Poções, com meus avós próximos, até que meu pai foi transferido em 1960 para o Rio de Janeiro, pelo IBGE, e aí nós nos mudamos para Niterói nessa ocasião.
00:02:18 P/1 - Dessa tua origem italiana, o que você tem mais marcante?
00:02:24 R - Basicamente é aquela primeira infância com os italianos nessa cidade, eles migraram pra lá basicamente pra plantar café. E eu lembro de outros italianos, eles falavam muito italiano naquela época, a gente pequenininho. Mas foi só essa primeira infância, esse contato com os meus tios, os parentes dos meus avós, que vieram juntos para o interior da Bahia. Então, não foi muita coisa. Depois que eu saí da Bahia, inclusive, não tive praticamente mais contato com eles. Muito poucos, eventualmente. Naquela época não é como hoje, que a gente pega um avião e vai para lá rapidamente. A Rio Baía não era nem asfaltada ainda, né?
00:03:08 P/1 - Você tem dupla cidadania?
00:03:10 R - Eu tenho dupla cidadania. Por minha mãe, né? Interessante, inclusive, porque na Itália o homem vale mais do que a mulher, né? Não sei se... É um negócio tradicional. Eu vi até essa experiência porque eu entrei no consulado italiano pedindo minha cidadania por ser filho de italiana, mãe italiana. E acabei tirando por ser avô, por ter meu avô italiano. Ou seja, eu sou cidadão italiano porque sou neto do meu avô e não porque eu sou filho da minha mãe. Mas foi.
00:03:42 P/1 - Por que a tua família se transfere da Bahia para o Rio de Janeiro?
00:03:47 R - Porque meu pai saiu do Piauí, foi estudar em Salvador, conheceu a minha mãe, se casaram, estava no IBGE, trabalhando no IBGE, e em 1960, se não me engano, segundo semestre, meu pai foi transferido para o Rio de Janeiro. Então, em função da transferência do trabalho do meu pai, é que nós viemos para o Rio. Foi um drama, né? O italiano não gosta de se... Então, meu avô não queria que minha mãe viesse, então foi um drama. Eu até hoje tenho um problema com despedidas, eu não convivo bem com essa coisa de despedida, porque na hora de viajar, tudo pronto, no avião, meu avô se agarra comigo, eu com 7, 6, 7 anos de idade, e não consegue se soltar, nem eu dele, nem ele de mim, e eu acabo ficando no primeiro momento. Minha família veio e eu fiquei. E tempos depois, não sei se precisasse de um ano, talvez eu tenha feito... Eu fiz a alfabetização lá, com eles, sozinho. Fiquei com meu avô e minha avó. E somente um ou dois anos depois é que eu vim me juntar à minha família, meus irmãos que vieram. Então eu tenho um pouco essa coisa do italiano, de espírito. E eu tenho uns 12 ou 13 mudanças na Petrobras e as despedidas são muito doloridas para mim. São muito difíceis. Não convivo bem com despedidas. Niterói. Meu pai achou, na época, estar bem mais calmo, em função de colocar a família que vinha de fora, e nós fomos morar em Niterói, onde eu fui criado. Eu fui para o Grupo Escolar Joaquim Távora, ali no Campo São Bento, em Niterói. Depois eu fiz admissão, naquela época que a gente fazia admissão para fazer o ginásio, eu fui para o Colégio Salesiano Santa Rosa. Estudei o ginásio e o científico no Colégio Salesiano Santa Rosa. Fiz vestibular para a Universidade Federal Fluminense, para Engenharia Civil. Passei e fiz o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal Fluminense. Concluí em dezembro de 1974.
00:05:51 P/1 - Essa opção pela faculdade de engenharia, por que? Tinha alguma influência da família?
00:05:56 R - Meu pai. Minha mãe também. Meu pai fez engenharia cartográfica e naquela época, vocês certamente novinhas não tiveram essa experiência, mas Naquela época, engenharia só civil. Se não fosse engenheiro civil, não era engenheiro. Era um negócio meio assim, até meu pai era engenheiro de cartográfica, não se dava muito valor a esse tipo de coisa. Então, minha mãe, aquele negócio, o sonho é ter uns filhos engenheiros civis, então eu acabei indo influenciado pela família para fazer engenharia civil. E, no fundo, eu cheguei lá e adorei, fiz um curso maravilhoso, fui um dos melhores alunos e me destaquei e adorava aquilo que eu estava estudando.
00:06:35 P/1 - Eu.
00:06:44 R - Até por ter estudado em colégio de padres, no Salesiano, eu continuei muito forte essa questão da religião naquela época. Puxa, a vida é ruim falar naquela época. Nós éramos obrigados a ir As missas no colégio se realizaram aos domingos de uniforme de colégio. Era obrigado. Aquilo era uma coisa que nós tínhamos de uniformizar como se fosse para a aula. De uniforme e carimbava a caderneta com a presença da mesma forma que carimbava na segunda, terça, quarta, quinta e sexta nas aulas normais da escola. Logicamente, com o passar do tempo, eu estudei lá no ginásio científico sete anos, as coisas foram evoluindo. Eu lembro que depois teve um ano que já não precisava mais de uniforme. Depois já não precisava mais ir na igreja do colégio, porque tinha que ser na igreja do colégio o informe. Depois não precisava ser na igreja do colégio, o pai podia atestar que foi. Aí entrou menina, ficou misto o colégio. Mas eu vivi todas essas passagens. E eu, até pelo fato de ser filho de... italiano, né? E essa coisa da religião muito forte. Eu fui coroinha. Naquela época, coroinha ajudava a missa, né? Eu achava maravilhoso aquilo de você ajudar o padre a rezar a missa. Puxa vida em latim. Aquela coisa era tão fantástica, né? Igreja socializando bonita. Então eu vivi tudo isso. E até depois, a gente se afasta um pouco da religião, né? E assim fica aquela coisa na cabeça. Mas eu já tenho missa aí pra... Minha geração já assistia missa demais, entendeu? Então, eu me desliguei um pouco. E uma das coisas que eu sinto hoje muito é não ter passado essa coisa para os meus filhos. Meus filhos não têm a coisa da religião. Eu acho que isso aí é uma coisa que foi uma deficiência na educação que eu dei para os meus filhos. Estou dando, né? Porque eu tenho mais de 12 anos. São três. O Rafael Frazão Filho, que nasceu em Itarói, quando eu estava na Petrobrás, aqui no Rio. Depois eu fui para... Essas mudanças todas, nós fomos para Belém do Pará, nasceu o Leonardo, Leonardo Urbano Frazão, e depois nós fomos para Manaus e nasceu a Luísa, Luísa Urbano Frazão, que é manauara. Então nós temos um fluminense, que é o Rafa, tem o Léo, que é paraense, e tem a Luísa, que é amazonense, que não tem nada a ver de índio, é uma lourinha. Então tá tudo bem.
00:09:04 P/1 - Então, olha só, voltando à faculdade de engenharia, assim, de uma forma sucinta, como é que era o ambiente da Universidade Federal Feminina essa faculdade de engenharia na tua época?
00:09:14 R - Muito legal, porque a gente tinha muito aquela turminha da Praia de Caraí. Então era coisa assim, muito... Outros locais, meu filho, por exemplo, estuda na Unicamp, um, e o outro estuda na USP, em São Carlos. Um estuda em Campinas e o outro em São Carlos. E eu convivo com eles lá e eu vejo... Cada um é de uma cidade, não tem aquela coisa. Nós éramos assim, a turminha da Praia de Caraí. Então a gente estava sempre juntos. Aquela patota que jogava bola nos sábados na praia, que tomava o chopp no final de semana junto, que ia para a praia domingo e Camboinhas e Itacoatiara, a turma junto. Era tudo muito unida, convivia bastante, o que eu não vejo hoje. As pessoas são mais isoladas, mais separadas, cada um de um lugar. Tinha, muito movimento estudantil. Foi ali interessante. Quando eu entrei na UF, nós fizemos vestibular e teve uma prova de física que a prova foi anulada. E aquilo foi uma revolução ali na reitoria, ali na Praia de Careíra. Uma revolução. Milhares de pessoas ali brigando, confusão. E eu lembro que no gabarito eu tinha passado naquela prova e o pessoal tava, houve um protesto lá, porque a prova tinha sido muito difícil. Ou seja, eu não lembro bem os detalhes do porquê que mas anularam a prova. Então eu lembro que tinha um... No momento de mais agitação, que a turma estava para quebrar aquelas vidraças ali, para invadir a reitoria, aquela coisa toda, subiu um rapazinho no muro e fez um discurso inflamado. E sabe aqueles caras que falam, pô, que cara fantástico, a liderança, aquele cara inflamado, fez um discurso... E acalmou todo mundo, botou ordem na casa, aquela multidão. Eu fiquei fascinado por aquele cara que, porra, como é que um camarada tem uma capacidade dessa, de dominar toda uma plateia de estudantes aqui, todo mundo com uma energia para... E depois eu descobri que esse camarada era meu colega da Petrobras, anos depois, do Sempre Pesquisa, o cara mais enquadrado que eu vi na Petrobras. Oswaldo Pedrosa. Oswaldinho Pedrosa. Ele era esse líder estudantil, que ele era do DCE, né? E eu falei assim, pô, quem te viu, quem te vê? Depois que eu conheci ele lá, com aquela imagem que ficou. E depois que eu vi o Oswaldinho na Petrobras, hoje ele tá na NP, um jeito enquadradíssimo, mas um camarada super... Falei, mas como é que pode? É o mesmo, entendeu? Mas eu não tive muita participação em termos de DCE, essas coisas, eu não participei não.
00:11:46 P/1 - Me conta um pouco, nessa época de estudantes, o que significava Petrobras para os estudantes de engenharia? O que significava para você?
00:11:55 R - Era uma coisa muito forte de brasilidade. Petrobras era Brasil. Eu lembro de uma coisa que fica em momentos assim. Eu lembro de uma vez meu pai me trazer para o Rio de Janeiro, para o centro, não sei bem por que nós viemos para aqui. e tinha acabado de construir o Edizio. E o Edizio era uma coisa fenomenal, porque hoje é um edifício que se impõe como uma coisa diferente. Mas naquela época, que tinha acabado de inaugurar o Edizio e que a gente viu aquele dia, inclusive naquela época, ficar todo iluminado a noite toda. Depois apareceu um monte de coisa aí nas revistas protestando quanto a essa coisa de ficar os prédios públicos todos iluminados. Mas aquela ficava. Então, à noite, nós passamos dentro do rio e vimos aquela coisa colossal, aquela coisa maravilhosa. Puxa vida! Eu deparei com aquilo, porque ele era recém-inaugurado. E eu falei para o meu pai, poxa, isso é Petrobras! Aí eu virei para o meu pai, eu lembro desse rio, um dia eu ainda vou trabalhar aqui. Falei aquela coisa, sabe? Um dia eu ainda vou trabalhar aqui. E ficou marcado isso aí. Eu nunca depois, lógico que só eu era garoto, depois eu cresci e eu não queria entrar para Petrobras. Não era porque... Eu era fascinado por cálculo estrutural, engenharia civil, estava com aquilo... E tinha um professor meu que me adorava. Eu era o melhor aluno dessa cadeira. Quem era esse professor? Era Arthur Eugênio Germann. Ele hoje é falecido, mas ele era um dos grandes calculistas brasileiros, professor catedrático da UF, um dos mais respeitados, certamente, lá na UF.
00:13:35 P/1 - Pode citar alguma obra que ele tenha feito?
00:13:40 R - Se não me engano, foi o escritório dele que calculou o Maracanã, o Mineirão. Um desses grandes estádios foi, eu não lembro exatamente, mas ele tinha essas grandes obras, não sei se... Qual foi o outro? Até a própria série da Petrobras, eu tenho a impressão que foi o escritório dele que calculou, não tem certo. Mas ele era desses, dos grandes escritórios de cálculo estrutural do Brasil, do Rio de Janeiro. E ele tinha por hábito pegar sempre um ou dois alunos que destacassem todos os anos e colocar na equipe dele. Ele tinha uma equipe de 20 a 30 engenheiros que trabalhava com ele aqui no Rio. E eu era um já dos eleitos, né? Pô, você vai trabalhar comigo, no fim do ano você vai trabalhar no meu escritório e tal. Então eu era o cara privilegiado, porque todo mundo falava, pô, você vai trabalhar, tá com emprego garantido, aquela coisa toda, né. Quando foi no segundo semestre do ano, do ano que a gente ia se formar, 74, né, setembro, outubro, teve a inscrição para o concurso da Petrobras. Aí eu fui no voz daquela coisa, da praia de Caraí, daquela turma, vamos nos inscrever, vamos, vamos lá, cara, que isso, vamos. Coisa nova lá na Bahia, fazer curso, petróleo. Mas vamos, acabei indo mais no entusiasmo. E foi um dos poucos que passou no concurso dessa turma. E aí ficou aquela coisa, um drama um pouco, vou ou não vou, vou para aqui, para o Rio, para o escritório de cálculo, trabalhar em engenharia civil, aquilo que eu adorava, e uma coisa nova, petróleo, petrobrás, vou trabalhar com quem? Engenheiro, negócio de flúdio, de petróleo. Mano, tinha que fazer um curso para se especializar nisso, uma coisa que mudava totalmente aquilo que você vinha. E acabei medindo as coisas, eu lembro exatamente o salário da Petrobras, o salário básico era 4.192 unidades monetárias da época, que tinham mais 10% de adicional regional, quem trabalhasse em Salvador tinha 10% de adicional regional, e 30% de periculizado para todo mundo, inclusive quem trabalhava no escritório. Então isso aí dava seis mil e tantos reais, e ficou direito adquirido, essas coisas até hoje não existem. Seis mil e tantos reais. Não, não era tão difícil como hoje, mas era ainda disputado, os salários eram de dois mil e poucos, alguma coisa, muito mais baixo. E esse cara, esse meu professor, o que se falava lá que ele ia pagar três mil e trezentos, unidades monetárias da época, não sei o que, e a Petrobras era seis mil e tanto, e era a Petrobras. Então eu lembro que eu Eu gosto muito de ver a experiência dos outros. Eu lembro que tinha um amigo nosso, que ele tinha um tio que era superintendente da Petrobras lá em Tramandaí, no Rio Grande do Sul, e ele veio visitar uma vez aqui em Itarói os parentes aí. Aí botou o cara pra me conversar com ele, pra saber, Petrobras, pra me dar orientação. Aí eu disse pra ele, olha, eu tô na dúvida se eu vou pra Petrobras ou não. Inclusive, porque eu gosto da engenharia civil, eu adoro a engenharia civil, eu queria entrar na Petrobras com engenharia civil. Ele falou, se quer entrar na Petrobras com engenharia civil, não entra na Petrobras. Não entra na Petrobras. Por quê? Porque, meu filho, o negócio da Petrobras é óleo, é petróleo. Pra você fazer carreira na Petrobras, você crescer na Petrobras, você tem que ir pra lá onde tá o óleo, o negócio da empresa. Porque pra Petrobras, engenheiro civil tem aí na esquina. Não quer saber de engenheiro civil, não tem o valor. Só entra na Petrobras se você for pra trabalhar como engenheiro de petróleo, como engenheiro de petróleo. Senão, abandone e vá pra outra área onde você goste e tal. Aquilo me marcou muito também, né? Porque, poxa, era uma coisa que... Eu tive que abandonar a gerência civil totalmente para ir para o petróleo. Uma coisa nova, tal, tal. Se eu quisesse ir para o Petrobras. Eu fui fazer o curso, fiquei ainda...
00:17:10 P/1 - Mas o que você diz que te motivou realmente ao curso? Foi a questão salarial?
00:17:13 R - Olha, mais aquela coisa dos mais velhos, inclusive esse senhor que era superintendente da Petrobras na época, ele dizia assim, meu filho, você vai largar Petrobras para um escritóriozinho de cálculo? Pense bem. É Petrobras. É a Petrobras. Naquela época ainda era assim um pouco, né? Entrou o filho do Banco do Brasil na Petrobras, acabou. Tá feito na vida. Tá feito na vida, naquela época era. Então, você vai largar a Petrobras? Quantos milhares fizeram o concurso e não passaram? Você não foi um privilegiado? Pense bem. Então, isso marcou. E não é uma questão do dinheiro também, mas também pesava. Pô, um jovem que tinha um estágio, que ganhava 300 mil reais monetários, ia passar a ganhar seis mil e tantos. E o outro era 3 mil, que era 10 vezes mais, lógico, mas, pô, era 6 mil, 20 vezes mais.
00:18:08 P/1 - Como é que foi essa chegada na Bahia?
00:18:10 R - É, foi interessante, eu fui sozinho, foi em janeiro, foi no dia 2, foi no dia 1 de janeiro, porque dia 2 é que me apresentei na empresa. Então a Petrobras me deu a passagem, né, e deu a reserva de hotel, 10 dias de hotel na Bahia, o hotel tal, deu o endereço todo lá e mandou. Eu fui pro aeroporto, né, tinha 21 anos de idade. E cheguei lá e encontrei um outro colega da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também estava na mesma coisa, mas eu não conhecia ele. Conheci lá no avião, puxei um assunto, o cara estava indo para a Bahia fazer um curso da Petrobras e pronto, aí começamos por aí. E era uma coisa nova, uma coisa de... Pô, eu pela primeira vez ia para a minha terra para conhecer, porque eu não conhecia Salvador. Era do interior, nasci em Salvador, mas eu pequeno e tal, nunca mais voltei, nunca fui lá. Se fui, foi assim... Rapidamente. Não conhecia Salvador. Eu ia pra mim até pra morar lá sozinho. Pra começar a vida, né? Então é uma coisa bastante interessante. E esse outro, esse meu colega que eu conheci no avião, também fomos morar junto. Tem umas histórias interessantes. Foi bastante... Qual é o nome dele? Alberto Sampaio de Almeida. Ele hoje é gerente-geral aqui do AIP, aqui na sede do Rio de Janeiro. Trabalhou a vida toda no centro de pesquisa da Petrobras. E foi interessante que ele foi... Na noite que nós chegamos no hotel, que fomos tomar um chope embaixo para nos conhecermos, para nos aproximarmos de um lugar mais descontraído, ele disse, olha, eu vim para cá para tirar o primeiro lugar. Porque eu já mapei tudo aí o seguinte, todos os primeiros alunos do curso, dos cursos de petróleo, quando vem as vagas, tem sempre uma vaga para o centro de pesquisa, normalmente eles pegam o primeiro aluno. pra trabalhar na... que é a elite da... E eu vim pra cá porque eu tô noivo lá no Rio de Janeiro e minha noiva trabalha na biblioteca pública lá do estado, alguma coisa assim, que ganhava mais do que ganhava na Petrobras. Então, pra ele casar o projeto de vida dele, ele tinha que voltar pra casar o projeto de vida dele. Eu vou vir aqui pra tirar o primeiro lugar. Eu achei o cara, assim, um pouco, né, prepotente, uma coisa assim meio... Porra, esse cara tá fazendo, fez um concurso no Brasil todo, no Globo Nacional. A esfera de tudo, num quanto é lugar. E vem aqui, eu vim pra tirar o primeiro lugar, é um negócio meio, né? E, olha, foi morar junto, colegas de república, e o cara tirou o primeiro lugar. Quer dizer, eu sempre uso isso, até pros meus filhos sempre. Com exemplo de determinação, o cara mais determinado que eu já conheci na vida, e pra mim foi um exemplo de vida, foi a determinação dele.
00:20:36 P/1 - E você, você tinha determinação também?
00:20:39 R - Não, eu estava mais naquela coisa de mundo novo, de desgarrar da família, começar uma coisa nova, sozinho, sem compromisso, não tinha namorada, não tinha noivo, não tinha nada, entendeu? E era aquela coisa de começar tudo novo. Então, tudo era festa, tudo era farra e deslumbrado. Foram 14 meses o curso, nós estudávamos oito horas por dia, era aula de manhã e de tarde, de segunda a sexta, com provas, um negócio bem rigoroso. Para você ter uma ideia, nos três primeiros meses, dos 40, ficaram 20. Os 20 foram reprovados, saíram por outros motivos e não seguiram em frente. Era um reuniós muito puxado, um curso bastante rigoroso, com provas difíceis e a turma se virava para... E você convivia com gente do Brasil inteiro, gente de São Paulo, gente do Ceará, gente de Pernambuco. Era uma diversidade fantástica. Foi um período fantástico da minha vida, esse período na Bahia.
00:21:46 P/1 - E acabou que você tirou em que lugar?
00:21:48 R - Eu tirei em terceiro lugar. Inclusive, eu disputei muito no terceiro lugar, porque não afarra do pessoal. E a gente, para poder botar medo até no Alberto, dizia para ele, olha, se você não estudar mais do que estudou, porque já estudava 100% do tempo. E a gente ia para a praia, para os bares, para as festas, e ele ficava estudando. Mas ele tinha aquela determinação. Eu vim para cá para isso, é ponto final. E a gente gozava, aquela coisa de jovem. Até para poder provocar mais o cara e dizer assim, olha, eu estou aí. Tirava notas boas, né, e a gente tirava primeiro lugar, de segundo eu primeiro, e a turma falava assim, pô, o Frazão também é de Niterói, o cara quer voltar pra lá, só tem uma vaga pro SEMPES, se você não estudar, ele vai ficar primeiro lugar, vai querer ir pro SEMPES, você não vai poder ir. E aí ele estudava mais ainda, né, e eu acabei ficando em terceiro lugar.
00:22:38 P/1 - E isso te possibilitou a escolher aonde você queria ir?
00:22:41 R - Na verdade, depois do segundo lugar, primeiro e segundo lugar, o resto não tinha muita diferença. Normalmente, o primeiro lugar era uma vaga para o centro de pesquisas e uma vaga para o setor de ensino na Bahia, para ser professor do setor de ensino. Os demais iam ou para a região de produção da Bahia, que era a escola do petróleo, a grande unidade da Petrobras, ou para a região de produção do Nordeste, que é em Aracaju, que era outra unidade importante da companhia. Tinha um distrito em Natal, na Bacia Potiguar, pequeno. E não tinha grandes outras opções, tinha Belém do Pará, você trabalhava em perfuração, ia pouca gente pra lá. Quer dizer, não era muito diferente depois do terceiro lugar, né? Então, eu era baiano, na Bahia, Salvador, aquela coisa maravilhosa, festa o tempo todo, né? Eu queria ficar ali mesmo, né? Minha terra. Então, eu fui, após o curso, escolher, minha opção foi escolher trabalhar na área de produção, porque nós podíamos escolher entre produção e perfuração. Você tinha engenho de produção, engenho de perfuração. Eu escolhi trabalhar na área de produção, na região de produção da Bahia. Então, eu fui lotado a partir de maio de 76. Nós terminamos o curso, 75 o curso, mais um pedacinho de 76. Foi maio de 76. Cada um foi para a sua unidade e eu fui para a RPBA, região de produção da Bahia, trabalhar em Catu, trabalhar em Candeias, trabalhar em Miranga, nos campos de Miranga e Arassás. Foram os meus primeiros campos de petróleo na Bahia.
00:24:17 P/1 - Era uma coisa que marcava o seguinte.
00:24:25 R - Primeiro que você tinha aquela coisa, pô, eu sou engenheiro formado, você já fica com uma coisa, né? Eu sou engenheiro. E petróleo, é a questão estática, né? Você vem trabalhar no escritório, para gravar, aquela coisa toda, é um cara importante, né? Engenheiro, né? E você ia lá, você ia trabalhar como peão, porque naquela época a gente estagiava e fazia os serviços que a peãozada fazia. Então, o que acontecia? Por exemplo, quando eu estava na área de produção de petróleo e fui trabalhar em poço de petróleo, em serviço de poço, em completar o poço, depois que perfuro o poço, fica em todo um trabalho de você descer os revestimentos, cimentar o poço, preparar o poço, canhonear, botar para produzir, aquela coisa toda, todo esse serviço. Você faz 24 horas por dia, então ele trabalha em turno. E as turmas dos campos terrestres vão de caminhãozinho naquela boleia ali, junto com a pianzada. E é meia-noite. Depende da hora que tem a operação, que você vai ser o responsável. Pode ser meia-noite, uma hora da manhã, dez horas da noite, cinco da manhã. Não tem hora, pá. E você vai junto com a moçada lá, naqueles caminhõezinhos, comer aquelas quentinhas. Muitos comiam no capacete, pegavam e botavam a comida no capacete e comiam aquilo. E a gente tinha que estar ali. Aí eu lembro que tinha uns colegas assim, os mais, que se chocavam mais com isso, eles diziam assim, porra, se minha mãe e meu pai me veem nessa situação depois de formada, puxa vida. Porque pô, comendo em quentinho aqui no meio do mato, chovendo, a gente na rua, e o outro comendo capacete, aquela peãozada ali, e você tá aqui do lado dos peões. tratando você igual o outro, entendeu? Não tem nada de diferente. Você tinha que fazer a força, pegar saco nas costas pra levar lá, misturar num produto químico pra botar no poço. Você fazia, você era um peão ali, porque você tava aprendendo, você tava começando. Hoje não se faz mais isso, mas naquela época ainda se fazia bastante coisa desse tipo. Então isso marcou, né? Porque teve colegas que abandonaram, falaram, tá louco, eu não venho, eu sou gênero, pô. Não vou me submeter a um negócio desse, mesmo depois de ter feito curso.
00:26:31 P/1 - O que te motivava?
00:26:32 R - Eu achava fantástico essa coisa. Eu gosto de campo, de área operacional, de trabalhar com gente para objetivos, metas desafiadoras da gente realizar. Eu adorava aquilo ali. O petróleo entrou no sangue. Eu sou apaixonado pela Petrobras e pelo petróleo. Sou apaixonado pelo petróleo. Quer dizer, como é que o destino, a gente fica... Por que que me levou a isso do negócio de petróleo? Por que que eu fiquei tão... É isso que eu queria fazer. Tem negócio de engenharia assim. Isso aí hoje, pelo amor de Deus, isso aí qualquer um vai. Petróleo é fascinante, petróleo é fascinante. E depois, na frente, a gente pode entrar nisso aí, eu vim conhecer a coisa mais maravilhosa que tem no mundo, no Brasil, que aí o país ainda não deu a importância que merece, que é a Amazônia. Aí juntou o petróleo com a Amazônia. Eu fiquei na Bahia até 79, mas em 77, com o advento da grande descoberta da bacia de campos, o campo de Garopa, no Garopa 4, a Petrobras resolveu, porque não tinha ainda uma unidade aqui no sul, no Rio, então a região de produção da Bahia, por ser a escola do petróleo, tradicionalmente a grande escola, resolveu selecionar 20 engenheiros E falar, bom, vocês agora vão ficar ligados à bacia de campo, vocês vão trabalhar embarcados nas plataformas, mas vão ficar lotados ainda aqui, porque não tem ainda estruturado lá e tal. Até que se foi criado lá em Vitória, o Distrito do Sudeste, nós ficamos lotados na Bahia, mas embarcando. Então, eu embarcava 14 dias e folgava 14 dias, embarcava 14 dias e folgava 14 dias. Eu e mais 19 outros engenhos da Bahia. Então, eu passei dois anos embarcando nas plataformas e nos navios da bacia de copo. Era avaliação e completação de poços. Depois que o poço é furado, ia testar o poço. Então eu entrava como responsável pela parte de teste dos poços. Todos os trabalhos relativos a verificar como está a cimentação, corrigir se for o caso, canionear o poço, descer a coluna para abrir e botar em fluxo para medir as vazões, verificar qual o potencial do poço. Tudo isso era a nossa área de atuação. Eu passei dois anos embarcado. Nesse período, nesse regime de 1414. Muitos, muitos, muitos. Teve um que foi uma coisa de louco. Isso aí nunca sai da cabeça. Um rapaz, um plataformista, ele foi... A Catarina, não sei se você conhece a Catarina, aquele bloco amarelo grandão que tem na sua, que suspende os tubos, né? Ele estava fazendo uma operação com uns cabos, pendurados com cintos de segurança, para ele mexer num tubo em cima, numa válvula, que ele estava com problema, e essa catarina veio e espremeu ele com a tubulação. Aquilo ali pesa toneladas. E ele faleceu, tipo assim, 10 horas da noite. Eu era o responsável pela sonda. Eu tinha um cara morto. De repente, um cara morreu lá em cima da sonda. E aquilo, o cara hoje era um novo, né? De 20 e poucos anos, 23 anos de idade, 24 anos de idade. Olha, o primeiro, você tá com... Pô, nunca vi ninguém morto, né? O cara esmagado em cima da sonda. Aquilo ali, ia ir pra procurar ver como é que fazia. Agora, primeira experiência, não tinha como fazer. Não voava helicóptero de noite. Era coisa louca, e contatos pra todo lado. Até fazer contato com Brasília. De manhã até de manhã cedo. Passava a noite toda, né, nesses contatos, pra ver os procedimentos. E de manhã cedo, aí não queriam tirar, porque não podia. Aí veio o piloto do helicóptero e disse, ah, não levo, o cara tá morto. Aí, boa, mas... Não posso levar morto, mas, boa, então... Bom, só se o cara não tiver morto. Não, então o cara não tá morto. O cara não tá morto. Quem falou que o cara tá morto? Quem falou que o cara tá morto? Eu que sou o gerente aqui nesse negócio. Não, negativo. Chamou o médico aí. Aí chamamos lá o enfermeiro, o cara lá, que o enfermeiro na Sonda era médico, né? Porque é uma autoridade, né? Aí chamou o cara no cantão e falou assim, ó, tu vai dar um... dizer aqui que o cara não tá morto, não. Tá agonizando, mas tá vivo. Pra poder o cara levar. Aí o cara testou lá e conseguiu levar. Morreu no caminho, né? Então eu tive algumas... alguns momentos no mar terríveis. Eu lembro que aquela época era uma época de começo, de vanguarda mesmo. Tinha pouca gente que entendia essa coisa de offshore. E como eu estava naquela época, eu era o mais experiente, porque eu fui um dos primeiros a começar esse trabalho, junto com o Marcelo de Campo. Qualquer coisa que tinha um pepino maior, ele dizia, ó, o jamuflazão, bota ele lá, pega lá o helicóptero, ele manda levar pra outra plataforma lá do outro lado, duas horas. Aí teve um dia que o helicóptero não voava, estava chovendo e a operação não podia parar, porque esses navios, você imagina, naquela época era 60, 70, 80 mil dólares por dia a operação, só o aluguel da sonda. E aí eu lembro que eu estava quase morto, porque aquilo era o seguinte, você trabalha sozinho na plataforma. Os gringos fazem 12, 12 horas. Botam 12 engenheiros, ficam 12, outro 12. Descansa e 12 horas trabalhando. Na Petrobrás, como a gente não tinha nem gente pra isso, nós ficávamos 24 horas. Lógico que quando tinha uma atividade que você não precisava estar lá, você ia dormir e descansar. Mas você não tinha hora pra dormir, pra descansar. Eu lembro que era uma dessas. A gente passou a noite toda acordado, porque tinha um serviço que precisava estar ali na frente. E de manhã cedo, quando você estava morto, olha, veio um rebocador te pegar aí, porque o tempo chovoso, não estava vindo helicóptero. Você precisa ir para uma zona que está parada, tem um problema lá. Aí eu fui para lá. E aí o rebocador, o mar violento pra caramba, duas horas de barco, e eu morto lá dentro, morto, já tinha passado mal, não aguentava mais, desmaiado. E quando chega lá, chegou no lugar, eu desmaiava, mas tava morto, morto, não senti nada, então tá lá. Chegou a hora que tinha que sair pra... Não sei se vocês já viram o guindaste, desce a cestinha, já viram a cestinha? E bota lá no rebocador, você sobe na cestinha, e aí o rebocador te puxa, o guindaste te puxa pra cima da plataforma. Aqui era um vento, uma tempestade horrorosa, a cestinha ficava assim, inclinada. A cestinha inclinada, e os caras lá no mar, imagina aquele coisa. E eu, eu falei, vai, é você que vai, eu que vou, é você que vem aqui, nós viemos aqui para te trazer. E aquele vento cortante, a cesta inclinada, o cara puxando e aquele entorpecimento, não via nada, tudo fechado o tempo. E eu detestava, quer dizer, detestava, eu tinha pavor de injeção. E nesse dia eu lembro que eu fui lá para a enfermaria da plataforma, porque eu tinha que ir lá para trabalhar, não tinha, falei para o cara, dá qualquer coisa aí para me me recuperar, porque eu estou morto aqui". Aí o cara deu lá um não sei o que que deu, e eu consegui ir lá e fazer a operação que precisava. Então, tem coisas maravilhosas, maravilhosas. total, olha, isso é que eu vi depois na Amazônia, porque olha, essa coisa do passado de você, o presidente hoje, né, o presidente Dutra, ele tem falado muito isso aí de fazer o empregado vestir de novo a camisa da Petrobras, quem conheceu a Petrobras nessa época e essas coisas que a gente passou, é que vê que hoje não tem mais isso. Onde é que ainda tem isso hoje? Na Amazônia. É isso que faz a diferença da Amazônia. Porque o trabalhador da Petrobras na selva, ele se sente mais do que fazia a Petrobras, ele se sente construindo o país, ele se sente desenvolvendo o Brasil. Ele se sente algo mais, entendeu, do que nem vacio de campo. Não tem o apelo que tem você desenvolver um campo de petróleo dentro da selva. Não tem nada igual. Não tem nada igual. Quando a gente diz para o pessoal, pessoal, a única coisa que pode fazer a gente, que pode ameaçar a gente aqui na selva é um acidente, é um derrame, é uma poluição. Então, primeiro lugar, enquanto todo mundo discursa, primeiro lugar a produção, naquela época. Primeiro lugar a produção. Depois vamos ver com o negócio de problema de acidente. Primeiro lugar a produção. Lá na Amazônia, primeiro lugar em não ter poluição, não ter acidente. Por exemplo, aquilo da Baía de Guanabara, aquilo do Paraná, eu dizia lá, eu estava no superintendente nessa época, já mais recente agora lá, eu dizia assim, aquilo lá, pessoal, isso aí, porque nós, lá dentro da selva, a gente tem oportunidade de juntar todo mundo de noite num auditório, num restaurante e conversar com todos os empregados. Seja ele o braçal, seja ele juntos, o que não tem aqui fora. Então a gente dizia, olha, aquilo lá fecha a nossa unidade. Porque aquilo lá não é repercussão nacional, vai ser repercussão mundial, se aquilo for aqui. Então, as pessoas lá de Urucu, as pessoas da selva, as pessoas da Amazônia, elas têm esse sentimento da importância que tem não poluir, da importância que tem não vazar, da importância que tem não ter acidente, não tem para onde correr. Um acidente aqui não tem para onde correr. Se for de noite, não tem para onde correr. Então, não pode ter acidente. Então, lá é zero acidente.
00:35:37 P/1 - Conta um pouquinho, Frasão, quando é que dá essa tua transcridência pra nós?
00:35:41 R - Foi legal, foi um negócio interessantíssimo. Eu lembro que quando, em 79, que eu estava na Bacia de Campos, que houve uma reestruturação da companhia, que o antigo Dexpro, Departamento de Exploração e Produção, explodiu em três departamentos, Depro, Depere e Depex, Departamento de Produção, Departamento de Perfuração e Departamento de Exploração. Então houve uma grande reorganização aqui na sede e precisava de gente pra para fazer parte dessa estrutura. Então, me chamaram e disseram, pô, você é aqui de Niterói, nós estamos precisando de gente aqui no Rio de Janeiro, você tem mais experiência aí porque começou junto com a Bacia de Campo, nós queremos que você venha para cá para coordenar os trabalhos aqui da sede. E ali foi a primeira grande decepção minha na companhia, porque eu vim novo, fazer um trabalho burocrático de contato, de ficar telefonando para as unidades, para acompanhar de longe, de relatório. Aquilo ali para mim foi... Terrível, né? Terrível. O negócio era campo, era freio de trabalho, era coisa, né? E quando foi em 81, assumiu o novo diretor da Petrobras, chamado Orfilo Lima dos Santos. Esse aí era... fez história na companhia, como os caras, como diziam os amazonas lá e os mateiros, né? Esse é brabo. Esse é brabo. O homem tinha uma fama de bravo pra caramba, né? E o destino é um negócio interessante. Esse Orfila, ele foi colega de república do meu pai em Salvador, piauiense, como o meu pai. Estudaram junto em Salvador, moraram junto, amigos. Depois, meu pai veio até reencontrá-lo no Rio de Janeiro, porque meu pai comprou um apartamento em Niterói, e a irmã dele, por acaso, era uma peãoiense que comprou. Meu pai descobriu porque tinha uma peãoiense no prédio e, curioso para saber quem era, era a irmã do Orfila, que já, anos depois de bastante, já estava na Petrobras. E meu pai, então, retomou o contato com o Orfila, com esse grande amigo dele da juventude. E ficaram, conviveram, até meu pai falecer. E meu pai faleceu, eu não era nem formado ainda, eu estava estudando. Depois eu entrei na Petrobras e vejo só como é o destino. Anos depois, bastante tempo depois, esse colega meu pai vem assumir a diretoria da Petrobras, onde eu estava, da área onde eu estava, de exploração e produção. E ele visitando a Amazônia, ele ficou muito chateado com a visita que ele fez, que ele chegou numa sonda junto com o presidente Weck e o Carlos Walter, outro diretor, né? E toda aquela dificuldade da Amazônia de helicóptero, né? Aquela coisa toda de avião pra você ir lá pra Carauari, pegar helicóptero pra ir pra sonda. Chegou lá, viu aquela atividade caríssima, né? Porque é tudo de helicóptero, né? Pra vocês terem ideia, uma sonda pra mudar de um lugar pro outro, são 300 voos. 300 voos para botar uma sonda de um lugar para o outro. Então, imagina, coisa caríssima, né? Ele viu aquilo tudo lá e chegaram na sonda, estava parada porque tinha uma coluna enferrujada. E só no dia seguinte, agora ele quer poder trocar a coluna, e não sabia nem se tinha lá em Carauri. E ele queria saber quem era o responsável, quem era o responsável, e disseram que era o pessoal de Natal, porque a produção era cuidada por Natal, lá da Amazônia. Então ele votou a fera, e determinou que tinha que se criar um núcleo da produção lá em Manaus, e deu um perfil de um engenheiro que devia coordenar isso aí, que era o meu perfil. Dez anos, categoria 2, trabalhasse em completação e avaliação, era tudo que eu tinha. E aí os caras desceram apavorados lá, né, superintendente do DEPRO, chefe da divisão de completação onde eu estava lutando no Rio, e disseram, olha, estamos com um problema aí, porque o diretor quer que faça isso aí, é toque de caixa, e a gente, quem é que vai querer ir pra Manaus, pô? Um cara de 10 anos não vai querer sair daqui do Rio, de Bahia, de Salvador, pra ir pra Manaus, ninguém vai querer ir. E quando eu soube aquela história, eu fui lá e falei, eu quero ir. Pô, mas ficou doido, né? Um cara de Niterói, tá aqui, com a família, tu vai querer ir pra Manaus? E aí eu fui. Foi interessante porque quando o diretor soube que tinha um cara que era voluntário, que era eu, e quis entrevistar. E eu, aquela coisa do Orfilo, eu sabia que meu pai tinha um amigo Orfilo na Petrobras. E acompanhava, mas ele não sabia quem eu era. Muitos anos passaram, eu era garoto, não ia lembrar mais nunca de mim. E quando chegou lá, antes de ele perguntar qualquer coisa, eu perguntei se ele era irmão da Maria Luísa. E aí eu fui retomando as coisas. Quando ele descobriu que eu era filho do Eulino Frazão, ele me abraçou emocionado e disse que o senhor sabia que o meu pai era um grande amigo dele. Aí contou um monte de histórias. Acabou a entrevista aí, ele contou as histórias dele com o meu pai. E aí ele me deu os conselhos de que, realmente, tudo que eu queria eu via, porque eu queria ir para o campo, eu queria voltar para a área operacional. E ele me disse que na carreira na Petrobras, não é aqui no Rio de Janeiro, aí estão as burocráticas, você tem que ir lá para o campo, lá para frente eu vou lhe dar uma grande oportunidade, porque a Amazônia é fantástica, é maravilhosa. E é tudo que eu queria ouvir. Ali, então, foi uma coisa espetacular, essa minha ida para a Amazônia. E meu pai, como Rogério cartógrafo, ele fazia os bicos para as empresas multinacionais de levantamentos aerofotogramétricos na Amazônia. Nos finais de semana, feriados prolongados, essas coisas todas, ele ia para a Amazônia e passava lá fazendo esse trabalho dele e voltava todo queimado com histórias de índio, com a coisa maravilhosa da Amazônia, as frutas. Eu era encantado com aquilo. Teve uma coisa da Amazônia. A Amazônia sempre teve um apelo muito grande. A gente ficava encantado com as histórias que meu pai contava quando ele viajava para lá.
00:41:36 P/1 - Então, quando é que você chegou, por exemplo, a Manaus, como é que foi essa experiência? O chegar, o que você foi fazer?
00:41:42 R - Não tinha nem lugar de ficar. Não tinha lugar de ficar. Então, eu fui para Manaus, e naquela época... Você ficava onde? Engenheiro 1. Não podia ficar em hotel 5 estrelas. Aí eu disse que... Falei, eu quero ficar no Tropical. Eu quero ficar no Tropical. Aí falaram lá, aquelas burocracias da Petrobras, era toda cheia de coisas, de regras e normas, e cada vez... militar na época, hierarquia... Aí eu disse assim, olha, eu quero ir para o Tropical, estou recebendo, a empresa está me chamando para ir para lá, está precisando de mim lá e o diretor disse que o Tropical era bom, eu estou querendo ir para o Tropical. Ah, não pode. Daqui a pouco ligaram lá, dizeram que o chefe da Recursos Humanos falou que não podia, que tinha que ser um hotel três estrelas. Aí eu disse, olha, então, disse para a secretária. Então, disse para ele para ligar lá para o gabinete do diretor, perguntar à secretária do diretor, para perguntar ao diretor qual é a outra opção, porque eu não posso ficar no Tropical. E lógico que eles não iam fazer isso. E não fizeram, e eu fiquei lá seis meses no Tropical. Aí eu fui trabalhar na refinaria, porque não tinha o escritório lá. Eu fui trabalhar na refinaria. Arranjaram uma sala na refinaria de Manaus pra mim. Eu passei lá seis meses, por aí. Depois a gente descobriu, tinha descoberto nessa ocasião, tava furando um poço chamado Pará Submarino 11. Pará Submarino 11, Paz 11. na foz do Amazônia, na costa do Pará. Então teve uma grande descoberta na época, que se pensava que era uma nova laçade de campos.
00:43:09 P/1 - Você estava lá quando descobriu?
00:43:10 R - Estava em Manaus.
00:43:12 P/1 - Conta um pouco desse sentimento, desse momento.
00:43:16 R - O meu grande sonho era fazer a área norte virar uma área produtora de petróleo. Esse era o meu grande sonho. Por quê? Porque não tinha produção, acima de Natal não tinha. O lugar mais... era a Bacia Potiguar, o Barana, Curimã, Xarel ali, mas ali pra cima não tinha produção de petróleo. Não, no Ceará tinha Curimã e Xarel, mas foi mais recente, eu não sei se foi nessa época. O que a gente tinha na cabeça era Ubarana, que era o Rio Grande do Norte. Acho que Xarel e Curimã veio depois. Então, o meu grande sonho era fazer a área norte virar uma área produtora de petróleo. E eu juro para vocês que, além de eu saber que o sonho, a Foz do Amazonas ainda é uma grande fronteira, a Foz do Rio Amazonas é uma grande fronteira, que tem uma bacia espetacular, que eu ainda acho que vai acontecer coisas maravilhosas no futuro, lá em termos de descoberta de hidrocarboneta. Mas o mar, eu já conhecia da bacia de campo, a minha grande coisa era a selva, entendeu? Eu sabia que o potencial da Foz do Amazonas é muito maior do que da selva, mas a minha era a coisa da selva que era o novo. que era o inusitado, a selva. Mas a gente veio, para vocês terem ideia, o Rio Amazonas, ele joga no mar. por segundo, 6 bilhões de litros de água. Deixa eu ver se é esse número mesmo. Porque são 6 bilhões de habitantes da Terra, né? Vamos tomar a ordem de grandeza, 6 bilhões. Eu tinha na cabeça o seguinte, a cada um minuto e meio, o Rio Amazonas poderia dar para cada um habitante da Terra, do planeta Terra, 90 litros de água. 90 litros de água para cada habitante do planeta por cada Um minuto e meio, o Rio Amazonas é água doce, é uma coisa maravilhosa. Então, a Força do Amazonas tem uma bacia sedimentar fantástica. A Força do Amazonas ainda é uma fronteira que ainda vai dar muito o que falar aí no futuro. Mas a minha coisa era na selva. Então nós viemos para Belém, eu saí de Manaus e vim para Belém, porque eu fiz uma exposição de motivos para a gente cuidar. de um projeto antecipado de produção do Pará, Submarino nº 11, era mais importante ele estar perto, mais perto do Berêndio do Pará do que estar lá em Manaus, as dificuldades. Era como foi feito em algumas áreas da Bacia de Campos depois, que você descobriu uma acumulação E ao invés de você delimitar furando outros poços para saber se isso aqui tem um porte econômico para você botar um projeto grande de produção, instalar plataforma, gasodutos, oleodutos, compressores, etc. Ao invés de você fazer isso aí, você opta por você pegar esse poço que descobriu e montar um sistema que você vai botar aí para produzir, vamos dizer assim, até esgotar, se é que vai esgotar. para você ter dados, parâmetros, para verificar se esse volume de óleo que tem lá embaixo é suficiente para você ter um grande projeto. Então você faz uma produção antecipada. Um teste de formação é um teste curto que você bota para produzir, tem um fluxo e mede quanto afetou na pressão do reservatório aquilo que você tirou de volume lá de baixo. Logicamente, quanto mais você tirar, tem mais a afetar e mais chances de acertar em termos de volume que tem no subsolo, você tem. E, com isso, resolvemos que seria interessante a gente montar uma plataforma de produção, montar uma estação em cima do poço que estava a Descobridor e botar ele para produzir. Botamos um navio. Encostamos o navio na plataforma e voltamos para produzir. Só que, diferente da Bacilli-Campos, ele foi declinando, mostrando que o que tinha embaixo era uma acumulação pequena e não uma acumulação de grande porte. Em termos de quase um ano, ficou produzindo, começou com 3.500 barris por dia e foi declinando até 800 barris por dia, quando ele teve que fechar por motivos de economicidade. Tivemos outras alternativas.
00:47:10 P/1 - Mas aí você se muda?
00:47:12 R - Está bem lendo parar. E trabalhei uma boa parte do tempo embarcado no Paisosa. Embarcando e voando. E não folgava, porque eu era o responsável pela operação. Muitas vezes eu ficava na plataforma, dez dias, uma semana, e voltava e continuava no escritório.
00:47:32 P/1 - Locais trabalhavam também, na Petrobras, o pessoal população ribeirinha...
00:47:37 R - É, lá na selva, olha, isso aí foi muito forte depois que a gente foi pra selva, né? Nessa coisa aqui, do País 11, teve assim, o pessoal braçal, o plataformista, os fundadores, o pessoal era basicamente local, né? Eu lembro que teve um lance de um acidente horroroso lá. Nós estávamos esperando o helicóptero, a turma que estava chegando, E a gente, toda vez que chegava o helicóptero, a gente ia para o heliponto para esperar o pessoal descer. Tinha o pessoal que conduzia, a turma que chegava. E quando nós estamos chegando lá, o helicóptero bateu na pá do helicóptero, bateu na plataforma, o helicóptero emborcou, ele caiu. E ele foi afundando e as pessoas dentro, batendo no vidro, tentando sair, não saía e morreu todo mundo. Teve vários acidentes assim, coisas marcantes, coisas assim, fortes, entendeu? Mas essa questão que você falou aí dos trabalhadores, é muito forte, muito assim, diferente mesmo, é quando a gente vai lá para dentro da selva.
00:48:43 P/1 - Conta um pouco pra gente como é que é essa experiência, esse contato com esse habitante localizado.
00:48:48 R - Na verdade, a Petrobras, até a gente descobrir o Urucu em 1986, nós éramos nômades. O que é isso? É que a gente ia furar em vários locais nas margens dos rios, principalmente o rio Juruá, que foi o grande trend que se descobriu do campo de Juruá, Nordeste de Juruá, Jaraqui, Garapé Pucá. Era um conjunto de estruturas, margeava o rio Juruá. E como era gás, a gente não tinha, lá na Amazônia sempre teve esse problema. O gás era um volume grande de gás, mas não era suficiente para levar para o grande mercado que era São Paulo. Tinha que fazer um exoduto de grande porte, uma obra gigantesca. Então nós tínhamos que furar. as outras estruturas para tentar ver se a gente apropriava uma reserva tal que justificasse fazer uma obra de esporte, de trazer o gás para São Paulo, como depois veio o gás da Bolívia. A Bolívia tem muito mais gás do que aqui ainda. São trilhões de metros cúbicos e a gente tem bilhões de metros cúbicos. Então, a Amazônia hoje tem uma ordem de 100 bilhões de metros cúbicos de reserva. Quer dizer, uma reserva gigantesca, mas não é suficiente para levar para o mercado. Então, estamos fazendo avaliações, cubando as reservas, vamos dizer assim, e fechando os poços e deixando lá para o futuro, até que a gente justifique. Até que veio a grande... nós éramos o Nômade, então ia... faz uma clareira na selva, o helicóptero leva os pedaços da sonda para montar, 300 voos, 350 voos por cada um deles, monta a sonda, fura o poço, avalia, depois desmonta a sonda, os pedaços e o helicóptero vem levar para outro local, mais 300 voos, 350 voos. Até que chega, né, e a gente depois disso aí, você bota a solda na margem do rio, bota os pedaços da solda na balsa e vai para o outro rio, e abre um outro portinho e vai de novo, e começa tudo de novo. Então nós éramos nômades, não tinha onde ir. Até que em 86, a gente desce o rio Juruá, Juruá é a frente da mais direita, os afluentes da mais direita é a água branca, os afluentes da mais esquerda é a água preta. E a gente desce o rio Juruá, entra no Solimões, E aí a gente entra no rio Teferro. Por que no rio Teferro? Porque o rio Teferro é um rio que tinha histórico de navegação, histórico de navegação porque tem cidade nas margens. Apesar de que a nossa perfuração que nós íamos fazer, o RUC1, o descobridor do rio Urucu, Ele era na margem do rio Urucu, mas a gente não teve o atrevimento de entrar pelo rio Urucu, que era uma coisa, para vocês terem ideia, as balsas levavam 11, 15 dias de viagem para dentro do rio. Então nós entramos pelo Tefé, que é um rio paralelo, mais ou menos paralelo ao rio Urucu, que era um rio que se conhecia na vejabilidade dele porque tinha cidade nas margens. Então a gente entrou, abrimos um porto chamado Porto Moura, descemos com a sonda, e aí pegamos o helicóptero, levá-lo lá pra baixo do rio Urucu, lá pro outro lado, cerca de cinquenta quilômetros de distância. Se a gente estivesse no rio Urucu já era 10 km, 5 km. Mas nós fomos para cá porque aqui a gente conhecia. E aí nós descobrimos, furamos esse poço, apoiado pela margem do rio Tefé, e aí houve a grande, fantástica, maravilhosa mudança de toda a história do petróleo na Amazônia, que foi a descoberta do rio Urucu, número 1, que produziu em teste 1.300 barris por dia de óleo. E aquilo assustou que foi uma coisa de louco. Porque toda a nossa história era testar gás. E gás, você bota fogo no queimador, queima o gás, não tolui nada. Os testes de tudo que a gente tinha feito até agora era gás. Então o gás você botou para produzir, botou o fluxo, botou no queimador, acendeu a tocha, botou no queimador, pronto, fica medindo aqui e queimando todo o gás até você ter as informações que são necessárias para você fazer a sua avaliação do poço. E nessa ocasião, em 86, a gente deu de cara com óleo negrão ali, o pretão ali, nas árvores, poluindo tudo. Aquilo foi um negócio de doido, não é? Porque por mais que os queimadores sejam eficientes, não queima 100% de óleo. Não queima 100% de óleo. Não queima 100% de óleo. Isso aí pode quem quiser dizer que não queima. Então, até acendeu os queimadores, porque aquilo era uma novidade. A gente não tinha nem preparado, porque nós esperávamos gás. Mas de uma loucura, aquela coisa de arrepiar, de todo mundo doido. Que coisa, é petróleo mesmo, é petróleo. Ninguém acreditava que era petróleo. Então vocês tem aí aquelas fotografias, tem umas garrafas, todo mundo queria levar um pouco. Aquela coisa louca, esse cara vendo petróleo na selva. E aí a grande sacada da Petrobras, a grande sacada, a maior sacada da Petrobras. Nós tivemos, com essa descoberta que nos assustou, nós íamos furar agora outros poços para delimitar o campo, para saber se aquilo ali era uma coisa grande, média, pequena, como é que ia ser. Mesmo porque a gente não podia fazer o que a gente fez no País 11. A gente botava um navio e botava ele lá. Aqui na selva não tinha como fazer isso. Então vamos furar outros poços. Vamos agora abrir clareiras a dois, três, cinco quilômetros de distância para a gente furar e ver se essa coisa se estende até lá, se estende para norte, se estende para sul, se estende para leste. Qual é o tamanho dessa acumulação? A gente não sabe. Então vamos fazer isso aí. E aí nós tivemos, foi um negócio fantástico, nós convidamos todas as entidades de renomado saber sobre a Amazônia, o Instituto de Pesquisa da Amazônia, o IMPA, Museu Emílio Gueldi. Alguns do que eu lembro, né? Museu Emílio Gueldi, fantástico, de Belém do Pará também. Fundação Universidade do Amazonas. Universidade Federal do Pará. Fiocruz. E outras entidades que ocorreram, que a gente levou. Nós reunimos no grande workshop no Hotel Tropical em Manaus. E o objetivo daquilo era dizer, pessoal, nós estamos querendo anunciar para vocês que a gente descobriu o petróleo pela primeira vez dentro da selva. e em volume significativo. Nunca se tinha testado 1.300 barris por dia de óleo dentro da selva. Já tinha algumas acumulações pequenas que tinham ocorrido no passado, mas nada com esse porte. E dava aquela expectativa de que realmente a gente estava com uma coisa nova como foi. A história está aí para mostrar. Nós somos uma empresa de petróleo que nós sabemos muito bem explorar, produzir, perfurar poço, mas a gente não sabe fazer isso dentro de uma selva exuberante maravilhosa como essa.
00:55:19 P/1 - Como eram as condições de trabalho na Amazônia?
00:55:23 R - Tudo muito difícil, porque vocês têm ideia seguinte, na Amazônia todas as cidades ficam mais de rio e os rios são suas estradas. Tem uma época do ano que você abastece as áreas de equipamento, e a outra época você faz as obras, você faz as coisas, porque tem uma época que chove todo dia, como dizem lá, tem dois climas, duas estações do ano, né? Uma que chove todo dia, outra que chove o dia todo. Lá chove demais, chove muito, né? Então, a grande dificuldade é você pegar essa coisa, porque a gente, por exemplo, o rio Urucu, que eu estava falando sobre o Tefé, depois dos próximos poços, nós já entramos pelo rio Urucu, e aí a Petrobras começou a fazer história de navegação do rio Urucu, porque a gente viu o rio Urucu seco, com pouca água. Imagina, no inverno seguinte, na época de chuva, a época de maior seco é outubro. Seis meses depois, você tem a maior enchente. Treze metros de diferença de nível. Treze metros. Treze metros. É um prédio de quatro andares. Então, você imagina um prédio de quatro andares, aquilo ali se espalhando. O Rio é outro. Você chega assim, quem ia no Urucu, quem vai no Urucu? Em outubro, ou vai seis meses depois, ou seis meses antes. Diz, espera aí, é aqui, cadê o Urucu? O que é isso? Isso aqui é urucô. Porque é outra coisa. O nível, você tem lá uns marcos que são fantásticos. Então, essa dificuldade, desculpe, essa dificuldade era justamente isso, você pegar que se você não levasse determinadas coisas na época que o rio permitiu navegação, você não ia fazer, você perdia um ano. Você perdia um ano. Abrir estradas, levar asfalto, levar pedra, levar coisas que você precisava de grandes balsas, ou você levava naquele inverno ali que estava cheio, ou então você não fazia mais, só no outro ano que ia fazer. O aeroporto, por exemplo, de Urucur, se a gente não levasse tudo aquilo, montar os acampamentos, montar tudo, levar tudo de uma vez no inverno, atrasava um ano tudo, entendeu? As dificuldades eram muito grandes.
00:57:27 P/1 - E a comunicação também?
00:57:29 R - Muito grande, né, tudo. Depois a gente começou com o telefone, isso aí hoje a gente faz com tudo. Mas no início era rádio, né? Muita gente não funcionava. Terrível, terrível.
00:57:40 P/1 - E esses acampamentos como é que eram?
00:57:41 R - Olha, os primeiros eram as balsas, né? As balsas, alojamento. Então vinham aquele monte de balsa e o Rio Urucu, por exemplo, quando a gente entrou no Rio Urucu, porque fazer um poço apoiado pelo Rio Tefé, que fica a 50 quilômetros do Rio Urucu. É, pô, é o número de horas de helicóptero, Se você viesse para o Rio Urucu aqui, a coisa fica muito mais fácil. Então nós entramos com as bolsas todas para o Rio Urucu e montamos um acampamento, abrimos o chamado Porto Urucu, que se chamou PUC, Porto Urucu. e encostamos as balsas ali. Então a gente dormia ali nas balsas, a refeitória era ali, a lavanderia era ali, um monte de balsas juntas, né? Que a gente ficava alojado. E aí nós fomos abrindo a selva, né? Aí a partir do porto, construímos o alojamento, abrimos as estradas. Começou quando o outro poço deu, o RUC2 deu óleo, o RUC3 deu óleo, o RUC4 deu óleo. Falei, pô, isso tem que ter agora, vamos fazer. Porque um poço furado com sonda L transportável, A sonda que só vai de helicóptero é um poço muito mais caro do que uma sonda convencional que vai via rodoviária, que vai pra estrada, muito mais barato. Ela vai inteira. Tem que pegar a parte e levar o helicóptero porque custa caro o voo, né? Então nós começamos a abrir acesso na selva pra fazer, usar, pela primeira vez, sonda convencional dentro da selva. O que que era sonda convencional? Que a gente abria a estrada e a sonda ia como um carro. E essa abertura de selva era... Nós abrimos tudo.
00:59:05 P/1 - Eu queria que você retomasse um pouco essa coisa dos acampamentos, Frazão. Como é que era essa vivência com a galera, com os habitantes locais, por exemplo? O que vocês comiam?
00:59:14 R - Olha, em termos de alimentação, a gente não tinha muita diferença, né? Essa questão das frutas, né? Logicamente, o açaí, o taperebá, o chi. a graviola, que todo mundo conhece aí, o molhucinha, essas frutas regionais, a castanha, que era chamada castanha do Pará, que hoje é a castanha da Amazônia. E é uma coisa interessante que a gente vê o seguinte, aqui nessa coisa maravilhosa que é essa Amazônia, ninguém morre de fome. E o porquê que as pessoas, o caboclo, o amazonense, o ribeirinho, Eu trabalhei num poço uma vez que o local era seco, mas se tivesse um atraso, ia vir o inverno e ia inundar, porque o rio inundava e a gente ia ficar ilhado. Então, a sonda já foi colocada em cima de uma estrutura, prevendo isso. E como isso ocorreu, a gente ficou ilhado. Nós íamos pra dentro da sonda de barco. Vamos lá no separador de barco. Tinha umas canoas alugadas. Tinha umas passarelas que os caras iam subindo. À medida que a água ia subindo, os caras iam subindo também. Então, nos momentos de folga, tipo assim, demos um fluxo longo, medimos todos. Agora, vamos fechar o poço para estática. Vai ficar medindo pressão. Então, vai ficar medindo pressão. Tem a restante pressão, a gente fica de folga. Então, eu pegava uma canoa. com os caras que eram alugados lá, tinham umas voadeiras alugadas, e a gente ia rio acima, rio abaixo, pra conhecer, pra ver ribeirinho, pra conhecer, pra conversar com as pessoas. Eu lembro que eu conversei com o velhinho, o cara nunca saiu dali, nunca saiu dali. E eu lembro assim dele com os olhos brilhantes, dizendo que o filho dele já conhecia Manaus. Aquela coisa era uma coisa, assim, de outro mundo. O filho eu conheci em Manaus, entendeu? O velhinho, umas coisas assim de... Mas por que o caboclo, a terra fantástica, o que ele vive ali? Primeiro, o clima não permite que ninguém morra de frio, porque é quente o ano todo. O cara mora na beira do rio com sua caboquinha ali, o que ele precisa na vida? O que ele precisa? Fome ele não morre de jeito nenhum. Por que ele não morre? Porque ele entrou um pouquinho na selva, a castanha é nativa. Aqueles ouriços, não sei se vocês já viram uma castanha, é como fosse um coco assim, você quebra e aquelas castanhas estão tudo dentro. Aquele é energético, aquele é fantástico. Fruta, essas frutas todas aí, cupuaçu, bacuri, tudo é nativo. Você entra na selva, você encontra isso aí, te depara com isso aí todo. O peixe é abundante na margem do rio.
01:01:54 P/1 - Vocês comiam peixe?
01:01:55 R - Muito, muito, muito, muito, muito. O peixe é abundante na margem do rio. O que que ele faz? Ele tem lá sua maloquinha, sua rede ali, sua linha pra pescar, planta uma mandioquinha pra fazer a farinha pra comer o peixe. Tem essas coisas. Então não precisa de nada. E tem sua caboclinha para viver ali. Então ele não precisa de nada, ele vive... Não tem ambições. O povo de lá, a humildade choca. A humildade do caboclo amazonense, do cara da cidade dele, choca a humildade do cara. pacato, humilde. Nesse workshop que eu estava falando para vocês do Hotel Tropical, que nós colocamos essa coisa, que a gente precisava da parceria deles para fazer o nosso trabalho, que era o quê? Implantar um projeto dentro da selva de produção de petróleo, impactando o mínimo possível aquele ambiente maravilhoso, exuberante. Então, eu lembro que nesse primeiro workshop, depois ocorreram vários, Era sair uma espécie de carta de Manaus. As primeiras sugestões, as primeiras conclusões, as primeiras orientações. Era uma coisa inicial pra gente dizer, olha, o problema é esse, não precisa ser agora. Mas tem agora, então vamos anotar. Então saiu aí uma carta de Manaus, uma coisa... que era a primeira coisa, olha, não deveria de maneira nenhuma a gente criar condições de se formar cidades ali naqueles locais. Já tinha aquela experiência do Beiradão lá, do Projeto Jari, aquela coisa horrorosa. Então, olha, não deixa de maneira nenhuma. Então, vai ter uma pista de pôsito lá, só vai e nem na Petrobras não tem como ir lá, não sei a Petrobras. contratar o pessoal local para fazer o meio de campo entre as universidades, os centros de pesquisa, o Museu Emílio Gueldi com a Petrobras, que a gente tinha eram só os engenheiros, os geólogos que gostavam de meio ambiente e se metia Então, eu deveria admitir pessoa local, que foi para fazer o meio de campo, inclusive, com essas entidades. Nós fizemos um concurso lá, excepcional, porque ele não tinha não sei quantos anos, que a Petrobras não admitia ninguém. E com base nessa carta, a gente levou ao presidente da Petrobras, que autorizou a fazer um concurso. Eu lembro que eram 18 candidatos, que tinha que ter, nós exigimos, 10 anos de experiência em meio ambiente na Amazônia. mestrado e doutorado na área ambiental. Então não tinha muita gente, basicamente o pessoal do INPA e da universidade que podia se candidatar. E eu lembro, foi interessante, inclusive, ter outro colega nosso aqui. A moça que foi aplicar a prova, depois que aplicou a prova, chegou pra mim e falou assim, Frazão, nós estávamos achando que essa prova vazou. Pô, como a prova vazou? Vocês vieram do Rio de Janeiro, com a prova de baixo do braço, lacrada, como é que essa prova pode ter vazado? Pô, teve um cara que tirou 9,5 e a média foi quase zero. A média foi um e pouco. Como é que pode um negócio desse? Aí ficou aqui, o negócio aqui era um negócio estranho, né? Então, vamos trazer alguns especialistas, ditos especialistas de Minha Bem da Petrobras, do Rio de Janeiro e vamos fazer uma entrevista, ao invés de fazer aquela entrevista proforma e tal, vamos fazer uma entrevista técnica. E eles vieram depois e fizeram essa entrevista e a equipe veio comigo, né? E disse assim, pode admitir que esse cara é fera. O cara é muito competente, muito bom. E tá aí na Petrobras hoje. Era o único profissional. Na verdade, a gente acabou admitindo dois. Teve um 9,5, teve um 4 e teve o resto quase tudo zero. Então, a gente acabou, quem tem um, não tem nenhum, vamos admitir os dois, que foram os dois melhores. Acabou admitindo dois, que foi o Ronaldo Pimentel Manarino, que hoje é um dos profissionais de meio ambiente da Petrobras, e o Pita. Primeiro nome do Pita, não estou lembrado. Ele está na Amazônia hoje, o Pita. E o Ronaldo está aqui no Rio de Janeiro, na DSMS.
01:05:33 P/1 - Mas eu queria, Frazão, recuperar isso, quer dizer, vocês entravam numa mata lá. Como é que era essa coisa mesmo de meio ambiente? De proteção, sei lá, chorrava lá?
01:05:44 R - Não, não, não. Veja só, depois que... A questão da poluição, do choque inicial foi aquela coisa que você está preparado para vir gás e vir óleo. Mas você não está com todos os instrumentos, todos os queimadores adequados, aquela coisa toda. Daí em diante, a gente já tomou as providências para trazer tudo que tinha de maia moderna em termos de prevenção à poluição, essa coisa toda. Principalmente, que eu acho que foi o mais importante de tudo, é justamente desde aquela época, com essas parcerias, com essas entidades, a questão da conscientização das pessoas é o mais importante. É o mais importante. Eu acho que hoje a Petrobras ainda tem muito a caminhar nas outras áreas. essa questão de concentração das pessoas, não só dos funcionários próprios, como da força de trabalho, que é o pessoal contratado local. Então, ali dentro, a grande diferença de Urucu que eu vejo é o seguinte, eu lá como superindendente da Petrobras, lá, eu ia com muita frequência no campo, na área, passava dois, três dias lá e, à noite, a gente reunia todo mundo. Chamava todo mundo, olha, o Superintendente quer falar com as pessoas. Enchia lá o refeitório, enchia lá o auditório e a gente falava direto. Então, é um contato próximo ali de você estar ali com a equipe mostrando o que é importante. Se você chegar depois, no dia seguinte, e você encontrar um vigilante, um coordenador de vigilância, diz assim, doutor Frazão, fiquei muito bem impressionado com a sua conversa ontem sobre essa questão da Bahia de Guanabara. Eu acho que é isso mesmo, doutor. Hoje mesmo eu já vou juntar a minha equipe. E vou dar um reforço nesse negócio, porque se aquele fosse aqui, realmente o negócio era complicado. Então, quando você vê essa coisa chegar naquele nível, você fala, poxa vida, não tem como desmanchar mais. Está no sangue das pessoas que pegaram e você está ali martelando. Então, é essa que faz a diferença quando a gente assiste as plataformas. Onde é que está esse trabalho de lá? A gente está fazendo trabalho de longe. Nós participamos recentemente com o presidente Grôa. numa reunião do Rio de Janeiro, que ele disse claramente, olha, todo esse auditório aqui, todos os gerentes, está todo mundo conscientizado da importância da questão ambiental, da questão de segurança, mas nós estamos pecando e não estamos conseguindo chegar na ponta da linha, nas plataformas, nas áreas operacionais. Nós vamos a uma refinaria, ele falou, e vemos um cara trabalhando sem luva, trabalhando sem capacete. Vai lá no Rucu ver se você vê isso. As pessoas têm consciência daquilo, entendeu? Você tá ali junto, você tá... tá todo mundo... é aquela coisa, o... é... Se você chega lá com uma autoridade que for, o camarada entra numa área de ruído daquela lá, não botar o protetor auricular, vem o cara, o pior, ele fala, doutor, bote isso aqui. Isso aí pegou, tá no sangue. A cultura da segurança tá lá dentro, entendeu? Jamais você vai ver isso aí em outra área. Eu não vejo isso aí, não vê, não vê. Isso é outra área.
01:08:44 P/1 - Tribos indígenas se encontravam, em algum momento a Petrobras entrou em área?
01:08:48 R - Entrou, entrou. Tivemos problemas no Rio Jandiatuba e no Rio Jutaí, até com ataques de índios, né? A pessoa de frente nossa de desmatamento, né?
01:09:02 P/1 - É, frente de desmatamento.
01:09:03 R - É, essas frentes, aqueles braçais que vão na frente pra desmatar. Esse aí sofreu ataque de índios. Jandiatuba e Jutaí, são rios na margem direita do Solimões e em direção ao Acre. Deu Juruá, Jutaí e Jandiatuba. Naquela região, nós exploramos também, furamos alguns poços lá, nós tivemos alguns problemas com índios lá. O maior problema que eu vi com o negócio de índio era quando a gente ia furar em áreas que eram de preservação ambiental, que hoje é um problema que o Brasil tem e vai ter que enfrentar cada vez mais essa questão da Amazônia. Porque o grande perigo aí é a gente aceitar que a Amazônia é um patrimônio do mundo, não é do Brasil. Esse é uma ameaça muito grande. Então, quando a gente vê hoje, quer dizer, pouca gente sabe dessas coisas, mas você vê, por exemplo, o estádio como Roraima, que faz parte da Amazônia Legal. dois terços. O governador falava assim, eu sou governador de um terço do estado, porque os outros dois terços são preservados, é de área indígena, é de área de preservação nacional, que não tem acesso, você não pode fazer nada lá dentro. Quando a gente ia furar numa área que tinha uma reserva indígena, não podia. Então, apesar da Constituição dizer que podia, você não estava regulamentado ainda, você não podia. Então, você tinha que ir lá com o FUNAI, ir lá pro ZIN, tentar um convencimento do ZIN, pra deixar furar lá dentro. Negócio ainda muito complicado. E que se fala muito, né, de Áreas, por exemplo, de reservas de tamanho de Portugal, que talvez tenha lá uns 20 milhões de portugueses, e lá tinha 8 mil índios. E ali não pode fazer nada. E aí dizia-se assim, ó, lá embaixo é onde tem as maiores reservas de castelita, de minerais. É muita coincidência, não? Olha, o general Serpa, que era o comandante militar da Amazônia, ele dizia em algumas palestras lá, ele dizia o seguinte, você sabe quantas ONGs tem aqui trabalhando na Amazônia? Você sabe, Paulinho, quantas ONGs tem na Amazônia? O general Serpa dizia mil ONGs. Mil ONGs trabalhando na Amazônia. Quais são os interesses dessas ONGs? Preservar a Amazônia. Então, entendeu? Essa coisa é muito complicada. há pretexto de preservar a nossa selva com essas áreas monumentais como... Uma dessas que dá o tamanho de Portugal, de vários países juntos, o Yanomami dá vários países da Europa junto, dentro. A gente não pode. Então, como é que nós vamos conviver com isso daqui para frente? A questão do narcotráfico. Hoje, a gente... A questão da Amazônia, por isso que eu venho da Petrobras, eu batia muito com esse negócio, né? De, ah, bacia de campo, bacia de campo, porque lá a gente produzia 60 mil bairros, a gente podia bater de campos um milhão, um milhão e duzentos. Hoje está com um milhão e quinhentos quase. Pô, mas a gente tem que ver que a Petrobrás não é só quebrou o monopólio, é só visar o lucro. E a Amazônia? Se o governo não olhar para a Amazônia de uma forma diferente, a Amazônia não se desenvolve. E se a Amazônia não se desenvolver, vai acontecer um monte de coisa que não vai ser bom para a gente, como, por exemplo, o narcotráfico. Hoje é um corredor, mas se no momento o que vai acontecer? Por que que na Colômbia os caras plantam coca? Daqui a pouco os amazonenses vão plantar coca. Então, uma das formas de a gente preservar a Amazônia é a gente parar de ocupar e civilizar e ocupar a Amazônia, entendeu?
01:12:28 P/1 - Você falou de um ponto que eu queria abordar também, essa coisa da Petrobras chegar, por exemplo, e empregar pessoas locais, querendo ou trazer empregados...
01:12:37 R - Não, não, não. Essa aí foi uma questão importantíssima porque a nossa base dentro da selva sempre foi a cidade de Carauari. Carauari é uma cidade que fica a cerca de 800 quilômetros em linha reta de Manaus. na parte ocidental. Então ali, Carori, é uma cidadezinha pequena. Nós chegamos lá, talvez no Carori tivéssemos 7 mil habitantes, 8 mil habitantes. E aquilo lá é o seguinte, você tem uma cidade, tem acesso. Qual é o acesso para a cidade? O rio, a estrada e o aeroporto. Toda a cidade tem aeroporto. Outra coisa também, outra peculiaridade. Porque uma via de navegação, outra via aérea. E tem um aeroporto que normalmente tem uma estrada, que é onde, como o aeroporto não pode ficar dentro da cidade, ele fica fora. Então a única estrada que tem é onde ele liga o aeroporto para a cidade. Qualquer coisa que tem desenvolvimento, migra todo mundo. O pessoal migra. Então, Caraori cresceu vertiginosamente. Cresceu de doido, né? Então, nós ficamos muitos anos lá, desenvolvendo Juruá, pesquisa no Juruá, no Jutaí, no Jandiatuba, tudo é baseado em Caraori. Por menor que seja a cidade, tem um aeroporto, tem um porto, tem um comerciozinho, tem tudo, né? Quando nós saímos de lá e viemos pra Urucu, mais em direção a Manaus, fica 170 quilômetros em linha reta, Carauri. Nós não podíamos mais ficar baseados em Carauri, nós ficamos... Agora nós tivemos que fazer uma própria base, porque não tinha cidade nenhuma perto. Tefé fica 180, Carauri fica 170 e Coari fica 280. Então, nós tivemos que vir para cá. Como é que nós íamos fazer com essa população aqui que a gente criou aquela expectativa toda, aquela coisa de migrou para aí, agora a gente sai lá e deixa aquilo lá? Aquilo é um problema terrível. Uma das recomendações da Carta de Manaus era que a gente deveria preservar os empregos do pessoal local. Jamais trazer o pessoal de fora para lá. Então, a força de trabalho lá de dentro é toda ela de Caraari e Coari principalmente. Tem que ter fé também em algumas outras. Então, o avião da Petrobras, ele sai de Manaus, vai em Karawari, pega os trabalhadores de Karawari e traz para Urucu e leva o de Urucu para lá de volta para de Folgar, 14 por 14. 170 quilômetros na frente. só faz isso aí, quem fizesse só o lucro não ia fazer isso, abandonava lá e pegava em Manaus e vamos em frente, deixa aquilo lá, é problema do governo, não é problema nosso. E a Petrobras até hoje mantém fortemente uma presença em Carauri para poder manter esses empregos e Coari. Inclusive, aquela coisa maravilhosa que nós fizemos lá, que hoje precisava o ministro Cristóvão Buarque conhecer, a nossa escola Esperança. Nós chegamos a ter, Paulinha, 2.200 trabalhadores dentro da selva. E, para você ter ideia, 42% eram analfabetos. Você imaginou se tivesse uma força de trabalho de 2.000 homens com metade analfabeto? Como é que você vai conscientizar esses caras da importância da questão de SMS, as regras? Como é que vai ser um analfabeto? E aí, nós fizemos um programa chamado Escola Esperança, que para não ficar só da Petrobrás, a gente chamou os prefeitos, de Coari, Caruari principalmente, e dissemos, olha, nós precisamos fazer um projeto aqui de essas pessoas ficam aqui confinadas, trabalham lá durante o dia. À noite, por exemplo, quem está em obra só trabalha durante o dia, à noite não trabalha. Só quem trabalha à noite é quem está em turno, que tem atividade que interrupta, por exemplo, a produção. Quem trabalha com a produção, trabalha em turno. Então o pessoal fica doido, tipo, vocês de tarde aí na selva, por mais que a gente crie lá esporte, lazer, aquela coisa toda, mas pô, o cara tá aqui dentro. Então nós tivemos a ideia de fazer uma escola chamada Escola Esperança, que é a escola de alfabetização de adultos. Como existe o SESI ter uma metodologia especial para alfabetização de adultos, nós convidamos o SESI, nós convidamos as prefeituras e as empresas contratadas e fizemos uma parceria para resumir da seguinte forma, a Petrobrás dá as instalações, sala com ar-condicionado, toda a infraestrutura, o SESI entra com a metodologia de alfabetização de adultos, os municípios entram com as professoras E as empresas contratadas para notar, para participar também com o material escolar, com toda a questão de tudo que for necessário em termos de material, de livro, de caderno, de lápis, etc. E essa escola começou a funcionar à noite lá. Era uma coisa encantadora você ir lá e conversar com as pessoas e os depoimentos que tem. Olha, já está muito... Eu estou um ano fora de lá, não sei... Mas olha, a nossa meta era já não ter, em dezembro de 2003, não ter mais nenhum analfabeto. E já tinha uma demanda imensa de primeiro grau. Primeiro grau, o pessoal querendo o primeiro grau. Pleiteano, se fosse dar o primeiro grau. Isso, olha, você precisa ver a motivação das professoras e dos alunos. O cara falou assim, doutor, eu chego em casa agora, já não preciso sair para tomar cachaça porque meu filho pergunta e eu não sei ensinar. Agora eu já sei, eu estudo junto com ele. E aí mostrava o filmezinho lá, ele sentado no chão da casa de Taipa, né, aquela coisa, ele fazendo exercício com as crianças em volta. O adepoimento dos caras, fantástico, o negócio maravilhoso.
01:18:14 P/1 - Mas eu acho que devagarzinho, infelizmente a gente tem que ir encerrando, mas eu queria te fazer uma pergunta ainda sobre a região da Amazônia. A presença das mulheres neste interiorzão assim do céu, existia? Estavam ali?
01:18:26 R - Agora tem mais, ótimo.
01:18:28 P/1 - Quais foram as principais mudanças?
01:18:32 R - Eu queria, talvez essa questão, por exemplo, que não ficou aqui para a gente colocar, essa questão da malária. das doenças tropicais, da época da cólera. Olha, a Petrobras fez um trabalho lá também de ponta com relação a isso. Com relação a isso. Existia, na região de Cori, uma verdadeira epidemia de malária lá. Coisa de louco aquela coisa. Então, o que que a gente fez? Através da Fiocruz, através da Fundação Nacional de Saúde, a gente, pô, viu, olha, só pega a malária, Se tiver alguém com malária. Se não tiver ninguém com malária, não tem como transmitir malária. O mosquito, ele só... Você está com malária, ele pica você e pica ela. Passou malária de um para o outro. Mas se não tem ninguém com malária, ele vai te picar e não tem como transmitir, entendeu? Então, a Petrobras fez um projeto lá, por exemplo, no início, os carros de borrifação lá, de fumacê que chamava, né? A partir de seis horas da tarde era para segurar as pessoas dentro dos alojamentos para não deixar sair, porque a hora que o mosquito mais pica é de seis horas em diante. Seis horas da tarde, de seis às oito era a hora mais dramática lá. Então a gente tinha, eu lembro que levava filme de sexo, para poder segurar a pionzada dentro naquela hora. Então naquela hora era a hora da sessão. pra segurar a turma dentro do alojamento, tudo telado, tudo telado. Então na hora que mais cenas de malária, a gente passava as coisas mais atraentes pra poder deixar a turma não cair lá fora. Então fumar, fumacer, segurar e outra coisa mais importante. Quando o avião descia lá, já haviam uns camaradas com a lâmina e furaram o dedo, todo mundo, fila, desceu do avião, por favor, Paulinha está visitando, dá aqui o dedinho, tom, fazia a lâmina rapidinho ali. Se tivesse algum caso de malária detectada ali, a pessoa voltava no mesmo avião. Não ficava ninguém com malária lá. Zero de malária. Zero de malária. Petrobras, zero de malária. Coisas fantásticas. Eu lembro que teve uma história da... Quando vem a cólera, né? A cólera é a coisa da diarreia, né? Aí os caras falam assim, pô, aí não, o pessoal se recusava a fazer o teste, o negócio da diarreia. Até surgiu, na época, essa gozação lá. Mas essa questão da prevenção da malária foi um dos trabalhos de ponta que nós fizemos lá. E tinham os indicadores, né, que eles mostravam lá, na época. O que o rio baixava era o que o rio enchia e a ascendência de malária era bem maior que o rio baixo, né? Então, na Petrobras, a Petrobras, a gente teve seminários e congressos e tudo lá e aparecia lá como quem tinha condição de acabar com a malária, de não ter mais esse negócio lá. E a gente começou a influenciar todas as cidades de volta, Coari, Caravari, Tefé, com esse trabalho nosso lá.
01:21:23 P/1 - Tem outros projetos que você gostaria de destacar?
01:21:27 R - Ela tem tantos outros, mas é difícil a gente lembrar. Mas essa questão que você falou da mulher lá no trabalho, ela evoluiu como na plataforma Bacia de Campos. É que no início não tinha mulher e hoje já tem bastante. Na Amazônia foi mais ou menos da mesma forma. Hoje você vai lá no Urucu. Você já vê, né, aqueles prestadores de serviço, a questão de hotelaria, principalmente, lavanderia, aquela coisa toda. Muitas mulheres lá trabalhando lá dentro. As próprias professoras, no início era um problema, né? Você vinha com o professor lá dentro, pionzado há 14 dias, confinado. Aí tinha queixo, tinha mil histórias pra você administrar aqueles conflitos, aquelas coisas todas, né? Reclamava com o prefeito, aí o prefeito ia dizer que o petroleiro tava... O petroleiro tava assim? É, reclamava com o prefeito, que as professoras eram escolhidas pelo prefeito. Que mandava elas para lá, estavam lá em 14 para o 14. Elas ficavam no mesmo regime dos empregados. 14 dias lá e 14 dias fora. E elas tinham que reclamar diretamente com o prefeito, que tinha um petroleiro assediando, e tinha uma diversificada intervenção, tem tudo. E você tinha que conviver com isso e administrar da melhor forma possível. conheci uma. Luciduda. Luciduda era minha secretária, né? Em Manaus, quando eu vim embora, ela ela pediu pra ir pro campo, porque ela tinha um sonho de ela foi inclusive agora no dia da mulher, ela foi entrevistada, ela foi uma das entrevistadas pelo pelo celular, né? Pelo celular e ficou encantada, ficou maravilhada, foi um prêmio pra ela, né? É verdade. E era o sonho dela trabalhar na selva, né? Então, quando ela sai, quando eu saí de lá, eu transfiri ela pro campo e ela foi trabalhar dentro do RUCU e hoje ela trabalha.
01:23:02 P/1 - Eu estou.
01:23:13 R - Um peixe fora d'água hoje. Não tem nada a ver com esse negócio que eu estou fazendo. Não é meu BTE. Eu tenho 28 anos de Petrobras, 28 anos de produção de petróleo de frente, há menos daqueles dois anos ali no Rio de Janeiro, o resto foi tudo nos campos do Recôncavo Baiano, nos campos do Rio Grande do Norte, na Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, nas plataformas do Ceará, na Força do Amazonas, principalmente no Cunho, Juruá, que é isso aí, a minha vida. Agora, eu vim aqui por uma questão contingencial, por isso que de empresa ir para São Paulo, estou há um ano. Estou fazendo o melhor de mim. É uma coisa administrativa, burocrática, dentro do escritório, do centro de São Paulo, Pé da Paulista. não é realmente é eu quando eu olho na minha janela eu vejo aquele aquela selva de árvore eu fico sonhando com aquela selva amazônica da minha janela lá eu vi o Rio Negro aquela coisa maravilhosa aquele pôr do sol dentro do Rio Negro é a coisa mais linda do mundo.
01:24:06 P/1 - Mas seria uma selva de pedra.
01:24:08 R - Aquelas selvas de pedra aqueles prédios aqui que perde de vista como perde a selva amazônica, né? Cê perde de vista. Então, mas é a contingência da vida, tamo levando aí, vamos ver, dias melhores virão, com minha vida. Para você ter ideia, agora em 99, quando a Pedrolanda me convocou para me voltar para a Amazônia, depois de eu ter saído de lá em 92. Quando eu saí de lá, eu trouxe dois filhos amazonenses, um paraense e outro amazonense. Então a gente veio embora. Então desligou aquela coisa da página virada do livro. Vamos pra frente. Acabou a Amazônia. E de repente, sete anos depois, a Petrobras me chama e diz, olha, nós estamos com um problema lá de transferência de Belém pra Manaus. Você já viveu isso no passado. E nós sabemos que você esteve lá e depois a Petrobras foi transferida de Belém pra Manaus. E quatro anos depois, por questões políticas, a Petrobras voltou toda ela pra Belém. E você conhece isso, nós estamos agora precisando, o Urucu crescendo, eu voltei como superintendente lá em 99, quando eu saí, esqueci de dizer para vocês, quando eu cheguei lá com produção zero e saí com 10, 12 mil barris por dia em 92. E eu volto como superintendente da unidade em 99, já com 45 mil barris por dia, e saio de lá no ano passado com 60 mil barris por dia. Qual era o meu sonho de fazer o Norte, e principalmente a Selva, virar uma área produtora de petróleo? Bom, eu saí de lá como superintendente. De 60 mil bairros por dia, uma das unidades mais importantes da companhia. Vitrine da Petrobrás. Todo mundo que vem visitar a Petrobrás tem que ir por o curso, senão não conheceu a Petrobrás. Esse é um sonho realizado. Quando a Petrobras me convocou para vir nessa segunda etapa de Amazônia, eu já não tinha mais aquela coisa, porque já estava, já tinha feito, já tinha, o sonho já estava realizado, né? Mas aí eu fui para lá, para você ter ideia, eu já não tinha mais a mobilidade, minha família ficou, meus filhos já estavam, mais velho, entrando na faculdade, na Unicamp, outro já se preparando lá para, entrou na USP. Então, eles ficaram, minha mulher ficou com eles aí, eu fui sozinho para Manaus, para Belém. E um ano, depois de dois anos, em Manaus. Eu fiquei sozinho, mais ou menos, na ponte aérea. Quando podia, eu vinha aqui, visitava a família. Foi três anos que me disponibilizei. E aceitei aquilo como uma missão, que ela estava dizendo, olha, você viveu uma experiência e agora nós precisamos desse cara que viveu essa experiência para resolver esse problema. E mais uma vez eu fui lá, criamos a ONB Sol, botou para funcionar, está lá com a unidade funcionando direitinho, reconhecida como benchmark da companhia e missão cumprida, entendeu? Mas eu tenho outros sonhos, né? Falta agora a gente levar o gás pra Manaus e pra Porta Velha, né? Pra fechar o ciclo total aí seria demais, né? Então, hoje a gente produz 60 mil barris por dia, mas associado a esses 60 mil barris por dia, nós produzimos junto 7 milhões e meio de metros cúbicos de gás natural, que nós passamos numa planta de processo, tira o GLP, o gás de cozinha, e aquele outro, o excedente, vai tudo de volta pros poços. volume significativo da ordem de 6 a 7 milhões de metros por dia, injeta de volta para os poços para guardar para o futuro aproveitamento. E quais são os grandes projetos que vêm pela frente? É trazer um gasoduto para Manaus e trazer outro gasoduto para Porto Velho a partir de Iorucu. E é desenvolver esses dois grandes centros. através do gás, do gás natural, que tem abundância lá. E eu ainda quero participar dessa viabilização e eu tenho esse sonho nesse momento de concluir, quem sabe, a minha carreira na companhia ajudando a viabilizar o gás da Amazônia. Isso aí é um ciclo completo. Eu acho que eu estou bastante feliz.
01:28:05 P/1 - E realizado por mais esse sonho.
01:28:12 R - Olha, eu acho fantástico. Isso aí é um negócio fantástico. Quando eu voltei para Belém em 99, eu gosto muito disso, vocês vão ver, eu já falei com vocês, eu tenho talvez centenas de fotografias de coisas da Amazônia. E nós, quando nos levamos, o presidente Sarney lá, o presidente Osiris Silva, depois de ter assistido um teste, que ele saiu correndo no meio do mato, e a bota cheia de lama, e a bota ficou presa na lama, ele caindo lá, a diretoria toda perplexa com aquele óleo na selva. E quando ele viu aquela coisa toda, que ele ficou aí, foi entrevistado lá, e os caras guardaram, olha, nós vamos botar isso aqui para produzir, eu vou trazer o presidente da república aqui, eu estou desafiando aqui a equipe para botar em seis meses isso aqui, que eu vou trazer o presidente Sarney aqui para inaugurar a produção de petróleo na Amazônia, naquele calor da emoção. E seis meses depois, nós cumprimos o trato, nós botamos a coisa para produzir, e ele trouxe o presidente Sarney lá para fazer a abertura oficial da produção de petróleo na Amazônia. Nós documentamos tudo aquilo. E eu sempre procurava guardar uma cópia para mim, minha, particular, minha. Então, tem uma foto do Sarney, o álbum do Sarney visitando lá. Olha, faz uma dupla que eu quero uma cópia para mim, eu quero guardar a minha história. Então... Você queria o quê? Guardar para mim, para a minha história. Eu quero fazer a minha história. Eu tenho uma coletânea de fotografias que eu vi lá em Fortaleza, o Edson Queiroz, em que ele fazia esse painéis com fotozinhas das décadas da vida dele e o que aconteceu de importante naquelas décadas. E eu estou procurando fazer isso também, eu tenho na minha sala. Uma série de fotografiazinhos que você pega assim, você vai atrás e diz assim, nesse dia foi testado o poço tal, o presidente Osírio Silva visitou com a comitiva. Então eu quero ter isso, então eu procurei guardar, eu não tive tempo de fazer uma coisa completa. Então quando eu cheguei em Belém em 99, eu cheguei para o pessoal da área de comunicação lá e disse assim, cadê o material da memória aqui do visito do presidente Sarney, do presidente Osírio Silva, as fitas, ninguém sabia nada. Ninguém sabia nada onde ele estava. Eu lembro que eu falei, não, tem que achar, não é possível, isso é a história da companhia, não pode. E eu batia lá, tem que achar, tem que achar, tem que achar, até que uns três ou quatro meses depois, a gente estava desativando a base do Tapanã em Belém, porque nós estávamos indo para o Bundé, para Manaus. Passei um ano lá em Belém. E aquilo estava se colocando nos almoxarifados lá, nos galpões velhos, tudo que me prestava ia jogando no lugar lá pra alienar, pra vender, pra queimar, pra fazer o que fosse. E não é que um rapazinho lá, chamado Manel João, de comunicação, deve ter conhecido, trabalha com o Mauro Martinez. Manezinho. Chegou lá, falou um frasão. Você não pode acreditar. O que houve? Num galpão desse aí, de coisas pra ali, pra lá fora, enterrado na lama, cheio de pó em cima, estão os álbuns lá, vão mandar recuperar. E aí eu disse, poxa vida, como é que a Petrobras não preserva a sua história? Quando eu contava, tem centenas de histórias, depois eu posso colocar para vocês, e as pessoas que ouvem dizem assim, falam, você tem que escrever um livro sobre essa coisa da Amazônia, isso é fantástico, onde é que a gente vai resgatar isso? Eu falo, mas eu não sou escritor, não vou ter tempo de escrever livro também. Quando eu vejo vocês fazendo o trabalho, agora é o momento. da gente poder participar disso, juntar as coisas e dizer, olha aí, agora são os profissionais que podem nos ajudar a organizar. Entendeu? Então, eu estou encantado com isso aí e quero me colocar à disposição para vocês para, na hora que quiser conversar, saber mais coisas, eu vou disponibilizar, nós estamos digitalizando em São Paulo, todas as fitas que eu tenho, que eu guardei para mim. O Jornal Nacional quer anunciar o descoberto de Urucu. O cara me entrevistou, na boca do poço, anunciar e botar na Jornal Nacional. Eu tenho a fita gravada. Está toda mofada. Mas nós levamos para o laboratório, junto com o filme do Osírio Silva, de várias situações, e esse laboratório está fazendo a digitalização. Está passando para DVD, está recuperando, está vendo o que pode fazer. Eu vou disponibilizar isso tudo para vocês. Puxa vida, achei maravilhoso. E eu espero que não acabe aqui porque tem muito mais pra ver. Tem muito mais pra trazer.
01:32:18 P/1 - Obrigado a você.
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