Meu nome é Geovana Borges, tenho 59 anos.
Aos 3 anos, fui abandonada por minha mãe no interior da Bahia. Aos 17, após a morte do meu pai — que foi quem me criou com muito esforço e amor — vim para Santos em busca dessa mãe. Quando cheguei, ela foi me encontrar, mas estava alcoolizada, pois enfrentava problemas com bebidas.
O reencontro foi um verdadeiro desastre. Tivemos muitas discussões e, em um momento de frieza, ela disse: “Se vire, eu moro de favor com uma amiga”. Chorei muito, pois senti que havia sido abandonada pela segunda vez: a primeira com três anos e agora novamente aos 17.
Mesmo assim, segui em frente. Trabalhei como empregada doméstica, enfrentei muitas dificuldades e fui mãe solteira aos 21 anos. Morei durante cinco anos em uma vaga de pensão. Teve dias em que, se eu comprasse o pão, não dava para comprar o leite da mamadeira do meu filho.
Quando meu filho tinha sete anos, constitui família. Tive mais dois filhos com meu marido: um casal. Porém, vivi um casamento abusivo. Aos 49 anos, depois de uma discussão, ele me disse: “Por que você não vai estudar, já que só tem a quarta série?”. Chorei a noite inteira com essa fala, mas no dia seguinte me olhei no espelho e pensei: “Ele tem razão. Por que eu não vou estudar?”.
Foi aí que tomei a decisão de mudar. Voltei a estudar no CEEJA Archimedes José Bava, na Zona Noroeste de Santos. Seis meses depois, no dia 24 de março de 2015, descobri meu dom para a poesia e escrevi meu primeiro poema.
Desde então, publiquei seis livros, sendo um deles minha autobiografia intitulada \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Memórias de uma Nordestina\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\". O último capítulo deste livro conta a história de uma irmã que foi dada para adoção. Minha filha Isabela Borges, também escritora, encontrou essa irmã no Facebook. Depois que reencontrei minha mãe em 2016, perguntei a ela o nome da minha irmã. Com essa informação, começamos...
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Meu nome é Geovana Borges, tenho 59 anos.
Aos 3 anos, fui abandonada por minha mãe no interior da Bahia. Aos 17, após a morte do meu pai — que foi quem me criou com muito esforço e amor — vim para Santos em busca dessa mãe. Quando cheguei, ela foi me encontrar, mas estava alcoolizada, pois enfrentava problemas com bebidas.
O reencontro foi um verdadeiro desastre. Tivemos muitas discussões e, em um momento de frieza, ela disse: “Se vire, eu moro de favor com uma amiga”. Chorei muito, pois senti que havia sido abandonada pela segunda vez: a primeira com três anos e agora novamente aos 17.
Mesmo assim, segui em frente. Trabalhei como empregada doméstica, enfrentei muitas dificuldades e fui mãe solteira aos 21 anos. Morei durante cinco anos em uma vaga de pensão. Teve dias em que, se eu comprasse o pão, não dava para comprar o leite da mamadeira do meu filho.
Quando meu filho tinha sete anos, constitui família. Tive mais dois filhos com meu marido: um casal. Porém, vivi um casamento abusivo. Aos 49 anos, depois de uma discussão, ele me disse: “Por que você não vai estudar, já que só tem a quarta série?”. Chorei a noite inteira com essa fala, mas no dia seguinte me olhei no espelho e pensei: “Ele tem razão. Por que eu não vou estudar?”.
Foi aí que tomei a decisão de mudar. Voltei a estudar no CEEJA Archimedes José Bava, na Zona Noroeste de Santos. Seis meses depois, no dia 24 de março de 2015, descobri meu dom para a poesia e escrevi meu primeiro poema.
Desde então, publiquei seis livros, sendo um deles minha autobiografia intitulada \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Memórias de uma Nordestina\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\". O último capítulo deste livro conta a história de uma irmã que foi dada para adoção. Minha filha Isabela Borges, também escritora, encontrou essa irmã no Facebook. Depois que reencontrei minha mãe em 2016, perguntei a ela o nome da minha irmã. Com essa informação, começamos uma verdadeira busca em cartórios de Santos e na internet. Conseguimos encontrá-la porque minha mãe lembrava o nome dos pais adotivos.
Hoje, essa mãe mora comigo. Tenho contato com minha irmã e juntas damos palestras sobre nossa história de reencontro e superação. Fiz cursos de Psicanálise e criei o projeto “Rodas de Conversa Terapêuticas para Mulheres da Comunidade”, que acontece toda segunda-feira na Sociedade de Melhoramentos do Jardim Castelo, em Santos.
Continuo casada. Meu marido se converteu e hoje me trata muito bem. Tenho três filhos, dois netos e sou constantemente convidada por escolas, faculdades e grupos de mulheres para contar minha história de superação.
Já fui homenageada na Câmara Municipal de Santos como a nordestina que se destacou na cidade e recebi a medalha \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Coração Nordestino\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\", entregue pela então vice-prefeita Renata Bravo.
Essa é a minha história de superação.
E deixo abaixo o poema que leva esse mesmo nome:
SUPERAÇÃO
Geovana Borges
Superei o abandono
Aos 3 anos.
Superei a perda do meu pai
Aos 17 anos.
Superei uma gravidez sozinha
Aos 21 anos.
Superei a perda da visão de um dos olhos
Do meu filho aos 15 dias de nascido.
Isso foi tão dolorido.
Superei a falta dos estudos
Aos 49 anos.
Superei todos os \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"nãos\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\".
Superei três dias dentro de um ônibus
Comendo frango com farinha.
Dinheiro para pagar um almoço
Eu não tinha.
Superei trabalhar como doméstica, babá.
Superei para não deixar nada faltar.
Superei uma patroa revoltada
Que tudo em mim descontava.
Superei as portas fechadas,
Superei até o cabo da enxada.
Superei 5 anos em um quarto de pensão,
Com um bebezinho no colo
E duas sacolas na mão.
Para subir as escadas,
Tive que colocá-las no chão.
Superei a fila do banheiro,
Da pia, do fogão, do tanque...
Tudo era muito difícil antes.
Superei a falta de grana
Para comprar o leite
E fazer a mamadeira.
E também não tinha
Para fazer a feira.
Superei a traição.
Superei não lavar a roupa
Porque não tinha como comprar o sabão.
Superei dormir no chão.
Superei a falta do pão.
Superei um pai com depressão.
É isso, meus irmãos,
Superei todos os \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"nãos\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\".
O meu nome é SUPERAÇÃO.
Geovana Borges
A poetisa que mora em Santos, mas é baiana!
27/05/2017 – Um sábado na cozinha.
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