Fui da primeira turma da Escola Estadual Wolny de Carvalho Ramos, em 1958, quando da expansão do ensino no Estado de São Paulo. O velho Wolny chamava-se Ginásio Estadual de Água Rasa e funcionava à noite no prédio do Grupo Escolar Professor Theodoro de Morais.
Naquele tempo a escola era bem diferente. Embora mista, os meninos e as meninas não se comunicavam, ficavam segregados, meninas de um lado e meninos do outro de uma linha imaginária, mas muito respeitada, que dividia o pátio. Na sala de aula? Conversas? Nem pensar.
Com 12 anos eu já estava na segunda série do Ginásio e estudava à noite
Havia um loirinho, lindo, de olhos azuis na minha turma, que por sorte era mista. Eu o achava o máximo Apesar de só olhar de longe e quase não ouvir a sua voz, pois era tímido e ficava absolutamente calado durante todas as aulas.
A distribuição da sala de aula era assim: por ordem alfabética, quase duas fileiras de meninas. Eu lá, na última carteira de meninas, ao lado da Zilda. Atrás de nós sentava o Constantino e isso nos proporcionava a oportunidade de trocar umas palavrinhas e uns bilhetinhos com ele e seu parceiro. As carteiras, antigas, eram duplas.
Constantino, esperto como ele só, logo percebeu o meu interesse pelo Darwin, o loirinho de olhos azuis, e resolveu dar uma de cupido.
Tentou marcar um encontro entre nós no Cine Vitória, lá na Álvaro Ramos, mas o cinema era um pouco longe da minha casa, o dinheiro era curto, e papai muito severo. Então, não deu certo.
Começou então a brincadeira. No início das aulas ele passava um bilhetinho: “O Darwin é casado”. No segundo, escrevia: “O Darwin é casado e tem um filho”. No terceiro: “O Darwin é casado e tem dois filhos”. E assim, sucessivamente. Ao final da quinta aula, o meu loirinho já tinha mais de 50 filhos, segundo as notícias do colega casamenteiro. Ríamos como só riem os adolescentes.
Mas, de repente... chega a grande oportunidade. A Professora Cida, de Português,...
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Fui da primeira turma da Escola Estadual Wolny de Carvalho Ramos, em 1958, quando da expansão do ensino no Estado de São Paulo. O velho Wolny chamava-se Ginásio Estadual de Água Rasa e funcionava à noite no prédio do Grupo Escolar Professor Theodoro de Morais.
Naquele tempo a escola era bem diferente. Embora mista, os meninos e as meninas não se comunicavam, ficavam segregados, meninas de um lado e meninos do outro de uma linha imaginária, mas muito respeitada, que dividia o pátio. Na sala de aula? Conversas? Nem pensar.
Com 12 anos eu já estava na segunda série do Ginásio e estudava à noite
Havia um loirinho, lindo, de olhos azuis na minha turma, que por sorte era mista. Eu o achava o máximo Apesar de só olhar de longe e quase não ouvir a sua voz, pois era tímido e ficava absolutamente calado durante todas as aulas.
A distribuição da sala de aula era assim: por ordem alfabética, quase duas fileiras de meninas. Eu lá, na última carteira de meninas, ao lado da Zilda. Atrás de nós sentava o Constantino e isso nos proporcionava a oportunidade de trocar umas palavrinhas e uns bilhetinhos com ele e seu parceiro. As carteiras, antigas, eram duplas.
Constantino, esperto como ele só, logo percebeu o meu interesse pelo Darwin, o loirinho de olhos azuis, e resolveu dar uma de cupido.
Tentou marcar um encontro entre nós no Cine Vitória, lá na Álvaro Ramos, mas o cinema era um pouco longe da minha casa, o dinheiro era curto, e papai muito severo. Então, não deu certo.
Começou então a brincadeira. No início das aulas ele passava um bilhetinho: “O Darwin é casado”. No segundo, escrevia: “O Darwin é casado e tem um filho”. No terceiro: “O Darwin é casado e tem dois filhos”. E assim, sucessivamente. Ao final da quinta aula, o meu loirinho já tinha mais de 50 filhos, segundo as notícias do colega casamenteiro. Ríamos como só riem os adolescentes.
Mas, de repente... chega a grande oportunidade. A Professora Cida, de Português, prontificou-se em ensaiar a quadrilha para a Festa Junina. O Constantino seria o sanfoneiro, o que lhe deu um certo prestígio com a nossa mestra.
- Professora, será que a Zuzu (esse era o meu apelido, como mascotinha da turma) poderia dançar com o Darwin?
Dona Cida, uma mocinha muito “pra frente” topou na hora.
Os ensaios eram aos sábados, no galpão, atrás da escola. Constantino no fole:
Taratantan-tan-tan-tan. Taratantan-tan-tan-tan… Taratantan-tan-tan-tan, ra-ta-tan-tan-tan…
O baile na roça foi até o sol raiar…
O loirinho, do alto de seu metro e sessenta, dançou o tempo todo calado, olhando por cima da minha cabecinha oca de menina. Não trocamos uma palavra sequer. Mas foi ótimo, não via a hora de chegar o próximo sábado para dançar com aquele garoto tão lindo
No dia da festa eu estava uma maravilha, vestido estampado de florzinhas vermelhas, chapéu de palha com laço de fita, batom vermelho nos lábios e até uma pintinha feita com carvão na bochecha, para ficar bem catita. Ensaiei o dia inteiro o que iria falar para não perder a última chance de conversar com meu amado. Meus olhos brilhavam mais que a lua de inverno.
Não é que a Lúcia, uma coleguinha bem mais velha e, portanto, bem mais alta, chegou na festa toda arrumadinha e sua mamãe foi pedir à professora Cida que ela participasse da quadrilha:
- Sabe, professora, minha filha não veio aos ensaios porque ela me ajuda no salão. E a senhora sabe como é o movimento no fim de semana...
O pedido viera a calhar. Estava faltando uma dama para o terceiro par da fila, um garoto baixinho, que eu já nem lembro quem era, mas sei que era quase do meu tamanho.
Foi quando aconteceu o pior: lá fui eu dançar com o nanico e a Lúcia saiu pelo terreiro nos braços do meu loirinho.
Perdi a última oportunidade. Era junho, mas aquele namoro às antigas não conseguiu evoluir até o final do ano. O Darwin repetiu e eu fui para a terceira série.
Estamos em agosto de 2008, e enquanto digito este texto, o Darwin está dando mamadeira para uma das minhas netinhas gêmeas, de três meses. Ele é meu marido desde 1994.
Como isso aconteceu? Conheçam a segunda parte dessa história de Dinossauros no site www.vivasp.com
Ah, um detalhe: ele já não é tão alto assim...
(Depoimento enviado em 28 de outubro de 2008)
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