Surpresa, surpresa...

No dia anterior estive com meu netinho Gianluca de 1 mês de idade e sussurei ao seu ouvido: vovô ta chegando do Brasil e vem te conhecer, mas não conte a ninguém. É segredo!!! Ele pareceu entender e até esboçou um sorriso maroto. Será mesmo ou foi minha impressão? O fato é que ele não contou a ninguém, tampouco eu contei. Guardei o segredo, não contei nem para o meu genro. Muitas vezes quase que falei sem querer, mas calei em tempo. Meu marido tem Parkinson e viagem longa é cansativa e difícil para ele. Ele tinha dito que não iria, que era para eu tentar convencer minha filha Melissa a passar o restante de sua licença maternidade no Brasil, assim ele iria curtir o neto. Mas a motivação foi tamanha que ele se rendeu e veio. Ele tinha visto o bebe por fotos e pelo skype e quanto mais via, mais desejava vir e pega-lo nos braços. Depois de passar o dia com o bebe retornei a noite para a casa de minha outra filha Carol que também mora em Londres. Meu outro neto Isaac me esperava para dormir e ouvir estórias, como sempre fazia. Naquela noite percebi que ele estava um pouco febril. Levantei, dei remédio e ele dormiu em seguida. Acordou um pouco rouco e tive que convence-lo a tomar mel. Falei que ele tinha que estar bem naquele dia. Quase contei que seu avô estava chegando. Mas me segurei e levei-o a escola até o ponto onde costumava deixa-lo. Ele estava sendo treinado para ir a escola sozinho, afinal tinha completado 10 anos. Depois eu costumava segui-lo a distancia para ver se chegou bem a escola. Eu passava em frente da escola e o via brincando enquanto o sino não tocava , mas não “dava tchauzinho”, era o nosso trato. O dia estava muito lindo, ensolarado e ameno na temperatura. Coisa rara em Londres.Pensei : Sylmar esta chegando e trazendo o clima brasileiro na mala. Infelizmente durou pouco, logo o dia se tornou nublado, mas ainda estava ameno. Antes de voltar ao apto, dei uma passadinha no supermercado LIDL para comprar produtos que eu sei que ele estava com saudades de comer. Não podia comprar antes para não levantar suspeita. Minha filha já tinha saído para o trabalho, de modo que ajeitei a mesa e sai para buscar meu marido na estação de trem. Desci e avistei a vizinha brasileira cujos filhos me “adotaram” como avó. Então contei a ela onde estava indo. Nesse momento não havia mais riscos. Ela ficou muito feliz e ofereceu carona. Mas eu tinha ainda um bom tempo e gosto muito de andar. Naquela rua ate a estação tem alguns brechós filantrópicos e gosto de olhar e garimpar. Sempre tem algo interessante e diferente a um preço bem acessível, alem de ser uma ajuda a causa que eles estão vinculados: combate ao cancer(Cancer Research), pesquisa relacionada ao coração (British Heart foundation), abrigo de idosos e outras causas mais como Save the Children, RSPCA, Comic Relief, Barnardo’s,etc . E vale dizer que eles aceitam todo tipo de doação: brinquedos, roupas, peças decorativas, utensílios domésticos e alguns ate aceitam moveis e eletrodomésticos em bom estado de conservação. É feito uma triagem por voluntários e os produtos são expostos como numa vitrine de loja. Todos os funcionários são voluntários e de modo geral são pessoas maduras ou que já estão aposentadas. Mas há jovens também que doam algumas horas por semana. A ideia é fantástica, pois alem de proporcionar renda , ainda existe a possibilidade de doarmos e colocarmos em bom uso artigos que não nos servem mais. Uma excelente motivação para nos desapegarmos de coisas que não estão mais em uso em nossas casas mas que podem ser reaproveitados por outros. Bem, não achei nada que me interessasse no momento e já era hora do trem chegar. Rumei rapidinho para a estação e alguns minutos depois encontrei meu bem amado, como costuma dizer uma tia freira quando se refere aos maridos das sobrinhas. Que felicidade poder revê-lo depois de quase 3 meses. Viemos conversando, chegamos no apto onde tomamos um chá com algumas guloseimas e rumamos a pé para a casa de minha outra filha pelo short cut. Depois de muitas idas e vindas entre as 2 casas eu encontrei um short cut (atalho) que me fazia economizar bus e compensava meu físico com caminhadas úteis. O tempo gasto era quase o mesmo já que o ônibus não segue o short cut e para em muitos bus stop. Cheguei como de costume e entrei, meu marido ficou para fora enquanto eu preparava o terreno para ele surpreender minha filha. Meu neto estava no edredom no tapete da sala, quietinho e acordado. Minha filha tomando seu café esperava eu chegar para se trocar e cuidar da casa. Tinha acabado de amamentar o bebe e indo para o quarto escutou as batidas na porta e perguntou quem seria. Entrou correndo no quarto pois estava de pijamas. Eu tive que atender a porta e leva-lo rapidinho para a sala em silencio. Ele imediatamente pegou o bebe no colo que pareceu reconhece-lo e ao mesmo tempo deu um sorriso lindo para o avô. Minha filha veio no corredor perguntando quem era e eu disse que era no vizinho, pois as portas eram lado a lado. Ela entrou na sala e teve um “choque”. Por um momento não acreditou no que via. Depois se convenceu. Almoçamos lá e mais tarde fomos para a escola de meu neto para busca-lo. De longe vimos que ele estava jogando futebol no pátio. Meu marido se deslocou um pouco enquanto eu o pegava e o preparava para a surpresa. Mas de longe ele o avistou e olhando para mim perguntou : é o vovô?? Não deu nem tempo de responder, saiu correndo e pulou para cima do avô. Fiquei tão emocionada que não consegui tirar uma foto no exato momento, só alguns minutos depois. Fomos andando e conversando. Isaac comendo paçoca que o avô trouxe e feliz da vida. Quando chegamos no apto Isaac entrou e sua mãe foi logo perguntando onde eu tinha conseguido paçoca para ele, imediatamente meu marido entrou e ela soube a resposta. Levou um susto, achou que estava tendo uma visão. Ficou muito contente e já foi passando msg no Facebook. Ficou surpresa de não ter percebido nada, de ninguem ter dado nenhuma dica. Mas realmente só o Gianluca é que sabia e ele “soube”guardar segredo.Realmente foi um prazer inesperado para todos. Surpresas boas são sempre bem vindas. Esse é também o caminho que Deus escolhe quase sempre. Ele nos surpreende nos ouvindo e respondendo, amparando e dando o suporte que precisamos nas boas e difíceis horas. E sobretudo nos amando não por nosso merecimento, mas porque seu amor é incondicional. Só mesmo Ele para nos surpreender dessa maneira....