Estava indo tudo bem. O sítio estava pronto, bonito, a lavoura formada, bem cuidada, os vizinhos eram todos amigos, parecia uma família, era uma alegria viver ali. Havia festas, rezas, bailes, danças, cantoria, colheitas boas, fartura. Os filhos já estavam todos casados, os netos estavam chegando, era só alegria e contentamento, realização, sonho realizado. Um dia Santo Caleffi, como fazia todo dia, foi fazer sua caminhada pelo cafezal. Pegou seu chapéu de palha, seu canivete de cabo de osso, pôs numa bainha na cintura, pegou o seu bambu, que ele tinha costume de carregar consigo sempre, era como se fosse um cajado seu, para tocar algum animal que estava no meio do caminho, algum bicho estranho, algum cachorro que lhe investisse ou para bater nos ramos e galhos das árvores mais altos para verificar se estava tudo bem com eles ou até mesmo para ele se apoiar quando se sentisse meio cansado da caminhada, enfim, servia para tudo, era seu companheiro inseparável. Estava caminhando nas ruas de café, pés de café enormes, viçosos, limpos, já podados, arruados, esperando a florada e a próxima colheita, de repente ele olha e vê numa das folhas do enorme pé de café que toca seu rosto, algo diferente que ele não tinha visto ainda ali no cafezal, pega uma folha na mão e nota algo estranho, uma folha estava manchada de amarelo, parecia uma ferrugem.
-O que será isto?! Parece uma ferrugem, é a primeira vez que vejo isto no nosso cafezal, pensou Santo Caleffi.
-Não deve ser nada não, falou Santo Caleffi.
-Mas é bom ficar atento, pensou. -Não vou contar para os meninos ainda não, pode ser que não seja nada e só vou assustar os meninos, ponderou Santo.
-Preciso ver primeiro se é só uma folha em um pé de café ou será mais grave e tem nos outros pés de café também, Pensou Santo.
-Espero que não, que seja só algumas folhas e não seja nada mais grave, falou Santo Caleffi.
-Mas vou ficar atento, pensou Santo.
Passado mais tempo, em outra...
Continuar leituraEstava indo tudo bem. O sítio estava pronto, bonito, a lavoura formada, bem cuidada, os vizinhos eram todos amigos, parecia uma família, era uma alegria viver ali. Havia festas, rezas, bailes, danças, cantoria, colheitas boas, fartura. Os filhos já estavam todos casados, os netos estavam chegando, era só alegria e contentamento, realização, sonho realizado. Um dia Santo Caleffi, como fazia todo dia, foi fazer sua caminhada pelo cafezal. Pegou seu chapéu de palha, seu canivete de cabo de osso, pôs numa bainha na cintura, pegou o seu bambu, que ele tinha costume de carregar consigo sempre, era como se fosse um cajado seu, para tocar algum animal que estava no meio do caminho, algum bicho estranho, algum cachorro que lhe investisse ou para bater nos ramos e galhos das árvores mais altos para verificar se estava tudo bem com eles ou até mesmo para ele se apoiar quando se sentisse meio cansado da caminhada, enfim, servia para tudo, era seu companheiro inseparável. Estava caminhando nas ruas de café, pés de café enormes, viçosos, limpos, já podados, arruados, esperando a florada e a próxima colheita, de repente ele olha e vê numa das folhas do enorme pé de café que toca seu rosto, algo diferente que ele não tinha visto ainda ali no cafezal, pega uma folha na mão e nota algo estranho, uma folha estava manchada de amarelo, parecia uma ferrugem.
-O que será isto?! Parece uma ferrugem, é a primeira vez que vejo isto no nosso cafezal, pensou Santo Caleffi.
-Não deve ser nada não, falou Santo Caleffi.
-Mas é bom ficar atento, pensou. -Não vou contar para os meninos ainda não, pode ser que não seja nada e só vou assustar os meninos, ponderou Santo.
-Preciso ver primeiro se é só uma folha em um pé de café ou será mais grave e tem nos outros pés de café também, Pensou Santo.
-Espero que não, que seja só algumas folhas e não seja nada mais grave, falou Santo Caleffi.
-Mas vou ficar atento, pensou Santo.
Passado mais tempo, em outra de suas caminhadas pelo cafezal, viu outro pé de café no meio da roça, na beira do carreador, em vários lugares bem diferentes da lavoura de café, na beira do carreador, em todos os lugares do cafezal, que as folhas de café iam amarelando e caindo no chão, forrando de folhas amarelas e secas debaixo do pé de café, que ia aos poucas secando.
-Nossa! Será que é alguma praga nova, pensou.
-Só faltava esta agora, falou Santo Caleffi.
-Mas pode ser que é porque o cafezal já está ficando velho e é preciso renovar, pensou Santo.
Mas cada vez que ia caminhar na lavoura de café via mais e mais folhas amarelas, com ferrugem, caídas no chão, espalhadas pela roça toda e galhos do pé de café ficando sem folhas e secos, o pé de café todo ficando amarelo, caindo todas as folhas e secando.
-Vou falar com os meus filhos, disse Santo.
Santo pegou algumas folhas e levou para casa, reuniu os filhos e Maria sua esposa e disse:
-Olha isto aqui, olha está folha de café como está, disse Santo mostrando a folha doente para os filhos. Eles olharam. Um de seus filhos tomou a palavra e falou.
-Pai, nós já tínhamos visto, disse Mario.
-Não falamos nada para o senhor para não assustar, continuou Mario.
-Pai é uma praga do café, já nos informamos, disse Inisio, filho mais velho de Santo Caleffi.
-é uma praga chamada ferrugem amarela, disse Valdomiro, outro filho. -Esta doença mata o pé de café, disse Onofre, filho mais novo.
-Eu estava desconfiado. Não quis falar com vocês e com a Maria para não assustar ninguém, disse Santo.
-Vamos ter que enfrentar isto, disse Santo para Maria e para os filhos. -Mas agora o que vamos fazer?, perguntou Inisio.
-Vamos com calma tentar achar uma solução, disse Santo.
Dai alguns dias a notícia correu toda a vizinhança, todos comentavam preocupados tentando entender e quem sabe achar uma solução para acabar com esta praga do cafezal que afetava a todos. Todos comentavam da nova praga do cafezal, da ferrugem amarela, estavam todos assustados, nunca tinham visto aquilo. As folhas dos pés de café caiam e os próprios pés de café iam secando, morrendo. Alguns no desespero começaram a passar veneno com uma máquina portátil nas costas, tentando, no desespero, salvar seu cafezal, mas não adiantava nada a praga continuava a destruir a lavoura de café, o pé de café continuava morrendo na frente de todos. Além do que com aquele veneno forte que ninguém conhecia ali, o agricultor sem nenhum equipamento de proteção, sem nenhuma orientação para se proteger do veneno, se envenenava a si mesmo, muitos cafeicultores ficavam doentes de inalar veneno sem saber. Além disto os agricultores se endividavam com a compra deste venenos caros, sem nenhuma ajuda do governo.
-Sei não, a coisa está ficando feia, disse Santo Caleffi desolado.
-O vamos fazer?, continuou Santo.
-Só sabemos lidar com lavoura de café, desde Minas Gerais, em Monte Santo, depois em Guaranésia, depois viemos pro Paraná em 1944 em Cornélio Procópio, também lidar com café, depois fomos formar lavoura de café em Cambé e agora aqui em Marialva, sempre lidei com café, falou Santo Caleffi.
Alguns agricultores no desespero começaram a arrancar os pés de café doentes, mas ai a situação só piorou.
-O que fazer? Santo continuava a se perguntar.
-Plantar o que no lugar do café?, continuou Santo.
Todos começaram a arrancar o café e plantar soja. Santo sem alternativa também começou a arrancar parte do seus pés de café do seu cafezal. Foi uma tristeza só. Tanta luta, para nada. Acabou o cafezal, chegou ao fim o ciclo do café ali, o sítio ficou triste. Começou também a plantar soja até perto das casas, tudo era soja, é que a plantação de soja exige muita terra e maquinário, não dá para fazer tudo na mão como fazia com o café. Teve que comprar um trator e equipamentos, se endividaram no banco. Teve que comprar máquina para preparar a terra, para passar veneno, para realizar a colheita, comprar adubos, calcário. Dívidas sem fim no banco, sítio hipotecado no banco como garantia. Santo Caleffi ficou triste. Não era isto que ele queria.
-é o fim, disse Santo.
-Eu já estou velho, mas e meus filhos o que vão fazer?! Pensava Santo angustiado.
-Sei não, se meus filhos não vão ter que voltar a migrar, como eu fiz minha a vida toda desde que sai da Itália com seis anos de idade no ano de 1898, sei não, pensava Santo Caleffi.
-Do jeito que a coisa está indo vão acabar sendo empurrado a procurar outro lugar para viver, vão voltar a migrar, é questão de tempo, continuou Santo Caleffi.
-Vamos ver, falou.
Santo andava para lá e para cá no meio da lavoura de café, pegava, passava a mão nas folhas de café, olhava o cafezal, pegava uma folha na mão, passava o dedo sobre a ferrugem, ficava triste, pensativo, olhava para a lavoura, passeava o olhar nela, tudo amarelo, alguns galhos já sem folha, sem vida, olhava para o chão forrado de folhas secas, os pés secando. Ficava triste.
-Mas também o governo não ajuda nada, disse Santo.
-Mas, o que esperar do governo, é pura ilusão, eu nunca esperei nada, disse Santo desolado.
-Temos que lutar como sempre lutamos com nosso braço mesmo, continuava Santo.
-Sempre foi assim, dizia ele.
-Além do que o governo quer mais que a gente arranque o cafezal mesmo, concluía Santo.
-Vim para o Paraná no ano de 1944 atrás do café, assim como meu irmão mais velho Credo, assim como muitos imigrantes como eu, vieram de todas as regiões do Brasil e até de outras nações, vi formar muitas lavouras de café, sempre migrando, procurando um lugar melhor, foi muita luta, muito trabalho, sonho, esperança, utopia, mas até que foi bom, para alguém que tem um espírito migrante como eu, mas sempre mexendo com café, recordou Santos Caleffi.
-Mas sei não acho que meus filhos vão ter que fazer outra coisa agora, o café está no fim, acho que acabou o ciclo, repetiu Santo Caleffi.
-A lavoura de café ajuda muita gente, dá emprego para muitos, o café exige muitos braços durante o ano todo, disse Santo.
-Criou-se o mito do Eldorado, da riqueza fácil, do ouro verde, acho que foi uma ilusão que parecia que não ia ter fim, a não ser para alguns ricos, mas não para nós os pequenos agricultores e nem para os peões, meeiros, porcenteiros, pensava Santo enquanto caminhava no meio da lavoura de café.
-Aqui no meio da lavoura de café, olha só, as plantações, tem feijão, arroz, trigo, milho, abóbora, melancia, melão, mamão, frutas e muito mais, é uma beleza, não falta nada, falava Santo.
-Mas acho que o sonho do Eldorado está acabando, olha para este cafezal doente, falou Santo, conversando consigo mesmo.
-O governo fala tanto em desenvolvimento, progresso, modernidade, mas na hora que mais precisamos nos abandona, desabafa Santo. -Acho que o café vai ceder seu espaço para outra coisa como a soja, o trigo, o milho ou para o pasto para criação de boi, previu Santo Caleffi.
-Só que ai não precisa de tanta mão de obra, a máquina da conta de quase tudo, para onde vai parar este povo todo que hoje trabalha na lavoura de café?, perguntou Santo Caleffi.
-A gente já vê muitas máquinas chegando por aqui, a máquina está engolindo o homem, comendo o homem, expulsando ele do seu lugar, de sua terra, despovoa a roça, as casas, o nosso lugar vira deserto coberto de soja e pasto, antes um lugar tão povoado, cultivado e habitado, sem dó nem piedade e o governo vê tudo e fica quieto, aceitando tudo, acho que até que incentiva isto tudo, concluiu Santo Caleffi.
-Muitos também estão se endividando com os bancos, comprando máquinas, tratores, venenos, adubos e perdendo suas propriedades para os bancos. Agricultores honestos são expulsos de suas terras e forçados a vender a baixo preço o que restou de seus trastes. Sem saída só lhe resta migrar de novo, agora a maioria vai em direção a cidade, falou Santo Caleffi.
-O governo em vez de nos apoiar, escutei ontem no rádio uma propaganda do governo incentivando arrancar o cafezal. Que loucura, acha que pode?! A propaganda dizia que era para diversificar a agricultura e para renovar os cafezais velhos, além de evitar as doenças, mas muitos cafezais novos também estão sendo arrancados. Incentiva a gente arrancar os pés de café depois não nos ajuda a plantar outro, disse Santo Caleffi desconfiado.
-A propaganda diz que o Banco do Brasil só fornece financiamento àqueles lavradores que arrancarem seus cafezais, acha que pode uma coisa desta! Falou indignado Santo Caleffi.
-Muitos arrancam os cafezais de seu sítio e começam a plantar a soja, disse Santo Caleffi.
-Ai precisa da máquina, falou Santo. -Vejo muito trator por ai, concluiu Santo Caleffi.
-Atrás de cada trator tem um a dívida, pensou Santo.
-Ai viram escravo do banco, disse Santo Caleffi.
-Acho que o governo quer mesmo é incentivar a venda de máquinas, é isso que ele quer, falou Santo.
-Muitos perdem seu sítio para o banco, o camponês passa agora a ser escravo do banco, disse Santo Caleffi, de novo.
-Vejo muita gente mudando daqui, é um verdadeiro êxodo rural, triste de ver, disse Santo Caleffi.
-A gente começa a ver surgir fazendas por aqui, isto nunca teve aqui na nossa água Marialva, que é um lugar só de sítio pequeno e médio, mas agora a coisa está mudando com o fim do cafezal e a chegada do trator, constatou triste Santo Caleffi.
-Para o pequeno camponês como nós a agricultura não dá mais nada não, concluiu Santo Caleffi.
-Vai ter de novo migração grande por aqui, pensou Santo Caleffi.
-Essa nossa colônia aqui pelo jeito vai acabar, falou triste Santo.
-Aqui não vai dar para viver mais, concluiu Santos Caleffi.
Santo Caleffi ia pensando e repetindo estas coisas sozinho no meio do cafezal doente. Ele saiu do meio da lavoura e foi descendo triste falando consigo mesmo, pensativo, pelo seu carreador até as casas. Para piorar a situação no início da década de 1970 o governo obrigou os agricultores a arrancar todos os pés de laranjas, limões, mexericas e outras frutas cítricas, dizendo que elas estavam contaminadas com o cancro cítrico.
-Vem aqui todos vou mostrar uma coisa importante para vocês, falou Valdomiro Caleffi, filho de Santo Caleffi.
-Ontem estive na cidade de Marialva e fui comer alguma coisa lá no bar do Sudan, vi uma Folha de Londrina em cima do balcão, fui dar uma folheada no jornal. Olha aqui o que eu encontrei ontem dia 05 de fevereiro de 1972 neste jornal, disse Valdomiro Caleffi.
Valdomiro falou para toda a família reunida mostrando a notícia do jornal.
-A manchete diz: Governo vai cortar plantas cítricas de 180 municípios. Veja que coisa, falou Valdomiro.
-Só faltava esta agora, falou Inisio.
-Veja o que diz a notícia, Valdomiro começou a ler:
""O Ministério da Agricultura vai erradicar todos os pés de laranjas, limões e outras frutas cítrica de 180 municípios do Paraná, onde o cultivo destas plantas foi proibido. A medida visa a eliminação do cancro cítrico. Para o corte dos pomares, o Ministério da Agricultura já conta com equipes de homens que operarão com serras elétricas. Auxiliarão a campanha soldados da Polícia Militar, desenvolvendo um esquema de segurança.""
-Foi esta notícia que encontrei no jornal de ontem. é esta notícia que eu queria ler para vocês, disse Valdomiro.
-Que tragédia, falou Mario.
-Arrancar todas estas frutas que eu plantei com tanto carinho, falou Santo Caleffi desolado.
-Que tristeza!, estão cortando todos os pés de frutos aqui no nosso sítio e dos vizinhos, falou Santo Caleffi vendo aquela cena triste.
-Estou vendo eles cortarem meus pés de frutas e ainda jogar veneno para que eles não brotem nunca mais, é muito duro ver isto, falou Santo Caleffi.
-Estão cortando todo o pomar que nós plantamos, disse Onofre.
-é muito triste ver isto, falou Inisio.
-O meu vizinho no desespero cortou ele mesmo os pés de laranja antes dos homens do governo chegar e jogou terra por cima dos troncos e raízes na esperança que os agentes do governo não percebessem e assim tempos depois os pés de frutas pudessem voltar a brotar. Desespero total. Contou Gino vizinho que tinha ido visitar Santo Caleffi.
-Acho que o governo não sabe que estes pés de laranja estão plantados ali há muito tempo e são muito bem cuidados e que cortar todos estes pés de frutas é um prejuízo enorme para nós. Estas frutas ajudam na alimentação das famílias de todos aqui, pensou Valdomiro.
-Esta frutas foram plantadas com muito carinho elas fazem parte da paisagem do nosso sítio, falou Mario.
-O pomar inteiro foi arrancado, cortado, sem nenhuma explicação, sem nenhuma compensação pelo prejuízo causado, falou Inisio.
Um dia um vizinho foi visitar Santo Caleffi e o assunto estava na boca de todos. Santo Caleffi quis saber a opinião dele e perguntou:
-Senhor Arlindo Rabassi, o que o senhor acha disto tudo?, perguntou Santo Caleffi.
-Olha seu Santo é muito triste tudo isto que está acontecendo, mas cá para mim, assim como está acontecendo com café, o senhor percebeu que assim que começamos a usar adubos surgiu esta praga da ferrugem amarela por aqui no nosso cafezal. Sei não! Cá para mim, esta história da doença dos pés de laranja e de outras frutas nossas é uma grande lorota, que surgiu para privilegiar os grande produtores de laranja do estado de São Paulo. Sei não, senhor Santos, não tenho certeza, mas desconfio muito que foi isto que ocorreu por aqui e está prejudicando todo mundo. Mas fazer o que, é o governo que está mandando né, não tem outra solução para nós, infelizmente, falou com sua sabedoria o senhor Arlindo Rabassi.
No dia 12 de outubro do ano de 1973 o filho mais velho de Santo Caleffi, Inisio Caleffi, com apenas 46 anos de idade, morreu. Sua família no ano de 1974 saiu do sítio e migrou para a cidade Maringá. No ano de 1975, ocorre a maior geada até então vista ali naquela água Marialva. Queimou todos os cafezais. Foi a pá de cal para o fim definitivo da lavoura de café. Santo Caleffi morreu no seu sítio de Marialva no dia dezenove de abril do ano de mil novecentos e setenta e cinco, as quinze horas de uma sexta-feira. Estava com 83 anos de idade. Encerrou sua jornada. Fez história. Continua vivo eternamente na nossa memória. Um dia, Valdomiro e Mario, filhos de Santo Caleffi, tinham ido numa celebração na capelinha Santa Luzia, a santa protetora dos olhos, que fica do outro lado do rio Marialva, a uns dois quilômetros da casa deles. Estavam voltando da celebração religiosa, vinham descendo por um caminho estreito, primeiro era uma planície, depois uma pequena serra. Já era noite, a lua estava cheia brilhando sobre eles e sobre os pés de café amarelados pela ferrugem. Vinham em um silêncio pensativo, um do lado do outro. Valdomiro estava inquieto, seu coração ardia, enquanto caminhava, queria comunicar uma decisão que já tinha tomado consigo, no seu coração, depois de muito refletir por vários dias e noites, que estava lhe incomodando, pois não sabia qual seria a reação de Mario. Decisão para ele muito difícil, talvez até agora a mais difícil, pois sempre quem dava a última opinião era seu pai Santo Caleffi, mas agora ele já não estava mais ali com eles para dar a última palavra ou estava?! Pensou por um momento Valdomiro.
-Olha Mario meu irmão, tenho que lhe falar uma coisa que está ardendo no meu coração, falou Valdomiro -O que é Miro, pode falar, disse Mario.
-é difícil para mim propor o que eu vou te propor, mas não tem outro jeito tenho que te falar e ter tua concordância de todos os irmão e da família do Inisio, tem que ser uma decisão nossa, falou Valdomiro.
-Fala Miro, pediu Mario.
-é o seguinte acho que temos que vender o nosso sítio, falou Valdomiro.
-Eu também concordo, já estava pensando nisto a algum tempo, falou Mario.
-Que bom, falou aliviado Valdomiro. -Não tem outro jeito, disse Mario, novamente.
-Eu concordo com você, disse Valdomiro. -Os olhos deles se abriram.
-Então temos que comunicar a nossa decisão a todos, a nossa Mãe, a Onofre e a família de nosso irmão Inisio, falou Valdomiro.
-Sim, concordou Mario.
Continuaram descendo o caminho em direção a casa deles, então seus olhos se abriram, já era noite escura, mas um luar lindo clareava tudo, clareava aquele sítio de tantas história, de tantas memórias. Passaram pela ponte de madeira sobre o rio Marialva que eles mesmos tinham construído. Chegaram em casa. No outro dia logo cedo comunicaram a todos da decisão deles. O sítio de Marialva em que viveram todos ali por vinte e cinco anos foi vendido. Ele cumpriu sua missão. Era o ano de 1976. Todos mudaram para a cidade de Maringá. Começa ali uma nova história.
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