Roda de Histórias Vidas em Cordel - Idibal Pivetta
Museu da Língua Portuguesa
Mediadores: Luiza Gallo (P/1), Cecília Coimbra (P/2) e Ane Alves (P/3)
São Paulo, 28/08/2024
Código n.º: PCSH_RH003
Realização: Museu da Pessoa
Revisão: Nataniel Torres
P/1 - Eu sou Luiza, muito prazer. Trabalho no Museu da Pessoa, sou pesquisadora e o Museu da Pessoa existe há 33 anos, e ele sempre teve o objetivo de ser um museu virtual de histórias de vida. Então, a gente acredita que todas as histórias devem ser registradas e preservadas como um patrimônio da humanidade. E aqui a gente tem alguns jeitos, segundo a nossa metodologia, de ouvir e registrar histórias de vida e uma delas é a roda de história. Então, a gente está aqui hoje para poder trocar histórias e ouvir as histórias de vida. Então, o que a gente pensou? Eu vou começar fazendo uma pergunta para vocês, bem ampla e a Cecília entra para fazer outras perguntas, um pouco mais objetivas, mas também... o lance é memória, quais as histórias que vocês têm com o Idibal que vocês querem deixar registradas? O que importa para a gente? A gente vai ter uma exposição no final do ano, em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, chamada Vidas em Cordel. Então, a partir desses relatos, dessas histórias, a gente vai cordelizar a história do Idibal e ela vai para a exposição no final do ano, aqui no Museu da Língua Portuguesa. Se você quiser contar um pouco mais dessa parceria.
P/2 - Obrigada, Luiza. Então, vamos ter essa exposição aqui, que já vem com uma montagem das experiências que o Museu da Pessoa realizou. E aí, para vir para o Museu da Língua a gente queria acrescentar personagens para essa exposição que são importantes para esse território, para contar a história do território ao redor do museu. Então, pessoas do Bom Retiro, da Luz, enfim, gente que conta um pouco porque esse território é desse jeito. Histórias que a gente achou muito importantes de serem contadas,...
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Museu da Língua Portuguesa
Mediadores: Luiza Gallo (P/1), Cecília Coimbra (P/2) e Ane Alves (P/3)
São Paulo, 28/08/2024
Código n.º: PCSH_RH003
Realização: Museu da Pessoa
Revisão: Nataniel Torres
P/1 - Eu sou Luiza, muito prazer. Trabalho no Museu da Pessoa, sou pesquisadora e o Museu da Pessoa existe há 33 anos, e ele sempre teve o objetivo de ser um museu virtual de histórias de vida. Então, a gente acredita que todas as histórias devem ser registradas e preservadas como um patrimônio da humanidade. E aqui a gente tem alguns jeitos, segundo a nossa metodologia, de ouvir e registrar histórias de vida e uma delas é a roda de história. Então, a gente está aqui hoje para poder trocar histórias e ouvir as histórias de vida. Então, o que a gente pensou? Eu vou começar fazendo uma pergunta para vocês, bem ampla e a Cecília entra para fazer outras perguntas, um pouco mais objetivas, mas também... o lance é memória, quais as histórias que vocês têm com o Idibal que vocês querem deixar registradas? O que importa para a gente? A gente vai ter uma exposição no final do ano, em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, chamada Vidas em Cordel. Então, a partir desses relatos, dessas histórias, a gente vai cordelizar a história do Idibal e ela vai para a exposição no final do ano, aqui no Museu da Língua Portuguesa. Se você quiser contar um pouco mais dessa parceria.
P/2 - Obrigada, Luiza. Então, vamos ter essa exposição aqui, que já vem com uma montagem das experiências que o Museu da Pessoa realizou. E aí, para vir para o Museu da Língua a gente queria acrescentar personagens para essa exposição que são importantes para esse território, para contar a história do território ao redor do museu. Então, pessoas do Bom Retiro, da Luz, enfim, gente que conta um pouco porque esse território é desse jeito. Histórias que a gente achou muito importantes de serem contadas, passadas adiante. Então, o Idibal vem dessa pesquisa, quando a gente ficou pensando em nomes, veio daí essa ideia. Então, ele está na exposição, assim como outras pessoas. Além dele, vai ter mais duas pessoas daqui da região que vão fazer parte.
P/1 - A proposta é vocês contarem, escolherem uma história, alguma passagem, alguma lembrança significativa com o Idibal e contarem para a gente. Então, é para ouvir. A gente comenta o mínimo possível e depois que vocês três contarem essa história, a gente pode fazer alguns comentários, contar alguma lembrança que teve a partir do outro relato, tomar uma água, ir ao banheiro. Ficamos à vontade, a gente vai conversando e aí a gente faz essas rodas, pequenas rodas. Cecília também vai trazer algumas perguntas para vocês e é isso. Se vocês puderem deixar o celular no silencioso, todos, agradeço. E podemos começar, se vocês tiverem alguma questão...
P/2 – Querem fazer alguma pergunta, alguma dúvida?
P/1 - Um bate-papo.
P/2 - Sobre a história do Idibal, da vida dele.
P/1 - E pode ser sobre o teatro.
Cesinha - O Wilsinho tem uma participação grande na convivência, foram anos junto ao Teatro Olho Vivo. Então, acho que talvez esse recorte possa trazer bastante reconhecimento.
P/2 - Porque, inclusive, o fato de ser com pessoas diferentes da vida dele é ir montando o ‘quebra-cabeça’, de cada pessoa trazer sua convivência com ele. E aí você traz, então.
Wilson - Minha convivência com o Idibal foi uma coisa que começou mais ou menos lá da década de 1975, mais ou menos, quando a gente conviveu com o comércio _______ o Teatro Olho Vivo. O Teatro Olho Vivo era ______, tinha um galpão na _____ e nesse galpão se faziam os ensaios públicos das diversas pessoas e o Olho Vivo apresentava o espetáculo “O Rei Momo”, que era um espetáculo que falava sobre a história do Brasil, contava parte _______ e tinha samba e eu tocava percussão. Era um espetáculo que tinha o Carnaval dentro do próprio espetáculo, que o pessoal chamava o Rei Momo que contava a história do Dom Pedro, a vinda da família real. As histórias de ________ . Contava muita história, por ser estudante de História, da sociedade brasileira, dentro do espetáculo e foi aí que eu conheci o Idibal. Eu já tinha assistido. Eu conhecia ele também. Eu o conheci no teatro quando era Cesar Vieira. Então, eu não conhecia como Idibal, advogado ________. Tínhamos colegas em comum, advogados em comum, e ele era advogado de presos políticos: Idibal Pivetta. E foi aí que eu comecei a conhecer o Olho Vivo, uma coisa diferente. Foi diferente em que sentido? O local de uma pessoa que fazia teatro, até então não conhecia direito, mas aqui eu comecei a fazer teatro nessa época ainda era teatro. Eu comecei inicialmente numa participação musical, porque tinha música ao vivo porque era um espetáculo teatral ao longo dessa apresentação teatral. Além da interpretação, toda a percussão e a música eram feitas ao vivo, no meio disso tudo. Então, dentro dançava o samba, tocava o pandeiro, tocava um surdo _______ e uma das coisas que eu achava muito interessante é que o grupo existia com as decisões do empate. Essa é uma das coisas que eu achava muito interessante. As decisões que o grupo se reunia para poder _____ comissões de espetáculo, comissões de luz, comissões de figurinos, diversas comissões, mas tudo era discutido na chamada rodada. Então, nesses espetáculos o grupo estava sentado e a partir do momento que você estava sentado naquele local, você começava a discutir um relato da última reunião e quais seriam as problemas ou as questões que precisavam ser discutidas naquele momento e você tinha que falar alguma coisa, você tinha que se posicionar, você não tinha a condição de neutralidade, de não falar nada. E a rodada, uma hora começava de um lado e nunca se tinha a previsão específica de quem começasse a rodar. E, começando a rodada, à direita ou à esquerda que tivesse a pessoa sentada era obrigada os outros a irem seguindo e as pessoas tinham que falar alguma coisa, tinham que discutir sobre o problema, era um problema coletivo, as decisões eram todas coletivas. Eu acho que era uma coisa que, naquela época, uma época que terminando a Ditadura, ainda não tinha terminado, então teve momentos realmente difíceis dentro da Ditadura, mas era só algo que existia numa democracia, que você tinha _____ discussão sobre o trabalho e sobre o principal objetivo do trabalho, que era você pegar as reivindicações do trabalho e levar até a periferia. Então você chegava, marcava um determinado momento do fim de semana, o fim de semana era do grupo, independente de qualquer outra coisa que você tivesse na sua vida privada, particular, você tinha o compromisso com o grupo, então você tinha o compromisso com os trabalhos e fazer sempre alinhado no momento ______ e você saía e o grupo ia até a periferia e na periferia você chegava no local no passado e montava o teatro e fazia uma apresentação daquele espetáculo para pessoas que nunca tinham visto um espetáculo, nem sabia o que era e aí você via a apresentação e depois se fazia um debate, se discutia. E uma das formas que eu vi já mais no final da vida individual agora, no final do último ano, é que ele escreveu _____ por vinte anos mais ou menos e fez um comentário de um amigo conversar com o outro, conversar com outro amigo, se tivesse alguém, conversava com esse alguém, se fosse a mulher, conversar com a mulher dele, se fosse um ou dois conversando, então eles falavam a participação, era uma pessoa que priorizava muito a participação coletiva conforme o desenvolvimento _____ . Essa é uma das coisas que eu achei muito importante.
P/3- Eu acho que é importante o senhor se apresentar, para ficar registrado.
Wilson – Meu nome é Wilson Xavier. Eu estou falando de um teatro que eu já compartilhei, estou participando como ator, _____ mas com a ideia de ator, porque se fosse o nome de outra profissão, eu não sou ator profissional, eu faço um teatro com um posicionamento político, sempre um ambiente muito disputado, sempre tínhamos em vista a consideração das questões sociais e depois do espetáculo nós temos debates com a comunidade sobre a interpretação do que aconteceu, que ligação até no teatro e o debate era livre com o público, onde a gente não ficava expondo as nossas mulheres. Nós partiamos da pergunta e deixava o pessoal conversar, queria entender e aí o debate desenrolava. Então as pessoas, como não eram profissionais da área de teatro, embora não sendo profissionais da área de teatro, nós tínhamos a função de fazer um espetáculo de qualidade, com o mesmo padrão que você pudesse vender esse espetáculo, para poder reverter em dinheiro, para poder se apresentar esse simbólico na periferia.
P/1 - Se vocês puderem isso: antes de começar a falar, falar o nome e a relação...
Lia - Eu me chamo Lia Mirtes Pivetta, sou irmã do Idibal.
P/1 - Conte para nós uma memória marcante.
Lia - Tem bastante. Ele nasceu em Jundiaí, em 1931, na época da Ditadura Vargas. Meu pai, por uma coincidência, era prefeito de Jundiaí. Quer dizer, já nasce nesse meio politizado e tem uma história interessante, contar o nome dele, que meu pai sempre gostou de ler muito e o meu pai e minha mãe detestavam. Então ele leu um livro chamado Salammbô, do Flaubert e ele tirou o nome do Idibal, só que é assim: Idibal Ma t-h-ô, então ficava Idibal Mathô Pivetta. Minha mãe tinha horror e ali vocês imaginam: minha mãe contava que quando meu pai saiu para registrar, ela dizia: “Pelo amor de Deus, não me põe esse nome”, mas ele pôs e meu irmão cresceu assim, mas quando ele era adolescente ele detestava o nome. Quando ele tinha uns 17, 18 anos ele queria mudar o nome para João, mas depois ele se conformou e até foi bom, porque é um nome diferente.
Cesinha- Velho não é tão simples, ele reclamava.
Lia - Daí ele ficou conhecido e acho que ele acabou gostando do nome, mas essa é a história do nome dele, de um livro, o personagem não era o herói, o vilão da história. Tem mais essa. Depois, nessa mesma época também, eu não sei direito, só sei que meu pai saiu fugido de Jundiaí, porque era época da Ditadura, daí ele veio para São Paulo e eles foram morar no Tatuapé. Depois de um tempo eles foram morar na Rua França Pinto, que foi onde eu nasci. Eu nasci, meu irmão tinha dez anos, e meu irmão, nessa época, fundou um grupo de futebol chamado “Os Onze Unidos”, que era um campinho de futebol que tinha em frente e era a molecada da rua. Esses que têm só a... como é que fala?... a trave e a molecada da rua jogava descalço, era assim, né? Depois ele foi, eu não me lembro onde ele fez o primário, eu sei que ele foi fazer o ginásio no Colégio Arquidiocesano e ele detestava, ficou detestando os padres, por uma série de motivos. Ele dizia horrores dos padres, acho que você deve saber dessas histórias e ele foi expulso do colégio quando estava no oitavo ano do ______ , naquela época era quarta série, né? Porque ele estava passando uma figurinha de mulher pelada, que naquela época não tinha essas coisas, eram só figurinhas assim, que você colava em álbuns. Aí ele foi expulso, não o deixaram terminar o ginásio, aí ele foi para o Colégio Bandeirantes, aí ele fez o ginásio. Lá ele foi presidente do centrinho lá, do Bandeirantes e ele, nessa época, já estava começando a gostar de escrever e tinha um prêmio cultural que chamava-se “Prêmio Esso” e ele ganhou esse prêmio escrevendo sobre o Tratado de Madrid. O Tratado de Madrid é a formação atual do Brasil, é o que determina toda a formação do Brasil, porque você troca, o Rio Grande do Sul era da Espanha e o atual Uruguai... olha aqui, nós dois professores de História. A Espanha tinha o atual Uruguai e o Brasil tinha os Sete Povos das Missões, que era o Rio Grande do Sul. Aí quando foi feito o Tratado de Madrid o que determinou o Uruguai e o Rio Grande do Sul, o Uruguai estava na Espanha e o Rio Grande do Sul no Brasil, certo? Só que lá no Rio Grande do Sul teve a chamada Guerra Guaranítica, porque no Rio Grande do Sul, como a parte passou para a Espanha, que eles achavam que tinha que ser da Espanha, tinha que mudar, então toda a tribo indígena, cujo chefe era o ______ tinha que mudar para o Uruguai e daí eles se negaram, daí que teve a chamada Guerra Guaranítica _______ . Então, daí o meu irmão escreveu já no colegial, no Bandeirantes, sobre isso, sobre o Tratado de Madrid e ele ganhou o chamado Prêmio Esso, daí ele foi televisionado na TV Tupi, na época, o prêmio.
Cesinha - Sim, inclusive quem estava concorrendo com ele era o que pegou acho que o segundo ou o terceiro lugar, foi o Ives Gandra Martins, que é um jurista hoje super...
Lia - ... Nisso ele já estava no colegial. Depois ele foi fazer Direito. Tem uma coisa que eu esqueci que eu ia contar dele, nessa época foi presidente da UNE aluno, fazendo faculdade, ele volta para o Rio… Depois, o que mais tinha? Estou lembrando.
P/1 – Se você puder contar uma memória marcante com você, de vocês dois...
Lia - Bom, tem uma história que eu não sei, era contada: quando eu nasci, dez anos depois, ele teve ciúmes de mim, ele me chamava de macaquinha. Bom, depois eu acompanhei toda a vida dele, assim, que eu era dez anos mais nova, então eu vi a evolução dele. Por exemplo, quando ele estava na faculdade, ele sempre teve uma memória astronômica. Quando ele estava fazendo Direito era um grupo de três que varavam a noite estudando, então era ele, o Jorge e o outro, que era o Joãozinho Monstro, que até hoje eu não sei o sobrenome, era apelido, Joãozinho Monstro. Eles varavam a noite e o meu irmão sempre teve uma memória fabulosa, sabe? Ele nunca estava, que ele lia demais, tudo quanto era coisa: era teatro, era política, era ________ . Se você o visse falar de autores e declamar, você ficava assim, que a memória era qualquer coisa fora do comum e ele contava sempre assim: os três eram muito inteligentes e estudavam assim, na véspera mesmo, passavam a noite ali e ele sempre disse assim: “A melhor memória é a do Jorge, que lê uma vez, eu preciso ler duas”. Pode uma coisa dessas? Isso eu me lembro bem, porque eu era pequena e me lembrava disso. Depois, o que mais? Me lembro umas coisas assim, de criança. Ele pegou o carro do meu pai e foi... você sabe dessa história?
Cesinha – Claro!
Lia - Aí eram umas coisas. Eu sei que eu tenho uma memória que protegia, porque o meu pai era bravo. Então minha mãe, meu pai e eu fomos ao cinema no Centro, em uma travessa da Domingos de Moraes e tinha um cinema chamado Sabará, que a gente ia a pé, aos domingos, então nós não íamos de carro e quando chegou o meu irmão tinha pego o carro pra andar por aí, fez ligação direta, tudo essas coisas, que não tinha a chave, só que aquele tempo estava chovendo, ele atolou o carro. Então, o meu pai ficou muito bravo e meu pai pegou um pedaço de borracha, assim, que era pra bater nele. Eu dizia: “Pelo amor de Deus!’ Isso eu me lembro, de eu ter achado que meu pai ia bater nele mesmo, porque eu sempre fui a defensora do meu irmão e aquilo eu nunca esqueci, porque ia apanhar, apanhou nada, aí ele falava pra mim e pra minha mãe: “Eu vou bater, eu vou bater”. Aí eu não lembro o que aconteceu, mas teve um fato assim, quando eu era pequena, mais o que eu lembro.
P/1 – Lia, minha sugestão é a gente continuar e aí depois voltar.
P/2 - Que daí agora o Cesinha pode falar também e aí a gente vai... é o tempo de...
Cesinha - Acho que talvez minha tia pode trazer depois que meu pai falava muito de um momento também que ele até se afastou um pouco da família, de tanto que ele se embrenhou nessas coisas do teatro, essas coisas políticas, ele ficava até mais distante da família, em si, porque ele era super focado e acho que teve esse período que eu não vivi tanto e também que tinha esse lance dos cachorros, meu pai sempre levava cachorro, quantos cachorros que meu pai levou pra minha tia, que ele pegava na rua, pegava atropelado e dava pra minha tia e ele ficava ajudando às vezes a cuidar e ela ficava com a ‘bomba’.
Lia - Sim, os bichos ficavam com a gente, porque minha mãe não apreciava muito, teve cachorro sempre, mas sempre levado, então meu irmão chegou a levar um cachorro, sabe esses cachorros que ficavam, assim? A gente morava perto do Hospital São Paulo e os cachorros eram feitos cobaias, até um desses ele levou pra casa, pra mim, um desses cachorros que era cobaia.
Cesinha - Gostava muito de cachorro também.
Lia - Minha mãe, depois teve um fato muito curioso, isso que ele falou sempre sobrava pra mim, até um coelho sobrou pra mim, porque foi assim: meu irmão tinha uma namorada que fazia essas coisas, não tem noção, era na época da Páscoa, ela deu um coelho pro meu irmão. Imagina! E nós tínhamos ido pra Jundiaí, visitar meus avós. Aí, quando nós chegamos tinha um banheirinho, um banheiro azul e a minha mãe abriu e tinha um coelho lá. Você acha dar de presente um coelho? Minha mãe teve um chilique. ______ o coelho pra mim. Era isso, sabe? Aliás, todos nós aqui éramos fanáticos por animais. Então teve a cachorra Madonna, olha o nome da cachorra que ele me deu! Foi atropelada na rua, pegou e levou pra minha casa e ele dizia: ______.
Cesinha - E era Madonna não só pela cantora, pela Madonna, o quadro, a Monalisa, que é a Madonna. A minha tia falou... bom, eu sou o Cesinha Pivetta, sou filho do Idibal, do César Vieira e é isso, tô aqui também pra compartilhar um pouco das histórias. A minha tia comentou sobre o nome, o Mathô, a minha avó chamava Maria e o meu avô Thomás, os pais do meu pai. Então, é “Má” de Maria e “Tho” de Thomás, isso virou um sobrenome Mathô, que eles inventaram. Então você vê que o pessoal...
Lia – Ele que contava, mas a história era do livro.
Cesinha - Bem criativo e aí era o Idibal, porque aqui a gente tinha o Aníbal, que é o irmão do Idibal, só que aí em português, no Brasil, virou Idibal, porque proparoxítona, tudo... eu conto as histórias do que meu pai contava, tudo, sei todas. Esse Prêmio Esso que ele ganhou, que tinha o Ives Gandra Martins participando, tinha outros ‘caras’ disputando chamava “Alexandre de Gusmão, um Bandeirante na Paulicéia”, um negócio assim, era uma coisa meio maluca, mas eu fui anotando algumas coisas conforme a tia foi contando histórias e o Wilsinho, fui lembrando, vou trazendo aqui algumas lembranças: essa história da Guerra Guaranítica teve um espetáculo que se chamava “Morte aos Brancos”, Yucca Caraíba, que é de 1982, Wilsinho, se eu não me engano.
Wilson – ______ 1984. Acho que por aí
Cesinha - Por aí.
Wilson - A formação do espetáculo você tinha todo o trabalho de pesquisa de palco. Entre uma peça e outra levava mais ou menos dois, três anos montando, mas eu acho que foi, que estreou no Festival de Córdoba, que eu me lembro, em 1984.
Cesinha - O Wilsinho, inclusive, fez o papel do Sepé nesse espetáculo, foi o primeiro Sepé do Olho Vivo, que depois a gente fez outras montagens, outros atores interpretaram, mas o Wilsinho foi o primeiro e meu pai, na pesquisa, como o Wilsinho falou, tinha um processo extenso de pesquisa, muitos meses de trabalho coletivo, de pesquisa e meu pai tinha, na época, um mapa na parede mapeando o Brasil inteiro, onde que os índios estavam reunidos, aqui tem tantos guaranis, aqui tem tantos não sei o que lá, eles estão se agrupando aqui, uma aldeia está aqui e tal e ele, nisso, nesse meio tempo, enquanto ele fazia a pesquisa dessa peça ele foi preso, ao final de um espetáculo do grupo, em que eles pegaram alguns...
Wilson – ________ ele foi antes.
Cesinha - É, isso, foi antes, mas ele tinha essa pesquisa já, ele já estava em processo de pesquisa.
Wilson – Então, foi do Rei Momo, no começo, lá pra sessenta e pouco.
Cesinha – Isso. O “Morte aos Brancos” ainda não estava montado, ele estava pesquisando, então ele tinha mapas nas paredes e os ‘caras’ o prenderam e foram lá ver as coisas e falaram: “Pô, você está cheio de mapa lá, você está reunindo índios? O que você vai fazer, o que você pretende fazer com esses índios? Você vai fazer uma tomada, uma invasão, uma revolução?” Ele falou: “ ‘Cara’, se eu tivesse mais de trezentos índios reunidos ao meu comando, você acha que eu ia estar preso aqui? Não ia estar aqui preso. Isso é uma pesquisa de uma peça que eu estou fazendo de quinhentos anos atrás” e os ‘caras’: “Não, que você está reunindo índios aí, porque você...”. Ele falava que eles o acusavam de ser uma liderança que iria unir as esquerdas, coisa que ele dizia que “pô”, seria muito bom se ele tivesse conseguido realmente ser essa figura, porque a gente precisa, até hoje estamos precisando. Depois eu ia pedir para o Wilsinho contar um pouco também sobre as viagens: ele foi à Nicarágua, Angola, Cuba, acho que teve alguns episódios.
Lia – Posso falar?
Cesinha - Claro, claro.
Lia - Ele foi preso no domingo à noite, né? E nós ficamos sabendo no domingo de manhã que ele foi preso para ajudar um outro rapaz. Ele estava já defendendo os presos políticos e ele foi preso porque ele tinha um cliente que tinha panfletos e, essas coisas, e ele foi ajudar o rapaz, era um mocinho e aí pegaram os dois, sabe? Isso foi no sábado e no domingo que nós ficamos sabendo. Quando foi na segunda-feira ou na terça-feira eu estava na casa da minha mãe e o meu pai já tinha saído para trabalhar e a minha tia, estava eu, minha mãe e meu tio. Tocaram a campainha e chegou uma perua C 14, que eram aquelas peruas que vocês não conhecem. Até hoje me lembro, são coisas que você não imagina isso.
Wilson – C 14, os antigos carros de polícia.
Lia – Que não tinha nem placa e desceram dois rapazes, para não se identificar como policiais na viatura, se vestiam “a la Che Guevara”. Então eles desceram todos - parecia um filme, sabe? - todos de calcinha jeans, assim, bem justinhos, de barba, assim, como ele, assim, e o que tocou a campainha e meu irmão chegou com o olho preto assim, sabe? Acho que ele tinha levado uma porrada, né? Aí ele chegou assim na frente e os ‘caras’ atrás: “Eu trouxe meus amigos” e foram direto para o quarto dele, aí eles revistaram tudo que o meu irmão tinha pegado, saindo de uma mala desse tamanho de livros e o meu irmão tinha trazido da Itália, não sei por que cargas d’água, um revolvinho fininho desse tipo. Só um, mas de brinquedo. Pegaram, não sei o que era a arma e daí quem errou fui eu depois que ele saiu da prisão: “Como que você não olhou nada, sabe? Por que você não foi lá e pegou meus livros?” Sabe, são coisas que você, na hora, fica tão atordoada, então sobrou pra mim a bronca, porque eles levaram a mala com um monte de coisa e eu tinha que tomar providência pra isso. E meu filho, que era pequeno, fez a festa, foi lá no quarto da minha mãe, derrubou tudo quanto era talco, perfume, que eu e a minha mãe nem lembrávamos que ficava lá, nessas alturas. Eu sei que daí ele ficou preso, ele contava umas coisas assim. Ele contou das coisas dele da prisão pública?
Cesinha - Contou várias. Ele ficou preso com o Adriano Diogo, inclusive que é uma figura também bem bacana e ele conta - talvez minha tia saiba melhor - que eles mandavam, a família mandava lombo pra ele, uma comidinha, aí os ‘caras’, os carcereiros iam lá na cela, pegavam o saquinho com limão, um limãozinho e falavam: “Olha aqui, a família mandou pra você” - jogavam o limão - “Estava ótimo, estava muito bom”, dava só o limãozinho e aí falava que o que o marcou muito, que ele ficava vendo os carcereiros - ele ficou preso no DOPS, na OBAN, na Tutóia, em três presídios - e ele conta que os carcereiros ficavam olhando de cima de uma muretinha, os passarinhos pousando, pardais e aí eles ficavam competindo de escarrar no pardal, puf, puf, ver quem acertava o pardal lá embaixo e isso o marcou de uma forma tão nojenta, assim, que ele falava: “Poxa, aquelas cenas dos ‘caras’ cuspindo no pardal...”. Tanto que ele sempre falava que ia fazer uma biografia chamada “O Pardal Escarrado”, que eu acho que era ele mesmo, não sei, eu senti um pouco isso.
Lia – Teve umas duas, três passagens que ele foi preso, que ele contava. Uma delas ele contava assim o que que ele falou, então tinha um ‘cara’ na frente dele que dizia assim: “Quem é advogado?”. Ele dizia: “Olha eu aqui”. Isso ele contava sempre e ele dizia também que tinha situações assim, malucas. Esse rapaz que estava preso, ele dizia: “Quero um ‘abogado’”, não sei se ele era espanhol, o que era, ele foi preso, coitado, porque ele passou na frente, estava indo... a namorada tinha sofrido um acidente, ele estava correndo com o carro para ele acudir e ele passou o carro na frente dos policiais, o prenderam, acharam que ele estava fugindo, esse que estava lá. Tinha um outro, são coisas assim, você não sabia dessa? E também tinha outro caso, era um alfaiate que estava preso e não tinha nada a ver com isso, porque o alfaiate estava vindo do Rio de Janeiro e ele viu o carro dos militares e ele parou, deixou bem devagar o carro para os militares passarem, e os militares acharam que ele tinha alguma coisa e o prenderam e quando o prenderam, o que tinha no bolso do ‘cara’? Um monte de general, marechal, de foto, então acharam que ele estava fazendo alguma coisa e sabe por que era trágico? Porque ele era o alfaiate desses ‘caras’ que levavam as fotos para se exibir. O ‘cara’ foi preso por causa disso. Nunca esqueci dessas coisas que ele contava!
Cesinha - Eles falam que quando ele chegou na cela, quando ele chegou na cadeia, os ‘caras’ vieram tudo comemorando, o prenderam, celebrando muito: “Aeee, pegamos, pegamos” e os ‘caras’ que estavam presos falaram: “Quem que eles pegaram?” E eles chegaram: “Aqui, pegamos aqui, quem vai soltar vocês agora? Quem vai soltar todo mundo aqui, agora? Pegamos aqui, quem ia soltar vocês está aqui” e ele chegou lá e encontra então um ‘cara’ que estava como milico, era um delegado lá que jogava bola com ele no Tatuapé, ou na Vila Mariana, se eu não me engano, quando era moleque, só que nunca mais tinha visto: “Porra, Idibal, o que você está fazendo aqui?” Um delegado, o outro preso e aí o ‘cara’ fala pra ele: “Porra, não acredito, o que você fez da vida? A gente jogava bola e tal. Você quer uma cela especial aqui, pra você? Eu te arrumo uma sala especial pra você ficar, te conheço de criança, não sei o que lá”. Aí meu pai falou: “Bom, eu não posso, preciso perguntar pros outros presos, ver o que eles acham disso porque, se eles concordarem eu vou, se eles não concordarem eu vou pra lá”. E aí então ele começou a movimentar lá dentro e ele conseguiu uma cela especial com uma máquina de escrever dentro da cela, porque ele foi preso porque ele tinha muito... ele era conhecido por isso: ele andava no carrinho dele, tinha um Fusca, na época , com a máquina de escrever no porta-malas, então sempre que alguém sabia que alguém tinha sido preso: “Não sei quem a gente acha que está preso”, ele já corria pro presídio com a máquina de escrever no carro, que seria o notebook hoje, e escrevia na hora já uma petição ou um relato de que sabia que essa pessoa estava presa e protocolava lá, porque daí não podiam mais matar essa pessoa. Não ‘podiam’, mas assim: pelo menos o mundo de fora sabia que aquela pessoa estava lá dentro e já tinha, já estavam sabendo. Então todas as pessoas ligavam muito e falavam: “Pegaram não sei quem”, porque ele já pegava e já corria lá pra porta da delegacia ou do presídio e fazia isso.
Lia - Era uma forma de assegurar a vida das pessoas.
Cesinha – Pelo menos a vida.
Lia – Quando ele foi preso, logo, não sei se foi o Paulo, um desses amigos já puseram no jornal que ele tinha sido preso ________.
Cesinha - Bom e aí, lá de dentro, ele então sendo um ‘cara’ com coração assim também, de querer ajudar as pessoas e tal, ele começou a ajudar inclusive presos comuns que estavam lá dentro, então traficantes de haxixe que vinham de não sei, de outro país, não sei de onde, que eram presos lá com haxixe, de ‘mula’, ele ia lá e ajudava esses ‘caras’. Outros presos que estavam lá, bandidos que tinham roubado, não sei o que, estavam presos e tal, ele ia lá e via, tentava fazer o que podia fazer pra trazer a família, então de dentro da própria cela ele conseguiu movimentar. E aí duas histórias que, inclusive, eu ouvi no velório dele, no cerimonial, uma foi essa que a minha tia comentou de quando ele estava saindo, mas antes tinha um, depois tinha outro rapaz. Essa de quando ele estava saindo ele foi liberado e aí ele começou a cantar “A Internacional”, o hino socialista, ia andar pelo presídio saindo e cantando e aí as pessoas começaram a cantar junto, só que eles começaram a dar porrada em quem estava cantando: “Para, cala a boca”, não sei o que lá e aí uma menina que estava presa continuou cantando e não quis parar e não parava, não parava e continuou cantando enquanto ele saía, e essa menina ninguém sabia na época quem era ainda, mas era a Rita Lee, que estava presa também, acho que por porte de droga e tal, mas que estava lá também e ela ficou então cantando com ele e eu só soube disso no dia do velório de um outro preso que estava no presídio também. E uma outra história também que eu acho muito interessante, inclusive agora me falha o nome do rapaz, mas foi muito forte, porque a gente tinha feito uma série de cerimoniais na despedida do meu pai, a noite inteira, enfim, e muitas pessoas falaram, estiveram presentes lá muitas pessoas, entidades, e a gente estava à beira de fechar a tampa do caixão dele, para entrar no carro, e aí um rapaz de cabelo branco, rabo de cavalo, falou: “Posso falar?”, chorando já. “Fala, fala”. Aí ele falou: “Eu quero contar um relato da minha vida: eu tinha 16 anos, eu fui preso com 16 anos, na Ditadura, e eu estava praticamente morto, torturado, torturado, torturado, já tinha desistido da minha vida” - isso ele falando lá – “falei: ‘Vou morrer, acabou minha vida aqui’, quando veio alguém e falou: ‘Você está liberado’. Ele falou: ‘Pô, mas como que eu estou liberado? Eu nem tenho advogado’. Aí ele falou: ‘Não, o seu advogado te liberou, resolveu aí, está solto’. Aí ele saiu e esse senhor estava lá fora esperando e aí ele falou: ‘Pô, eu não te conheço, quem que é o senhor?’ Ele falou: ‘Eu te soltei, eu sou advogado’ ‘Mas eu não tenho dinheiro pra pagar, como é que eu vou pagar?’ Ele falou: ‘Não, vamos tomar um café, tudo bem, um dia você me paga uma cerveja’. E meu pai tinha exatamente essa postura, tanto ele quanto os outros advogados ali que tinham o escritório junto: Luis Eduardo Greenhalg, quanto Airton Soares, mas também Paulo Gerab, o Miguel Duarte, que era amigo dele e o Roston, que tinham essa postura de ter um trabalho que não era advocacia com redução financeira e sim por uma causa, por um ideal. Então foi muito marcante, ele falou: “Pô, eu tinha 16 anos, eu estaria morto, eu não estaria aqui, minha vida ia ter acabado naquele dia, provavelmente, ou no dia seguinte e hoje eu estou aqui, vivo, por causa desse ‘cara’ que nunca me cobrou nada, me chamou pra tomar um café’”. Bom, mas aí, trazendo outras coisas mais leves, assim, o meu pai era um corinthiano ferrenho, tem um livro escrito chama: “Corinthians, Meu Amor”, inclusive teve uma música gravada pela Inezita Barroso, mas não foi sempre assim. Meu pai, antes, não era corintiano, meu pai foi são-paulino na infância, assim.
Lia - Meu pai comprou um título do São Paulo pra ele.
Cesinha - Comprou uma cativa no Morumbi, inclusive eu cheguei a assistir o jogo com meu pai, ver jogo do Corinthians, no Morumbi, na cativa do São Paulo, e eu sou muito corintiano, mas o meu pai mudou de time e é uma coisa que não é muito bem vista, essa pessoa que muda de time é ‘vira-casaca’, só que ele falou: “Não faz sentido na minha vida com o que eu acredito no mundo ser são-paulino, porque eu acho que o Corinthians se identifica, a origem do Corinthians se identifica com o que eu penso, e aí ele vira corintiano e passa então... escreve um livro, “Corinthians, Meu Amor” e até virou referência a ponto de, quando ele faleceu, além do Lula, do Consulado de Cuba terem emitido notas e tal, o Sport Club Corinthians Paulista também emitiu uma nota de pesar, então acho que no fim foi reconhecido o seu ‘corinthianismo’, o que é, o que o Corinthians simboliza para o povo, não só enquanto futebol quatro linhas, mas uma ideia de transformação, uma ideia de que é possível vencer classes dominantes, mesmo que seja através do esporte, a princípio, mas que depois isso vai emancipando o ser humano e vai alcançando e dando propriedade e empoderamento para poder buscar outros espaços. Meu pai gostava muito de citar uma poesia do La Fontaine, que é uma fábula, ele falava: “Certa vez uma raposa aproximou-se de uma parreira e, vendo as uvas, desejou-as. Por três vezes saltou, tentando alcançá-las. Não conseguindo, porém, afastou-se e disse: ‘Estão verdes, estão verdes, estão verdes’. Ele sempre recitava essa poesia, essa fábula, que é isso: a gente vai, vai, mas depois você não consegue: ‘Ah, estão verdes’”. Vou contar umas anedotinhas que ele contava muito também, que eu acho que é legal: o Paulo Gerab era um grande amigo que está aí, na ativa, amigo de infância, amigo de muitas aventuras e um grande advogado também, de luta, mas eles estudaram juntos no Bandeirantes, tem algumas histórias que eles contavam que são bem divertidas. Por exemplo: a Cultura Inglesa, quando chegou no Brasil... hoje a gente vê a Cultura Inglesa, escola de inglês, mas não tinha escolas de inglês, então “chegou a Cultura Inglesa, vai ter aula de inglês em São Paulo”. Imagina, meu pai é da década de trinta, então o mundo era bem diferente, muita coisa aconteceu e aí eles: “Cultura Inglesa o cacete, vamos aloprar isso aí e tal”, e aí foram lá e pegaram, tinha bandeira na frente, era uma casa com uma bandeira, eles foram de madrugada, pegaram a bandeira - não sei se você lembra que ele contava a história - colocaram assim no chão um penico, cagaram em cima do penico, ‘botaram’ na bandeira e foram embora e deixaram, à noite. Só que, hoje em dia, se alguém colocar isso na rua, ninguém vê, acabou, só que na época não tinha ninguém, não acontecia essas coisas, então foi pro jornal: “Cultura Inglesa é depredada, não sei o que lá e tal” e eles estavam só querendo... criançada. Outra coisa: subiram no sino, roubaram o sino do Arquidiocesano, também deu um baita bafafá, então eles...
Lia – Também roubou o pavão da Praça da República, saiu no jornal.
Cesinha – Ou seja: era um ‘cara’ que ‘aprontava’, não era uma pessoa tranquilinha. Além do Paulo Gerab, o Luiz Eduardo Greenhalg, o Airton Soares, o Miguel Androvan Duarte, o Roston, que são advogados que combateram, que lutaram muito junto com ele, acho importante também lembrar uma pessoa, que é a Luiza Barreto Leite, que é uma teatróloga, uma crítica, diretora de teatro, que também participou da Fundação Olho Vivo, a qual eles foram muito fiéis, muito parceiros ao longo de muitos anos, companheiros, amigos mesmo na luta do teatro, então acho que é uma pessoa que ele gostaria de ter essa memória lembrada.
Lia – Como chama o filho dela?
Cesinha - Luiz Alberto Sanz, o Nenê, mora no Rio agora.
Lia – Foi preso na Ditadura. Você não sabe desse caso?
Cesinha - Talvez, conta, conta.
Lia – Ele foi preso e foi um horror ficar trancado. Eu sei que ele foi pra casa, lá já era na ________ . Foi pra lá e meu irmão saiu, ele ficou e eu não sabia, tranquei o homem dentro de casa. Meu irmão quase me ‘comeu’ depois. Tranquei o homem lá, ele teve chilique lá dentro.
Cesinha - Bom, eu vou concluir aqui, para não me estender, poder girar também e tal e depois, mais pra frente eu vou trazer um pouco de uma coisa mais cronológica que eu tenho, mas também lembrando histórias mais íntimas: uma comigo e uma que ele contava muito, que é do tempo que ele vivia mais com a minha tia, que eu não tinha nascido, mas eles falam que ele foi acho que no Ibirapuera, uma vez, se não me engano, num parque que tinha um lago e pegou um monte de peixinho no lago, num saquinho, num copo, aqueles peixinhos bem pequenininhos, e levou tudo pra casa os peixinhos e tal, que bonitinho! E deixou e eles foram viajar, só que não sabia, era criança, pegou, quando voltou, três, quatro dias depois já era sapo, era tudo girino que ele tinha pegado, então chegou em casa e estava cheio de sapo pela pia, sapo na banheira, sapo andando, um monte de pererequinha pela casa inteira. Essa história que ele gostava de contar, que era bem engraçada, pra mostrar a figura que é. E outra comigo, assim, a gente estava falando, meu pai gostava muito de animais, eu também gosto muito de animais, a gente sempre gostou muito de bicho, né? E, na época, não sei se vocês lembram, tinha aquelas feiras de animais que você ia e no final eles davam um pintinho colorido, às vezes, e a gente levou uma vez um pra casa e esses pintinhos sempre morriam, né? Todo mundo falava: “Isso aí...”. Só que o nosso não morreu, porque a gente gostava muito de bicho e eu cuidava como se fosse... né? E foi crescendo e tal, só que aí ele estava já um franguinho, assim, estava começando a virar um franguinho e um dia o bicho estava quase morto, estava muito fraco e eu liguei pro meu pai: “Pai - era Blue o nome do bicho – o Blue está morrendo, não sei o que lá, não sei o que lá”. Meu pai pegou o carro, correu pra lá, ele já chegou com uma caixa de sapato e uma lâmpada e já ligou e enfiou assim dentro da caixa de sapato e falou: “É isso que a gente tem que fazer agora, vamos esquentá-lo e ver se ele sobrevive” e eu lembro até hoje, assim, a sensação que o bichinho estava indo embora e aí o bichinho começou, foi voltando, foi voltando. Puta, virou um baita de um galo. Eu sei que eu tive que criar um galo num apartamento, o prédio inteiro reclamando, quatro da manhã o galo cantando, a gente teve que mandar o galo embora pro sítio, depois eu acho que o galo virou canja lá, coitado do bicho, lá no sítio, coitado do Blue, deve ter virado canja, mas ele salvou, eu lembro do carinho dele chegar e falar: “Não, é isso que a gente vai fazer: a gente vai colocar uma lâmpada e uma caixa de sapato, a gente vai esquentá-lo e ele vai voltar” e o bichinho sobreviveu. Era isso: meu pai era muito apegado aos animais, pra além de toda essa questão da luta, da política que as pessoas conhecem, uma faceta que já... era um ‘cara’ muito brincalhão, de muita piada. Como eu contei essas coisas, essas sacadas, essas tiradas: pegar a bandeira, enfim, muitas que, se eu for contar...
Lia - Brincava, fazia muita piada e eu era muito boba, eu contava as coisas e às vezes era um monte de mentira: “Contou isso? Eu estava mentindo”.
Cesinha – Ele brincava, brincava.
Lia – Eu acreditava em tudo que ele falava.
Cesinha - Tinha um jeito muito engraçado de ser, de brincar mesmo, de cantar, até latir, gostava de latir. Latia, latia, que latia em todo lugar, andava na rua, via um cachorro: “Au, au, au, au”, latia pros cachorros, era um cara muito brincalhão, fazia piada com todo mundo. E esse lance do carinho pelos animais, pelos bichos, sabe, que é muito conhecido e ele tinha um amor pelos bichos.
Lia – A gente sempre teve cachorro.
Cesinha - Sempre teve muito cachorro. Eu mesmo enterrei nove lá no Olho Vivo.
Wilson - A montagem a gente tinha, o grupo tinha um cachorro lá, os cachorros que nunca tinham ido na rua lá que chamava _________ e nós pegamos e tomamos o cachorro e lá sempre tinha cachorro, mas quando se olha a obra escrita dele você pode perceber, o “Tratado de Madrid”, quando você vê o “Morte aos Brancos”, você pode ver o “Rei Momo”, outras questões, então, pela obra dele, pelos personagens, você pode perceber a fertilidade da imaginação que, em determinado momento, você não sabia se era verdade aquilo que ele estava falando, ou se era a representação de algum personagem que ele já tinha pensado ou se já tinha escrito o nome porque, se você olhar, a obra dele, tinham textos interessantíssimos, monólogo, coisas muito interessantes. Então, quando a gente começa a trabalhar o “Bumba meu Boi” nós tivemos várias discussões para escolher que _______ temas da cultura nacional, então você tira o Bumba meu Boi, porque o _________ fechado. Você vai falar sobre a história política do Brasil você fala sobre o Rei Momo, que é o samba, que tem samba, que tem a vinda da família real portuguesa aqui no Brasil. Então, até eu me lembro muito de quando eu era moleque, menino ainda, eu tinha uns 17 ou 18 anos e morava na periferia, então fazia parte inicialmente do grupo de pesquisando, então tem determinadas coisas que eu lembrava das músicas. Então tem muitas músicas que participava da produção da percussão, tem que tocar na hora certa. Inclusive teve um algum momento que tinha um show em Foz, que passa um ano fechado, não dava pra ver os resultados, então tinha um show musical, então montava show musical. Então, tinha-se muita discussão sobre a cultura, e uma coisa diferenciada, essa coisa era uma das coisas importantes, o fato que sempre tinha um grupo que eu lembrava, chamado “Tática Robin Hood” e o que seria essa tática Robin Hood? Foi um _______ no Brasil como na atualidade, mas a ideia era assim: o Robin Hood rouba dos ricos para entregar para os pobres. Então a gente fazia as apresentação para a burguesia a preços convencionais convencionais e esse dinheiro era utilizado para poder levar o espetáculo para a periferia, a estrutura doando figurino ______ como se vocês revisitarem a obra vocês vão ver que tem coisas aí, o Barbosinha ______ , a história das andorinhas, faz toda uma história, a história das andorinhas é contada através de um jogo de futebol. Então, nós tínhamos sempre o conceito do bem e do mal através do lúdico e quando você chegava numa periferia, que você mostrava esse tipo de coisa, porque você chegava num bairro onde você encontrava pessoas que nunca tinham visto teatro na vida e se você chegasse com um conteúdo muito elitizado você seria rejeitado. Agora, se você chegasse com o samba, com o carnaval, com a música, com a dança, esse tipo de coisa você era aceito e muitas vezes várias pessoas saíram da periferia, outros eram estudantes universitários _______ estudos e de forma que esses estudos levavam a um crescimento, a busca de um crescimento. A escolha coletiva, a escolha do texto para o papel, que tipo de representação é uma característica que a gente estava lá no momento de falar de como é a ______, tem a história das queixadas, que são porcos do mato, ele começava assim com a história:
“Ei, porco do mato, um porco selvagem, que quando anda em bando vira turma da pesada e o nome é queixada.
Teve uma greve na cidade de Guarulhos com os operários _____ através de seus treinos.
Assim, foi uma luta feia _____ uma luta armada e que os operários chamam de Queixada”.
Então, contavam várias histórias sobre isso. Então, tem uma coisa interessante, eu _______ no dia do velório dele e ______ chegou e falou: “Você não quer falar alguma coisa?” Eu acho que a representação que ele sempre gostava, era a representação do lúdico, do artista do teatro, que ele era autor teatral. Quando ele chegava a algum lugar tinha momentos que ele estava produzindo, participando de uma peça e ele via alguma coisa e parava o carro onde estivesse lá e _____ direto. Às vezes ele chegava ______ e no dia do velório dele eu lembrei desse fato e tinha uma cena da peça que ele tinha trabalhado um personagem da peça e aí eu contei um pedacinho da peça e o rapaz que estava lá. Essa peça foi feita quando ele já estava exilado e quando agora ele estava aqui no Brasil eu cantei um pedacinho da cena e o rapaz levantou-se, estava com muita emoção, até se levantou, tal foi a emoção que ele não esperava.
Mediadora – Qual foi a ______ ?
Cesinha – Manoel Dia do Nascimento.
P/1 - Só se quiser.
Wilson – A jangada e o jangadeiro e não é um derradeiro
______ o Brasil inteiro
_______ do brasileiro
Como todo cidadão foi chegando um momento
Teve o seu nascimento
Teve amor e dor e sofrimento
Essa história do Mané homem, do Mané sofrido
Do Mané do Nascimento e do seu dia vivido
Mané dia do nascimento
Mané dia do nascimento”
Você imagina, quando o Mané do Nascimento ouviu pela primeira vez, que tinha saído pra ver se fazia um poema se apresentar no exterior, _______ um espetáculo que tinha sido _______ as Américas, para fazer espetáculos de cultura e nós apresentamos o bumba e a queixada que falava sobre greve e o ‘cara’, o rapaz falava: “Mané dia do nascimento”. Imagina a emoção dele, quando ele ouviu, até há vinte, trinta anos atrás, aí depois, quando alguém daqui estava ali deitado. Então, mas eu tenho toda a minha _______ eu sempre vejo um trecho de uma música, quando você chegava na ______ :
“Um beijo, um beijo, um beijo, um beijo
Em seu leito de morte
Pensando em sua vida, em sua sorte
O que lhe vai no pensamento
Na espera do eterno julgamento
Na mesma sala do pixote que o viu nascer
E agora vai morrer
Nasceu como um pixote
Viveu como um pixote
Morreu como um pixote
Andando como pixote”
Então, ele sempre queria dizer um monte de coisa, de sentimento e trechos de espetáculos ______ quando o canto era para tocar lá, tinha ______ um grupo de _______ e uma das coisas que, na época, era muito raro você ter dentro de um espetáculo teatral negros em papéis principais. Então, além do fato de ter um teatro, normalmente era dividido para classe burguesa, porque o ator necessita do salário. Ele recebia, tinha por grupos, alguns grupos que recebiam subvenções da estatal, para apresentar. E tinha, quando ele recebia, que apresentar um espetáculo que fosse aceito pela burguesia, para poder vender o espetáculo porque, se não saísse no jornal, se não fosse aceito, ele não ganharia nada. Então, a classe teatral vivia em grande dificuldade, naquela época. E o Olho Vivo mostrava muito um espetáculo popular, um espetáculo firme, simpatizante da esquerda e mostrava a história. A história do Brasil, quando você chega, eles falam uma música que cantei lá:
“Se o povo encher o peito
Levando o lenço da esperança
Espera, Maria confia
Os cabelos que te acusam de quebrar
Espera, Maria confia
Entre amigos vou a viver
À Deus Maria confia
À Deus Maria confia
ADeus, adeus, adeus
Estará à minha espera
E se eu não voltar
Fora dali o sol, o verde da mata, na casa do rio
Olha ali o vivo das crianças, o amor dos amigos
Se importa a mim no sol
Se eu não voltar, então, olha na rua
Na planta da lua, me encontra no sol
Na planta da lua, me encontra no sol”
Isso daí é uma música que vinha um povo só para demonstrar o cunho político do espetáculo. Vinha antes da morte do João Guilherme ______ , que ele era condenado por subversão e os atores saíram. Um espetáculo que tem dois, três atores na cena, ______ pela causa da liberdade. ______ pela causa da liberdade. Um espetáculo que promovia uma reflexão sobre a realidade. ______ . Isso é muito interessante.
Cesinha - O próprio Rei Momo, imagina, no momento que o Brasil não tinha eleição direta, o público era convidado a votar em cédulas para eleger o Rei Momo do espetáculo. Então, imagina, numa época que você não votava para o seu presidente, dentro do espetáculo de teatro você votava para eleger o Rei Momo, que depois era subvertido.
Wilson – Na periferia o espetáculo era no centro da periferia.
Cesinha - E depois o Napoleão roubava a eleição e passava a mão na coroa. Não adiantava.
Wilson - E também, quando você chega no ______ você tem uma cena em que você pede ajuda, não dá e se convida e sai o ator do palco e vai para o meio do público e traz a pessoa pra dentro do espetáculo, pra ser torturado. Colocava um caixote lá, um pano no rosto e dava um chute no caixote, pra pessoa saber. Então, tinha muita aquela relação do público com o espetáculo. Então, o público também virava membro do espetáculo e voltava a ser público de novo. Várias cenas dentro, várias cenas que saíam do meio do público e entravam para dentro do palco.
Cesinha - O meu pai conta que esse espetáculo foi feito na Febem, na antiga Febem, e tinha essa cena, então, de trazer os menores para a cena, para serem torturados em cena, mas esse espetáculo parece que gerou tanta comoção também, inclusive, dos guardas da Febem, que parece que até alguns menores, uns 15, conseguiram escapar e fugiram durante o espetáculo ali, deram uma escapadinha. Isso o meu pai contava, mas ele fala que quando ele estava sendo torturado, no começo eles vinham e ele resistia: “Não vai me levar” e ‘botavam’ o capuz e tal. Depois, com o tempo, eles chegavam, faziam assim, ele pegava o capuz, colocava e ia para a sala de tortura já. Então, você já acostumava, né? Depois, acho que o Wilsinho deve ter umas histórias interessantes da Nicarágua, de Angola, para contar, talvez, alguma coisa, mas eu queria compartilhar uma de quando a gente esteve no Egito, a gente foi para um festival internacional de teatro no Egito, em 1996 e, na volta, na época a gente podia passar por Madrid ou por Roma, na escala do voo, que hoje nem tem mais, tem que pagar, né? Tudo no avião, até para levar malas, você tem que pagar, mas naquela época tinha escala, você podia ficar umas horas no país, podia dormir no país, pegar o resto da outra perna do voo no dia seguinte. E a gente podia passar por Madrid ou por Roma para voltar para o Brasil do Egito, porque a gente tinha ido com o grupo fazer o espetáculo lá, tinha sido incrível. Mijei com o meu pai no Nilo, nunca vou esquecer. . E aí o meu pai, então, lembrou de um ‘cara’ que estava morando na Itália, que se chamava Don Rafaello Lavagna, ele era coordenador de um centro aqui em São Paulo, que era ali no Viaduto Guadalajara, na zona leste, onde o grupo foi se apresentar algumas vezes para pessoas em situação de rua que ele abrigava lá e fazia esses trabalhos socioculturais, e a gente se apresentou algumas vezes, então tinha uma relação de confiança ali. E o meu pai falou: “Pô, esse ‘cara’ está na Itália, vou ligar para esse ‘cara’ ver o que ele está fazendo por lá, às vezes ele arruma algum lugar para a gente ficar lá e tal” e ligou. O ‘cara’ falou: “Não, vem para cá, eu arrumo um espetáculo para vocês fazerem aqui”. A gente foi para a Itália, chegou lá, eram dez da noite, ele ‘botou’ a gente em um convento com pão e vinho e água, à noite. Bom, né, mas chegamos lá morrendo de fome, estávamos não sei quantas horas vindo do Egito. Aí de manhã o ‘cara’ falou: “Ó, o espetáculo de vocês é amanhã, nove da manhã, a gente tem que sair daqui às seis”. Um monte de ator cansado, atriz, todo mundo, ninguém gosta de acordar cedo, né? Pô, às seis da manhã a gente vai sair daqui para fazer teatro, pelo amor de Deus!” “Não, às seis da manhã vocês vão pegar um trem” “Vamos para onde, trem para onde?” O espetáculo ia ser no Castel Gandolfo, na casa do Papa. Então o Papa estava na casa de veraneio dele, que é Castel Gandolfo, a gente pegou um trem de manhã e foi para apresentar para o Papa, porque o Don Rafaello Lavagna, na época, era assessor do Papa, ele tinha ascendido na escala lá episcopal, sei lá como é que chama e, enfim, ele era um assessor do Papa e aí ele falou: “Não, eu vou levar vocês”. Daí a gente fez uma apresentação para o Papa, na casa do Papa, uma peça de teatro. Não sei se outro grupo brasileiro de teatro na história já fez um espetáculo para algum Papa, eu não tenho conhecimento, mas pelo menos até aquela época eu acho que era o único, assim, o Olho Vivo fazendo um espetáculo para o Papa, assim como fez no bunker do Somoza, na Nicarágua, né, dos soldados.
Wilson - Naquela época o Somoza já tinha saído, não estava mais lá. ________ geralmente na praça, não lembro o nome da praça agora. ________ no teatro na Nicarágua, era um espetáculo numa praça, as professoras tinham levado os alunos, as crianças, para as escolas, porque na guerrilha da Nicarágua, que aparecia lá, tinham muitos jovens, muitos, muitos, muitos, muitos jovens. Então, a maioria do Exército lá tinha 16, 17 anos, ______ porque os mais velhos tinham morrido, ou tinha saído, ou era ______ . Então, tinham muitos jovens na época. E tinha uma característica interessante na questão que quem estava no exército sandinista e quem estava no exército ________ . As populações que entrava no conceito, porque numa família você, normalmente, chega e vai, se alista no Exército convencional. E quando teve uma guerrilha aquele Exército convencional já não era mais o correto. Então, existia muita... parece que no capítulo das famílias eles fizeram alguns shows de integração e eu lembro que nós fizemos um show musical e que tinham muitos professores das escolas muito brilhantes ______ estava começando, a Frente Sandinista já estava no poder, mas estava no inicio do poder da Frente Sandinista.
Cesinha - Eu lembro que ele contava que nesse espetáculo, no Teatro Rubén Darío, que é um teatro enorme lá, inclusive tem foto, que a gente tem esse costume de chegar e passar, antigamente tinha mais, deixar o casaco, deixar o chapéu na porta do teatro e lá eles deixavam os fuzis, as armas, deixavam todas as armas na porta do teatro e entravam para o teatro. Em Angola que o grupo foi se apresentar num hospital de mutilados de guerra.
Wilson - Foi em Angola, em Luanda, Cabinda, _____ e em Angola era uma época em que aqui no Brasil estava passando aquela novela Roque Santeiro e diz que quando fazia uma apresentação de Roque Santeiro lá, o país parava para assistir. Todo mundo lá assistia a novela, disparado assistia a novela e era uma coisa interessante: os brasileiros que estavam lá em um processo de guerra da Unita, então eles foram até lá, para a Unita e que era que eu achava uma coisa, que a Unita, na época lá existia o apartheid na África do Sul e a Unita era comandada pelo Savimbi e o exército da África do Sul apoiava a guerrilha de um negro em Angola, mas tinha discriminação dentro da África do Sul, em que o negro tinha que ter um papel, um documento pra transitar na rua e tal, porque se ele fosse pego _______ ele era pego.
Lia - _______ holandesa, né?
Wilson – Não sei se holandesa e ele apoiava o Savimbi, da Unita.
Cesinha – Holandesa.
Mediadora - A gente precisa encaminhar para o fim em algum momento, então pensei em fazer assim, uma pergunta que eu queria fazer para cada pessoa, que não é tão aberta como foram as perguntas antes. Depois disso a gente tem contato por telefone e a gente sabe que as memórias vêm quando a gente está no banho, no trânsito, essas coisas e aí vocês podem me mandar por áudio mesmo e a gente vai juntando todo esse caleidoscópio que é essa vida aí. Eu vou continuar, então, nesse caminho aqui, com o Wilson. Eu queria que você falasse para a gente de quando é formado o teatro e como foi esse processo. Eu sei que você já chegou, já tinha, mas você conheceu, mas o pessoal falava dessa história?
Wilson - Sim, isso daí está tudo no livro. Quando eu cheguei já estava no livro. Eu e o meu irmão já tínhamos quando o Rei Momo começou, já tinha o Evangelho Segundo Zebedeu, que foi uma formação entre os alunos da Faculdade de _______ da USP. A faculdade tinha um sítio _____ do Ibirapuera e o Evangelho Segundo Zebedeu foi lá nesse sítio, depois foi chegando um determinado momento que saíram para fazer parte do Teatro Olho Vivo. O que foi na década de 60.
Lia - Isso foi no Ibirapuera mesmo.
Cesinha - Dois grupos, na época, por coincidência, estavam montando texto do meu pai, que era esse grupo do Centro Acadêmico Onze de Agosto e um que chamava Teatro Casarão, que estava montando o “Corinthians, Meu Amor”, que era um grupo mais formado por trabalhadores, bancários, lavadores de carros e esses dois grupos, por coincidência, estavam montando a peça do meu pai e meu pai, então, começou a perceber que ele podia juntar essas duas turmas, juntar estudantes e trabalhadores e o grupo acaba nascendo, o Olho Vivo em si.
Mediadora - E esse espaço que tem aqui, no Bom Retiro, é desse momento?
Cesinha - É de 1982, aí o Wilsinho participou da mudança, ajudou a construir a sede.
Wilson – __________ .
Cesinha – Na marra, na raça mesmo, o pessoal que construiu, mesmo.
P/2 - Quer contar pra gente a história de quando ele soltou o Lula, na época sindicalista?
Lia – ____ as três pessoas conhecidas foi o Lula, quando era sindicalista e depois ele soltou o Dirceu, mas eu não lembro os motivos do Dirceu e também do Zarattini, que é esse deputado hoje, que era irmão do Carlos Zara, do ator. Eu me lembro bem desse dia que ele foi solto, entrou um monte de gente na casa da minha mãe. Era um monte de gente, porque o Zarattini era irmão do Zara… que você falou eu estava lembrando de uma outra coisa, esqueci o que eu ia falar, é a velhice. Ah, quando ele foi preso a casa da minha mãe ficou toda vigiada, sabe? Tinha um guarda, não sei se você sabe disso, tinha um guarda, um ‘cara’ que ficava, um gordão, na porta, até quem entrava na feira eles revistavam. Segundo o meu irmão, não sei, não tenho certeza, mas parece que o telefone foi ‘grampeado’. E eu, que não tinha nada com isso, no caso, fui seguida também. Na época eu estava fazendo a faculdade, pós-graduação e eu percebia. Eu já trabalhava também, né? Não ligava pra isso, eu percebia. Aí a última vez que eu percebi acho que eu falei: “Quer saber?” Desconfio, que eu estava saindo da pós-graduação e eu olhava assim, a gente já sabia, né, que o carro não andava, mas ele ficava perto. Acho que o ‘cara’ falou assim: “Acho que essa não tem nada a ver”, aí ele passou na minha frente e daí nunca mais, mas na época da Ditadura eu cheguei muitas vezes ser parada, mas ele não estava em casa. Nessa época, se você tivesse um mimeógrafo a álcool, porque não tinha mimeógrafo de hoje, você está presa. E eu tinha mimeógrafo a álcool, né? Mas o dia que me revistaram, graças a Deus eu não estava com ele, porque não tinha provas. Quem podia, no caso, não era quem podia, sei lá eu por quê. Não, o mimeógrafo do seu pai, eu jogava minhas provas lá, entendeu? É álcool, né? E, se você fosse preso com um mimeógrafo daquele, estava na prisão… Um horror, viu! Você não podia dar aula, não podia falar nada. Assim mesmo eu falava muita coisa. Eu lembro que eu tenho uma aluna até hoje, tudo velho já, ela falou um dia “Lembra professora, que um dia a senhora foi falar uma coisa e eu fui olhar lá na porta se não estava sendo seguida?” Porque foi nessa época em que ele estava preso, né? Então, a gente sabe muito bem o que era viver a Ditadura. Era um medo que você tinha, né? Então, quando o meu irmão ficava preso, coisas que você nem imagina! O que a gente passou de medo. Nossa Senhora! Porque você sabe o que acontecia. Depois que ele foi... depois que ele estava solto e tudo, ele que deu, ele foi encarregado da... como é que chama? As pessoas que receberam as pensões dos presos políticos, o meu irmão foi uma delas, que olhava e via quem merecia, né? Você sabia disso?
Cesinha – Hum-hum.
Lia - Então, se você visse, menina. Daí tinha um relato de cada preso, o que tinha acontecido. Você não pode imaginar o que era de barbaridade, coisas inimagináveis o que essas pessoas sofreram na tortura, sabe? Coisas que você nem imagina. Eu cheguei a ler o processo, que ele deixava no quarto dele, que ele tinha muitos, ele “esse aqui vai para ganhar tanto, não sei o quê, não sei o que lá”. Essa foi uma das coisas que ele fez como advogado. Muita gente recebeu pensão, né? Ele sempre deu pensão pra presos políticos.
Cesinha - Era anistia política.
Lia - Era anistia política, pensão, quer dizer, teve pensão, né? Tinha uma pensão, agora não sei.
Cesinha - Eu acho que tem outros nomes que são importantes também, que passaram como cliente, que é o Sebastião Salgado, fotógrafo; o Augusto Boal. O Augusto Boal meu pai foi aluno do Augusto Boal, na faculdade de teatro e depois ele foi advogado do Augusto Boal. Então, eles criaram essa relação de cumplicidade. Inclusive, tem uma história muito interessante do meu pai, da escola de arte dramática, que ele tinha um professor que não gostava dele de jeito nenhum, não ia com a cara dele e ele escrevia, ele sabia que o que ele estava escrevendo era bom. Ele falou: “Pô, o que eu estou fazendo é bom. O ‘cara’ não me dá nota boa”. Aí ele pegou e transformou um texto do Shakespeare, abrasileirou o texto do Shakespeare. Mudou o nome de todos os personagens, mudou o nome das cidades, botou tudo no Brasil e entregou. Aí o ‘cara’ deu uma nota baixa pra ele. Ele falou: “Está bom, está aí, ó. Essa nota aí que você está dando é pro Shakespeare, você está dizendo, você que está sabidão aí, ó. Tá aí, ó”. Aí o ‘cara’ o expulsou da faculdade, do curso.
Lia – O Idibal teve dois diplomas: ele foi advogado e é formado pela Cásper Líbero, como jornalista.
Cesinha - E da escola de arte dramática ele foi expulso. Outras coisas que são importantes, só para trazer aqui de nome, já que estava falando, eu estava mexendo nos papéis esses dias, eu encontrei um telegrama do Chico Buarque para ele desejando êxito num acontecimento, num evento que estava tendo. Encontrei cartas do Luiz Carlos Prestes desejando Feliz Natal para a família, assinado pelo Prestes, à mão mesmo. Assim, um documento de quando meu pai esteve em Nova Iorque, no velório do Malcolm X, porque ele esteve presente lá, então eu achei esses documentos. Enfim, histórias de vida, assim, foram construindo a pessoa. E tem mais um fato importante também, que a gente estava falando dessa questão da perseguição, existe um órgão que agora, hoje em dia, está todo mundo falando, que é a ABIN, mas meu pai falava disso há muitos, muitos e muitos anos, que esse órgão deveria ser observado. Há mais de trinta, quarenta anos que ele fala disso, porque é o dinheiro público que é usado para investigar a nossa vida, então isso não deveria nem existir, esse órgão. E ele falava disso e depois ele encontrou o relatório. Meu pai foi o primeiro ‘cara’ a pedir o “Habeas Data”. O que é? Pedir todas as informações que o governo tem a respeito de você. Todos nós podemos pedir isso. A gente pode pedir. Você vai lá e pede: “Eu quero saber”. Só que isso se chama Habeas Data. O primeiro no Brasil quem pediu foi meu pai, que ele pediu para saber o que o governo tinha e ele descobriu que o governo estava seguindo ele há vinte, trinta anos, tinha lá até alguns anos depois de eu nascer, ou seja, 1989, 1990 ainda tinha relatos da vida dele, dia após dia, perseguido, perseguido, perseguido, perseguido. Então são coisas que a gente... e ele falava que a gente tinha que observar essa ABIN e tudo mais e hoje em dia a gente está vendo aparecendo um monte de coisa. Eu sei que você vai me fazer uma pergunta e, assim, desculpa. Primeiro obrigado pela oportunidade. Desculpa, porque falar do meu pai, eu vou ficar falando aqui para sempre. Eu tenho muito orgulho, muita honra, então eu falo muito mesmo, eu gosto muito, mas eu queria pedir licença para ler um trechinho de uma carta que ele deixou. Na verdade, ele escreveu essa carta para mim há mais de vinte anos e eu vou ler um trechinho aqui, que eu acho que pode ser importante. Vou pular algumas coisas mais novas.
P/2 - Não quer finalizar com o trecho? Acho que vai ficar bonito.
Cesinha - Pode ser. Está bom. Então vamos lá.
P/2 - Eu ia justo te perguntar dos cadernos dele, você começou a contar de como ele organizava a vida nos cadernos.
Cesinha – ‘Cara’, o meu pai era um cara bem bagunceiro, vou ser bem sincero. Ele era um ‘cara’ bagunceiro. O quarto dele era sempre cheio de papelada, para todo lado, só que ele tinha uma organização própria muito, muito metódica.
Lia – Só ele sabia da bagunça dele.
Cesinha – É, era muito metódico, só que era bem bagunçado. Não era uma coisa organizada, virginiana, era uma coisa bem bagunçadona. Mas era tudo muito certinho. Ele sabia exatamente. Então tinha os caderninhos dele, ele anotava nas páginas pagamentos que ele tinha que fazer, para quem ele tinha que ligar, onde ele tinha que ir. E, ao mesmo tempo, como um ‘cara’ criativo, você muda de página, numa página tem uma agenda e na outra página tem um poema, tem uma cena de teatro que ele já começa a escrever e eu vou achando essas coisas, então era muito legal e era isso que o Wilsinho falou. Do nada, de repente, era uma cena que ele criava. Eu lembro que a gente estava em uma praça e ele falou: “Isso aí é um personagem, vou colocar esse ‘cara’ na minha peça”. E ele pegou o ‘cara’ e colocou na peça e até hoje é um personagem de um ‘cara’ que a gente viu na praça e está na peça dele até hoje. Então, ele tinha essa coisa. O caderno era o que seria para a gente eu acho que o smartphone, porque hoje em dia a gente é assim, a gente pega tudo e ele era o tempo inteiro anotando e conversando com as pessoas, anotando o telefone das pessoas, agenda, fazendo agenda. Ele andava com uma agenda que parecia a agenda telefônica da Telesp, só que era toda feita à mão, com todos os contatos dele, um negócio desse tamanho.
Lia – Bagunçado. Não sabia a ordem.
Cesinha – Só ele sabia. Não era A, B, C, D. Era por uma ordem que ele criava. Se a pessoa é da OAB, então não está no nome M de Maria, está na letra O de OAB, sabe assim? Ele foi conselheiro da OAB. Você ia falar, tia?
Lia – Era assim: a agenda ele marcou que tinha em cima, embaixo, do lado. Era completamente ‘louca’.
Cesinha - Mas sempre anotando, sempre anotando. Caneta e papel o tempo inteiro, anotando, anotando, anotando.
Lia – Você tem essa agenda?
Cesinha - A agenda eu não tenho, levaram de mim, mas tem muitos cadernos. Inclusive vou achando cadernos novos. Conforme eu vou mexendo, eu acho cadernos novos... cadernos antigos, para mim são novos.
P/2 – Esse foi o que você encontrou ______?
Cesinha - Essa carta? Essa carta é uma carta que ele me deu em 2005. A gente trocava cartas. A gente tinha o costume de trocar cartas. Hoje em dia não se faz mais isso, mas então ele escrevia para mim e eu escrevia para ele. Inclusive esses dias eu achei um poema que eu escrevi para ele com nove, dez anos de idade. Então, a gente já tinha essa coisa. Eu era uma criança, aí eu dei de presente de aniversário para ele um poema. Então, já tinha o que ele estava querendo me trazer, o que eram os valores. Eu acho que isso foi muito bacana. Posso ler, então? É só um trecho, porque tem outras coisas um pouco mais pessoais, enfim, mas aqui, vamos lá!
“O que penso e todas as minhas ações na vida estão expressas nos meus livros de teatro e outros que eu espero você se debruce sobre eles e faça deles o maior proveito. As minhas ações como pai, homem de teatro e advogado, você tem partilhado delas e sabe que me apoio sempre na amizade, no amor e na coletividade e na prática permanente da busca de um mundo melhor. A análise das minhas obras e das minhas ações é que devem nortear a tua análise e o teu caminhar na vida. Trocando a tua competência, talento e trabalho com o que te mostrei, creio e tenho certeza que um amplo caminho se abre para você. Iniciativa e persistência são as palavras-chaves”.
É isso. E aí, para finalizar, assim, eu sei que... mas eu queria, que nem eu falei, isso aqui é um exemplo de como ele anotava as coisas. Pode ver que, inclusive, é meio parecido com a forma que eu faço, mas ele escrevia assim, passava a linha, escrevia, ia passando a linha, ia marcando os tópicos. Isso aqui ele marcou. E aqui ele marcou, então, um pouco da trajetória dele. Então, eu vou ler bem rapidamente, porque afinal ele faleceu com 92 anos, foi uma trajetória longa, mas...
P/1 - Essa é a anotação dele?
Cesinha – Essa é anotação dele.
Lia – A letra dele.
Cesinha - Então, ele coloca aqui presidente da UNE em 1958, que ele foi presidente da União Nacional dos Estudantes; Congresso de Ibiúna, que ele defendeu mais de trezentos jovens presos políticos que tinham sido presos lá em Ibiúna, é bem conhecido esse processo. Ele fala que de 1964 até hoje, quando ele escrevia isso, ele estava na ativa defendendo, porque em 2011 alunos da FAU escreveram no chão dizeres políticos, manifestações políticas no chão e aí eles foram presos por pichar o patrimônio público. E aí meu pai, em 2011, foi defender esses ‘caras’ por uma prisão política. Bom, foi advogado do Augusto Boal, quando estava exilado; do Lula; dos grevistas do ABC, foi um ‘cara’ muito censurado, teve muitos cortes nas suas peças, mais de vinte trabalhos cortados, seguido pela rua. O Habeas Data que eu falei foi de 1988, quando ele pede o primeiro Habeas Data do Brasil. Foi preso em três presídios por noventa dias, mais ou menos. Teve um escritório com esses nomes que eu falei, muito importantes: Airton Soares, Miguel Adrovan Duarte, Roston, Belisário dos Santos Júnior, Luiz Eduardo Greenhalg, Paulo Gerab. Ele disse que estava sendo perseguido pela ABIN de 1952 a 2010, que ele tem registro de que eles estavam perseguindo ele. Ou seja, mais de cinquenta anos. Ele foi presidente da SBAT, que é a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Foi premiadíssimo em prêmios de melhor texto, uma série de prêmios do teatro nacional e internacional também. Foi presidente também da Associação Paulista de Autores Teatrais, da APART. Membro da Casa Civil do governo do estado de São Paulo. Foi juiz conselheiro da Anistia, como a minha tia falou, coordenador da Comissão de Direitos Humanos de São Paulo. Ganhou uma série de medalhas e prêmios de reconhecimento, como a medalha Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro; Petronilha Antunes, de Jundiaí; Cidadão Paulistano.
Lia – Hoje eu não achei, eu tentei procurar. Ele foi homenageado pela OAB, você já era nascido.
Cesinha - Ganhou o prêmio Franz de Castro, da OAB, em 2009; o prêmio Chico Mendes; o prêmio Zumbi dos Palmares; o prêmio Santo Dias de Direitos Humanos. Enfim, representou o país em fóruns e festivais pelo mundo afora e no Brasil também. E se eu for ficar falando aqui também, não vou, mas eu posso mandar depois, se vocês quiserem, o currículo, uma coisa mais... e obrigado novamente, a gente fica muito, muito feliz mesmo, muito honrado desse espaço, porque sabe que a história do país não é contada pelas pessoas que construíram o país e sim pelos interesses que tem para que se conte, para que se mantenha, para que a manutenção de privilégios, a manutenção de status quo, a manutenção de uma série de coisas estejam sobre esse interesse de quem conta a história. Então, acho que o meu pai teve sempre essa visão de contar a história do país, principalmente através do Olho Vivo, sobre um olhar tendo o sujeito da ação como um sujeito popular, sendo o povo, a nação, o negro, a mulher negra, o homem negro, o indígena, quem construiu esse país. Acho que contar a história dele também é parte de ampliar essa voz que ele também já estava querendo fazer, que ele já estava sendo um propagador dessas vozes, ele não estava inventando, não estava dando voz para ninguém, essas vozes já estavam lá, essa voz não era dele, mas ele estava propagando. Acho que com esse trabalho a gente continua propagando, a gente continua, de alguma maneira, nessa missão que eu vejo, que é uma missão mesmo de vida, não é um existir, passar pelo plano, é realmente o que a gente veio fazer aqui, o que a gente pode fazer e sempre olhando, como ele falou nessa carta, buscando, lutando por um mundo melhor, um mundo mais justo. Obrigado a todos vocês, tanto o pessoal do museu quanto o pessoal do Museu da Pessoa, do Museu da Língua, da equipe também de gravação, porque eu sei que também estão no ‘corre’, tem equipamento, o pessoal todo que veio, minha tia, o Wilsinho, obrigado demais o Léo e também a nossa querida que veio acompanhar, a irmã do Wilsinho veio junto, então também sabemos que vieram de longe, então obrigado também, eu fico muito feliz, muito honrado mesmo por contar essa história, obrigado.
Wilson – _______ O Idibal mostrava que existe uma outra forma de você fazer política que era através da cultura, o foco no estudo político, você trabalhar a arte e mostrar para aquele público que _______ tem uma representação que fundaram os grupos de teatro independentes, vários deles.
P/1 - Gente, nós que agradecemos muito. Obrigada, obrigada, obrigada, de coração. Revisitar essas memórias e querer partilhar e ‘topar’ partilhar é muito. Então é uma memória viva que continua, que segue, é história que segue, através de outras bocas, através de outras lembranças. Então agradeço, agradeço. Cecília deu uma ótima ideia, assim, tenho certeza que vocês vão sair daqui e a ‘cabeça vai pipocar’, vai ter muitas outras memórias. O que vocês acharem importante mandar para a gente, para a gente conseguir criar um cordel lindo, enfim, fiquem à vontade. Agradeço, te agradeço também por esse espaço, espero que vocês tenham gostado, para a gente foi uma honra.
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