Nome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Rivaldo Ramos
Entrevistado por: Eliana Santos
Local da gravação: Cubatão / SP
Data: 22/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº: PETRO_CB659
Transcrito por Flávia de Paiva
P/1 – Boa Tarde!
R – Boa tarde!
P/1 – Gostaria de começar esta entrevista pedindo que o Senhor nos fornecesse nome completo, data e local de nascimento.
R – Rivaldo Ramos, 15 de outubro de 1935.
P/1 – O Senhor nasceu aonde?
R – Nasci na cidade de Santos.
P/1 – Senhor Rivaldo, o Senhor poderia contar pra gente como foi o seu ingresso na Petrobras?
R – O ingresso que eu tive aqui na Petrobras, pra mim, foi até surpreendente, sabe? Eu já sabia que a Petrobras era uma empresa que foi criada como instrumento de soberania nacional e quando eu cheguei aqui, tudo isso eu constatei que existia até muito mais que isso. Era um pessoal muito dedicado à Empresa, era uma pessoal nacionalista, né, defensores da Petrobras, todas essas coisas mais. Então, tudo isso veio confirmar que a Petrobras tinha tudo para dar certo naquela época. Foi em 62. Era uma empresa pequena perto do que é hoje, só tinha a Refinaria aqui de Cubatão e a de Mataripe. Pra mim foi uma grata surpresa e foi também uma satisfação muito grande. E era uma Empresa, naquela época, que se preocupava muito com os funcionários, valorizava a mão-de-obra, a gente ganhava bem, tinha todo o respeito com a chefia. E tinha uma grande aqui dentro que era a solidariedade. A competição e o individualismo aqui era coisa, vamos dizer, de segundo plano. O primeiro plano era a solidariedade que tinha aqui dentro com o pessoal. Isso o pessoal de quando eu entrei, o pessoal mais antigo, né, e a gente sempre procura dar continuidade a essa filosofia da Empresa.
P/1 – O Senhor pode contar pra gente alguma história marcante, engraçada que o Senhor tenha vivido durante esse tempo na Empresa?
R – Olha, não sei. Uma das coisas que me chocou mais...
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Nome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Rivaldo Ramos
Entrevistado por: Eliana Santos
Local da gravação: Cubatão / SP
Data: 22/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº: PETRO_CB659
Transcrito por Flávia de Paiva
P/1 – Boa Tarde!
R – Boa tarde!
P/1 – Gostaria de começar esta entrevista pedindo que o Senhor nos fornecesse nome completo, data e local de nascimento.
R – Rivaldo Ramos, 15 de outubro de 1935.
P/1 – O Senhor nasceu aonde?
R – Nasci na cidade de Santos.
P/1 – Senhor Rivaldo, o Senhor poderia contar pra gente como foi o seu ingresso na Petrobras?
R – O ingresso que eu tive aqui na Petrobras, pra mim, foi até surpreendente, sabe? Eu já sabia que a Petrobras era uma empresa que foi criada como instrumento de soberania nacional e quando eu cheguei aqui, tudo isso eu constatei que existia até muito mais que isso. Era um pessoal muito dedicado à Empresa, era uma pessoal nacionalista, né, defensores da Petrobras, todas essas coisas mais. Então, tudo isso veio confirmar que a Petrobras tinha tudo para dar certo naquela época. Foi em 62. Era uma empresa pequena perto do que é hoje, só tinha a Refinaria aqui de Cubatão e a de Mataripe. Pra mim foi uma grata surpresa e foi também uma satisfação muito grande. E era uma Empresa, naquela época, que se preocupava muito com os funcionários, valorizava a mão-de-obra, a gente ganhava bem, tinha todo o respeito com a chefia. E tinha uma grande aqui dentro que era a solidariedade. A competição e o individualismo aqui era coisa, vamos dizer, de segundo plano. O primeiro plano era a solidariedade que tinha aqui dentro com o pessoal. Isso o pessoal de quando eu entrei, o pessoal mais antigo, né, e a gente sempre procura dar continuidade a essa filosofia da Empresa.
P/1 – O Senhor pode contar pra gente alguma história marcante, engraçada que o Senhor tenha vivido durante esse tempo na Empresa?
R – Olha, não sei. Uma das coisas que me chocou mais aqui, não é bem engraçada, foi no golpe militar. Eu tinha dois anos de empresa e quando estourou o golpe, a gente não sabia o que ia acontecer. A gente tinha um Sindicato muito forte, né, e o pessoal sumiu. Eles caçaram o pessoal todo com o golpe militar, desapareceram com pessoal e isso chocou muito. Então, isso é uma coisa que a gente não esquece mais; a gente ficou muito vamos dizer assim, muito decepcionado, muito preocupado com o nosso companheiro, que era o nosso líder na época. Então, de repente sumiu tudo e virou um regime militar onde a gente não sabia o que ia acontecer. Com o decorrer do tempo, a gente, tinha as queixas por causa da opressão, né, nós participamos da atividade sindical, mas uma coisa eles tinham de bom, eles eram patriotas, nacionalistas. Então, na época do Regime Militar, que eu acho que foi um período, antes do regime militar era o crescimento da Petrobras, a ideologia do pessoal, a luta do “Petróleo é Nosso”, depois do regime militar caiu um pouco, mas eles sempre defenderam a Petrobras, o monopólio, essas coisas todas.
P/1 – E esses líderes, vocês ficaram sabendo de alguma coisa?
R – Como?
P/1 – Esses líderes que haviam sumido durante o golpe?
R – É depois nós viemos saber. Uns foram presos, né. Tinha alguns no Raul Soares, um navio que ficou na Barra, outros estavam presos em alguns presídios, outros sumiram mesmo. Sumiram porque, se não sumisse, prendiam. Mas isso foi uma coisa transitória, passou. E, depois do Regime militar, veio essa redemocratização tão falada aí. E aí a maior decepção foi o projeto neo-liberal que implantaram no país, né, sobre as questões das privatizações, tentaram privatizar a Petrobras, prepararam ela pra privatizar e tudo; talvez não tenha dado tempo, existia uma tradição muito grande do povo brasileiro. E a nossa preocupação sempre foi essa, que a gente tivesse uma empresa que fosse bom pro país, não bom pra algum grupo econômico, não. Essa sempre foi a nossa filosofia aqui.
P/1 – E o Senhor poderia falar pra gente algum momento da luta sindical que o Senhor tenha vivido, que o Senhor tenha participado e que lhe marcou?
R – Quando começou a nossa atividade sindical aqui - eu fui dirigente por 9 anos, né, de 73 a 82 - era uma pressão muito grande em cima da gente porque era regime de exceção não é? E quando começaram os primeiros movimentos, foi uma satisfação, uma alegria muito grande porque o Sindicato, de 64 até 78, não conseguia fazer movimento. Começou em 78. Aí, começou: 78, 79, e foi, pegou a coisa, né? Houve uma organização boa das bases aqui. O pessoal começou a se posicionar. E a gente sempre tinha em mente duas coisas: uma era defender a gente a outra era defender a Petrobras. Isso foi a primeira coisa que eu ouvi quando entrei aqui na Petrobras, do meu chefe: “você vai aprender tudo que tem aqui e vai defender a Petrobras; essas duas coisas você vai ter que fazer”. Eu falei: “deixa comigo.” (risos) Mas com o decorrer do tempo, passado o regime militar, veio essa democratização e a gente sempre apostou no desenvolvimento da Petrobras. A gente controlava toda a produção de petróleo, a gente lutava, a gente decidia, no começo da Petrobras, quando faziam uma pressão sobre a Petrobras - os inimigos do desenvolvimento que até hoje tem - a gente sempre se defendia falando nas economias de divisas: “ a Petrobras está produzindo 90 mil barris, 100, 200, 300, um dia vai lá...Então, essa economia de divisas foi o início da luta da Petrobras. Hoje já é auto-suficiente, já mudou um pouco, né? Acho que dentro de um ano, um ano e pouco, chega nisso daí. E a gente quer que isso aqui fique para a próxima geração. Não está mais interessado na gente não, porque já está com a vida estabilizada.
P/1 - O Senhor tem alguma outra história marcante que o Senhor queira contar, que o Senhor se recorda?
R - Olha, uma das coisas que me marcou muito, foi justamente quando a Petrobras completou os 40 anos, inclusive tenho até uma camiseta aqui. Teve uma assembléia solene lá na Câmara de Deputados, em São Paulo, e eu assisti um discurso do general Andrade Serpa. Naquela ocasião, o Fernando Henrique Cardoso estava mudando de função no Governo: de Ministro das Relações Exteriores para Ministro da Fazenda. Já no discurso dele, ele falava da preocupação que tinha com o Fernando Henrique, que foi nomeado lá em Washington e que, mesmo no Regime Militar, sendo um dos generais de quatro estrelas, não conseguiu nomear aqui o Ministro da Fazenda, que era nomeado de fora para dentro. Como coincidiu isso com o Fernando Henrique, ele falou: “olha vocês podem esperar que esse rapaz aí não vai ser bom pra nós.” Isso foi antes dele ser Ministro da Fazenda. Depois foi Presidente da República e aconteceu tudo o que aconteceu. Eles só não privatizaram a Petrobras porque estava difícil para privatizar e faltou tempo. E a gente espera que esse tipo de gente não apareça mais por aqui. (risos).
P/1 - Eu queria que Senhor falasse pra gente um pouquinho, o que foi pro Senhor ter participado dessa entrevista contribuindo para o Projeto Memória dos Trabalhadores.
R - Eu acho que é bom porque tem muita gente aqui, até com muito mais tempo que eu de Petrobras, que conhece a Petrobras desde o início, desde a época que começou a fazer as avenidas, a fazer as construções. Eu cheguei aqui justamente na formação do 5º grupo da operação. Como esse sindicato daqui era muito forte, eles fizeram uma mobilização e conseguiram um acordo coletivo. Eram oito horas de turno, passaram a trabalhar seis horas de turno; o pessoal do administrativo, trabalhava no sábado, deixou de trabalhar no sábado; e a periculosidade, que metade ganhava e metade não ganhava, eles deram para todo mundo. Isso num único acordo coletivo. Eles fizeram aqui uma ocupação gigantesca para conseguir isso. Conseguiram e isso foi uma evolução pra Empresa também porque se eu tivesse trabalhado 25 anos de oito horas de turno aqui, eu acho que eu ia sair muito mais depauperado de saúde do que quando eu sai daqui, né? Eu acho que foi um grande avanço.
P/1 - Como se deu essa ocupação?
R - Essa eu sei de história porque foi antes de eu entrar. Eu entrei em 62 e foi em 61. Eu sei pelo o que os companheiros falavam. Eles entraram, fecharam tudo e não deixaram entrar ninguém. Essa foi a ocupação e, se não fechassem o acordo, eles iam parar a refinaria. E, como naquela época, a Petrobras era Cubatão e Mataripe, se você parasse Cubatão, você parava três quartos da produção da Petrobras. Então, eles tinham muita força nessa época. Mas acima disso, estava a defesa da Petrobras. A luta do “Petróleo é Nosso” era a bandeira de luta deles, acima até dos nossos interesses corporativos. É, foi uma lembrança muito boa que eu tive do passado.
P/1 - Senhor Rivaldo, gostaria de agradecer muito a sua entrevista. Muito obrigada.
R - Tá bom. Tá legal.
(PAUSA)
R - Eu quero falar da última decepção que eu tive recentemente. Foi justamente agora, com a 6ª Licitação de Leilão de áreas petrolíferas já descobertas pela Petrobras, num montante de 5 milhões de barris, segundo os técnicos da própria Petrobras, e que representa hoje 200 milhões de dólares. Privatizaram - essa é a palavra certa - uma parte dela em leilão, cujo produto já estava descoberto. Então, como a gente sempre falou aqui, de repente, o governo Lula está começando a leiloar áreas já descobertas pela Petrobras. O que é muito ruim. É a mesma coisa que você vender um bilhete premiado. A gente ficou muito triste com isso daí.
P/1 - Senhor Rivaldo, muito obrigada.
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