Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Raimundo Coutinho da Cruz
Entrevistado por Cláudia Fonseca
Urucu, 03 de julho de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB210
Transcrito por Transkiptor
00:00:26 P/1 - Então, eu queria que você me dissesse o teu nome completo, o local e a sua data de nascimento.
00:00:33 R - Certo, eu me chamo Raimundo Coutinho da Cruz, Meu nome de guerra é Coutinho, sou engenheiro civil. Sou daqui da terra, nasci em Manaus, no Amazonas. Dia 1º de março de 1951. Estou com 52 anos agora.
00:00:55 P/1 - Ótimo. E você entrou na Petrobras em que ano?
00:00:58 R - Eu entrei na Petrobras em 89, só que dois anos antes, em meados de 87 e 88, eu trabalhei aqui no início de Urucu. numa empreiteira, era uma consultoria, chamada Protec, onde nós iniciamos praticamente a parte do desmatamento do aeroporto, a parte do acesso do porto ao aeroporto, que até então aqui era só um porto que tinha sido feito, uma clareira, e daí começou a abertura de acesso até chegar ao posto pioneiro, que foi o UQ1, que gerou E a partir desse posto que deu o óleo, começou a surgir os outros postos.
00:01:39 P/1 - Quer dizer que quando você chegou aqui, que ano que foi?
00:01:42 R - Meado de 87.
00:01:44 P/1 - Só tinha desmatado a aquaria, não tinha nada, não tinha absolutamente nada.
00:01:49 R - Estava iniciando o desmatamento do aeroporto, entendeu? E eu vim aqui na época para fazer a parte de projeto do aeroporto. Lançar o grade da pista para fazer a terraplenagem e fazer também o projeto do porto até o aeroporto. Ou seja, era essa rua ali, acesso que teria ligando o porto até o aeroporto e onde a nossa base era na balsa. Tinha uma balsa alojamento na beira do rio Urucu. Posteriormente saiu passando por um alojamento móvel, que se chama alojamento tartaruga, mais acima. E foi onde tudo iniciou, desde o início, desde o surgimento aqui de Urucuru. Não participei da perfuração do primeiro curso, porque...
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Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Raimundo Coutinho da Cruz
Entrevistado por Cláudia Fonseca
Urucu, 03 de julho de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB210
Transcrito por Transkiptor
00:00:26 P/1 - Então, eu queria que você me dissesse o teu nome completo, o local e a sua data de nascimento.
00:00:33 R - Certo, eu me chamo Raimundo Coutinho da Cruz, Meu nome de guerra é Coutinho, sou engenheiro civil. Sou daqui da terra, nasci em Manaus, no Amazonas. Dia 1º de março de 1951. Estou com 52 anos agora.
00:00:55 P/1 - Ótimo. E você entrou na Petrobras em que ano?
00:00:58 R - Eu entrei na Petrobras em 89, só que dois anos antes, em meados de 87 e 88, eu trabalhei aqui no início de Urucu. numa empreiteira, era uma consultoria, chamada Protec, onde nós iniciamos praticamente a parte do desmatamento do aeroporto, a parte do acesso do porto ao aeroporto, que até então aqui era só um porto que tinha sido feito, uma clareira, e daí começou a abertura de acesso até chegar ao posto pioneiro, que foi o UQ1, que gerou E a partir desse posto que deu o óleo, começou a surgir os outros postos.
00:01:39 P/1 - Quer dizer que quando você chegou aqui, que ano que foi?
00:01:42 R - Meado de 87.
00:01:44 P/1 - Só tinha desmatado a aquaria, não tinha nada, não tinha absolutamente nada.
00:01:49 R - Estava iniciando o desmatamento do aeroporto, entendeu? E eu vim aqui na época para fazer a parte de projeto do aeroporto. Lançar o grade da pista para fazer a terraplenagem e fazer também o projeto do porto até o aeroporto. Ou seja, era essa rua ali, acesso que teria ligando o porto até o aeroporto e onde a nossa base era na balsa. Tinha uma balsa alojamento na beira do rio Urucu. Posteriormente saiu passando por um alojamento móvel, que se chama alojamento tartaruga, mais acima. E foi onde tudo iniciou, desde o início, desde o surgimento aqui de Urucuru. Não participei da perfuração do primeiro curso, porque até então não tinha. Mas a partir do momento que começou a dar resultado, começou a viabilizar, aí começou a vir aqui em torno de uns 10, 12 helicópteros que estavam rodando aqui direto. Nós íamos para Manaus, Tefé, descíamos lá no avião e o helicóptero nos apanhava e interfere para cá, direto aqui para o Porto Aeroporto.
00:02:53 P/1 - Naquela época, quanto tempo vocês ficavam aqui?
00:02:56 R - Eu, na primeira vez que eu vim para cá, eu passei 30 dias direto aqui, para justamente fazer essa parte de projetos da área, tanto do aeroporto, como do acesso. Lançando um grande, né? Porque estaria duas firmas já contratadas, uma específica, né? Para a Engenorte, para o aeroporto, e a outra, a Léo Júnior, que ficou com a parte do acesso, né? Então precisaria ter essa nota de serviço do projeto para começar a desmatar, fazer a parte de terrapenagem, a parte do aeroporto e tudo mais.
00:03:26 P/1 - Como é que vinha o material para cá? Por exemplo, cimento?
00:03:31 R - Tudo vinha através de pausas. A única coisa era a navegação através da pausa. Ou seja, a navegação de Urucu. Esse rio precisou também ser feito limpeza, claro, porque às vezes tinha muito pau que saía.
00:03:42 P/1 - Para poderem...
00:03:43 R - Exatamente, para poderem estar em condições de deslocamento das pausas. Então tudo viu no cu, entendeu? Os passageiros, como eu falei, viriam para Tefé e Tefé era tirado de helicóptero. Aqui eram, como eu falei, 10, 12 helicópteros na área, aqui direto, entendeu? Ou seja, nós tínhamos aí dois helicópteros lá perto do porto. Ou seja, tinha dois helicópteros pousados, abastecendo. Tinha dois já sobrevoando e outro já rodando aí em volta. Um saia e o outro entrava e a seguir, né?
00:04:11 P/1 - Isso você estava na empreiteira. Quando é que você passou para a Petrobras?
00:04:15 R - Em 89, houve um concurso na Petrobras. No caso, eram duas vagas. Nós íamos iniciar aqui a estação do Polara, entendeu? E abriu duas vagas para dois engenheiros. O concurso estava. Fomos passar no concurso. Eu e o outro colega, o Ídolo. E aqui viemos pra outra missão, né? Ou seja, eu saí de uma missão, a partir do aeroporto, a partir do projeto de acesso, e viemos pegar já uma outra... Outro desafio, que era aqui a área do ULT-4, né? A área do ULT-4. Aí fizemos toda a parte de desmatamento, a parte de arruamento, a parte de platôs, né? Pra começar as fundações das bases, das... os compressores e toda a estrutura de montagem da área da estação.
00:05:06 P/1 - Qual foi a maior dificuldade desse período?
00:05:10 R - Olha, a dificuldade inicial foi justamente isso. Por exemplo, aqui não tinha carro, não tinha nada. Você era através de tratores, de rodas, aqueles foremost os largos. É o que a gente conseguia transitar aqui dentro da área. Ou seja, hoje a gente vê aqui tudo no asfalto, você não vê o que era no passado aqui. Era lama aqui pelo meio da canela. Nesse período de chuva, tem um período que chove bastante. Tem um período de estiagem, de julho até dezembro. E depois tem o período da chuva, que vai de dezembro até junho. Nesse período, uma mata fechada e tudo mais lá, chove bastante a parte de condensação. Com isso aí, gerava a lama. Você tá pegando com o trator de roda, passando por aqueles atoleiros e tudo mais lá, você vê a dificuldade que é. Então, nós que estávamos iniciando a partir de terra plenária, e depois, logo no início, pra chegar no HUC1, ia o que? Um topal frio na frente, entendeu? O trator ia desmatando e o topal... Não, vem por aqui. E aí ia caminhando. Aí você ia derrubando a mata e jogando barro por cima pra que a sonda... Ou seja, era uma coisa de pioneirismo mesmo. E assim, chegava aqui, gira-se esporte. Depois não. Passou, por exemplo, custo de helicóptero era altíssimo, entendeu? Então tinha que se fazer uma pista de pouso. Então, ou seja, essa pista foi feita em tempo recorde, né? Praticamente quatro meses foi feita uma pista. Ou seja, em quatro meses se pagou todo o dia de helicóptero. Os custos de helicóptero se pagou em quatro meses a pista de pouso. Até hoje nós estamos com ela aí, né? Operando, normal. O cara já ouve uma pequena cidade, já está procurando alguma coisa. E hoje, agora esse ano, nós estamos partindo para a recuperação total dela.
00:06:56 P/1 - Tá, nós falamos de dificuldade e alegria. Dificuldade no transporte e tal, mas e a alegria?
00:07:04 R - Essa alegria, o que é? Na minha área de engenharia, eu sempre gostei desses desafios, né? De vir aqui assim, no meio da mata, viu? Ao menos que a gente tenha a nossa alegria, claro que a gente tenha a nossa paz aqui. Isso faz sair as nossas famílias, né? Sai fora, né? Durante 14, 15 dias, né? No primeiro período, eu passei 30 dias diretos. Depois, eu comecei a fazer o arremessamento de outro colega, 15 por 15, né? É o nosso colega que estava aqui. Nesses períodos é claro que tem a alegria, né? Você tem as coisas que aconteceram, né? Uma onça, né? Que estava rondando ali o alojamento da construtora, essa Léo Júnior, estava comendo o rancho dela lá. E aí conseguiram, fizeram um arapuca e pegaram essa onça. Aí, uma enorme, uma onça enorme. E aí o coordenador na época, Andou que soltasse né? lá no final da pista de pôs, onde nós estávamos justamente trabalhando, né? Aí colocaram uma jaula lá, né? Aí outro com uma varinha de longe, assim, lá em cima do trator, né? Pra levantar a tampa, né? Pra ela sair. Aí ela saiu, saiu andando devagarinha. Mas a preocupação a gente ficou, né? Porque a gente trabalhava ali dentro da área do aeroporto, né? Topografia, terra prática e tudo mais lá. E ela ali, se caminhando ali pela mata ali adentro, né? Um outro fato que aconteceu aqui foi, por exemplo, uma cobra, uma cobra-sucuriju, de seis metros de comprimento, assim, uns quinze, vinte centímetros de ângulo dela. Nós estávamos fazendo o acesso e tínhamos acabado de imprimar, imprimar a parte do asfalto diluído, que a gente faz em permeabilização. E nesse períodozinho deu uma chuva. E quando deu a chuva, naquela época a gente não tinha esses cuidadores de meio ambiente, esse material escorreu, e foi para uma área, perto de uma lagoazinha. Mas nossa surpresa, quando correu para lá, tinha uma cobra que estava lá no meio. E ela ficou toda manchada da sacola de óleo. E aí nós já estávamos com o pessoal do exército, que foi um dos nossos parceiros aqui na época. Depois o exército, com a equipe deles, conseguiu laçar a cobra, trouxeram ela para a terra, trouxeram os baldes com água, com escova. Rapaz, esse cara é bicho de lavar, escovar, era bonitinho e tal. Aí os caras pegaram ela e jogaram de volta pro habitat dela, dentro do lago, dentro do rio, né? Porque ela tava praticamente confinada ali, né? E aí já se levou pra dentro de um rio que é nas proximidades, né? Então, são realmente esses fatos que depois os coleguinhas realmente trocam, né? Informações. de outras áreas que viriam, Belém, da Bahia, que era no exposto da área de Manaus, do Amazonas. Então, realmente, eu gostava de trabalhar aqui. Apesar de estar fora da família e tudo mais, mas aqui era uma outra família nossa. E você, durante esses anos agora, 14 anos praticamente aqui em Petrobrás, A Petrobras é a minha segunda família. Ou seja, é uma parte da nossa casa e outra parte daqui.
00:10:27 P/1 - Coutinho, diz uma coisa pra mim. Nessas modificações todas, nesse avanço todo, como é que você vê a participação dos sindicatos? nas condições de trabalho, nas condições de vida de vocês, como é que foi a participação do sindicato? Foi importante? Não foi importante? Ajudou a que vocês melhorassem?
00:10:43 R - Não, ajudou. Eu não tenho a dúvida que o sindicato é fundamental, né? Eu acho que, de qualquer maneira, o sindicato é o que faz as nossas reivindicações, né? A verdade é que, às vezes, a nós, quando a gente tá num certo escalão, né, na fase de nível superior e tudo mais lá, e a gente tá, muitas vezes, a gente não pode, também, às vezes, fazer parte de greve e tudo mais lá. O sindicato mais restrito tinha realmente o papel dela, entendeu? Claro que tinha toda a aprovação. Agora, claro que numa hora de greves, né, tudo mais lá, a gente tinha que manter uma área operacional aqui, entendeu? Então, realmente aí viria para esses pessoal do interior que realmente, naquele período que havia greve, a gente tentava segurar o matrimônio ali, entendeu? Agora, é fundamental, mas toda a área tem que ter o seu sindicato, entendeu? Porque aí, justamente, para brigar a gente, né? Eu acho que o sindicato, aqui no Urucu, acho que foi de fundamental importância para todos os avanços e conquistas que nós tivemos nesse período todo.
00:11:44 P/1 - E para a gente encerrar, o que você acha desse projeto de resgate da memória do trabalhador petrobrás?
00:11:50 R - Olha, eu acho que é fundamental, porque eu acho que isso é uma pedra que mais tempo poderia ter ocorrido. Porque tem muitos fatos, que às vezes vai passando, outros vão saindo, entendeu? E não vai, não tem ninguém mesmo pra escrever, deixar aquelas memórias, né? Porque você, petroleiro, você tem uma gama de informações, de histórias, cada um com essas histórias, entendeu? Eu, por exemplo, essa parte que eu vivi aqui, uma parte de engenharia civil, eu entrava dentro desses matos toda a vida, entendeu? E, realmente, é fundamental a gente ter essas informações, né? Colher toda essa memória, né? Para que se torne a público, né? É uma história grandiosa. É muito grandiosa. Uma história muito bonita.
00:12:39 P/1 - Então tá bom. Obrigada, Coutinho, pela entrevista.
00:12:42 R - Tá ok. Muito obrigado também. Obrigada. Sucesso.
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