Meu nome é Carlos Antônio de Souza Pereira, eu nasci no Rio de Janeiro, no dia oito de março de 1959.
Eu entrei na Petrobras em 1988, através de um concurso público para operador de processos químicos. É um cargo de linha de frente no refino, que opera os equipamentos que transformam o petróleo em produtos, como a gasolina e o diesel. Depois que eu fiz a prova para entrar aqui eu aguardei quase um ano para ser chamado, entrei como bolsista que era o nome que designavam aquelas pessoas estavam iniciando a carreira, porque quem entrava recebia uma bolsa antes de ser inscrito na Petrobras. Era o bolsista. Fiquei quase um ano naquela ansiedade para ser contratado e em quatro de janeiro de 1988 aconteceu a minha efetivação como operador de processos químicos.
Eu já era formado em engenharia civil pela UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro]. Formei-me em 1984 e estava querendo trabalhar, na verdade, precisando trabalhar. Apareceu a chance de trabalhar como operador e eu queria entrar para a Petrobras, queria muito, e entrei pela porta que apareceu. Eu já havia feito alguns concursos para engenheiro de petróleo e reprodução, mas não tinha conseguido. Curiosamente, eu passava muito aqui em frente da refinaria, eu tenho parentes nas redondezas e desde pequeno eu passei por aqui, mas nunca nem sequer tinha reparado na refinaria. Quando eu vim fazer a minha inscrição para tentar entrar – porque antigamente o concurso era regional – eu refiz esse caminho, não sabia nem como chegar a Campos Elíseos, perguntei para um vizinho, enfim, peguei ônibus, cheguei aqui havia uma fila grande para inscrição. A gente ficava na inscrição vendo os ônibus de turno saindo e pensávamos: “Poxa, tem ônibus para levar em casa”, sonhando com a entrada. Graças a Deus tudo correu bem. Ali eu comecei minha carreira na Petrobras.
A Petrobras, pelo nome que tem, sempre é um desejo. Eu tinha feito Escola Técnica e a partir dali já surgia o nome...
Continuar leituraMeu nome é Carlos Antônio de Souza Pereira, eu nasci no Rio de Janeiro, no dia oito de março de 1959.
Eu entrei na Petrobras em 1988, através de um concurso público para operador de processos químicos. É um cargo de linha de frente no refino, que opera os equipamentos que transformam o petróleo em produtos, como a gasolina e o diesel. Depois que eu fiz a prova para entrar aqui eu aguardei quase um ano para ser chamado, entrei como bolsista que era o nome que designavam aquelas pessoas estavam iniciando a carreira, porque quem entrava recebia uma bolsa antes de ser inscrito na Petrobras. Era o bolsista. Fiquei quase um ano naquela ansiedade para ser contratado e em quatro de janeiro de 1988 aconteceu a minha efetivação como operador de processos químicos.
Eu já era formado em engenharia civil pela UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro]. Formei-me em 1984 e estava querendo trabalhar, na verdade, precisando trabalhar. Apareceu a chance de trabalhar como operador e eu queria entrar para a Petrobras, queria muito, e entrei pela porta que apareceu. Eu já havia feito alguns concursos para engenheiro de petróleo e reprodução, mas não tinha conseguido. Curiosamente, eu passava muito aqui em frente da refinaria, eu tenho parentes nas redondezas e desde pequeno eu passei por aqui, mas nunca nem sequer tinha reparado na refinaria. Quando eu vim fazer a minha inscrição para tentar entrar – porque antigamente o concurso era regional – eu refiz esse caminho, não sabia nem como chegar a Campos Elíseos, perguntei para um vizinho, enfim, peguei ônibus, cheguei aqui havia uma fila grande para inscrição. A gente ficava na inscrição vendo os ônibus de turno saindo e pensávamos: “Poxa, tem ônibus para levar em casa”, sonhando com a entrada. Graças a Deus tudo correu bem. Ali eu comecei minha carreira na Petrobras.
A Petrobras, pelo nome que tem, sempre é um desejo. Eu tinha feito Escola Técnica e a partir dali já surgia o nome Petrobras. Fiz Edificações na Escola Técnica Federal, atual Cefet [Centro Federal de Educação Tecnológica]. Portanto, eu conheci a Petrobras e desejava vir trabalhar aqui. Esse desejo se manteve depois que eu acabei a Faculdade de Engenharia. Sempre tive o foco de um dia crescer na empresa e exercer a função de engenheiro civil, minha grande meta era conseguir ser engenheiro civil, e se possível dentro da Petrobras. Não havia concursos para engenheiro civil. Não eram freqüentes, eram raros, mas eu estava sempre naquela esperança, na expectativa de que eles fossem ocorrer, como ocorreram mais tarde.
Eu sou engenheiro civil, mas eu sempre me reporto aos meus ex-companheiros, eu me sinto um operador até hoje. Sempre falo que eu sempre tive muito orgulho em trabalhar na operação. O operador trabalha junto aos equipamentos, dentro das unidades industriais, transformando a carga bruta em produto, no final da linha de processos. Você trabalha com diversos equipamentos, com diversas variáveis de pressão, temperatura, e é preciso ter um controle muito grande sobre isso para que dê tudo certo. Eu acho que é uma função muito nobre, de muito conhecimento. Eu sempre valorizei muito a função do operador. Às vezes ele não é reconhecido. Embora esteja na linha de frente do processo, é preciso ter muito conhecimento para exercer esse trabalho. Eu trabalhei numa unidade de craqueamento catalítico, mas se fosse para outra, teria que estudar a unidade toda de novo, porque cada uma é diferente da outra. O processo básico é o mesmo, mas você tem que conhecer cada unidade. Eu digo que cada operador de uma unidade é único. Assim como o operador de uma outra refinaria, a Replan [Refinaria do Planalto Paulista], por exemplo. Ele é único e altamente especializado. Eu gostei muito de trabalhar na operação. Fiz muitas amizades que eu tenho até hoje. Eu tenho esse sangue de operador, levo comigo essa determinação do operador até hoje.
Do craqueamento catalítico eu sou fã, falo com entusiasmo, fica parecendo que estou puxando brasa para a sardinha que nem é minha mais, mas o craqueamento catalítico é uma unidade das mais rentáveis e das mais importantes dentro de uma refinaria, porque você pega uma carga para ser destilada, vai para unidade de destilação, ou seja, por temperatura você vai separando os cortes para tirar produtos, ali você tem pontos de evaporação diferentes aonde se vai tirando os produtos numa torre atmosférica. Aquilo que sobra você manda para uma torre a vácuo e tira mais alguma coisa, e o que sobra, quando parece que você não tem mais nada para tirar, você manda para o craqueamento catalítico. Você tem cadeias pesadas e você quebra essas cadeias usando um catalisador. Através de um equipamento chamado conversor você quebra essas cadeias e tira mais produtos. É um aproveitamento altamente rentável daquilo que em tese, teoricamente, não teria mais como ser aproveitado. É um processo muito bonito, você tem um equipamento que é o conversor, que é composto do reator e do regenerador, em que você quebra essa cadeia, você bota junto um hidrocarboneto pesado e o catalisador. Esse hidrocarboneto com as cadeias quebradas sai para ser destilado e o catalisador é recuperado através de calor. Ele é recuperado e reaproveitado. Fica um ciclo entre o regenerador e o reator. Eu estou lembrando bem, de repente, se precisarem, eu ainda quebro um galho lá (risos).
É uma tecnologia antiga. Eu acho muito bonito a história do craqueamento no Brasil porque eu vivi numa época em que surgiu um domínio muito bom do craqueamento e isso impressionou alguns fabricantes de catalisadores. A Petrobras pelo domínio que conseguiu do processo de craqueamento catalítico passou a fabricar catalisador no Brasil, nós temos hoje a fábrica de catalisadores e que, salvo engano meu, nasceu um pouco aqui na refinaria de Duque de Caxias. O Brasil hoje fabrica catalisadores para craqueamento catalítico. Eu não estou na área há muito tempo, não tenho como confirmar, mas me parece que é a única fábrica no Hemisfério Sul, era assim, hoje eu não sei. É uma área que eu gosto muito, gostei muito, tenho uma relação ainda com as pessoas de lá, tenho muitas amizades que eu preservo até hoje. As amizades que fiz lá me deu uma afilhada, a filha de um ex-companheiro, só isso já teria valido a minha passagem na área. Eu diria, inclusive, o seguinte, que, embora eu tivesse feito diversos concursos para entrar como engenheiro para a área de petróleo, se eu fosse escolher hoje, na minha história na Petrobras, seria naquela mesma porta. Hoje eu não tenho dúvida disso.
Eu sempre digo que aqui na refinaria você encontra de tudo. Bons profissionais de todas as áreas trabalham aqui. Na operação você encontra físico, geógrafo, o que você quiser você encontra, é um negócio incrível. Como é um horário de turno variável, têm pessoas que exercem outras funções lá fora. A minha situação não era uma novidade. Eu entrei e trabalhei com o pessoal da antiga, que pegou o início da refinaria, trabalhar na Petrobras dava uma estabilidade para pessoas que às vezes nem tinha outra profissão, mas surgiu também muita gente que era engenheiro, físico, e trabalhava com a gente. Um companheiro chegou a perguntar para mim, pessoa da antiga, o Damião, uma grande pessoa também: “Você entrou aqui para ser engenheiro ou ser operador?” Eu falei “Entrei para ser operador”, eu tinha intenção de chegar até engenheiro, sempre tive, mas minha dedicação naquele momento era para ser operador, mas buscando outros caminhos. A Petrobras é uma empresa de oportunidades. Eu acho que eu as busquei e elas surgiram. Temos que estar preparados porque a oportunidade não para: “Espera um pouquinho oportunidade que eu volto depois”, isso não acontece. Mas eu fui um operador de corpo e alma.
Eu fiquei cinco anos no craqueamento catalítico, mas em 1993 surgiu um concurso para o antigo Sepen, que é o Setor de Projetos de Engenharia, para desenhista de construção civil, que tivesse a experiência ou o curso técnico de edificações. Eu fiz esse concurso, tinha uma vaga, me classifiquei em primeiro lugar e consegui passar como desenhista da área de engenharia. Mas mesmo aprovado teve aí um gap também para conseguir a liberação de uma vaga. Eu e mais um companheiro, o Felipe, que tinha passado também para vaga de mecânica, travamos uma luta grande para entrarmos. Nós fizemos um verdadeiro dossiê, insistíamos, pedíamos, fazíamos documentos pedindo a nossa liberação, até recorremos ao superintendente. Nós argumentamos diante dos documentos da Petrobras que falavam de compromisso, ética, verdade, usando apenas os argumentos que a própria Petrobras nos fornecia através das suas publicações. Ele achou justo, nós estávamos usando o argumento que eles usavam conosco. Enfim, resolveu-se o problema da nossa liberação que já estava se alongando. Ele bateu o martelo e teve uma atitude coerente com o cargo e com o que a própria Petrobras dizia. Se eu não me engano, em março de 1993 eu fui ser desenhista do antigo Setor de Projetos de Engenharia. Eu não saí da operação insatisfeito, mas eu realmente não queria continuar no turno. A operação é ótima, mas eu particularmente não gostava de trabalhar no turno. E, além disso, eu teria a oportunidade de trabalhar o mais próximo possível da minha área.
De lá para cá o setor foi trocando de nome. Pouco depois que entrei houve um novo plano de cargos e salários que juntou a área de Projetos com a área de Montagem. O topo da carreira de desenhista na área de Projeto era o Desenhista Técnico de Projetos e na área de Montagem havia o Técnico em Construção e Montagem 1, 2 e 3. Eles fundiram essas funções e surgiu o Técnico de Projeto, Construção e Montagem. Como eu era desenhista, eu fiquei como Técnico em Projeto, Construção e Montagem 1. Continuei no Sepen, mas acompanhando obras e fazendo projetos, as duas coisas.
Eu já estava trabalhando naquilo que eu me preparei para trabalhar. Sentia também muito prazer no que fazia, como sinto até hoje. Comecei enfim a trabalhar com engenharia civil. Embora fosse um técnico eu não iria separar o meu conhecimento de engenheiro e de técnico. Eu acompanhava e fiscalizava obras. Fazia projetos quando necessário. As obras me afastaram um pouco da área de projetos, estava me absorvendo muito. Criei e acompanhei bastante obra. Eu estava satisfeito, trabalhando dentro da minha área já de engenharia civil. Trabalhando com o que gosto, como concreto, forno, etc., enfim, aquilo que engenheiro civil gosta, do trabalho no campo, embora eu prefira até fazer projeto, mas aprendi bastante.
Na refinaria com o tempo você se acostuma com a sua complexidade que às vezes até esquece com o que está lidando, que ao seu redor tem uma alta tecnologia empregada. Na área de engenharia civil não é diferente. Eu não destacaria uma obra específica, mas todas elas pela diversidade. Eu sempre falo para o pessoal mais novo que aqui na refinaria se vê diariamente o que tem lá fora e aquilo que só vai ver aqui dentro. Você vê estrutura metálica, concreto, obra de pavimentação... Você na engenharia vê de tudo. É algo impressionante. Para quem quer aprender e crescer na área não tem escola melhor. Dificilmente vai se ver como recuperar o talude de uma lagoa de aeração. Você não tem isso na esquina.
Na operação você tem que ter um cuidado com o processo para gerar menos resíduos, menos produtos que não sejam inerentes ao processo. Toda obra gera resíduos. Nós temos uma fiscalização muito forte dos órgãos ambientais, temos termos de compromisso e isso se refletiu também em obras civis. Eu participei intensamente das obras das bacias, das chamadas B6s, que são bacias de contenção, que cuidam basicamente das águas da refinaria, sejam pluviais, contaminadas etc. A refinaria vinha há muito tempo investindo nisso para resolver o problema de contaminação de água.
Eu vou fazer vinte e dois anos de trabalho no ano que vem, no dia quatro de janeiro e, talvez, nunca houve uma presença tão grande da refinaria na cidade quanto hoje. A quantidade de veículos que circulam aqui em frente da refinaria por conta da entrada e saída de pessoas é impressionante. Antigamente tinha um pequeno estacionamento no portão 4, que atendia mais ou menos a demanda. Em um momento esse estacionamento já não foi suficiente e agora temos obras contínuas para tentar resolver esse problema. Isso tudo gera emprego. Eu tenho contratos que eu fiscalizo as mesmas pessoas há, sei lá, doze, dezesseis anos Pessoas que fizeram uma história aqui dentro, fizeram a sua vida lá fora trabalhando aqui dentro da refinaria.
Antigamente aqui na refinaria precisava-se de tudo, de todo tipo de profissional, por exemplo, marceneiro. Hoje isso não tem mais sentido você ter. Havia pessoas que cuidavam até dos móveis. Eu peguei o finalzinho dessa época, sou antigo aqui, mas nem tanto, mas segundo o pessoal da antiga, havia de tudo. Como uma cidade a refinaria precisa de diferentes profissionais. Antigamente a Petrobras tinha muitas pessoas que eram funcionários dela para cuidar de serviços que não eram de sua atividade fim. Houve uma mudança do perfil, isso se alterou.
Eu queria citar aqui uma mudança que foi muito importante para mim, que foi justamente o momento que eu consegui passar para engenheiro, que era o meu objetivo. Fui paciente na realização desse objetivo porque não havia mais concurso para engenheiro civil. Somente em 2002 pintou o primeiro concurso. O Daniel, um companheiro que trabalhava comigo na chamada Engenharia, que com a mudança de nomes virou Engenharia PCM - Projeto, Construção e Montagem - era também formado e nós estudamos bastante para a prova. Eu não me esqueço dessa prova, foi na PUC [Pontifica Universidade Católica], eu saí de lá com a adrenalina altíssima, só no dia seguinte consegui dormir. Estava com os olhos fechados, mas era como se eu estivesse dormindo de olhos abertos, de tão agitado que eu estava. E com o meu amigo a mesma coisa. Ao final a minha classificação: centésimo vigésimo oitavo. Eu falei: “Valeu a pena, vão surgir outras oportunidades”. E a partir dali eu me organizei, comecei a não perder o vínculo com o preparo, fui estudando e tal. No final de dezembro de 2005 surgiu outro concurso e novamente a mesma luta, a mesma procura, a minha esposa não estava agüentando mais, porque ela tinha que segurar a onda em casa com as crianças, para eu poder me dedicar. Ela é parceira e vitoriosa nessa conquista também, porque sem essas mulheres maravilhosas não conseguimos nada. Ela falava: “Vai começar tudo de novo”. E aí novamente eu não passei, tive uma classificação acima de 600. Quando eu recebi a notícia me lembro da minha esposa dizer ao telefone: "Deus sempre sabe o que faz, isso aconteceu por algum motivo”. Mantive a fé e o preparo, na ocasião falei: “Vamos comemorar porque nós lutamos muito para conseguir, não deu, mas...”. Descansei bastante, fizemos um passeio, mas eu vi que era essa a vontade de Deus, que eu descansasse um pouquinho, porque em fevereiro reabriu outra inscrição. E aí com a graça de Deus, muito estudo, fui sétimo no Brasil no concurso para engenheiro civil. Eu fazia alguns concursos como simulado de luxo. A ficha começava a cair. Passei na Casa da Moeda - eu não tinha a intenção de sair da Petrobras, eu estava investindo para chegar aonde eu desejava dentro da Petrobrás –, Hospitais Federais etc. “Acho que o momento está chegando.” Um dia inesquecível para mim aqui dentro foi quando saiu esse resultado, porque eu estava numa reunião, eu sabia que de manhã ia sair o resultado, na mesma sala tinha um computador. Eu saí, abri o computador, consultei e tive a feliz notícia. Lembro que os meus colegas da sala também tinham consultado o resultado, já estavam me chamando para dar a notícia, partilhar comigo a grande notícia. Eu já trabalhava na engenharia como técnico e em 2006 passei a ser engenheiro civil.
A refinaria, a Petrobras, como toda empresa, tem seus grandes momentos, suas mazelas e seus problemas. Alguns problemas se repetem há muitos anos. Mas, eu também, vejo uma grande empresa, eu gosto muito de trabalhar aqui. Deus me agraciou para fazer uma coisa que eu gosto. Eu gosto muito de onde eu trabalho. Gosto muito de trabalhar na engenharia da Reduc. A relação com as pessoas é muito boa. E ter vindo da operação foi muito bom, porque eu convivi com o pessoal da antiga que tinha outro espírito de relação com a empresa. Eu conheci muita gente da manutenção por trabalhar na operação, conheço pessoas do lado administrativo e da engenharia, eu caminho aqui às vezes como se estivesse em uma cidade do interior, eu falo com um, falo com outro. Eu venho com prazer trabalhar, e isso é metade do problema resolvido, isto é, passar oito horas num local que você gosta, fazendo algo que gosta. Embora os problemas existam eu convivo com eles.
O petroleiro tem um vínculo muito forte com a empresa, isso é um fato. Não é novidade para ninguém que é esse um dos diferenciais da empresa. Eu trabalhei com pessoas que pegaram o início da refinaria e se você pega uma casa sendo construída, se você começa a trabalhar enfrentando desafios novos, que nunca tinham ocorrido, isso aumenta mais ainda esse vínculo. Foi com eles que eu aprendi a ter essa ligação mais profunda com a empresa. Acho que eu também aprendi um pouco em casa também, porque meu pai era ferroviário e a classe ferroviária também tem muito disso. Quando eu entrei para Petrobras, eu vivenciei aquilo que via o meu pai sentir. Houve um espaço aí entre essa fase de novas contratações. Isso foi um problema que teve que ser contornado e que a empresa está contornando através dos concursos. Mas ressalto que essa convivência mais íntima com o pessoal da antiga me ajudou muito a ter essa relação com a empresa. Talvez isso hoje se dilua um pouco, por causa dessa falta de convivência, desse espaço que houve até começarem as novas contratações. Não que não haja. Porque quando a pessoa entra aqui, pelo próprio envolvimento com o trabalho, acaba conquistando isso. Mas eu convivi com pessoas da antiga que tinham isso de forma muito consistente. Muito firme. Nós vivemos algumas greves, quando eu comecei aqui, eu era bolsista ainda. Os problemas que vivenciamos juntos, nos ajudam muito a traçar esse caminho de união e de relação com a empresa.
No início da minha carreira aqui, pouco depois que eu entrei, participei de uma greve e havia uma notícia – eu era o mais novo na unidade –, que eu seria a bola da vez. Hoje eu olho para trás e vejo que no começo da minha carreira eu participei de todas as greves. Foi muito bom, era algo muito emocional, ficávamos à flor da pele. Porque você faz a greve em função de conquistar alguma coisa que você acha que é o melhor, até para empresa. Achávamos que até para o país. O petroleiro tem essa pretensão de que ele pode mudar os planos do país, às vezes, nós até exageramos um pouco nessa pretensão. Talvez pela grandiosidade da empresa, talvez pelo que ela representa para o país. A Petrobras gera muitos empregos aqui na região, nós sabemos que ela pode transformar o país, tem condição de realizar muitos programas sociais, isso nos torna um pouquinho pretensiosos e ambiciosos naquilo que podemos fazer pelo país. Não sei se a gente sempre tem isso na medida certa. Havia um sentimento muito forte de quem está fazendo alguma coisa para tentar melhorar o país. Vivi momentos aqui de muita emoção. Um momento que eu lembro com muita clareza foi quando fizemos uma assembleia na Câmara dos Vereadores de Duque de Caxias. Eu não lembro bem ao certo da data, mas talvez em 1989, 1990. Foi bem no início quando entrei aqui. Nós saímos de uma assembleia noturna, e viemos para cá, para a refinaria, porque tinha os colegas de turno e nós precisávamos fazer o piquete. Vínhamos cantando, mas quando chegamos aqui na frente vimos as silhuetas da Polícia Militar com os escudos. É uma coisa impressionante à noite. A ideia é chocar e choca mesmo. Você vem cantando, cantando, e de repente você vê na sua frente uns faróis, formando aquelas silhuetas que parecem maiores do que são. O presidente do sindicato daquela época, curiosamente, é hoje o diretor da escola em que eu dou aula à noite. Eu dou aula à noite no Estado. Quando sair daqui eu vou fazer a segunda coisa que eu gosto de fazer, eu gosto de ser engenheiro e também de ser professor. Com as aulas eu agradeço um pouquinho aquilo tudo o que eu recebi, distribuir um pouco do conhecimento que eu adquiro aqui. Tivemos diversos momentos de emoção com colegas. Eu acredito que mesmo naqueles momentos em que estava em greve, nós ajudamos a fazer a história da Petrobrás. Erramos, acertamos, mas com certeza fizemos com o intuito de trazer alguma coisa de bom para a Petrobras. Com isso nós fazemos um pouquinho da história do Brasil também. Quem sabe?
Tem muitas pessoas novas chegando à Petrobras. Dentre as coisas que eu vejo que acontece na Petrobras e que não é bom, eu costumo dizer que vemos aqui verdades eternas que duram um ano. Eu nem posso dizer que seja só aqui, talvez toda empresa viva isso, mas isso é um fato, é uma das críticas que eu faço. Acho que os jovens que estão entrando agora devem ter a chance deles e tentar mudar muitas das coisas que eu não consegui fazer diferente. É a vez deles, eu não vou acabar com essa esperança. Eu vejo alguns funcionários novos travando algumas batalhas para melhorar o setor na Reduc que foram algumas que eu já travei, mas eu não quero que eles desistam porque é a vez deles. Você não pode matar a esperança. Eu não consegui, eles podem conseguir, não é? Minha mensagem para os novos é sempre de esperança, luta, de construir o próprio caminho, até porque eu sou muito feliz com o caminho que eu desenhei. Falo para eles sempre das oportunidades, eu tento mostrar que eles não deixem de ser críticos, que não deixem de criticar aquilo que está errado e busquem melhorar. A empresa espera que eles façam isso. Eles não devem se deixarem levar pela amargura de alguns que da mesma forma que eu enfrentaram problemas, tentaram resolver, mas não conseguiram. É a vez deles. Quando eu escuto alguém falando de uma luta que eu já batalhei, eu posso até dizer os fracassos que eu tive, mas é para ele continuar a luta, que continue querendo mudar. Eu mudei, com certeza, até porque algumas vezes não consegui mudar muitas coisas. Eu também estou mais velho. Aprendi muitas coisas, a postura diante de certos problemas muda também. Você não vai deixar de querer resolvê-los, mas, por exemplo, hoje eu vejo que temos que escolher priorizar os problemas. Eu vivo de engenharia e é preciso resolver problema toda hora. Essa consciência nós adquirimos com o tempo, à medida que você amadurece. Não adianta querer resolver todos os problemas. Você vai ter que abrir mão de alguma coisa para poder conseguir resolver algo, isso eu aprendi. Até porque aqui a gente vive resolvendo problema, estamos sempre apagando fogo. Isso dá um aprendizado muito grande. A refinaria é uma grande formadora de profissionais por conta disso. Não que seja um mérito ser assim, mas isso nos dá uma experiência.
Histórias, existem muitas. O pessoal da antiga conta muitas, porque era uma época, vamos dizer, romântica. Hoje, por exemplo, temos uma preocupação muito grande com segurança. Antigamente se transitava por esse mundo de risco aqui na refinaria com mais tranquilidade. Havia a preocupação com a segurança, mas eles lidavam com isso com muita naturalidade. Trabalhar na operação era muito divertido. Eu não sei se a situação de trabalhar de zero hora e lidar com situações de risco junto com as pessoas criava um relacionamento muito forte. Às vezes você chegava no sábado e um colega havia brigado com a namorada e vinha desabafar com você. Eu volto a dizer, eu não gostava do turno, mas estar com aquelas pessoas era muito divertido. Mas tem também o outro lado. Eu peguei vazamento de monóxido de carbono e incêndio de torre. Uma vez na 1250 – que é considerada uma unidade interessante, porque reúne craqueamento, destilação e tratamento –, um vent, que é uma válvula que fica acima de uma linha, que é necessária para executar a despressurização, isto é, você abre o vent quando precisa esvaziar o equipamento, você tem drenos que são em baixo e os vents que são para cima, enfim, num acidente ocorreu de uma válvula cuspir soda cáustica, criou uma chuva do produto. Alguém teria que ir lá resolver o problema. Chamamos a segurança e eles fizeram o aparato. Você sentia a soda cáustica batendo no rosto, saindo aquele spray, queimando um pouquinho. Um colega nosso, o Joaquim, hoje falecido, foi botar o protetor de PVC para se proteger, só que não cabia nele porque ele era gordo. Eu estava perto, tinha pouco tempo também, mas botei o PVC [policloreto de vinila], a máscara e o pessoal da segurança fez uma nuvem de água para eu poder entrar e fechar o vent. Eu estava tentando fechar o vent e não conseguia, foi quando percebi que eu estava tentando abrir uma outra válvula ao lado, ao invés de fechar aquela. Voltei de novo e consegui fechar. Ninguém quer um evento desse, mas eles acontecem e fazem com que na operação você dependa muito do outro. Isso vai gerando um vínculo muito forte.
Deus foi muito bom comigo. Eu nasci numa família maravilhosa e formei uma família maravilhosa. Minha esposa Valéria, meus filhos Mariana, João Carlos e Lúcia são os que me ajudaram a buscar esse progresso na empresa. Nesse meio do caminho, quando eu estava como técnico de construção e montagem, eu tinha um certo reconhecimento no trabalho, mas por causa de um dos problemas que vivenciamos na Petrobras como um todo eu não conseguia minha promoção de jeito nenhum. Havia um reconhecimento, mas foi uma fase que, por um motivo ou outro, enfim, dos mais diversos, eu não conseguia implementar minha promoção. Aí eu busquei alternativas e fui fazer uma coisa que eu gosto que é dar aula. Eu já estava me preparando, eu dominava bem o AutoCad, um software de desenho técnico. Falei “Vou implementar um cursinho de AutoCad.” Nesse meio tempo surgiu a chance de um concurso para o Estado, para a Faetec [Fundação de Apoio à Escola Técnica]. Eu fiz e fui aprovado. Esse software na época não era uma coisa conhecida por todos, mas na Petrobras, você tem a chance de lidar com tecnologia de ponta, o AutoCad era uma coisa nova, não havia muitos inscritos para o concurso. Mas na véspera da prova, em 1998, minha esposa, que estava grávida, começou a sentir contrações. Ela estava grávida do meu do primeiro filho, o João. Eu a levei no hospital e na volta eu passei em frente ao local do concurso. Eu perdi o concurso, mas no ano seguinte teve de novo, e em janeiro, meu filho nasceu, no dia seguinte ao concurso. Eu fui aprovado e comecei a dar aula à noite no Estado. Eu gosto muito. Sempre quis dar aula e ser engenheiro civil. Meu pai era maquinista de trem e eu não sei de onde surgiu essa vontade de ser engenheiro civil, que desde pequeno, e de ser professor também.
Gostei de ter participado. Acho interessante. A Petrobras tem muita história para contar e nós falamos tanto de ser um país sem memória. Algumas pessoas aposentadas, mais antigas, têm coisas interessantíssimas para contar, são fantásticos. Eu ouvia muitas histórias deles quando eu estava no zero hora. Eu viajava no tempo para poder enxergar como podia ser aquilo. Se eu tivesse que deixar um mensagem, em relação a minha história na Petrobras, eu diria, aos mais novos que, é preciso ter foco nas oportunidades. Tem que planejar e buscar. Demanda esforço, mas as chances aparecem. Eu ouvi de um companheiro que trabalha hoje como contratado, que é o Leonel, engenheiro aposentado da Petrobras, que uma pessoa daqui teve uma grande oportunidade mas não estava preparado para aproveitar a chance que lhe deram. Às vezes a gente pede para chover mel e quando chove não tem vaso para colher. Eu fico brincando com isso e sempre digo: “Você está preparando o seu vaso?” O grande segredo é esse, é estar preparando o vaso, porque se não preparar não adianta nada chover mel. Eu sou um fã do conhecimento, do estudo, adoro livros, adoro estudar.
Eu não posso deixar de registrar que na minha história aqui dentro e fora, têm aquelas pessoas que sempre estiveram presentes: a minha família, meus pais, minhas irmãs – que foram decisivos para eu poder, vindo de uma família humilde, ter conseguido a formação que eu consegui. Meu pai Manuel é falecido, minha mãe é Irene, minhas irmãs Regina e Fátima. Os amigos que cruzaram meu caminho, dentro e fora da Petrobras, foram super importantes para poder me incentivar em todos esses momentos, em todas essa lutas que eu travei para eu poder chegar e conquistar o que eu queria. A minha família é uma bênção de Deus. A Deus eu credito todos esses presentes, de ter nascido e formado uma família abençoada, de ter casado com alguém que veio de uma família abençoada. Sem eles eu não teria conquistado nada. Agradeço a todos eles, especialmente a minha esposa e aos meus filhos. Obrigado também a todos os companheiros que fiz nesses anos de trabalho. Aos amigos da operação, do antigo Sepen e os da engenharia, que são pessoas muito importantes na minha vida. As pessoas com quem eu convivo na escola também eu queria agradecer também. É um trabalho onde eu aprendo muito e você não consegue separar o professor, do engenheiro e pai Carlos. Tudo isso é um conjunto no qual a Petrobras tem uma parcela muito importante e no qual eu tento retribuir, aprendendo um pouco com essas pessoas e botando no meu trabalho tudo o que aprendi. Eu queria finalizar dizendo obrigado a Deus por tudo o que ele me deu, um obrigado a própria Petrobras pela oportunidade que me gerou, um obrigado a todos os meus companheiros com quem eu convivi até hoje. Obrigado a todos. Obrigado a Deus sobretudo.
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