Projeto: VLI – Estação de Memória : Porto & Pesca
Entrevista de David de Jesus Sá
Entrevistado por Luíza Gallo e Ane Alves
São Luiz, 29/09/2025 (Comunidade Cajueiro)
Entrevista nº: VLI_HV003
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Miriam Allodi
Revisada por Ane Alves
P1 – Vamos Lá! Primeiro eu quero te agradecer por ter recebido a gente aqui na sua casa e ter topadado compartilhar um pouco da sua história. E eu queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo a data e o local de nascimento?
R – Certinho! Beleza. Meu nome é David de Jesus Sá, a minha data de nascimento é 23/12/1956.
P1 - E que ano que foi?
R - 56 parece, 56. E eu nasci numa comunidade muito simples de Alcântara, chamada Pedra Branca, interiorzinho, Pedra Branca. E lá a gente passou lá uns tempos, porque meu pai já fazia viagem, de sair de lá e vim para cá, lá da cidade. Até que chegou o dia e ele fez a mudança de lá para cá, da Pedra Branca, para cá, para o Cajueiro. E aí, chegou. Disse à minha mãe, que eu vinha com a idade de nove anos. Vieram três filhos. E chegou aqui, o meu pai se assentou aqui. Ainda era muito mais fechado do que é agora.
P1 – A comunidade?
R – A comunidade agora está bem aberta. Tem até bastante morador. Que era para ter mais. E aí, ele ficou aqui. Ficou aqui 22 anos, morando aqui. Eu posso contar essas histórias?
P1 – Claro!
R - E aí, ele... Mas ele era assim, ele veio e ficou aqui. Aí, devido a algumas coisas assim, que não caiu bem no coisa dele, ele começou a fazer... Volta para trás, viagem para voltar para casa. Para voltar, ir embora. Mas a mamãe, ela chegou aqui, ela criou amizade aqui da comunidade. Saudade da comunidade. Assim, uma coisa assim, um gesto assim, de não querer mais voltar, para parte nenhuma. Queria ficar eternamente aqui. Mas como o papai, sempre ele... Que homem é sempre mais avarento. Bem, ele ficou. Até quando passou um tempo, aí andou acontecendo umas coisas aí....
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Entrevista de David de Jesus Sá
Entrevistado por Luíza Gallo e Ane Alves
São Luiz, 29/09/2025 (Comunidade Cajueiro)
Entrevista nº: VLI_HV003
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Miriam Allodi
Revisada por Ane Alves
P1 – Vamos Lá! Primeiro eu quero te agradecer por ter recebido a gente aqui na sua casa e ter topadado compartilhar um pouco da sua história. E eu queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo a data e o local de nascimento?
R – Certinho! Beleza. Meu nome é David de Jesus Sá, a minha data de nascimento é 23/12/1956.
P1 - E que ano que foi?
R - 56 parece, 56. E eu nasci numa comunidade muito simples de Alcântara, chamada Pedra Branca, interiorzinho, Pedra Branca. E lá a gente passou lá uns tempos, porque meu pai já fazia viagem, de sair de lá e vim para cá, lá da cidade. Até que chegou o dia e ele fez a mudança de lá para cá, da Pedra Branca, para cá, para o Cajueiro. E aí, chegou. Disse à minha mãe, que eu vinha com a idade de nove anos. Vieram três filhos. E chegou aqui, o meu pai se assentou aqui. Ainda era muito mais fechado do que é agora.
P1 – A comunidade?
R – A comunidade agora está bem aberta. Tem até bastante morador. Que era para ter mais. E aí, ele ficou aqui. Ficou aqui 22 anos, morando aqui. Eu posso contar essas histórias?
P1 – Claro!
R - E aí, ele... Mas ele era assim, ele veio e ficou aqui. Aí, devido a algumas coisas assim, que não caiu bem no coisa dele, ele começou a fazer... Volta para trás, viagem para voltar para casa. Para voltar, ir embora. Mas a mamãe, ela chegou aqui, ela criou amizade aqui da comunidade. Saudade da comunidade. Assim, uma coisa assim, um gesto assim, de não querer mais voltar, para parte nenhuma. Queria ficar eternamente aqui. Mas como o papai, sempre ele... Que homem é sempre mais avarento. Bem, ele ficou. Até quando passou um tempo, aí andou acontecendo umas coisas aí. Aí, a gente resolveu voltar. Ele resolveu voltar. Mas quando ele resolveu voltar para lá, os filhos mais velhos, já estavam tudo maior. Aí, não deu para ficar para lá.
P1 - Nenhum filho voltou?
R - Não deu para ficar lá no interior, para onde ele foi. Voltamos para cá. Mas só os filhos, ele não, ele ficou lá mais a mamãe. Ele não veio. Contanto que é como está até agora. Ele já não existe mais. E nem a mamãe. Aí, os filhos não estão todos aqui, os filhos. Tem em Brasília, tem em Castanhal, tem lá no interior de Alcântara também, um lugar chamado Peroba.
P2 - Mas o senhor pode contar para a gente o que aconteceu aqui, que seu pai quis voltar para Alcântara?
R - Não. O que aconteceu aqui... Pode que isso não é coisa de segredo, não é coisa ruim, não. Aliás, não foi bom também. Porque ele se desgostou muito. Vocês é porque não sabem. Mas aqui houve um roubo de gado. Não era gente daqui mesmo, não. Pessoas que vieram, chegaram, mas já vieram com esse trabalho deles. Aí, eles iam pegar os gados lá no campo dos fazendeiros e tal, e vinham. Mas a localidade deles, que eles estavam localizados, era aqui. E aí, o negócio começou a se fechar, porque eles não eram muito bons, não, o pessoal. Eles não eram muito, assim, confiável. Da gente confiar. E aí, porque eles até para terminar de preencher a desconfiança da gente, quando fez assim, mais ou menos uns dois anos que eles estavam aí, apareceu umas pessoas mortas, por aí. E aí, foi indo, foi indo, sem saber quem era, mas foi indo, até quando descobriu, a polícia descobriu e tal. Aí, prenderam eles e tal. E aí, chegou mais um medo na gente. Chegou mais um medo. Aí ele... Até chegou o dia de a gente se deslocar para lá. Foi! Mas aí os filhos voltaram, como eu já falei.
P1 - E são quantos filhos?
R - Eles tiveram 15, mas criado 10. E aí eles fizeram esse fecho com eles aí. Mas aí, ficou tudo suspeito, assim, preocupado em tudo. “Não, vamos embora.” Aí, quando chegou esse tempo, chegou o tempo da gente. O tempo da gente que eu digo, assim, o tempo dos filhos. Que o dele já tinha passado. O tempo dos filhos. E aí, a gente... Nós estamos por aqui. Os filhos, nos somos 3 aqui, moramos aqui. O resto, como eu já falei, que estão pra ali e para acolá.
P1 - E Seu Davi. Posso voltar um pouquinho?
R - Volta, porque também eu já não estou assimilando muito bem o negócio.
P1 - Não tem problema. Te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Agora, o dia do nascimento, não me contaram e contaram. Agora, só que eu não memorizei quase nada ainda. Mas a minha mãe dizia que eu nasci num dia de domingo, às 09h0 do dia. E daí, fui um filho assim, muito... Que dei muito trabalho, porque era ruim na comida. E a melhor coisa que tem, eu era ruim na comida. Mas tinha uma comida que eu... Depois que eu comecei a comer, comida de panela, essas coisas assim. Esse negócio de arroz, carne cozida, eu não queria comer não. Agora, quisesse matar ele, me intoxicasse de chibé. Você sabe o que é chibé? Chama Tiquara também. Outros chamam Tiquara. Isso aí eu gostava demais.
P1 – O que é?
R - É uma farinha molhada.
P2 - É uma farinha tipo farinha de puba?
R – E farinha de puba. Só que ela colocava dentro da água. Aí, às vezes, tinha que deixar amolecer um pouco, porque tem caroço, aqueles caroços. Deixa amolecer um pouco os caroços, para comer com peixe assado, camarão, carne assada. E eu queria essa comida com qualquer tipo de molhar que tivesse, ou peixe, ou carne, ou camarão. Podia ser cozido, assado, frito. Minha mãe, esse pezinho aqui, apanhou um bocado, porque ela vinha com outra comida e botava aqui. Nessa época a gente não usava mesa. Quem dera se tivesse uma mesa dessa aí. Era no chão. Em cima da meaçaba. Sabe o que é meaçaba? Uns chamam meaçaba, outros chamam esteira. Aí, botava aí para sentar, abria a perna aqui e ficava, e esperava... Não era prato também, era cuia. Quem chama, coité. Aí, molhava a farinha e botava, aí metia aqui. Ainda canhoto, ainda. Mas se ela viesse com o pirão, o peixe cozido, o arroz. Eu tacava o pé na comida. E ela pegava aqui, olha, olha. Rapaz! Depois de grande, maiorzinho, foi que ela foi me dizer isso.
P2 - E na escadinha dos irmãos o senhor tá... É um dos mais velhos, um dos mais novos.
R - Não, não, não. O mais velho já faleceu. Eu sou o terceiro. Antes de mim tem outro. Ele mora ali. É, tá bom! Que a criação do primeiro era boa. Hoje não sei como é que está, até porque eu não tenho filho. Eu não sei como é criar, o que é criar filho. Mas a minha criação foi boa. Mesmo com essas correções, que as correções eram pesadas. Mas foi boa.
P1 – O que mais que você lembra da sua criação?
R - Ah, da minha criação, o que eu me lembro, foi os afazeres, que a gente tinha que trabalhar. Não é como agora, que a lei é pesada, favorecendo as crianças, talvez até tirando os direitos dos pais. Mas de primeiro, não. Agora, também eu não era judiado, não senhor. O estudo, pouco. Estudo, pouco. A gente sempre morou em lugar que não tinha colégio. Às vezes, os pais é que contratavam as professoras, para ir ensinar a gente nas casas deles, assim. Aí, os pais, pegavam, se juntavam, eles faziam aquela casa, assim, armava, cobria tudinho, fazia assim, aquelas meia paredes assim, e tal. Que era para botar os filhos para estudar. Todos os pais que quisessem que o filho fosse estudar, tinha que trabalhar nesse colégio, para construir. Mas era rápido, que era de taipa. Não era de alvenaria. Mas também foi pouco estudo. E o meu pai, ele tinha assim, uma mente nele, que ele dizia assim, por a gente ser evangélico, ele ser evangélico, e criou a gente no evangelho. Ele disse que ele não queria para filho ser doutor, ser político, essas coisas, assim. A importância dele, é que os filhos estudassem para se desenvolver na Bíblia, a leitura da Bíblia. Esse era o básico para ele. Essas coisas. Mas se a gente quisesse, a gente procurasse, se não, por ele mesmo, parava ali. E aí, como também, os estudos na época, tinha, mas não era tão avançado. Aí eu também... Eu fui, cheguei até no primeiro ano. Cheguei no primeiro ano. Muito atrasado, que a gente saía da Cartilha do ABC e ia para um livrozinho chamado A Cartilha do Povo. Então, até aí eu fui. Mas comecei a ler um pouco. Ler. Escrever um pouco. A minha escrita não é muito boa não. E aí, a gente foi. E aí, como ele também não se esforçava. Porque tem pai que se esforçava, quando terminava aqui, saía fora. Como aqui não tinha, mais adiantado o colégio, saía fora. Mas ele, não, não ligou pra isso aí não. E aí, foi até... Quando eu vim resolver terminar os estudos, esse terceiro ano, já foi agora, 2000... Deixa me ver, meu Deus! 2013, não. 2012. 2011. 2010. Em 2010, eu vim resolver estudar. Mas só que também não deu muito certo, porque já foi muito cansativo. Muito cansativo. Além de ser cansativo, até por causa do serviço, do trabalho, que a gente tinha que trabalhar. E nessa época que eu vou terminar os estudos, eu trabalhava aqui de pesca. E o tipo de pesca que eu trabalhava, ele era um pouco cansativo e tinha horário X, porque é por maré. A maré, ela não espera você ir e você chegar. Não espera não. Você que tem que se cuidar, porque depois que ela vai, ela vai mesmo. Aí, quando ela vem, ela vem mesmo. Mas ela não vai esperar você não. E aí, foi o que eu fui estudar. Passei cinco anos estudando.
P2 - Mas vamos voltar um pouquinho ainda lá na infância. Vocês trabalhavam quando eram pequenos, na lavoura, com os pais?
R - Sim, a gente trabalhava na lavoura. E nas duas...
P1 - E nas?
R - Nas duas, nos dois trabalhos. Lavoura e pescaria. Porque na época que a gente trabalhava assim... Porque um complementava o outro. Você trazia da roça a farinha e o arroz. para dentro de casa, ou legume, como é? O feijão, assim. Mas ia no mar buscar o peixe, o camarão, o sururu. Onde tivesse, sarnambi, tal, tal. Aqui que não tem. E aí, em vez de ir para a feira comprar o peixe... Estava com a farinha aí, mas se não tivesse o peixe, tinha que ir na feira, no mercado, comprar para.... Então, como tinha aqui. A gente sempre morou assim, perto da maré, a gente ia pescar. Aí, já trazia para casa, o peixe, o camarão, o siri, o caranguejo e tal. Do que você saía atrás para pegar a comida.
P1 - E quais são as diferenças do tipo de pesca para cada, pra peixe? Para sururu? Para camarão? Tem muita diferença?
R - Pouca, porque tudo é na maré, no salgado. A maré que é o salgado. Se você for pescar, é na maré. Se você for pescar para pegar o peixe, é na maré. Se você for pescar para pegar o camarão, é na maré. Se for pescar para pegar o siri, é na maré. O caranguejo não, é na maré, e não é, porque o local que o caranguejo está... Aí, a maré tem que deixar primeiro, que é o mangue, deixar primeiro. Aí, depois que a maré sai, você chega e vai tirar o caranguejo no seco. No seco que eu digo, assim, que não é seco, é lama. Você se suja, você se coisa, tal. Mas é seco, sem água. Aí, depois você vem de lá, você vai se banhar, lavar o caranguejo e ir para casa para comer. E o peixe? Você vai pegar ele com a água.
P1 - Quando tem, a maré está cheia?
R - Sim senhora. Por acaso, ainda agora de manhã, uma 10h... Agora ela está na praia, que a gente chama na praia, que é grande. Na praia. E aí, ela vai vazar hoje, às 19h00, talvez, ela está rasa. E chama vazando. Aqui chama vazando, secando também, e tá baixando, baixando. E aí, depois, torna a encher de novo. De 6 em 6h. 6 horas enchendo e 6 horas vazando. Então são 12 horas, o trabalho da maré. Mas aí, a gente vai lá, a gente pega com ela vazando, pega o camarão, arrastando. Ou então de moruada. Porque você não sabe, moruada. A moruada aqui que se fala, a gente trabalha com 10, 15 puçá. Conforme o tanto de camarão que estiver dando, até menos, porque se você botar muita puçá, rede, lá, você não vai dar conta de ajuntar ele, catar. Que a gente chama, catar. Porque aí na pesca do camarão, de moruada, aí vem o camarão, vem o peixinho, vem a folha, vem tudo. Vem tudo. Aí, você vai ter que separar. O que tiver de melhor, você fica para você, que é para sua produção de venda de coisa e tal. E o que não presta vai ter que botar fora, vai jogar fora. Mas é assim, não é? O peixe também é a mesma coisa. Você vai pescar, pescaria para peixe, pegar peixe. Aí, você vai ter a condição das redes, por malha, malha de 20, malha de 15, malha de 35, de 30, malha de 40, malha de 50, malha de 100, também. Até de 150. Mas para você pegar já peixe, graúdo. E aí, você vai, pesca, coloca rede lá, cerca, conforme o tamanho da rede que você tiver, 500 metros, 200 metros, 1000 metros. Conforme o tamanho da rede que você tiver que cercar.
P2 - Eu queria voltar mais um pouquinho na infância. Queria saber se você brincava com seus irmãos e se a pesca fazia parte das brincadeira?
R - Sim, a pesca a gente brincava. A gente pescava, mesmo com uma preguicinha ainda. Que a gente ia por causa do pai obrigando. Certas vezes, não eram todas as vezes. Tinha vez que a gente não queria ir, assim. Porque às vezes você estava dormindo, ali à noite, as duas horas, levantar às duas horas da manhã, para ir pescar essa hora. Às vezes.
P2 - Com quantos anos vocês iam pescar?
R - Com quantos anos, a idade aí... Nem tanto pela idade, como era a desenvoltura do corpo da pessoa. Às vezes, estava com pouca idade, mas o corpo estava bem. Sabia que estava bem sadio. Por que não tem menino assim? Você pergunta: Rapaz, esse menino está com quantos anos? Tantos anos. Mas vê que o corpo dele está... Né não? Assim que era. E aí, mesmo assim, com seus dez anos. Menos. Oito anos. O pai já ia colocando já. Aí, era assim. Você ia. Às vezes, por causa da necessidade, porque a gente fazia essas pescas tanto para comer, como também para vender. Que através dela você via o dinheiro para comprar o açúcar, compra o café, fazer isso, tal e tal. Então, a gente tinha que ir. O meu pai, ele fazia assim, ele sabia como era o sofrimento. Porque até ele, como grande mesmo, pessoa adulta, e pai, tinha hora que ele também ia porque era o jeito. Aí, você estava dormindo, no inverno, a chuva...Mas tinha que ir. Mas tinha que ir. Porque se não fosse, você não inteirava aquela produção que estava ali, que era para vender. Por acaso, você já tinha uma porção aí de 50kg de camarão torrado, mas você estava querendo 100, para a porcentagem, o dinheiro vir mais. Então, a gente tinha que ir. Se você perdesse esta maré de agora, aí você não ia mais pescar nesta maré. Só ia na outra. Aí, já ia falhando. E a gente tinha que ir. Só se tivesse a chuva muito pesada. Porque tinha aquela chuva pesada, que só faz derrubar a gente, os caroços de água do tamanho desse carro. Não é eu que estou dizendo assim, não é não. Mas aquilo ali, era só naquela hora. Aí, às vezes, a gente ia chorando sim. A gente ira chorando.... Mas isso era só para ir. Pra vir, vinha cantando, assobiando, alegre. Sabe por quê? Porque tinha uma vantagem muito grande, boa. Que quando chegava, se fosse peixe, o cozido ia pro fogo. A gente ia logo comer. Papai não tinha hora para fazer comida dentro de casa, quando a gente pescava. Não! A hora que chegava... E ele mesmo ia pra tábua de consertar, que chama. Ele mesmo consertava. Ele só fazia chamar mamãe, mas ela não pegava em peixe, aquela hora ali. Ela só ia pegar no peixe para consertar, de manhã. Mas o cozido dessa hora, ele...
P2 – Vocês comiam de madrugada?
R - Qualquer hora, qualquer hora. Não tinha hora. De madrugada, de manhã cedo. Bastou ter o peixe fresquinho. Que ele gostava de peixe fresco, demais! Ele gostava. E gostava também de pirão. Ele não gostava muito de arroz. Porque ele plantava arroz... Porque na época não tinha arroz assim, comprado, como a gente compra... Era da roça. Mas ele não gostava muito de arroz. O negócio dele era pirão. Agora, era assim, o que ia pescar, ia pescar, chegava aí na hora e vinha... Se um filho que não tivesse ido pescar, tivesse aí em casa, se ele acordasse pela conta dele. Ele não chamava. Pela conta dele, aí ele vinha comer, se ele acordasse. Mas ele, “e fulano, e fulano, e fulano vem comer.” Não! Porque disse que fazia ladrão. Essa era a conversa dele, que eu não sei. Graças a Deus, lá em casa não deu nenhum. E aí, ele fazia assim. É, ele fazia. Essa hora, acabava toda a preguiça, acabava toda... A gente ficava tranquilo.
P1 - E o que que vocês cantavam?
R - Cantava, na vinda lá para cá? Era hino, o hino da Harpa, crente.
P1 - Como é?
R – “Como cego andei é perdido vaguei...” Qualquer hino que você aprendesse, que você sabia. Que nessa hora não podia olhar para aquele livro ali, para Harpa, que a gente estava andando. Mas estava na mente. Aí, a gente vinha cantando, alegre, já sabia que ia ter o cozido. Aí, vinha alegre. Aí, pronto! Até essa hora. Aí, dessa hora aí, às vezes dizia: olha, nós vamos na roça, tirar um leito de mato...
P1 - O que é isso?
R - Capinar na roça, limpar os pés de milho, arroz, tal, que sujava, o mato. Aí, quando ele dizia assim: mas nós não vamos agora, nós vamos só duas horas. Porque papai trabalhava assim, em roça, mas ele não gostava de pegar muito sol quente, não. Não senhor! Ele nunca gostou de trabalhar de aluguel, parceria. Por causa disso, porque tinha uns parceiros que judiava com a gente, e por isso ele não gostava de fazer o serviço dele. Quando ele formou a família dele, só ele e a família dele. Então, “não, nós vamos três horas. Agora, vamos todo mundo descansar e tal...” A essa hora criança ia descansar era nada. Ia era brincar, de correr para lá, correr pra cá, fazer cavalo de bananeira. Que não tinha outra coisa. A gente era proibido de jogar bola. A gente era proibido jogar bola. Aí, a brincadeira era essa, ia fazer carro, assim, no terreiro, porque lá onde a gente morava ali, era assim, na frente da casa, era um terreiro limpo, grande. E para trás tinha uns pés de árvores, tinha coisa... Aí, a gente fazia os carros, fincava as estacas assim, ó, e fazia o modelo do carro, o modelo da boleia, fazia o modelo da carroceria. Agora, o motor estava na boca. O motor era na boca. Botava o guidom e tal, tudinho e saía. Cada um de nós, filho de papai, parente, que todos moravam perto ali. Tinha um carro e tinha o nome do dono. Agora, só que o nome do dono não era da gente próprio, botava nome de dono aqui, por acaso, Vila Maranhão, tinha um rapaz que tinha um caminhão lá, a gente dizia: ah, o meu carro é o carro de Chico da Panada, porque era o melhor que tinha, um Chevrolet. Era o melhor. Aí tinha até essa questão entre nós. “Não, o meu é de Chico da Panada.” Aí, o outro, “não, o meu é de Maióba! O carro de Maióba. Outro carro velho, tinha aí. E assim, possivelmente. Aquela brincadeira. Ou quando não, ia brincar de cavalo, fazer o cavalo de coisa de bananeira. A gente amarrava uma corda aqui atrás, outra aqui na frente, aí fazia o arco e pendurava aqui assim, assim no ombro. Aí, saía correndo aí. Saia correndo. Era bom, não era ruim. Quer dizer, nesse tempo, a gente. Hoje não! E aí, isso aí. Terminou isso aí e tal. A gente ficava assim, imaginando, a noite, vai pescar de novo. Aí, quando era de noite, assim. “Rapaz, eu vou dizer que eu estou com dor de cabeça.” “Eu vou dizer que eu estou com febre.” Mas a gente pensava na febre, que ele vinha e apalpava a gente assim, e via se a gente está quente. “Não, a dor de cabeça é melhor, porque ele não está vendo.” Rapaz, a gente inventa muita coisa. Crianças e bicho... Tudo isso.
De vez em quando, quando nós estamos assim, na roda, a gente fica pensando e contando os passados. E só lembrando do passado. Assim. E fazendo graça, rindo e tal. Aí, também tinha outra brincadeira que a gente fazia, como nessa época não tinha outra diversão, a diversão para nós era a igreja, era a igreja, os pastores. Aí, tinha aqueles pastores que ficavam assim na coisa da gente, na mente, aquela coisa. A gente gostava e tal. Aí disse: agora nós vamos dirigir uns cultos. Dirigir culto. Que é o que faz hoje, os crentes fazem. Dirigir culto. Aí nós ia. “Quem é o pastor?” Aí, essa hora era mais quem queria ser pastor. “Quem é o pastor? Quem é o pastor?” “Eu sou o pastor.” Aí, nós arranjáva um bocado de papel e arranjava assim, umas cancelinhas assim, e botava dentro das cancelas, para dizer que era a Bíblia. Então, é tudo isso aí. Saia. Aí, nós ia em casa e tal. O pastor. Aí, os irmãos iam para lá, se reunir primeiro lá e tal. Aí, tinha as meninas também... Tudo misturado, menino, menina, não tinha disso. Aí, derradeiro chegava, era o pastor. A pasta na mão... Ai, meu Deus do céu! O Pastor chegava, entrava. “O pastor chegou, o pastor chegou!” E tal. E agora vamos ouvir o pastor. Ia falar, o pastor ia falar. Então, a gente fazia. Também aquilo ali era só aquela hora, terminou, terminou. Aí, ia jogar logo tapão nos outros... A gente brincava nessa época. Assim, não era brincadeira pesada e nem para fazer mal para ninguém. Era brincadeira. Até os pais também botava para jogar cabeçada.
P2 - O que é jogar cabeçada?
R - É cabecear, brigar e jogar no chão, assim. Cabeceava e jogava para lá. Aí, tinha os bons de cabeçada, tinha os bons. Aí, a gente coisa ali. Mas ninguém se zangava, porque se zangasse, aí já era com os velhos. Pois é, não podia zangar-se.
P1 - O seu Davi, e quando a pesca não era boa?
R - Quando a pesca não era boa, a gente tinha que se conformar! Porque nem todo dia tá para pesca ou tá para peixe. É o ditado que diz aí. Nem todo dia tá para peixe. Agora, só que os pescadores, muitos, eles, às vezes, já sabiam os dias, que dá peixe. Não da igualmente de um dia para outro, igualmente assim, mas a gente sabe o dia que... “Rapaz, hoje está bom de peixe, a maré...” O igarapé fulano de tal hoje está bom da gente ir lá pegar peixe, cercar ele. Porque é com a rede. Cercar....
P2 - Mas como vocês sabem, o dia que está bom?
R - Conforme as marés, quem sabe, pela marés. Não é toda maré que dá peixe, que é bom pra peixe.
P1 - Mas vocês iam até... para ver a maré?
R - Não, não, não. A gente já... Principalmente os mais velhos. Os mais velho, já tinham na mente já. O meu pai, ele é analfabeto de conhecer só o O quando ele se sentava na areia. Mas eu nunca vi homem inteligente, conhecedor de planeta. Os planetas aqui. Sete Estrelas, Cruzeiro do Sul, Caminho de Santiago. Era... tinha era muito, muitos planetas, que ele sabia. Aí, quando ele já estava assim, principalmente, quando estava em coisa de pescar. Ele saía fora, assim do lado de fora, olhava. “Vixe, a maré tá para encher.” Pelo planeta. “Maré tá para encher. As sete estrelas está para tombar para cá.” E a gente saía de casa, esse horário, saia. Digo: Rapaz, como é que papai sabe isso aí tudinho? Quando a gente chega lá, a maré está enchendo mesmo! Como é que é isso? Você acredita que eu não aprendi isso? Era mim ter aprendido, né? Mas não aprendi não. A lua, quando a lua saía daqui... Aí ele disse: olha a lua já saiu. Meia hora antes da lua sair, a maré começa a vazar. Meia hora. Quando ela tá aqui empinada, mesmo aqui. Aí, ele olhava, dizia: a maré já tá para encher, a lua tá para tombar. Tombar que ele dizia, era passar para esse lado aqui. Ele sabia tudinho. Não saía errado. Aí, tudo bem. A gente ia, pescava, vinha. Chororô mesmo, mas ia. E aí, ia embora.
P2 - Mas vocês pescavam já lá em Alcântara com seu pai ou começaram a pescar aqui?
R - Não, não. Lá em Alcântara eu não pescava, até porque eu estava pequeno ainda. Eu cheguei aqui com idade de nove anos. Lá era mais difícil do que aqui, porque aqui é uma beirada de praia, se torna mais fácil. Mas aonde é igarapé, Porto de cabeceira, que a gente chama. Porto de cabeceira, se diz assim, porque a maré só chega de 12 em 12 horas, ela vaza agora as 6h e ela vai chegar 6h de novo aqui na enchente. E aí, para criança é mais dependioso, a não ser que ele tenha embarcação, que ele saia embarcado na canoa e volta embarcado. Mas se for assim, a Val como aqui, que aqui, a gente vai a Val, que chama Val assim, por dentro da água, da lama. Não é preciso canoa. A Val, quando se fala a Val, é porque não é preciso canoa.
P2 - E por que que seus pais vieram para Cajueiro?
R - Até por... alguma notícia. Notícias boas. E aí, ele mesmo, ele influente por mudança. Que ele era influente por mudança, meu pai. Caboclo contava uma vantagem para ele, ele já queria... Foi por isso. O tio dele, que era de lá também,
aí veio embora para cá. Quando ele, depois... Que ele tinha barco grande, de transportar carga. Aí, ele chegava lá e ele dizia: Ó Cambá, vamos embora lá para o Cajueiro, Rapaz. O nome do meu pai era Cambá, nome não, apelido, o nome dele era Porfirio. E aí, ele dizia: vamos embora pro Cajueiro, Rapaz! Lá no Cajueiro é bom e tal. E começava botar aquelas vantagens. Aí, foi assim, até que ele... Ele mesmo que trouxe a mudança, no barco dele, de papai pra cá, foi ele. Então, ele veio, através de convite. Aí, nós chegamos aqui no Cajueiros. E foi bom mesmo! Não foi mau, não foi ruim. Porque lá ele já era acostumado a trabalhar na roça, pescar. Só que lá ele pescava mesmo só para comer, para alimentação, não vendia. Porque até lá onde ele morava, era só família. E quando tinha uma coisa assim, na casa de um, todos tinham, mas não era comprado. Podia ser carne de bicho do mato, podia ser... Só quando era matança de boi, boi, boi grande, que eles criavam. Mas aí, eles faziam aquela encomenda, que eles diziam que era... Botavam na nota. Que para matar o boi, primeiramente eles anotavam tudinho assim: fulano, quantos quilo de carne tu vai querer? Aí, ele dizia: Rapaz, Bota uma arroba, meia arroba. Uma arroba é 30kg, meia arroba e 15 kg. Dez quilos, cinco kg. Aí, até quando vendesse o boi todinho, vivo ainda. O boi ainda estava vivo, mas ele já tinha vendido boi, tudinho. Porque quando matasse não era para ficar nada, para não estragar. Mas a não ser negócio de peixe, essas coisas assim, eles não compravam, porque era só família que morava. E aí, ele...
P2 - É o senhor, lembra quando chegou aqui no Cajueiro como era.
R - Sim, sim. Uma lembrancinha. Uma lembrancinha. Aqui, quando nós chegamos aqui, que a gente começou a trilhar, começou a andar daqui para Vila Maranhão. Eu não, assim, que ainda estava ainda... Mas esse pessoal mais velho ia para a Vila Maranhão, ia para o Mercado Central, pro São Francisco. A gente ia andando. Andando, porque não tinha carro pra gente ir para a cidade. Hoje é a questão que muitos as vezes aí, falam mal daqui, e eu fico só olhando assim, dizendo: Rapaz! Ô infeliz! É isso mesmo? Se tu soubesse como era aqui antigamente, tu não sentava mais nem o pé aqui.
P2 - E se o senhor e os seus pais vieram morar aonde aqui?
R - Ali, num lugarzinho chamado Centra. Centra. Ainda tem gente lá, tem gente lá morando.
P2 - Mas já tinha uma casa certa para vocês virem?
R - Não. A gente veio, ele veio para a casa de uma pessoa aí, que cedeu para ele. Aí, deram logo um lugar de casa para ele. Aí, ele fez a casa dele. Depois o restante da família veio chegando também e fazendo as casas deles. Mas não tinha casa. Viemos pra dentro da casa de outro. Mas aí, ele cuidou, que era uma coisa que ele gostava demais... Gostava e não gostava, era de morar em casa de pessoas assim. Ele queria saber da dele, seja lá como for, mas a dele. Que ele nunca teve casa de alvenaria, casa sempre foi casa de taipa. Porque nessa época, tijolo era muito difícil. E aí, a gente não tinha. A casa era toda... Só que a madeira também, aqui na época, ainda encontrava madeira boa pra fazer casa. Como se chama assim, madeira boa? É aquela madeira que a gente bota no chão, os esteios que é fincado no chão, que a terra não rói muito, o cupim não rói muito. Rói, mas custa. E aí, ele tirava, tirava madeira boa. De cima também, a mesma coisa, madeira boa. E aí, ele fazia. Ele fez a casa.
P1 - E como era essa primeira casa de vocês?
R - Como que era? Como? Tamanho? Tamanho era grande, que papai, ele nunca gostou de casa pequena.
P1 - Vocês todos eram grandes.
R - Nessa época, não, ainda não estava todo mundo grande.
P1 - Mas você sempre foi alto?
R – Quem?
P1 - Você
R - Não. Olha, para você ver, eu me admiro demais de mim e dos meus irmãos. Deles todinhos, o mais alto é eu. Os outros são mais baixos. E eu custei crescer demais. Custei crescer demais. “Rapaz, mas eu não cresço?” Todo tempo aquele tamanho. Aí, ele dizia pra mim: aonde? Rapaz, pois quando comecei a desenrolar para crescer, meu irmão! Agora, tem gente que diz que eu sou alto. Mas tem gente aqui muito mais alto do que eu. Muito mais alto que eu. Eu só tenho 1,65 m.
P1 - Mentira. 1,65m?
R - 1,75 m, que eu tenho. Ali tem um menino ali, que ele está com 19 anos, parece, Rapaz, o menino, está dando quase 2 m...
P1 - Mas aí, como era a casa de vocês? Vocês dormiam todos juntos?
R - Não, papai era assim, o quarto dele, mais da velha dele, ele fazia separado. Assim, separado, só dentro da casa. Só que ficava separado, a dele assim. Aí, das meninas era um, dos meninos, era outro. Então, ele dividia tudinho. A casa dele, era só casa grande que ele fazia. E às vezes, ele ainda fazia o salão para dirigir culto. O culto dos crentes.
P2 - Ele era pastor?
R - Não, ele era crente, pastor nunca foi. Até porque ele era analfabeto, não dava pra ser pastor. Não sei. Mas sempre crente, ele. E às vezes, o lugar, bem ali na Camboa, que ele morou lá também, não tinha a igreja. A igreja a gente chama assim, a casa para o pessoal se reunia dentro, não tinha. Então, a casa que ele fez para morar, ele separou um salão, para eles fazerem o culto deles.
P2 - O pastor do local...
R – É, o pastor vinha… Que não era daqui, era lá de São Cristóvão, que ele ficava. Ele vinha, chegava e já tinha o salão. Que agora é só templo bonito, mas de primeiro não, os templos eram humildes e tal. Agora tem templo aí, que você tem até vergonha de tocar o pé dentro dele. Não é não?
P1 - E você, conviveu com seus avós ou algum parente? Tios? Primos?
R - Eu já cheguei a ver meu avô, o avô da parte mamãe. Da parte do papai eu não conheci. Mas o avô da parte de mamãe, a minha avó da parte de mamãe, a minha avó da parte de papai, eu conheci ainda.
P1 - Como que eles eram?
R - Eles eram assim, bem dizer como a gente, porque era moreno e tudo, e tal. Analfabeto também. E para ver, mas nunca, não sei como eles criaram aquela fé assim, tudo evangélico. Tudo evangélico. Então, a gente vem de uma geração, como eu vou dizer assim, evangélica, em tudo. Mas eles participaram também de outras coisas lá, antes de ser evangélicos. A minha mãe, a minha tia, chegaram até ser Pai de Santo. Sabe o que é Pai de Santo, não sabe? Chegaram a ser Pai de Santo. Mas aí, dizendo elas, que elas não gostaram daquilo, não quiseram aquilo e tal e tal. Então, por onde eles acharam que eles iam ser libertos, que eles chamam de libertação, era através da igreja, sendo evangélico. Aí, pronto, não seguiram.
P2 – Senhor Davi, e o que que a família fazia para se divertir? Quando não estava trabalhando, não estava no culto. Vocês tinham alguma coisa para se divertir? Vocês iam à praia em família para se divertir?
R – Está aí uma coisa, que hoje é o que traz assim, um pouco de confusão, confuso na mente da gente. Porque na época disse que era proibido, praia, jogar bola. Ir para a praia, até mesmo... Para a praia a gente ia pescar. Pescar, mas outras coisas não, se divertir.
P1 - Por quê?
R - Porque achavam que era... Como se diz? Desobediência. Outros diziam que era pecado. Que não é pecado. Diziam que era pecado. Jogar bola era pecado. Que não é pecado. Eu já estou dizendo assim logo para vocês, que era pecado. Não é pecado, porque hoje a gente já discerne isso daí, muito diferente do passado. Mas que foi ensinado assim, foi. “Você não pode jogar bola, você não pode isso, você não pode aquilo, você não pode.” E hoje a gente... Quando a gente vê e está aí dentro das igrejas, a gente fica assim: poxa, tanto tempo que eu perdi para jogar bola e não joguei, porque era pecado. E agora não é? A gente fica se perguntando.
P2 - O Senhor via as outras crianças jogando bola e tinha vontade?
R – Tinha vontade, eu fugia de casa. Mas fugia com muito cuidado, para quando chegar não apanhar. Se o velho soubesse.
P1 - Como você fazia.
R - Eu saía, eu pegava outro irmão meu, assim, mais novo, que tinha lá. Tinha a casa de um rapaz chamado Chico Francisco, aí lá ele tinha um menino, aí ele comprava bola pro filho dele. Mas não era jogar em campo não, a gente não jogava em campo não. Aí, nós íamos pra lá, chegava lá, nós pegávamos a bola. “Viemos joga bola contigo.” Aí, pegava a bola, o terreno dele era grande, e jogava. Aí, vinha de lá. Mas com um pé no padre e outro na missa, pra não saber que a gente tinha ido jogar bola. Mas era assim, por que senão? Agora, isso também, gente, isso aí dependia muito também dos pais. Porque quando o pai era... aí a pessoa mesmo ficava, assim... Mas tinham pais que não ligavam. E eu ficava brava muito. Rapaz, papai não deixa a gente jogar bola e esses pequenos aí? Filho de irmão Geraldo, filho de não sei quem, tudo que era crente, jogam bola. Que era crente, joga bola e a gente não joga. Por quê? Mas é porque ele é muito rígido, rígido. Tá bom! Aí eu não vou condenar, porque eu não posso condenar ninguém.
P2 - Aí você fazia alguma atividade com seu pai, com a sua mãe, para se divertir?
R - Só roça e pescaria. Fazia, não. Não fazia, não. A diversão que a gente via que eles faziam, a gente gostava também, quando era época de festa na igreja, o que eles faziam muito era bolo de tapioca para a gente comer. Bolo de tapioca.
Fazia, era a diversão. Dia de ano, Natal, era uma festa lá em casa. Matava galinha, matava porco, se tivesse. Matava isso e aquilo, para fazer aquela comilança. Pra gente comer. Meia noite comer bolo com café e chocolate, não sei o que. Um bocado de coisa. Isso aí eles faziam.
P1 - Comemoravam sempre os aniversários?
R - Não. Natal! Aniversário, eu estava até falando ontem ali para o Manoel. Que essa noite, teve aniversário de uma menina deste tamanho, assim, do rapaz ali. Esse que eu estou dizendo que está com quase dois metros. Ele tem essa menina. Aí, eu estava dizendo. “Irmão, você acredita que eu nunca fiz um aniversário meu? Eu nunca festejei aniversário.” “É mesmo, irmão?” “Não, nunca, nunca.” Papai e mamãe, nunca fez. De filho, mesmo, quase nenhum. O mais velho foi fazer um aniversário dele, ele mesmo, depois de grande. Agora, o que eles faziam muito... De vez em quando eles faziam, porque eles faziam quase assim como uma promessa, culto de Ação de Graça. Estava com um problema qualquer, aí ele pedia para Deus aquilo ali, tal, o livramento, tal, tal. E oferecia o culto. “Se acontecer isso aí, eu dou um culto de ação de graça.” Agora, esse culto de ação de graça, lá em casa, era uma festa. Porque vinha gente aí de São Cristóvão para cá, vinha gente, andando, mesmo assim, vinha gente. Porque já sabia que era aquela fartura. Que a gente chama de fartura. Nesse dia era muita coisa.
P2 - Era um dia que rezava e comia de tudo?
R – Rezar não, que a gente não chama de rezar. Orava, orava, cantava e tal e tal. Era um dia com uma noite de festa.
P1 - E seu Davi, vocês já pescaram com embarcação? Quando foi isso?
R – Já, com embarcação? Quase todo o tempo a gente pescava...
P1 - Vocês tinham uma canoa?
R - A gente já teve canoa, embarcação. Eu só nunca fui pescar em alto mar. Como eu falei para o menino lá... Falei não, eu disse para ele, falar é quando a gente fala zangado, bravo, coisa. Eu disse para ele, que ele me perguntou, eu disse para ele. Eu nunca pesquei no alto mar, mas aqui na Baía de São Marcos para cá, até a Ilha dos Caranguejos, tudo, tudo. Agora, para esse lados aí, é de canoa. Quanto mais longe, uma canoa maior. Canoa pequena é aqui mesmo perto, por aqui.
P1 - E já teve um dia bem difícil de pesca com canoa? Que você passou por um sufoco?
R - Não, eu nunca passei por sufoco. Mas... E também não foi... Porque o caminho mesmo é difícil. A onda faz, ela faz muita coisa. Às vezes, hoje ela está mais ou menos calma, mas amanhã ela está mais brava. No caso. Vai conforme maré, o vento. Porque ela é agitada pelo vento. Mas onde eu já encontrei mais... Não foi problema, não, é porque ela estava brava mesmo, foi para a Ilha dos Caranguejos, porque daqui para lá a gente... É o que? 5h de canoa. 5h de canoa. E 5h/6h de lá para cá também. Mas aí é bom! O pescador que está acostumado, ele não estranha nada. Só se ele já chegar a cair num naufrágio. Agora, aí, é mais pesado um pouco. Mas para quem sabe nadar, para quem sabe todas as manhas... É ruim, porque a pessoa fica desapoiado, sai de dentro de uma canoa e fica em cima da água à deriva, aí é pesado. Mas acontece! Isso aí acontece.
P1 - É o que precisa levar na canoa para ir pescar?
R - Mas quando a gente vai assim, que nessa época a gente ia para lá para tirar caranguejo, para vender aqui na cidade. Tirar caranguejo. Lá não era pescaria de peixe, era caranguejo. Ah, mas aí a gente leva... Tem gente que leva arroz, eu gosto de levar mais é farinha. Eu levava mais era farinha. Farinha, açúcar, café. Essas coisas de alimentos. Essas outras coisas a gente não levam não. Porque lá, você é como quando papai ia pescar, que chegava em casa e o cozido ia para o fogo. Lá o que apanha lá bastante, é o cozido, peixe, peixe. Eu vou chegar lá com fome, que sempre chega de maré baixa de vazante, a gente vai lá, pegar peixe, bagre, etc, etc... Que é para botar no fogo cozido. Aí, come. Aí, espera a noite passar. Aí, no outro dia cai no mangue para tirar o caranguejo. É bom!
P1 - Histórias engraçadas você já teve alguma, indo pescar?
R - Pouca. Engraçada, não. Mas aí tem gente que... “Rapaz, eu fui pescar eu ouvir tal coisa assim, assim, assim.” “Foi mesmo? Aonde?” “Em tal lugar. Em tal igarapé, tal coisa assim, assim.” Mas esse negócio de assombração, porque onde você vai pescar, que não tem onça, e você vê onça, não é ruim? É ruim, né?
P1 - Já aconteceu?
R - Sim.
P1 - Como que foi?
R – Lá na Ilha dos Caranguejos. Na Ilha dos Caranguejos, lá não tem onça. Eles dizem que tem. Mas lá não tem mato, mas tem lagoa de água doce. Como é isso? Vocês acreditam nisso?
P1 - Se você diz...
R – E aí, você vê... Eu nunca vi, para falar a verdade. Mas tem gente que vê. Mas está aqui a proa de areia. Agora isso é só de noite, a gente só vê de noite. Não sei por que. Eles... Como eu estou dizendo, nunca vi. Mas quando a onça está passando lá em cima da areia. Tem uma história, que houve um rapaz, que foi pescar para lá, eles eram três. Aí, eles deixaram... Porque lá, quando é noite, a gente não deixa a canoa lá dentro do mangue, assim, no fundo do igarapé. Quando é a noite, a gente sai aqui para fora, para as croa. Até por causa da praga e o vento, que aqui ele coisa mais, o vento.
Aí, dizem, que eles não quiseram vir para fora, ficaram lá mesmo. E aí, disse que quando é tarde assim, chega um negócio lá. Aí, chegou, olhou, olhou os três e conferiu os três. Conferiu os três. Aí, voltou. Aí, voltou. Quando chegou lá... Aí, dizem que ele falou. Eu estou dizendo, dizem, porque praticamente não é certeza. Aí, disse que ele chamou os companheiros. “Vamos ali que ali tem três pessoas ali, assim, é um para cada um.” Aí, foi! Quando eles chegaram lá no ponto, lá onde a canoa estava. Que esse um tinha conferido. Olhou, aí saiu. Cadê, cadê, cadê, cadê, cadê? Eu quero meu, eu quero, eu quero, eu quero, quero, quero... E nada, eles já estavam aqui fora. Aí quando eles deram... Aí, disse que ele chegaram lá na beirada da mata, três bicho. Era bicho, não era gente, era bicho. Mas era assim como uma pessoa. Então, eles deduzem que era aquele Macaco Orangotango, aquele macacão. Disse que era isso aí. Mas não agarrou porque eles saíram do ponto, foram embora. Tá bom! Aí, muitas…
Essa lenda, muitos contam. O irmão que eu tenho ali, quando ele foi a primeira vez tirar caranguejo para lá, e foi o nosso irmão mais velho. Aí, disse que eles estão lá jogando dominó... Que isso tudo eles levam para se divertir lá, na hora de dormir. Aí, eles estão lá e tal. Quando ele pensou que não. Aí, disse que galo cantou. E lá não tem nem gente, que dirá galo. O galo cantou. Aí, ele disse assim: Ó Isaías, o galo está cantando por aí. Isaías, disse: Rapaz, te cala, rapaz, o que a gente ouve e vê, a gente não diz. Dessas lendas assim. Não diz. Ele também se calou. Mas diz que tem essas coisas lá. É história também de pescador. Não, mas tem muitas coisas que existem. Existe e tem. Agora não é para todo ver.
P1 - Só alguns.
R – Só alguns. Que uns tem o olho aberto para isso, outros não tem. Não se mostra para todos não.
P2 - Seu Davi, quando vão pescar assim mais longe, dorme no lugar da pescaria?
R - Dorme na pescaria, na canoa.
P2 - Dentro da canoa?
R - Dentro da canoa.
P2 - Aí dorme na canoa. No outro dia pesca mais?
R - Pesca mais. Porque a gente está pescando produção, para trazer bastante para vender, não só para comer. Aí, tem a despesa que a gente faz e tal. Tem que vender, tirar a despesa. E produção. É serviço para produção.
P2 - E onde vende o peixe?
R - Onde a pessoa tiver, o patrão, a freguesia, a feira. Aonde ele estiver e a encomenda que ele deixar, já encomendado para vender.
P2 - Já encomenda, tipo assim: ah, eu quero não sei quantos kg de camarão, por exemplo? Aí, vocês têm que ir atrás do camarão. Mas aí as pessoas vêm buscar aqui, ou vocês levam até as pessoas?
R - A gente faz a encomenda para o dono. Como aqui, aqui eu já vendi muito camarão, camarão eu já vendi muito. Porque eu trabalhava com a Moruada. Não era minha, mas era do rapaz ali, e quem trabalhava era eu. Aí, eles vinham apanhar aqui. Aí, conforme, 2 dias, 3 dias. Aí, eles vinham aí, chegava aí era 150 quilos de camarão, 100. Quando estava dando menos, era 80, 70, que não estava dando. Mas, quer dizer, a gente tem que trabalhar assim, já com comprador. Porque se você trabalhar sem comprador, fica ruim para você, porque você vai perder ele. Três dias, quatro dias, já tem que tirar ele para fora. O comprador de feira ou daquele... Que vem buscar a compra e leva.
P2 - Ele vem aqui, aí faz o acordo com o senhor de quanto de peixe ou de camarão ele quer. E no dia que ele vem buscar?
R - Não, ele leva a quantia que tiver. Não é por... “Só venho buscar tantos quilos… Não! O comprador efetivo, ele tem que levar... Só que também pouco demais não. Mas ele tem que levar toda a quantia que tiver, de 100 para cima, que tiver, tem que levar. De 100 para baixo também.
P1 - E como que vocês guardavam os peixes? Como vocês faziam para ele não estragar?
R - Quando é gelo, é no gelo. Quando não é gelo e no sal. No sal. A gente vai torrando, camarão. Vai torrando, torrando, salgando, salgando, deixando aí. Só tem um segredo, que a gente não pode estar tocando a mão nele, porque ele puba, ele mela. E depois de ele pubar e melar, não presta mais. Mas aí ele tem que ficar no reservatório aí até no dia dele sair para fora.
P1 - E aguenta quanto tempo?
R - Aí, aguenta 8 dias.
P2 - Com sal?
R - Com sal. Aí, no gelo, se não acabar logo o gelo, ele também aguenta uns dias, aí, forte mesmo. No gelo. Mas você tem que ficar trocando o gelo, porque aí o gelo vira água. Então.
P2 - Mas tem de fazer alguma preparação nele antes, Limpa? Tira alguma parte?
R - Não, mas é claro! Não é que eu estou dizendo. Eu já falei aqui, para repetir de novo não dá. Porque se não o negócio...
P1 – Dá! O Que é?
R - Não. Eu já falei aqui que a gente pesca de moroada, vem tudo, camarão, peixinho, camarão miúdo, siri, tudo. Porque a malha da rede ela é assim, é isso, entra uma cabeça de dedo, assim. Aí, o que cair dentro dela não sai. Só sai se você tirar. Aí, que eu estou dizendo, vai ter que catar. Chama catar. Separar os melhores e jogar os piores fora. Que nessa hora parece ser pior. Não é pior, é porque ele não fez foi crescer e não deu tempo dele sair de dentro da rede. E assim.
P1 - Quando vocês vão pescar ou iam pescar, vocês faziam algum tipo...
P1 - Vocês faziam algum ritual assim, antes de entrar no mar? Antes de começar o dia de pesca?
R - Pra crente é oração. Para quem não é crente, é como você falam, reza.
P1 - Mas toda vez vocês faziam?
R – Não, nem todo mundo não faz isso. Mesmo, nem todo crente faz isso. Chega lá e vai entrando de qualquer jeito. Nem todo mundo faz isso. Agora, tem gente que tem aquela rotina assim, e tal, chega, pega um pouco de água, se benze, tal, tal, tal. Mas isso aí é o ritual deles.
P1- Tem alguma história de pescador sua que você queira contar para gente?
R - Não, não tem.
P1 - Já tá bom?
R - Não, história eu não tenho mesmo. Estou dizendo que não tenho, porque eu não tenho história. As histórias são essas. Tem gente que tem muita história, assim...
P1 - E pensando na época que você começou a pescar e agora, você sentiu diferença na pescaria? Seja por quantidade de peixe que mudou, ou se vocês pescam mais lixo, tem aparecido isso, ou não?
R - Sim, devido às empresas. Que não sei se é...
P1 - Pode falar.
R - Devido às empresas, a gente tem encontrado, vou até dizer assim, muita dificuldade, porque na época que não tinha empresa aqui no nosso litoral. Vou dizer litoral. A gente não encontrava essas dificuldades assim. Primeiro, qual é o tipo da dificuldade que a gente agora está encontrando bastante que não tinha no passado. Era a fundura da lama. Porque a lama ela se tornou assim, quase uma água, aí passou, que a gente chama assim, passou a atolar muito as beiradas, onde a maré seca, até onde a maré seca, você não se segura dentro da lama, porque é funda. E na época, como a gente viu, a lama, era uma lama dura, não descia muito. Mas hoje não... A gente vai pescar, como eu digo assim, maré seca, você não se segura, você vai com lama aqui. Agora, quem gerou isso? Eu o que eu já comecei a falar, as empresas. As empresas que geraram isso daí. Porque até então, antes delas, não era assim. Por que está assim agora? Porque a Alumar, que é uma empresa aqui, que ela trabalha beirando o igarapé do Estreito do Mosquito, onde vai passar naquela ponte lá da Estiva. Ele desce bem aí. E a Alumar está mais aí em cima um pouco. Aí, para eles conseguir abrir o canal do navio, tiveram de cavar o canal, afundar mais o canal. E essa lama, que a draga faz isso, ela tem um jato no fundo, ela faz isso. Mas vai essa distância por ali todinha, só removendo aquela lama, desandando aquela lama com uma água, como uma água. Aí, essa lama, ela se desanda em água. Aí, se a maré está descendo, a maré leva ela para lá, mas quando a maré enche, a maré traz ela para cá. Aí, ela vai procurando os beirais, os lugares, mangue, croa. Tem coroa que nem existe mais, na beirada aí do cajueiro. E aí, você tem o poço. Já eu, que estou nessa idade, a perna grande demais. Aí, eu vou pescar, me enterrando nessa lama aí. Eu não tenho mais resistência de pescar desse jeito. Quem tá novo, ele sente. Que dirá? Então, esse é um dos motivos, que eu já não pesco. Mesmo com a preguiça, mesmo o tempo. Porque o tempo já não está dando. “Mas seu Davi, nós chegamos anteontem aqui e você estava dormindo. Nós cheguemos hoje, você estava deitado. Qual é o tempo que você está querendo?” Aparentemente, parece que eu estou vagabundo. Não é que eu estou dizendo que vocês estão dizendo. Estou vagabundo. Não quero fazer, estou com preguiça. Preguiça eu estou, um pouco. Mas já essa dificuldade aí, já não dá. É assim, não é só eu. Vários. Várias pessoas, mais novos. Então... E eu estou dizendo, até que a gente tem assim, uma parceria com a Alumar, tem conversa com a Alumar, e tudo, e tal, e tal. Mas aquilo que está fazendo mal para gente, a gente não deixa de reclamar, não deixa de dizer. Não deixa não. Então, eles dizem que não, mas eu digo que sim. Porque quem não percebe? Quem que não vê? Se você está aqui, anda todo esse caminho aqui... Por acaso, um caminho, como era caminho na época aqui.. Com 8 dias você vai ver. Às vezes está limpinho, beirando o caminho está limpo, mas com 8 dias você já vê, o mato está batendo nas suas pernas. Então, você já sente diferença. Assim mesmo essas construções aí. Eu uma vez, vieram... Eu não estou falando com vocês não. Mas vieram um pessoal aqui do Rio de Janeiro, vieram fazer uma pesquisa aqui para Vale, vieram fazer para a Vale. E aí, eles chegaram aí, fizeram a reunião aí no salão da União de Moradores, dois dias, aí, daí, eles disseram: agora nós vamos dar uma volta beirando a praia, beirando o mar. Tá bom! “Mas é preciso ir umas pessoas daqui com a gente, para contar para a gente como era, como está, o que está acontecendo e tal...” Aí, quando foi no dia aí, disseram... O Moreira que mora ali, disse: vai Davi. Eu digo, rapaz, eu vou! Aí, o outro rapaz... O Juca, aquele que veio com vocês aqui ontem. Aí, ele ia, mas como ele ia viajar, não deu pra ele ir. Aí, foi só eu e o Moreira. Chegamos na barragem ali, pegamos a lancha, aí nós fomos. Aí, quando chegou lá no pé do coisa da Vale, no píer da Vale. Aí, chegou lá, nós... Parou a canoa, “agora nós vamos esperar a maré encher para a gente subir.” “Tá bom!” Aí, eles foram investigar o menino lá do Boqueirão, o Bentevi, e o outro senhor lá da Ilha do Medo. Foram investigar eles. Tá bom. Aí, ele disse: agora, quando nós subirmos, vai ser preciso outra pessoa, dali do final do cais, do Itaqui, para frente. Aí, quando nós fomos. Aí, chegou lá, Moreira disse: Ei, Davi, vai lá falar, conversar com eles lá, dizer para eles lá. Eu digo: não, vai tu! Ele disse: não, eu nunca pensei aqui não. Eu estou aqui, mas eu nunca pesquei, não conheço nada daqui. “Então, tá bom, eu vou lá.” Aí, quando chegou lá, na Ponta do Cais do Itaqui para frente, aí ele foi me perguntando, e procurou, como era? Como está? Se está bom? Se não? Eu digo: Você quer saber como era? Como está e se está bom? “É!” “Como era, não é mais. Como está? Tá ruim!” Três perguntas ele fez. “Então, está tudo ao contrário. Mas é para dizer o que está acontecendo? O que aconteceu? O que tem e o que não tem?” Assim, o outro... “O que tem e que não tem? O que tinha e o que não tem?” Eu digo: o acesso não está bom. Que é esse lavado aí, que vocês estão olhando aí. Não está bom mais. Não está como era. Era bom, agora está ruim. Foi o outro, Meu Deus, que falou. Como tá? Tá ruim! “Por que você diz que tá ruim?” “Porque tá ruim. Porque a gente não pode mais nem pescar aqui.” Ele disse: mas por que vocês não podem pescar? “Porque tem proibição da gente pescar.” Ele disse: é mesmo? “É!” “Mas quem proíbe vocês?”
Eu digo: a própria empresa aí. Essa bem aqui! Eu vim pescar aqui outro dia, com meu irmão. Outro dia não, já faz dois meses, ou três. Aí, nós botamos a nossa rede aqui, longe dali, do cais. Quando nós estamos aqui, aí chega uma lancha, umas pessoas na lancha. E disse assim: Ei, essa rede é de vocês? “É nossa!” “Tira daí, que aí não é lugar de pescar não. Vocês não podem pescar aí. Porque se de repente vem uma lancha, rabeta, a bicha pega e rasga, e aí vocês vão ter prejuízo, né?” Eu digo: nós vamos ter prejuízo e vocês vão pagar, né? Ele disse: pagar por quê? Eu digo: Porque vai! Porque vai pagar. Essa aí, tem documento, essa rede aí. Eu comprei na Caça e Pesque, e pedi a nota, está lá em casa. A hora que eu botar ela aqui, que vocês rasgarem ela, vocês vão pagar ela. “Não, mas vocês tirem daí, porque...” Eu digo: nós só vamos tirar daqui quando der a hora da gente tirar. Que era só, uma altura dessa assim, que ela é, 2 metros e pouco. “Aqui não está impedindo canoa, coisa nenhuma de vocês passarem aí. Se vocês passarem ai, é de maldade, para querer rasgar mesmo. Mas está longe do cais de vocês. E daqui até no mangue, lá no mangue, eu posso pescar. Agora, para aí, eu não vou! Ainda tem uma coisa, eu tenho negócio lá em casa, e quando eu vier pescar aqui, eu venho trazer ele para mostrar para vocês. Porque o que ela me diz é que eu tenho direito e posso pescar daqui até na divisão do Ceará. Que é o documento da rede, a minha carteira de pescador. Agora, eu não vou provocar vocês, não. Nós vamos tirar a rede, vamos tirar o peixe, vamos embora para casa. Mas a hora que eu quiser pescar, eu venho pescar. Agora também eu não vou pra aí, porque estou até arriscando a minha vida para ir e tal.” Então, é assim, essa aí, a gente já tem, essas proibições. Aonde era livre... Eu dizendo para eles... Aonde era livre... Agora, vamos para os peixes. As qualidades de peixe que tinha, hoje não têm mais. “Mas por que não têm mais?” Disse: porque afastaram daqui. “Quem afastou?” “As empresas, começando por Itaqui, que o Itaqui é do Estado. Mas começando por eles. Porque para fazer esse cais bem aí, que não foi só esse material daqui. Mas acabaram com os recifes daqui quase tudo, tirando a pedra daqui, jogando para aí. Aí,
qual é o peixe que come recife? Você sabe? O peixe que come no recife? O peixe vai comer no recife? É pedra, é pedra, é pedra. E ele vai comer? Come! Tem peixe que come. A pescada, come recife. Pacamão também, come recife. Uritinga, ele também come em cima do recife. E assim, vários peixes, como em cima do recife. Aí, você arranca a pedra, tira pedra, bota fora, bota ali, tal. Aonde é que ele vai comer?
Aí, vem uritinga, que é peixe de flor de água. Flor de água é em cima, ele vai lá embaixo, mas ele... Aí, vem a solha. Ele disse: O que é solha? Eu digo, sim, é um peixe. “É?” “É!” “E esse peixe come o quê?” “Ele come peixinho, lodo, maraconizinho, caranguejinho, ele come. O bagre, ele come, o maraconinho, que é o caranguejinho. Mas hoje o bagre não está mais nem encontrando o maraconinho aqui. Por quê? Eu digo já. Por causa dessa lama mole, bem aí. Essa lama mole aí. Eu digo: entre dentro dessa lama aí, e se mexa, e fica aí uns cinco minutos, para ver que nós vamos atrás de um guincho para tirar você. “Não, senhor.” “Não? É sim senhor.” O maraconinho, ele vai fazer a casa dele aonde? Que ele faz é na lama, mas se ele encontrar lama mole, que ele vai cavando e vai enchendo, vai cavando, vai enchendo, não segura. Aí, ele não faz a casa dele. Aí, não encontra nada para comer. O que ele vai fazer? Morrer! Vai morrer! Aí não vai ter. Esse maraconinho que eu estou chamando, é comer de outro peixe. Já é comer de outro peixe. Esse outro peixe que o maraconinho é a comida dele, ele não vai encontrar mais o maraconinho. O que ele vai fazer? Ou ir embora, ficar magro, como é aqui. Qual é a causa? Causa das empresas. “Ah, mas aí a gente não pode viver todo tempo assim, no atraso. A gente não pode...” Mas ele não disse isso. Eu que estou dizendo. “Não ao atraso, isso é desenvolvimento do Brasil, do Maranhão e tal.” Não, eu sei que é. Quem é para estar no atraso mesmo, é só eu. Que não entendo de nada, não sei de nada. Não serve pra mim. Pra você pode até servir, mas não serve pra mim. Eu não estou com inveja, porque não serve para mim, mas serve para outros. Vão estudar, vão coisar, viver daquilo ali e tal. Hoje em dia, pobre não trabalha mais de roça, eles trabalham para lá, de roça? Pobre não trabalha mais de roça. Aqui também não, nós estamos dentro do mato, mas aqui, bem dizer, quase ninguém trabalha de roça. Aqui é emprego, aqui é tudo assim, aposentado, quem é aposentado e tal, e tal. O Lula aí, está só dando a vantagem aí, salário, tá, tá, tá, tá. Tá bom. Agora, eu estou dizendo o Lula, mas eu não sou contra Lula. Vocês são? São, né? Eu não sou contra Lula não. Eu não! Eu lhe confesso logo. Bem, e aí,
possivelmente. Agora, as empresas não estão servindo? Tá! Está servindo sim. Mas deixando marca ruim. Outro dia nós fomos ali, na Boa Razão, na canoa do menino, bem aqui. Aí, nós estamos passando lá pela draga, ela tá lá, paradinha no lugar, mas movimentando, cavando, mexendo com a lama. Vazando, vai embora, maranhense, como eu já falei, vem de novo, onde tiver o lugar mais coisa assim, ela vai ficando por lá. Bem, aí eu disse assim, eu digo: vocês estão fazendo esse serviço aqui, dessa entrevista, assim, assim, para quem? Aí, ele disse: é para a Vale. Eu digo: é para Vale, é? “Sim!” Aí, eu fui atrás do Moreira. “Óia, você vai esperar a decisão disso aqui, dessa pesquisa, tu vai esperar? “Não, eles vem trazer. Eu não vou esperar, porque eles não vão dar essa decisão aqui, nem de bem e nem de mal. Nem se está certo, se está boa, ou não está. Aí, o rapaz disse: por que seu Davi? “Não, porque não vai! Se fosse pescador, outro assim, que estivesse fazendo essa despesa de pagar vocês para vir fazer isso aqui, ok! Mas a Vale? Ela vai declarar o mau dela aí que ela está fazendo? Ela vai declarar? Vai nada!” Eu não me conformo com isso. Então, é assim, gente. E nós... Mas é assim mesmo, o mundo, o povo, é assim. Agora mesmo está vindo uma empresa aí, essa... Que está fazendo o Porto do Gás, ali na Boa Razão. Vindo do Capinzal. Não sei se vocês já sabem. Vindo de Capinzal. Aí, eles estiveram aqui, fizeram uma reunião aí, e com essa reunião que eles estavam fazendo nas comunidades, já estava dizendo, achando que estava tudo bem. O povo estava aceitando, o povo está coisando e tal. Aí, quando eu ouvi dizer que disse que eles tinham ido lá na OAB, fizeram a reunião lá e tal, juntamente com... Eu pensava até que o Juca estava. Eu procurei por ele aqui ontem, ele disse que não. Aí, eles fizeram. Fizeram audiência pública. Quando eles falaram em audiência. Eu digo: vem cá, vocês já fizeram audiência pública sobre isso? Ele disse: já! Eu digo: então, está acabado. Se o importante disto aí, dentro da comunidade, é audiência pública, e vocês já fiveram, o que é que vocês estão querendo saber mais? Não tem nada como dizer nada. Então, eu achei que foi um pouco de erro. Porque primeiramente, no meu pouco conhecimento, ou seja, era para vir aqui fazer a reunião. Aqui não! Em toda a comunidade ao redor do portuário. Porque aqui é área portuária. E aí, hoje é que você está vindo. E já fizeram a audiência pública. Eu digo: então, não tem mais jeito! Porque primeiramente, tinha que fazer ao menos duas reuniões aqui nas comunidades, e depois partir para uma audiência pública. E não só uma audiência pública. Vocês já fizeram! Então, não adianta. Aí, a gente falou com Alexandre, que era Federal.
O Rafael falou com ele, e pediu uma reunião com ele lá. Aí, nós fomos lá e tal. Aí, já estavam com a licença ambiental. Que o Alexandre falou lá para gente, que eles pegaram a licença ambiental. Mas logo, logo, foi derrubada a licença ambiental. Eu disse: Alexandre, você é advogado, até juiz, não sei. E você sabe disso. Mas me diga, eu quero saber de você, uma empresa dessa, chega na comunidade para fazer uma coisa dessas, um trabalho desse. O que ela tem que fazer primeiro? Ele disse: reunião com a comunidade, segundo vem a audiência. Eu digo: sim senhor! Eu também, na minha bestidade, é assim. Mas eles chegaram lá dizendo que eles já tinham feito, já tinham conversado e tudo. Ele disse: não, está suspenso a coisa do meio ambiente, e nós vamos fazer uma audiência. O Alexandre, que disse. “Vamos fazer uma audiência com a empresa, a coisa ambiental e a comunidade.”
P2 – Senhor Davi, e como que o senhor entrou na associação? Como é a história da associação?
R - Ah sim, vamos para lá, que já estava ficando para trás.
P1 – É, pensando que você conhece tudo daqui da comunidade do Cajueiro, né? Qual que é a história desse lugar?
R - A história do Cajueiro, eu praticamente, eu sei pouco, mas de onde eu sei para cá. A história do Cajueiro, ela é boa. Ou já foi boa. Mas ainda está boa. Então, a história do Cajueiro, ela é longa. E a gente tem vivido dentro dele aqui, comido, bebido, tudinho daqui. E passado as dificuldades. Mas satisfeito. Aí, a gente até agora está seguindo dentro do Cajueiro. E é bom. Primeiramente, na época, quando o cajueiro não tinha... Como eu já falei, nem transporte, carro, era a coisa mais difícil. A gente também sobrevivia aqui, de babaçu. Sobrevivia de babaçu aqui. Muito babaçu, muito babaçu. Então, todo mundo, não era só aqui, que vinha até da Vila Maranhão, na época.
Então, é como eu estava dizendo, as empresas foram chegando, foram dando emprego para alguns, aí o mundo foi deixando. E hoje em dia, quase nem se fala em babaçu, em quebrar coco. É assim. Mas ainda tem. Depois disso aí, dentro do babaçu, vem acompanhando material de construção, que era a madeira. Tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá. Aí, cada tempo vai modificando uma coisa. Aí, como já falei do camarão, a venda do camarão, quem trabalhava com produção, também era que escapava a gente. Vida boa também, para quem estava aqui. E nesse patamar. E o Cajueiro continua. E alguns continuam nele. É agora, como eu estou dizendo, agora, eu estou pegando... Já adiantando um pouco, eu estou pegando o carro na minha porta para ir para o centro da cidade. Ficou ruim? Não, ficou bom. Aí, feira? Não tem feira, no caso. Não sei se isso cabe dentro disso aí, essa questão. Não tem feira. Mas também não é difícil de comprar os alimentos. Aí, muitos passam necessidade? Claro, as vezes por causa da preguiça, como eu estou, com preguiça de ir pescar. Mas se ele ir lá, ele traz. É isso que vocês querem saber? A bondade do Cajueiro?
P1 – Não, o que você quiser contar daqui, dessa comunidade, das coisas especiais, das dificuldades.
R - Pois é...
P1 - Das alegrias. Tem festa aqui? Baile?
R - Não. Festa tinha. Parou, parou. Aqui tem um rapaz que ele fazia festa de São Benedito, que é lá embaixo na praia, que ele fazia. Mas devido os acontecidos que vem acontecendo, nas festas, assim, zoada, brigas, essas coisas assim. Eles foram parando, parando. Então, hoje não tem mais. Logo tem uma cervejinha por aí, pega uma caixa ali, como agora já tem muita caixa de som. Bota aí, faz uma zoada até quando ele quiser e tal. Mas é só, não tem não, festa. Tem a Vila Maranhão, que é maior, mas até isso aí, acabou, negócio de festa.
P1 - E Seu Davi...
R – A diversão agora, é só isso aí.
P1 - Quais são seus sonhos?
P2 – A Associação, ele ainda não falou...
R – A Associação, 2013, foi a minha entrada, aí na Associação da União de Moradores. A pessoa que era, me convidou para mim ser o presidente. “Rapaz, eu não tenho sonho para isso.” Eu disse para ela. “Não tenho sonho pra isso aí não.” Nada, rapaz, vamos embora, é bom e tal, eu vou te acompanhar e tal e tudo. Eu digo: eu não sei de nada disso aí, nadinha, nadinha. “Não, mas eu vou te acompanhar, vou te ajudar e tal.” E meteu na minha mente mesmo. Aí, eu só dizendo não, não, não, não, não. Um dia, nós fomos daqui para o centro, num carro que eles tinham. Aí, chegou no caminho, ela não deixou de ficar martelando. Eu digo: rapaz, eu vou experimentar isso aí. Vou experimentar isso aí. Olha, mas vocês não vão me deixar, não. “Não, não, não.” Aí, ela disse: então, posso lançar o teu nome na chapa? Chapa única. E a gente fazer, aí tu vai ser. Digo: e o tempo de passar lá? “É quatro anos.” Ela que disse. É regra, alguma coisa. “Tá bom! Quatro anos passa depressa.” Aceitei! Quando foi, teve eleição, o pessoal votou. Sócio, não sócio. Porque na época aqui votava sócio e não sócio, as pessoas da comunidade, que moravam na comunidade, podiam votar. Votaram. Eu ganhei mesmo, porque era chapa única, se tivesse outro, eu não ganhava. Aí, fiquei. Mas rapaz, preocupado da cabeça. Mas quando foi de 2016 para cá... É por isso que tem um dizer, que eu não sei nem se eu vou acertar esse ditado. Tem um dizer, a gente contar com o ovo na bunda da galinha. Esse contar com o ovo na bunda da galinha, eu levei pelo cano. Sem saber como era, a trama, a coisa e tal, sem saber e tal, com honestidade. Aí, quem quer que seja, me levou. Tá bom. Mas quando eu comecei a desconfiar, eu digo: espera aí, eu vou logo botar esse negócio pra fora. Eu digo: não quero mais! Essa diretoria aqui, se eu chegar a ser presidente, não quero nenhum. E foi cair no ouvido da pessoa e tal. Justamente, passei os quatro anos, 2013 até 2017. Quatro anos. Aí, entrou o outro, outro entrou. Aí, foi presidente. Antes de completar os quatro anos ele largou. Aí, logo, logo, entrou outra também para querer. Aí, votamos nela. Aí, por causa de um problema do serviço do marido dela, a empresa não aceitou que ela ficasse sendo presidente, junto com o marido trabalhando nessa empresa. Bom, aí então, a promotora foi lá, “então vamos fazer outra eleição.” Aí, fizemos outra eleição. No dia em 14 de novembro de 2000... Que eu não estou mais lembrando. 14 de novembro de 2023, vai encerrar. Então, foi o caso de eu ser presidente as duas vezes.
P1 - O que você achou?
R - Nada.
P2 - Mas não tem umas lutas. O que que a associação faz aqui dentro do Cajueiro?
R – A Associação e até que é para fazer muita coisa. Pelo menos, até aos benefícios, no caso. Mas isso é com os órgãos que podem fazer, juntamente com os pedidos da associação. Então, já que é um órgão, também, quase um órgão. Mas aqui, eu vou logo dizer, é bom... Eu já falei, do Cajueiro eu já falei, já disse que ele é bom uma porção de vezes. O Cajueiro é, o lugar, agora, o povo, não. O povo é difícil. Até porque o Cajueiro aqui, é desse tamanhinho aí. Mas quem se aproxima mais daqui, na época, no caso, para ajudar, e que não ajuda também. E devido e falhas, das falhas, é político. Mas é muito. Na época de eleição, você vê, cada uma porta aí, tem um candidato. O candidato, ele trabalha assim? Não senhora. Ele vem encher o ouvido e encher a gente de vontade. Mas fazer nada, não faz. Porque ele não vê vantagem nos votos. Até foi um candidato que falou: Seu Davi, ali no Cajueiro é difícil... Que por todo lado também não é só o candidato que fica. Tem muitos, mas pelo menos, vamos dizer aqui. Aqui, como o lugar é pequeno, era para ser mais unido. Mais unido. Principalmente desse lado. E aí, você corre atrás do candidato, e você vai... Quando alguém sabe aqui, que você tá com aquele candidato. Pra lá. Aí chega lá... É um, sabe o que eu vou dizer? É um atrapalhando o outro. É um atrapalhando o outro. Então, eu já tenho até dito para alguns. “Rapaz, não dá para eu firmar voto com vocês lá no Cajueiro. Porque mesmo você sabe a dificuldade que a gente tem ali com voto. Com pessoas.” Eu sei que todo mundo, às vezes, se vende até por uma alça de chinelo, se vende. Agora, assim, como lá no Cajueiro, eu ainda não vi. Então, é difícil de afirmar um contrato com um candidato, para ele fazer uma coisa, e ele ter o lucro dele, que é o voto. Bem, outro dia eu estava aqui, aí eu fui levar um ofício lá no Palácio Leôncio, para eles apresentarem lá. Então, o que eu fiz, coloquei no ofício, era umas cestas. Eu não sei que quantia eles pediam dar. Cesta. Que isso aí, aqui, o pessoal aqui é muito apegado com cesta. Aí, eu fui lá na prefeitura, conversei com essa dona aqui, que é a secretária do prefeito. Contei a situação que estava aqui da estrada, no começo, no meio do inverno estava ruim. Conversamos. Ela disse: tá bom! Vou conversar com o pessoal da... não sei de onde, não sei... Eu sei que ela conversou mesmo. E aí, vai lá. Ela disse, assim: você me faça uns vídeos e mande para mim, dos lugares mais críticos que tem lá na estrada. “Tá bom!” Aí, eu vim e fiz, junto com outro rapaz aí. Fiz o vídeo e mandei para ela. Quando eu estava mandando o vídeo para ela, ela já estava recebendo. “Tá bom Seu Davi, só que agora... Que foi em fevereiro. “Não dá, porque o pessoas já está tudo, carnaval e tal. Mas depois...” “Tá bom!” Quando eu chego no terminal, aí tem uma pessoa lá, aí eu disse assim: Fulano de tal, você estava na inauguração do colégio? Aquele colégio ali que era daqui. Que está lá na entrada, perto do coiso. “Você ouviu dizer, o prefeito disse que era para essa empresa aqui cuidar dessa estrada aqui.” Foi o que eu ouvi aqui. Ele disse: não Seu Davi, eu não ouvi falar. Ele não falou isso aí não. Eu estava lá e tal, mas não ouvi. “Então, tá bom! Eu já sei como é! Aí, eu disse olha, eu fui ali, eu tô vindo lá da prefeitura, né? Aí eu fui ali, assim, assim, assim, assim, assim, essa pessoa aqui, e eu tive de mostrar para ele. Que a pessoa aqui me garantiu isso, assim, assim, assim. Tá bom! Aí, ele disse: Seu Davi, você não quer ligar para essa dona aí, para eu ter uma reunião com ela? Aí eu fiquei assim, eu digo: rapaz, não vou dizer nada, não. Vou usar de maldade. Aí, depois, ele disse, assim: não, mas esse pessoal é da prefeitura, e eles estão é para todo mundo, não é só para um, nem para dois, é para todo mundo. Eu digo: sim! Vou ligar para ela e vou marcar. Eu dizer pra ela, ver se ela marca. Aí, quando ele chego aqui, eu liguei para ela. “Sim seu Davi. Olha, você liga para ele, pra ele vir aí na segunda-feira.” Aí, eu liguei para ele, “olha Natinho, é segunda feira, pra gente está lá.” “Tá bom!” Aí, nós fomos lá segunda-feira. Foi ele e o outro representante dali, da _______. Ela chegou lá. Eu não falei nada, porque eu já tinha falado com ela, já tinha conversado. Eles falaram, apresentaram lá a causa deles. Aí, tá bom! Quando ele chega aqui, ele convida outra pessoa e foram para lá. Aí, quando vieram de lá, vieram arrasando. O problema meu, que eu tenho, é porque essas coisas assim, eu não divulgo o que eu faço. Que era para mim divulgar. Porque é assim que eles fazem, qualquer coisa aí, a divulgação aí, já viu como é que é. Se é coisa que nunca nem aconteceu, não acontece, é divulgado. Já eu não divulgo nem o que acontece. Então é assim. A União de Moradores, por uma parte, ela é um dos órgãos que é para ser mais considerado, respeitado, como foi falado pela própria promotora. Promotora das entidades, que ela é. E ela disse aí, quando surgiu isso aqui, ali, o Manancial ali, é bem ai, o Manancial, é um tipo de uma associação. Surgiu outra lá, no Andiroba, lá para onde nos vamos. É agora, né, que nós vamos lá, né?
P1 - Deixa eu só te fazer uma pergunta quais são seus sonhos?
R - Meu sonho? Ah, se eu pudesse. Ah, se eu alcançasse. Ah, se tivesse tempo. Mas não tem mais tempo. É coisa agora, né?
P1 - Qual?
R - Um carro. Isso é sonho?
P/1 - É.
R - Melhorar um pouquinho dessa situação, que não vai dar mais tempo. Não, mulher! Rico também, eu nunca pensei em ser rico, não senhor. Melhorar, melhorar. Mas eu vou dizer assim, eu falei carro, não, mas não é carro não. Eu tenho sonho com moto, com moto. E essa aí talvez. Se Deus quiser, um dia eu compro uma para mim. E um dia, que é para onde todo mundo vai, é para onde todo mundo vai. Né não? Todo mundo tem a sua esperança.
P1 - E Seu Davi, como foi para você lembrar um pouco da sua história e compartilhar aqui com a gente?
R - Compartilhar com você? É o seguinte, por que compartilhar com você? Isso aqui, eu já venho com isso aqui, esse tipo de movimento, assim, que o Juca, ele sabe um pouco da história da gente aqui, desde 2014. Desde 2014, quando essa empresa chegou aí, e através desses movimentos, que é um movimento, é movimento. Eu tenho, como dizer assim, ajuntamento com a CPT, com os Jedman, com o menino que é o Saulo, que ela já saiu candidato aí, diversas vezes aí. O Saulo. Com Justiça nos Trilhos. Não sei se você já ouviram falar. Justiça nos Trilhos. Com... Ainda tem mais... Então, isso aí é um povo... Como é? A CPT ela é a... Ó Meu Deus, eu estou ruim de memória, esquecendo as coisas, para sair é a pior coisa.
P1- Mas sem problema. E só te perguntando como foi lembrar da sua história pra gente e contar pra gente?
R – Não, porque assim, é como você já estava dizendo. A história da gente, se você parar, você vai esquecer. Mas se você continuar... Aqui uma vez, veio até uma mulher que era do museu, Museu, mais museu mesmo. Que fizeram umas reuniões aqui, aí um dia ela chegou aqui. “Seu Davi, eu quero para nós fazer umas reuniões aqui, de memória. De memória. Mas só com pessoas mais idosas. Porque a memória você vai falando, conversando, contando, você vai lembrando, vai lembrando. E você vai... Mas se você parar com a sua memória, o seu coiso, você parar, você vai esquecendo, vai acabando aquilo ali. E depois você... Bem dizer, a sua mente está paradinha. E ela disse, essa conversa aqui, entre a gente, é bom para nós idosos. Ela falou. Era para a gente fazer, mas ela não veio mais. Então, era para marcar o dia, nesse dia que a gente fosse combinar, era para ter essa reunião e conversar de memória.
P1 - Obrigada por dividir algumas memórias com a gente.
P2 – E agora a memória do senhor, o que o senhor contou hoje pra gente aqui, vai ficar guardada com a gente. Já tem uma parte das memórias guardadas.
R - Pois é, é bom. Eu não sei se eu vou ainda... Rapaz, quando eu falei isso assim, assim... Mas eu não estou esquecido agora. Rapaz, eu vou ligar para as meninas para elas me mandarem.
P2 - Não, depois a gente vai passar o link e vai ter a história do senhor. Quando você quiser lembrar...
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