IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Paulo Ledur, eu nasci em Alecrim, Rio Grande do Sul, a 22 de agosto de 1957. INGRESSO NA PETROBRAS Eu estava estudando na Unisinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, no final de 1980 eu já estava ingressando no último ano de geologia. Então teve um concurso no Brasil inteiro para a formação de uma turma chamada Geopet II, que no último ano de graduação, paralelamente, já fazia o curso de petróleo da Petrobras na Bahia. No final de 1981, com a graduação, todo mundo aprovado, seria contratado imediatamente pela Petrobras. Fomos contratados em janeiro de 1982. Na verdade, só teve duas turmas de estudantes do curso de geologia, e a nossa turma foi a segunda e última. BRASPETRO A opção Braspetro surgiu no final do curso. A gente não tinha vínculo empregatício. O vínculo empregatício passou a ser só no final do curso, com a aprovação. Então, em dezembro de 1981, com entrevistas e as opções que o pessoal elegeu, fomos selecionados para a Braspetro. Na ocasião, de uma turma de 29, fomos em seis para a Braspetro. Durante o ano, eu já tinha conversas inclusive com um dos professores, um dos geólogos tinha trabalhado na Braspetro no Iraque. Então, realmente, eu estava interessado na área internacional. Por curiosidade, no final fomos saber que a preferência era a contratação de técnicos solteiros ou que fossem casados sem filhos, para possibilitar viagens, e eu fui um dos selecionados. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A minha história na Área Internacional, na antiga Braspetro, é mais ou menos o seguinte, com um anjo forte até aqui chegamos. Comecei a trabalhar no exterior em 1983, no deserto do Saara, tanto na Argélia como na Líbia. A gente trabalhava lá a dois mil quilômetros afastado do Mediterrâneo, praticamente afastado da civilização, mas era um lugar muito tranqüilo. Se ficasse um período muito longo, era uma monotonia muito grande, mas era um lugar bastante...
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IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Paulo Ledur, eu nasci em Alecrim, Rio Grande do Sul, a 22 de agosto de 1957. INGRESSO NA PETROBRAS Eu estava estudando na Unisinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, no final de 1980 eu já estava ingressando no último ano de geologia. Então teve um concurso no Brasil inteiro para a formação de uma turma chamada Geopet II, que no último ano de graduação, paralelamente, já fazia o curso de petróleo da Petrobras na Bahia. No final de 1981, com a graduação, todo mundo aprovado, seria contratado imediatamente pela Petrobras. Fomos contratados em janeiro de 1982. Na verdade, só teve duas turmas de estudantes do curso de geologia, e a nossa turma foi a segunda e última. BRASPETRO A opção Braspetro surgiu no final do curso. A gente não tinha vínculo empregatício. O vínculo empregatício passou a ser só no final do curso, com a aprovação. Então, em dezembro de 1981, com entrevistas e as opções que o pessoal elegeu, fomos selecionados para a Braspetro. Na ocasião, de uma turma de 29, fomos em seis para a Braspetro. Durante o ano, eu já tinha conversas inclusive com um dos professores, um dos geólogos tinha trabalhado na Braspetro no Iraque. Então, realmente, eu estava interessado na área internacional. Por curiosidade, no final fomos saber que a preferência era a contratação de técnicos solteiros ou que fossem casados sem filhos, para possibilitar viagens, e eu fui um dos selecionados. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A minha história na Área Internacional, na antiga Braspetro, é mais ou menos o seguinte, com um anjo forte até aqui chegamos. Comecei a trabalhar no exterior em 1983, no deserto do Saara, tanto na Argélia como na Líbia. A gente trabalhava lá a dois mil quilômetros afastado do Mediterrâneo, praticamente afastado da civilização, mas era um lugar muito tranqüilo. Se ficasse um período muito longo, era uma monotonia muito grande, mas era um lugar bastante seguro, tranqüilo, e talvez até o maior risco era você voar em aviões da subsidiária lá, da Air France, do que propriamente viver no deserto. Raras vezes vimos nômades passarem lá próximo às sondas, mas realmente era um mar de areia e até paisagens distintas, não só areia, como pode ser um deserto rochoso, como pode ser um deserto com muito pó; são as variantes do Saara. O que eu digo, é um lugar muito tranqüilo, talvez o maior risco fossem os vôos que a gente tinha que tomar para a região porque, na época, tinha muito atentado a certos aviões; era talvez até mais seguro do que Paris, que tinha muito atentado. Uma história que não vai poder ser publicada, mas tem um colega aí que, a 1.500 quilômetros no deserto, conseguiu colidir com um carro no meio do deserto. Não posso contar porque o técnico é meu amigo, então não posso deixar publicar essa, mas era muito tranqüilo. Depois, em 1985, 1986, passamos a trabalhar no Iêmen, na época ainda existia o Iêmen do Norte e Iêmen do Sul. Aí, também no deserto, já tinha muitos nômades na região, inclusive pessoas morando em cavernas relativamente próximas à sonda que a gente trabalhava. Eles viviam de cabras, bois, viviam no deserto, porque tinha alguns lugares que tinham água e um pouco de pastagem. Os nômades sempre andavam armados, eles andavam no deserto com espingardas. Freqüentemente, à noite, vinham praticar pequenos furtos na sonda. Ali os riscos que a gente correu realmente foram de acidentes de avião. Teve dois acidentes na sonda no primeiro poço: um foi um pequeno acidente; o segundo foi praticamente perda total do avião. Eu trouxe até algumas fotos aqui para ilustrar, não sei se tem interesse. Tivemos dois acidentes de avião. Quando terminou esse poço, eu voltei para Aden e saí. Mal tinha chegado ao Brasil, na semana seguinte à chegada ao Brasil, o Iêmen do Sul entrou em guerra civil e aí vários colegas nossos residentes ficaram praticamente 30 dias no meio do fogo cruzado, até que conseguiram sair, pegando carona em um navio inglês. Depois, quando retornamos para perfurar os dois poços restantes, os prédios vizinhos estavam completamente destruídos. A sorte é que o prédio deles ficou um pouco mais afastado da pista, do asfalto onde passaram os tanques e onde eles tiveram o forte enfrentamento. O hotel que a gente costumava ficar também foi completamente bombardeado e destruído. Isso foi em 1986. Depois, em 1987, perfuramos no Vale do Médio Madalena, parte central norte da Colômbia, aí a gente tinha muito medo da guerrilha, ficávamos 30, 35 dias lá, praticamente sem sair da sonda, realmente confinados. Em uma missão que fiz, a primeira que eu fiz de 35 dias, mais ou menos, eu saí da sonda uma vez por uma hora, porque a gente foi conhecer um vilarejo próximo, demos uma volta rápida de uma hora só para conhecer o local, mas era um vilarejo muito pequeno, talvez de 10, 15 casas, e retornamos. A gente realmente ficava na sonda para não correr risco nenhum de seqüestro. No segundo poço, o geólogo foi um outro colega nosso, aí contou depois que a guerrilha fez uma visita na sonda. Fez uma visita e perguntou aos locais como eles estavam sendo tratados, acabou que eles foram embora, não teve outras reações. Saíram satisfeitos, não teve reação nenhuma. No entanto, no terceiro poço, a guerrilha já estava esperando os brasileiros lá no pé da sonda. Para o começo do poço, tinha três engenheiros brasileiros que foram seqüestrados na ocasião e eu estava marcado para ir nesse poço uma semana depois, então escapei por uma semana de novo. Acabou que esse poço não foi perfurado em função da destruição total da sonda. Eles destruíram a sonda e seqüestraram os colegas, ficaram em poder dos colegas 45 dias na selva, com isso a Braspetro abriu mão dessa área. Depois, trabalhamos no Equador em 1989, aí tinha outro problema: um pouco antes de iniciar a aquisição sísmica na área – porque era na Floresta Amazônica, se tornou Floresta Amazônica esse bloco –, tinha índios hostis aos brancos. Então, foi feita uma aproximação e, num final de tarde, um helicóptero contratado pela Empresa deixou em uma clareira, na área dos indígenas, um padre e uma freira; por algum motivo, o helicóptero não pôde retornar imediatamente, alguns minutos depois, para recolhê-los, não conseguiu retornar. Retornou no dia seguinte, o padre e a freira estavam mortos na clareira. Com isso, a gente abandonou uma parte desse bloco e ficamos só explorando, só investigando o restante desse bloco, cerca de 75%, mais afastado dessa comunidade. Depois veio a perfuração, o primeiro poço foi perfurado relativamente próximo dessa área, parte sul desse bloco, então eles abriram uma clareira maior que o normal e botaram segurança na área da clareira, acompanhada de dezenas de cães, para cuidar do pessoal da sonda. Para a gente que tinha que sair à noite, se deslocar entre o acampamento e a sonda, realmente era motivo de muita preocupação. Posteriormente, 1997, 1998, trabalhamos no sul da Bolívia, já na pré-cordilheira, área bastante montanhosa. Não teve maiores acidentes com o pessoal, apesar do deslocamento de carro na área, mas realmente houve espera aos vôos. Tanto que, na minha primeira missão lá, caíram dois aviões em um mês, porque era uma época de pouca visibilidade e o avião tinha que pousar num vale entre duas cordilheiras; inclusive, num dos vôos, morreu parte de companheiros, de petroleiros de outras duas companhias, no mesmo avião que nos levou na sonda pra primeira vez, teve acidente três semanas depois de eu ir lá pra sonda. Então, teve esse acidente na área e mais um acidente, como eu comentei. O risco realmente era dos vôos, porque a topografia era muito arriscada para pousos e decolagens. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Eu não corri maiores riscos, mas a situação mais inusitada foi no meu estágio, ainda na Bahia, em 1982. No final do expediente, eu fui escalado pra acompanhar um poço no campo de Fazenda Panelas, na região de Alagoinhas, e fui chamado pra ir para a sonda no final do dia, três e meia, quatro horas. Então, eu peguei o carro da Companhia, fui pro apartamento buscar roupas e tal, aí me desloquei e cheguei, obviamente, no local, na área, na região de Alagoinhas, já ao entardecer. Aí fiz a pergunta pra uns pedestres, se saberiam informar acerca de uma sonda da Petrobras na área. Então, eu parei o carro, um fusquinha, andando na estrada de chão, parei junto aos pedestres, e eles solenemente me ignoraram, seguiram caminhando como se não tivesse acontecido nada. Pra mim, foi uma situação estranha: passa um carro de vez em quando só e não atende a uma conversa com as pessoas. Aí eu adiantei o carro uns 10 metros, pra empatar com os pedestres, e um deles, então, comentou: “Não, aqui na frente tem uma sonda, você anda tantos quilômetros, vira à esquerda e tal, tem uma sonda.” Aí eu fui, andei alguns quilômetros, encontrei um sujeito, uma pessoa só. Já estava escuro, no que eu parei o carro pra pedir informação, o sujeito olhou pra mim e se jogou no mato, e eu só escutando barulho de galho seco, botei uma primeira de botar inveja no Barrichello, né? Então, eu me mandei, porque vi que o cara devia estar devendo alguma coisa pra alguém. Foi essa a situação mais inusitada que eu passei. PETROBRAS INTERNACIONAL Tem picos de trabalho, agora está tendo mais atividade, porque desde 1997, 1998, a Empresa fez as grandes descobertas de gás na Bolívia e também começou a explorar em águas profundas. Fizemos duas descobertas em águas profundas da Nigéria em 1999 e 2000 e, posteriormente, entramos também na exploração de águas profundas nos Estados Unidos. Então, realmente teve uma expansão forte na atividade nacional. Eu acho que é um caminho natural para uma grande empresa, não só do ponto de vista de exploração, mas também pelo contato com outras petroleiras para aquisição de novas tecnologias. Eu acho que é um caminho natural; não só a exploração em si, mas também ter um contato maior com as outras companhias, pra ficar com a tecnologia de ponta. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho que é importante manter, ter uma memória dos principais fatos da Empresa, porque a tecnologia vai mudando muito, os locais em que a gente vai atuando mudam muito, então tem diferentes tipos de experiências e eu acho que é interessante arquivar essas histórias. Foi essa história dos riscos que a gente corre, porque, realmente, pra passar 20, 30 anos, em lugares completamente diferentes, a gente precisa ter um santo forte. Eu acho que eu tenho santo forte, sim. Sempre escapei por uma ou duas semanas.
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