Nome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Paulo César Marques
Entrevistado por: Eliana Santos
Local da gravação: Rio de Janeiro, RJ.
Data: 03/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoente: PETRO_CB538
Transcrito por Andréa Penna
P/1 – Bom dia Senhor Paulo!
R – Bom dia!
P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que o Senhor nos fornecesse o seu nome completo, a sua data e local de nascimento.
R – Meu nome é Paulo César Marques. Eu nasci no Rio de Janeiro, no dia 24 de março de 1951.
P/1 – O Senhor poderia contar um pouco pra gente como foi seu ingresso na Petrobras?
R – Foi muito interessante. Eu cursava Administração de Empresas na, hoje, Universidade Cândido Mendes, e, num belo dia, uma colega veio até mim e me perguntou: “Paulo, eu lembro que você conversou comigo, dizendo que você tinha o curso de técnico de contabilidade.” Eu falei: “É, realmente.” “Estão abertas as inscrições para o concurso de técnico de contabilidade na Petrobras e a inscrição termina amanhã.” Quer dizer, num dia à noite ela me deu essa informação e, no dia seguinte, eu fui me inscrever. Eu me lembro que quando eu entrei no Edise pela primeira vez, eu olhei aquela beleza, aquela suntuosidade, fiquei imaginando e falei: “Meu Deus! Será se um dia eu vou ter condições de entrar nesse prédio na condição de empregado da Petrobras?” Então foi assim que tudo começou.
P/1 – O Senhor poderia falar um pouco mais dos locais em que o Senhor trabalhou, os setores que o Senhor passou?
R – Eu tenho grandes recordações de minha vida profissional na Petrobras. O primeiro desafio que eu enfrentei foi logo assim que fui admitido. Eu fui trabalhar na Reduc, lotado no antigo Sermat, hoje Materiais. E aí tinha uma grande atividade que concentrava uma estocagem muito grande de chapas de aço inox, que haviam sido importadas da Europa, que viriam atender à construção das plataformas na Bacia de Campos. E...
Continuar leituraNome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Paulo César Marques
Entrevistado por: Eliana Santos
Local da gravação: Rio de Janeiro, RJ.
Data: 03/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoente: PETRO_CB538
Transcrito por Andréa Penna
P/1 – Bom dia Senhor Paulo!
R – Bom dia!
P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que o Senhor nos fornecesse o seu nome completo, a sua data e local de nascimento.
R – Meu nome é Paulo César Marques. Eu nasci no Rio de Janeiro, no dia 24 de março de 1951.
P/1 – O Senhor poderia contar um pouco pra gente como foi seu ingresso na Petrobras?
R – Foi muito interessante. Eu cursava Administração de Empresas na, hoje, Universidade Cândido Mendes, e, num belo dia, uma colega veio até mim e me perguntou: “Paulo, eu lembro que você conversou comigo, dizendo que você tinha o curso de técnico de contabilidade.” Eu falei: “É, realmente.” “Estão abertas as inscrições para o concurso de técnico de contabilidade na Petrobras e a inscrição termina amanhã.” Quer dizer, num dia à noite ela me deu essa informação e, no dia seguinte, eu fui me inscrever. Eu me lembro que quando eu entrei no Edise pela primeira vez, eu olhei aquela beleza, aquela suntuosidade, fiquei imaginando e falei: “Meu Deus! Será se um dia eu vou ter condições de entrar nesse prédio na condição de empregado da Petrobras?” Então foi assim que tudo começou.
P/1 – O Senhor poderia falar um pouco mais dos locais em que o Senhor trabalhou, os setores que o Senhor passou?
R – Eu tenho grandes recordações de minha vida profissional na Petrobras. O primeiro desafio que eu enfrentei foi logo assim que fui admitido. Eu fui trabalhar na Reduc, lotado no antigo Sermat, hoje Materiais. E aí tinha uma grande atividade que concentrava uma estocagem muito grande de chapas de aço inox, que haviam sido importadas da Europa, que viriam atender à construção das plataformas na Bacia de Campos. E era um processo muito intrincado, muito confuso, porque era uma quantidade muito grande, muita papelada, envolvia documentação de importação, enfim. E logo assim que eu fui admitido, eu fui designado pra ser o responsável pela regularização de toda aquela situação contábil, financeira, tributária, enfim... E, graças a Deus, eu fui bem-sucedido naquela tarefa né, naquela missão. E, em seguida, eu tive o prazer e a honra de participar dos dois grandes empreendimentos da Petrobras pra construção das duas famílias de plataformas fixas que existem hoje na bacia de Campos. O primeiro foi o GECAM, que era o empreendimento na Bacia de Campos, onde foram construídas as primeiras plataformas fixas, que lá estão até hoje. E o segundo empreendimento, que é vinculado à área de engenharia, que foi o (ENPRA-RJ?) que também construiu a segunda família de plataformas fixas da Petrobras, que lá estão produzindo na Bacia de Campos. E realmente foi um desafio muito grande porque eu trabalhei vinculado à área financeira, contábil e de contratação. E aí, exercendo a função de coordenação, pude ter grandes desafios, não só em termos de experiência profissional, onde eu lidava diretamente com o corpo de engenheiros, mas também, não só das complexidades, das peculiaridades, de tudo aquilo que cercava aquela atividade, que era um projeto totalmente novo para nós aqui no Brasil e pra Petrobras. E graças a Deus, também, eu consegui me sair bem naquela oportunidade.
P/1 – E hoje o Senhor está em qual setor?
R – Hoje eu estou na Transpetro-Fronape. Mas eu quero voltar um pouquinho...
P/1 – Fique à vontade.
R – Por volta de 1988, eu vivi uma experiência bastante interessante. Eu tenho um amigo que foi até gerente-geral de recursos humanos, não posso deixar de falar o nome dele, Ari Cardoso, muito meu amigo. Ele chefiava o escritório em São Paulo, na época, e quando eu vim pro Rio de Janeiro ele foi gerenciar hoje o “Compartilhados”, o serviço de compartilhado do Sudeste, que fica no Edise. E, assim que ele veio aqui pro Rio de Janeiro, eu fiquei assim meio encabulado de procurá-lo, pra não dar uma conotação diferente de amizade, interesses outros, enfim. Então, eu procurei evitar de me encontrar com ele. E, um belo dia, nós nos esbarramos na rua Senador Dantas. Aí ele fez uma piadinha comigo: “Você é um amigo muito ingrato, não procura seus amigos.” Aí eu falei: “Vou te fazer uma visita.” E ele falou: “ Não, eu quero que você vá na minha casa. Fazer uma visita na minha casa.” Aí eu falei: “ Então vou fazer o seguinte: eu vou à sua casa, vou levar a minha noiva – que é a minha mulher, a minha esposa.” E aí eu levei pra ele o convite de casamento e naquela oportunidade ele me fez um convite. Eu o convidei para o meu casamento e em contrapartida ele me fez um convite pra assumir pela primeira vez na minha vida, na Petrobras, uma função gerencial. E disse: “Olha, estou precisando de você, tô com problema e preciso que você me ajude. Tenho certeza que você vai dar conta do recado.” Olha, ao mesmo tempo que eu fiquei muito feliz, né, eu sofri tremendamente, porque, de repente, vir a ser gerente na sede da Petrobras, é uma coisa assim que deu um nó na minha cabeça. Mas, mais uma vez, eu fui e a partir de 1º de novembro de 1988, não me esqueço, eu assumi pela primeira vez uma função gerencial na Petrobras. E dali pra frente foi só sucesso. Consegui passar de uma gerência para outra, depois ascendi a um cargo maior. Cheguei a ser gerente de divisão durante cinco anos. E a coisa foi caminhando, caminhando e até hoje, nesse período de 1988 até hoje, três de setembro, eu fiquei apenas dois anos sem ter uma função de gerente. Então isso é motivo de muita alegria, de satisfação pra mim, porque creio que eu, certamente, venho contribuindo para o sucesso da empresa, não só pros seus empregados, acionistas, mas, acima de tudo, pro nosso País. Então, realmente, é motivo de muito orgulho de estar nessa Empresa até esta data.
P/1 – O Senhor pode contar pra gente alguma outra história marcante ou engraçada que o Senhor tenha vivido durante esse tempo aqui na Petrobras?
R – Uma história marcante que eu vivenciei, além dessas que eu já mencionei, foi quando a Petrobras implementou um sistema de gestão nacional, chamado Sistema Contábil Gerencial, que tem como sigla o SCG. E dentro desse sistema tem um módulo que atua, refere-se à área de contratação e área de finanças, que é o Banco de Dados e Contratos, o BDC. E lembro que eu era gerente do órgão que foi escolhido como piloto pra implantar esse sistema. Só que como a Petrobras, como vocês sabem, a Petrobras era nacional, hoje ela até extrapola as fronteiras do Brasil. E, na época, nós éramos o maior órgão pagador da Empresa, era o órgão que pagava a maior quantidade de documentos e o maior volume de recursos em moeda nacional. E exatamente esse órgão foi escolhido pra fazer a implantação desse sistema. Olha, eu ali estava, né? Foi uma coisa assim tremenda. Foram muitas, mas muitas noites sem dormir. Muita confusão. Mas foram experiências muito ricas, sabe? Eu creio que, na época, eu pensava não conseguir superar aquele desafio, que foi um desafio enorme. Outro desafio também que eu participei, dois outros desafios que também foram muito marcantes na minha vida, foi quando um órgão, precursor do atual “Compartilhados”, concentrou na sede da Petrobras todas as atividades contábeis, financeiras e tributárias do Rio de Janeiro, com exceção de Macaé. Então, o que estou querendo dizer com isso: as atividades da Fronape, da Reduc, do (DTSE?) e do Cenpes foram centralizadas no Edise, acrescentando-se a própria atividade do Edise mais do [prédio da rua General] Canabarro, no Maracanã. E lá estava eu mais uma vez à frente desse grandioso projeto, que hoje gerou o Compartilhados. E também mais uma vez a gente conseguiu sair ileso. Então foi assim uma experiência maravilhosa. E a outra também que eu experimentei, que foi muito rica, que eu consegui certificar pela ISO 2000 o primeiro órgão de apoio e de serviço da sede da Empresa. Então eu trabalhava nos Compartilhados, éramos 23 gerências, e a gerência que eu estava à frente foi a primeira que conseguiu ser certificada pela ISO. Então, assim, foi também outro crescimento pessoal, profissional, maravilhoso. Essas são algumas experiências que eu tenho vivenciado ao longo desses 29 anos, que na semana que vem estarei completando, na Petrobras.
P/1 – O Senhor é filiado ao Sindicato?
R – Não, não sou filiado ao Sindicato.
P/1 – Por quê?
R – Porque eu nunca senti uma motivação especial que me levasse a filiar.
P/1 – E o Senhor se recorda, nesses momentos de luta do Sindicato, alguma história marcante que o Senhor venha a lembrar ou a sua própria participação?
R – Eu lembro, embora estivesse à parte, uma grande greve que foi convocada pelo Sindicato. Não me lembro bem qual foi o período. Inclusive esse meu amigo, o Ari Cardoso, era o gerente de recursos humanos da Petrobras. E ele lá estava. E as nossas refinarias foram tomadas por tanques, viaturas do Exército, soldados, enfim. Foi uma época de bastante apreensão, né? Mesmo eu não estando ligado a nenhum movimento grevista, mas eu senti como empregado da Petrobras. A imagem da Empresa estava sendo exposta. Alguns colegas estavam enfrentando dificuldades de saírem das instalações da Empresa. Foram momentos de bastante tensão. A Empresa não saía da mídia falada, escrita, televisada. Então foi um momento de muita tensão, mais uma vez eu reforço que, mesmo não estando à frente do movimento, mas eu senti como se lá estivesse, porque eu tenho a Petrobras no meu sangue. A Petrobras é algo abaixo de Deus e da minha família, da minha esposa, algo assim, não tenho palavras pra definir o que representa a Petrobras pra minha vida. Por isso que qualquer movimento pró ou contra a Petrobras cai muito profundo no meu emocional.
P/1 – E como o Senhor vê a relação do Sindicato com a Petrobras ?
R – Eu acho que o Sindicato, como toda entidade de classe, eu creio que ele desempenha o seu papel segundo as expectativas daqueles que eles representam, tá certo? Agora, eu não tenho maiores detalhes que me capacite no aprofundamento no assunto. Mas eu creio que o objetivo do Sindicato é defender os interesses daqueles que lhe são filiados. Então essa, pelo menos, é o que eu sempre acompanhei nas falações, geralmente em épocas de dissídio ou alguma coisa que no entender do Sindicato contrariava os interesses dos trabalhadores.
P/1 – E tem mais alguma outra história nesses 50 anos de Petrobras que o Senhor queira falar?
R – Como eu já disse, eu faço há 29 anos parte desse sonho. E vou estar, com certeza, porque Deus lá em cima vai permitir, eu quero estar vivo e dentro da Petrobras, ainda atuando, na ativa, ver nos principais noticiários do Brasil, tanto televisados quando falados, dizendo: “O Brasil finalmente alcançou a tão sonhada auto-suficiência em petróleo. A Petrobras acabou de produzir o milionésimo ou trilhonésimo - enfim, não sei qual vai ser a demanda da época – o barril de petróleo que alcançou a meta da auto-suficiência”. Esse é o meu grande sonho daqui pra frente. É estar na ativa, contribuindo para a concretização daqueles que um dia ainda vão ter suas vidas pra criar esse sonho, que hoje não é mais um sonho, é uma realidade.
P/1 – Senhor Paulo, o que foi pro Senhor ter participado dessa entrevista, contribuído pro Projeto Memória Petrobras?
R – Eu fico muito feliz e muito gratificado da iniciativa, porque eu creio que nós deixaremos uma experiência muito importante praqueles que nos sucederão, os jovens, né? Porque, infelizmente, a gente tem um País maravilhoso, abençoado por Deus, rico de tudo aquilo que vem de Deus, mas uma memória humana muito volátil. Então a gente não tem por hábito valorizar aqueles que deixaram de alguma forma um legado muito importante para que nós chegássemos ao ponto que nós estamos. Hoje, o nosso País é respeitado no exterior e eu tenho certeza que uma das grandes razões a Petrobras está encabeçando essa visão que o mundo hoje tem do nosso País. E também eu quero deixar um outro depoimento que eu espero que esse banco de dados, memória do empregado, banco de dado de pessoas, ele consiga chegar às escolas também, a entidades formadoras de opinião, pra que as pessoas conheçam um pouquinho mais o que é a Petrobras e qual é o sentimento que é passado por aqueles que trabalham. Porque eu tenho certeza que muitos dogmas serão derrubados. E será motivo de orgulho cada vez mais pro brasileiro.
P/1 – Bom Senhor Paulo, gostaria de agradecer a entrevista. Muito obrigado.
R – Tá bom. Eu que agradeço essa oportunidade, eu acho que é um momento ímpar. Eu ficaria imaginando: “Puxa, o que eu poderia deixar”. Se posso assim dizer, não é pretensão, mas qual o tipo de marca que eu poderia deixar como contribuição para essa Empresa que me deu tudo. E tenho certeza que continuará a dar muito e muito mais, não só para aqueles que aqui trabalham, mas para aqueles que aqui vivem, aqui nascem. Eu acho que a Petrobras é vitoriosa.
P/1 – Obrigada, Senhor Paulo.
R – Obrigado a vocês.
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