José Fontana - trabalhou na abertura da estrada Eunápolis-Porto Seguro. Quando chegou em Porto Seguro pela primeira vez, em 14 de maio de 1945, José Fontana, 78 anos, não imaginava que também faria história aqui. Veio para abrir a estrada Eunápolis-Porto Seguro, acabou trabalhando na construção do cais e quando se deu conta, já havia ancorado seu barco, arranjado amigos, criado filhos e tomado amor pela terra. Hoje Seu Fontana leva os dias a caminhar. Nessas andanças, assiste religiosamente às sessões plenárias da Câmara Municipal, de onde falou com orgulho sobre seu trabalho, os carros que possuía, as roupas importadas que usava e as mulheres que conquistou durante seus 50 anos de Porto Seguro. O que o Sr. veio fazer em Porto Seguro? Eu vim para construir a estrada daqui para Eunápolis. A Construtora Industrial Ltda., tinha a sigla Cila, é que me trouxe. Cheguei com 3 meses de casado e trabalhava como apontador. Daí passei para a parte comercial, da parte comercial passei para sócio nos lucros. Aí o governo do estado obrigou nossa firma a construir o cais de contenção. Foi abaixo-assinado para lá, falando que a água estava invadindo a cidade. Aí tinha só um cais de madeira a pique e a água chegava na casa de Jaime Valiense (Hoje na Passarela do Álcool). A maré de março derrubava aquilo tudo. Como as pessoas em Salvador imaginavam Porto Seguro? Ninguém queria vir pra cá. A fama de Porto Seguro é que aqui dava muita cobra e muita febre. Cobra dava mesmo, agora febre eu nunca vi não. Eu nunca tive doença aqui. E como era a cidade nessa época? Aqui não tinha nada. Vinha tudo de fora. A única coisa que tinha era peixe. Assim mesmo, quando dava vento Sul a gente não tinha nem o que comer. Trouxemos 300 homens, machado, facão, picareta, enxada, foice. Tudo era feito na mão. Aqui tinha cada monstro de pau. Daqui para a Cidade Alta a gente andava debaixo do mato, numa estradinha estreita. Durou 1 ano e 4 meses até terminar de...
Continuar leitura
José Fontana - trabalhou na abertura da estrada Eunápolis-Porto Seguro. Quando chegou em Porto Seguro pela primeira vez, em 14 de maio de 1945, José Fontana, 78 anos, não imaginava que também faria história aqui. Veio para abrir a estrada Eunápolis-Porto Seguro, acabou trabalhando na construção do cais e quando se deu conta, já havia ancorado seu barco, arranjado amigos, criado filhos e tomado amor pela terra. Hoje Seu Fontana leva os dias a caminhar. Nessas andanças, assiste religiosamente às sessões plenárias da Câmara Municipal, de onde falou com orgulho sobre seu trabalho, os carros que possuía, as roupas importadas que usava e as mulheres que conquistou durante seus 50 anos de Porto Seguro. O que o Sr. veio fazer em Porto Seguro? Eu vim para construir a estrada daqui para Eunápolis. A Construtora Industrial Ltda., tinha a sigla Cila, é que me trouxe. Cheguei com 3 meses de casado e trabalhava como apontador. Daí passei para a parte comercial, da parte comercial passei para sócio nos lucros. Aí o governo do estado obrigou nossa firma a construir o cais de contenção. Foi abaixo-assinado para lá, falando que a água estava invadindo a cidade. Aí tinha só um cais de madeira a pique e a água chegava na casa de Jaime Valiense (Hoje na Passarela do Álcool). A maré de março derrubava aquilo tudo. Como as pessoas em Salvador imaginavam Porto Seguro? Ninguém queria vir pra cá. A fama de Porto Seguro é que aqui dava muita cobra e muita febre. Cobra dava mesmo, agora febre eu nunca vi não. Eu nunca tive doença aqui. E como era a cidade nessa época? Aqui não tinha nada. Vinha tudo de fora. A única coisa que tinha era peixe. Assim mesmo, quando dava vento Sul a gente não tinha nem o que comer. Trouxemos 300 homens, machado, facão, picareta, enxada, foice. Tudo era feito na mão. Aqui tinha cada monstro de pau. Daqui para a Cidade Alta a gente andava debaixo do mato, numa estradinha estreita. Durou 1 ano e 4 meses até terminar de abrir a estrada. A iluminação era com lampião de carbureto. Depois foi motor a óleo diesel. E o cais, demorou quanto tempo para ser construído? Nós levamos 8 anos. Agora é cais mesmo. Quando dava meia noite, 1 hora, 2 horas, o que fosse, se a maré vazava a gente estava trabalhando. Foi uma dificuldade encontrar pedra. A gente andava a cavalo procurando. O cimento chegava de navio. Por que o Sr. decidiu ficar? Eu tinha dinheiro e ia comprando terra. A primeira coisa que comprei aqui foi onde são hoje os bairros Fontana I e Fontana II. Minha firma saiu e eu fiquei. É verdade que o primeiro carro a entrar na cidade era do senhor? Era um Chevrolet "Bê Guê Dê" cara branca. Quando cheguei aqui com esse caminhão, minha nossa senhora, era uma festa só Esse caminhão veio embarcado na roseira do "Elizabeth". E desceu onde é hoje a cooperativa. Tinha um armazém do pai de Parracho, que recebia as mercadorias. Era um trabalho danado para desembarcar. E as roupas eram compradas onde? Sempre usei um sapato para cada roupa. Eu tinha 12 ternos, 12 camisas, 12 sapatos e 12 meias. Os sapatos eu comprava em São Paulo e as roupas meu amigo importava da Bélgica. Era só linho SS 120. Eu mandava engomar com parafina e aquilo chegava lustrar, como um espelho. No cabelo, brilhantina francesa "Rouge de Gallé" e o perfume também. O perfume eu uso até hoje, mas a brilhantina acabou e eu passei para outra. O Sr. era muito mulherengo? (risos) Ah... isso eu sou até hoje. Quando a gente chegava, as mulheres ficavam doidas em cima da gente. Era eu, Jaime Moura, Ivan Moura, Raimundo Costa, Augusto Rodrigues. Esses eram da administração, fora os engenheiros chefes, Dr. Antônio de Almeida Souza e Prudente de Almeida. As casadas, solteiras, viúvas, moça incubada, todas queriam a gente. O que é moça incubada? (risos) É moça que não é moça mais e esconde. O Sr. bebe? Nunca bebi, nunca fumei e nunca joguei. Meu vício é só mulher. Eu nasci da mulher, gosto de mulher e tenho uma mulher. Tenho 50 anos de casado e minha esposa é excelente. Nunca me deu nenhum tipo de aborrecimento. Conheço esse país inteiro e por esses lugares todos eu tive mulher. Mais de 1.000 mulheres eu conheço. Quando era solteiro então, eu era o diabo. Hoje a cidade é melhor ou pior que naquela época? Hoje é melhor. Naquele tempo não tinha nem o que comer. Hoje está beleza. Pra comprar peças pros meu carros - só caminhão eu tinha 5 - eu chamava um teco-teco de Canavieiras, ia pra Ilhéus, comprava as peças e voltava. Eu falava pelo telefone do Correio e o teco-teco vinha. Atualmente como é o dia-a-dia do Sr.? Hoje eu só faço andar. Vou perto do rio da Vila, fico andando por aí. Na hora do almoço vou pra casa, depois saio de novo. Aqui tenho amigos, comprei terras, tive 3 filhos, ganhei título de cidadão honorário. Acho que gosto mais daqui do que de lá. (Publicado na edição 74 do Jornal do Sol de Porto Seguro - Bahia. Entrevistado pela jornalista Hilda Rodrigues)
Recolher