Nome do Projeto: Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Paloma Rocha
Entrevistada por Ana Maria Bonjour
Local de gravação e data completa: Rio de Janeiro – 12/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento: PETRO_CB621
Transcrito por: Luciano Fernandes Urban
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Queria começar com você dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Paloma de Melo e Silva Rocha, nasci em Salvador no dia 12 de junho, dia dos namorados, de 1960.
P/1 – Gostaria que você nos contasse de forma sucinta se você conseguir, a sua trajetória na área cultural, como começou...
R – Bom, eu particularmente nasci dentro da área cultural digamos assim, pela filiação que eu tenho. Sou filha do Glauber Rocha e da atriz Helena Inês. Então desde a minha mais tenra idade eu vi todo o processo do cinema novo começar, eu me lembro aos três ano de idade meu pai saindo para filmar, que era dia do meu aniversário, ele saindo para filmar Deus e o Diabo na Terra do Sol e então eu sempre convivi com todo esse processo inicial dos anos 60, do processo de formação da cultura no Brasil no que se diz respeito ao cinema, ao teatro, a própria música, era um período muito agitado. Logo em 64 nós nos mudamos, minha família, minha avó e eu, minha avó Dona Lúcia Rocha e minha tia Neci Rocha que também era atriz, nós nos mudamos para o Rio de Janeiro no auge do processo do golpe em 64, era uma barra pesada muito grande. Nós viemos da Bahia e ficamos ali no Rio de Janeiro. Meu pai já tinha vindo antes, porque ele já tinha feito Deus e o Diabo na Terra do Sol, ele veio atrás justamente do projeto do Cinema Novo, ele tinha ido para Minas depois ele veio para o Rio e foi ali sempre um período de muita efervescência, de muita... pra mim eu garota ali naquele... vi toda aquela perseguição política, veio também da Bahia naquela época Maria Bethânia, os Novos Baianos ficaram todos ali...
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Depoimento de Paloma Rocha
Entrevistada por Ana Maria Bonjour
Local de gravação e data completa: Rio de Janeiro – 12/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento: PETRO_CB621
Transcrito por: Luciano Fernandes Urban
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Queria começar com você dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Paloma de Melo e Silva Rocha, nasci em Salvador no dia 12 de junho, dia dos namorados, de 1960.
P/1 – Gostaria que você nos contasse de forma sucinta se você conseguir, a sua trajetória na área cultural, como começou...
R – Bom, eu particularmente nasci dentro da área cultural digamos assim, pela filiação que eu tenho. Sou filha do Glauber Rocha e da atriz Helena Inês. Então desde a minha mais tenra idade eu vi todo o processo do cinema novo começar, eu me lembro aos três ano de idade meu pai saindo para filmar, que era dia do meu aniversário, ele saindo para filmar Deus e o Diabo na Terra do Sol e então eu sempre convivi com todo esse processo inicial dos anos 60, do processo de formação da cultura no Brasil no que se diz respeito ao cinema, ao teatro, a própria música, era um período muito agitado. Logo em 64 nós nos mudamos, minha família, minha avó e eu, minha avó Dona Lúcia Rocha e minha tia Neci Rocha que também era atriz, nós nos mudamos para o Rio de Janeiro no auge do processo do golpe em 64, era uma barra pesada muito grande. Nós viemos da Bahia e ficamos ali no Rio de Janeiro. Meu pai já tinha vindo antes, porque ele já tinha feito Deus e o Diabo na Terra do Sol, ele veio atrás justamente do projeto do Cinema Novo, ele tinha ido para Minas depois ele veio para o Rio e foi ali sempre um período de muita efervescência, de muita... pra mim eu garota ali naquele... vi toda aquela perseguição política, veio também da Bahia naquela época Maria Bethânia, os Novos Baianos ficaram todos ali hospedados na casa de minha avó num período curto. A minha avó fazia as roupas para o primeiro disco dos Novos Baianos. Então a gente tinha ali uma intimidade muito grande, todos aqueles baianos ali conviviam muito e eu era menina ali, gostava de tocar violão, tocar tabaque, ficava ali correndo atrás de um e de outro. Depois veio o período mais bravo de 68 como AI-5, teve o exílio, foram todos, eu fui também, tive no exílio algumas vezes acompanhando meu pai ou minha mãe, estive em Londres também. Então eu fiquei sempre ali, convivia com aqueles artistas. Então acho que isso sempre teve impregnado, fazia parte da minha vida. Depois aos 18 anos eu participei com o meu pai do filme Idade da Terra, onde eu estou lá como atriz e continuista, estou lá vestida com umas penas brancas tocando violão. Meu pai escrevia e compunha no violão. Depois eu fui pra Salvador, não, antes aqui no Rio de Janeiro eu fiz um espetáculo amador na época ali do Trate-me Leão a gente tinha um grupo até um grupo escolar de teatro amador no Colégio Alonso que era da direção na época Henriete Amado. A gente fez uma criação coletiva chamando “Eu quero brincar lá fora”, se chamava “Eu quero brincar lá fora”, e eu fui para Salvador e fui ser atriz de peças infantis, entrei no teatro Castro Alves e tal, quando meu pai morreu e a Neci minha tia também teve uma morte trágica. A cultura pra mim também ela se refere um pouco a tragédia da cultura brasileira, eu estou sempre dialogando com essas duas questões e aí quando meu pai morreu eu resolvi que eu não queria mais fazer... não queria mais ser artista, eu queria ser cientista porque aos 18 anos de idade você tem uma hora que morre a tia, morre o pai, morre o avô... “Que diacho é isso?” “Que cultura é essa? Qual o valor que isso tem na vida?” Aí eu fui estudar medicina, porque eu entendia que o trabalho do ator e do médico era a mesma coisa porque ambos eram intermediários de levar uma transformação ou um bem para o ser humano, o ator através da arte e o médico através da medicina. Isso eu entendia lá atrás. Mas assim mesmo eu tive minha primeira filha. Eu tinha um namorado em Salvador, o (Zedi?) e nasceu minha primeira filha Sara logo depois que meu pais morreu, quer dizer, um ano depois, Sara Carolina que hoje está com 22 anos. Mas meu casamento não deu certo eu me casei com uma outra pessoa que era um artista plástico e eu tive minha segunda filha que é Helene. Então eu tive minhas duas filhas e me mudei para São Paulo e logo que as meninas começaram a andar eu voltei e fui trabalhar na Embrafilme...
P/1 – Isso em que ano?
R – Isso já em 84, 85, por aí e eu fui trabalhar na Embrafilme, na Cinemateca, trabalhando com prospecção de materais. Aí comecei a pesquisar a obra do Paulo Emílio e fiz algumas mostras do Grande Otelo ali naquela Embrafilme que tinha em São Paulo ali naquela gestão do Paulo Augusto Calil que por sua vez então estava organizando pela primeira vez a obra do meu pai, o legado cinematográfico dele. Minha avó na mesma época aqui no Rio de Janeiro organizava o Tempo Glauber que hoje existe, que a gente está com mais de 80 mil documentos da produção intelectual do Glauber. E aí eu entrei para essa área de novo e comecei a trabalhar ali e aí eu fiz meu primeiro vídeo em 1987, ainda estava começando o vídeo no Brasil, que era um poema do Glauber chamado “Alvorada segundo Cristo” e que na época eu fui favorecida ali pela lei Sarney. Montei uma produtora e a gente fez um vídeo de 45 minutos e foi uma produção muito bacana, tem o Caetano, tem o Grande Otelo e a gente foi uma ficção documental, que não era um formato que cabia muito na época e tal. Esse filme passou em Veneza e depois eu voltei e continuei minha produtora em São Paulo fazendo institucionais, um pouquinho de comercial quando eu comecei a fazer, as crianças crescendo... aquela coisa toda. Veio nosso Plano Collor (risos) e aí eu vim para o Rio de Janeiro, mas eu sempre acompanhei... eu tenho três irmãos que têm diferença de 15 anos de idade de mim, que é o Eric Rocha, Ava Rocha e Pedro Paulo Rocha, e eles bem menores. Então eu sempre cuidei das coisas do Glauber Rocha, eu sempre fui a irmã mais velha, sempre fui a primogênita, então era a que daqui dá, dá acolá, tentava distribuir os filmes, recuperar e organizar aquela coisa toda. Quando eu vim pro Rio então, depois do Plano Collor, as meninas já grandes, 9, 10 anos, eu fui trabalhar na TVE também. E fiz um projeto na Rio Filme, chamado “Cinema na Universidade”, que já era um trabalho de formação de público; na época quem dirigia a Rio Filme era a Marisa Leão. Então tinha um projeto de formação de público, que era levar filmes de 35mm para as universidades na periferia do Rio; montava...tinha um projetor 35, então ia com debates e tal. Depois disso eu recebi um convite para trabalhar na TV Globo (risos), como assistente de direção de uma novela chamada “Pátria Minha”, do Denis Carvalho. E lá fiquei, durante 9 longos anos...8. Fui assistente de direção, porque foi um período difícil também eu precisava trabalhar. A minha avó estava organizando toda obra do Glauber aqui no Templo Glauber, então eu ficava e dividia com ela sempre assim...autorização para as mostras, o conceito de algumas coisas. Mas de fato eu batia o ponto mesmo no Projac e lá eu fiz diversas novelas, trabalhei com Jayme Monjardim, com Denis Carvalho, com Alvarenga, Jorge Fernando...Até que agora, no final da minha temporada de novelas na TV Globo, eu trabalhei com Luis Fernando Carvalho, na novela “Esperança”. Lá, eu tive uma infelicidade – ou uma felicidade, até hoje eu não sei – de ter derrapado no café da novela “Esperança” e meu joelho trincou e inchou, e eu tive que sair para operar, isso no dia do meu aniversário de 42 anos. Eu me lembro disso porque meu pai morreu com 42 anos, então foi uma coisa muito curiosa. E eu não entendi porque eu não conseguia mais andar, então sai para operar e alguns meses depois eu fui convidada aqui pela Petrobras para restaurar a obra dele pelo cinqüentenário. A gente já tinha feito o DVD de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” pela Rio Filme, então acho que isso chamou também a atenção da Lorena, que estava aqui na ocasião. E nesse projeto do cinqüentenário a Petrobras me convidou, que foi pra mim uma grande alegria. E existia um projeto, mas não estava fechado – eu me lembro disso como se fosse hoje, porque a Lorena me ligou ás 11 da manhã, eu estava em São Paulo, e ela falou assim: “Cadê o projeto do Glauber?” Eu falei assim... Ela falou: “Faz um pra mim agora, até ás 3 da tarde, porque vai ter...” Aí meu companheiro, namorado e tal, (Joel Pisini?), que também é cineasta, a gente (envidou?) todos os esforços, fizemos o projeto. O projeto, ao longo de uma semana, ele se desenvolveu, também com o apoio do (Melo?). Daí a gente montou, eu montei um projeto inteiro já um mês depois, um projeto inteiro de toda a obra do Glauber que era a coleção Glauber Rocha porque eu já não estava conseguindo mais distribuir nenhum filme, passar nenhum filme porque as cópias estavam todas danificadas, alguns filmes do Glauber como “Terra em transe” e “O Dragão da maldade” não têm mais negativo. O “Terra em transe” tem um negativo novo hoje, ficou pronto ontem. Fui para São Paulo ontem com o projeto que é um filme importante do Glauber, um filme que foi feito em 1967, um filme político, poético e absolutamente atual que a gente vai passar ele em Brasília agora no dia 25 de novembro. E aí começou esse trabalho que eu, enfim, 70% da... um projeto com dedicação integral pra mim mas além disso eu desenvolvi nesse último ano com o Joel Pisini alguns outros documentários pessoais e para o Canal Brasil. A gente fez o “Abre” que foi um documentário sobre a minha avó, o “Elogio da Luz” que foi um documentário sobre o (Rogério Danzela?) e “O retrato da terra” que também foi um documentário para o aniversário do Glauber do ano passado, que é um documentário sobre o Glauber que tem ganhado vários prêmios agora em Salvador, Vitória e tal. E atualmente estou terminando esse... ao longo desse processo desses dois anos antes de vim para a Petrobras, já estava desenvolvendo o projeto do “Terra em transe” na verdade, com o documentário chamado “Depois do transe”, que foi a partir de documentos que eu pesquisando no Tempo Glauber, as coisas do Glauber, lá tinha um texto feito por ele que se chamava “Depois do transe” que era um texto que ele escreveu para uma revista da Embrafilme onde ele contava um pouco a trajetória do filme. O texto estava incompleto, então ele... engraçado que ele se chama “Em busca do ouro”, aí ele contava sobre a produção, ele falou dos atores, que o filme queria ser feito com o (Alain Delon?) e tal. Aí eu mergulhei nessa pesquisa e convidei Joel para mergulhar nessa pesquisa comigo e aí a gente identificou 12 horas de material, encontrou 12 horas de material dele falando que estavam com a cineasta e historiadora (Raquel Gerger?) em São Paulo e ela falou: “Paloma eu tenho aqui ele fala três horas mais ou menos” em torno desse período político no Brasil... dos anos 68, faz uma trajetória e fala do filme, fala do “Terra em transe”, sobre a questão da colonização na cultura brasileira brasileira que é uma questão histórica, trágica né e na América Latina também. Então a gente montou esse documentário que para o dvd do “Terra em transe” eu dividi ele em 13 blocos como se fosse uma revista eletrônica, que era muito difícil juntar tanto material. E ele conta passo a passo toda a trajetória do filme e isso sustentado por outras entrevistas como do Ismail Xavier, todo elenco, toda equipe e o debate histórico do Museu de Imagem e do Som que estava aqui, que tem o Hélio Pelegrino falando, o Joaquim Pedro de Andrade acerca do filme. Então é um material riquíssimo porque tem além disso as imagens, o making of do filme porque o Joel tinha encontrado com o Mário Muracam um tempo atrás e já tinham telecinado esse material que eram as sobras do “Terra em transe”, as cenas não montadas e o making of que tinha ali uma segunda câmera. Então ficou um material precioso que vai acompanhar agora o dvd também, quer dizer, esse projeto que a gente está fazendo aqui na Petrobras tem a restauração dos filmes que no caso o “Terra em transe” a gente conseguiu fazer a partir de um contratipo que tinha combinado de som e de imagem, que tinha riscos enormes, ficou um ano restaurando lá no Mega, o pessoal do Mega restaurou, o Fábio Fracarolli. Foi feita toda um reprodução fotográfica do som antes de ir para o digital, antes de entrar para o pro toll, então foram feitas diversas cópias com diversas testes de cross modulation como eles chamam, marcando a densidade do som até você chegar a um novo negativo em película, então você pega aquela cópia em película do som e aí você coloca no pro tolls. E ontem, eu estava falando, ficou pronta esse novo negativo do “Terra em transe” restaurado digitalmente. A gente pegou o material, entrou na restauração digital e voltou para o novo negativo. É um projeto é pioneiro aqui no Brasil, tanto do “Terra em transe” quanto eu acho do “Macunaíma” que está obrigando o investimento das empresas, investimento em tecnologia, um investimento na formação de mão-de-obra especializada para a restauração digital que é uma coisa relativamente nova no mundo inteiro. E foi um processo muito difícil, mas eu estou muito satisfeita como resultado do “Terra em transe”.
P/1 – É o primeiro que está pronto?
R – É o primeiro que está pronto. O dvd já está autorando também. Até o final do ano já está tudo aí disponível para as novas gerações. Eu acho que tenho desenvolvido um trabalho cultural que é um trabalho de recuperação, de recriação como eu digo e não de resgate, mas muito de recriação da memória, porque por mais que você obedeça o filme, por mais que você respeite você está fazendo uma intervenção digital, você precisa recriar nem que você não recrie igual. E o trabalho do dvd sempre com esse disco extra que eu chamo de disco da memória porque ele prepara, contextualiza, você fala todo o período histórico e político da época que esses filmes foram feitos para que eles sejam relançados, para você não pegar um trabalho que foi feito há dez, 20 anos atrás e solte no meio do mercado. É a mesma coisa que você pegar um índio lá em Carajá e soltar ele na praia de Copacabana, ele vai ficar perdido ali dentro (risos), então esse índio é lá de uma tribo, você tem que identificar senão as pessoas não sabem, vão ficar todo mundo olhando. Então esse é o trabalho que a gente está fazendo porque eu acredito nisso num sentido mesmo de mandar uma reconstrução da identidade cultural brasileira, que tem essa questão forte no Brasil hoje que é a questão da linguagem, da colonização da linguagem. Então ontem eu até conversava com uma pessoa que não é que você é contra a indústria, eu sou absolutamente a favor da indústria mas o sangue que corre, o imaginário que corre dentro dessa indústria que eu acho que ela pode se voltar mais para a nossa realidade. É tudo do ponto de vista da linguagem, acho que a gente precisa realfabetizar a linguagem do imaginário brasileiro porque ele está aí, quer dizer, o imaginário popular está aí, ninguém está inventando a roda, mas é porque ficou um pouco uma cultura para inglês ver. Você começa a falar uma língua que não é mais a nossa, do ponto de vista da construção da linguagem.
P/1 – Como você acha isso? Quais as dificuldades que você encontra?
R – Basicamente a dificuldade... a primeira que é a dificuldade do mercado, porque você fazer obras mais artísticas dentro da área do audio visual ela requer um subsídio que de repente não está tendo apelo comercial. Mas eu acredito que se pode investir justamente na construção dessa formação de público. Eu tive uma experiência muito feliz esse ano na prefeitura de São Paulo, a gente passou clássicos do cinema brasileiro ao ar livre nas praças de São Paulo, o projeto Cinema no Parque com a Secretaria do (Verde?). Então lá a gente passou “Deus e o diabo na terra do sol”, “Bandido da luz vermelha”, “São Paulo S/A”, qual foi o outro que passou...e também a gente passou filmes contemporâneos, “Durval Discos” e “Amarelo Manga”. E você observava bem nos clássicos que tanto no “Deus e o diabo na terra do sol” passado no Ibirapuera quanto “Bandido da luz vermelha” que até é um filme mais popular que a gente passou no Parque da Luz, foram 560 pessoas e tinha...os nordestinos em São Paulo - em São Paulo tem muito nordestino - eles paravam de bicicleta, o porteiro do prédio, porque viam ali, tinham identificação com o sertão, com a seca, com a miséria, com a fome, com as coisas todas, quer dizer... Então eu acredito nisso, acredito que... eu me lembro tinha uma menininha: “nossa como a música desse filme é bonita!”. Ela estava ouvindo Vila Lobos pela primeira vez. Então não é porque é popular que tem que ouvir... sem querer citar nomes, músicas comerciais de bate estaca, porque eu acho que subestima um pouco a qualidade da sensibilidade da criança, do jovem, do espectador de uma forma geral que se sente até lisonjeado, são pessoas que iam tomar banho, se vestir, se arrumavam para ir ao cinema pela primeira vez. A gente colocou filmes que “ah, são filmes herméticos, são filmes difíceis”, eu acredito que não, inclusive eu acho que esses filmes eles estão com uma aceitação diferente do que se tinha há 30 anos atrás.
P/1 – Por que?
R – Porque eu acho que o mundo mudou. Porque a linguagem até ajuda até da televisão e aí você vê o lado como é que você junta todas as coisas, quer dizer, você vê até com uma linguagem que é veiculada por aí em massa, ela de um certa forma, ela desenvolveu as pessoas a assimilarem a linguagem audio visual, a montagem, a montagem paralela, a montagem metafórica, porque isso você vê, está acostumado a ver mais, na televisão, no cinema, sobretudo na televisão. Então de uma certa forma elas estão mais instrumentalizadas até para assistirem uma obra mais difícil, quer dizer, existe aí....
(fim da fita _________).
Palavras em dúvida:
Enriete Amadre;
Zédi;
Joel Pisini;
Envidou;
Melo;
Rogério Danzela;
Alain Delon;
Raquel Gerger.
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