O REBITE
Tinha um dono de bar em Realeza, cujo esporte favorito é pregar peças nos outros. Seu estabelecimento, à beira da rodovia rio-baia, especializou-se na venda de “rebites” para trabalhadores sonolentos. “Rebite” é aquele comprimido muito usado por motoristas para combater o sono. Entretanto, o que o homem vendia a seus fregueses, era um poderoso “laxante” cujas conseqüências, tomávamos conhecimento depois e nos divertíamos. Fazia aquilo constantemente, mas, todos os dias alguém caía na sua conversa e tomava um “laxante”. Para piorar, recomendava que o “rebite” fosse ingerido com leite morno, o que aumentava o efeito do mesmo sobre o organismo. Suas vítimas mais assíduas eram cobradores e motoristas “sonolentos” que, após passarem a noite na farra tinham que trabalhar domingos inteiros. Assim procuravam o meu homem e ali adquiriam o seu “rebite”. Era muito comum o “freguês” adquirir o comprimido, e, este já trazia o leite morno, pronto para ser ingerido. Ai o coitado tomava aquela mistura, e, não rodava cinco quilômetros, tinha que parar o carro e procurar um lugar para se desapertar. Na maioria das vezes o lugar era o mato mesmo. Agora, imagina um ônibus parado à beira da pista, com o motorista ou o cobrador no mato. O fato é que isso aconteceu inúmeras vezes, mas, sempre aparecia mais, um querendo “rebites”. E, não foram poucas as vezes que seus fregueses vinham reclamar
– Puxa Alair, aquele remédio que você me deu quase me mata de desinteria.
- Mas, você dormiu ?
Indagava ele candidamente
– Claro que não !
Respondia a vítima
– Caguei o dia inteiro.
- Então você não tem do que reclamar.
Argumentava.
Certa manhã, um cobrador de nome Mundinho, chegou-se ao Alair e reclamou que não estava agüentando, tinha ido a uma festa, onde ficara a noite inteira, e não sabia como vencer o dia, ainda mais que fora escalado para fazer o Circular – ônibus que não tinha horário...
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O REBITE
Tinha um dono de bar em Realeza, cujo esporte favorito é pregar peças nos outros. Seu estabelecimento, à beira da rodovia rio-baia, especializou-se na venda de “rebites” para trabalhadores sonolentos. “Rebite” é aquele comprimido muito usado por motoristas para combater o sono. Entretanto, o que o homem vendia a seus fregueses, era um poderoso “laxante” cujas conseqüências, tomávamos conhecimento depois e nos divertíamos. Fazia aquilo constantemente, mas, todos os dias alguém caía na sua conversa e tomava um “laxante”. Para piorar, recomendava que o “rebite” fosse ingerido com leite morno, o que aumentava o efeito do mesmo sobre o organismo. Suas vítimas mais assíduas eram cobradores e motoristas “sonolentos” que, após passarem a noite na farra tinham que trabalhar domingos inteiros. Assim procuravam o meu homem e ali adquiriam o seu “rebite”. Era muito comum o “freguês” adquirir o comprimido, e, este já trazia o leite morno, pronto para ser ingerido. Ai o coitado tomava aquela mistura, e, não rodava cinco quilômetros, tinha que parar o carro e procurar um lugar para se desapertar. Na maioria das vezes o lugar era o mato mesmo. Agora, imagina um ônibus parado à beira da pista, com o motorista ou o cobrador no mato. O fato é que isso aconteceu inúmeras vezes, mas, sempre aparecia mais, um querendo “rebites”. E, não foram poucas as vezes que seus fregueses vinham reclamar
– Puxa Alair, aquele remédio que você me deu quase me mata de desinteria.
- Mas, você dormiu ?
Indagava ele candidamente
– Claro que não !
Respondia a vítima
– Caguei o dia inteiro.
- Então você não tem do que reclamar.
Argumentava.
Certa manhã, um cobrador de nome Mundinho, chegou-se ao Alair e reclamou que não estava agüentando, tinha ido a uma festa, onde ficara a noite inteira, e não sabia como vencer o dia, ainda mais que fora escalado para fazer o Circular – ônibus que não tinha horário – chegava ao destino e retornava ao ponto de partida.
- Se fosse um horário de linha, poderia descansar uns minutos entre as viagens, mas, na circular não sei se dou conta.
Reclamou.
“Penalizado” com a situação, o Alair se prontificou a conseguir-lhe um “Rebite”.
- Pobre é foda. . . É duro ter que trabalhar sem condições. Seu chefe não te dispensa não ? – Indagou o alair.
- Que nada - respondeu o infeliz.
- Mas, vamos resolver isso - garantiu.
Assim, deixou o pobre cobrador na beirada do balcão e foi preparar o coquetel para o mesmo.
Minutos depois chegou com um copo de leite morno e um comprimido escuro.
- Ai, pode tomar, garanto que hoje você não dorme.
O pobre cobrador ainda pagou pelo leite e o comprimido, que ingeriu cheio de esperança.
- bebe o leite todo recomendou o Alair. . .
- tudo bem – respondeu o sonolento cobrador sorvendo as últimas gotas de leite do copo.
Assim que tomou o seu “rebite”, o cobrador saiu e se dirigiu ao ônibus cujo motorista já estava buzinando para sair.
Curiosamente essas cenas eram vividas repetidamente, mas, eram como o drible do Mané Garrincha, sempre para o mesmo lado, e, todos os dias alguém caia naquela armadilha que já tinha até platéia, disposta a apostar quantos quilômetros o ônibus andaria sem parar.
Assim que o cobrador assumiu o seu posto, o motorista deu a partida no veículo.
Saindo do primeiro ponto o velho ônibus foi conduzido até o Hotel Ibéria, onde recolheu mais passageiros, em seguida para o trevo onde outros esperavam e dali partiu para Manhuaçu.
Nosso cobrador seguia animado esperando pelos efeitos do “rebite”, que começaram na altura da entrada do Manhuaçuzinho, com uma leve fisgada na barriga.
Tudo bem – imaginou – Deve ser o efeito que já está começando.
O problema é que aquela fisgadinha aumentou de intensidade e, um quilômetro depois, o Mundinho começou a se encolher na primeira poltrona do ônibus.
O motorista de nome janjão, estranhou a atitude de seu auxiliar que tinha cessado a cobrança das passagens e se dirigiu ao mesmo.
- O que houve Mundinho ? –
- Rapaz, minha barriga está uma panela de pressão. Parece que vou explodir – Respondeu nosso diligente cobrador.
- Mas, você comeu alguma coisa ? Indagou.
- Nada, apenas tomei um “rebite” lá no Bar do Alair.
- Que merda - disse o Janjão. - Você é um panaca. Todo mundo sabe que o Alair vive vendendo laxante como “rebite” e você ainda entra nessa.
Nessa altura da discussão o Mundinho que já estava esverdeando, pediu para o Janjão parar porque precisava dar um jeito naquela situação.
Janjão, que por ouvir dizer, ou porque já tinha experimentado o “rebite” do Alair, parou o ônibus imediatamente à beira de um matagal e o Mundinho desceu já com as calças na mão, arriando ali mesmo ao lado do ônibus.
A cena não poderia ser mais constrangedora. O ônibus parado, os passageiros na janela e o Mundinho ali do lado se desapertando. E o pior é que na posição em que ficou, quem vinha por trás, via tudo, e, sendo a estrada muito movimentada, muitas pessoas passavam e a pilhéria era geral. Uns buzinavam, outros gritavam. . .
Mas, como não há mal que sempre dure, finalmente o Mundinho conseguiu controlar a situação, e, recompondo-se assumiu o seu lugar no coletivo. Desapertado momentâneamente, disse ao motorista que a viagem poderia prosseguir. Mas, coitado ! O Ônibus não chegou a avançar quinhentos metros e novamente a barriga do Mundinho começou a roncar. Este, agüentou o quanto pode, mas, como não tinha jeito, solicitou uma nova parada, e, novamente o mesmo procedimento, arriou as calças ao lado do ônibus e novamente se desapertou. Os passageiros, já conhecedores da desventura do Mundinho gritavam.
- Ai cagão, toma mais rebites.
- Queria ver se fosse um de nós se o motorista teria essa paciência toda.
O Mundinho ali, naquela situação humilhante, e, no seu íntimo pensava.
“Eu mato o Alair” quando voltar em Realeza.
“Maldita hora que aceitei aquele rebite”.
No entanto, como não há mal que sempre dure, as coisas foram voltando ao normal e o Mundinho autorizou ao motorista o prosseguimento da viagem, e, ainda com a barriga roendo, conseguiu chegar à cidade, enfrentando toda sorte de pilhérias dos passageiros, mas, de uma coisa estava certo.
Rebite do Alair, nunca mais.
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