Me chamo Lucca dos Santos Alves. Tenho 28 anos e sou morador da comunidade quilombola Sítio Novo, na zona rural de Januária, Minas Gerais. Fui adotado ainda recém-nascido pelo senhor José Francisco Alves Figueiredo e pela dona Maria José dos Santos Alves, dois pequenos produtores rurais que me acolheram com muito amor.
Ainda criança, minha vida já seria marcada por lutas. Minha genitora me entregou para adoção e , seis dias depois, fui recebido por essa família que me criou com dignidade. Mas crescer não foi fácil. Aos seis anos, no meu primeiro dia de aula, começou o que viria a ser um dos períodos mais difíceis da minha infância: o bullying. Fui perseguido por oito anos. Troquei de escola, mas os agressores continuavam os mesmos. Eu os encontrava em todo canto: na igreja, na catequese, no ônibus escolar. Não havia refúgio. As sequelas foram muitas: ansiedade, insegurança, medo de falar, medo de existir. Por muito tempo, achei que não valia nada. Mas mesmo assim, havia algo dentro de mim que resistia. Um brilho que ninguém conseguia apagar.
Minha formação foi toda na rede pública. O contato constante com a natureza e a observação do céu despertaram em mim uma curiosidade científica que nunca mais me deixou. Dessa inquietação nasceu o projeto Astronomia Ribeirinha, voltado para estudantes de escolas públicas, com atividades práticas e observações astronômicas em linguagem acessível e incentivo ao pensamento crítico. A ideia era simples: mostrar que a ciência também pode nascer nas margens, nas beiras do rio, nos quilombos esquecidos.
Em 2023, vivi um marco importante: participei pela primeira vez da Feira Mineira de Iniciação Científica (FEMIC). Foram quatro anos trabalhando no projeto, estudando, analisando e ouvindo pessoas dizerem que não valia a pena. Sem orientador para revisar o trabalho e sem notebook, que queimou no mês da feira, fiz tudo pelo celular. Escrevi o artigo, montei os slides, gravei o vídeo...
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Me chamo Lucca dos Santos Alves. Tenho 28 anos e sou morador da comunidade quilombola Sítio Novo, na zona rural de Januária, Minas Gerais. Fui adotado ainda recém-nascido pelo senhor José Francisco Alves Figueiredo e pela dona Maria José dos Santos Alves, dois pequenos produtores rurais que me acolheram com muito amor.
Ainda criança, minha vida já seria marcada por lutas. Minha genitora me entregou para adoção e , seis dias depois, fui recebido por essa família que me criou com dignidade. Mas crescer não foi fácil. Aos seis anos, no meu primeiro dia de aula, começou o que viria a ser um dos períodos mais difíceis da minha infância: o bullying. Fui perseguido por oito anos. Troquei de escola, mas os agressores continuavam os mesmos. Eu os encontrava em todo canto: na igreja, na catequese, no ônibus escolar. Não havia refúgio. As sequelas foram muitas: ansiedade, insegurança, medo de falar, medo de existir. Por muito tempo, achei que não valia nada. Mas mesmo assim, havia algo dentro de mim que resistia. Um brilho que ninguém conseguia apagar.
Minha formação foi toda na rede pública. O contato constante com a natureza e a observação do céu despertaram em mim uma curiosidade científica que nunca mais me deixou. Dessa inquietação nasceu o projeto Astronomia Ribeirinha, voltado para estudantes de escolas públicas, com atividades práticas e observações astronômicas em linguagem acessível e incentivo ao pensamento crítico. A ideia era simples: mostrar que a ciência também pode nascer nas margens, nas beiras do rio, nos quilombos esquecidos.
Em 2023, vivi um marco importante: participei pela primeira vez da Feira Mineira de Iniciação Científica (FEMIC). Foram quatro anos trabalhando no projeto, estudando, analisando e ouvindo pessoas dizerem que não valia a pena. Sem orientador para revisar o trabalho e sem notebook, que queimou no mês da feira, fiz tudo pelo celular. Escrevi o artigo, montei os slides, gravei o vídeo de apresentação. O esforço valeu a pena. Alcancei 90 pontos, recebi um feedback extremamente positivo dos avaliadores e provei para mim mesmo que estava no caminho certo.
Além da astronomia, também me envolvo em projetos ambientais, desenvolvendo ações de conscientização ecológica, educação ambiental e práticas sustentáveis. Minha trajetória inclui participação na missão análoga espacial Habitat Marte, no Rio Grande do Norte, uma estação que simula a vida em Marte desde 2017. Lá, participei de pesquisas extremas, simulações de vida em estações espaciais e protocolos de sustentabilidade em condições adversas. Também colaborei com estudos sobre solo, clima e atmosfera marciana, contribuindo com pesquisas que unem ciência, meio ambiente e setor aeroespacial.
Outro marco importante foi minha participação no Wogel Enterprise Aerospace, em Brasília, inspirado nos treinamentos de astronautas. Embora tenha recebido bolsa integral para participar, para conseguir estar no Space Camp contei com muita persistência. Era 2022, estávamos saindo da pandemia e as condições financeiras estavam apertadas. Para pagar a passagem, vendi minha bicicleta e sementes de umburana, que na época eram vendidas a dez reais o litro. Consegui juntar sete litros e o restante veio da venda de canecas pela internet a cinco reais cada. Naquele período, eu trabalhava como professor particular e conciliava as aulas com essas vendas para tornar o sonho possível.
Meu trabalho também alcança o cenário internacional. Como cientista cidadão do programa GLOBE Observer, colaboro na coleta de dados ambientais usados em pesquisas globais. Em 2025, fui selecionado para o Aspire Leaders Program, criado por professores de Harvard, que oferece formação gratuita em liderança, impacto social e desenvolvimento pessoal para estudantes universitários de primeira geração em mais de 195 países.
Costumo resumir minha missão em uma frase: “Acredito que o céu não é o limite quando temos acesso a uma educação pública de qualidade e oportunidades para alcançar nossos sonhos.”
Minha história mostra que iniciativas individuais podem criar espaços de aprendizagem e inclusão. Reafirma que a ciência, a educação e o cuidado com o meio ambiente são caminhos legítimos para transformar a sociedade. E se hoje olho para as estrelas, é porque aprendi que mesmo quem nasce nas margens pode brilhar no centro.
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