MEU MUNDO COLORIDO PELO AMOR AO CARNAVAL.
Meu pai sempre foi um homem apaixonado pelo carnaval, mais precisamente pelos desfiles das escolas de samba, ele era Portelense e no carnaval o programa preferido dele era ficar em casa ou se fôssemos viajar tinha que ser pra algum lugar onde ele pudesse assistir aos desfiles pela televisão. Quando criança eu não tinha a dimensão desse mundo mágico e rico que eram os desfiles, apenas achava bonito e muito colorido. Quando o carnavalesco Joãozinho Trinta começou a se destacar e fazer desfiles ricos e grandiosos ele passou a admirar também o trabalho dele.
Eu, só por volta da minha adolescência passei a prestar um pouco mais de atenção aos desfiles, mas não tinha o mesmo interesse que meu pai e minha vida seguia normalmente, porém eu sempre fui ligada às artes, fazia dança, gostava de ler e desenhar e foi o desenho que anos mais tarde, já adulta, me levou até o universo do carnaval. Um dia um amigo chegou na minha casa sabendo que eu desenhava e me perguntou se eu poderia fazer uns desenhos pra ele, já que na sua escola as pessoas não estavam conseguindo passar para o papel as suas ideias para as fantasias para o desfile daquele ano, o carnaval de 1998, ele me passou as referências e idéias e eu fiz os desenhos, ele ficou satisfeito. Ele levou e disse que voltava depois. No dia seguinte ele voltou, me pagou pelos desenhos e me pediu mais alguns desenhos e disse que a diretoria da escola tinha gostado muito dos desenhos, uma semana depois ele voltou e me perguntou se eu conseguiria tirar as fantasias do papel e eu disse que poderia tentar. E então, fui parar dentro do barracão da escola de samba UNIDOS DE SÃO DOMINGOS em Guarulhos/SP, e consegui fazer os moldes para o feitio da fantasia, até que pra mim não foi tão difícil já na escola eu era sempre a pessoa responsável pelos figurinos das atividades artísticas. Quando o presidente da escola viu a fantasia pronta, mandou me chamar e pediu...
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MEU MUNDO COLORIDO PELO AMOR AO CARNAVAL.
Meu pai sempre foi um homem apaixonado pelo carnaval, mais precisamente pelos desfiles das escolas de samba, ele era Portelense e no carnaval o programa preferido dele era ficar em casa ou se fôssemos viajar tinha que ser pra algum lugar onde ele pudesse assistir aos desfiles pela televisão. Quando criança eu não tinha a dimensão desse mundo mágico e rico que eram os desfiles, apenas achava bonito e muito colorido. Quando o carnavalesco Joãozinho Trinta começou a se destacar e fazer desfiles ricos e grandiosos ele passou a admirar também o trabalho dele.
Eu, só por volta da minha adolescência passei a prestar um pouco mais de atenção aos desfiles, mas não tinha o mesmo interesse que meu pai e minha vida seguia normalmente, porém eu sempre fui ligada às artes, fazia dança, gostava de ler e desenhar e foi o desenho que anos mais tarde, já adulta, me levou até o universo do carnaval. Um dia um amigo chegou na minha casa sabendo que eu desenhava e me perguntou se eu poderia fazer uns desenhos pra ele, já que na sua escola as pessoas não estavam conseguindo passar para o papel as suas ideias para as fantasias para o desfile daquele ano, o carnaval de 1998, ele me passou as referências e idéias e eu fiz os desenhos, ele ficou satisfeito. Ele levou e disse que voltava depois. No dia seguinte ele voltou, me pagou pelos desenhos e me pediu mais alguns desenhos e disse que a diretoria da escola tinha gostado muito dos desenhos, uma semana depois ele voltou e me perguntou se eu conseguiria tirar as fantasias do papel e eu disse que poderia tentar. E então, fui parar dentro do barracão da escola de samba UNIDOS DE SÃO DOMINGOS em Guarulhos/SP, e consegui fazer os moldes para o feitio da fantasia, até que pra mim não foi tão difícil já na escola eu era sempre a pessoa responsável pelos figurinos das atividades artísticas. Quando o presidente da escola viu a fantasia pronta, mandou me chamar e pediu pra eu tirar do papel a fantasia mais difícil que eu tinha desenhado, e assim foi feito. Naquele mesmo dia eu me tornei por \\\\\\\\\\\\\\\"livre e espontânea pressão\\\\\\\\\\\\\\\" a carnavalesca da escola de samba, tomei um susto, fiquei com medo, afinal era uma responsabilidade gigantesca e muito diferente de montar figurinos de teatro escolar, e eu disse que não. Ele foi conversar com meu pai, que quis saber como seria feito até pra entender onde eu estaria entrando e me disse que confiava na minha capacidade e talento, mas que era uma escolha minha fazer ou não. E assim nasci para o carnaval e já no meu primeiro ano uma grande conquista, fomos campeões, causando uma verdadeira comoção na escola e no carnaval da cidade de Guarulhos. No ano seguinte as coisas na foram tão fáceis, como em qualquer situação, quando há holofotes há também os oportunistas querendo se promover as custas do talento alheio, e não conseguimos uma boa colocação. Então preferi me desligar da agremiação e acabei recebendo o convite da escola de samba VAI QUEM FICA, campeoníssima do carnaval Guarulhense pra criar os figurinos do carnaval do ano 2000, foi um carnaval conturbado porque as duas escolas tinham uma certa rivalidade e eu morava no mesmo bairro da escola que eu tinha me desligado, resumindo, mais um carnaval campeão. Em seguida o carnaval na cidade foi suspenso ficando anos suspenso e assim acabei me dedicando a outras atividades, mas sempre ligadas as artes. Só em 2010 foi retomada as atividades carnavalescas na cidade e em 2012 fui convidada a fazer parte da fundação de uma nova agremiação a RENASCER DE SÃO DOMINGOS, foi um trabalho de formiguinha na comunidade já que ficamos uma década sem atividades no bairro, mas aos poucos fomos reconquistando as pessoas e trazendo-os para a nova escola de samba. E assim fizemos um excelente trabalho junto a comunidade e conquistamos mais dois campeonatos nos anos de 2013 e 2014. E sem que eu me desse conta comecei a chamar atenção de pessoas ligadas ao carnaval de São Paulo, e assim em 2015, fui convidada para fazer parte de uma escola do grupo especial do carnaval de São Paulo e fui levada por um amigo para a Escola de samba ACADÊMICOS DO TATUAPÉ. Um universo muito maior do que eu vivia, pude conhecer e aprender muito, tive a honra de trabalhar diretamente com Erivelto Coelho, na época vice presidente da escola, passei por alguns setores, recebi alguns desafios, fiquei responsável por desenvolver os pilotos de algumas das fantasias de composição de alegorias e por fim acabei trabalhando diretamente com o então carnavalesco Mauro Xuxa, foi uma excelente experiência e um enorme aprendizado. Mas no próximo ano houve uma reformulação geral no departamento visual da Tatuapé e o carnavalesco foi trocado que já veio com sua equipe pessoal de auxiliares e assim, me desliguei da agremiação, mas ainda guardo grandes lembranças desse período. Para o carnaval, 2017, seguinte fui convidada pelo carnavalesco Cláudio Cebola responsável pelo carnaval da escola de samba TOM MAIOR para criar os figurinos das composições daquele carnaval onde o tema era a cantora ELBA RAMALHO, carnaval que me trouxe tantas emoções tais como ver a emoção da cantora quando ela ficou frente a frente com a nossa escultura N.S. NORDESTINA e ela num impulso começou a cantar a música de mesmo nome enchendo a todos de emoção, quando ela presenciou a colocação da coroa, que eu aderecei, na cabeça da santa (escultura). Mais uma experiência rica de aprendizado e conhecimento, mas os revezes da vida me fez me retirar do carnaval para cuidar da saúde da minha mãe, fato que fiz até seu último dia de vida. Uma depressão me manteve afastada do carnaval e e m seguida veio a pandemia ocasionada pela COVID-19 que adiou ainda mais meu retorno. Em 2021 recebi o convite para me tornar carnavalesca da escola de samba ZUMBI ZAIRE, dentro do campus da faculdade
Zumbi dos Palmares, escola gerida pela Uesp, onde estou até hoje realizando belos enredos trazendo questões históricas e de empoderamento do povo preto do Brasil e do mundo.
E essa é a história de uma mulher trans, preta, de periferia que herdou do pai o amor pelo carnaval e se calçou da arte pra fazer a diferença na sua vida e de muitas pessoas das comunidades do samba por onde passei, nas quais sempre recebo demostrações de carinho e respeito, além de receber testemunhos de que meu talento, minha arte e minha postura inspiram muitas pessoas, jovens, adultos e até idosos, pela minha história.
Melissah Limonge, Carnavalesca.
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