Memórias
Meu nome é Houri Isto mesmo, HOURI
Nome estranho? Mais estranha é a história que este nome carrega
Meus pais moravam em Kasab, na Síria, pequena cidade montanhosa de pouca infra-estrutura na época.
Na ocasião do meu nascimento, Dona Marie, minha mãe, foi para Beirute, no Líbano, para que eu nascesse num hospital e meu pai, Senhor Agob, permaneceu trabalhando na Síria. Devo esclarecer que eu, a filha mais velha, fui a única dos quatro filhos que nasceu num hospital.
Ao nascer, minha mãe, para manter a tradição armênia, resolveu que eu teria o nome da minha avó paterna, Gulem. Mas minha tia paterna fez objeção, pois achou o nome antigo e sugeriu, então, o nome de uma famosa cantora da época: Houri, raro nome até na comunidade armênia. Assim fui registrada.
Depois de um mês, retornamos para a Síria. Meu avô ficou bravo e insistiu que me chamassem de Gulem, nome de sua falecida esposa, minha avó; e assim foi...
Aos meus seis anos de idade, a família mudou-se para o Brasil. Foram vinte e um dias num navio. Ao chegarmos, fui matriculada na Escola Armênia, com o nome Gulem, e fui chamada assim até a quarta série do “primário”. Nessa época não havia a tradução de certidão de nascimento. O nome Houri jamais foi citado para mim.
Meu nome mudou na matrícula do exame de admissão para a quinta série, quando minha mãe, com o seu português deficiente, levou uma amiga que, ao ver aquele nome estranho na certidão, já traduzida, deu-se conta de que a documentação da Escola Armênia deveria ser refeita para que o meu diploma saísse com o nome correto. Foram correndo para a Escola e deu tempo
Foi assim que, aos onze anos, descobri que o meu verdadeiro nome era Houri. Trocar de nome na adolescência me fez chorar e sentir raiva Hoje, amo o meu nome e recentemente descobri, no Dicionário Etimológico, o seu significado. Leia, por curiosidade
do Fr. houri < Ar. haura
s.f.
cada uma das mulheres extremamente belas que, segundo o...
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Memórias
Meu nome é Houri Isto mesmo, HOURI
Nome estranho? Mais estranha é a história que este nome carrega
Meus pais moravam em Kasab, na Síria, pequena cidade montanhosa de pouca infra-estrutura na época.
Na ocasião do meu nascimento, Dona Marie, minha mãe, foi para Beirute, no Líbano, para que eu nascesse num hospital e meu pai, Senhor Agob, permaneceu trabalhando na Síria. Devo esclarecer que eu, a filha mais velha, fui a única dos quatro filhos que nasceu num hospital.
Ao nascer, minha mãe, para manter a tradição armênia, resolveu que eu teria o nome da minha avó paterna, Gulem. Mas minha tia paterna fez objeção, pois achou o nome antigo e sugeriu, então, o nome de uma famosa cantora da época: Houri, raro nome até na comunidade armênia. Assim fui registrada.
Depois de um mês, retornamos para a Síria. Meu avô ficou bravo e insistiu que me chamassem de Gulem, nome de sua falecida esposa, minha avó; e assim foi...
Aos meus seis anos de idade, a família mudou-se para o Brasil. Foram vinte e um dias num navio. Ao chegarmos, fui matriculada na Escola Armênia, com o nome Gulem, e fui chamada assim até a quarta série do “primário”. Nessa época não havia a tradução de certidão de nascimento. O nome Houri jamais foi citado para mim.
Meu nome mudou na matrícula do exame de admissão para a quinta série, quando minha mãe, com o seu português deficiente, levou uma amiga que, ao ver aquele nome estranho na certidão, já traduzida, deu-se conta de que a documentação da Escola Armênia deveria ser refeita para que o meu diploma saísse com o nome correto. Foram correndo para a Escola e deu tempo
Foi assim que, aos onze anos, descobri que o meu verdadeiro nome era Houri. Trocar de nome na adolescência me fez chorar e sentir raiva Hoje, amo o meu nome e recentemente descobri, no Dicionário Etimológico, o seu significado. Leia, por curiosidade
do Fr. houri < Ar. haura
s.f.
cada uma das mulheres extremamente belas que, segundo o Alcorão, hão de desposar no Céu os crentes muçulmanos; por ext. mulher de beleza extraordinária.
Houri, apenas um nome, é verdade, mas um divisor de águas na minha história e uma história das minhas memórias.
(Depoimento de setembro de 2008)
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