Maria Regina Rezende Oddone, nasci no Rio de Janeiro, no dia 12 de outubro de 1956.
Ingressei na Petrobras em janeiro de 1980 e depois fui fazer um ano e dois meses de curso de engenharia de processamento, junto com o último ano da Faculdade de Engenharia Química da UFRJ. Nessa época, tinha um ano de estágio obrigatório em uma refinaria, que eu fiz na Reduc, e depois fui para o Centro de Pesquisas, o Cenpes.
Eu fiquei 22 anos no Cenpes, na área de hidrorefino, que estava no início. Hidrorefino é hidrogênio para melhorar a qualidade dos produtos de um modo geral. Nos hidrocarbonetos, a relação carbono-hidrogênio é uma coisa importante, pois quanto mais hidrogênio, mais puro está o hidrocarboneto. A gasolina e o diesel, conforme melhoram de qualidade, precisam ser hidrodratados, quer dizer, precisa incorporar hidrogênio e melhorar a qualidade deles. Foi nessa área que eu trabalhei durante 22 anos. Eu saí de lá há três anos e fui para a Sede da Companhia fazer parte dessa gerência em que estou agora, que é a Gerência de óleos ultrapesados.
Essa gerência nova é um desafio dos óleos que têm sido descobertos pela Petrobras, óleos mais pesados. Quando a gente fala pesado, tem uma propriedade que é a densidade, que mede quão pesado é o óleo e como o refino vai se adequar a esses óleos que estão sendo descobertos pela Exploração e Produção. A minha atividade é de coordenação de várias atividades, mas não sou gerente. O meu gerente é o Mauro Bria.
A atividade é justamente o desafio de adequar o parque de refino para esses óleos que a Petrobras está descobrindo, que são óleos mais pesados. Existem, na verdade, três problemas básicos nos óleos – quando eu falo óleos, são petróleos. Eles têm um rendimento elevado de produtos pesados, como resíduo de vácuo, que vai gerar o óleo combustível, e a demanda de óleo combustível está caindo, então não nos interessa produzir óleo combustível. Ao mesmo...
Continuar leituraMaria Regina Rezende Oddone, nasci no Rio de Janeiro, no dia 12 de outubro de 1956.
Ingressei na Petrobras em janeiro de 1980 e depois fui fazer um ano e dois meses de curso de engenharia de processamento, junto com o último ano da Faculdade de Engenharia Química da UFRJ. Nessa época, tinha um ano de estágio obrigatório em uma refinaria, que eu fiz na Reduc, e depois fui para o Centro de Pesquisas, o Cenpes.
Eu fiquei 22 anos no Cenpes, na área de hidrorefino, que estava no início. Hidrorefino é hidrogênio para melhorar a qualidade dos produtos de um modo geral. Nos hidrocarbonetos, a relação carbono-hidrogênio é uma coisa importante, pois quanto mais hidrogênio, mais puro está o hidrocarboneto. A gasolina e o diesel, conforme melhoram de qualidade, precisam ser hidrodratados, quer dizer, precisa incorporar hidrogênio e melhorar a qualidade deles. Foi nessa área que eu trabalhei durante 22 anos. Eu saí de lá há três anos e fui para a Sede da Companhia fazer parte dessa gerência em que estou agora, que é a Gerência de óleos ultrapesados.
Essa gerência nova é um desafio dos óleos que têm sido descobertos pela Petrobras, óleos mais pesados. Quando a gente fala pesado, tem uma propriedade que é a densidade, que mede quão pesado é o óleo e como o refino vai se adequar a esses óleos que estão sendo descobertos pela Exploração e Produção. A minha atividade é de coordenação de várias atividades, mas não sou gerente. O meu gerente é o Mauro Bria.
A atividade é justamente o desafio de adequar o parque de refino para esses óleos que a Petrobras está descobrindo, que são óleos mais pesados. Existem, na verdade, três problemas básicos nos óleos – quando eu falo óleos, são petróleos. Eles têm um rendimento elevado de produtos pesados, como resíduo de vácuo, que vai gerar o óleo combustível, e a demanda de óleo combustível está caindo, então não nos interessa produzir óleo combustível. Ao mesmo tempo em que a gente tem que processar mais óleo nacional, a gente não pode aumentar a produção de óleo combustível, isso é um desafio. Outro problema são esses petróleos ácidos, principalmente da Bacia de Campos – 80% do nosso petróleo é da Bacia de Campos –, porque a acidez corrói as tubulações e a gente tem que arrumar um jeito também de lidar com essa acidez. Tem várias maneiras, uma delas é mudar o tipo de material das tubulações, fornos e equipamentos. Nós estamos coordenando essas atividades. Outro problema é o teor de nitrogênio dos nossos petróleos que também é elevado. Esse nitrogênio, por exemplo, no óleo diesel, no gás óleo e na gasolina, causa alguns problemas nos processos que vêm em seguida e dá problemas finais de qualidade de produto, de degradação de cor. Isso também tem que ser tratado. De uma maneira geral, o que a nossa gerência faz é olhar para a produção futura, olhar para esses problemas de qualidade e tentar ir adequando nosso parque de refino e instalando as unidades necessárias para a gente poder atender a demanda com a qualidade necessária e processando o máximo que a gente puder de petróleo nacional, que é vantajoso para o país e para a Companhia.
Os 20 anos no Cenpes, trabalhando em hidrorefino, acho que foram muito importantes porque eu vi o hidrorefino crescer dentro da Companhia, por causa de todo o apelo do meio ambiente para melhorar a qualidade de produto. No início, quando eu comecei a trabalhar, essa área de hidrorefino não era tão importante, não tinha tanta relevância. Ao longo dos anos, essa área foi tomando importância, principalmente por causa do meio ambiente. Eu fiz parte de um acordo com o Instituto Francês de Petróleo, que transferiu para a gente a tecnologia de levantamento de dados básicos e de como fazer projetos de unidades de hidrotratamento, principalmente de óleo diesel, para melhorar a qualidade do óleo. Durante esses anos todos, eu participei da parte mais técnica, de levantar os dados, de ir para a pesquisa, para a planta piloto, fazer testes. E agora estou mais na parte de coordenação, de ver que áreas têm que se movimentar, para que a gente esteja no futuro e, ainda, com a visão de futuro, que é mais interessante. Quer dizer, quando estamos falando de produção de petróleo nacional, falo da estimativa de produção do petróleo nacional até 2015. Hoje a gente está olhando 2015 e vendo o que precisa fazer para estarmos preparados. É uma visão diferente, é uma visão de longo prazo de planejamento dentro do refino. É uma situação interessante, diferente. Hoje, especificamente, nós temos dentro do refino um modelo de planejamento de investimentos e ele prevê a alocação de petróleo para cada refinaria nossa. Com essa alocação e com a curva dos petróleos prevista pelo E&P até 2015, a gente está olhando para cada refinaria isoladamente e vendo o que ela precisa fazer em termos de adequação metalúrgica, de mudança na metalurgia para a acidez, em termos de gargalos de processo, o que ela precisa fazer em toda parte de refino para que consiga processar aquela quantidade de petróleo. A gente está fazendo isso uma por uma, refinaria por refinaria. É basicamente essa a minha atividade lá hoje.
No início, quando começou, o óleo era o Cabiúnas e a gente achava que era um horror. Hoje o Cabiúnas virou um óleo fácil perto dos outros. Conforme o E&P - Exploração e Produção – foi se desenvolvendo e foi desenvolvendo tecnologias de águas mais profundas, os óleos foram piorando. Também já descobriram óleo leve, mas a maioria é pesado. Então, os óleos foram piorando de qualidade e a gente teve que ir se adequando no refino, por exemplo, essa parte de metalurgia vem sendo feita ao longo dos anos e nós só estamos incrementando mais. O rendimento de resíduo de vácuo, que é a corrente que vai gerar óleo combustível, do Cabiúnas já era elevado e do Marlim, por exemplo, que é um óleo mais recente, é maior ainda. Então, para a gente não sair produzindo uma porção de óleo combustível que não é demandada pelo mercado, temos que investir em unidades de conversão, que pegam esse resíduo de vácuo e fazem isso virar diesel e gasolina também, e não mais óleo combustível. Isso tem sido feito ao longo do tempo, grandes investimentos no refino e também em unidades de conversão. É assim que o refino está se acomodando e se preparando para o aumento do petróleo nacional, para o aumento de grau API do petróleo nacional e para o aumento da produção de resíduo de vácuo sem produzir óleo combustível.
Quase todas as refinarias recebem os óleos que vêm da Bacia de Campos. Na verdade, esse modelo de planejamento de investimento que a Petrobras tem engloba tudo, inclusive a parte de logística. Ele mostra para a gente como cada petróleo está indo para cada refinaria, mas, de um modo geral, eles distribuem o petróleo nacional por todas as nossas refinarias. Mas acho que São Paulo e Rio concentram um pouco mais. Em São Paulo existem mais refinarias, nós temos a Replan – Refinaria de Paulínia, a Revap – Refinaria Henrique Lage – em São José dos Campos, a RPBC – Refinaria Presidente Bernardes – em Cubatão e a Recap – Refinaria de Capuava. Então, em São Paulo tem quatro, até porque é um pólo, é onde está o consumo maior. No Rio tem a Reduc – Refinaria Duque de Caxias, mas também vem petróleo nacional, da Bahia, e aí vem de acordo com o esquema de refino de cada refinaria e de acordo com a capacidade dela. As refinarias não têm a mesma capacidade, por exemplo, em Manaus tem uma refinaria de capacidade pequena, no Ceará também é pequena, então é de acordo com os volumes de cada uma e com seus hardwares. Quem tem mais unidades de conversão que podem transformar esse resíduo de vácuo em gasolina e óleo diesel, recebe mais quantidade de petróleo pesado. Quem tem pouca capacidade de conversão tem que receber mais petróleo leve, senão vai produzir uma porção de óleo combustível e não tem mercado para colocar. Todas essas informações estão dentro desse nosso modelo de planejamento de investimento e ele vai, em função dessas informações, alocando o petróleo para as refinarias.
Na verdade, eu não trabalho especificamente com isso, mas com o resultado disso. Dentro desse modelo existe toda a parte de logística da Petrobras, toda a parte de tubulação de óleo pesado, de óleo combustível, de diesel, de gasolina, quem pode mandar para quem. E tem todas as refinarias modeladas, a capacidade de petróleo de cada uma, a capacidade de gasolina, de óleo diesel, de óleo combustível que cada uma dessas refinarias pode fazer e também tem o mercado demandado, inclusive a parte de exportação. Quando você roda aquele modelo com todas as informações, a saída daquele modelo é assim: “A Reduc em 2012 vai estar trabalhando com essa mistura de petróleo, produzindo essa gasolina, esse diesel, esse óleo combustível. E a Petrobras, de um modo geral, vai estar processando 80% do petróleo nacional e 20% vai estar sendo exportado, vai estar importando uma parte para diluir...” É esse tipo de informação que vem desse modelo, que é o que planeja os investimentos do refino. É nele que enxergo, por exemplo, que está sobrando muito óleo combustível e que não tem mercado, então eu digo: “Vou ter que botar em uma determinada refinaria uma unidade que consuma esse óleo combustível e faça isso virar outras coisas que o mercado está demandando, como, por exemplo, óleo diesel.” Então, eu boto uma unidade de coque ali, porque o coque-manto retardado tem como carga o resíduo de vácuo e produz gasolina e óleo diesel. É com base no resultado desse modelo que a gente vai adequando o refino ao petróleo nacional e aos volumes de mercado, de oferta e demanda de derivados. Existe o modelo de curto prazo, que é o modelo do abastecimento, para todo dia, mas não é com esse que nós estamos trabalhando. Nós estamos falando de planejamento do refino, então estamos falando de hoje a 2015, porque em cada empreendimento desse que está sobrando óleo combustível, como eu disse, tem que botar uma unidade de coque e uma unidade de coque você não bota assim. Do planejamento até a unidade estar pronta são, pelo menos, quatro, cinco anos. Então, você tem que estar enxergando hoje e planejar para, quando estiver sobrando óleo combustível em 2012, você já ter condição de botar a unidade lá. É um modelo de planejamento, é um modelo de longo ou médio prazo, não é curto prazo. Todo o trabalho da gente é planejar o futuro do refino.
Trabalhamos também com expectativa de mercado. Tem toda a parte de marketing que faz esse levantamento de preço, mas lá tem também toda a precificação dos derivados, dos petróleos, isso tudo é dado porque vem de outras gerências que informam o modelo para a gente fazer previsão, como todas as previsões sujeitas às variações de mercado, mas isso todo ano tem uma revisão. Cada vez que tem uma revisão do planejamento estratégico, a gerência do planejamento de investimento revisa os dados todos do modelo. A gente trabalha com o resultado do modelo e trabalha também fornecendo dados para eles, discutindo a qualidade. Por exemplo, quando a E&P vem com a curva de produção deles, a gente discute a estimativa de volume, as qualidades dos óleos que eles estão descobrindo, isso é informado para ser colocado no modelo, mas também porque eles têm uma dose de incerteza bem grande, então é planejamento.
Existem oleodutos, estações de bombeamento do óleo e tem alguns óleos que vão por cabotagem, como a gente chama, por navio, também. Vai existir uma PRA – Plataforma de Rebombeio Automático – que vai juntar uma quantidade grande de óleo da Bacia de Campos em uma única plataforma e dali vai bombear para terra. Teve o oleoduto que não foi construído porque teve essa discussão toda com a Governadora Rosinha e acabou não saindo. Toda essa produção vai ser escoada por navio. Houve uma discussão grande na mídia que o oleoduto ia passar e, junto com isso, a discussão da nova refinaria, se seria em São Paulo, se seria no Rio de Janeiro, e isso virou moeda de troca com a Rosinha Garotinho. Ela achava que se liberasse o oleoduto, a refinaria ia para São Paulo e não ia sair a refinaria do Rio de Janeiro. Acabou não saindo e, para a Petrobras, eu acho que isso não é a melhor decisão, tanto que a gente insistiu que queríamos fazer o oleoduto porque a gente vai ficar com 80% da nossa produção escoando por um modal só que não é o melhor, fica dependendo de um tipo de transporte só. Era melhor que a gente conseguisse diversificar, uma parte fosse, como já é, por navio, cabotagem, e a outra parte pelo duto, mas isso aí não saiu, tanto que isso está dando um impulso grande na indústria naval de novo. Porque, em função do oleoduto que não saiu, tem que ter mais navios para fazer essa cabotagem, está saindo uma construção de uma porção de navios novos para poder escoar essa produção.
Existem vários tipos de óleos. Dentro do Espírito Santo, tem uma região grande que eles chamaram de Parque das Baleias, que é de óleo pesado. São óleos com API baixa, que é uma medida de densidade, então são óleos pesados. Óleo pesado, em geral, tem o rendimento de óleo combustível, de RV, muito alto. Mas, no Espírito Santo mesmo, eles fizeram a descoberta no ano passado de um óleo muito leve, que tem um rendimento muito bom de gasolina e de diesel. Praticamente na mesma região em que a gente achou óleo pesado, ácido, tem uma descoberta de um óleo leve, que não é ácido e que é melhor para refinar, pois é mais barato, e é melhor para conseguir produto de qualidade. Uma coisa comum em quase todos os nossos óleos é o baixo teor de enxofre, isso é bom. Enxofre é um contaminador e é uma das primeiras propriedades que está sendo controlada na gasolina, no diesel, porque forma SO2. O SO2 com água forma H2OSO4, que é a chuva ácida, então esse é um dos grandes poluentes. O enxofre é uma das coisas que a gente remove no hidrotratamento, quando você põe hidrogênio. Uma das finalidades dessas unidades de hidrotratamento é remover o enxofre também. Então, se a gente tem pouco enxofre no petróleo, é bom. Tanto que os petróleos vendidos no mundo são divididos em alto teor de enxofre e baixo teor de enxofre. Os de baixo teor de enxofre têm um valor maior do que os de alto teor. Isso é bom no nosso óleo, sejam eles pesados ou leves, porque, de um modo geral, eles são de baixo teor de enxofre. A qualidade e o rendimento desses produtos variam. A concentração maior da nossa produção é na Bacia de Campos e em águas profundas. Esses óleos da Bacia de Campos, em águas profundas, são pesados e ácidos, em geral. Nós temos também o outro óleo, só que o volume maior está nos pesados e ácidos. Por esta razão, nós estamos lidando com isso e adequando nosso refino, porque esses petróleos ácidos e pesados têm um valor menor de mercado. Para a Petrobras, é muito mais interessante processar esses e vender os outros. Se a gente tem hardware para processar, se a gente consegue, equipando as nossas refinarias devidamente, processar o óleo e ter tudo que precisa de diesel, de gasolina, na qualidade que precisa, viabiliza exportar o óleo melhor que tem um valor de mercado maior. E isso dá um ganho econômico para a Companhia, embora exija um investimento maior.
O primeiro processo da refinaria é a dessalgação, porque esse óleo vem com água do mar, com sal. Você separa, como o nome diz, retira a água e o sal do petróleo. Depois, vai para a destilação, que é basicamente uma chaleira, que aquece e vai vaporizando. Quanto mais para cima na torre de destilação, mais leve. Então, lá em cima – eu estou falando didaticamente –, sai o GLP, que é o gás liquefeito de petróleo, depois sai a nafta, a gasolina – quando sai não é exatamente gasolina, ela vai virar gasolina depois –, o querosene, por faixa de destilação, o óleo diesel, o gás óleo, que vai ser carga de outras unidades para virar de novo gasolina e diesel, e sai o resíduo de vácuo, cuja destilação final, se você não tiver nenhum outro processo dentro da refinaria, pode virar óleo combustível. Aí que eu digo: uma refinaria simples é só isso, uma destilação. Hoje, praticamente, eu acho que nenhuma refinaria nossa é só isso. Saindo da destilação, aquele gás óleo pode ir para FCC, que é o craqueamento catalítico fluido. Nesse FCC, você quebra essas moléculas de gás óleo e faz elas virarem gasolina, esse é um processo. E o RV pode ir para um coqueamento retardado, onde você faz coque, que são pedras de carbono praticamente, e faz gasolina e óleo diesel outra vez, aí gera só um pouquinho de óleo combustível. Se na refinaria tiver só a destilação, você vai depender daquilo. Então, se você tem, por exemplo, um petróleo da Bacia de Campos que tem quase 30% em volume de resíduo de vácuo, você vai fazer 30% de óleo combustível. Para não fazer o óleo combustível, você investe em uma outra unidade de coqueamento retardado para esse RV ser a carga dele e 70% desse RV vai virar gasolina e diesel, então você faz muito mais gasolina e diesel a partir do mesmo petróleo, só que você investe mais. Cada unidade de processo dessa, além da destilação, custa milhões de dólares. A refinaria pode ter destilação, craqueamento catalítico e coque; destilação, craqueamento catalítico e visco-redução; têm vários processos. De um modo geral, o que está se adequando mais para o nosso esquema de refino é a destilação. Hoje o que a gente tem na maioria das refinarias é uma destilação e um craqueamento catalítico, que produz gasolina e vários coques. Estão entrando mais coques justamente porque os nossos óleos estão ficando mais pesados, a gente está produzindo mais resíduo de vácuo e esse RV, para não gerar óleo combustível, a gente tem que investir em unidade de coque, aí o coque faz gasolina e faz diesel de novo. Em resumo, é isso aí, mas cada refinaria tem sua especificidade. Acho que não temos nenhuma refinaria que trabalhe só com destilação. Nós temos 12 FCC, que é craqueamento catalítico fluido. Todas as nossas refinarias têm FCC, algumas têm até dois. Há um planejamento para praticamente todas as nossas refinarias também terem coqueamento retardado por causa do excesso de resíduo de vácuo. Ainda não tem em todas, mas tem planejamento, investimento para que quase todas elas tenham. A média de barris refinados é de um milhão e 800 mil barris. Eu acho que é um número razoavelmente grande.
Eu acho que duas coisas puxaram bastante o desenvolvimento tecnológico para nós, especificamente, no Brasil. Uma é a legislação ambiental, que está exigindo qualidade de produto. E acho que houve uma mudança cultural, política e da própria Petrobras, muito importante, de se exigir uma qualidade melhor do produto. Fez com que o hidrorefino se tornasse um mote tecnológico. O hidrorefino teve que explorar esses petróleos. A fase dos mil metros de profundidade também era um desafio para a gente processar. Eu acho que essas descobertas forçaram a gente também a estar, vamos dizer, à frente nessa parte tecnológica de conversão de resíduos. Nós estamos correndo atrás, temos a nossa tecnologia própria de coqueamento retardado, também estamos nos atualizando sempre nessa parte de hidrorefino e buscando outras alternativas para converter esses resíduos de vácuo em produtos mais nobres. Tem que estar up-to-date no que vem acontecendo. Há um tempo atrás, a especificação de enxofre era 500 ppm [partes por milhão], então as unidades de hidrotratamento tinham que remover o enxofre do número inicial dele, vamos dizer que fossem seis mil ppm, para 500 ppm. Agora, no Brasil, está se falando em 50 ppm de enxofre e no mundo já está se falando sem enxofre. Essa tecnologia de hidrorefino tem que ir acompanhando isso. Não é mais 500ppm, tem que remover para 50 e depois conseguir reduzir para 10. O pessoal do Cenpes está acompanhando e correndo atrás do desenvolvimento de catalisadores, de modificações de processo, de distribuidores nos reatores, toda a parte tecnológica, para poder atingir esses objetivos. Para isso, a gente tem esse ramo, esse braço tecnológico que é o Cenpes, sempre acompanhando o desenvolvimento da tecnologia.
Como esses petróleos são mais pesados, têm um rendimento maior de resíduo de vácuo, eles estão fazendo com que o refino planeje unidades de conversão. As unidades de conversão que mais se adequam ao nosso caso, até o momento, são as unidades de coqueamento retardado. Nessa parte, a gente tem a tecnologia, o Cenpes conhece e sabe fazer o projeto. A gente está fazendo vários projetos. Um projeto, recentemente, foi contratado por uma questão de ausência de mão-de-obra, não porque a gente não conseguisse fazer, mas porque o Cenpes estava com excesso de projetos. Quer dizer, nós estamos aproveitando a oportunidade para também conseguir aprender mais e trocar experiências. Acho que é uma experiência rica. A gente está com as unidades de coque e, ao mesmo tempo, olhando alternativas de outros processos de conversão, porque os processos de coqueamento retardado produzem coque, como o próprio nome diz, e tem mercado para esse coque. A gente começou a pensar no caso de esse mercado saturar, então precisa ter um processo alternativo. Estamos estudando alternativas, outros processos alternativos ao coqueamento retardado para também consumir esse resíduo de vácuo. Isso, basicamente, no lado dos óleos pesados e no lado do ácido, é a adequação metalúrgica. Tem todo um planejamento de investimento sendo feito para cada parada das unidades. Essas unidades de refino operam 24 horas por dia e têm paradas programadas. Quando pára a unidade, a gente planeja trocar o material para que ele fique adequado ao nível de corrosão que os nossos petróleos podem causar.
A unidade tem que parar para a manutenção e a gente aproveita a oportunidade para trocar o material, a fim de que seja resistente aos petróleos mais ácidos que vão corroer em uma taxa diferente do que vem sendo corroído, porque são piores de tudo que já foi processado até hoje. O refino tem todo um cronograma de planejamento das paradas, cada refinaria tem sua data de parada e a gente está aproveitando aquela data de parada e fazendo hoje o planejamento. Por exemplo, tal refinaria vai parar em 2008, então hoje a gente olha aqui e fala: “Quando parar em 2008, a gente tem que trocar a tubulação que vai até a entrada de carga, tem que trocar a torre porque o petróleo vai ser mais ácido e ali aquele material não vai resistir. Se eu deixar como está, ele fura, tem que trocar.” Eu não vou parar só para isso, então aproveito a parada programada e faço a mudança. É assim que a gente tem feito para acidez. E, para o excesso de óleo combustível, a gente vem planejando as unidades de conversão.
Nosso trabalho é basicamente de coordenação dos trabalhos do Cenpes, acompanhamento do planejamento dos investimentos, do esquema de refino que está sendo previsto e coordenação dessas paradas, ver se em cada parada a gente está levantando tudo que precisa ser feito em termos de adequação metalúrgica e em termos de remoção dos gargalos operacionais. Não sei se eu consigo explicar direito, é o seguinte: eu posso botar ali todo o material adequado para o petróleo ácido, mas, como ele tem um rendimento de resíduo de vácuo maior do que outras misturas de petróleo, ele precisa de uma bomba com mais capacidade do que tem hoje, então também tem que prever essas trocas. Troca da bomba, aumento de diâmetro de tubulação, porque tem um volume maior que vai passar ali naquela região, esse planejamento a gente faz junto com o pessoal responsável pelo planejamento de investimentos, pela rodada desse modelo grande, mais o pessoal da otimização, mais o pessoal de cada refinaria com as informações deles, a gente coordena mesmo. Não é a gente fazendo, porque nós não conseguimos fazer sozinhos, nós conseguimos fazer coordenando junto com todo mundo.
Eu já completei 25 anos de Petrobras. Acho que não tem história engraçada, tem coisas interessantes, marcantes, como essa transferência de tecnologia que eu fiz em 1987, em que passei três meses no Instituto Francês de Petróleo. Foi uma responsabilidade muito grande, porque era justamente para trazer o conhecimento do projeto da GHDT e de como se levantava os dados para projetar unidades de hidrorefino. Isso também foi uma experiência de vida interessante e foi muito bom. Até hoje, temos uma relação muito saudável com o IFP. Tanto que, recentemente, foi assinado um acordo de 10 unidades em que a Axens, que é a firma representante comercial do Instituto Francês do Petróleo, está fazendo esse projeto de hidrotratamento de gasolina para retirar o enxofre. Foram 10 unidades em que a gente fez todo um trabalho de seleção de tecnologia e eles acabaram ganhando. Eu acho que foi bom para a gente porque é um relacionamento de muitos anos, muito saudável. Acho que isso foi uma experiência marcante na minha vida profissional. Uma coisa também que a gente vê e que dá orgulho é a capacitação do pessoal técnico da Petrobras em geral. Nessa gerência que eu estou, tenho participado de muitos seminários de áreas diferentes e é um negócio muito legal. A gente vê que a capacidade do pessoal da Petrobras, de um modo geral, as apresentações, os trabalhos, são tecnicamente muito bons, eu acho que a gente tem um corpo técnico muito capaz que dá um orgulho de ser petroleiro.
Eu acho uma iniciativa bastante importante, até porque a gente viu a memória se esvair. Como não havia nada disso, quando as pessoas saíam da Petrobras, elas levavam toda a história. Eu acho que isso é uma coisa muito interessante, é uma iniciativa legal que, de repente, ajuda a construir uma história da Petrobras que não fica só perdida com as pessoas que vão saindo.
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