IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Roberto Ferreira Moreira. Nasci em Barra Mansa, estado do Rio de Janeiro, no dia 12 de janeiro de 1958. FAMÍLIA O nome dos meus pais é Jean Maibon Moreira e Adelaide Ferreira Moreira. Meu pai era gerente do Banco do Brasil. Ele está aposentado a cerca de 30 anos. Minha mãe não tinha profissão, trabalhava como dona de casa. Tenho dois irmãos. INFÂNCIA A minha infância foi bem tranqüila, no interior, numa cidade pequena. A minha escola era do outro lado da rua. As crianças brincavam na rua. Tínhamos toda liberdade. É bem diferente de hoje em dia. Eu andava de bicicleta, soltava pipa. Passei a infância em Barra Mansa. Eu morava inicialmente num sítio pequeno, com bichos, carneiros, cachorros e cavalos. E, aos cinco anos, me mudei para a cidade de Barra Mansa que, para os padrões de hoje, também é uma chácara Foi uma infância bem rural. JUVENTUDE Morei em Barra Mansa até os 15 anos. Em seguida, passei um ano em Curitiba, quando meu pai foi transferido. Depois, voltei para Barra Mansa. Na época do vestibular, fui para o Rio, onde moro desde então. Curitiba é, como dizem, um outro país. Foi uma experiência interessante. É uma cidade mais, digamos, civilizada. Lá, eu tinha mais oportunidades de esportes. Pude praticar natação, tênis e outros esportes que não tinham em Barra Mansa. Foi muito marcante. Depois de um ano, eu e minha família voltamos para Barra Mansa. Fiquei lá por mais um ano e depois fui para o Rio de Janeiro fazer o cursinho de pré-vestibular. ENSINO SUPERIOR / IME Fiz vestibular para Engenharia Elétrica no IME – Instituto Militar de Engenharia. Na época, só o Rio tinha um cursinho especial para esta prova de vestibular. Escolhi Engenharia por vocação. Não tive muita dificuldade. Foi um caminho natural. Não tinha outra coisa que eu me imaginasse fazendo. Na verdade, não sei quando descobri essa vocação. Não teve, assim,...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Roberto Ferreira Moreira. Nasci em Barra Mansa, estado do Rio de Janeiro, no dia 12 de janeiro de 1958. FAMÍLIA O nome dos meus pais é Jean Maibon Moreira e Adelaide Ferreira Moreira. Meu pai era gerente do Banco do Brasil. Ele está aposentado a cerca de 30 anos. Minha mãe não tinha profissão, trabalhava como dona de casa. Tenho dois irmãos. INFÂNCIA A minha infância foi bem tranqüila, no interior, numa cidade pequena. A minha escola era do outro lado da rua. As crianças brincavam na rua. Tínhamos toda liberdade. É bem diferente de hoje em dia. Eu andava de bicicleta, soltava pipa. Passei a infância em Barra Mansa. Eu morava inicialmente num sítio pequeno, com bichos, carneiros, cachorros e cavalos. E, aos cinco anos, me mudei para a cidade de Barra Mansa que, para os padrões de hoje, também é uma chácara Foi uma infância bem rural. JUVENTUDE Morei em Barra Mansa até os 15 anos. Em seguida, passei um ano em Curitiba, quando meu pai foi transferido. Depois, voltei para Barra Mansa. Na época do vestibular, fui para o Rio, onde moro desde então. Curitiba é, como dizem, um outro país. Foi uma experiência interessante. É uma cidade mais, digamos, civilizada. Lá, eu tinha mais oportunidades de esportes. Pude praticar natação, tênis e outros esportes que não tinham em Barra Mansa. Foi muito marcante. Depois de um ano, eu e minha família voltamos para Barra Mansa. Fiquei lá por mais um ano e depois fui para o Rio de Janeiro fazer o cursinho de pré-vestibular. ENSINO SUPERIOR / IME Fiz vestibular para Engenharia Elétrica no IME – Instituto Militar de Engenharia. Na época, só o Rio tinha um cursinho especial para esta prova de vestibular. Escolhi Engenharia por vocação. Não tive muita dificuldade. Foi um caminho natural. Não tinha outra coisa que eu me imaginasse fazendo. Na verdade, não sei quando descobri essa vocação. Não teve, assim, um ponto. Foi algo meio direcionado. E fiz vestibular só para o IME. Passei na primeira tentativa. Cheguei a fazer uma prova para o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], mas desisti, porque não agüentava estudar mais. Passei cinco anos fazendo a faculdade. E, depois, quando ainda nem tinha me formado, fiz o concurso para a Petrobras e passei. Me formei na faculdade e entrei para a Petrobras. Na época, eu não tinha outros afazeres. Eu só estudava. Até engordei uns dez quilos, sendo que sempre fui magro. Me dediquei em tempo integral aos estudos. Era uma coisa de louco As aulas eram de uma hora da tarde às nove da noite. E, de manhã, eu estudava. No sábado tinha aula, se não me engano, até duas ou três da tarde. E, no domingo de manhã, tinha prova. Não tinha tempo para nada. Era estudar direto. ESTÁGIO Fiz um estágio na Montreal Engenharia a partir do terceiro ano de faculdade. Cheguei a trabalhar em torno de um mês. Fui efetivado enquanto aguardava o resultado do concurso da Petrobras. Quando ficou tudo certo, pedi demissão. Nessa firma, eu atuava na parte de Engenharia Elétrica. E cheguei a trabalhar na CSN [Companhia Siderúrgica Nacional]. Eles estavam construindo um forro de placas e fui para lá, mas fiquei menos de um mês. Pedi demissão por ter passado no concurso da Petrobras. IMAGEM DA PETROBRAS Foi uma escolha meio no escuro porque, naquela época, quando se entrava na Petrobras, ninguém sabia o que era Engenharia de Petróleo. O curso e as informações eram em Salvador. O trabalho na Montreal não me agradava tanto, não era um trabalho interessante. A Petrobras era uma grande empresa, poderia me oferecer mais oportunidades. Foi uma escolha meio por intuição. Não conhecia ninguém que trabalhou ou trabalhasse na Petrobras e esse foi um dos meus problemas: obter informações sobre a Empresa. INGRESSO NA PETROBRAS Quando passei no concurso nem acreditei, porque não tinha estudado nada. Achei que não tinha a menor chance de passar. Foi uma surpresa. Saí ligando para os meus colegas de faculdade, porque vários tinham feito a prova. E vi que muitos estavam entrando na Petrobras. Na época, havia uma recessão muito grande e, por isso, o concurso foi bastante concorrido. O fato de muitos colegas terem entrado contribuiu para a minha decisão. O concurso foi em novembro de 1980 e fui admitido em cinco de fevereiro de 1981. No caso deste concurso, acho que ajudou eu não ter estudado muito, porque fui fazer a prova bem tranqüilo. Acho que uma das razões de eu ter passado foi essa tranqüilidade. CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO Foi um curso bastante puxado. Não chegava nem aos pés do vestibular, mas foi puxado sim. Tinha duração de um ano e foi uma experiência bem interessante. Foi a primeira vez que saí de casa. Fui morar numa república, com colegas. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / RPSE Terminei o curso e fui transferido para Macaé. Quando comecei, minha especialidade era Engenharia de Completação Submarina. Após a perfuração dos poços, o pessoal da completação submarina equipa estes poços de maneira segura para permitir sua produção, sem chance de vazamentos de óleo no mar, de modo que tenha o controle do fluxo deste óleo. Dentro desse processo, trabalhei como Engenheiro Fiscal de Operações. Trabalhávamos embarcados e o fiscal era o responsável pela plataforma e pelas operações. Isso foi em 1982. Trabalhei embarcado até meados ou final de 1986. Depois, fui trabalhar interno em Macaé, no escritório, na parte de planejamento e, em seguida, na parte de acompanhamento de operações offshore. BACIA DE CAMPOS – DÉCADA DE 80 A Bacia de Campos, na década de 80, já possuía uma perspectiva de crescimento. Só que nunca passou pela cabeça de ninguém que ela fosse crescer tanto Na época, se falava em dobrar a produção, que era de cerca de 100 a 150 mil barris, mas ninguém imaginaria que chegaria a dois milhões de barris num período tão curto. Passamos a ter noção dessa potencialidade da Bacia de Campos com a descoberta dos campos em águas profundas. Com a descoberta de Albacora e de Marlim, que são campos gigantes. COTIDIANO DE TRABALHO Eu trabalhava em todos os campos. Por coincidência, participei dos trabalhos dos primeiros poços em várias plataformas grandes. A plataforma foi uma coisa interessante. Toda a plataforma estava aguardando a gente completar, terminar o poço. Era uma atenção quase que exclusiva. Toda a plataforma se voltava para aquela operação. Seria a estréia, o primeiro óleo a ser produzido ali. Me lembro, particularmente, da plataforma de Enchova. Era um trabalho bastante árduo. Faltavam trabalhadores e a operação durava 24 horas. Era um trabalho pesado, mas, por outro lado, gratificante. A gente saía do embarque com a sensação de que havia feito alguma coisa. DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA OFFSHORE Na parte referente à plataformas fixas, que são aquelas grandes estruturas, as técnicas empregadas eram bastante similares às da exploração em terra. Mas, nos poços submarinos, era totalmente diferente. Na época, poucas pessoas no mundo tinham esse conhecimento. Foi um aprendizado árduo. Tivemos que aprender, principalmente, com os erros. Não tínhamos com quem aprender. Mas, de certa forma, isso consolidou bastante nosso aprendizado. Fixou bem as lições. Não nos relacionávamos com empresas de outros países, porque ninguém tinha essa tecnologia. Alguns fabricantes traziam alguma tecnologia que descobrimos não serem apropriadas. Gastamos muito dinheiro por conta disso. Mas, rapidamente, aprendemos e transformamos essas tecnologias para a nossa realidade. Saber que estávamos à frente de um trabalho muito pioneiro era bastante gratificante. Dava aquele espírito de aventura, de fazer coisas pela primeira vez. Tive a felicidade de estar a bordo das plataformas em vários recordes de lâmina d’água, em operações que eram feitas pela primeira vez no mundo. E, felizmente, deu tudo certo e era realmente uma satisfação. A Petrobras estava batendo recordes e se destacando. Eu disse: “Felizmente estava dando tudo certo.” Porque sempre tinha a possibilidade de não funcionar. Era a primeira vez que aquilo estava sendo feito. Então, fazíamos todos os estudos necessários, mas só com a prática, com a instalação é que iríamos provar que realmente daria certo. ÁRVORE DE NATAL MOLHADA Não cheguei a participar das primeiras instalações de Árvore de Natal Molhada. Quando estive em Macaé, já haviam algumas poucas instaladas. Havia um grupo de três engenheiros que foram os pioneiros nesse tipo de equipamento. Árvore de Natal Molhada é um equipamento que controla o fluxo de óleo do poço. Na época, toda a sua tecnologia estava com algumas empresas americanas. A Petrobras teve que enviar engenheiros para os Estados Unidos para treinamento. Na volta para o Brasil, eles transferiram esse know-how e suas experiências para os engenheiros novos, como era o meu caso. No começo, trabalhávamos em lâminas d’água que considerávamos profundas, cerca de 180 metros. MERGULHADORES / ROVs A Árvore de Natal ou outro tipo de operação qualquer era feita com mergulhadores. E havia alguns acidentes envolvendo mergulhadores. O mergulho realmente é uma profissão arriscada. Os mergulhadores estão submetidos a condições de trabalho estressantes, como é o caso do chamado mergulho saturado. Eles ficam dentro de uma cápsula do tamanho de um quarto. Passam um mês pressurizados lá dentro. E, depois, para despressurização, levam outro período grande, dependendo da profundidade. Um dos outros problemas é que estes mergulhadores não eram técnicos, mas tinham que aprender estas técnicas, o que exigia algum conhecimento do equipamento. Muitas vezes, cometiam erros operacionais. Atualmente, temos técnicas de instalação de Árvores de Natal Molhada, através de robôs submarinos chamados ROVs [Veículos de Operação Remota], que conseguem substituí-los, embora, por causa do custo, ainda existam mergulhadores trabalhando. ROVs – REMOTELY OPERATED VEHICLES Eles conseguem fazer, por exemplo, conexão de linhas, reparos de dutos e alguma inspeção mais delicada. A tendência é que os robôs submarinos fiquem cada vez mais baratos e os mergulhadores só sejam utilizados em situações cada vez mais limitadas. FPSO - FLOATING, PRODUCTION, STORAGE & OFFLOADING Inicialmente, quando trabalhávamos em lâminas d’água de até 200 metros, utilizávamos plataformas. As operações eram parecidas com as de terra. E quando a lâmina d’água foi ultrapassando esse limite, teve-se que usar FPSOs [Floating, Production, Storage & Offloading], que são navios flutuantes que permitem receber a produção de óleo, processá-lo e exportá-lo. Estes navios são ancorados e isso foi uma grande transformação em termos da tecnologia envolvida. Passamos para a operação de FPSOs, na qual a Petrobras é líder mundial em experiência operacional. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL/ EDISE Em 1987, a minha transferência para o Edise foi um marco na minha carreira. Passei de um setor puramente operacional para um setor relacionado com o desenvolvimento de novas tecnologias. Saí de um ritmo frenético, no qual cada meia hora era importante e fui para um setor onde o prazo para o desenvolvimento de projetos era estabelecido em anos. Estes projetos seriam novas tecnologias que permitiriam a produção em lâminas d’água cada vez mais profundas. DESENVOLVIMENTO DE NOVAS TECNOLOGIAS/ EQUIPAMENTOS O primeiro grande desafio era a conexão das linhas de fluxo da Árvore de Natal, sem o auxílio de mergulhadores. Foi desenvolvido um método de conexão chamado de Lay-away e, posteriormente, um método chamado Conexão Vertical Direta, que permitiu eliminar de vez o uso de mergulhadores, até então impossível acima dos 300 metros. Nessa profundidade, não se podia contar com a ajuda de mergulhadores. É o limite físico do ser humano. Existe uma mistura de gás, de hélio, que se coloca na mistura que o mergulhador respira. A partir de 300 metros, a concentração fica muito alta e os efeitos colaterais são muito graves. Os recursos destinados a essa área sempre foram virtualmente ilimitados pelo potencial de ganho econômico. Existiam campos gigantes para serem desenvolvidos, mas o Brasil dependia da importação de óleo. Então, isso sempre foi uma prioridade do país. EQUIPAMENTOS / DRILL PIPE RISER É um tipo de equipamento utilizado para instalar as Árvores de Natal no fundo do mar. Esse equipamento permitiu fazer isso de uma maneira mais rápida e permitiu também que se ultrapassasse a barreira dos 1600 metros. O equipamento anterior estava limitado a esta profundidade. Na época, tinha o campo de Roncador a ser desenvolvido. Isso foi, mais ou menos, em torno de 1997. E os poços, em Roncador, eram na faixa de 1800 metros. Tínhamos que desenvolver um equipamento que permitisse a completação destes poços. Era um projeto a ser desenvolvido a longo prazo, mas acabou sendo desenvolvido a curto prazo, porque veio a necessidade antes do que o esperado. POÇO PIONEIRO / SONDAS DE POSICIONAMENTO DINÂMICO O primeiro poço perfurado é o chamado poço pioneiro. Ninguém sabe se ele vai dar óleo, água, gás ou se estará seco. É uma atividade de perfuração. Primeiro, perfura-se o poço e é feita uma avaliação do poço. A partir desse teste, consegue-se inferir o tamanho do campo de maneira não muito precisa, mas de forma que se tenha uma idéia do seu tamanho. Se o resultado for positivo, furam-se outros poços para delimitar o campo. A Petrobras desenvolveu equipamentos de poços para trabalhar com sonda de posicionamento dinâmico. Anteriormente se utilizavam as sondas ancoradas que eram mais ou menos estáveis e permaneciam com pouco movimento. Na medida em que a lâmina d’água foi aumentando, passou-se a utilizar sondas de posicionamento dinâmico, com thrusters. Através de posicionamento acústico, elas permaneciam praticamente paradas sobre uma locação. Isso exigiu o desenvolvimento de novos equipamentos até mesmo para a perfuração dos poços. PROCAP 3000 É possível descobrir petróleo numa profundidade onde não há capacidade de explorar. É para isso que a Petrobras tem o programa PROCAP 3000. Já furamos, se não me engano, a 2877 metros. Face à perspectiva de encontrar óleo a 3000 metros, temos esse programa PROCAP 3000, que desenvolve tecnologias para quando isto ocorrer, para não sermos pegos de surpresa. Muitas vezes, no início da exploração, já fomos pegos de surpresa. Naquela época, a Petrobras achava campos, em lâminas d’água mais profunda, a uma velocidade muito grande. A tecnologia tinha dificuldades em acompanhar as descobertas. Mas ela tinha interesse em encontrar poços onde ainda não poderia explotar. Ela procurava mesmo sabendo da profundidade, porque não tinha opção. A Petrobras precisava aumentar a produção. E aonde tinham bacias promissoras eram em águas profundas. Então, mesmo sabendo que a tecnologia não estava imediatamente disponível, ela perfurava. DESENVOLVIMENTO DE NOVAS TECNOLOGIAS Early Production Riser é um tipo de riser de produção compatível com navios chamados SEILLEAN que operavam no Mar do Norte. O SEILLEAN pegava, praticamente, a produção de poço em poço, mas, em lâminas d’água de até 200 metros. Esse navio produzia um poço, o enchia de óleo, desconectava e navegava até um porto onde descarregava o óleo. No Campo de Roncador, a Plataforma P-36 estava atrasada. Houve um atraso na produção. Havia uma urgência em produzir o Campo de Roncador e a Petrobras decidiu contratar esse navio e dar um upgrade nele de 200 metros para 2000 metros de lâmina d’água. E, para isso, precisava ter esse riser que conectava o poço, do fundo do mar até o navio. O Early Production Riser foi desenvolvido em um tempo recorde de onze meses, da a assinatura do contrato até o início da produção. Através dessa produção, se obteve informações muito importantes para o desenvolvimento do Campo. Informações sobre o tamanho do reservatório, sobre o tipo de óleo. Isso tem um impacto muito grande no planejamento e desenvolvimento de um campo. São informações muito valiosas que podem valer centenas de milhões de dólares. Quando as sondas de posicionamento dinâmico perdem posição, quando há um black-out, por exemplo, o navio sai à deriva. Tem que haver uma desconexão no fundo do mar para permitir que se feche o poço e não haja um chamado blow-out, um fluxo descontrolado. Essa junta de riser permite que o equipamento de segurança corte, feche uma válvula e mantenha o poço fechado. A alternativa seria um outro equipamento muito caro, porém, de eficiência operacional, em termos de segurança, igual. A Petrobras teria gasto muito dinheiro em alugar este tipo de equipamento. Os dois equipamentos cumprem a mesma função. Este outro é mais caro, pois existe um interesse do fabricante em vender uma coisa mais cara e mais complexa. Este outro equipamento seria a Árvore de Teste Submarina. Ela é composta de válvulas e diversos equipamentos hidráulicos que permitem a desconexão. Mas a experiência operacional da Petrobras permitiu avaliar um outro equipamento, muito mais simples e mais barato. Faz o mesmo papel e de maneira mais barata. TUBING PACKER HANGER Patenteei este equipamento. Ele é ligado à segurança, utilizado em operações de contingência. É para ser utilizado quando há um vazamento, por exemplo, em algum equipamento e o reparo custaria milhões de dólares. Ele consegue colocar o poço em condições de segurança de maneira muito mais barata. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Inicialmente, eu tive toda uma experiência nas plataformas. Depois, na Sede, trabalhei com desenvolvimento de equipamentos. Eu diria que fez toda a diferença na minha carreira ter essa experiência operacional. Porque, somente isso, me garantiu a segurança para desenvolver uma nova tecnologia. Desenvolver um equipamento, uma tecnologia e ver funcionar direito na hora do teste é um alívio. É um peso que sai dos ombros e uma satisfação muito grande. Geralmente, isso envolve um trabalho de anos, de uma equipe muito grande. Sempre trabalhamos em equipe. Por acaso, sou o coordenador, mas é um trabalho com méritos iguais de toda a equipe. É um prêmio fazer, projetar, instalar e funcionar. Minha experiência mais marcante foi a do EPR, do Early Production Riser, que foi desenvolvido num período curto, de onze meses. Até onde eu sei, é um recorde mundial. Não havia muito tempo para discussão técnica. Mas havia um receio grande de estar esquecendo algum detalhe que pudesse comprometer a operação. Mas felizmente deu tudo certo. Ele foi terminado em janeiro de 1999. PROCAP 3000 / PROJETOS O PROCAP tenta se antecipar à descoberta de campos em lâmina d’água de 3000 metros. Ele tem uma carteira de projetos, na qual existe um projeto que é o da Árvore de Natal Horizontal para Jubarte. Essa árvore é feita para permitir a produção dos poços com Bombeio Centrífugo Submerso. É, basicamente, uma bomba que fica dentro do poço, permitindo a produção de óleos muito pesados, como é o caso de Jubarte, para aumentar a produção. Outro projeto do PROCAP é o Projeto de Alta Temperatura e Alta Pressão. Pensando nos campos no sul do país, principalmente em São Paulo, como é o caso do Campo de Mexilhão e Sambaqui. Também estamos antecipando a descoberta de poços com altíssima pressão e alta temperatura. É um desafio. Porque, quando há a descoberta de um campo, como é o caso de Mexilhão, geralmente existe toda uma pressão, no bom sentido, para produzir o mais rápido possível. Temos o Campo de Mexilhão que está no limite de alta pressão. Temos o Campo de Sambaqui que já é alta pressão. É claro que essa carteira de projetos é definida em função de perspectivas de desenvolvimento. A carteira de projetos é montada com todo o grupo técnico, que envolve geólogos, geofísicos, engenheiros, prevendo cenários futuros. O PROCAP envolve tudo o que está relacionado com os campos de águas profundas. Envolve o centro de pesquisa [CENPES], a sede da Empresa [Edise], as unidades de Macaé, a unidade do Rio, do Espírito Santo, as unidades do Nordeste, onde já estão sendo perfurados poços em águas profundas também. Essa integração é produtiva e mobiliza toda a Empresa. O PROCAP é um fator de união, uma maneira de haver uma troca de informações e de experiência entre diversos setores da Empresa. PROCAPs Nesse sentido, a Bacia de Campos é exemplar. Começou com o PROCAP 1000. Era o grande desafio na época. Inicialmente, este Programa foi criado na medida em que fomos trabalhando em lâminas d’água mais profundas. Existiam tantas áreas envolvidas no desenvolvimento e na capacitação em águas profundas que se resolveu criar um programa onde essas áreas pudessem interagir de maneira mais eficiente. Então foi criado, com sucesso, o PROCAP 1000. Depois, criou-se o PROCAP 2000. E, agora, estamos no 3000. No momento, o nível de profundidade que queremos atingir é 3000 metros. Não existe nenhuma perspectiva de ir além dos 3000 metros de profundidade. Mas, a partir do momento em que houver, talvez surja o PROCAP 4000, 5000. Daqui a pouco, 1000 metros serão considerados águas rasas. No mundo, 1000 metros ainda são considerados águas profundas. Mas, para a Petrobras, é uma coisa rotineira. CAPACITAÇÃO TÉCNICA – INTERCÃMBIO DE CONHECIMENTOS O que aconteceu com a Petrobras foi muito interessante. Para conseguir desenvolver esses campos em águas profundas, ela teve que buscar a tecnologia, muitas vezes, em empresas do exterior. Com isso, houve uma participação de grandes empregados nestas empresas no exterior, o que trouxe uma maior capacitação técnica. Muita gente fez, como no meu caso, mestrado no exterior. Muitos fizeram doutorados. A Petrobras participava de congressos. Havia uma troca muito grande de experiências, o que não acontecia no passado, onde a tecnologia era mais ou menos consolidada e a Petrobras não era uma empresa tão reconhecida internacionalmente. Essa busca incessante de novas tecnologias tornou a Petrobras conhecida e também trouxe muita tecnologia e capacitação para os funcionários. MESTRADO EM ENGENHARIA SUBMARINA Fiz mestrado no exterior apoiado pela Petrobras. Conheço poucas empresas que invistam mais que a Petrobras em capacitação dos empregados. Fiz mestrado na Inglaterra, numa cidadezinha chamada Bedford. Fiz o curso de Mestrado Compacto em Engenharia Submarina por um ano na Cranfield University. Normalmente, o mestrado é feito em dois anos. Foi muito puxado e corrido, mas foi uma experiência muito interessante. A Petrobras faz convênios com diversas universidades do mundo. Dependendo do momento, ela identifica as áreas que precisam de uma massa crítica. E, caso não haja similares no Brasil, ela manda para o exterior. Mas a Empresa sempre dá preferência aos cursos de pós-graduação no Brasil. No Brasil, a Petrobras é parceira da Unicamp e da própria Coppe-UFRJ [Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia]. SEGURANÇA NAS OPERAÇÕES OFFSHORE O que eu notei é que houve uma evolução na preocupação com qualidade e com segurança. Houve, no mundo inteiro, uma conscientização maior da necessidade de aumento da segurança nas operações offshore. Os acidentes, em relação ao número de instalações, com certeza, diminuíram. Porque, quanto mais instalações, maior a chance de acontecer acidentes. Antigamente, tínhamos poucos acidentes, porque existiam poucas instalações. Mas, agora, temos muitas e continuam acontecendo poucos acidentes. DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA NACIONAL Na minha área, que envolve tecnologia, estamos com uma preocupação constante em desenvolver a indústria nacional. Coisas como o sistema de controle que, antigamente, eram feitas exclusivamente no exterior, estão sendo trazidas para o Brasil através de pressão da Petrobras. As próprias empresas, sediadas aqui, sentem essa necessidade de trazer tecnologia para cá. E, principalmente, o fator determinante é o aumento do mercado. Como estamos crescendo muito, as empresas naturalmente tendem a trazer a fabricação dos seus equipamentos para cá. Na década de 80, a Petrobras teve um programa muito grande com relação à nacionalização dos equipamentos. BACIA DE CAMPOS – ECONOMIA BRASILEIRA A Bacia de Campos é representativa, porque, hoje em dia, somos quase independentes na importação de petróleo. Este é um sonho da Empresa e até do Brasil. A gente vê, com a Guerra do Iraque, que o petróleo atingiu 40 dólares por barril. O Brasil passa meio tranqüilo com essas oscilações. Se não fosse a Bacia de Campos, estaríamos numa situação muito complicada com o preço do óleo a 40 dólares. Não sou economista, mas sei que a Bacia de Campos teve uma contribuição grande para a estabilização da economia do país. NOVAS BACIAS: ESPÍRITO SANTO E SANTOS Nossas grandes esperanças estão se voltando para o Parque das Baleias. Toda aquela região em frente à Vitória, onde se localiza os campos de Jubarte etc. Temos ainda os campos de gás de Mexilhão. E sempre temos esperança de encontrar óleo pela costa afora. Temos seis mil quilômetros de costa e estamos, volta e meia, perfurando poços exploratórios em Fortaleza, lá pelo litoral do Nordeste, por exemplo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Minha principal atividade hoje, na Petrobras, continua sendo o desenvolvimento de novas tecnologias e a disseminação deste conhecimento. Uma das funções da área onde trabalho é garantir que o conhecimento seja disseminado entre todos os técnicos da Empresa. É a chamada Gestão do Conhecimento. E existem diversas maneiras de fazer isso. Uma delas é através da organização de seminários, do registro de informações de uma maneira organizada, na qual todos possam ter acesso. E também através de discussões, dentro da Petrobras. Temos uma rede de cadastrados na intranet, onde perguntas podem ser dirigidas a um grupo de especialistas numa área. Há uma troca de informações. É algo em constante desenvolvimento, sempre aberto a novas idéias. LAZER Nas horas de lazer, como tenho filhos, basicamente corro atrás deles Tenho uma filha de seis anos e um filho de doze anos. Estou me especializando em surf agora, porque meu filho é surfista. Em águas rasas. O problema é esse. Outro dia, um cachorro entrou na água e mordeu a prancha dele, em Búzios. Acho que ele deve ir para águas mais profundas Ele disse que um tubarão podia fazer isso, mas um cachorro, nunca PROJETOS FUTUROS Tenho um projeto que é interessante: o riser de completação para 3000 metros que usa uma tecnologia revolucionária. Estamos tendo uma dificuldade de negociação e de contratação para implantar este projeto. Esse é o meu sonho. Conseguir implantar o projeto e fazê-lo funcionar. Chegamos a um estágio em que estamos em negociação comercial com uma empresa. É uma etapa muito difícil e envolve quantias muito grandes. Essa negociação é complicada e envolve novas tecnologias, riscos, e toda a parte contratual. Isso tem sido um desafio para a implantação do projeto. E tem as questões burocráticas, principalmente. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Acho a idéia fantástica Inclusive, isso faz parte da Gestão do Conhecimento, que é uma área onde atuo. É importantíssimo gravar os depoimentos para daqui a 20, 30, 50 anos as novas gerações poderem ver e transmitir, de alguma maneira, esta experiência. Eu fico curioso em saber o produto final, como é que vai ser isso aí.
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