Projeto: Memória da Petrobras
Depoimento de Joacir Pedro
Entrevistado por Ana Lage
Rio de Janeiro – RJ
Rio de Janeiro, 03/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB542
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Bom dia Joacir.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria de começar, que você me dissesse o seu nome completo, local de a data de nascimento.
R – É, Joacir Pedro, nasci em Araranguá, Santa Catarina, em 22 de julho de 1956.
P/1 – Agora me conta é, quando e como se deu a sua entrada para a Petrobras?
R – Se deu em 1979, dia 20 de julho de 79.
P/1 – E como foi ?
R – Foi através do quadro marítimo, né, que eu vinha de Marinha de Guerra e naquela ocasião o Almirante (Rafinade?) estava da Fronape, era superintendente, e eu era de Marinha de Guerra, estava dando baixa e vim com ele para Fronape em 79.
P/1 – Me diz agora, me conta um pouco dos locais em que você trabalhou dentro da Petrobras.
R – Eu trabalhei durante 13 anos na... 14 anos aliás, na comunicação social. Começou como setor de relações públicas, daí virou assessoria de comunicação social, setor de comunicação... Mudava o nome do setor, mas não a atividade, então basicamente foram 14 anos na área de comunicação social.
P/1 – E depois?
R – Depois eu fui para a área de pessoal marítimo, né, e fiquei no RH até janeiro deste ano. Eu tive dois setores só, mudando de nome, mas basicamente são dois setores na Petrobras: foi a área de pessoal de RH de 93 até janeiro deste ano. Este ano, este ano em janeiro eu fui convidado pelo presidente Sérgio Machado que é o presidente atual da Transpetro, para trabalhar no Nuvig, que é o núcleo de viagem que a Transpetro montou nos moldes da Petrobras para atender todos os empregados da Transpetro em área de viagem, hospedagem, essas coisas. E como essa atividade era da comunicação social na Fronape eu, com essa experiência, eu trouxe para o Nuvig.
P/1 – Me diz, você se recorda...
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Depoimento de Joacir Pedro
Entrevistado por Ana Lage
Rio de Janeiro – RJ
Rio de Janeiro, 03/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB542
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Bom dia Joacir.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria de começar, que você me dissesse o seu nome completo, local de a data de nascimento.
R – É, Joacir Pedro, nasci em Araranguá, Santa Catarina, em 22 de julho de 1956.
P/1 – Agora me conta é, quando e como se deu a sua entrada para a Petrobras?
R – Se deu em 1979, dia 20 de julho de 79.
P/1 – E como foi ?
R – Foi através do quadro marítimo, né, que eu vinha de Marinha de Guerra e naquela ocasião o Almirante (Rafinade?) estava da Fronape, era superintendente, e eu era de Marinha de Guerra, estava dando baixa e vim com ele para Fronape em 79.
P/1 – Me diz agora, me conta um pouco dos locais em que você trabalhou dentro da Petrobras.
R – Eu trabalhei durante 13 anos na... 14 anos aliás, na comunicação social. Começou como setor de relações públicas, daí virou assessoria de comunicação social, setor de comunicação... Mudava o nome do setor, mas não a atividade, então basicamente foram 14 anos na área de comunicação social.
P/1 – E depois?
R – Depois eu fui para a área de pessoal marítimo, né, e fiquei no RH até janeiro deste ano. Eu tive dois setores só, mudando de nome, mas basicamente são dois setores na Petrobras: foi a área de pessoal de RH de 93 até janeiro deste ano. Este ano, este ano em janeiro eu fui convidado pelo presidente Sérgio Machado que é o presidente atual da Transpetro, para trabalhar no Nuvig, que é o núcleo de viagem que a Transpetro montou nos moldes da Petrobras para atender todos os empregados da Transpetro em área de viagem, hospedagem, essas coisas. E como essa atividade era da comunicação social na Fronape eu, com essa experiência, eu trouxe para o Nuvig.
P/1 – Me diz, você se recorda de algum momento importante dentro da Transpetro ou da Petrobras?
R – Eu tenho três fatos importantes, né?, Um fato narrado não por mim, mas narrado por um comandante de navio, porque devido esse muito... que esses anos todos na Fronape, né, durante basicamente 24 anos só na área Fronape, lidando com marítimos, indo a bordo, acompanhando a construção naval, acompanhando os navios que foram criados, depois deram baixa, né? Essa Classe M, por exemplo, eu acompanhei desde a construção até o momento que eles deram baixa, né, como o Morretes* que foi entregue em Chitacong na Índia, ta? Eu tirei ele do estaleiro, na Verolme. Então eu tenho uma história muito interessante que um comandante que me contou, não presenciei, mas é fato, isso é verídico, que eles estavam com o navio atracado no Japão e o cozinheiro teve um problema psicológico, ficou agressivo, ficou agredindo a tripulação, com faca inclusive e ameaçando... E a tripulação não estava dando conta e chamaram a polícia japonesa. Daí veio dois policiais japoneses, subiram a bordo e tentaram agarrar e como o marinheiro continuava não deixando se aproximar dele e o policial voltou para o comandante e disse: “Oh comandante, está muito agressivo.”, e o comandante, no linguajar português falou: “Esse aí, esse aí não tem jeito. Só matando...” O oficial japonês foi lá e matou o cozinheiro. Então isso é um fato verídico que aconteceu dentro do navio, o japonês cumpriu no pé da letra, foi lá e matou o cozinheiro.
P/1 – Nossa! Tem mais alguma história?
R – E tem outro fato importante, que eu estava indo a bordo do Avaré conduzindo um grupo de visitantes e na saída do navio, eu auxiliando da escada do portaló do navio para a lancha, dando a mão, estava descendo um técnico de eletrônica, como os visitantes eram tudo; a maioria senhoras, né, ele se sentiu, talvez assim, como, como se diz no linguajar, se sentiu desprestigiado de eu dar a mão para ele ou se sentiu humilhado, um homem ajudar ao outro a subir de uma... você normalmente ajuda uma mulher, né, da a mão, ajuda ela a pular para lá e ele disse: “Não, deixa que eu me safo.”, e na língua marinheira “deixa que eu me safo” é deixa que eu sei. E eu tirei, no momento que eu tirei a mão, a onda bateu e afastou a lancha e ele caiu direto no mar. Aí, quando ele quis me dar a mão, já era tarde, caiu e eu fiquei observando ele na água e ele ia para o fundo e subia e afogava, eu vi que ele não estava conseguindo se manter em cima d’água e eu tirei a minha jaqueta e pulei na água, fui buscar ele. E chegando até ele, eu tinha a técnica de salvamento que eu fiz no salva-mar, consegui colocar ele em cima de mim, mas ele não largava a bolsa de ferramenta, ele estava com todas as bolsas de ferramenta porque ele é técnico de manutenção e estava a bordo na praça de máquinas fazendo reparo. Ele veio com todas as ferramentas e não largava, então aquele peso muito grande de eu manter ele e a bolsa. Por sorte que alcançaram uma bóia, jogaram uma bóia, eu consegui dar a bóia para ele e fui puxando ele com a bóia. Quando a lancha atracou de proa, que eu consegui segurar a lancha ele passou por cima de mim, veio me atropelando, veio esfregando meu rosto na lancha e aquilo ali e subiu e conseguiu botar ele para cima da lancha. Eu fiquei uns 15 dias com dor no corpo, do peso da tensão que eu fiquei segurando ele.
E outro fato mais importante que nós, na área de comunicação social, nós tivemos sempre muito contato com a comunidade carente do Caju. E a Fronape durante 24 anos foi no Caju, e lá a Fronape era rodeado por sete favelas. E nós sempre mantivemos um bom contato com a comunidade, na área de lazer, sacola do amor, os filhos e os próprios traficantes da área sabiam da nossa atividade e nós organizamos uma vez futebol lá com a comunidade. Então fizeram um time da favela e foram jogar conosco lá. E um Sábado, eu saindo com a minha esposa de uma festa na Fronape, tinha uma falsa blitz no Caju, fui cercado por seis bandidos, meu carro. Chegaram com a metralhadora, o outro com uma pistola daí, quando eu abri a janela ele olhou, botou a mão dentro do meu carro, o cara me conheceu, disse: “Oi, e daí jogador, como é que está a Fronape?”, daí eu lembrei do apelido dele que ele participou do jogo e chamavam ele de Coxa e Coxa é um apelido fácil de gravar e eu gravei. Daí eu chamei ele pelo apelido: “Tá bom Coxa, tudo bem.”, ele disse assim: “ Pode passar.”, daí ele mandou liberar e eu fui embora com a minha esposa. Quer dizer, esse contato, se eu não tivesse essa ação com a comunidade provavelmente eu seria assaltado ou coisa parecida. Então, um fato que marcou, a minha mulher ficou uma semana com dor de cabeça e eu não parava de tremer porque os caras realmente(riso), você assustava com a metralhadora, fuzil e por sorte fui reconhecido na saída do Caju pela comunidade, traficante da ora, dá área.
P/1 – Mudando um pouco de assunto Joacir, você é filiado ao Sindicato.
R – Eu sou diretor do Sindicato dos petroleiro do Rio de Janeiro.
P/1 – Desde quando?
R – De 2002. Junho de 2002.
P/1 – É, mais antes disso você já era filiado.
R – Eu era sindicalizado, né, era sócio do Sindicato.
P/1 – E porque você se filiou ao Sindicato?
R – Eu recebi um convite do Emanuel Cancela, que já foi diretor de Sindicato muito tempo, foi demitido da Petrobras e depois ele voltou com a anistia, hoje ele está nos quadros da Petrobras, ele me convidou eu não tinha experiência até na luta sindical, eu acompanhava as assembléias, mas não era; participava ativamente e como Emanuel foi um companheiro meu de esportes, que eu era atleta da Petrobras, nós participamos de várias competições, fomos campeões empresariais, competia e essas coisas todas, eu me liguei ao Emanuel pela parte esportiva e aceitei o convite dele e fui. E era uma chapa para tentar tirar os diretores do Sindicato que estavam lá mais de 10 anos, né, estavam no Sindicato. Foi uma chapa que foi composta para vencer o Sindicato e foi feito e nós conseguimos nos eleger, vencer as eleições de 2002.
P/1 – E nesse tempo que você está no sindicato, você lembra de alguma momento importante que você tenha participado, nas lutas do sindicato?
R – Eu lembro muito, muito bem, eu até recentemente, agora nós tivemos uma, um ato na Candelária sobre a entrega da, do sexto leilão, entrega do petróleo, da Petrobras, e que nós somos contra, o movimento sindical acha que a Petrobras também deve ser contra, que a sexta licitação dessa lei (979478?), o Fernando Henrique fez com a quebra do monopólio, ele colocou em leilões uma áreas nobres de petróleo que a Petrobras investiu mais de 1 milhão de dólares para pesquisar e ela foi obrigada a colocar a venda por força de lei e nós fizemos um ato em frente ao Sheraton muito significativa, embora não deu em nada, porque o leilão continuou, né, teve uma liminar do governador do Paraná, mas foi caçado pelo ministro Jobim e o leilão se prosseguiu e a Petrobras perdeu algumas áreas nobres de petróleo, com perspectiva para mais de 6 milhões de petróleo que ela perdeu para essa exploração. Então isso foi um ato muito importante, nós fechamos a Rio Branco, fechamos a Presidente Vargas, fomos até a Cinelândia em passeata, como fechamos também a, em frente ao Hotel Sheraton, a Niemeyer, teve confronto com a polícia e eu tive que tentar apaziguar, eu estava liderando, né, por ser diretor e nós conseguimos contornar a situação, porque os jovens do movimento Mova Brasil foram para lá, e os jovens tu sabe, né, é difícil você conter, mas nós conseguimos, mas foi um ato importante.
P/1 – E como você vê a relação hoje do sindicato com a Petrobras?
R – Eu sinto que o poder mudou no Brasil. Fernando Henrique foi um ditador, continuou, fez as regras, mas o poder mudou. Hoje o dirigente sindical, por ter um presidente do Brasil do movimento sindical, que veio de um líder sindical, o poder mudou. Hoje o dirigente sindical na Petrobras é respeitado. O presidente da Petrobras veio do movimento sindical, o Dutra foi do movimento sindical, ele foi casado com uma petroleira, né, que nós sabemos, a esposa dele trabalhou na Petrobras, então ele tem raízes petroleiras na Petrobras e ele reconhece a luta do dirigente sindical e a importância que o dirigente sindical tem para a Petrobras e o para o movimento e para os empregados, né, como para o Brasil também.
P/1 – Então você acha que agora ela está melhor; o Sindicato tá... ?
R – Ué, o sindicato tem uma abertura maior, a empresa está respeitando mais o sindicato, está cumprindo como sempre deveria ser, que é o código de ética, é o relacionamento sindical com a Empresa e vice-versa, então está um respeito mútuo entre o dirigente sindical e a própria Petrobras. Eles tem nos atendido, as reuniões, o próprio Dutra e agora recentemente eu estou num grupo de intersindical da construção naval, na qual nós estamos tentando a construção de 22 navios para a Petrobras, eu tive reunião com o Dutra aqui no Rio de Janeiro, fui a Brasília me encontrar com o ministro Aldo Rebelo, me encontrei, tive reunião com Aldo Rebelo e com o próprio Dutra lá em Brasília e essa luta deu resultado, que eu soube essa semana agora que foi aprovado, né, pelo conselho de administração a construção de na verdade, de 52 embarcações, sendo 22 petroleiros para 2010 e mais 20 petroleiros para 2015 e dez barcos de apoio que dá um total de 52 embarcações. Isso para mim é uma satisfação muito grande porque eu tenho o sangue da Fronape nas veias e a Fronape está com morte anunciada. Se esses navios não forem construídos, ela tem morte anunciada porque nós tínhamos apenas 10% dos navios com casco duplo. Hoje no país, no mundo, aliás, segundo as normas internacionais, todos os navios para navegar nos oceanos têm que ter casco duplo, e 90% dos navios da Fronape hoje são de cascos simples e com mais de 20 anos de atividade e a vida média de um navio petroleiro é de 25 anos; quando bem cuidado né, na manutenção, no reparo, na pintura, no cuidado das chapas ele dura até 25 anos, se não tiver um cuidado desses a vida útil dele é em torno de 20 anos. E ela está com a morte anunciada. Se ela não fizer essa, essa, reformulação essa construção naval, com certeza ela acaba até 2010.
P/1 – Agora Joacir, me dá a sua opinião, o que que você achou de ter participado dessa entrevista e ter contribuído para o Projeto Memória?
R – Eu acho muito importante isso, eu acho que todos os empregados que tem alguma história, ou que tenha, que tem um amor a Petrobras, que eu digo que a Petrobras é minha família, eu passo mais tempo aqui do que com a minha família, eu chego em casa muitas vezes 8:00 horas da noite, já cansado, fico uma hora só acordado com a família, durmo e no dia seguinte eu estou aqui 7:00 horas da manhã. Então, na verdade, você é, você acaba sendo da primeira família, porque você fica mais tempo aqui do que na sua própria família. Então acho que todo empregado que tem alguma história, que tem amor a Petrobras deve vir e dar depoimentos.
P/1 – O senhor de ter participado?
R – Lógico. Muito, gostei muito, né, muito, eu sempre vesti a camisa da Petrobras, né, fui atleta do Flamengo, participei de algumas competições pela Petrobras, fui campeão empresarial pela Petrobras, sempre vesti...
P/1 – Que esporte você... ?
R – A corrida, eu fui a São Silvestre pela Petrobras.
P/1 – Ah é?
R – Participei da maratona do Rio de Janeiro, fui campeão da corrida da Petrobras já, que ela patrocina todo ano. Então sempre tive ligado ao esporte com a Petrobras, os jogos empresariais no Maracanã foi organizado por nós também, na comunicação social, em 85 eu tive o prazer de ganhar os 3000 metros da Petrobras e o diretor da Petrobras o Emiliano, que já se partiu, né, que era o diretor na época, o que foi ministro da marinha, né, Maximiliano da Fonseca e tive a honra de ser premiado por ele no Maracanã.
P/1 – Tá, então a gente Joacir muito obrigada pelo seu depoimento.
R – Obrigada vocês e essa é uma boa iniciativa e espero que continue que se nós atingirmos um número significativo, mas que vocês façam uma propaganda maior e tragam mais companheiros que, com certeza, tem histórias bonitas e outras histórias mais até, mais interessantes, né?
P/1 – Ah, com certeza.
R - Obrigado.
P/1 – Obrigada.
(Fim da fita Mpet/CBTR 017)
(Rafinade?)
(Nuvig?)
(979478?)
OBS: * O oil MORRETES foi a segunda unidade de uma série de seis encomendados pelo armador Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras/Frota Nacional de Petroleiros - Fronape em contrato assinado em 24 de fevereiro de 1975, para serem utilizados em rotas de longo curso, transportando minério em sua viagem de ida e petróleo em sua viagem de volta. Seu nome foi dado em homenagem à cidade de Morretes, Estado do Paraná, sendo batizado pela Sra. Maria Aparecida Carvalho Belloti.
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