Projeto Vidas, Vozes e Saberes em um Mundo em Chamas
Entrevistada João Neto
Entrevistada por Lucas Torigoe
Mococa, 23 de abril de 2025.
Código da entrevista: PCSH_HV1451
Revisado por Nataniel Torres
P - Seu João, então fala pra gente o seu nome completo, que cidade você nasceu e que dia que foi, por favor.
R - João Pereira Lima Neto. Nasci na cidade de Mococa, no dia 15 de junho de 1948.
P - Entendi. E, Seu João, você cresceu aqui, foi?
R - Aqui, eu passei a minha infância aqui, até 7 anos de idade. Aí eu fui para São Paulo estudar com os meus irmãos. Minha mãe ficava conosco em São Paulo, meu pai ficava aqui indo e vindo. Mas sempre em contato com aqui. Todo fim de semana, todas as férias, todo tempo preferível eu vinha para cá. Aí eu me formei em engenharia em 1972. Também sempre em contato com aqui. Aí comecei a trabalhar na cidade de São Paulo. Eu estudei em Engenharia Atômica, certo? Como Engenheiro Civil. Depois trabalhei na Chá e Cura como Engenheiro Civil. Isso foi até 1974. Aí eu fui abrir fazendas no Maranhão, fazendas de gado, para um grupo italiano que queria fazer um projeto de maternidade no Brasil, exportar pelo porto de Itaqui e ia pra terminar na Itália. Mas sempre, passava um mês lá, vinha, passava dois, sempre em contato com aqui. Até 1982, quando meu pai faleceu, aí eu fiquei parte do processo, do projeto no Maranhão e vim ficar mais aqui na fazenda. [intervenção]
P - Antes só de o senhor continuar, explica para quem for assistir depois, onde que a gente está aqui e qual é a história dessas terras?
R - Então, aqui é a Fazenda Santo Antônio da Água Limpa, onde passei toda a minha infância, toda a minha juventude, certo? E sempre era a Fazenda Água Limpa. Ela foi aberta em 1822. Pelo avô do meu bisavô, certo? E veio pra andar com subsistência. Era arroz, mandioca, milho, couve, um fumo, uma cana pra fazer rapadura. Nós só veio começar os primeiros pés de café em 1844. Daí em diante...
Continuar leituraProjeto Vidas, Vozes e Saberes em um Mundo em Chamas
Entrevistada João Neto
Entrevistada por Lucas Torigoe
Mococa, 23 de abril de 2025.
Código da entrevista: PCSH_HV1451
Revisado por Nataniel Torres
P - Seu João, então fala pra gente o seu nome completo, que cidade você nasceu e que dia que foi, por favor.
R - João Pereira Lima Neto. Nasci na cidade de Mococa, no dia 15 de junho de 1948.
P - Entendi. E, Seu João, você cresceu aqui, foi?
R - Aqui, eu passei a minha infância aqui, até 7 anos de idade. Aí eu fui para São Paulo estudar com os meus irmãos. Minha mãe ficava conosco em São Paulo, meu pai ficava aqui indo e vindo. Mas sempre em contato com aqui. Todo fim de semana, todas as férias, todo tempo preferível eu vinha para cá. Aí eu me formei em engenharia em 1972. Também sempre em contato com aqui. Aí comecei a trabalhar na cidade de São Paulo. Eu estudei em Engenharia Atômica, certo? Como Engenheiro Civil. Depois trabalhei na Chá e Cura como Engenheiro Civil. Isso foi até 1974. Aí eu fui abrir fazendas no Maranhão, fazendas de gado, para um grupo italiano que queria fazer um projeto de maternidade no Brasil, exportar pelo porto de Itaqui e ia pra terminar na Itália. Mas sempre, passava um mês lá, vinha, passava dois, sempre em contato com aqui. Até 1982, quando meu pai faleceu, aí eu fiquei parte do processo, do projeto no Maranhão e vim ficar mais aqui na fazenda. [intervenção]
P - Antes só de o senhor continuar, explica para quem for assistir depois, onde que a gente está aqui e qual é a história dessas terras?
R - Então, aqui é a Fazenda Santo Antônio da Água Limpa, onde passei toda a minha infância, toda a minha juventude, certo? E sempre era a Fazenda Água Limpa. Ela foi aberta em 1822. Pelo avô do meu bisavô, certo? E veio pra andar com subsistência. Era arroz, mandioca, milho, couve, um fumo, uma cana pra fazer rapadura. Nós só veio começar os primeiros pés de café em 1844. Daí em diante foi... mas como é interessante, o avô do meu bisavô plantou o primeiro pé de café em 1844 debaixo das árvores do pomar da Fazenda, como nós estamos fazendo hoje aqui, certo? Você vê, que interessante. Mas aí veio a cafeicultura, que foi aberta à terra totalmente desmatada, e naquela época que era mais fresco e a terra muito fértil, deu muito mais do que debaixo das árvores. Então acabou a cafeicultura debaixo das árvores, ficou a pleno sol. E desmatavam-se matas e mais matas, eram verdadeiros desertos de florestas.
P - E conta pra mim, como é que era aqui na sua infância? Quais são as primeiras lembranças que você tem aqui nessa casa, nessa região?
R - Ah, vivi aqui como vivem meus netos hoje. Era muito feliz. E era uma harmonia muito grande, porque o fazendeiro, o proprietário, ele era junto com os funcionários. Era uma coisa só, era uma família. Porque um independia do outro, não sabia capinar bem o café, sabia colher bem o café, não sabia... e o fazendeiro que pagava o salário dele. Então, era uma troca. E se dava muito bem, eles plantavam arroz, milho, mandioca, tudo dentro do cafezal, no meio do café. Então, era uma vida muito, muito, assim, que dá saudades. Embora hoje está bem próximo, até um pouco mais ligado com a natureza do que quando eu era jovem, era um mocinho.
P - E o seu pai e sua mãe criaram você como? Você e seus irmãos, de que maneira?
R - O mais livre possível. Meu pai era totalmente liberal, totalmente liberal. A minha mãe já era um pouco mais enérgica nos estudos, mas meu pai era totalmente liberal. Tanto é que aconteceu uma coisa muito interessante, que eu quando fui fazer engenharia, no científico, você tinha um científico que era para medicina e para engenharia. Um era mais focado nas partes matemática, física, química, certo? E o da biologia, era mais química e... o que tinha na época, que era mais ligado à parte da biologia química e as plantas, certo? E eu estava fazendo o científico para medicina, que é mais ligado com o vestibular da agricultura, da luz de Queiroz e todos os focos da agricultura. E eu estou fazendo, estou fazendo. Chegou uns seis meses antes de eu prestar o vestibular, meu pai chamou pra conversar. Eram seis horas da manhã e ele chamou pra conversar. Tremia feito uma vara verde. Meu pai nunca me chamou. “O que aconteceu? Eu não fiz nada”. Aí fui lá com medo. E aí deitado na cama: “João, você quer fazer agronomia?” “Quero, pai, eu gosto de fazenda, eu quero fazer agronomia”. “Bom, a vida é tua, você faz o que você quiser”. Eu estava com 16 para 17 anos. “Você não acha que você já fez agronomia até hoje, porque se não faz outra coisa? Precisa ter uma diversidade na tua vida”. E aquilo lá fez eu mudar completamente a minha vida, quer dizer, foi uma conversa de cinco minutos, dois minutos, que mudou completamente. Eu fui, larguei das ciências biológicas para fazer as exatas, para fazer o vestibular para a engenharia.
P - E por que que ele falou pra você que você cresceu fazendo biologia? Você estava sempre perto?
R - Vivendo na fazenda, plantando, colhendo, trabalhando na fazenda, quer dizer, quando criança não. Quando criança era caçando passarinho, brincando com os bichinhos, brincando, nadando nos córregos, nas cachoeiras. E depois, lá com sete ou oito anos, eu estava mexendo no terreno de café, já estava andando nos cafezais, já ia colher café, já ia trabalhar na fazenda mesmo. Então eu tinha contato direto com a fazenda e com a vida da fazenda.
P - E quem que te mostrava os bichos, as plantas, dava os nomes para as coisas? Quem te falava essas coisas?
R - Não, isso é uma coisa natural, era tanto... umas vezes eram meus pais, outras vezes eram os meus amigos, daqui da fazenda mesmo.Nós estávamos vivendo, andando junto, pescando na baía de peneiras. É... isso é... você nem... ter tanta gente aí, tão natural, que não tem uma pessoa que for, quer dizer, tudo bem natural.
P - E vocês brincavam do que aqui nessa época? Como é que era isso?
R - Ah, carrinho de... não era de rolimã, mas carrinho de roda de madeira, não sei dizer... punha atrás das carroças que iam buscar café, subia o muro lá em cima e parava e descia com os morros. Era o morro abaixo, com os carrinhos de... era postando a corrida.
P - E me diz uma coisa, vocês nessa época tinham TV, tinha rádio aqui ou não?
R - Não, a rádio tinha, a rádio tinha. Mas a televisão começou na Copa do Mundo de 1966. A primeira televisão aqui na Fazenda é a Copa do Mundo de 1966. E comunicação era por rádio amador. Não tinha telefone, não tinha nada.
P - E vocês ouviam música aqui? LP, alguma coisa assim?
R - Não, mais que as músicas que a gente tinha contato, até mais músicas da roça mesmo. Folia de Reis, essas coisas mais do... Festa de Santo Antônio, Festa de São João, as festas juninas, certo? Que eram bastante fogos e música e bolos e comidas e tudo. Mas é... Depois, sim, quando eu estava fazendo a sua faculdade, eu tive contato com vários artistas de música popular brasileira.
P - E que festa ou comemoração a sua família fazia mais aqui?
R - A de Santo Antônio, que é o nome padroeiro da fazenda, certo?
P - E como é que era essa festa?
R - Não, como é não, ainda é. É dia 12 de junho, levanta-se a fogueira, Só que hoje eu não faço mais com fogos de artifício, eu faço com fogos naturais, foguetes naturais. Você já viu foguete natural?
P - Como é que funciona?
R - Você põe uma fogueira, faz uma fogueira bem grande e enche de bambu dentro. Vamos cortar do verde, certo? Ele estoura. Puf! Então ele solta todos os labirintos, assim, como se fosse um vulcão. Vá! Espalha toda a faísca e tal. E os meninos vão com uma vara, assim, mais fina, e vão enfiando na fogueira e vai estourando. Não tem perigo nenhum e faz um barulho muito maior que nas festas com fogos juninos.
P - Me conta uma coisa, aqui nessa região, os mais velhos contavam histórias para vocês?
R - Ah, tinha muitas histórias, muitas histórias.
P - De que, por exemplo?
R - Porque nossa família era abolicionista, certo? Esse avô do meu bisavô, por exemplo, teve 18, 15 filhos. Só teve um escravagista. Todos eram abolicionistas. Então, contava muita história dos abolicionistas, dos escravagistas, contava muito das escravos, certo? Porque aqui, tanto do pai de mãe como de pai, nós éramos abolicionistas.
P - Contava a história dessa época, então.
R - Na época que tinha a escravidão, contava histórias para nós. Contava também histórias das colheitas, das festas, histórias da fazenda, focadas na fazenda.
P - E tem alguma que o senhor gostaria de contar para a gente, que o senhor lembra mais, que te marcou, uma história que contaram para o senhor daqui?
R - Uma história que marcou muito, quer dizer, um que é escravagista, era muito bravo, ele se chama João Batista de Lima. E ele era tio do meu bisavô. Ele tinha um fazenda bem aqui do lado, esse fazenda que você vê aqui bem do lado era dele. E ele era super escravagista. Ele era muito mau com a esposa, com todo mundo. E ele quando saía pra andar, Ele pegava e amarrava a esposa. A esposa não podia cortar o cabelo. Tinha o tronco, que é um pau que ficava no meio do curral, certo? Ele amarrava a esposa no tronco, só desamarrava quando chegava da cavalgada dele lá. E ele matava muito, maltratava muito os escravos, certo? Ele tinha uma pedra que tinha uns, acho que eram 26, 28 furos, que ele amarrava os escravos e fazia um dito de sacrifício, que era matar os escravos em cima da pedra. E ele, quando veio a Lei do Ventre Livre, os recém-nascidos estavam em liberdade, certo? Ele chegava e falava assim, “sobe lá em cima do mural da porteira, só para me calibrar o meu rifle”. E matava o coitadinho. Era muito mal demais. E aí, um dia ele saiu e foi candidato a prefeito de Mococa. A apuração daquela época era feita dentro da igreja. Ele chegou, ele não tinha voto nenhum. Ninguém votava nele. Chegou ali com os capangas dele, entraram com o cavalo dentro da igreja. “O que eles estão fazendo aqui?” “Estamos apurando a votação”. Não, isso é perda de tempo, vão tudo trabalhar! Eu que sou prefeito”. Botou todo mundo pra fora lá, não teve apuração, não teve nada. E aconteceu que um dia a esposa não aguentou mais e combinou com um escravo pra matar ele. E fez um girau atrás da porta, ele não tinha, e ficou em cima da porta, essas portas assim, tem uma parte em cima, certo? Ficou em cima da porta, com o machado, a hora que ele entrou, pá! Deu uma machadada no pescoço dele e cortou. E caiu sangue. Esse sangue nunca saiu da tábua, tá lá até hoje. Vai raspa, raspa, raspa e aparece o sangue de novo. Aí foi avisar os irmãos, os irmãos dele tinham que morar em Machado e tal. Aí chegou lá pra avisar com o irmão dele. Aí ele falou: “Manozão, tantas pedras buliu que uma o feriu”.
P - Me conta um pouco, tem alguma outra história de alguma lenda da região? Enfim, alguma história desse tipo?
R - Aqui muito de lenda, não lembro.
P - Mas da família tem várias além dessa.
R - Tem, é muito ligado ao café. Eu era um grande produtor de café, certo? Tudo da nossa história era ligado ao café. Todas as reuniões que a gente tinha da família, como está o café lá, como vai o café aqui, como vai lá? Trocando ideias sobre o café, trocando ideias sobre a lavoura, mais sobre a lavoura. Mas naquele tempo era tudo convencional.
P - E você se lembra das primeiras vezes que você aprendeu Que café era qual? O primeiro contato que você teve com café na sua vida?
R - Ah, logo com 3, 4 anos de idade. Como meus netos com 3, 4 anos de idade já tem contato com café. Até menos, até 2 anos. Mas o que eu lembro mesmo é que eu tinha 5, 6 anos. Eu ainda lembro ainda. Os terrenos cheios, a gente mexia nos terrenos de café aqui.
P - E o que você achava do café nessa época?
R - Ah, a gente era muito divertido, gostava de pular nos montes, pular nas torres de café, era piscinas de café que a gente brincava de fazer, a gente ia mergulhar lá embaixo. Era uma farra, era muito divertido.
P - E fala pra mim, qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R - Meu pai se chama Octávio Pereira Lima. E minha mãe é Eunice Ribeiro do Vale Pereira Lima.
P - E você sabe como é que eles se conheceram, por acaso?
R - Ah, eles se conheceram aqui em Mococa. Meu pai foi trabalhar na vizinho de Itaiquara, que é a vizinha aqui do lado, e a minha mãe era sobrinha do proprietário, né? Então ela estava sempre contato com eles lá. Aí ela conheceu meu pai lá, que meu pai era contador do escritório de Itaiquara. Um dos contadores. E conheceu e se casaram.
P - E o senhor tem irmãos, irmãs?
R - Tenho. Tenho o primeiro, Álvaro Augusto, que faleceu muito jovem, com 2, 3 meses de idade. Foi muito prematuro. Depois o meu irmão Sérgio, que também já faleceu, o senhor. A minha irmã Maria Luísa, que é viva, que está comigo, que já está com 81 anos. Eu, que estou com 77. E a minha irmã Lavínia, que também estaria com 72 e faleceu. Já faleceu no ano retrasado.
P - E me conta uma coisa, como é que foi a sua a sua ida para a faculdade de engenharia? O senhor teve que se mudar daqui, é isso?
R - Não, eu já morava em São Paulo, estudava em São Paulo, passava só férias aqui, certo? Continuou igual.
P - E o senhor estranhava São Paulo com relação aqui ou não?
R - Não estranhava, porque eu passava a semana lá e o fim de semana aqui, passava a semana lá e o fim de semana aqui, então eu tinha muito contato com a fazenda. Então era até bom fazer um intercâmbio, uma coisa com a outra. Quer dizer, tinha saudades. Nas férias é mais divertido, é mais prolongado fazer coisas, brincadeiras maiores. Mas mesmo no fim de semana, passava sempre aqui, sempre em contato com os primos, com os próprios filhos dos colonos, que eram tudo uma família só.
P - Quem eram os seus melhores amigos nessa época, antes do senhor ir para São Paulo?
R - Ah, tem vários, tem vários primos meus, tem vários funcionários da fazenda, tem várias e várias pessoas que eram, como fosse, porque o meu irmão era um pouco mais velho, então eu tinha mais contato, alguns contatos com o meu irmão, eu tinha muito contato com o meu irmão, mas menos que com esses primos que eram mais da minha idade e mesmo com funcionários da fazenda que eram da minha idade, tinha vários, mais de vinte que tinha muita ligação.
P - E me conta uma coisa, o senhor foi para São Paulo em que ano mais ou menos? Não precisa lembrar o ano certo.
R - Eu fui com sete anos de idade. Primeiro ano eu fiz no Liceu Pasteur, depois eu fui para o Santo Américo até o quinto ano, aí fui expulso do Santo Américo.
P - Por quê?
R - Porque a gente jogava muito futebol no Santo Américo, certo? Jogava junto com os pais, era muito, muito amigo, certo? E tinha o Dom Rafael, que era muito amigo mesmo, e jogava futebol junto. Ele era palmeirense e roxo, e eu sou corinthiano, certo? Então, estava um dia no Pacaembu, num jogo com o Corinthians e Palmeiras, e ele sentou embaixo, eu sabia que era ele, e eu sentei a dois lances acima, certo? Quando o Corinthians fez um gol, eu desci daí e pulei para ele. “Gol!” E dei um abraço na cabeça dele. Chegou no dia seguinte, segunda-feira, fui expulso. Aí meu pai ficou muito bravo, ele não aceitou. Aí o pessoal pediu para que eu voltasse, que eles se considerassem. Falei, “não, agora é eu que não deixo meus filhos estudarem aqui”. Aí eu fui para o Rio Branco, que adorei também. Foi muito bom a cidade do Rio Branco, gostei muito.
P - E o senhor morava em que bairro lá em São Paulo?
R - Em Higienópolis.
P - Higienópolis.
R - Eu morava em frente ao _____ Penteado. Bem em frente. Minha casa estava de frente. Tanto é que quando teve a Copa do Mundo de 54, não, 58, porque eu sou um campeão do mundo. Caiu um balão em cima da... um balão de desfile bem em cima da _____ Penteado. Estava construindo, certo? Eu era muito amigo dos porteiros lá. Só podia subir e pegar o balão lá em cima. Eu tinha... Pequenininho de todo, foi uma farra danada. Foi uma farra danada.
P - Como era São Paulo nessa época, hein?
R - Ah, era até gostosa. Não para morar, porque eu nunca gostei de morar em São Paulo. Mas era gostoso viver lá. Também tinha muitos amigos meus. Jogava muito futebol. Foi um bicampeão da cidade de São Paulo.
P - Ah, é?
R - É, de futebol de salão. A gente tinha bicampeão da cidade de São Paulo. Então, a gente tinha uma turma muito forte de futebol de São Paulo. Tinha muitos amigos meus.
P - Seus maiores ídolos no futebol, quem serviam eles?
R - Ah, não. Embora eu sempre fui contra o Pelé, eu ia me superar. Pelé jogava futebol, era nato dele jogar futebol, eu fazia com grande solidariedade. Pelé era uma flor de comum, não tem igual, né? Embora me fez sofrer muito.
P - O senhor chegou a ver ele em campo?
R - Muitas vezes, nossa senhora, eu vivo muitas e muitas vezes. vários jogos no Pacaembu, eu gritava, gostava, adorava, porque eu morava vizinho do Pacaembu, a gente gritava, o jogador dizia, “espera lá, espera lá”, a gente conversava com os jogadores, era muito bom naquela época, nossa senhora.
P - E tem algum jogo de futebol que o senhor assistiu que marcou muito o senhor, algum campeonato, enfim, pode puxar na sua memória.
R - Ah não, na Copa do Mundo, o Garrincha também. Nossa senhora, Garrincha, nossa senhora, Garrincha, Pelé, todos eles, era uma máquina de jogar futebol
P - E você fez faculdade de engenharia onde?
R - No Mackenzie.
P - Que é ali perto?
R - É, que é vizinho também, que é pertinho de casa, que era tudo pertinho ali.
P - E como é que foi esse curso?
R - Foi ótimo, foi muito bom, muito bom mesmo, foi muito bom porque eu logo no primeiro ano eu abri um escritório de topografia vizinho do Mackenzie. Ele tinha muitos professores, quer dizer, eu, o meu primo João Francisco e o Paulo Oliemo. Nós éramos três sócios na TOP - Trabalho, Ordem e Progresso. E o Paulo Oliemo tinha sido calouro, ele estava no primeiro ano, tinha sido o calor do professor de topografia. Quer dizer, o professor de topografia tinha sido o calouro dele. Ele estava no primeiro ano ainda, não tinha saído ainda. E nós contratávamos muitos professores para pagar para nós, no escritório. E também em alunos. Foi muito bom. Foi... Era um... O Mackenzie pra mim foi muito gostoso estudar. Foi muito produtivo. Ajudou muito.
P - E você fez engenharia civil aí?
R - Civil, civil.
P - E você já foi trabalhar com topografia.
R - Não, eu fui trabalhar como engenheiro civil. Eu fui trabalhar no começo, quando eu estava estudando engenharia com topografia. Depois como engenheiro mesmo, que eu fui para o Instituto de Energia Atômica na USP lá. Instituto de Energia Atômica lá da USP. Mas como construtor de prédios, não como engenheiro atômico, claro. Fui construtor de prédios para a energia atômica.
P - E como é que o senhor foi parar lá?
R - Ah, porque tinha muitos professores do Mackenzie que me convidavam para fazer estágio lá. Fui fazer estágio lá e depois, mesmo com o quinto ano, já estava trabalhando lá. Já estava trabalhando nessa energia Atômica.
P - E nessa época o senhor já era casado?
R - Não, não, solteiro. Eu vim casar em 78. Estou falando em 72, né?
P - O senhor, então, foi...
R - Não senhor, o senhor está lá em cima. Eu sei, pelo amor de Deus.
P - Só por educação mesmo.
R - Deixe o senhor para lá. Eu sou mais velho, mas é você.
P - Você foi trabalhar, então, construindo os prédios para o Instituto de Energia Atômica da USP.
R - Exatamente.
P - E que prédios você acabou construindo?
R - O Gramo, o Alfa. Depois de uma parte, então as reformas no CPD, foi reformas dentro. CPD.
P - Isso já nos anos 70?
R - 72, 73. 72 eu formei. 72 eu estava trabalhando lá. 71 eu já estava lá, mas estagiário. 72 já trabalhando, não como engenheiro, mas trabalhando lá. Depois de 73 já como engenheiro.
P - Entendi. Mas isso sempre voltando pra cá, todo fim de semana?
R - Ah, todo fim de semana pra cá.
P - Enquanto isso, nesses 30 anos que o senhor já está contando, como é que estava aqui a propriedade? Ela estava mudando? Estava a mesma coisa, como ela estava?
R - Não, tem uma mudança muito grande nesse período. Entrou novas variedades, entraram no modo de plantar mais moderno, embora ele era com muito adubo, com muito veneno. Veneno não tinha, mas adubo, certo? Com muita mecanização também. Foi uma mudança muito grande. E aí depois começou a se produzir muito café. Quando entrou o adubo químico, logo no começo, os cafés explodiram de produção. Explodiram, mas explodiram muito mesmo. Então elas vieram com colheitas fenomenais. Mas depois foi decaindo, decaindo, decaindo, cada vez mais, foram sentindo e foram se intoxicando.
P - Me conta mais um pouco disso, o senhor se lembra quando começou essas plantações novas aqui, quem que veio, alguém veio aqui sugerir que houvesse essa mudança?
R - Não, a mudança foi feita pelo IAC de Campinas, e junto com a Aluisio de Queiroz, e foi feito no Brasil, não foi feito só aqui, foi feito em todos os lugares do Brasil, certo? A mudança foi muito grande. Só que nós levamos uma desvantagem muito grande, porque nossa fazenda tem poucas áreas mecanizadas, a maior parte é quebrada, certo? Então lá em Alfenas, lá em Varginha, lá em Três Pontas, que é terreno mais plano, lá ficou tudo mecanizado. Então eles levaram uma vantagem muito maior que pra nós que é uma meia mecanização. Mas aí, então, incentivou nós, que depois em 1977, em 1976, nós começamos a plantar o café adensado para compensar, já que não dava para mecanizar, nós plantamos bem adensados os cafés. Para você ter uma produtividade maior por hectare, sem precisar mecanizar muito. E por um acaso, nós conduzimos o nosso café adensado a livre crescimento. Porque todo café adensado é produzido com pó de recepa. Fechava e descortava para rebrotar e plantar. Era um pulmão. E nós deixamos o café crescer a livre crescimento. Era como se fosse um reforçamento de café. Ficava um pauzinho de café com uma copinha em cima, como se fosse um eucalipto de reflorestamento. Só um caule e lá em cima uma copa, certo? Não dava em todas as copas, então prezava muito por hectare. Mas passava... nós tínhamos muito veneno, e tinha muitas pragas na lavoura. Então nós tínhamos que passar muito veneno, principalmente o thiodan, pra combater a broca do café, certo? Então eu tinha equipes na fazenda nessa época. Pra você ter uma ideia, nessa época de... que eu vou dizer em 90, eu tinha uma equipe de dia e uma equipe de noite. As aplicações foliares, tanto o adubo foliar como o agrotóxico foliar, eu só passava de noite, porque é descendente. De dia, o ar é ascendente, para fazer o canhão. Fazer aqueles canhões pulverizantes. Então, eu tinha trabalhadores que trabalhavam só para fazer as pulverizações de noite, de dia só, não mexia com outras coisas, não mexia com pulverização, porque o ar ascendente não é descendente. Chegou a passar tanto, tanto agrotóxico, que ficavam folhas de café desse jeito, que ficavam para não decompunham pelos fungos. Ficava plastificada quase lá dentro, sabe? Eu cheguei até a passar lança-chama para queimar um pouco de folha de café, para você poder fazer a varredura do café embaixo. De tanta folha que ficava assim. Aí, por um acaso, o professor Jorge Abrahão, do Biológico de Campinas, ele ficou sabendo do nosso trabalho de café, adensado a livre crescimento. Ele ficou muito curioso de saber, certo? Então ele falou: “João, posso ir aí te visitar?” Falei: “Nossa, meu prazer”. Quando ele veio visitar, ele devia estar com quase 80 anos, quase com a minha idade, com 77 anos para 80. Estava bem velhinho já, como eu. Ele veio visitar a fazenda, ele chegou com um fusquinha e pegou, trouxe uma lupa grandona e um microscópio pequenininho. E saímos para andar na fazenda para ver. Foram levar um café adensado, o que ele queria ver. Ele pegou aquelas folhas lá embaixo, examinou, examinou, examinou. Uma lupa, um microscópio, pegou as caldas de café, raspou e tal, examinou, fez exame e tal, pegou lá em cima as folhas, examinou tudo, não falava nada. Fazia e ficava quieto. “João, você tem uma mina aqui perto que tem uma matinha?” “Tem”, “vamos lá”. Foi lá na mina com matinha e tal, fez as mesmas análises que fez no café, fez ali, certo? “João, você tem uma mata lá em cima que não tem água?” “No Espigão?” Falei, “tem”. “Vamos lá”. Levei lá no Espigão. Fiz as mesmas experiências deles. E andamos pela fazenda, andamos. Aí já eram as onze horas, meio-dia, vinham para tomar aqui, estavam tomando limonada, um calor danado. E ele conversando comigo, ele via café adensado. Falei assim, “João, você tem muita broca no teu café”. Falei: “Tem, tem muita broca. Tem que passar muito thiodan, senão não consigo colher café. A broca come tudo”. “Você sabe por que você tem broca? Porque você passa o Thiodan”. “Mas como assim?” Mas como todo agrônomo trocava de insumo, eu falei: “Professor, o que nós vamos usar em vez do Thiodan para combater a broca?” Ele falou: “Nada”. A minha cabeça pirou. Eu não era focado. Você vê, naquela época, nós tínhamos um laboratório na fazenda que fazia análise de solo e de folha, quinzenal de todas as lavouras da fazenda, para você aplicar as coisas certinho. Tinha lá aqui na fazenda. Trabalhando direto, direto, com análise de folha e de solo. Então eu aplicava os remédios assim, os adubos químicos, tal, tal, tal, tudo. E eu não vou usar nada. “Mas como não vou usar nada? Isso não vai dar certo”. Nessa época, em 90, ainda era... tinha muito café em Mococa, então os vizinhos eram todos cheios de café. “Imagine, o vizinho vai passar o Thiodan na lavoura dele, as brocas vão vir tudo pra cá, aqui vai ser um criadouro de brocas, vai ser o caos”. Eu falei, “não vai acontecer isso”. Ele falou: “não vai acontecer isso”. Porque é o seguinte, o Thiodan, além de ele ser um inseticida, ele é um grande fungicida. Ele mata muitas coisas, ele mata os inimigos da broca, a bovelha, os metarrhizos, as vespas, mata as aranhas, mata todos os controles da broca, e mata a broca também. Mas a broca que está dentro do grão, os ovos dela e as larvas dela, ela não mata. Então, quando ela vai sair do grão, ela vai sair de uma casa que é muito úmida, que o café adensado parece uma floresta, que é um reflorestamento, um ambiente que ela gosta de viver e sem inimigos. Então, ela está nadando de braçada, você está limpando a casa para ela morar. E eu não entendia. Eu fiquei uns quatro, cinco meses que eu não dormia. “como que eu vou deixar” com esse muito café, “como que eu vou fazer isso?” Eu não sei fazer um pedaço, eu faço tudo, não faço nada. Aí eu falei: “Mas Professor Jorge Abrahão”, que já estava com quase 80 anos, veio aqui na fazenda me visitar, faz cenário, faz... e me fala para parar de usar o Thiodan, e não vai vender nada em cima, porque se ele fosse vender alguma coisa para mim, eu podia ficar com um pouco de cisma, mas não vai vender nada? “Aí eu vou fazer o que ele está pedindo”. E parei, isso foi em 90, em 91 parei de usar o Thiodan, a fazenda inteirinha, não viu mais nada. E aproveitou, porque eu dependia muito do Thiodan. Os outros não eram tanto, porque o café adensado não tinha tanto mato embaixo ainda, porque as flores não nasceram capim, então não passava tanto rangabe, certo? Só os do Café Mais Largo passavam rangabe. “Eu vou fazer o que o professor me ensinou”. Tirei, cortei em 91, certo? 92 é igual, nem mais nem menos. O que eu gosto de ver é a broca na coisa que você está beneficiando. O grão de café que está brocado, que está granificado, bem quebradinho, que só tem dois, três furinhos, e o que furou muito que saiu até junto com a palha. Então em 91 estava igual, igual 90. 92, mesma coisa. Em 93 teve um pequeno declínio, pequeno declínio, mas não dava para fazer uma leitura exata, porque se tem um ano de mais broca, e um ano de um pouco menos. Aí em 94, foi lá para baixo a broca. E por incrível que pareça, nas bordaduras da fazenda, que tinha café, meus vizinhos tinham café adensado, é onde tinha menos broca. Tinha menos broca que no meio. O que eu estava pensando que ia acontecer, aconteceu o inverso. Eu não sabia ler na época, hoje eu leio, sei porque isso, porque aconteceu isso. É o seguinte: um foi combatido com vida, o outro com morte. Quando se deixa a vida, quanto mais chove, quanto mais venta, mais cria vida nesse lugar. Quando ele passa o Thiodan, ele mata todas as brocas, certo? E não tem, a vida não cresce lá. Então as brocas, lá ficou um ambiente ideal para as brocas. Então as minhas brocas iam para lá, porque não tinha vespa, não tinha bovelha, não tinha metarrismo, não tinha passarinho, não tinha aranha, não tinha nada, certo? Então as minhas brocas, em vez da broca vir para cá, as minhas que foram para lá. Foi o primeiro problema que eu resolvi com vida em vez de morte. Quando você vê um problema na vida, não na agricultura, como o pessoal tenta resolver sempre com vida, a solução é sábia e definitiva. Quando se resolve com morte, você está prorrogando o problema e potencializando o tamanho para frente. São duas coisas que a natureza faz. Ela jamais resolve com morte, sempre com vida. Ela jamais resolve o problema separando, sempre unindo. Ela nunca separa os seres, ela une os seres. Quando separa os seres, a energia é negativa e fria. Quando se une os seres, a energia é quente e forte.
P - E depois de 94, como é que foi seguindo a plantação?
R - Depois de 94, eu tentei fazer sem adubo e sem veneno. Foi de 90, até 90 eu parei com os “cidas”, inseticida, fungicida, herbicida, todos os cidas, tudo que mata. Mas não consegui tirar o adubo químico, porque eu achava que sem adubo químico não tinha produção. Mas aí, através do Fukuoka, da Messiânica, do Mokichi Okada, do Rudolf Stein, do Goethe, eu criei coragem e tirei os fertilizantes também, em 94. De 94 pra cá, a fazenda é tocada com três fontes. O Sol, a água e a terra. Sol, chuva e terra.
P - E me diz por que você, além dessa história que você contou, por que você tirou os fertilizantes, tirou tudo isso? Tinha alguma outra razão para fazer isso?
R - Porque quando você vai seguindo um caminho, tem um monte de gente que vai te acompanhando. Então eu tive contato com o pessoal da Mokichi Okada, tive contato com o livro do Fukuoka, tive contato com o livro do Rodolphe Stein, de Goethe, tudo falava sobre isso. Então fui me conduzindo isso daí, e eu criei coragem disso daí, que eu achei que era mais sábio.
P - E você lembra a diferença entre usar ou não esses produtos químicos que o senhor já, antes disso acontecer?
R - Os produtos químicos, não foi um baque tão grande. Mas os adubos foram. Os cafés sentiram muito. Era um drogado. Quando se tira a droga do drogado, ele fica perdido. Os cafés estavam todos drogados. Eu cortei a droga e eles ficaram perdidos. Aí foi muito difícil, foi muito complicado mesmo. Mas aí eu não voltei atrás, não. Cheguei que até a fazenda, em 2005, o mato tinha tomado conta, dela inteirinha, certo? Comecei em 90, em 2005, não tinha, era quase só capim. Aí que eu entrei com os gados, comecei a entrar com gado para limpar o cafezal com gado. Porque eu não vencia roçar, capinar, com a mão não fazia, não conseguia fazer. Tive que fazer com animais. Comecei com 60 novilhas, fiz um cercado para elas dormirem. O Ney, que era o pastor, andava a cavalo quando era pastoreando, de tarde fechava um cercado, de dia pastoreava. De tarde, eu dormia, para dormir, de dia pastoreava. Mas ele estava indo muito bem, só era um pouco animais para o tamanho da fazenda. Aí o Zé Renato, que é um veterinário, alugava uma fazenda aqui perto, uns dez quilômetros de distância, e tinha muito gado, e o proprietário pediu a fazenda de volta, ele teve que entregar, e não tinha onde colocar o rebanho dele. Era muito cabeça, era muito cabeça. Aí ele chegou e falou assim: “João, eu vou ter que... você está querendo colocar gado em toda a fazenda? Eu tenho esses novilhos aqui, só que eu tenho mil cabeças para soltar aqui”. Eu disse: “Zé, nós não temos cerca”. Nós vamos fazer assim, vamos fazer uma cerca em volta da fazenda e vamos soltar”, porque não tem onde colocar esse gado. Então ele mesmo roçou, pôs a cerca elétrica e soltou o gado, certo? Aí foi uma coisa fora do comum. Aí o gado limpou tudo e começou a aparecer as ilhas de café, que ainda tinham, certo? E comecei as árvores, comecei a plantar árvores. Só que também não contei pra você a história do Ernst Gerst, que foi em 2000. Que em 2000 fazia um curso de arborização de cafezais em Machado, com o Ernst Gerst. E aí conheci o Ernst Gerst, contei a história da fazenda pra ele. Ele contou várias histórias de árvores com café, contou tudo isso. Ele é nativo do café arábica, da Etiópia. No sub-bosque das matas caducifólias, em altitude, que é um clima muito semelhante com o nosso, e que, então, o café-arábico se vive mais confortavelmente debaixo das árvores. Então, no sub-bosque. Então, eu comecei a plantar árvore, e aí ele chegou, acabou, foram quatro dias de curso. Domingo de tarde, almoçamos, acabou o curso, encerrou, cada um, no começo, contou a história das suas propriedades, como conduzia. Aí o Ernst chegou e falou assim: “João, eu gostaria muito de conhecer tua fazenda, tua propriedade”. Ué, maior satisfação, um papa da agrofloresta”. Naquele tempo a arborização nem falava em agrofloresta. “Ó, prazer. É só o senhor marcar o dia, a hora, que nós estamos de portas abertas para receber”. “Ah, é? Então vamos já”. Queria assim. Pronto. Aí já peguei, convidei mais uns nove amigos que estavam lá também participando do curso, para ficar mais rico o dia de campo com ele aqui na fazenda. Aí andamos pela fazenda inteirinha no dia seguinte, andamos, andamos, andamos. E aí ele chegou: “João, infelizmente o que você está pensando em fazer vai ser impossível. Sem árvores, você não vai conseguir fazer esse trabalho. A pleno sol, você jamais vai conseguir ter sucesso nessa tua empreitada”. Então eu comecei a plantar árvores em 2001. Também eu achava que a árvore tinha que ser plantada com muda e quando tivesse chovendo. Então, era agosto, eu peguei as sementes e ele falou assim, “vamos plantar tudo de semente, que é mais fácil, mais prático”. Mas eu também não tinha coragem de jogar uma semente em agosto, no solão danado, se vai chover em outubro, novembro. Como fazer isso daí? Não vai dar certo. Então eu guardei a semente para jogar no começo de janeiro, que está chovendo bastante. Hoje eu não faço assim. Hoje eu jogo a semente quando ela está madura. Porque é o seguinte, é o dia que o passarinho planta ela. Por quê? Porque a semente cai ali naquele chão, está uma seca danada hoje, nós plantamos lá hoje. Vai ficar ali processando onde ela vai viver, o que ela vai comer, quais vão ser as árvores que vão estar do lado dela a vida inteirinha, quais os animais vão passar por ela ali. Ela está se processando para nascer naquele lugar. Quando vem a chuva, ela está pronta para nascer. Quando você vai à semente e guarda ela dentro de um saco ou dentro de uma tulha, no escuro, ela se processa para viver no escuro. Quando ela cai lá, fica perdida. Ela nasce totalmente perdida, não sabe como nascer. Cada planta tem um jeito de germinar. O café está maduro em abril, maio, e vai nascer só em novembro, dezembro. Não, novembro, dezembro vai chover. E vai nascer só três, quatro meses depois. Mas isso daí é feito assim. A manga não, a manga joga ao contrário. Ele chove, logo depois de cinco dias estão nascendo as manguinhas, debaixo das mangueiras.
P - É como se elas pensassem, né?
R - Cada uma tem uma coisa, elas pensam. Elas pensam e se programam muito, muito, muito. Nós é que pensamos que elas não pensam, mas elas pensam muito, muito mais que nós. Engraçado. E a natureza, ela constrói cercas virtuais. Vocês já viram cerca virtual? A natureza tem cerca pra cercar a formiga. Por exemplo, um café. Um café a pleno sol, o gado na seca, estressado, o gado na seca vai comer todas as folhas dele. Um café debaixo de uma sombra e não estivesse estressado com seca, agora está tão forte o calor, que até na sombra o gado está atacando um pouco o café. Mas antigamente, que era mais chuvoso, você tinha um gado de café. Batia sol aqui, a vaca comia até aqui, não comia para cá. Por exemplo, a jabuticabeira, a pleno sol, a formiga vai derrubar todas as folhas dela, a dez metros de distância, a mesma jabuticabeira na sombra, ela não vai comer a folha. Mas quando a folha fica caduca e cai no chão, a jabuticabeira na sombra, jogou a folha no chão, essa folha, a formiga, leva o formigueiro. Porque essa folha produz fungo, a folha na sombra não produz fungo. Quando chega, a rainha fala, “essa eu não quero, a que está no sol serve”. São cercas virtuais. Por exemplo, uma mangueira. Nasceu uma mangueira no pasto, o abacate, a vaca vai comer tudo, não vai sobrar nenhuma. Um bambu nascido no pasto vai comer tudo, só se tiver grande, como nós vimos hoje, vai comer tudo, vai comer toda a folha dele, vai matar ele. Agora uma mangueira, uma jaca de cabelo na sombra, um abacate na sombra, uma jaca na sombra, a vaca passa por aí e não come.
P - Queria que o senhor contasse para a gente como era a plantação convencional, então, com agrotóxico e tal, e adubos? E como acabou sendo essa nova forma de o senhor plantar e colher?
R - É exatamente o oposto. Eu tentei fazer parecido no começo, paralelo, só dei cabeçada. No café convencional, jamais pode entrar um animal dentro. Então, ir no café natural, que tá vivendo natureza, tem que entrar. Tem que entrar, se não entrar, está errado. No café convencional, você mata as pragas. No café natural, da grande natureza, as pragas são controladas por energia e por outras vidas. Por exemplo, vou dar um problema de energia. Então comecei a plantar muitas árvores nos cafezais, em 2000, através do Ernst. Aí passaram quatro, cinco anos, encontrei com o Ernst, e eu vi que tinha algumas árvores que o café não estava dando bem com elas, e que estava... e o outras estavam indo muito bem. Então eu chamava árvores inimigas do café, certo? Aí eu encontro com o Ernst um dia e falo: “Ernst, está acontecendo isso, isso, isso, isso”. “Oh João, não são árvores inimigas. A natureza tem um ponto focal, que é o seguinte, todos os seres jovens são amigos. Todos. Se mistura um gato com um cachorro, todos os seres se dão bem quando são novinhos. Com o decorrer do tempo, uns ficam inimigos, com dois anos, outros com quatro, outros com cinco, outros vão ficar inimigos com vinte, outros vão ficar amigos a vida inteirinha”. Então, você tem uma árvore, por exemplo, vou dar um exemplo que aconteceu comigo na lógica. Era um pé de café com um pé de marinheiro, que é uma árvore que eu pensei que fosse dar muito bem com café, que é muito parecido com mangueira, ela umedece muito a terra, ela é ideal para o café. Mas não se deu bem, tem uma leucopatia negativa que ela vai matar o pé de café. Começa a amarelar o pé de café, começa a amarelar, começa a se sentir. Aí você corta essa árvore, que ela desceu o marinheiro de 4, 5 anos e passei o marinheiro de 15 dias. Ela vai brotar e ser uma marinheiro de 15 dias. Então ela vai voltar a ser criança. Vai voltar a ser uma marinheiro jovem. E vai voltar a ser amiga, certo? Então você troca a energia do local. Então eu já cortava essa árvore e já plantava outras árvores que fossem amigas do café. Principalmente muito cipó, na época. Cipó é mais rápido pra mudar a energia do local. Então eu tô andando. Tô andando. Eu sei que o bambu, é o pior inimigo do café que tem. Nunca vi café que detesta o bambu. Detesta. Eu tô andando num local e vejo um café do lado do bambu, muito feliz, muito bom, carregado, bonito, bonito mesmo. E do lado do bambu. “Poxa vida, vai por água abaixo a minha teoria, né? Como que o bambu é o inimigo do café, se tá acontecendo isso?” Aí parei, parei, fui lá, não entendi, fui lá pesquisar aquele local lá, foi uma sala de aula pra mim. Fiquei vendo, vendo, tinha lá um timburi muito grande, que hoje até já morreu, não tá mais lá, não tá lá mais, que é muito amigo do café, tinha o cabriúva, o cabriuvão, que é um árvore muito grande também, tinha três cabriuvão que ainda estão lá, que é muito amigo do café, tinha capoeira branca, tinha várias outras, sangria d'água, tinha várias outras árvores amigas do café, certo? Então o que eu pude ver que naquela diversidade de seres, o café conseguiu encostar no bambu e conseguiu conversar com o bambu, viver junto com o bambu. Eu passei esse exemplo para a minha vida pessoal. Vamos supor, tem uma pessoa, não é por nada, nós dois juntos só dá discussão. Ele vai para um lado, eu vou para o outro, não tem jeito de nós conversarmos, trabalharmos, fazer nós dois um serviço, um projeto juntos. Mas se nós tivermos uma equipe de umas 30 pessoas, nós vamos conseguir trabalhar juntos, ele vai conseguir dar uma ideia muito boa pro meu trabalho e eu vou conseguir dar uma ideia muito boa com o trabalho dele, certo? A diversidade criou energia para fazer isso daí, certo? Então nós nos amamos muito com a energia da diversidade. Hoje o que manda na fazenda é mais energia do que os elementos químicos mesmo. Por exemplo, vou dar um exemplo para você. Você conhece o capim-anapi? O capim-anapi cresce muito como o cameirão. Esse capim que cresce, pinta uma cana assim, muito grande. Certo? Esse capinzão que cresce, Vamos supor, então eles falam que o mato, a praga, concorre com o café em água e em nutrientes, certo? Vou provar para você que é o contrário. Você pega um pé de café e um anapi. O anapi está verde, crescendo, jovem, com força, está bebendo muita água e comendo muito, certo? O café está super alegre, super contente também. O anapi ficou velho e começa a amarelar. Ele bebe, consome menos água e consome menos nutrientes, certo? O café também é amarelo. Você corta a sinapia. Para não falar que a decomposição desse anapi está alimentando o café, você leva longe o esqueleto da anapi, leva longe. Ele vai brotar. Ele vai brotar e vai voltar a beber água e a comer nutrientes. O café volta e fica feliz. E vai ficar velha de novo, o café vai voltar a sentir. Você corta embaixo de novo, você mudou a energia do local, certo? Você pode repetir isso daí vinte vezes, trinta vezes, vai acontecer a mesma coisa. Então, não é a nutrição nem a água, é a concorrência por energia. De uma planta jovem para uma planta velha. Agora, tem plantas que são amigas, tanto faz, ser jovem como velho, são amigas. Você pega um jequitibá com café. desde novinho, só que o jequitibá vai dar informação pro café depois que tiver uns 30, 40 anos.
P - E qual que é a energia dos animais, qual que é o papel dos animais nessa nova plantação de café também?
R - Então, quando soltou o gado, o gado começou a impor tudo, sumiu o capim, sumiu quase todo o capim, apareceu as ilhas de café de árvore, algumas arvinhas, que eu comecei a plantar árvores em 2001, o gado entrou em 2006, o Zé Renato foi de 2006 para 2007. Em 2005 eu entrei com a Fortaleza com as novilhas. E aí começou a aparecer essas ilhas, essas árvores, e começou a aparecer também as ilhas de café e as árvores que eu tinha plantado antes. E que aconteceu o seguinte, quando chegou em 2000, que eu soltei o gado em 2005, e ele fez aquela limpeza muito grande no cafezal. E aí eu cheguei e falei: “Puxa, que trabalho vocês deram. Vocês deram eram bonitos, hein? E eles perguntaram para mim, as vacas: “O que mais você quer que a gente faça para você?” “O que vocês gostam de fazer? O que vocês sabem que gostam de fazer?” “Ah, nós gostamos muito de plantar árvores”. “Ah, é o que eu quero”. Então, eu convidei elas para plantar árvores para nós na fazenda. Pegava a semente, põe no curto de sol, ela comia a semente no curto de sol e saia plantando na fazenda. Então, isso foi feito por cavalo. Quer dizer, cada animal planta algumas árvores. Alguns tipos de árvores, tem preferência de plantar alguns tipos de árvores. Então, por exemplo, vaca, os ruminantes são muito bons produtores de sítios. Limão, laranja, lima. Planta também goiaba, planta macaúva, planta outras árvores, mas a especialidade dele é mais em sítios. Os cavalos já são mais de goiaba, adoram plantar goiaba, cavalos, certo? Os porcos. Os porcos são cucos. Macaúva, por exemplo. Por exemplo, vou dar um exemplo pra você. A macaúva, os viveristas, escarifica, escarifica, escarifica e planta. É muito difícil germinar macaúva, você plantar a macaúva. Vai demorar de oito a nove anos pra nascer e vai nascer só uns oito por cento. A vaca pega a macaúva e come. Ela é ruminante, vai pro primeiro estômago, ela volta pra ruminar, ela mastiga, mastiga, mastiga e cospe a macaúva. Ela vai nascer em quatro anos e nasce uns 40%. [intervenção]
R - Cavalo, por exemplo, é especialista em plantar goiaba e planta outras coisas também, mas goiaba é a especialidade deles. Porco já é a macaúva, por exemplo. O porco, a macaúva que está madura em nossa região aqui, em novembro, outubro, novembro, dezembro, está madura. Ela cai no chão, o porco come ela. Masca, masca, masca, masca. Nasce em dois, três meses. E nasce tudo. Você vê como é a diferença entre as coisas. O porco é um simples plantador de macaúva, de todos os cocos, todos os cocos, o jerivá, o guariroba, a macaúva, os jatobá, jatobá ele planta muito bem, certo? Juçara, ele planta muita jussara também, as acácias, são grandes plantadores de acácias também, certo? Então, se você tiver diversidade de animais,você vai ter uma diversidade de floresta maior. Vai ter mais que a diversidade da floresta, certo?
P - Então, como a gente estava falando, você se sentia trabalhando contra, é isso? A natureza?
R - Eu não sentia, eu sentia que eu era feito uma... Você pensa que está ajudando a natureza. Como na época o pessoal da Monsanto me fez uma lavagem cerebral, que eu fazia aquela... Passava o ROUNDUP, ficava aquele colchão de matéria seca em cima, protegendo o solo. Matando toda vida embaixo. Protegia o solo, sim. Não vou dizer que não. Mas e a morte embaixo de micro-organismos e de bichinhos que tem lá na terra. Você põe um adubo químico também, vira um tijolo. Quer dizer, o adubo químico foi pai dos herbicidas, os herbicidas foi pai dos transgênicos. Cada um vai precisando do outro, o outro, o outro, e não tem fim.
P - E me conta uma coisa, vamos voltar um pouquinho então. Você trabalhou com a Monsanto, é isso? Como é que era essa relação com as empresas?
R - Eu tinha muito, consumia muito, muitos cafés que não tinha, nós tínhamos uma produção de café muito grande, e nós usávamos muito Roundup. Então, o meu abraçamento com a Monsanto é muito grande, tanto é que o Queiroz, que foi presidente da Monsanto, vivia aqui na fazenda, fazia almoço e almoço para apresentar os outros fazendeiros de café para ele e tal, para ter contato, conhecer com ele, contato com ele. Eu fiz cinco vídeos para a Monsanto divulgando o uso do rondá, porque eu achava que era certo fazer aquele colchão, protegia a terra, não ficava a terra exposta. Mas, graças a Deus, eu acordei.
P - Me conta outra coisa. Como é que funciona essa diversidade agora na plantação natural? Qual é o papel de cada ator ali dos animais, e quais animais que você cria aqui, como é que é esse equilíbrio?
R - Os animais domésticos que nós temos são a vaca, o cavalo, o porco e um pouquinho de ovelha, mas ovelha eu dei pouco, só 10, 15, só um pouquinho, o ovelha um pouquinho, mas são esses animais que eu crio mais. Mas o problema é, eles levam energia para o local. Mas esse sistema, e eles também, trazem outros animais, certo? Que estão vindo para cá. Estão vindo muitos animais para cá, que já tinham ido embora e estão voltando. A jacutinga, por exemplo, já tinha ido embora. Agora já está aparecendo, tem quatro, cinco casais de jacutinga que eu já estou vendo de vez em quando na fazenda. Porque eu nunca tinha visto mais, só vinha agora com 77 anos. Por exemplo, o veado mateiro. Tinha ido embora. Já tá aparecendo nas matas fazendo viado mateiro. Só tinha o catingueiro. O catingueiro diminuiu, mas o gole aumentou. O catingueiro não extinguiu, mas ele aumentou muito agora. Então, aumentando todos os... estão vindo os outros animais. O canarinho tinha sumido, voltou. O pintassilgo tá voltando. Tem o trinca-ferro. Tá demais, voltou bastante também. Tem vários passagens que não tinha, mas estão voltando com a mata. E animais também, a Preguiça, o tamanduá, as pacas. A paca não sumiu, mas está aumentando. O coati sumiu, está voltando. O coatis não tinha mais cartilhas, está voltando. Os coatis grandão estão voltando agora. A cutia está começando a voltar também.
P - Me conta uma coisa: como fica esse novo sistema com relação à produtividade?
R - Nós vimos hoje na minha filha os pés de café de variedade nova produzindo muito, muito bem. Então eu acredito que nessas variedades novas nós vamos ter produções muito, muito grandes. Eles se dão muito bem, principalmente o Arara, o Paraíso, o problema deles no convencional, a água você consegue resolver com irrigação, mas o vento, ele não suporta vento, esses cafés. E dentro da mata você não tem vento. Então tem brisa diferente, outro vento, não é aqueles ventos de cor que corta. Então é uma variedade que dá muito bem dentro das matas, como você viu hoje na minha filha, os cafés arara de 4, 5 anos. Então, o meu arara já está com dois anos, quer dizer, ainda não está produzindo. Vai começar a produzir no ano que vem, o meu arara, a mata, o meu sistema lá. Mas eu estou muito esperançoso. Principalmente nessas áreas. No Acá Novo também, que é mais resistente à seca, resistente aos nematóides.
P - E o senhor está com... Em 1977, o senhor começou a fazer toda essa mudança com cinquenta e poucos anos.
R - É, eu comecei em 1990. Se eu começasse hoje essa mudança, seria completamente diferente do que eu fiz. Foi um aprendizado, não reclamo, até bom que foi um aprendizado que eu tive. Me ensinou muito.
P - Você quer contar pra mim os erros que você cometeu durante esse período?
R - Cortar todas as árvores que nasciam no café. Não deixar crescer a árvore de jeito nenhum, certo? Não deixar entrar animal no café. Tem que carpir, roçar, capinar e roçar. Quer dizer, quando você está capinando, é a mesma coisa, você está matando a planta. Quando o capim está crescendo e o gado está comendo, a energia do capim está indo para o gado. Se você fazer uma energia de alimento, por energia de matar e jogar fora, é completamente energia para o sistema. Muda muito, parece que não, mas muda muito a energia. Você roçar, você carpir, do que você deixar o gado comer. Parece que não, mas é com muita, muita diferença. Não só o gado, como pode ser outros passarinhos, outros bichos.
P - E você foi chamado de...?
R - Louco. Louco, João Louco.
P - Como é que surgiu esse nome?
R - Porque eu era muito ligado, quando eu era no convencional, eu tinha dois laboratórios. Eu tinha laboratório de terra, de solo e laboratório de folhas, Foliares. Então eu tinha contato com vários professores, grandes professores e grandes químicos do café. O professor Malavolta vinha aqui várias vezes na fazenda, certo? O José Pérez Romero vinha na fazenda, a parte do IAC também de Campinas. Sempre estava aqui conosco. O doutor Alcides de Carvalho, veio várias vezes também quando era vivo aqui ainda. Então eu tinha muito contato com esses agrônomos. E, por exemplo, o Malavolta e o José Pérez Romero ensinavam exatamente o que eu parei de fazer. Então, “o João era louco”. Eu comecei a plantar café jogando assim, o José Pérez falou uma vez num congresso: “O João é o único fazendeiro, cafeicultor, que planta café X por Y, onde cai e nasce”. Porque tudo era 2 por 2, rua de 4 por meio, 4 por 60, tinha várias variedades, mas num outro sistema.
P - Você sai andando...
R - E saio jogando o café. Só que eu já estou plantando em linhas maiores.
P - Fez a primeira colheita desse novo café em que ano? Mais ou menos.
R - Desse novo café que eu estou plantando? Não, desse novo café eu ainda não estou produzindo ainda. Tem uns dos catoeiros muito novos que travam café velho. Tá bom, tá bom. Mas eles estão sentindo muita seca e estão sentindo muita ferrugem. Antes da seca, estava muito bom. Agora com esses últimos três anos que vem aumentando a seca, cada vez mais fogo, mais incêndio, eles sentiram muito também, o catoeiro não chega na seca, prejudica muito a frutificação deles. E a ferrugem ataca demais. E também eles sentem mais a seca, sentem mais os nematóides. Esses outros novos ainda não estão produzindo. Só está produzindo na minha filha, que são poucos pés que tem lá, debaixo das bananeiras, das mangueiras dela lá. Esses daí também me impressionaram muito, muito, muito.
P - Então você está tendo dificuldade esses anos agora?
R - Demais, demais, caiu demais. Tanto é que eu faço muita prestação de serviço para outros fazendeiros para poder sobreviver à fazenda. Você vê o terreno cheio, lotado de café, mas é café de terceiros que vem secar comigo. Eu trabalho aí por ano com uma faixa de cinco, sete mil sacos de café para terceiros. Pra mim poder ir também, trabalho com goiabada, trabalho com várias outras coisas, com cogumelos, com a pinha do brejo, com a jaca, a carne de jaca. Faço várias coisas pra poder, a subsistência da fazenda, que só no café tá muito difícil agora, porque tá começando a implantar meu cafezal agora, sabe?
P - E no convencional, o auge da sua produção foi quando, mais ou menos?
R - Aqui na Fazenda foi exatamente de 85 a 94. Em 94 vinha uma grandeada, depois já teve problema também. Mas aí também o jacorjão não estava mais convencional mais, né? Foi até 90, porque em 90 eu cortei isso, os cidas. Mas é de 85 a 94, nós colhemos muito café, muito, muito café mesmo. Nós colhemos em todas as fazendas nossas, 51 mil sacos de café beneficiados por ano. Nós estávamos entre os três maiores produtores de café do Brasil. Eu e meu irmão e os parceiros nossos.
P - E vocês fizeram essa mudança juntos?
R - Não, não. Nós separamos. Meu irmão não quis. Ficou separando as fazendas, ficou com as fazendas dele. E eu e minhas irmãs ficamos com essas fazendas de cá. E ele ficou com o convencional. E eu fiquei no natural. Tentando fazer o natural, certo? E as minhas irmãs apoiaram totalmente.
P - E fala para mim um pouquinho mais sobre essas mudanças no clima. Como é que o senhor tem sentido isso?
R - Como eu falei para você, a Santo Antônio está fazendo um trabalho. Mas só Santo Antônio, ele não tem interferência no clima. É muito pouco. O que eu mais quero é que, mais e mais vezes, joguem as sementes fora da fazenda, para que façam várias Santo Antônios em vários lugares do planeta. Deixar a fazenda trabalhar em vários lugares do Brasil, de São Paulo, do Brasil e do mundo. Então, vocês que trabalham com a divulgação, que eu quero que vocês cumpram essa missão de vocês de jogar as sementes fora da Santo Antônio. E cada ano que passa, nós estamos tendo uma seca cada vez mais severa, fogos, calores escaldantes, noites frias, geladas e calores escaldantes. E uma seca daí, todo fogo, fogo, fogo. Quando chega em novembro e em diante, ele não consegue dormir por causa de fogo. E o cafezal já não consegue, tá todo... Se deu furada, perde, cai todo chumbinho. Tanto é que o preço do café está subindo com barbaridade, porque não é só no Brasil. Em vários lugares do mundo, onde tem café, o clima está sendo impossível produzir café. Então não é só café. Café, cacau, azeite, está muito difícil. Mesmo os ovos. Está muito difícil a produção.
P - O senhor passou por muita queimada aqui?
R - Muita, inclusive na fazenda. Mas a fazenda foi há quatro anos atrás. De lá para cá, todo ano aqui em volta pega fogo em tudo também. A sorte é que com muito gado, o capim fica bem baixo, então fica fácil de controlar essas queimadas. Mas em 94, pegou minha mata inteirinha.
P - Como é que é quando queima assim, esse trabalho todo?
R - Ah, eu plantei, eu limpei muito cipó da mata, com gente, e plantei muitas, joguei muitas sementes. Muitas e muitas sementes. Não só das árvores nativas daqui, como até da Amazônia. Plantei até a castanha do Pará, plantei sapucaia, plantei várias outras árvores também pra ver se dá certo .
P - Agora, essas queimadas, algumas são naturais, né? Mas essas que estão acontecendo são maiores, é isso?
R - Não é que são maiores. Hoje em dia a seca está tão grande que uma latinha de cerveja faz um foco de incêndio. Bate ali, foca aquela faísca ali, começou, pronto, vai embora. Não apaga mais. Então, todo ano, fazem seis, sete anos que todo ano, cada ano, maior a incidência de fogo, maior a incidência de seca e de fogo. Só vem aumentando, só vem aumentando. É o que o professor Carlos Nova fala sobre os rios voadores da Amazônia. Na verdade, os rios voadores da Amazônia é algo muito maior que a Amazônia, que vai, bate nos Andes e vem para cá. Não estamos tendo essas águas mais. Já não está tendo, secaram os rios voadores. Então, não tem água para voltar para cá. E se fizer uma perspectiva no universo, nós estamos em cima de uma área que é tudo deserto no resto do mundo. Aqui nós éramos uma mata, uma mata atlântica, subdescida por causa dos rios voadores. Agora, sem os rios voadores, isso é muito difícil. Vai ser muito difícil mesmo. Nós temos que fazer um trabalho muito, muito grande de recuperação por toda a região nossa. É enchente de desastre, como foi no Rio Grande do Sul, e secas monstruosas. Ou é enchente... Aqui também, quando chove, também chove, chove 200 milímetros num dia. E quando vem a seca, fica seis meses, sete meses sem chover, sem nenhum pingo d'água, um calor escaldante.
P - Agora me conta, você falou da grande natureza, né? Por que você fala assim?
R - Eu falo que a grande natureza é o trabalho dela com o conjunto dela. Quer dizer, é o sol, toda a energia de toda a natureza trabalhando. Você conseguir colher, deixar... Quer dizer, ela quer produzir. A grande natureza quer produzir. O que ela mais quer é produzir para todos os filhos dela. Mas nós não deixamos, nós proibimos ela de trabalhar. Mas quando você deixa, ela trabalha com muita satisfação e com muita alegria. Você vê aqui, a mata que você viu, foi plantada em 2000, a primeira árvore foi plantada em 2001. Nós estamos, faz 24 anos, você vê a grossura das árvores? É muito rápido, por isso que vai demorar muito, sem plantar uma muda. Eu plantei semente só em... 2001, 2002 e 2003. Em 2003, no mês, eu já parei de plantar semente. Deixei a natureza plantar, ela mesma plantar. Então ela sabe plantar muito mais árvores do que eu. Então a gente tenta deixar ela trabalhar o máximo possível, porque é gratificante você colher um fruto da grande natureza, é muito gratificante. É saboroso, tem sabor.
P - E qual é a relação que você tem com ela? Como é que você se vê frente à natureza?
R - Como eu me vejo frente à natureza? Por exemplo, eu sou um administrador provisório dessa área que tenta fazer, deixar com que ela produza o mais livre possível. Quer dizer, deixar ela trabalhar o mais livre possível. Ela sabe o que tem que fazer. Eu não sei o que tem que fazer. Ela sabe fazer as coisas. Mas, mais uma vez, vou voltar a falar. Só os 444 hectares da Santa Antônio é muito pouco. Só que muitos e muitos outros fazendas deixam a grande natureza trabalhar. Aí nós vamos ter uma colheita no nosso planeta. Uma verdadeira colheita do planeta.
P - E me fala de novo sobre essa coisa de colher água, colher ar, colher...
R - É, então, a natureza tem três colheitas que ela faz. A grande natureza faz três colheitas que ela quer colher: Terra fértil, ar puro e água limpa e abundante. Você colher esses três, esse tripé de colheitas, as outras coisas todas são secundárias. O café, o leite, a vaca, o cavalo, o porco, a goiaba, enfim, a juçara, tudo são secundários, depende. Se você não tiver esse tripé trabalhando, você vai ficar com a colheita capenga. Você tem que conhecer as três colheitas. Ar puro, terra fértil e água limpa. São coisas que você não vende, que é tão grande que você não vende, você recebe. Coisa que você vende, coisa menor, pequena.
P - Se você se vê separado da natureza, como é a sua relação com ela?
R - Eu sempre achei que estava junto com a natureza, agora percebi que estava muito longe, certo? Acho que estou chegando cada dia mais próximo e quero chegar cada dia mais próximo dela. Não vou dizer que 100%, não vou falar, mas eu tento deixar receber todos os ensinamentos dela, para que cada dia eu fique mais próximo dela. Quer dizer, a natureza é mãe. E como toda mãe, ela quer o melhor para o filho. Ela te faz um prato muito, muito gostoso e te oferece. Arruma a cama para você dormir com o maior carinho possível. Mas se você fala assim, “ah, não mãe, eu não quero comer esse prato não, eu quero ir para o McDonald 'se eu quero ir para a balada”, ela te deixa também. Só que ela cruza o braço e não vai fazer o prato para o dia seguinte. Agora, se você come esse prato, se agradece, o dia seguinte já faz melhor ainda. E não para de fazer coisas melhores ainda. É imaginável, imaginável. Você não acredita o que ela faz. São presentes e mais presentes que você ganha. Eu tenho, por ano, eu ganho pelo menos mais 20 presentes novos, por ano, que a natureza me dá de presente. Que eu nem sabia que podia fazer e que posso fazer. É saboroso. É saboroso viver com a natureza, é muito saboroso. Eu sei que eu tenho muito, muito ainda para aprender, estou engatinhando. Estou começando só.
P - E como é que você conheceu a sua esposa?
R - Eu conheci minha esposa em São Paulo, numa festa, ficando noivado de um primo dela. Ela é filha de fazendeiro do Vale do Paraíba, plantador de café também, mas que não mexia mais com essa atividade, mexia mais com a parte de engenharia civil. O tio dela, que era o chefe da família na época, ela perdeu o pai muito cedo, ela foi criada pelo tio, e o tio era um grande engenheiro dos Oscar Americanos, da CVP Oscar, depois foi da Paranapanema, e ele era uma pessoa com a cabeça muito aberta, mas engenheiro, muito engenheiro.
P - Qual é o nome dela?
R - Renata Alcântara Santos Pereira Lima. Em primeiro, era Renata Alcântara Santos, de solteira.
P - E vocês tiveram filhos?
R - Tivemos três filhos. O João, que é o mais velho. Hoje mora na Alemanha, em Vogelsberg. Até agora na Volkswagen. A Fernanda, Maria Fernanda, que é a minha filha mais velha, das filhas mulher, a mais velha. Ela mora nos Estados Unidos, casada com um americano, e tem a vida dela lá, em Nova Orleans, e adora, vem pra cá passear só, e a Malu. Mas engraçado, meus filhos, quando a fazenda era convencional, eles tinham um contato muito da piscina da fazenda. Ficavam só aqui na piscina, mas da vida de casa. Agora os meus filhos menos ficam na piscina, querem andar pela fazenda, querem passear, querem ver como estão as coisas, quase não ficam na piscina, mas ficam só andando e pesquisando as coisas que estão acontecendo na fazenda, o que a natureza está fazendo.
P - E netos também?
R - Tenho dois netos. O meu filho, a esposa dele não pôde ter filhos. E a minha filha mais velha, Maria Fernanda, casou com um trato com o esposo, de não ter filhos, viver só o casal. Foi uma convenção que eles fizeram no casamento deles. E aí a Malu, minha caçula, que me deu dois netos, o Eduardo e o Gustavo. O Eduardo tá com oito, quase oito, e o Gustavo tá com três e meio.
P - E o senhor tá com setenta e sete anos agora?
R - Mês que vem, setenta e sete anos. Daqui a quinze dias, bem dizer, vinte dias.
P - E o senhor deve isso muito à mudança que o senhor teve na sua vida?
R - Ah, se eu não tivesse mudado, eu tenho certeza que eu não estaria mais aqui. Eu já estou no lucro, muito grande. Eu cheguei a pesar 127 quilos. Eu sou uma pessoa baixa, eu sou muito alto. E eu era assim, gordo, gordo, gordo mesmo. E eu carregava um saco de café nas costas. Dia inteiro carregando um saco de café nas costas. Descendo e subindo assim. Carregando um saco de café. Era muito pesado. Era muito pesado. Hoje eu estou com 70, 75, 73.
P - E o senhor tinha problema de saúde?
R - Tive pressão muito alta. Minha pressão chegou a 22 para 19. Eu quase morri. Aí eu orientava um médico do Samaritano, da Interclínica, fazer cardiologista, plantar café aqui em Guaranésia, e falei para ele que eu estava com a pressão muito alta, ele falou assim: “João, eu estou indo para ir amanhã, na fazenda, nos encontramos, você toma esses três remédios e fica com o Isordil no seu alcance, qualquer, você põe o Isordil debaixo da língua, correndo, hein? Eu estou indo amanhã para você”. Chegou, veio aqui, minha pressão já tinha diminuído um pouco, mas estava muito alto ainda, de 22 passou para 19, mas estava muito alto. “João, infelizmente, você é hipertenso, você tem que tomar esses remédios o resto da vida, não tem jeito”. Mas tem que ter, tem que fazer, tem que ser. E fui fazendo isso daí. Aí a minha mulher, a Renata, ela tinha um médico, ginecologista, ginecologista dela, que era mais da ecologia, muito ecológico. Adailton Salvatore, de Campinas. Daí eu me conhecia com ele nos consultamos com a Renata lá, me conhecia muito. Daí eu falei, “ó, eu quero ver o João, porque eu não estou vendo o João assim hipertenso. Eu quero ver o João”. Fui lá, sentei na mesa conversando com ele, contando toda a história. “Engraçado, João, eu não estou te vendo como hipertenso, você está desequilibrado. Quer fazer uma terapia de choque?” “Então vamos”. “Você vai cortar tudo que é animal, só vegetal. Mas nem leite, nem queijo, nada, nada, nada. Só animal. Só animal. Só vegetal, só vegetal. Zero de animal. E você vai cortar todos os remédios. Você vai ficar com um higroton ao teu alcance. Se tiver alguma dor de cabeça, você toma higroton”. Então eu cortei tudo que era animal, fazia cozidão. Comia couve, repolho, abóbora, mandioca, cará. Cozidão e cozidão. Eu comia três, quatro vezes em volume a mais e desmaiava de fome. Chegava a desmaiar de fome, certo? Comia, comia, comia e desmaiava de fome. E fui passando, fui passando. Aí voltei. Depois de três meses, fazer o retorno, muito bem. “Você sentiu alguma coisa?” “Não, senti nada”. “O higroton, não tomei nenhuma cápsula ainda não”. “Está ótimo, está muito bom. Vai e volta, continua”. Aí voltei, tá. Quando foi no outro retorno, não sei, passou seis meses, já tinha caído bem o peso, bem mesmo, mas tinha caído um pouco o peso, tinha diminuído bastante. E comia mais emagrecendo e passando fome, certo? Desmaiando de fome. “João, sexta-feira, vamos comer um peixinho? Primeiro peixe de mar. Você pega um filézinho de peixe de mar, faz sexta-feira, pode começar a comer um peixinho.” E foi liberando. Aí foi lá, depois de quase um ano, “vamos comer um peitinho de frango caipira? Você pega um frango caipira tempera bem, você faz um peitinho, pode comer um frango caipira”. E foi liberando, liberando. “João, sexta-feira toma uma cervejinha. Pode tomar uma cervejinha sexta-feira, toma um copinho de cerveja”. E foi liberando, liberando, liberando. Aí depois chegou, “João”, eu ia no churrasco, eu via aquele churrascão que eu adorava, não podia pôr um pouco em nada. “João, você pode comer, não vai comer muito, mas pode comer umas lasquinhas de churrasco, pode estar liberado”. Liberou tudo. Hoje eu como de tudo. E quando no outro, não podia tomar uma gota de álcool. Hoje eu tomo pinga, tomo cerveja, tomo de tudo. E como de tudo. Tanto animal como vegetal, certa coisa de equilibrado. E graças a Deus estou me sentindo muito bem.
P - João, vou ter que passar para as últimas perguntas, infelizmente, por conta do nosso tempo. A gente passou bastante tempo junto hoje. Inclusive, eu te agradeço muito por isso, pela volta toda.
R - Imagina, isso é um prazer. Isso foi uma folha do livro.
P - Eu queria que você me falasse: Se você faz o que você está fazendo, pode ajudar a gente a imaginar um mundo novo? Você acha que você faz isso por conta disso?
R - Não, eu faço isso porque isso me dá muito prazer, primeira coisa. Isso me dá muito prazer. E eu acho que isso daí é um jeito de se fazer. Se fala muito dos problemas, eu acho que é de dar uma solução para esses grandes problemas que nós estamos tendo. Essas secas e escaldantes que nós estamos tendo, esses incêndios desastrosos. Cada vez pior. E eu acho que só vai piorar. Eu acho que deixar a natureza trabalhar, ela sabe conduzir o planeta. Como ela conduziu. Nós tivemos eras tortas e eras glaciais. Ela sabe resolver os problemas. Eu acho que se nós entregássemos o problema na mão dela, em vez de nós tentarmos resolver o problema. Nós queremos ensinar a natureza. Vamos aprender com ela. Deixa ela ser a mestra, professora nossa. Nós ensinarmos ela a fazer as coisas.
P - Me fala um pouquinho, isso é muito importante, a gente falou que as plantas pensam. Você considera elas como seres humanos?
R - Não como seres humanos. Todos os seres vivos, até os minerais, têm vida. Tudo tem vida. Que são governados pela grande natureza. Quer dizer, os animais, as plantas, os animais têm um tipo de vida. As plantas têm uma vida muito grande. Você planta uma planta aqui, se você tem uma árvore inimiga, ela faz isso. Você tem uma árvore amiga, ela faz isso. Uns repelem, outros atraem. A diversidade faz ter equilíbrio. Nós conversamos sobre isso. Mas se tiver só duas árvores no mesmo lugar, uma vai matar a outra. Se forem inimigas. Se tiverem inimigas, ela não pode ter negativo um com o outro. Se não tiver diversidade grande de outros animais, as duas não vão conseguir viver juntas.
P - Me fala, como é que foi contar um pouquinho da sua história aqui e agora?
R - Não, foi gratificante porque foi uma decorrência da minha vida. Foi a minha vida desde menininho até hoje. As mudanças que a vida nos traz. E eu agradeço muito à grande natureza de ter me permitido de eu reconhecer que sou filho dela. O que ela quer para todos os filhos que ela tem. É o melhor possível. Ela quer o melhor possível para todos os filhos. É só deixar ela cumprir o trabalho que ela adora fazer, que nós vamos ter vidas muito saborosas.
Recolher