Sonhei que chegávamos, eu e minha namorada, numa cidade do interior de algum lugar, uma cidade que ficou sem nome e sem lugar específico no sonho. Ela, minha companheira, queria ver as duas irmãs, convocada por alguma situação familiar. Chegávamos nesse interior de algum lugar e lá havia um ocorrido, havia sido um massacre que ninguém sabia muito bem explicar porquê. Entretanto, o mais curioso era que só um morto havia direito a investigação. Um homem com alguma história passional. Eis que ao caminhar pelas ruelas de chão batido, via de longe, uma casa verde de madeira. Entrava e saía, como se pudesse estar ao mesmo tempo dentro e fora. Esperando e caminhando pelas ruas, havia um monte, no qual subi. Um monte coberto por plástico preto, uma grande lona estendida, uma mistura de terra por cima daquele material. Ao atravessar a margem da lona, piso, descalça em uma cabeça, meu pé afunda num crânio. Ali naquele instante, percebo que estou por cima de um amontoado de cadáveres, um amontoado de corpos. Estranho é que o que estranhei foi somente sujar meus pés.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Eu no instante do sonho não associei nenhum momento à pandemia, entretanto quando acordei assustada, escrevi o sonho no caderno, comentei com minha companheira e o esqueci. Eis que esses dias ela retomou o sonho, falando sobre a situação em que vivemos. Assim, agora eu penso em três detalhes do sonhos que são estranhos além do sujar os pés: primeiro, são as irmãs de minha companheira que, em realidade, não existem; segundo, o direito de somente um morto; e terceiro, o dentro e fora da casa verde. A banalidade de estar em cima de um amontoado de cadáveres me chama atenção, hoje, na situação do país; a morte e o nome na relação da necropolítica de nossa casa verde, que hora estamos dentro, hora estamos fora. Não sei. Esse dentro e fora como pertencentes à um coletivo, esse dentro e fora como lugar...
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Sonhei que chegávamos, eu e minha namorada, numa cidade do interior de algum lugar, uma cidade que ficou sem nome e sem lugar específico no sonho. Ela, minha companheira, queria ver as duas irmãs, convocada por alguma situação familiar. Chegávamos nesse interior de algum lugar e lá havia um ocorrido, havia sido um massacre que ninguém sabia muito bem explicar porquê. Entretanto, o mais curioso era que só um morto havia direito a investigação. Um homem com alguma história passional. Eis que ao caminhar pelas ruelas de chão batido, via de longe, uma casa verde de madeira. Entrava e saía, como se pudesse estar ao mesmo tempo dentro e fora. Esperando e caminhando pelas ruas, havia um monte, no qual subi. Um monte coberto por plástico preto, uma grande lona estendida, uma mistura de terra por cima daquele material. Ao atravessar a margem da lona, piso, descalça em uma cabeça, meu pé afunda num crânio. Ali naquele instante, percebo que estou por cima de um amontoado de cadáveres, um amontoado de corpos. Estranho é que o que estranhei foi somente sujar meus pés.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Eu no instante do sonho não associei nenhum momento à pandemia, entretanto quando acordei assustada, escrevi o sonho no caderno, comentei com minha companheira e o esqueci. Eis que esses dias ela retomou o sonho, falando sobre a situação em que vivemos. Assim, agora eu penso em três detalhes do sonhos que são estranhos além do sujar os pés: primeiro, são as irmãs de minha companheira que, em realidade, não existem; segundo, o direito de somente um morto; e terceiro, o dentro e fora da casa verde. A banalidade de estar em cima de um amontoado de cadáveres me chama atenção, hoje, na situação do país; a morte e o nome na relação da necropolítica de nossa casa verde, que hora estamos dentro, hora estamos fora. Não sei. Esse dentro e fora como pertencentes à um coletivo, esse dentro e fora como lugar que nos colocamos diante de nossas casas, estamos dentro de casa, estando fora. As irmãs que não existe me fazem pensar sobre a fraternidade e os outros dois ideais humanistas, estamos diante do rompimento dos laços desse mundo? Eis que hoje não queremos nos sujar, nos contaminar, banalmente em cima de um amontoado de corpos.
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