Entrevista de Fábio Jésus de Carvalho
Entrevistado por Caetano Etrusco, Maria Imaculada Teixeira e Bete Etrusco
Barra Longa, 03 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV004
0:24
P1 - Fale para nós o seu nome, onde você nasceu e a data do seu nascimento?
R - Eu nasci dia 04 de maio de 1930. Nessa altura, como diz, a parteira que fez o meu parto era tia de mamãe, chamava Mariquinha. Diz que foi um parto suave. E mamãe tinha 11 filhos homens, eu eles queriam que fosse mulher, vestia eu de moça, eu andava de moça, de menina, de trança, queria que fosse mulher, nasci menininho, 12 menininhos.
P1 - Agora fale para nós o seu nome completo?
R - Fábio Jesus, aqui eles gostam que fale Jesus, Fábio Jesus de Carvalho.
P1 - Você nasceu onde?
R - Na rua, hoje é travessa Trindade, ali naquela casa ali, perto da igreja mesmo.
P1 - Qual cidade?
R - A cidade é Barra Longa mesmo, chamava São José da Barra, na época. Depois mudou, você lembra a época que mudou, né! Hoje é Barra Longa mesmo.
1:36
P1 - Agora você vai falar para nós o nome dos seus pais, por favor?
R - Domingos Rafael de Carvalho. E minha mãe ensinava sobrenome para a gente chamar, Evenância de Paula, não tem nada de Carvalho.
1:52
P1 - Você se lembra de como eles se conheceram?
R - Eu lembro muito, lembro até… se eu falar para você que eu lembro com 2 anos e nove meses da enchente que teve em Barra Nova e Gesteira, 19 de novembro de 1932. Eu tava com 2 anos, eu lembro disso aí, eu lembro da enchente. Agora você pensa bem.
2:22
P1 - E você ouviu seus pais contarem como eles se conheceram os dois?
R - Lembro sim! Eu lembro sabe porque, mamãe trabalhava de garimpeira, tirando ouro no rio. Ele veio de Furquim, ele era daqui também, mas até os 15 anos ele trabalhou no Furquim. E veio, disse que a família não queria não, que ele era preto, mamãe branca de olho azul. Mas ele abriu uma venda, diz que mamãe… eles se conheceram por causa dessa venda.
2:56
P1 - E...
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Entrevistado por Caetano Etrusco, Maria Imaculada Teixeira e Bete Etrusco
Barra Longa, 03 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV004
0:24
P1 - Fale para nós o seu nome, onde você nasceu e a data do seu nascimento?
R - Eu nasci dia 04 de maio de 1930. Nessa altura, como diz, a parteira que fez o meu parto era tia de mamãe, chamava Mariquinha. Diz que foi um parto suave. E mamãe tinha 11 filhos homens, eu eles queriam que fosse mulher, vestia eu de moça, eu andava de moça, de menina, de trança, queria que fosse mulher, nasci menininho, 12 menininhos.
P1 - Agora fale para nós o seu nome completo?
R - Fábio Jesus, aqui eles gostam que fale Jesus, Fábio Jesus de Carvalho.
P1 - Você nasceu onde?
R - Na rua, hoje é travessa Trindade, ali naquela casa ali, perto da igreja mesmo.
P1 - Qual cidade?
R - A cidade é Barra Longa mesmo, chamava São José da Barra, na época. Depois mudou, você lembra a época que mudou, né! Hoje é Barra Longa mesmo.
1:36
P1 - Agora você vai falar para nós o nome dos seus pais, por favor?
R - Domingos Rafael de Carvalho. E minha mãe ensinava sobrenome para a gente chamar, Evenância de Paula, não tem nada de Carvalho.
1:52
P1 - Você se lembra de como eles se conheceram?
R - Eu lembro muito, lembro até… se eu falar para você que eu lembro com 2 anos e nove meses da enchente que teve em Barra Nova e Gesteira, 19 de novembro de 1932. Eu tava com 2 anos, eu lembro disso aí, eu lembro da enchente. Agora você pensa bem.
2:22
P1 - E você ouviu seus pais contarem como eles se conheceram os dois?
R - Lembro sim! Eu lembro sabe porque, mamãe trabalhava de garimpeira, tirando ouro no rio. Ele veio de Furquim, ele era daqui também, mas até os 15 anos ele trabalhou no Furquim. E veio, disse que a família não queria não, que ele era preto, mamãe branca de olho azul. Mas ele abriu uma venda, diz que mamãe… eles se conheceram por causa dessa venda.
2:56
P1 - E você teve irmãos? Quantos?
R - Que eu conheci, até os 6 anos, eu lembro que morreu um, chamado Jésus e eu chamava Fábio Jésus. Ele morreu de sarampo.
P1 - No total eram quantos?
R - Era 11 homens e uma moça. Nossa senhora, os nomes, tinha Dé… ai eu não lembro mesmo, não dá para lembrar. Meu avô Henrique, Henrique Rodrigues de Carvalho.
P1 - E qual era a profissão do seu pai e a profissão da sua mãe?
R - Mamãe diz que na época dela, minha vó morreu de parto, tinha 2 moças, Maria Teresa e Maria Venância de Paula. E diz que elas trabalhavam na lavoura, coitadas, não tinha pai nem mãe, morreu tudo. Diz que João Marculino, você deve lembrar dele. O Marculino velho, não é esse não. O velho dava só almoço para elas, janta não dava não, naquela época. Ela vivia muito ruim mesmo. E mesmo assim, no forno fazia tudo, sem saber lê, sem nada, sabia as receitas tudo de cor e fazia os biscoitos fantásticos. E papai abriu uma venda e ela trabalhava no balcão.
4:14
P2 - E o seu pai Fabinho, ele trabalhou sempre na venda?
R - Venda e barbeiro… ele tinha um bar, bar do ponto é o único bar que tinha em Barra Longa e cinco cadeiras de barbeiro, onde todos os meninos começaram a trabalhar.
P2 - Você fala os meninos todos começaram a trabalhar são seus irmãos?
R - Meus irmãos, Afonso, Geraldo de Vicente, três, e eu na última cadeira, com 16 anos comecei a trabalhar como barbeiro também.
P2 - Então você começou como barbeiro aos 16 anos, você pode contar um pouquinho dessa época que você trabalhava lá como barbeiro?
R - Eu só trabalhava com velho, naquela época não existia aposentadoria. Eu lembro do seu Neco, Lana, eu fazia o cabelo dele, Zé Lana, pagava por mês. Joaquim Nogueira, tio de mamãe, deu derrame, eu fazia a barba dele e o cabelo, pagava no fim do mês. Zé Domingues Carneiro, seu parente, morava na rua… eu fazia, me pagava por mês. E sabe o que eu fazia, o preço eu vou falar para vocês, a barba era 50 centavos, cabelo 1.500, naquela época, em 1946. Eu saí em 45 da escola. Era dinheiro muito, a grama do ouro era 1500. Que dizer que o barbeiro era caro, o preço da barbearia, 1.500 um corte. Um trabalhador na roça trabalhava por 1.500, que dizer que era caro. Deu para juntar dinheiro, naquela época. Quando o banco… morreu, quebrou, parece que foi em 1952, mais ou menos, 1957, quebrou o banco… eu tinha 5 mil no banco, de barbeiro 5 mil réis falava, aquela aflição doida.
6:26
P1 - E sua infância Fabinho, o que que você se lembra das brincadeiras de infância, dos seus companheiros de infância?
R - Nós tinha uma mania, Gerson também está com 90 anos hoje, é meu primo também. Nós usava muito, circo, vinha circos famosos em Barra Longa, hoje não tem mais nem lugar para circo aí. E nós fazia na horta, eu era o palhaço, vestia de palhaço, contava aquelas piadas doidas. Nossa brincadeira era circo, até os 12 anos nós brincava de circo na horta.
P2 - E essa brincadeira que vocês faziam de circo vocês levavam um público para lá?
R - Disse que tinha um coletor aqui, o seu Valdemar, ele ia para assistir. Tinha artista mesmo, tinha um filho de Olívia, no trapézio, ele era fora de série. Eu era o palhaço, arranjei uma bengala torta.. já contava piada naquela época. E nós abusava das meninas também, isso aí não vou contar para vocês.
P2 - Mas você pode contar uai, as meninas iam também assistir?
R - Elas iam para lá, tinha uma bananeira lá fora, nós arranjava… muito safado mesmo, safadão! O tempo bom! Já tava comendo já. Panhou uma marmita,.. vinha da Alemanha… procurar a maleta, eu passei mal demais, fiquei até os 19 anos com o baço dessa altura, a maleta atacou no meu baço. Eu fui em Rio… um pai de santo, que chamava pai Ribeiro Pinto, eles me levaram para dar uma benção em mim. E eu fui feliz, que ele deu a bença, eu não podia deitar não que dava aflição em mim, o baço ficou desse tamanho. E eu tô aí feliz, 92 anos, graças a Deus.
8:39
P3 - Voltando um pouco, você falou que quando você nasceu seus pais queriam uma menina…
R - Queria uma menina.
P3 - Como que foi?
R - O meu avô, João Paulo, falo para você que a minha raça é meio cheia de curandeiro. Ele cozinhava, mamãe tava grávida, usava cozinhar um rim de porco, numa água bem quente, se o rim rachasse era a moça, foi até o 11, não rachou nenhuma, chegou no 12, também não rachou, “vai nascer uma menininha”. Mamãe queria que eu fosse menina, na infância me vestia de menina, de trança, de tudo, “a menina ali”. Você sabe que ela me complicava no namoro, não me deixava namorar, falava para moça, “namora com ele não, ele é doente”. Pra mim não namorar, queria que eu fosse aquela menina. Eu contando assim, chegava na comadre de Teresa, morava lá na rua, onde hoje é Floriano Peixoto, lá em cima. Eu ia para lá, desde a minha infância lá, tia né. E as meninas levantava a roupa para ver se era a moça mesmo. Isso eu me lembro até hoje.
P1 - Mas até que idade você vestiu de criança.
R - Até os 6 anos. Tinha seis anos, com seis anos eu perdi esse irmão meu, eu vi ele morto em cima de uma mesa. E a morte dele foi fantástica, ele tava de sarampo e minha tia tirando ouro, pois ele para andar dentro do rio, o sarampo encolheu, amanheceu morto. E tem uma história, tem um outro irmão meu, morreu escorpião, morreu, não existia, na época, médico morava longe. Diz que o marido de dona Zizinha que cuidou dele, no outro dia amanheceu morto. E tem uma história também, um outro irmão meu, o padrinho dele tuberculoso, a tuberculose naquela época era muito comum, toda casa morria um de tuberculose, na época, sabe! E o padrinho dele, deu sobejo assim, o menino morreu seco, de tuberculose, tadinho! E mamãe sofreu isso tudo. Uns casos terríveis, só você vendo. Que ela encontrava.
10:55
P1 - E desse tempo seu de criança, nesse tempo dessas angústias, o que que você pensava que ia ser quando crescesse?
R - Se eu contar para você, vocês não acreditam, trabalhando de barbeiro, aos domingos da banda tocava, aos domingos na missa das 10 horas. E a banda vinha lá de baixo, hoje rua… Vinha aquilo, e eu encantava em ver aquela banda tocar, eu falei assim, dentro de mim eu falei, eu vou ser um músico. Sem ninguém saber, eu achei um ABC musical, não saia de casa, depois que eu cresci fiquei meio bobão, não saí de casa, falaram que… Eu peguei e fiz uma promessa para José, para mim vestir Centurião na semana santa, para mim tirar esse acanhamento que eu tinha, eu fiz a roupa de Centurião, vesti Centurião e deu certo. Comecei a estudar música escondido, e com o dinheiro que eu tinha eu comprei o piston, sem música, um piston, emboquei, tocava a rumba (cantarolando). O maestro, “quem está tocando piston aí?” “É Fabinho!” “Fala com ele para entrar na banda”. Senhor Joaquim Teodoro. Falou, “ele não sabe música não”. Como é que esse menino tá tocando essa música?” Música mexicana, sei lá como que aquilo lá. Pois eu entrei sem saber música, vocês não acreditam. E aprendi nos ensaios. E virou um pistonista, que depois que morreu, que fiquei sabendo, tinha o maior pistonista que eles falavam, agora que eu fui descobrir, que ele era meu primo, ninguém sabia, irmão de José Venâncio… ele que era o famoso na época. E eu puxei ele… Ele era grande pistonista, morreu tuberculoso também, você sabe, né! E arranjou a música que ele tocava, eu aprendi a música, eles puseram um banco na porta da barbearia, para Fabinho… só eu até hoje toquei ela, ninguém toca ela, de tão difícil que era. E disso foi um trem doido, a banda pois às 3 horas da tarde os bancos na porta da barbearia, eu toquei as duas marchas. Esse dia Fabinho cresceu, virou pistonista, famoso, igual Antônio, que ele chamava. Você sabe que ninguém falava comigo que ele era meu parente, fui descobrir agora.. Eu sou parente de Fabinho, aí que eu lembrei, ele era irmão de Zé Venâncio, esse tal pistonista.
13:48
P1 - Então você conseguiu realizar o seu sonho?
R - Papai chegava na porta, eu lá na frente, tocando piston.
P2 - Em que momento da banda, Fabinho, que você trocou de instrumento saiu do pistão para o saxofone?
R - Pois é! O Jânio Quadros tomou posse… Juscelino,.. 22 de dezembro de 1959, em 60 tomou a posse. Eu tomei posse, Jânio Quadros anulou… de Juscelino… No decreto falava, o lugar que precisa não é demitido. Genoca falou, “eu preciso de um carteiro para me ajudar”. Aí dia 13 de março, tinha uma semana santa aí, eu peguei o piston, fiz o piston rachar de tanta beleza, chorando, me mandaram embora. Aí na hora que eu acabei de tocar a marcha, eles falaram, “ô Fabinho… um verdadeiro terror, o piston… a última vez. toquei última vez o piston para eles, já era a carteiro. Voltei outra vez, e nisso me ordenado era 19 conto de réis por mês, 19.000 réis, professor naquela época, em 1960, ganhava 260 conto de réis, mais ou menos. Geraldo falou, “você está ganhando mais que professor”. E eu ganhava 19.000 réis, eu peguei… de São Paulo, um saxofone, por 19.000 réis. Sei que o dia que eu fui um verdadeiro artista, como é que eu mandei um cheque para São Paulo, mandei o meu endereço, estação do Cássio Leopoldina, para mandar o Saxofone. Você acredita que deu tudo certo? Eu recebi uma carta assim, seu saxofone está no cais… Meu primo Haroldo, ele sabe, foi prefeito aqui. Ele me cobrou 50.000 réis para ir lá no cais buscar o saxofone. Foi ele e Bento, irmão dele. Aí peguei o piston, vendi para um soldado que estava aqui, por 1.500 e comprei o saxofone. O saxofone chegou no cais, 19 contos de mil reis. Tá lá em casa até hoje.
16:46
P2 - Você começa falando que foi chamado, que você tomou posse. Mas me explica assim, fala pra mim, você tomou posse do que? Quando que foi isso?
R - Lembrei, o João Batista dos Santos, eu lembro dele, ele era sargento, veio em Barra Longa, na banda de São José, para escolher uns músicos para a banda militar. Mandou ele ir lá em casa. Foi lá em casa, mandou tocar uma valsa, eu toquei, “toca um samba!” Eu toquei. “Agora, toca uma rumba”. Eu toquei. Falou, “você tá bom! Vou levar você.” Minha mãe, “de jeito nenhum, meu filho não vai não!” João de Bita tava lá, falou assim, “não, ele não vai não! Mas eu vou arranjar um emprego para ele”. A história foi essa, Juscelino fazendo comício em Ponte Nova, João de Bita cumpriu. Você acredita que Juscelino passou a mão na caderneta, “como é que é o nome do rapaz?” “Fábio Jesus de Carvalho”. “E o outro?” “Mário Lana.” “E cadê o outro?” Eram três nomeações. Antônio Firmino dos Santos. Três nomeações. E Cipriano que era primo de Everaldo. Sei que dia que Juscelino… o homem bom! Chega Osvaldo… Osvaldo Xavier, “o Domingos, você tem um filho que chama Fábio Jesus de Carvalho?” “Tenho!” Ele foi nomeado, no Diário Oficial tem o nome dele, Fábio Jesus de Carvalho”. Aí que eu fiquei sabendo”. Ia terminar sem ninguém saber. 22 de dezembro, Gutemberg de Ponte Nova, abriu lá o diário oficial, viu lá, me deu, tirou uma cópia, aí que eu fui tomar posse. Eu ia perder a nomeação sem ninguém saber.
18:28
P2 - Você foi nomeado para onde?
R - Carteiro.
P2 - Carteiro no correio?
R - Carteiro em Barra Longa. E Mário, em Ponte Nova. Cipriano, em Belo Horizonte. E Antônio, em Espírito Santo. Juscelino fez isso tudo, sem concurso, sem nada.
P2 - E você ficou por muitos anos no correio, Fabinho?
R - Fiquei 12 anos com o Genoca, sofrendo a maior covardia do mundo comigo. “… Juarez trabalha no caminhão, não ganha nada, você ganha umas quatro vezes mais que uma professora”. Eu falei para ele, “eu fui nomeado por causa do piston, Jerônimo”. Até 63 eu estava com piston ainda, aí eu ganhei ordenado, comprei o saxofone. E esse saxofone tem chorado.
P1 - E você sempre trabalhou aqui em Barra Longa, Fabinho?
R - Sempre trabalhando! Trabalhei e nunca tirava as férias não. Chegou a revolução de 64, não sei se você lembra, … ficou uma semana em Barra Longa, no campo de futebol, ele, Luiz Gerson… E o Gerson corria todas as estações federais… E aí ele falou assim, “agora eu vou tirar minhas férias também”. Ele tirou, dois meses de férias, eu ficava das 7 às 7 horas da noite, entregava carta e fazia tudo. A revolução chegou, cortou a segunda férias dele, graças a Deus! Fiquei só um mês! Aí eu falo para você, depois ele aproveitou, foi para Belo Horizonte, voltou de lá com uma carta no bolso. Eu sei que foi, uma cartinha no bolso, depois de 12 anos que eu tava trabalhando com ele. Jogou a carta no chão, “o Geraldo, olha aqui a carta”. “É sua,... Ele tá assim, considera excedente essa agência, tá dando prejuízo muito grande. Genoca tremeu! … o aluguel, excedente. Mandou eu escolher, escolhi Itabirica, fui chorando. Larguei a família toda aí, larguei tudo aí, fui para lá! Cheguei lá em Itabirica, achei dois carteiros, eu, três. Mas só eu que entregava carta, os carteiros eram de associação de …, nada dava conta disso. E eu, Itabirica tem muita correspondência. Eu com aquele caroço de carta, os fiscais do correio ia Ia, mas não chamava atenção deles. E eu andava com um revólver 22 no bolso… mas estava muito magoado mesmo com o Genoca. Acontece que o Eli, o Eli ta como derrame hoje, tadinho, soube que ele sofreu um derrame. Ele falou, “esse rapaz é perigoso!” E eu andando com revólver”. “Pergunta se ele quer tocar comigo.” …. “falo como ele que eu aceito!” Ele me deu 1.000 cruzeiros. Eu fui para Belo Horizonte, ele foi para Itabirica. E lá em Belo Horizonte, coincidência fantástica, mandaram eu para o setor 4, Gutierre. Lá eles olharam para mim, “mas quem toma conta desse distinto seu? É Fábio José de Carvalho, mas eu chamo Fábio Jesus de Carvalho. Ele era meu primo, …. foi a coincidência. E você sabe que esse meu primo me prejudicou. Porque todo ano, tem um tal de… vinha um abono para todos os funcionários, e eu não veio para mim, eu fui me queixar, falou, “não, você veio em nome de Fábio José de Carvalho, você não chama Fábio José de Carvalho, chama Jésus, manda o nome”. Eu peguei e falei, “como é que a sua mãe chama?” “Maria Venância de Paula”. Eu peguei, eu era bom na caneta, eu escrevi um ofício e mandei para Brasília. Quando foi no mês seguinte, veio assim, “Fabinho promoção, nível 12”. Eu era 10, Geraldo não me promovia não. Eu passei a ser carteiro 12, Fábio Jésus. Aí veio abono para mim…. As coincidências fantásticas que acontecia comigo.
23:25
P1 - O Fabinho, quando você era rapaz, solteiro ainda, o que que você tinha para fazer?
R - Uai! Ninguém me ensinou arrumar imagem, eu aprendi sozinha. Mas papai queria que eu trabalhasse de barbeiro, mas uma época que me colocou com seu pai para aprender serviço de celeiro, mas não gostei não, larguei! Depois colocou eu de sapateiro, Zequinha, também não gostei não. Sabe de uma coisa, comecei a fazer uns trabalho assim, arrumar imagem quebrada, arrumei para Samuca o manequim dele. “Você arrumou?” “Arrumei!” Arrumei o manequim todo de papelão. Ninguém me ensinou isso. E comecei a pintar quadro, cheguei a fazer quadro, pintar quadro. E vivi assim, sempre pegando as boladazinhas. A banda saía, Joaquim usava, quando a banda saia, repartia o dinheiro da banda, todo mundo. Uma história que eu vou contar para vocês, vocês não sabia, João da Ponte, era músico também na minha época, Laurindo, era músico, pior músico da banda era Laurindo. Pois Laurindo ganhou 2.500 e João da Ponte 2500, ele pegou e rasgou o dinheiro, falou, “eu sou mais músico que Laurindo.” E abandonou a banda. E eu fiquei! A banda já tocava muito, tocava nessas cidades todas, na vizinhança aqui. E esse dinheiro nós fomos juntando, nós fomos juntando. E dava para fazer, comprar terno.
25:02
P1 - Fabinho, você era muito namorador?
R - Eu? A maior alegria era a banda, onde ia eu arranjava namorada. Em Gesteira arrumei uma namorada, a mãe de Tomazinho, namorei a mãe dele. “Você namorou minha mãe?” “Namorei!” E sua avó fez proposta para mim, me dava o terreno antes de casar, para mim casar com ela.” Mas eu não quis casar, com Neném, que ela chamava. Não casei com ela porque o irmão dela já tinha dado tiro no Padre e era vizinho do meu terreno lá, nem sei o nome dele, era irmão de Chiquinho. Ele era perigoso no revólver, disse que ele deu um tiro em um homem em Gesteira, que ele levantou o revólver para o padre, que era tio dele, que chamava Mané Carneiro. Você soube, né? Era tio desse rapaz. Eu não quis casar com ela com medo dele. O homem era perigoso demais, uai! Como que eu vou namorar com uma mulher bonita, a cerca lá, e um revólver na mão?! É isso que eu falo para você, teve essa época aí. Em Ponte Nova arrumei uma namorada também. No Pontal, eu tinha namorada. Todo lugar que eu ia eu tinha namorada.
26:14
P1 - Fabinho, além da música, do seu ofício de barbeiro, do serviço de carteiro…
R - Eu fazia também letreiro de bar, na parede. Ninguém me ensinou fazer as letras. Cobrava 2.000 réis por cada letra. Dodô, fiz bar e restaurante… eu fui aquele letreiro, ficou bobo! Eu fazia letreiro sem precisar de andaime, sem precisar de nada, na escada…. Restaurante, é restaurante, aí eu peguei, Dodô falou, … tava vindo da Europa nessa época, já estava em Barra Longa.
27:15
P1 - Fabinho, continuando sua vida, você entrou no futebol, não foi?
R - Futebol eu era um ponta direita famoso, estreei em São Pedro… ,19 anos, joguei na ponta direita, apelidaram eu de craque, padre Geraldo Barreto, era padre acolá, “o craque, esse homem é fora de série!” Aí eu fui jogar no campo sem grama, meu joelho saiu fora do lugar, saiu, ficou desse tamanho, aí acabou. Fabinho acabou! Que acabou coisa nenhuma, mesmo dia que meu joelho saiu, Geraldo falou, “você não pode jogar na linha mais não, vai para o Gol.” No gol, bateu um pênalti, isso eu lembro, cai no pênalti. “Olha lá, ele é goleiro também!” Desse dia para cá passei a ser goleiro, o goleiro… morreu de infarto, fui eu. O goleiro nosso morreu de infarte, apelidamos ele de Raimundo Piriri, era o apelido dele, ele morreu de infarte, no gol. E eu joguei no gol desse dia para cá. Vocês vão ver a minha entrada no retrato aí, vocês vão vê.
28:30
P1 - Você tem mais história do Barralonguense, Fabinho? Histórias que você lembra que aconteceu lá, casos que aconteceu você lá dentro, que você vivenciou no Barralonguense? R - Tenho! O Barralonguense fez 25 anos na época e registraram o Barralonguense, chamaram um time de… ta terra do Geraldo, como é que chama? Veio jogar em Barra Longa, eu goleiro!... Sampaio, entrou lá, o homem pintou um pênalti, Laerte entra no campo e deu um murro na boca do juiz. O juiz foi embora! Eu peguei, “não, espera lá! Eu tô aqui, o goleiro mais velho do Barra Longa sou eu, não tem nem reserva não tem, se eu machucar acabou, volta!” O time voltou, colocou a bola para bater o pênalti. Eu peguei e fiz oração assim, rezei nove quedas, nove quedas! “Pode bater o pênalti!” Na hora que o rapaz bateu o pênalti, eu caí para direita, acho que a bola bateu na trave, no pé da trave, veio na minhas pernas, eu peguei a bola com as pernas. Aí me carregaram, me beijaram, Barra Longa toda, “ô Fabinho te dou um beijo!” … Eu peguei a bola com as pernas, pode uma coisa dessa acontecer? É um fenômeno! Godofredo era presidente nessa época, pois no estado de Minas, “o maior goleiro que já houve em Barra Longa…” Peguei o pênalti, nós ganhamos o time ainda, 1 a 0 só, mas foi nosso. Mas eles que me ensinavam, “pega, marca assim, marca de mão”... Agora esse negócio de carteiro, eu achei o livro, o que que o carteiro tinha que fazer, e fui em Belo Horizonte, que eles me chamaram em Belo Horizonte para fazer a prova e lá, tudo que eles perguntavam eu sabia. E depois veio, e quanto que o carteiro pode carregar? E aí que eu errei, eu falei que era 30kg. “Não!” “15!” "Não!" E até hoje não sei quanto que é. Eles não me deram bomba não, que eu acertei tudo, uai!
32:19
P1 - Fabinho, como que foi a sua transferência de Barra Longa, você já contou. Agora eu queria saber, se o seu salário do correio, cobria suas despesas?
R - Cobria! Depois que eu contei para você que eu fui transferido. Eu sei até hoje,... cheguei com contracheque em casa é 563 mil réis… pagando calmo, 180 mil réis de caderneta… Minha família, e fui embora para lá, chegou lá, Joel Sampaio, “o Fabinho… 100 mil réis." “100 mil réis por mês?” Chamava Antônio Carrinho, que era o nome dele. “100 mil réis por mês”. Mas também não tinha… era cará de dia, cará de noite, inhame. Mas 100 mil reais por mês. Aí eu fiquei um mês lá, já contei isso, só trabalhando para danar, os carteiros me deu 1.000 cruzeiro, fui para Belo Horizonte. Na hora que cheguei em Belo Horizonte, consegui achar um barraco pra mim de 1800 o aluguel. E eu já passei a ganhar 900, dava ué! Eu gastava, pagava táxi para ir no supermercado… depositava na Caixa Econômica Federal, 100 merréis todo mês. Quando eu resolvi voltar para Barra Longa, o correio dispensou nós todos. Você sabe que o correio passou para empresa, nós não podia ser funcionário federal, trabalhando na empresa, tinha que assinar a carteira, tinha que renunciar. Paguei um advogado, “não assina não! Eu peguei e não assinei. E vocês acreditam que eu fiquei 2 meses em Belo Horizonte sem fazer nada, recebendo normalmente. E fiquei sabendo que o DASP que pagava esses funcionários. E chamava para outra empresa federal, e eu fui o único que não recebi chamado até hoje, todo mundo recebeu uma chamada, um para aeronáutica, outro… outro foi para polícia federal. E eu perdi cartão, veio uma proposta para mim ser Polícia Federal, eu não aceitei Caetano. E eles falaram para mim, foi a maior burrada que eu fiz. Eu podia ser sargento, capitão… Eu ia para lá, pronto! Músico, barbeiro, essa eu perdi. Mas naquele tempo podia, polícia federal não era difícil não, Polícia Federal não agia igual hoje, prende ninguém não, naquela época se eu fosse, era só para tomar conta de trânsito mesmo, era isso que ia acontecer comigo naquela época.
35:23
P1 - E quando é que você começou a pensar em casamento?
R - Pois é! Depois que eu estava ganhando dinheiro bastante pelo correio, eles falavam que era muito dinheiro. Eu tentei arranjar um casamento em Ponte Nova, com Terezinha de Dorico, de 15 em 15 dias, eu ia de Juarez, de madrugada, no caminhão de leite, isso era só dia de domingo, que eu tinha uma folgazinha. E ia lá namorar a Terezinha de Dorico. E fantástico que vocês não sabem, eu ficava no hotel Praia… chegava 2 horas da madrugada, pegava um táxi, para vir trabalhar no outro dia. Você não sabe quanto um táxi cobrava, 2.500 de madrugada. Isso tudo aconteceu comigo. Mas não consegui casar com ela, porque ela disse que em Barra Longa não morava… Abandonei ela, depois surgiu essa loucura de namorar a Vânia lá no fim do mundo de São Silvério. Foi Fantástico! Um verdadeiro herói, um homem viajar de bicicleta, 11 horas da noite, na estrada escura, eu ia lá e vinha de lá 11 horas da noite, chegava em casa meia-noite. E foi assim que eu casei com a Vânia, tadinha! Mas era uma pobreza danada, muitos filhos, sete filhos, soube que ela tinha. Tirei ela, mas ela…
P2 - Você namorou por quanto tempo antes de casar, Fabinho? Foram quantos anos de namoro e noivado?
R - Com Vânia foi um ano, já pedi em casamento e casei! Mas as outras eu namorava, ia lá em Gesteira, namora lá, quis casar. Com a irmã do Chiquinho, não quis não.
P2 - Seu sogro apertou você?
R - Vou contar para você, de noite, ele sentava com a lamparina com o pavio dessa grossura, assim. eu aqui, Vânia aqui e ele aqui, era assim, sem luz, aquela lamparina jogando aquela fumaça preta no meu nariz. E nem um beijo não dava, não dava, ele não deixava não. Mas teve um dia lá, vou contar para você, Vânia contava para todo mundo, “o Fabinho eu vou ali fazer um café e volto já”. Na hora que ele foi, aí eu aproveitei, dei uns beijos! Ele chegou, olhou assim desconfiado. Ele era perigoso aquele homem. Viajava quase 1000 km e nem um beijo não dava, em 15 em 15 dias que eu ia lá. Aí eu falei, vou casar!
37:58
P1 - E você ia de bicicleta e voltava?
R - De bicicleta.
P1 - Quanto tempo você gastava?
R - Eu gastava 2 horas, saía daqui 3 horas, chegava de 5 horas lá, saía de lá 11 horas, chegava aqui em casa… Afonso tinha uma televisão, chegava em casa achava o povo tudo na barbearia assistindo televisão, até meia-noite. Afonso sentado lá, e eles assistindo lá, eu chegava. Eu era doido, não via assombração, não via nada, passava nessas estradas tudo escuro aí, não via nada, graças a Deus!
38:33
P1 - Você tinha alguma iluminação?
R - Tinha! O farol era fora de série, o farol era 16, dizem, no escuro ele clareava melhor do que certas lanternas. Eu viajava de noite, com o terço na mão e o revólver na outra, eu vinha assim, não via nada. Eles falavam, “você viu assombração?” “Não!” Eu vou contar para vocês, vocês acredita, em 1952, meia-noite Barra Longa ficou sem luz 40 dias, nós ia para porta da igreja contar caso de assombração. Eu contava os meus também. Aí eu falei, Afonso, meu irmão, Afonso, e tinha um tio… que era nosso parente também, e era compadre de Afonso, Jésus, meu vizinho. Falei, “vem cá Jésus, olha lá embaixo, que que é?” “É lua cheia!” “Falei, “e aquela lá em cima?” Na hora que eles olharam lá para os alto, outra lua…. viu, eu posso chamar para vocês que ele é testemunha. Nós vimos duas luas no céu, uma lua cheia e outra lá. Mas de cá, depois que nós ficamos encarando ela bastante, ela foi andando devagarzinho assim, foi para o lado de Ponte Nova. Eu era tão fogo de palha, Aquela Marquise que tinha ali, não sei que dia que eu subi na marquise cá de baixo para ver a lua,.. ela foi para o lado de Ponte Nova. Agora, não sei, a história fala que é disco voador, agora tá aparecendo nos Estados Unidos, na Rússia também agora. Pois eu vi, Jésus é testemunha. Nós vimos duas luas no céu
38:22
P2 - E nessa época aí que você sentava na porta da igreja para contar esses casos, você tem mais algum caso que vocês viveram que você lembra?
R - Tenho, uia! Afonso você sabe que ele era sacristão 40 anos na igreja, não vamos falar mentira, ele rezava durante o dia na igreja, não tinha medo de assombração, não tinha medo de nada, ele fechava a igreja e saia 11 hora da noite, ele rezava até de noite. Esse dia ele chegou, tinha esse barbeiro que eu tava contando aí, tava lá em casa, meia-noite em ponto. Você sabe que reformou a igreja de 1928, ela caiu à frente, o Padre Gabriel de Carvalho, desmanchou a frente toda e fez essa frente moderna, o engenheiro, até sabia o nome dele, era Afrânio sei lá que chamava, italiano. Ele fez a frente. Na hora que chegou lá para meia-noite… também estava lá, falou assim, “Afonso, você tá escutando?” Subindo as escadas da igreja, escada de tábua, 72 degraus, tá, tá, tá, quando chegou lá em cima, parou. Miguel, falou assim, “ô colega, quem tá aí?” Tijolo começou a sair lá de cima, alguém jogando tijolo aqui embaixo. Eles correram, correram, na hora que chegou lá atrás da igreja, uma vaca bufou lá na janela da igreja. “Viu, ó!” Diz que foi uma vaca que subiu, vaca é demônio, né! Eles todos falavam, juraram, que viram mesmo! Subiu uma vaca na torre da igreja e bateu o sino lá em cima, meia-noite. Ninguém acredita nisso daí!.... com testemunho e tudo. Eles não falaram mentira não, uai! Eu acredito também!... compadre de mamãe e mãe de Jésus, Afonso fechava a igreja, porque ficava rezando o terço até 7 horas da noite, Afonso eu ficava lá, “ô comadre Maria, vou fechar a igreja agora”. Na hora que falou assim, alguém… não tinha essas chaves que tem hoje não, era cinco chaves, quem é que é, fez isso, eram cinco chaves, desligou, a igreja toda no escuro, Afonso no escuro da igreja, Afonso não tinha medo de nada. Até hoje Afonso fala, não sei quem desligou, deve ser o tal do demônio mesmo. Desligou as chaves tudo, deixou ele no escuro, desligou a igreja toda, 5 chaves… Esse é um caso Fantástico mesmo. Ele morreu, mas ele contava isso, mas contava… Jogava tijolo, no outro dia você ia olhar na rua, não tinha nenhum tijolo não tinha. Esse é o fato Fantástico…
41:20
P1 - Agora, Fabinho, a gente queria que você falasse um pouquinho sobre a sua família, que você construiu quando você quis casar. Então a partir daí você fez uma família, fala para nós sobre a sua família.
R - Como eu disse, o Miguel Moreira é metido a bravo demais. Eu peguei. falaram comigo que tinha uma casa na rua da porteira. Zé Adilino é casado com a minha prima, Adilino que ele chamava, né? Ele dava ela por 2.000, fiado. Eu peguei e desci para rua da Porteira… comprei ela por 2.000, casa veia para danar, feita de pau apique, seu pai sabe disso… Aí eu arrumei a casa, com o dinheiro do correio, já pensando… o Fabinho, arranjou uma menina para você casar com ela. “Quem que é?” “É uma tal de Vânia, filha de Miguel Moreira”. E trouxe ela para mim conhecer. Aí o padre, fiz 50 anos casado, “ó Fabinho, conta como você arranjou ela”. Eu fui tocar na…, já tava tocando saxofone, na… Padre Celestino celebrando, 3 horas acabou a procissão, Nezinho passa a mão no ônibus e vem embora e me larga lá. Eu com saxofone na mão. Aí Vânia chegou perto de mim, e falou assim, “Fabinho, compra um rifa pra mim!” Eu comprei a rifa. Aí o padre falou assim, você comprou a rifa da mãe dela?” “Comprei!”... ela tava moça. Aí eu namorei ela até às 6 horas da tarde lá… e vim a pé tocando saxofone pela estrada fora sozinho. Aí Padre Celestino pegou e me trouxe. “O que você está fazendo aí?” “Nezinho me largou!” Foi esse caso que eu contei lá na bolda, falei para o padre, “até hoje ela não correu a rifa”... Ela fazia rifa para comprar roupa, coitada! Não corria nada! …lá no Bonfim eu contei, nos 50 anos de casado, eles riam. “Até hoje ela não correu a rifa”.
45:32
P2 - Você ficou casado quanto tempo, Fabinho?
R - 54 anos! Velho para danar, né! Mas foi muito fantástico! O casamento eu não contei para vocês, marquei o casamento, para casar no Bonfim, Chico Alves era meu padrinho de nomeação. Ele falou “Vânia, eu vou fazer… para você de lá”. E Vânia era afilhada dele. Bom, quarta-feira, dia de semana, veio a notícia que Padre Celestino passou mal demais, a usera dele quase perfurou, levaram ele para o hospital. Cadê Padre para me casar?... Eu cheguei perto do padre, e falei, “o padre, você pode vim quarta-feira aqui para fazer um casamento para mim.” “Posso sim, quarta-feira!” Eu só sei que chama Manoel, trabalhava no seminário. Veio às 11 horas para fazer o casamento, nada da mulher aparecer, Vânia aparecer, meio dia nada, duas horas nada. Aí Vicente veio de Belo Horizonte para ver meu casamento, trouxe um rapaz, um barbeiro, o Vicente. Foi até o Bonfim, chegou acho Vânia sentado assim lá no Bonfim, sem condições nenhuma. Pegou trouxe ela para mim. Quatro horas nós casamos… saiu um defunto da igreja, a mulher morreu inchada, pesando uma tonelada, sei até o nome dela, vó de Pedro… Ele entrou com a coroa toda torta, “ó Vânia, você entrou com a coroa torta na igreja e um defunto saiu na hora H.” Tudo isso aconteceu comigo! E o padre foi embora e levou meus documentos de casamento, até hoje todo padre que vem aqui procura lá, não acha. Pra mim eu tô solteiro! Não acharam, ué! O processo de casamento, o Padre foi embora. Ah, e me cobrou 50 mirréis também. Eu peguei, não tinha dinheiro para pagar, o que que eu fiz, cheguei na mulher de João de Bita, mulher de João de Bita, falou, “faz favor meu afilhado..” Ela que me deu o nome Fábio Jesus de Carvalho. “Aqui ó!” Passou a mão na caneta, talão de cheque, Caixa Econômica 50 mirréis… “Você não convidou nós, então tom!” Eu cheguei dei ao padre o cheque, eles foram embora, até hoje. Foi embora do documento, foi embora tudo. Isso aconteceu comigo
48:13
P1 - E a sua família que você criou, seus filhos, fale um pouquinho sobre eles para nós? Seus netos?
R - Foi Fantástico! Falar uma coisa, você vê, que o Domingos, passou um sábado, eu trabalhando no correio, Geraldo pois eu para trabalhar no correio, pra mim não trabalhar de barbeiro dia de sábado mais. Eu trabalhava no correio fechado, até 6 horas. Chegou a notícia pra mim lá, “a sua mulher tá passando mal lá para ter menino”. Aí Geraldo, “vai!” Eu cheguei, o menino tava colado já, como dizem, mas não saía! Vai! A sua mãe tava lá, disse assim, “ô Fabinho, pede para o Flávio, levar… a prefeitura tem um jipe aí”. O Flávio, “eu não vou não, eu tô cansado, eu não vou não! Vai atrás de Jaime!” Eu passei a mão na bicicleta, eu fui. Jaime, chofer, vocês lembram dele!... pegou sua mãe, levou Vânia colada,... o médico fez fórceps, tirou o menino… O menino nasceu com 4 quilos e 300, não passava de jeito nenhum. Aconteceu isso! Foi a fórceps que eles fizeram, tiraram o menino, puxaram ele com aquela colher assim, que pegou até o olho dele aqui. Sua mãe lembra disso. Puxou ele. Todo parto dela foi assim, tudo fórceps, não pariu normal, tadinha de Vânia. Mas eu tenho saudade dela. Ela fazia bem para aqueles meninos. Todos meninos foram criados na igreja…. comprava tudo para ele, primeiro filho. Em outro abril nasceu outro, três Abril, um 18 de Abril, outro 19 de abril, outro 16 de Abril, tudo no mesmo mês do ano. Aí vai o médico e fala assim, vocês da um jeito de mudar esse mês…. Doutor Zeca, que chamavam ele, ele morreu, você acredita que com pouco tempo Doutor Zeca deu infarto e morreu. Ele falou desse jeito, dá um jeito de você mudar esse mês, tudo no mês de abril…. o meninos, nós comprava tudo para eles, …tinha piscina, a gente fez piscina no terreno para eles, por isso que eles são doidos comigo, por causa disso.
49:06
P1 - Como era sua rotina nessa época com seus filhos pequenos?
R - Nessa época, mia fia, o rapaz do correio, ele pois eu para trabalhar das 7:00 a uma hora da tarde e de hora em hora tinha telégrafo, era época do telefone, e tinha que pegar o telegramas, eu mesmo tirava aqui no ouvido, entregava e ia para casa. Chegava às 4:00 da tarde esperava o ônibus de Ponte Nova para pegar a mala do correio,... Aí eu pegava a mala, repartia, chegava 6 horas da tarde, tinha que voltar lá, que tinha o ultimo telegrama às 6 horas da tarde. Minha vida foi assim, férias nem pensar…. Aí dou um pulo até Belo Horizonte, chegou em Belo Horizonte, já fizeram férias para mim, mês de julho, eu tirei. Na hora que eu fui tirar, fui fazer um tratamento de uretra, a urina fechou, sabe? Não sei se a próstata que eles falam, fiquei 15 dias internado no Sarah Kubitschek, quando chegou dia 30, para mim voltar para os Correios, eu falei, “ô Vânia, traz para mim uma folha de papel almaço e uma caneta.” E eu lá no hospital, para desentupir uma uretra precisava ficar 15 dias, hoje é 5 minutos.. Aí eu peguei e falei assim, “excelentíssimo, senhor, doutor fulano de tal”, saltei três linhas e pus assim, “para devidos fins, Fábio Jesus de Carvalho, matrícula tal tal”, não tinha CPF nessa época não, matrícula tal, carteiro número 10, “peço para mim tirar umas férias atrasadas que em Barra Longa não tirei férias, estava com férias acumulada, peço deferimento fazer, cordiais saudações”. Vânia chegou e entregou, “esse rapaz tem ginásio?” “Não!” “Uai, mas só gente que tem ginásio que escreve um ofício desse”. “Não, ele tem 4º ano do primário”. “Pois fala para ele que tá deferido”. Fiquei 2 meses de férias, viu!
51:31
P1 - Ainda você pode ficar mais com os meninos?
R - Fiquei! Vânia ia naquele Cemitério da Paz, largava dentro de casa comigo, desse tamanhozinho, com 4 anos de idade, menino começou a estudar com 6 anos, danado.. me levou lá para ver o lugar dele, eu fui lá com ele. Tenho saudade, ele me levou lá, lá na Aparecida… Coisa fantástica aconteceu comigo, eu escrevi o ofício.. mas o ofício eu aprendi, né. E ele falou que eu era analfabeto de pai e mãe, um analfabeto que faz ofício e o médico achava que eu tinha ginásio…. eu fazia um S misturado com Z, e deu tudo certo, o médico falou.
52:28
P1 - O Fabinho, e desses trabalhos que você teve, qual foi o que te deu mais prazer e por quê?
R - O que deu prazer, que eu chorei, eu não contei para vocês não, eu estava no correio, semana santa, entregava até sexta-feira da Paixão, rapaz mandava entregar carta até sexta-feira da Paixão. Chegou o Padre Celestino lá em casa, ele assistia novela lá em casa, ele pegou, “o Fabinho, eu quero que você a faça para mim, a Verônica enxugou o rosto nosso senhor Jesus Cristo e ficou estampado a face de Jesus, você fazer a face de Jesus. Você acredita? Eu fui na farmácia, comprei… passei no pano branco assim, de tarde, eu falei, “ó Padre Celestino, vem aqui!” “Você já pintou?” “Pintei a óleo!” Jesus morto assim, com os olhos fechados, ficou perfeito! Esse trabalho está até hoje lá na nossa igreja. Foi eu que fiz!... Eu fiz o rosto de Jesus! Na hora que ele cantava lá, eu abria a boca a chorar. Fui eu que fiz! …Se você for lá em Barra Longa, pede para ver lá, deve ser o que eu fiz ainda, eu sei até a data que foi, em 62, 63. Eu tava no correio já. E o muito artista mesmo. Depois eu arrumei o santo da igreja, quando São Judas perdeu o boneco eu fiz outro. São José, padroeiro nosso, botei a cara na cabeça dele, apodreceu a cabeça dele, eu fui, peguei serragem de pau com cola, fiz outra cabeça em São José. São José, ele tem quase dois metros, eu que restaurei ele… E pintura fantástica eu fiz também….
54:27
P3 - E como você restaurava essas peças?
R - Ninguém me ensinou não, sabe o que eu fazia? Essa Cola cascola, eu pegava cola, misturava com gesso e fazia os dedos, até unha eu fazia, a mão de coração de Jesus. Não sei onde foi, eu aprendi sem ninguém me ensinar. O vermelho com o preto forma marrom e cor de rosa no vermelho, fazia a cor da pele, mas perfeito. Hoje o padre José… só pingava um pingo preto no olho, ele fazia o olho perfeito, eu fazia assim, dava uma pinta, só isso que eu errava, mas o resto eu fazia coisa fantástica. Mão, santo pode estar faltando dedo, o São José de botas aqui em Barra Longa, foi eu que fiz quatro dedos de pau dele, de pau, vai lá para você ver, de canivete… A mão de São José eu que fiz os dedos. E o crucifixo que prega na semana santa, prega assim, um tal de Amidas era primo de mamãe, ele descia Jesus da Cruz e batia o martelo para todo mundo escutar, assim, pá, pá, para descer Jesus da Cruz. E bateu na mão de Jesus, quebrou os dedos do Santo, todas as duas mãos com os dedos faltando dedo. Eu fiz os dedos, tá lá até hoje para você ver, de madeira, eu que fiz os dedos com canivete, verdadeiro artista, vou dizer para vocês.
57:49
P2 - Fabinho, na barbearia, você teve prazer de trabalhar como barbeiro?
R - Fiz barba de gente importante. Eu fiz a barba de um padre, da Caiaca, ele falou, “quanto que é?” “Não, não vou cobrar senhor não, o senhor é meu meu parente”. “É, por causa de que?” “Você não é sobrinho de Manoel Ventura?” “Sô!” “Manoel Ventura é primo da minha mãe.”... ele foi Prefeito duas vezes…. Eu fiz a barba dele, não cobrei, falei que ele era meu parente. Mamãe morreu com 106 anos, sei lá! Ele falou, “é ele mesmo, Manoel Ventura é meu tio”. E mais outras pessoas importantes, prefeito foi todos, João de Bita, ele chegou a pagar eu para ir lá no Bonfim para fazer cabelo dele lá na fazenda. Naquela época eu já tinha vindo do correio de Belo Horizonte. Ia lá ele mandava 20 mirréis e depois me dava um frango morto. Eu fui Fantástico, ia lá! Se tivesse linguiça me dava também. Chico Lopes, era seu padrinho, não né?...
57:23
P1 - E ia de bicicleta, Fabinho?
R - De bicicleta também. Minha bicicleta era fora de série, ela era importada, na época que eu comprei, hoje não existe mais essas bicicletas.
P1 - Você tem ela ainda?
R - Tenho uma que, Domingos, quando eu fui para Belo Horizonte, Domingos comprou outra pra mim, tá lá em casa, tá nova lá, chama Monark importada…. Tá lá debaixo da casa lá, não vendo, não alugo, não encho pneu nem nada, tá tudo lá. Ta lá! Mas eu andava de bicicleta, ia daqui em São Silvério de bicicleta. No dia que Vânia tava na roça, eu ia lá, e vinha de lá de noite, chegava aqui meia-noite, tranquilamente. E um fato que vou contar para vocês, vocês não sabem, mamãe era viva em 82 mais ou menos, nós estava assistindo carnaval… televisão. Na chuva, na hora do carnaval, as imagens da televisão atrapalhou tudo, e eu sabia o que que era, o repetidor era lá… eu fui de bicicleta sozinho, lá no lago do Passo, fui lá no Lago do Passo, de noite, com a lanterna e apertei a válvula, apertei a válvula assim, pá! A televisão de Barra Longa… Eu contei né tá aí, você vai ver ele. Eu sou doido mesmo, de noite, lá no Lago do Passo apertar a válvula… Fabinho era fora de série. E fabricava bola, você não sabia dessa, o futebol não tinha dinheiro para comprar bola, eu fabricava bola direitinho Mandava comprar o pneu na Ponte Nova e costurava, sabia fazer a linha, seu Oswaldo, seu pai me ensinou fazer a linha. Só eu e… que costurava a bola direitinho.
1:00:58
P1 - E com relação a essa banda que você participou dela desde cedo, que que você fala para a gente de participar de uma banda tão antiga e tão admirada, com tanta história?
R - Foi bom você falar. É porque o Joaquim Teciano que era o mestre, ele que ensinava todos os elementos… Ele escrevia bem, Joaquim Teciano… decorava aqui e dava lição para ele. Eu comecei a estudar com ele e chegava de tarde o Joaquim, “você estudou? Volta amanhã!” Esse homem tá me embrulhando, não vai me ensinar a música. Mas eu já sabia o DO onde era, o SI, o abc falava isso. Peguei e comprei o piston sem saber muita música. Aí o Joaquim Teciano nós cuidamos dele, sapato, quando eu entrei na banda, camisa, navalha, dei navalha para ele fazer a barba dele. Ele vendia tudo! No dia que ele morreu ele me deu a chave da banda, deu para mim. Ele morreu em Ponte Nova, eu com a banda, cheguei honestamente, eu tô com a chave da banda, o Joaquim me entregou. Era na casa velha, é lá embaixo ainda, não tinha a sede não. Não, aqui em cima já tava. Aí eu peguei falei vou fazer uma reunião dos músicos e vou entregar a chave… O Afonso, meu compadre, era sobrinho de Joaquim Teciano.Mandou empatar os dois, ele mandou votar com o moço. Foi no Rio de Janeiro, você sabe que eu fui para lá. Voltou e foi ser mestre, pior mestre da banda que já esteve na terra, meu compadre Afonso foi.
1:02:58
P1 - E com relação a essa ida ao Rio de Janeiro, você foi também?
R - Fui uai! Nós chegamos em Viçosa, o Geraldo Vasconcelos levou na sexta-feira, no sábado, nós saímos daqui, chegamos em Viçosa, o caminhão, o ônibus tombou atrás da escola de Viçosa. Ma deu ajudou, tombou, mas não machucou ninguém. Aí nós chegamos na porta da escola, uns tomou chá, outros tomaram remédio, assustou. O Joaquim Teciano acho que deu um derrame na estrada, ninguém sabe explicar o que que… Nós chegamos lá, fomos hospedar no instituto Arruda Câmara, 200 meninas, tudo muda, bonitas… E lá que nós dormimos lá. Aí o Joaquim Teciano, eu cheguei meia noite, 12 privadas, tudo cheia até em cima, sem água, sem nada. E Joaquim Teciano assim, completamente bobo, sei que na hora que nós chegamos, 6 horas, na Rádio Nacional, ele pediu para nós tocar… cá embaixo. Joaquim Teciano pega, levou Nozinho, Danilinho, que era filho de Barra Longa, aquele que compôs o hino, a mãe dele que compôs o hino de Barra Longa. Ele era músico muito bom mesmo, muito famoso. Chegou, nós fomos tocar um dobrado lá, ele …chega e toca na hora. Ele foi tocar e deu errada, dobrada é com letra… Aí o dono da Rádio falou assim, “não, o ensaio vai ser aqui embaixo mesmo, não vai ser lá não”. Achou que a banda era vagabunda, né! Você acredita que veio um chefe lá da rádio, “não, dá prazo, tem meia hora”. Como é que chamava lá…. pegou subiu, “eu sou primo de Nozinho”. Ele era primo de Nozinho Freitas, lá do Rio Doce, aí levou a banda. Chegou lá em cima, como diz, ele o mestre, músico de primeira, que toca sem precisar ensaiar. E eu que tava ensaiando mais de meses, meses, colocaram no segundo piston, lá atrás na Rádio Ponte Nova, na rádio… Nessa altura, gostoso foi, era banda…. aí o homem fez o dobrado e pôs 8 dobrado mudo, só ele assim, igual pipoca arrebentando. Na hora que contou oito, ninguém entrou,... eu lá de trás assim….. Aí todo mundo olhou para trás, eu lá atrás no pisto, salvei a banda. Aí o dobrado….. Até choro! Eu que entrei, eu que entrei com a corneta lá atrás. O mestre, o piston dele era tão famoso, que piston é três chaves, o dele tinha quatro, ele mandou fabricar lá no Japão, sei lá onde que era, ele era muito rico, Joãozinho. Ele casou com a cunhada dele né? Fez dentadura para essa banda toda, tudo de graça! Afonso, Laurindo.. não cobrava nada não. Ele morreu miserável, tava em Belo Horizonte, diz que deu um tumor na cabeça. Eu tava lá em 74 fazendo o tratamento em Belo Horizonte, disse que não foi nenhum no enterro dele, nem Alberto foi,... nem ninguém foi. Mas eu rezo para ele até hoje.
1:05:28
P1 - O Fabinho, além dessas lembranças que você já colocou para a gente aqui, você tem mais alguma coisa na sua trajetória de música mais alguma lembrança assim, engraçada, marcante que você não esquece?
R - Tenho! Essa foi em 63, eu já estava tocando saxofone. E morreu a tal da Mariquinha que foi a minha parteira em Ponte Nova, prima de mamãe. Morreu e não avisaram a mamãe. E nós fomos tocar na rua… lá em cima. Eu peguei e falei é aqui que Mariquinha morava. Falaram, Mariquinha morreu! Aí eu chorei muito e toquei uma marcha, que ninguém toca ela até hoje. Eu toquei, na hora que eu acabei de tocar a marcha na porta da igreja, chegou uma moça e falou assim, você sabe tocar aquela….. Eu falei, não é eu que sou maestro não, mas eu toco. Peguei o saxofone sozinho….. Daí a banda tocou, os músicos tudo pegaram. Ela me abraçou e não me largou não. Aí eu peguei saxofone, ela no braço, levei ela na saída de Ponte Nova, ainda tava com ela. Danilozinho, passou, buzinou lá na Ponte Nova, eu larguei ela lá e entrei dentro do ônibus…. pegou carona da banda, veio de Belo Horizonte, estava lá atrás. Eu falei assim, “ô gente, na hora que eu tava com a mão na massa”. Nozinho pega lá atrás e da aquela risada…. Quem era… ta aí! E eu contando a história de namoro meu… Joaquim até chorou de rir… Mulher é assim mesmo! O Fabinho era fogo mesmo.
1:07:24
P1 - O Fabinho, agora nós queremos saber é o seguinte, tudo que você fez na vida, tudo que você viveu, que você ainda vive, você se sente um homem realizado?
R - Eu sinto, sabe por causa de quê? Quando eu choro, todo mundo pensa que eu tô chorando. Chorando é dessas façanhas que eu fazia. Vou contar uma outra também que vocês não sabem, eu era mestre no vício descongregar Mariana, 40 congregado.. Você já ouviu falar, né! Eu era mestre! Acontece que Padre José reuniu lá, mandou as filhas de Maria ali, vou contar essa que vocês não sabiam dessa. Mandou ler um techo, gaguejou, gaguejou, todo mundo riu. Depois Afonso, meu irmão, pegou Deusilza de Chichica, para ler um trecho lá de um congregado famoso, Rei da França, Luís XV, sei lá, congregado de Mariana também. E nisso Gisa tá assim, Luiz XV passou a mão na epístola e deu um tiro no ouvido, vai o padre José, “ô, para! Você falou mais besteira do que está escrito aí. É pistola! Você sabe o que epístola?” Ela não sabia o que era epístola. Foi a maior comédia! Ela leu epístola, todo mundo fala pistola. Esse aí é o caso da congregação que eu conto, essa daí foi verdade mesmo….
1:09:13
P1 - Fabinho, esse tempo que a gente tá junto aqui, a gente reviveu muita coisa com você. E você nos contou muita coisa boa. E o que que você achou de ter a oportunidade de contar a sua história?
R - Não é a primeira vez não, você sabe. O Pedro veio aqui na semana santa. Eu fui tocar na semana santa e um homem com microfone perto de mim e um banner no céu por cima de mim. O que que é isso? Você não sabe não, eles estão filmando aí, filmando você tocando. Você acredita que ele pois o microfone perto do meu saxofone para ver se eu tava tocando, até na Banda, até lá em cima. Depois veio o jornal, Fábio Jesus de Carvalho com 90 e tantos anos tocou na banda de São José. Fez um artigo grande no jornal dele. E já fez essa entrevista que vocês estão fazendo aqui ele já fez comigo, eu contei essa história que eu estou contando, foi mesmo! Ele escutou se eu tava tocando. Agora você pensa.
1:10:19
P3 - E Fábio quais são os seus planos para o futuro?
R - Eu estou com a minha filha morando comigo, você viu! A filha é um fenômeno que não dá para você acreditar. Ela cismou de fazer quatro cômodos no terreno da minha casa, eu já gastei 20 mil, com ela, a casa vai lá para você ver, a hora que você puder você vai lá. Fez os quatro cômodos, pois o telhado anteontem, telha moderna, essas telhas duplas, mas tá fora de série, quatro cômodos Mônica fez para morar comigo. E o marido dela não mora comigo, ele mora sozinho, e ele tá ajudando também sô…. Ela ta gastando também. Pra mim o maior prazer do mundo e Fábio Augusto me pedir dinheiro, agora mesmo,.... comprar sanduíche, 8 horas da noite, 30 mirréis comprou uma bandeja. Ele não sabe a alegria que eu tenho, sento dinheiro neles, mas só você vendo. Milena vai na aula todo dia, 5 horas para Ponte Nova, pede dinheiro para merenda, eu dou a ela 30 mirrés toda noite, minha filha. Tô soltando dinheiro na mão deles, uma alegria que eu tenho. Aquele toco de homem lá, fez eu comprar a internet, tô pagando 90 por mês, para eles ter a internet dentro de casa. Agora o outro que mora lá no Pará, vai chegar dia 20, esse que Ivete conhece ele muito. Chama Rosângelo, ele tem três filhos também, vem, me pede a passagem do avião, é 1500, do aos dois, Sueli vem também, fica comigo. Todo dia, eles acabam comigo, eles vão lá no supermercado, compra 2 kg de coxa de frango e come tudo com cerveja e eu pago tudo, eu tô pagando tudo nesse mundo para eles, eles não sabem disso, tô pagando e do dinheiro mesmo, ele vai vir eu vou pagar a passagem, vou comprar uma corneta para ele, ele toca a corneta bem, mas bem mesmo, só você vendo. E os meninos dele que não sabe nem música e toca saxofone que eu comprei para ele, tem um saxofone, mi menor, Patrick toca saxofone. E o outro, sobe ontem, fez o concurso do Banco do Brasil, passou no sétimo lugar, tá em São Luís do Maranhão, no Banco do Brasil, foi para lá ontem. O menino é fora de série, aprendeu inglês vendo televisão, é um fenômeno de inteligente, passou em sétimo lugar no Banco do Brasil. Já alugou apartamento lá no Pará. Eu já fui lá no Pará, fiquei lá três dias. Fui lá na terra do Sarney. Tive lá no meu padrinho Padre Cícero, tem mais de 30 m de cimento, padrinho Padre Cícero. E agora recebi uma notícia boa, depois de quase 50 anos que ele morreu, estão abrindo o processo para ele ser santo, Padre Cícero, o padre… me contou a história dele na época, disse que ele deu uma hóstia a uma irmã no Pará e a hóstia virou sangue na boca dela. Expulsaram ele da igreja, ele morreu Padre, mas não podia celebrar a missa, morreu assim. Mas agora estão verificando para ver se é verdade mesmo, ele deu a hóstia, a hóstia virou sangue na boca de uma irmã. Na época suspenderam ele. Você lembra dessa história? Padre Cícero é isso. Mas vai falar mal dele lá que você morre na hora. Os homens são apaixonados por Padre Cícero.
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