Meu nome completo é Francisco de Assis Brito. Nasci aos 17 de outubro de 1930, na cidade de Bom Conselho, Estado de Pernambuco.
Eu iniciei em 1958. Antes, em Bom Conselho, eu trabalhava fazendo o trajeto de Bom Conselho, Palmeiras dos Índios, na divisa de Alagoas. Eu era cabo de turma 1. Um colega, que era cabo de turma 2, tinha um cunhado que trabalhava na Petrobras. Ele disse: “No momento em que você terminar esse trabalho, já terá um emprego na Petrobras.” Através do cunhado, meu colega foi para a Petrobras. Antes de ir, ele também me prometeu: “Quando eu estiver lá, mando te buscar.” E foi o que aconteceu. Ele ingressou na Petrobras e mandou me chamar. Em 1958, comecei na Empresa, trabalhando como braçal. Braçal significava fazer serviço auxiliar para o pessoal da sonda. Naquela época, não tinha brasileiro nas sondas, eram todos americanos. E a gente fazia parte do apoio, trabalhando, dando manutenção. Comecei como braçal, mas pretendia trabalhar como apontador. Como eu já estava lá e só tinha essa oportunidade, não deixei passar. Fui me entrosando no serviço e acabei ficando como apontador.
Equipe norte-americana de exploração No começo, era muito difícil pois todos os componentes eram americanos, desde o plataformista até o sondador, o geólogo. Naquele tempo, existia o interesse do americano em desestimular o brasileiro. Eu percebi, com o decorrer do tempo, que muitos americanos geólogos, ao furar determinado poço, diziam que era improdutivo e o poço era tido como seco e abandonado. O resultado é que essas informações eram passadas para o geólogo chefe no Rio de Janeiro, o Mr. Link [Walter Link], e esses poços eram tidos como secos. Isso ocorreu em vários poços, tanto em Alagoas como em Sergipe. Nós acompanhávamos aqueles trabalhos, mas não tínhamos nenhuma participação ativa. Com o tempo, se descobriu que existiam essas intenções e um engenheiro percebeu, através da lama, que aquele poço tido como...
Continuar leitura
Meu nome completo é Francisco de Assis Brito. Nasci aos 17 de outubro de 1930, na cidade de Bom Conselho, Estado de Pernambuco.
Eu iniciei em 1958. Antes, em Bom Conselho, eu trabalhava fazendo o trajeto de Bom Conselho, Palmeiras dos Índios, na divisa de Alagoas. Eu era cabo de turma 1. Um colega, que era cabo de turma 2, tinha um cunhado que trabalhava na Petrobras. Ele disse: “No momento em que você terminar esse trabalho, já terá um emprego na Petrobras.” Através do cunhado, meu colega foi para a Petrobras. Antes de ir, ele também me prometeu: “Quando eu estiver lá, mando te buscar.” E foi o que aconteceu. Ele ingressou na Petrobras e mandou me chamar. Em 1958, comecei na Empresa, trabalhando como braçal. Braçal significava fazer serviço auxiliar para o pessoal da sonda. Naquela época, não tinha brasileiro nas sondas, eram todos americanos. E a gente fazia parte do apoio, trabalhando, dando manutenção. Comecei como braçal, mas pretendia trabalhar como apontador. Como eu já estava lá e só tinha essa oportunidade, não deixei passar. Fui me entrosando no serviço e acabei ficando como apontador.
Equipe norte-americana de exploração No começo, era muito difícil pois todos os componentes eram americanos, desde o plataformista até o sondador, o geólogo. Naquele tempo, existia o interesse do americano em desestimular o brasileiro. Eu percebi, com o decorrer do tempo, que muitos americanos geólogos, ao furar determinado poço, diziam que era improdutivo e o poço era tido como seco e abandonado. O resultado é que essas informações eram passadas para o geólogo chefe no Rio de Janeiro, o Mr. Link [Walter Link], e esses poços eram tidos como secos. Isso ocorreu em vários poços, tanto em Alagoas como em Sergipe. Nós acompanhávamos aqueles trabalhos, mas não tínhamos nenhuma participação ativa. Com o tempo, se descobriu que existiam essas intenções e um engenheiro percebeu, através da lama, que aquele poço tido como improdutivo tinha vestígios de petróleo, então ele denunciou. Daí, houve a tendência da Petrobras colocar geólogos brasileiros para trabalhar. E a situação foi mudando. Hoje, poços tidos como secos e abandonados estão produzindo desde 1958. Isso é um fato pitoresco que lembramos em relação a nossa Petrobras e ao petróleo que é nosso. Devemos defender, em todos os detalhes, a nossa riqueza mineral. Temos que preservar, porque o petróleo é nosso. Foram nossos os esforços no começo, quando trabalhávamos precariamente. Me lembro que, muitas vezes, íamos na sonda e levávamos um caminhão de material, mas tinha aquele atoleiro. Era como se fossemos desbravadores para chegar numa sonda e dar assistência a ela.
No desenvolver do meu trabalho, eu dava assistência mecânica aos veículos. E me lembro que, muitas vezes, trocávamos peças de carro, discos de embreagem, tirávamos uma caixa de marcha do câmbio sem condições. Mandávamos apanhar o material em Maceió e íamos repor a peça no caminhão para deixá-lo em condições de rodar. Muitos serviços mecânicos nós fazíamos na base da boa vontade. Depois, com o desenvolvimento, passou a ter mecânico no campo, equipe mecânica para a sonda e equipe mecânica para carro pesado, para carro leve. Permaneci sempre ajudando, dando minha colaboração no serviço mecânico de veículos. Comecei como apontador e terminei como auxiliar de escritório. Apontador, naquela época, era quem tomava nota das pessoas e fazia o ponto dos trabalhadores. A relação de pessoal, todos os meses, ia para Maceió, onde faziam a folha de pagamento através dos dados que eram enviados pelo apontador. Em 1952, 1953, 1954, mais ou menos, passei para auxiliar de escritório. Não me lembro bem a data. Sei que, até me aposentar, conforme está na minha documentação, trabalhei como auxiliar de escritório. Lembro daqueles esforços, dos trabalhos feitos no início, das dificuldades.
Americanos Tinha uma vantagem com os americanos, porque eles se preocupavam com o bem-estar do trabalhador. Se o homem trabalha, ele necessita de boa alimentação. E, realmente, tínhamos o melhor nas sondas, tínhamos o nosso refeitório, cozinheiros, alimentação adequada e boa. E me lembro que tinha um garçom que era meio fechado com esse negócio de servir. Quando ele se aborrecia, dizia: “O que tem tá na mesa aí, se vira.” Era esse lance que passamos no princípio – nós, pioneiros da Petrobras. Hoje, vemos como a Empresa evoluiu. Transporte do pessoal Muitos dos servidores de sonda permaneciam ali, durante 24 horas por 12 dias. Eram 12 dias de trabalho e 12 de folga. Nesse transporte, sempre havia a dificuldade dos companheiros chegarem na sonda para render o outro. E tinha motorista que, geralmente, dava graças a Deus quando o caminhão dava um problema, porque assim ele descansava um pouco. A luta era grande, carro atolando, essa coisa toda, levar material, gente. Me lembro de um motorista que mostrava assim: “Tá aí, o que eu pude fazer, agora é com vocês.” Aí entregava o carro do jeito que tivesse e ia descansar. Mas a gente sentia que era o esforço pelo trabalho rude, pelo esforço para deixar o material, para não deixar a sonda parar de funcionar. Aquele repouso era merecido.
Tem um fato pitoresco relacionado ao presente, como aposentado, que me deixou um pouco constrangido. É uma espécie de discriminação com o aposentado. No início, houve esse tipo de discriminação a ponto de, não só eu, como muitos aposentados da Empresa, no Jubileu de Ouro da Petrobras, não podermos participar da prática de esportes. Isso foi constrangedor. Devido a esse fato, agora os aposentados já podem participar das corridas nacionais. Quer dizer, das regionais primeiro, na qual cada Estado faz sua seleção. Depois, vai para a seletiva final. Depois da seletiva, houve a corrida, em Natal, para os aposentados. Os aposentados, dessa vez, puderam participar. Nós, que começamos naquela época, dando tudo, ficamos de fora.
Me aposentei em 1970, mas o fato de ter me aposentado não foi exclusivamente por tempo de serviço. Foi por uma enfermidade. Nesse tempo em que passei encostado pelo INSS, até vir me aposentar, tive uma experiência que serviu para a minha vida atual, que foi aquele desejo das coisas que eu fazia, mas que fiquei sem condições de fazer. Durante essa fase de recuperação, fui armazenando idéias de praticar esporte, de viver uma vida ativa. Mas isso só chegou depois da aposentadoria. Primeiro, tive que fazer uma espécie de acordo com a Empresa, mas fiquei vinculado a ela, porque não tinha outro vínculo empregatício. Fiquei encostado até vir a minha aposentadoria por invalidez. Mas, graças a Deus, me surgiu aquela idéia de pôr em prática aquilo que sempre desejei. Como eu não tinha mais condições de trabalhar, optei pelo esporte, pelo atletismo. Hoje, represento o Clube da Petrobras na natação. Participo do futebol. Todas as quartas-feiras temos futebol no CEP, o Clube dos Empregados da Petrobras. E participo do atletismo. Recentemente, participei da Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro. Foram 21 quilômetros de São Conrado até o Aterro do Flamengo, no dia cinco de setembro. No dia 10 de outubro, participei de uma meia maratona em Salvador. No dia 17 de outubro, por coincidência, dia do meu aniversário, participei do mesmo percurso, 21 quilômetros, em Porto Alegre. Foi um período de três meias maratonas, eventos pesados. Apesar de estar muito mais velho do que quando me aposentei, me sinto mais jovem.
Sou sindicalizado desde 1961. Quando entrei, todos se filiavam ao Sindicato. Há uma busca do bem-estar daquele que, porventura, venha sofrer alguma perda. O Sindicato tem a obrigação de orientar se é uma perda que foi injusta, orientar para que ele receba justamente aquilo que está na lei. Dar a César o que é de César. Acho que a missão do Sindicato não é contra a Empresa, é um esclarecimento para que aqueles desprovidos de conhecimento possam adquirir aquilo que, por direito, lhe pertencem.
EM 1964 Na época do “Petróleo é Nosso”, eu estava em Maceió, naquele movimento em que todo mundo se mobilizou para defender o que é do brasileiro, defender o monopólio estatal da Empresa. Sabemos que essa tendência do estrangeiro tomar posse do petróleo em qualquer parte do mundo não é de hoje. A Petrobras, desde que nasceu, teve Monteiro Lobato e outros grandes patriarcas da época que se ofereceram para defender o que é o nosso petróleo, nossa riqueza mineral. Quando houve essa tendência de fazer com a Petrobras todas essas coisas, veio a Revolução de 1964. Desde então, estamos segurando o nosso monopólio, estamos defendendo e pretendemos defender. Não é só questão de ser sindicalista, de ser ativo na Empresa ou aposentado. É uma questão nacional. O petróleo não é de quem começou, não é de quem vai terminar, nem de quem está na ativa. O petróleo é uma riqueza nacional, uma riqueza nossa e todo brasileiro tem a obrigação e o dever de defender.
É uma coisa maravilhosa falar daquilo que tivemos a felicidade de participar no início, quando a Petrobras estava dando os primeiros passos, e acompanhar seu desenvolvimento. Hoje eu sinto que aquele resquício de discriminação mudou. Aqui na sede da Empresa, temos um salão VIP para o aposentado. Temos um computador que podemos usar para qualquer coisa. Nós temos telefone, podemos fazer qualquer contato, até com a Empresa no Rio, temos qualquer informação através do computador. Nessa sala, temos uma TV, um frigobar, tem até refrigerante para a gente tomar. Às vezes, é necessário que haja determinadas coisas para que se caia na realidade. Acho que a realidade entre o aposentado e a Empresa está voltando a ser o que deve ser. A harmonia e o respeito por aquele que começou, com trabalho árduo e difícil, a Petrobras que temos hoje, que é o que representa a nossa riqueza mineral no Brasil.
Recolher