P/1 – Walter, primeiro eu queria agradecer por você e a sua família terem se deslocado até aqui para dar essa entrevista e para começar a nossa conversa queria que você só falasse seu nome completo, a sua data de nascimento e onde você nasceu.
R – Meu nome é Walter Antônio de Santi Veroneze, nasci em Dourados, Mato Grosso do Sul e tenho 45 anos de idade.
P/1 – Walter, se você puder falar a data pra gente?
R – 18 de agosto de 1970.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Horácio Veroneze e Hermínia di Santi Veroneze.
P/1 – E os avós?
R – Perina, do lado da minha mãe e Antônio. E do lado do meu pai, Antônio também e Julia.
P/1 – E qual que é a história da sua família?
R – Meu pai é natural de São Paulo, minha mãe é da região de Dourados, mesmo. Eles se encontraram na cidade, no interior, em fazendas na época e foram morar na cidade de Dourados, quando eu tinha quatro anos de idade. Meu pai era mecânico e daí eu também comecei a trabalhar com ele com 11 anos, eu ia na oficina ajudar ele a lavar peças de carro, essas coisas. Depois, ele montou uma oficina para ele e aí, eu fui em trabalhar em outra empresa porque eu tinha me formado em Administração, fui trabalhar numa empresa de revenda de maquinário agrícola. Entrei como faturista nessa empresa, daí eu fui para Gerente Financeiro, Gerente Administrativo Financeiro depois e hoje, eu estou como Gerente de Vendas. Daí eu casei em 1998, tenho dois filhos, a Raissa e o Igor, o Igor completou 18 anos ontem, na verdade, na Rússia e a Raissa tem 14 anos. Sempre tive vontade de fazer um intercâmbio mas a minha situação nunca deu, nunca pude fazer um intercâmbio. E eu quis que os meus filhos fizessem. Meu filho tá fazendo hoje intercâmbio na Rússia e minha filha quer fazer intercâmbio para o Japão. Já tentei mudar a cabeça dela para não fazer para o Japão, mas quer fazer para o Japão então se tudo der certo ela vai fazer intercâmbio no Japão. Junto com a AFS eu recebi dois intercambistas em casa em 2014, um menino belga, Peter, que ficou um ano com a gente e agora nós estamos recebendo até amanhã, uma menina italiana que ficou seis meses. E tenho vontade de receber outros intercambistas. Tenho que discutir lá em família como vai ser.
P/1 – Walter, agora eu vou te fazendo umas perguntas para ir te conhecendo mais a fundo essa história, os detalhes que estão por trás dessa trajetória toda. Você conhece a história dos seus avós?
R – Não. Pouco, pouco.
P/1 – E por quê seus pais escolheram Dourados?
R – Eu não sei te dizer. Eu sei dizer porquê que eles saíram do sítio e foram para a cidade, isso eu sei, mas porquê que saíram de São Paulo para Dourados, eu não sei dizer.
P/2 – E por que então que eles saíram do sítio e foram para a cidade?
R – Porque o meu pai tinha um sitio muito pequeno, eram em três irmãos, daí ele queria melhorar de vida e o sitio naquela época, a rende era pouca, aí ele conhecia mecânica, falou: “Vou trabalhar de mecânico na cidade”, conseguiu melhorar de vida, né, acho que hoje bastante coisas que nós conquistamos, conquistamos por essa decisão dele, porque quando ele começou a trabalhar de mecânico na cidade, ele ia de bicicleta e a minha mãe ficou morando ainda uma época, acho que uns seis meses no sitio até ele conseguir uma casa em Dourados para mudar e eu acho que hoje ele conseguiu dar bastante coisa para nós, porque ele conquistou o que ele queria.
P/2 – E como é que era o seu relacionamento com seus avós?
R – Assim, o avô do lado do meu pai eu não conheci, porque ele faleceu quando eu nasci. Com a minha avó do lado do meu pai, ela morava com a gente, acho que era muito bom, porque eu deixava de sair com os meus pais durante a semana para ficar com ela em casa, eu acho que foi muito bom. [Com] meus avós do lado da minha mãe tinha um contato um pouco mais frio, porque eles continuaram morando no sítio e depois de muito tempo que eles mudaram para a cidade. E um tempo depois que eles mudaram para a cidade, meu avô morreu também. E tem a minha avó hoje, está viva, só a avó do lado da mãe, que é viva e ela mora três casas da casa do meu pai. Então, sempre que tem festas, tal, final de semana está todo mundo junto, eu acho que o relacionamento é legal.
P/1 – E Walter, tem alguma recordação dessa casa no sitio? Você ainda era bem pequeno, mas tem alguma lembrança?
R – Eu tenho.
P/1 – Conta pra gente.
R – Eu lembro que eu tirei uma foto uma vez numa cadeirinha do lado de uma planta, eu acho que era um jasmim na porta de entrada e eu tenho lembranças também que uma vez eu estava num fundo onde tinha um poço e chegou o irmão do meu pai lá e eu falei para ele tirar o sapato para não sujar dentro de casa. É isso que eu lembro do sítio, porque eu sai de lá com quatro anos.
P/1 – E como que era essa casa já na cidade? Conta pra gente um pouquinho dessa mudança, nova casa.
R – Era uma casa de madeira nesse bairro, Jardim Água Boa, que na rua tinha essa casa e mais uma só quando nós mudamos para lá, hoje o bairro Água Boa é o maior bairro da cidade, era uma casa de madeira, tinha quatro, cinco peças, mais ou menos. Depois ela foi melhorando, teve um cômodo de alvenaria e depois o meu pai comprou o terreno do lado dessa casa, montou a piscina para ele e construiu uma casa de alvenaria com um andar, é isso que eu lembro da casa.
P/1 – E a sua infância de vocês em Dourado?
R – A minha infância eu acho que foi muito tranquila, eu nunca fui daqueles moleques de sair para matar passarinho, bagunçar na rua, tal, fui muito caseiro. Eu brincava de futebol na rua com os vizinhos, ficava muito em casa, gostava bastante de ler. Foi dessa forma e daí, com 11 anos, como eu falei antes, eu comecei... Estudava de manhã e à tarde, eu ia na oficina ajudar o meu pai, porque ele ainda não tinha oficina em casa, trabalhava de empregado. Acho que foi isso.
P/1 – E o quê que você gostava de ler?
R – Lia de tudo, gostava de ler literatura russa, principalmente…
P/1 – Já nessa época?
R – Já, já, porque o primeiro livro que me mandaram ler na escola, eu não consegui terminar o livro, tive pavor, eu não gostei muito da literatura brasileira, foi “Meu Pé de Laranja Lima”, não gostei do livro. Até a professora não deixou eu fazer uma prova porque eu não tinha terminado de ler o livro e aí passou um tempo e eu comecei a ler. Aí li literatura russa, brasileira também, hoje eu leio meio que tudo, meio variado.
P/2 – E você tem irmãos?
R – Tenho dois.
P/2 – Como é que é essa escadinha? Como que são esses irmãos?
R – Quase seis anos de diferença para cada um. Eu tenho 45, meu irmão, o Adailton que é o do meio tem 39 e o Jocemar que é o terceiro tem 32.
P/2 – E como é que foi para você ver a família crescendo, quando o seu irmão nasceu, você já era grandinho, quando o seu segundo irmão nasceu, ainda maior… Como é que foi para você isso?
R – Eu acho que a gente bagunçava bastante entre os irmãos, assim. Tinha um relacionamento… Até hoje é muito bom. Criança de vez em quando tem ciúmes, mas eu acho que nós tivemos uma infância legal, não me recordo muito de coisas ruins, eu acho que nós bagunçávamos bastante, brigávamos bastante, mas o brigar de irmãos e o meu irmão do meio, o Adailton sempre foi o emdiabradinho, aprontava com todo mundo! Mas foi muito boa.
P/1 – E Walter, você falou que tinha só mais uma casa na rua em que você morava, quem que eram os vizinhos? Com quem que vocês brincavam?
R – Esses vizinhos saíram de lá, não moram mais, saíram para outros lugares e começou a ter mais gente na outra rua também, na outra rua tinha, mas na nossa ali, éramos nós e a outra casa. Tinha o vizinho do fundo, vamos dizer, a gente brincava ali. Mas era futebol na rua que era de terra, ainda.
P/1 – Como que foi o seu primeiro dia de aula?
R – Nossa! Minha mãe que me levou, a escola era um pouco longe, eu não me lembro assim lá dentro da escola como que foi o primeiro dia de aula, mas ali eu comecei a aprender bastante coisa.
P/1 – E como que você ia para a escola?
R – A pé.
P/1 – Era perto?
R – Olha, não era muito perto não, eram uns três quilômetros, mais ou menos.
P/1 – E conta pra gente como que começou esse gosto por leitura. Você falou que primeiro teve o “Meu Pé de Laranja Lima”…
R – Poxa vida, não sei como que começou assim, eu acho que eu tinha poucos amigos, para sair para festas, essas coisas assim, eu acredito que como eu tinha poucos amigos, eu lia os livros e tal, comecei a li e nunca mais parei. Hoje eu tenho uma biblioteca, eu acho que consideravelmente grande em casa, é o meu recanto. Depois que eu venho do serviço, final da semana e tal, eu gosto muito.
P/1 – Tem algum professor que tenha marcado a sua trajetória escolar?
R – Teve uma professora de Inglês que ela lecionou para mim uns três anos no primário e depois, eu fiz um curso com ela, independente na faculdade, mas eu não estudava nessa faculdade. Ela marcou por quê? Eu acho que eu aprendi bastante com ela e ela num final de ano apareceu com um dicionário de inglês, e eu não tinha nenhum dicionário de inglês no lugar onde eu trabalhava e foi me dar de presente, eu acho que isso foi muito legal pra mim.
P/1 – E Walter, como que era a questão de estudar para a sua família, assim, o quê que significava, como que seus pais apoiavam?
R – Os meus pais sempre incentivaram o estudo. Tudo que eu quis fazer eu fiz, tanto estudar todas as séries, nunca reprovei de ano, faculdade, fiz MBA [Masters of Business Administration], fiz um curso nos Estados Unidos, meus irmãos também, não saíram para fora para fazer, mas fizeram faculdade e tal e os meus pais sempre apoiaram e em alguns momentos que estavam difíceis eles pagavam também pra estudar.
P/1 – E como que era a questão de ajudar o pai também, na mecânica e estudar, ajudar, estar sempre por lá?
R – Tinha vezes que eu tinha vontade de dormir (risos). Fingia que estava dormindo em casa depois que chegava da aula pra não ir, mas não tinha jeito, eles me acordavam para ir, mas eu acho que foi legal, porque foi ali que eu comecei a aprender alguma coisa, questões de trabalho, responsabilidade com o trabalho e daí, ali foi o meu primeiro serviço registrado, porque o dono da oficina pediu para eu começar a ajudar no escritório da oficina e o rapaz que estava no escritório saiu e ele me contratou como secretário. Foi ali que eu comecei a mexer com documentos, aprender essas coisas, a fazer cobrança, fazer ordem de serviço, ali foi o inicio da minha vida profissional.
P/1 – Mas Walter, antes de você iniciar a sua vida profissional, o quê que você queria ser ao crescer? Qual que era o seu sonho?
R – Eu acho que eu queria fazer Administração, eu fiz Administração. Quando eu era criança, uma vez, eu passei em frente a empresa que eu trabalho hoje e eu falei: “Eu queria trabalhar nessa empresa”, eu nem conhecia essa empresa, eu falei que eu queria trabalhar nessa empresa e faz 28 anos que eu estou lá. Assim, eu acho que o que eu quis, eu conquistei.
P/1 – E nessa fase de jovem, o que você gostava de fazer? O que marcou a sua adolescência, sua juventude?
R – A gente acampava com a turminha da faculdade, jogava futebol de salão, jogava basquete, uma série de esportes. Era o que a gente fazia. Festas, a gente não era muito de festa, fazia uma festa com o grupo só da faculdade, eu acho que eu fui pouco de festas, gostava mais de esportes no final de semana.
P/1 – Você falou pra gente que na escola teve um momento em que você era mais fechado, não tinha muitos amigos, como é que foi essa passagem para a faculdade, essa abertura, esse mundo novo?
R – Eu acho que na faculdade a gente encontrou uns seis rapazes, mais ou menos, e começou a conversar e começou a fazer algumas coisas juntos e todo final de semana a gente estava junto fazendo alguma festinha, fazendo algum esporte, tal. Foi mais isso, mas eu acho que as pessoas têm que ter um momento de reclusão, não só festa, balada, isso aí eu acho que é meio complicado.
P/1 – E desse grupo assim, de faculdade, tem alguma história engraçada, pitoresca para contar pra gente?
R – Tinham sacanagens, mas acho que não é legal contar, o meu irmão que aprontava com minha turma, então não sei. Tem bastante coisa, mas não sei se é bom contar isso.
P/1 – Alguma história que tenha marcado, que vocês sempre contam um para o outro, dão risadas hoje…
R – O que a gente conta um pro outro não dá para contar não (risos). Não, acho que assim, uma vez eu comentei que eu gostava de uma menina que eu tinha feito o terceiro ano do colegial com ela e gostava dela e tal e os caras falaram que iam ajeitar o namoro. Essa minha turma comprou flor, comprou chocolate, tudo e mandou para ela sem eu saber. Ela me ligou agradecendo e eu não sabia de nada e nós começamos a namorar depois de um tempo, tal e nos casamos, que é a Selma. Acho que isso foi muito legal da parte dos meus amigos e também realizou um outro sonho.
P/1 – A Selma estudou com você? Conta pra gente, assim, a história de antes, como que você começou a gostar dela?
R – Eu vi ela na escola, comecei a gostar dela, mas eu não tinha coragem de falar que eu gostava dela, eu era muito retraído, muito vergonhoso e eu parei de estudar com ela, que ela fez o terceiro também, mas foi para outro lado e eu fui para outra faculdade. E eu não encontrava mais ela, passou acho que seis meses, um ano, praticamente, até a gente entrar nesse assunto com os amigos que gostava de alguém pra acontecer esse fato.
P/1 – Conta pra gente um pouquinho, você falou da sua trajetória profissional pra gente um geral, mas o quê que você fez com o seu primeiro salário?
R – Dei para o meu pai e para a minha mãe. Não só o primeiro, vários deles. Pegava e entregava para eles. Até que passou, sei lá, cinco anos, mais ou menos, e abri uma conta pra mim e comecei a ter o meu dinheiro, mas até essa época, eu entregava tudo em casa, aí eu precisava de alguma coisa, eles me davam.
P/1 – E quando você começou a cuidar do seu dinheiro, lembra a primeira coisa que você tenha feito assim, com o dinheiro que você juntou?
R – Comecei a pagar as contas que eu comecei a construir a minha casa (risos) e foi isso que eu fui fazendo.
P/1 – Conta pra gente agora como é que foi o seu casamento, Walter. Como é que foi pedir a mão da Selma?
R – Nossa! Foi difícil, também. Depois de sete anos namorando, nós conversamos com o pai dela e com a mãe, falamos que íamos casar e tal, marcamos a data do casamento, tranquilo. Depois, fomos falar com os meus pais, também tranquilo. Tudo certo. Na véspera do casamento, eu fui buscar uma vaca carneada que eu ganhei para festa, capotei o carro na estrada (risos), não me machuquei, nada, nada e no outro dia, eu estava lá na igreja casando.
P/1 – E a festa, como que foi Walter?
R – A festa foi boa, eu só não dancei porque eu não danço, eu não sei dançar, mas tinha bastante gente, eu acho que tinha mais ou menos, umas trezentas pessoas, tudo da família, foi num lugar um pouco afastado da cidade, foi até tarde. Foi muito bom, naquela época nós juntamos bastante pessoas da família para fazer as coisas, fazer linguiça, assar, não tinha muito essa questão de buffet que tem hoje, a gente mesmo que preparou grande parte da festa.
P/1 – E aí como é que foi começar a vida de casado, morando junto?
R – Bate um medo danado (risos), um medo de não dar conta da mulher, um medo de: como que eu vou ser pai, que aí o Igor estava vindo, já! Não conseguia me ver como pai. Mas as coisas foram e ajeitando e a gente namorava há sete anos, já, conhecia razoável. Acho que foi mais ou menos dessa forma e foi caminhando normalmente.
P/1 – Como foi ser pai.
R – Outro medo. Vai nascer tudo legal, o quê que vai ser, vai dar tudo certo para a mulher, para a esposa, para a criança que vai nascer e tal. Mas deu tudo certo, minha mulher trabalhou até no dia do nascimento do Igor até tarde, até umas cinco, seis horas da tarde e ele nasceu depois, à noite, tudo tranquilo.
P/1 – E essa nova fase como pai?
R – Tem que se acostumar. Tem que tocar a vida para a frente, mas foi tranquilo, não teve nenhum problema, nada… Não foi difícil, não.
P/1 – E aí Walter, como é que foi para você crescer e se desenvolver profissionalmente? A família crescendo também?
R – Eu acho que um dia após o outro vai te ensinando, cada dia você aprende uma coisinha nova. Eu acho que eu sou muito aberto a pegar conhecimento novo, eu gosto e eu acho que tanto o pessoal que trabalhou comigo, como família também ajudou muito, porque eu estou há 28 anos numa empresa, não é um dia. E a família também, eu acho que a família é muito unida, sempre que você tem alguma dificuldade, troca ideia com um, troca ideia com o outro: “Como que eu faço isso? Como que eu consigo resolver esse assunto?”, eu acho que é por aí. E a esposa também é muito parceira. Eu acho que as dificuldades vão sendo superadas normalmente.
P/1 – E o sentimento de chegar no cargo de Gerente de Vendas na empresa em que você sonhou lá atrás trabalhar, que você viu e falou que queria trabalhar nesse lugar…
R – Eu acho que quando eu sai de Assistente de Vendas de Faturista, direto para Gerente Financeiro. Eu acho que naquela época foi mais difícil pra mim. O que eu conhecia de finanças, eu conhecia da faculdade, mas tudo teórico, nada na prática. Então, para mim foi um degrau muito alto para eu superar. Agora, depois de vários anos como gerente administrativo financeiro para vendas foi muito mais fácil, porque eu tenho um conhecimento grande da clientela, conheço todos os processos da empresa, acompanhava um pouco vendas já, então eu acho que foi um pouco mais fácil do que aquela época que eu fui para o administrativo financeiro. Mas assim, até três, quatro meses antes de haver essa mudança, eu não tinha nem cogitado ir para essa área, estava bem na minha, mas a pessoa que estava nesse cargo informou que ia sair e na verdade nós ficamos procurando outras pessoas fora da empresa mesmo pra ocupar o cargo. Passou um dia, eu falei: “Acho que eu vou me candidatar”. Eu me candidatei e tal e: “Tá aprovado, vai ser você”. Deu certo.
P/1 – E a Raissa? Como que foi saber do segundo filho, que vinha uma menina aí pela frente?
R – Ela apareceu meio que de entrona na vida, veio sem planejamento, começa todo aquele medo de novo. Vai nascer tudo certinho, sem problemas, como que vai ser, vai dar tudo certo com a mulher e tal… Mas também veio tranquila, nasceu no final de semana, no sábado, por isso que eu acho que ela é mais festeira que o Igor e também foi tranquilo, tanto a gestação, como o nascimento, foi sossegado.
P/2 – O que você poderia dizer que aprendeu com a paternidade? Com o “ser pai”?
R – Eu acho que nós somos os exemplos deles. Eu a princípio, acho que a minha vida de solteiro e a minha vida de casado não mudou muito, porque não era uma pessoa de solteiro e outra de casado, sempre fui uma pessoa meio constante. Mas eu acho que os filhos fazem você mudar um pouquinho, você tem que mostrar algumas coisas boas para eles.
P/1 – E por que você e a sua esposa escolheram os nomes Igor e Raissa?
R – Porque eu sou apaixonados pela Rússia e eu queria nome russo para os dois, daí: “Tranquilo e tal, mas quais são?”, eu fiz uma lista para o Igor de dez nomes na época do Igor e ela escolheu Igor. Quando a Raissa nasceu, eu fiz uma relação de dez nomes também e ela escolheu Raissa. Então, foi isso aí.
P/1 – E como que essa família entrou em contato com o AFS? Qual que é a história desse primeiro contato?
R – Bom, o AFS eu conheço há uns dez, 15 anos, mais ou menos, porque o primeiro contato que eu tive foi que a filha do meu patrão foi fazer um intercâmbio na Alemanha e eu falei: “Pô, eu queria fazer também, será que eu posso, que eu não posso?”, eu pessoalmente nunca consegui fazer. Daí, morreu o assunto, passou. De 2013 para 2014, eu recordei desse assunto e entrei na página do AFS e vi lá: família hospedeira e mandei um comunicado e eles falaram: “Tem um representante em Dourados, entre em contato com eles”. Entrei em contato, ela foi na minha casa ver o que eu queria fazer e eu falei que a gente queria hospedar estrangeiros. Conversou com a gente e até um dia ela foi com um francês em casa e daí quando ela foi embora, ela falou: “Esse menino aqui é da França”, se ela não falasse que ele era da França, a gente nem ia perceber. A gente sentou e tal: “Vamos hospedar”. Eu fiz as inscrições e apareceu uma ficha para hospedar o primeiro intercambista em casa. Eu recebi acho que na época, seis fichas para eu escolher, escolhi um belga, ele ficou um ano com a gente, eu pedi para o meu filho fazer um intercâmbio, nós queríamos que ele fizesse um intercâmbio, discutimos, discutimos, era para fazer, não era para fazer, como que vai ser, para onde que vai… Ele está fazendo agora e a gente recebeu também, agora em agosto, uma italiana que está indo embora amanhã e a gente pretende receber mais alguns. Escrevi um livro para comemorar o um ano que o Peter, o belga passou com a gente, vai sair também o livro da Valentina, que é a italiana e o contato com o AFS foi dessa forma que surgiu.
P/1 – Como que foi para a família, assim, decidir hospedar uma pessoa? Vocês conversaram entre vocês antes? Como é que foi essa decisão de falar: “Vamos trazer alguém para dentro de casa”?
R – Foi sentada com os quatro, foi discutido: “Temos essas fichas aqui, essas opções, qual que nós vamos escolher?”, escolhemos meio que em conjunto: “Vai ser bom? Não vai ser bom?”, aquele medo. Eu acho que um pouco mais de preocupação da Selma como mulher do que minha, eu estava tranquilo, mas ela: “Vai ser uma pessoa boa? Não vamos ter problemas?”. Nós chamamos de novo o representante do AFS para ir em casa, para tirar dúvidas e tal, e vamos esperar, estava decidido: “Vai ser esse aqui, vamos ver o que vai acontecer”.
P/1 – E o que o motivava mais? Qual que era a vontade assim, maior de ter uma pessoa de outro lugar dentro de casa?
R – Ter estrangeiro em casa. Eu gosto muito desse lance da cultura dos outros países e eu acho que foi uma forma mais fácil de ter isso. E eu acho que isso também está sendo interessante para os meus filhos, esse relacionamento com os intercambistas.
P/2 – E como é que foi o primeiro contato, você tinha visto a fichinha dele, provavelmente, uma fotinho, com rostinho dele lá, mas e aí quando olhou para a cara dele, a primeira impressão cara a cara?
R – Era bem a foto que estava lá. Chegou e vamos para casa. Beleza. Ele falava oito palavras em português. Foi pra casa, sentamos todos": “Aqui em casa é assim, assim, aqui é…”, umas regrinhas básicas e tal e eu acho que ele com um pouco de tempo ele já começou a pegar as nossas malandragens aqui do Brasil, no bom sentido. E foi um relacionamento muito legal com nós da família e com o resto da família, também, tanto é que tudo que a família ia fazer ele estava junto.
P/1 – E Walter, quando você viu a ficha de todos, assim, por que você escolheu a do Peter? O que te tendeu para aquela?
R – Porque eu tinha uns pensamentos por regiões que eu queria hospedar do mundo, por três coisas: as regiões, porque ele tinha uma foto de skate, que a minha filha falou: “Olha, pra eu andar de skate também”; e porque ele tirou uma foto com o rosto inchado, o que era esse rosto inchado? Era um dente que ele tinha arrancado lá e estava com o rosto inchado. Falei: “Esse aqui tem mais cara de ser gente boa do que os outros”. Eu acho que essas três coisas que motivou a gente a pegar ele.
P/2 – E existe alguma regra do AFS em relação à linguagem? Por exemplo, numa dessas, ele já sabia inglês e talvez fosse muito mais fácil acertar algumas regras em inglês e não em português, ou se o tratamento tem que ser mais em português?
R – O que eles pedem pra gente é que quem vem tem que aprender a língua daqui. Tudo tem que ser na nossa íngua, mas assim, não impede que se converse, no inicio, em inglês. Você pode estipular: “No inicio, nós vamos falar com você em inglês para ir te ensinando, tal” ou: “Nós vamos falar em inglês, mas vamos falar em português e você vai ter que repetir o português”, na verdade é para cada um. Quem falava bem inglês em casa era o Igor. No começo ele ajudou bastante traduzir algumas coisas que eu não conseguia entender, nós colocamos aquele negocinho dos papeizinhos colados na casa toda lá e com o tempo ele foi arrancando tudo. E com uns três meses ele já estava dominando a língua. Foi tranquilo.
P/1 – Qual foi o primeiro hábito do Peter que vocês olharam e falaram: “Nossa, isso é muito diferente da gente” ?
R – Essa eu tenho que pedir cola.
P/2 – Pode pedir.
R/2 – Ele assoava o nariz na mesa.
R – Tinha isso no laudo lá que a gente recebe, que eles fazem isso na mesa, eles assoam o nariz, é comum para eles, mas ele quando chegou não fez isso, levou um tempo até um dia que a gente estava acho que no restaurante e aí, ele pediu se podia fazer. Nós falamos: “Aqui não é comum, mas se você quer fazer, pode fazer. Aí, ele fez no restaurante e tal e daí em casa, ele quase sempre fazia, mas ele levou um mês para pedir se podia fazer.
P/1 – E como é que foi entrosar a rotina dele com a rotina de vocês? Conta pra gente um pouquinho desse período de adaptação, assim?
R – Eu acho que a única coisa que tira um pouco a tua rotina é, por exemplo, como eles são de fora, sempre arrumam lugar para ir todos os dias, se deixar, todo dia, eles têm que ir num lugar, isso aí tira um pouco da tua comodidade, do teu dia a dia. No mais, não. Escola, arrumou uma escola no caminho do meu trabalho, então eu levava e depois, ele voltava com a van. Festas, quando era final de semana, você leva, combina com o outro para trazer, isso não é problema, alguns problemas são: “Hoje eu tenho que ir em tal lugar, hoje eu tenho que ir em tal lugar”, isso tira um pouco a tua rotina, mas você vai conversando e vai ajeitando. Eu acho que Dourados é uma cidade pequena comparado a São Paulo, mas mesmo assim é meio complicado você deixar um cara de for andar sozinho e tal, você sempre quer levar, quer buscar. Acho que isso que incomoda um pouquinho.
P/1 – E o que vocês aprenderam da Bélgica com ele?
R – Que tem três regiões… Tem duas grandes, na verdade, que é a Bélgica Flandres e Bélgica Francesa e tem uma outra região da Bélgica que fala alemão. Produz a cerveja Stella Artois, que é a mais famosa, um chocolate fantástico… Faz parte do Benelux... Ele tentou me ensinar um monte de palavra em holandês.
P/2 – Ele trouxe algum presente de lá para vocês?
R – Trouxe vários. Trouxe um abridor de vinhos, trouxe chocolate, trouxe camiseta para Raissa, trouxe bombom para o Igor, trouxe uns doces caseiros lá da avó dele para a Selma. Trouxe quatro licores.
P/1 – E o que ele mais gostou, assim, da casa de vocês, que ele foi embora já falando: “Eu vou sentir falta disso”?
R – Eu acho que a maneira do brasileiro ser, dos abraços, que não é tão comum o abraço lá, os abraços que a gente dá, a comida, ele elogiava muito a comida da avó e da Selma. Mandioca ele adorou, churrasco então nem se fala. Manga, ele levou manga para lá na mala, manga e mandioca ele levou, a Selma até ensinou ele a fazer um purê de mandioca para ele fazer na casa dele, tanto é que quando ele chegou… Saiu daqui numa sexta, chegou lá no domingo na casa dele, no domingo ele mandou a foto que ele tinha feito com a mãe o purê lá de mandioca.
P/2 – E vocês, o que vocês sentiram quando ele foi embora?
R – Eu acho que o lance do intercâmbio é muito legal, tem o lado bom e tem o lado ruim que é o da despedida, a despedida é meio melindrosa, porque um ano juntos. Se a pessoa que veio é boa é parte da tua família e vai embora daqui a pouco, é meio delicado, é o momento mais triste que tem no intercâmbio é o momento da despedida, porque durante o intercâmbio você tem momentos bons, tem momentos ruins, como tem com o filho normal. E a relação é de filho, mesmo. Agora, quando vai embora é meio… É triste.
P/2 – E como que você sentiu que era de fato uma relação como filho? Qual foi o momento que você se sentiu assim, pai dele também?
R – Eu acho que assim, no momento que eles te chamam de pai e mãe: “Pai, o que é isso? Eu posso ir tal dia num tal lugar?”, pegam uma música brasileira e começam a te perguntar aquela palavra, o que significa aquela palavra: “Mas essa palavra não é essa?” “Não, porque essa tem outro sentido”, começa a gostar de ir nos lugares com você. Eu acho que é tudo isso, é tudo… As pequenas coisas do dia a dia que mostram se o teu relacionamento tá dando certo ou se não tá dando certo. Por exemplo, tinha um outro belga na cidade, ele gostava de passar final de semana lá em casa, dormindo lá junto com o Peter, claro que nem sempre, mas de vez em quando, ele ia lá, que eles faziam algumas festinhas entre os intercambistas que estavam na cidade lá em casa, e ele: "Vou dormir aqui com vocês”, e dormia. Eu acho que essas coisas…
P/1 – E Walter, como que foi o entrosamento dele com o Igor e com a Raissa? Essa relação de irmão, teve alguma briga? Conta pra gente.
R – Tiveram alguns desentendimentos. Ele e a Raissa se ranhetavam todo dia, um falava que aquela palavra não era daquele jeito, era do outro jeito, aí ficava aquela briga, mas assim, o Igor também teve alguns momentos de ciúmes, acho que normal, mas depois se ajeitou, tanto é que hoje o Igor fala com ele, pede opinião dele lá na Rússia: “O que eu faço em tal situação”, pede pra ele, não pede para nós. Eu acho que isso todos vão passar, todos que são intercambistas e a família que tem o filho mais ou menos na mesma idade do intercambista vai sofrer isso, mas tem que lidar com isso.
P/1 – E vocês precisaram do conselheiro alguma vez para mediar algum conflito?
R – Não, não.
P/1 – Como é que foi essa relação do suporte do AFS, de acompanhar, ver se estava tudo certo com vocês, para entrosar?
R – Foi tranquilo, tem a menina que é a conselheira, que foi várias vezes em casa para fazer aquele questionamento se estava tudo bem com a gente e com o intercambista. Foi, não teve problema. Tiveram também as reuniões do AFS com as famílias, eu acho que são duas reuniões só para a família, não para o intercambista, tanto é que a conselheira que foi do Peter pediu para que a Valentina ficasse conosco também, mas foram duas relações de intercâmbio, eu acho que bem tranquilas.
P/1 – E como família, como que você acha que o Peter mudou vocês, o que ele agregou, o que ele trouxe, o que ficou de diferente depois que ele foi embora?
R – Essa é difícil.
P/1 – Tem algo assim, antes do Peter e depois do Peter? Tem alguma coisa que tenha mudado em vocês? Mesmo um sentimento de mudança pessoal ou algum habito cotidiano?
P/2 – De repente, a vontade de trazer outro, porque essa experiência foi bacana?
R – Eu acho que nesse lance aí, sim. Teve mais gente, tanto é que logo que depois que o Peter foi embora, aparecer a ficha da Valentina e a gente decidiu hospedar de novo porque: “Vamos dar um tempo para hospedar novamente”, mas aí apareceu a ficha dela: “Vamos hospedar logo em seguida”, por quê? Porque ela era da Itália e o meu pai tem vontade de conhecer a Itália, então seria um lance legal de conversar sobre a Itália, tal, pra gente ir lá um dia e porque ela tem o mesmo sobrenome que eu: Veroneze, a única diferença é que o meu é com Z aqui e o dela é com S lá. E é da região que o meu pai falava que os ancestrais tinham vindo, então: “Vamos pra gente sentar com a família, conversar e tal…”, pegamos e também porque eram seis meses, não era mais um ano, a gente queria um tempo para descansar, mas seis meses, decidimos testar. E deu tudo certo, a gente quer hospedar de novo, mas a gente quer agora esperar o Igor voltar para daí ver o quê que a gente vai fazer, mas a intensão é hospedar.
P/2 – E qual foi a diferença de receber uma menina? Mudou alguma coisa?
R – Eu acho que é melhor homem. Eu acho que tanto pra mim que eu sou muito tranquilão em casa, eu acho que homem é mais sossegado, mais tranquilo. Mulher eu acho que é mais delicado, eu acho que também por causa de esposa e tal, eu acho que não é muito aconselhável, no nosso caso. Eu prefiro homem.
P/1 – E como é que foi o entrosamento da Valentina com vocês, adaptação?
R – Eu acho que tirando a questão de ser mulher e o Peter era homem, o resto tudo igual. Mesma coisa, mesmo relacionamento com a família, com o resto da família também tranquilo. Vamos para um evento da família, vai junto. Em todos os eventos que a gente vai, vai junto também. O mesmo tratamento que tinha com o Peter tem com ela.
P/2 – E vocês também colocaram os papeizinhos nas coisas em português? Como é que foi?
R – Não. Para o italiano, não, porque eu achei que a língua era muito próxima e não precisaria, a gente não colocou. Depois conversando com ela sobre isso, ela disse que não precisava mas que ela teve algumas dificuldades com algumas palavras, mas nós não colocamos por causa da língua ser muito parecida.
P/1 – E como é que foi esse processo de receber os dois e também mandar um filho pra fora? Conta pra gente como que se deu essa decisão de mandar o Igor. De agora, estar do outro lado da história, ser a família que manda e não a família que recebe.
R – Pois é, como era o sonho de fazer intercâmbio, eles tinham que fazer intercâmbio. A Selma tinha muita restrição quanto a isso: “Vai para onde? Como que é lá? O que vai fazer? Como que vai ficar lá? Vai arrumar uma família legal, não vai arrumar uma família legal? E se tiver uma doença? Se, se, se…”, aquele monte de se… Mas a gente conversou também antes de mandá-lo com o pessoal do AFS na questão dele ir, como que seria e tal. E não foi uma decisão de última hora, foi conversado uns seis meses, ou mais e foi vendo, a gente encontrou também quando tinha sido decidido que era Rússia e viemos buscar o visto aqui em São Paulo para Rússia, nós encontramos um tcheco que estava no consulado pegando o visto para a Rússia e conversando com ele, ele falou: “Olha, vai sossegado que não tem perigo nenhum. Eu fui lá para trabalhar um ano, fiquei cinco anos de tanto que eu gostei do povo russo. Eu não conheço essa região que você está indo, mas onde eu fiquei é tranquilo”. Eu acho que isso ajudou a minha esposa a ter um pouco mais de confiança, acreditar que também não seria problemático lá. E passado algum tempo, nós conversamos com ele pelo Skype e tal, a família quis conversar conosco também, junto, e pareceu uma família tranquila, muito boa. E em várias outras ocasiões, ele deu a entender isso para nós, porque ele tá bem lá. Eu acho que foi assim, uma decisão acertada também. E hoje, a Selma está muito mais tranquila, está convencida de que ele tá bem, não tem tanto aquela preocupação mais de ir, que eu acho que tanto na ida quanto na vinda, os dois lados ficam apreensivos. Quem vai receber: “Como que vai ser essa pessoa?”, e quem vem: “Como que vai ser essa família?”. A hora que encontra tem que bater o santo. Eu acho que nos três casos nossos, bateram.
P/2 – E como foi se despedir dele? Ver que de fato, ele estava indo mesmo para a Rússia?
R – Olha, a família toda se despediu lá em Dourados. No aeroporto lá, bastante tristeza. Aí, eu vim com ele até o Rio de Janeiro e me despedi dele aqui, que eu pousei com ele aqui, daí coloquei lá no aeroporto e despedi dele lá. Aí, tinha mais um menino que foi também para Rússia, embarcou, de Santa Catarina. Mas é um momento triste, vai ficar um ano fora, como que vai ser? Como que a gente vai conversar? Vai dar tudo certo? Vai chegar lá bem? Eu acho que passa bastante coisa negativa na cabeça da gente, interrogações negativas na cabeça da gente até realmente concretizar.
P/2 – E qual é a expectativa para a volta dele. De vê-lo outra vez, imaginar como que ele vai estar, se ele vai estar mudado, como é que vai ser?
R – Eu acho que essas experiências assim, de sair da casa do pai para qualquer outro lugar, seja para fazer intercâmbio, seja para fazer uma faculdade fora da sua cidade, ou mesmo pode até morar fora na mesma cidade, mas fora da sua casa, eu acho que isso é uma experiência totalmente nova e muda, faz a pessoa crescer. Eu acho que ele vai voltar mais aberto, porque ele era muito tímido, eu acho que ele vai voltar mais aberto, mais crescido. A expectativa nossa é essa.
P/1 – Agora tem uma que vai e o filho depois volta. Conta pra gente da Valentina indo embora, se despedir de uma, se preparar também para receber o filho?
R – Eu tenho que voltar logo para Dourados, que ela viaja essa madrugada. Eu chego meia-noite lá, ela vai às duas da manhã. Vai ser um momento, eu acredito que muito triste, inclusive, eu acho que a Selma vai chorar de novo bastante lá no aeroporto e a casa vai ficar vazia, porque o ano passado estava Igor, Raissa, Peter, Walter e Selma, cinco em casa e mais dois sobrinhos que ficam em casa nos finais de semana direto. A casa estava lotada. Agora vai a Valentina embora, o Igor tá fora, não tem nenhum intercambista, vai estar só a Raissa em casa. Vai ter um vazio, eu acredito nesse período. Mas assim, vai ter choro de novo quando o Igor chegar, desembarcar em Dourados de novo. Essa é a expectativa.
P/1 – E Walter, você conheceu a Rússia, conta pra gente como que foi pra você que sempre gostou da literatura russa, conhecer?
R – Era um sonho visitar a Rússia. Quando você fala assim: “Vou para a Rússia” “Pra Rússia? Por quê para Rússia?”, ninguém falava assim: “Que legal que você vai para Rússia”, todo mundo: “Pra Rússia?”, foi igual quando o Igor foi fazer intercâmbio: “Pra Rússia? Por que para Rússia?”, soa estranho. Mas eu fui com a Selma em 2012 para Rússia, ficamos aproximadamente 15 dias lá, visitamos cinco cidades, fomos em vários lugares lá muito bonitos, Moscou, São Petesburgo, Peterhof, Suzdal, Sergiev Possad, Vladimir e eu acho que a Rússia tem uma cultura muito bonita, uma história muito bonita, independente de sistema politico, mas eu acho que a cultura e a história da Rússia são muito bonitas. Eu acho que isso que me apaixonou lá em 1995 e foi uma realização. A Selma não queria ir: “Por que eu vou lá? É muito frio, eu não vou fazer nada lá, vai você” “Eu só vou se você for”, comprei as passagens, cheguei em casa e falei assim: “Vamos nós dois”, foi meio assim para me satisfazer, mas depois que voltou, ela falou: “Eu quero ir de novo”.
P/1 – E essa próxima agora ida de encontrar o filho e voltar para essa Rússia?
R – Agora nós vamos lá, vamos embarcar dia 30 de março, vamos aproveitar para visitar o Igor e a família dele lá, andar um pouquinho pela região dele. Estou voltando de novo para o país que eu adoro. E na volta, a gente vai parar na Itália, parar dois dias na Itália para visitar a Valentina, aproveitar, meu pai quer ir ver o Coliseu e a minha mãe quer ver o Vaticano, então já vamos fazer tudo de uma vez. Mas para a Rússia não quero parar de ir, não quero ir só dessa vez, eu quero ir em outras no futuro e toda vez que eu vou para lá, eu fico assim, meio… Estou indo de novo!
P/1 – E Walter, você escreveu um livro para o Peter para escrever toda essa experiência com o Peter e agora, vai escrever outro livro para a Valentina. O que motivou a parar, sentar e a escrever, contar toda essa história sua com eles?
R – Eu acho que tem que ficar registrada essa experiência, no meu pensamento é uma experiência muito legal, essa de receber estrangeiro. Eu acho que é um coisa que a gente pode fazer, independente de ganhar ou não ganhar. Eu queria deixar registrado. Eu todo dia sentava e anotava o que aconteceu naquele dia entre nós e o Peter na época. Agora, todo dia estou anotando o que acontece com a Valentina, conosco e tal, para depois montar o livro. Eu acho que é assim, por quê? Para deixar registrado um acontecimento de um ano, de seis meses, tal, eu acho que é muito legal isso. Enviei o livro para ele, quando ele recebeu lá, mandou felicitações para a família toda e tal. Eu acho que esses momentos são legais. eu enviei um exemplar para o AFS do Rio de Janeiro, disseram que adoraram o livro, todo mundo leu o livro lá. Eu acho que ficou muito legal,
P/2 – Qual o seu ponto alto, assim do livro, qual é a passagem que você acha que ficou mais bacana e que você indicaria pra gente dar uma olhada agora assim, na saída?
R – Eu acho que tiveram algumas passagens legais que eu coloquei como insights que foram conversas que nós tivemos durante o ano, eu reproduzi ali. Teve também um poema que eu fiz tirando sarro dele porque ele meio que se apaixonou por uma alemã em João Pessoa quando ele fez um mini intercâmbio, ele voltou de lá que não queria mais ficar em Dourados, queria voltar para João Pessoa, que João Pessoa era maravilhoso, porque ele estava meio apaixonado por uma alemã, eu fiz um poema ali e algumas fotos que a gente foi tirando no decorrer do ano, uma ele varrendo, ele estava falando que estava trabalhando pra caramba em casa. Outra, ele dormindo num berço para sacanagem, que nós viajamos de férias e outra ele todo sujo de manga, chupando manga. Essas coisas que eu acho que são legais do livro.
P/2 – E agora, conta um pouquinho do próximo que você vai fazer. Quais que você imagina que serão os pontos altos do livro da história sobre a Valentina?
R – Eu acho que as anotações do dia a dia, algumas receitas que ela fez em casa de comida italiana, a sacanagem que a gente botou na mala dela para ela levar de volta para a Itália. Acho que é isso aí.
P/2 – O que é?
P/1 – Agora vai ter que contar.
R – (risos) Na mala dela, nós colocamos um saco de carvão, um saco, não, um embrulho, 500 gramas mais ou menos embrulhadinho no papel de persente, cheio de carvão de churrasco. E no do Peter, nós colocamos dois quilos de terra embrulhadinho também. Ele pesou a mala em casa, tudo certinho, dentro do padrão, chegou no aeroporto, estava passando: “O quê que tá acontecendo? Vou pagar excesso de bagagem”, pagou excesso de bagagem, chegou lá na Bélgica, abriu, ficou bravo comigo: “Pô, você me sacaneou, cara”. Eu acho que são pontos muito legais.
P/1 – E agora Walter, queria te perguntar, quais que são os sonhos, as aspirações para essa próxima etapa que vem pela frente?
R – Ser uma pessoa bem sucedida. Eu acho que se eu conseguir manter o recebimento de intercambistas em casa, eu quero receber sempre de países diferentes, eu quero fazer isso. Quero que os meus filhos tenham uma profissão boa, que eles gostem e quero que o meu casamento se mantenha do jeito que está indo.
P/1 – E quais foram os maiores aprendizados da experiência de receber o Peter e a Valentina?
R – A convivência com pessoas diferentes. Acho que isso que é o mais importante.
P/1 – E de enviar um filho pra longe?
R – Eu acho que quando você envia o filho pra longe, você sempre quer que ele seja um pouco melhor do que você foi. Eu acho que o mundo ensina muito mais que o pai e a mãe, eu acho que ele pegar uma experiência de uma cultura totalmente diferente, um idioma diferente e é importante para o crescimento dele.
P/1 – Você chegou a desenvolver um carinho pela Bélgica, pela Itália? Conta pra gente como que você se sente em relação a esses países?
R – A Europa em si, eu gosto dos países da Europa. Também pela história, eu gosto da maioria deles. A Bélgica eu já gostava e tal, a Itália gosto também, mas eu acho que a Bélgica eu gosto mais do que a Itália. E vários outros países da Europa eu sou apaixonado.
P/2 – Mas como é que é pensar assim que você conhece alguém na Bélgica? Tem um filho na Bélgica.
R – Assim, eu sou importante (risos), eu tenho um filho na Europa, tenho um filho em tal pais, tal pais e tal pais. Um dia eu quero poder fazer uma viagem pela Europa, ou por um pedaço da Europa e passar na casa do Peter, passar na casa da Valentina, passar na casa de um outro. Eu acho que isso aí vai ser um evento muito legal. Como é ter um filho lá fora? Pô, é muito legal.
P/1 – Qual a característica dos dois que mais te cativou, tanto do Peter quanto da Valentina?
R – O Peter é um cara muito certinho, muito certo. Eu acho que os dois, não só o Peter, os dois, você fala e eles entendem, compreendem e faz o que você fala. Outros, eu dei essa característica porque a gente tem escutado que outros têm reclamação de intercambistas em casa: “Falo, não faz isso. A gente manda fazer tal coisa, não faz”, será que não é a família, talvez, que tenha problema? Que na verdade são os dois lados, não é só um lado… Só o cara que vem de fora que é ruim? Eu acho que as duas qualidades dos dois que nós pegamos, nós acertamos nos dois, porque você fala: “Nós queremos assim”, tal dia: “Nós vamos sair hoje, nós vamos jantar fora”, tranquilo, sabe? Não tem questionamento: “Por quê que eu tenho que ir?”, nunca teve, porque o Peter, eu acho que ele era mais questionador que a Valentina na questão assim: pegava um dicionário: “Por que essa palavra é desse jeito?”, pegava uma letra de música: “Por que ele usou essa palavra?”, ele era mais questionador, talvez porque o idioma era muito diferente do nosso. E o da Valentina já é muito parecido. Mas eu acho que os dois foram tranquilos.
P/1 – Como que essa experiência com o AFS também, como que foi a experiência, o contato com o AFS? Como que você acha que você vai continuar se relacionando com o AFS daqui pra frente?
R – Eu acho que de uma forma como vem sendo até hoje, tranquila, como a gente pretende hospedar novamente, eu acho que sem nenhum problema, eu acho que da forma que tá vindo até hoje, nós nos damos muito bem com o pessoal do AFS, principalmente, da região lá, de Dourados. Eu acho que sem problema nenhum.
P/1 – Eu acho que a gente encerrou. Em nome do Museu da Pessoa e do AFS também, a gente agradece a tua participação.
R – Beleza! Muito obrigado.
P/1 – Obrigada Walter.
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