MINHA HISTÓRIA
Nasci no interior de São Paulo, sem muitos recursos, aprendi desde muito pequena a lutar pelo meu espaço.
Era da roça, com hábitos muito simples, quase não freqüentava a cidade que ficava distante dificultando as possíveis amizades com as outras meninas.
Filha mais velha, meu pai dizia que estudaria para ser professora, então ele cortava as minhas unhas no formato arredondado para que minhas mãos ficassem parecidas com “mãos de professora”, segundo ele.
Na década de 50, 60 os pais matriculavam na escola os filhos que completavam 7 anos até 31 de dezembro e, eu nascida em fevereiro não pude ser matriculada no Grupo Escolar da cidade para cursar o 1º ano. Separei-me de meus pais, indo morar no sítio de meus avós para freqüentar a escola rural que ficava numa fazenda próxima. Íamos, eu e minha colega Iolanda, a Landa, a pé atravessando os cafezais e a invernada até chegarmos à escola, e após uma hora de caminhada nos juntávamos às outras crianças, filhos dos colonos da fazenda, e minha prima Dirce.
Nossa professora D. Elizabeth Livramento, ia e voltava todos os dias de uma cidade distante numa charrete de aluguel, o charreteiro, Seu Pedro era um senhor alto, gordo, só ele ocupava quase que a bancada toda da charrete deixando um espaço bem pequeno para a miúda professora. Só me dei conta que ela lecionava para todas as séries numa única sala, quando ouvi minha mãe comentar isso com uma tia e, que passaria de ano, daquela turma, apenas eu e minha prima.
No final do ano recebemos a visita de um senhor alto de bigode usando óculos que se apresentou aos alunos da escolinha como Inspetor de Ensino e que nos aplicaria o exame decidindo quem passaria para o 2º ano.
Lembro-me da grossura do livro que ele me deu, já aberto em uma página cujo texto deveria ser lido, primeiro baixinho e depois, quando mandasse, em voz alta. Fiquei feliz ao conseguir juntar as letrinhas umas às outras e ir sentindo as palavras surgirem...
Continuar leitura
MINHA HISTÓRIA
Nasci no interior de São Paulo, sem muitos recursos, aprendi desde muito pequena a lutar pelo meu espaço.
Era da roça, com hábitos muito simples, quase não freqüentava a cidade que ficava distante dificultando as possíveis amizades com as outras meninas.
Filha mais velha, meu pai dizia que estudaria para ser professora, então ele cortava as minhas unhas no formato arredondado para que minhas mãos ficassem parecidas com “mãos de professora”, segundo ele.
Na década de 50, 60 os pais matriculavam na escola os filhos que completavam 7 anos até 31 de dezembro e, eu nascida em fevereiro não pude ser matriculada no Grupo Escolar da cidade para cursar o 1º ano. Separei-me de meus pais, indo morar no sítio de meus avós para freqüentar a escola rural que ficava numa fazenda próxima. Íamos, eu e minha colega Iolanda, a Landa, a pé atravessando os cafezais e a invernada até chegarmos à escola, e após uma hora de caminhada nos juntávamos às outras crianças, filhos dos colonos da fazenda, e minha prima Dirce.
Nossa professora D. Elizabeth Livramento, ia e voltava todos os dias de uma cidade distante numa charrete de aluguel, o charreteiro, Seu Pedro era um senhor alto, gordo, só ele ocupava quase que a bancada toda da charrete deixando um espaço bem pequeno para a miúda professora. Só me dei conta que ela lecionava para todas as séries numa única sala, quando ouvi minha mãe comentar isso com uma tia e, que passaria de ano, daquela turma, apenas eu e minha prima.
No final do ano recebemos a visita de um senhor alto de bigode usando óculos que se apresentou aos alunos da escolinha como Inspetor de Ensino e que nos aplicaria o exame decidindo quem passaria para o 2º ano.
Lembro-me da grossura do livro que ele me deu, já aberto em uma página cujo texto deveria ser lido, primeiro baixinho e depois, quando mandasse, em voz alta. Fiquei feliz ao conseguir juntar as letrinhas umas às outras e ir sentindo as palavras surgirem fáceis em minha mente. Quando chegou minha vez, com muito orgulho li bem alto sem tropeçar em nada e no final fomos aprovadas apenas eu e a Dirce. Estava pronta para freqüentar a escola da cidade, voltei a morar com meus pais e continuei os estudos.
Ao completar 19 anos fui morar num pensionato numa cidade maior, Marília, para trabalhar e cursar a faculdade.
Fiz vestibular para Psicologia contrariando os sonhos de meu pai... e quando fui me matricular, não sei porque, perguntei para a atendente se era possível mudar de curso caso não gostasse de Psicologia, a resposta foi positiva. Quando? Perguntei ansiosa, pois bateu uma dúvida ou quase certeza de que não me daria bem com a Psicologia. Se quiser, pode mudar agora retornou. Quis saber se tinha vaga para o curso de Matemática, e ela me disse que sim. Sem mais questionamentos e nem dúvidas fiz a matrícula no curso de Matemática e me formei professora, realizando o sonho de meu pai, e cá estou aguardando minha aposentadoria, atualmente como POIE na Rede Municipal e como professora de Matemática na Rede Estadual. Meu pai aguarda ansioso o dia de minha aposentadoria, diz que não quer morrer antes que isso aconteça.
Recolher