eliane eléa de souza favaretto. a minha mãe. a mais bonita.

Minha mãe nasceu em 3 de Abril de 1972. Mas foi registrada somente em 6 de Julho daquele ano. Nesta data, mas em outros anos, nasceram diferentes personalidades da história do mundo naquele século. Frida Kahlo, pintora mexicana, no começo, George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, Stallone, o Rocky Balboa e Toquinho, compositor brasileiro. A arma de fogo AK-47 é produzida na União Soviética pela primeira vez. O IBGE é fundado no Brasil. Dá-se início a Revolução Russa de 1918 com o assassinato de um embaixador alemão. Meu avô Elízio registra minha mãe na cidade de Limeira. E no interior de São Paulo, minha mãe se cria. Filha de pais mineiros, caçula de uma irmã e três irmãos. Numa foto de formatura da escola, revela-se uma criança de cabelo joãozinho, na frente da bandeira estendida do mapa mundi. Morou em várias casas de aluguel na cidade de Araras, conhecendo bem cada canto por isto. Hora perto do Cristo Redentor, hora no Fátima, outro na Nunes Machado, foi no lado rural da cidade onde conheceu meu pai Rogério. Ela foi cantar no coral da Igreja. Ele jogava bola no campo de futebol. Não sei qual centelha se acendeu primeiro, provavelmente a do meu pai pela minha mãe, visto que era ali uma adolescente já muito bonita, com uma sobrancelha forte, bem preta, como seu longo cabelo. Não sei se pensava ela no casamento se ele no futebol, sei que dessa união eu nasci no ano de 1995. Minha mãe casou comigo na barriga. Eu estava lá, naquela festa, onde centenas de convidados compareceram. O bolo era enorme e o dinheiro do garçom foi pago na hora com o que se arrecadou da gravata. Veio a casa, a mesma que hoje, levantada aos poucos no Parque das Árvores. Veio Jeannie, a primeira cachorra da família. E a necessidade de se ganhar mais dinheiro. Eliane é o nome da minha mãe e com curso atrás de curso, tinha vários diplomas de cabeleireira para exibir na parede e começar o seu salão. Com seu nome, em letras bonitas, dentro de um quadro, era uma profissão. Fez carreira ao mesmo tempo que criou dois filhos. Com duas décadas de experiência, deixou-a de lado para cuidar agora dos seus pais, mas qualquer dia volta agora como mentora, para dar curso. Esteve com eles até o suspiro final de suas vidas. Retribuiu o amor e o carinho com a honra de uma mulher que quase já não se vê. Amante da cidade de Araras, viu os filhos criarem asas e voarem distantes. O que escreve este texto aprendeu a profissão de bibliotecário em Marília. A caçula trabalhou na Olimpíada no cidade do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, mudou-se para a Florida. Há poucas horas, esteve no meio de um furacão e tudo se passa bem. Hoje lá vive com seu marido, que conheceu lá. Voltou a estudar. Fez o EJA. Entrou na faculdade. Formou-se em pedagogia. O filho retornou a cidade natal. Gosta de, no almoço, visitar seus pais e conversar com Eliane. Diz que, enquanto houver sua mãe neste mundo, será uma pessoa inteligente, mais bonita e sensível. Não porque ela o vê assim e sim porquê torna-o assim. É uma pessoa muito bonita. Quem conversou, sabe. É pessoa de verdade. Eliane Elea de Souza Favaretto. A mais bonita.