Projeto: Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Edson Luiz Labanca
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 25/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa.Net
Entrevista PETRO_CB439
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde, Edson. Eu queria começar a entrevista pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Edson Luiz Labanca, minha data de nascimento 1/7/1956, nasci em Recife, Pernambuco.
P/1 – Qual é a sua formação?
R – Eu sou engenheiro mecânico, com mestrado em engenharia submarina.
P/1 – Você se formou por onde?
R – Eu me formei pela... Eu fiz até o quarto ano de engenharia na Universidade Federal de Pernambuco, passei no concurso da Petrobras, fui fazer convênio na Universidade da Bahia, me formei na Universidade da Bahia e fiz mestrado na UFRJ.
P/1 – Quando que você entrou na Petrobras?
R – Em janeiro de 1980, assim que eu terminei meu curso. Cursei com o convênio com a Petrobras 1979, durante o ano de 1979 e em 1980 comecei minha vida profissional na Bacia de Campos.
P/1 – E você foi trabalhar em que área, na parte de produção? Na especialização, você fez uma escolha dessa especialização, para produção, para...?
R – É, eu como engenheiro mecânico eu vim trabalhar na Bacia de Campos, escolhi a Bacia de Campos pelas oportunidades de trabalhar nas plataformas fixas, né, trabalhar com turbinas, geradores, mas eu quando vim para a Bacia de Campos acabei ficando na divisão de manutenção em terra e embarcava esporadicamente fazendo serviços específicos.
P/1 – Como é que foi a primeira sensação de embarcado?
R – Foi uma sensação de tudo é novidade, tudo é diferente, né, então você tem aquele choque quando você chega numa plataforma, você vê aquele edifício de aço, então é muito interessante, é uma experiência de vida que a gente tem que é difícil até de poder expressar ou contar para...
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Depoimento de Edson Luiz Labanca
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 25/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa.Net
Entrevista PETRO_CB439
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde, Edson. Eu queria começar a entrevista pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Edson Luiz Labanca, minha data de nascimento 1/7/1956, nasci em Recife, Pernambuco.
P/1 – Qual é a sua formação?
R – Eu sou engenheiro mecânico, com mestrado em engenharia submarina.
P/1 – Você se formou por onde?
R – Eu me formei pela... Eu fiz até o quarto ano de engenharia na Universidade Federal de Pernambuco, passei no concurso da Petrobras, fui fazer convênio na Universidade da Bahia, me formei na Universidade da Bahia e fiz mestrado na UFRJ.
P/1 – Quando que você entrou na Petrobras?
R – Em janeiro de 1980, assim que eu terminei meu curso. Cursei com o convênio com a Petrobras 1979, durante o ano de 1979 e em 1980 comecei minha vida profissional na Bacia de Campos.
P/1 – E você foi trabalhar em que área, na parte de produção? Na especialização, você fez uma escolha dessa especialização, para produção, para...?
R – É, eu como engenheiro mecânico eu vim trabalhar na Bacia de Campos, escolhi a Bacia de Campos pelas oportunidades de trabalhar nas plataformas fixas, né, trabalhar com turbinas, geradores, mas eu quando vim para a Bacia de Campos acabei ficando na divisão de manutenção em terra e embarcava esporadicamente fazendo serviços específicos.
P/1 – Como é que foi a primeira sensação de embarcado?
R – Foi uma sensação de tudo é novidade, tudo é diferente, né, então você tem aquele choque quando você chega numa plataforma, você vê aquele edifício de aço, então é muito interessante, é uma experiência de vida que a gente tem que é difícil até de poder expressar ou contar para alguém o que a gente faz realmente numa plataforma.
P/1 – Você foi para qual plataforma, a sua primeira plataforma?
R – A gente trabalhava... Eu não fui para uma plataforma, eu trabalhava em todas as plataformas, né? Mas, inicialmente o primeiro sistema instalado na Bacia de Campos foi o PP Moraes, então foi o primeiro sistema de produção que era o sistema antecipado de Garoupa em que eu embarquei, foi a primeira plataforma instalada de produção, instalada na Bacia de Campos. Na seqüência tivemos a SS10 e partir daí a cada novo projeto, nova plataforma, a gente passava a fazer serviços para elas, para as plataformas.
P/1 – Então você trabalhava ligado à parte de manutenção também dos equipamentos?
R – Eu trabalhava no primeiro momento, como não existia oficina em Macaé, eu ficava responsável por fazer a contratação externa de todos os serviços necessários de manutenção para as plataformas. E na seqüência isso fiquei até 82, de 80 a 82 nessa atividade, em 82 eu fui para a área de engenharia submarina que também estava começando a sua atividade.
P/1 – Logo que você chegou na Bacia de Campos, qual era o quadro, o quê que tinha, já tinha a primeira leva das descobertas, como é que estava também a Petrobras lá em Macaé?
R – Eu cheguei em Macaé em janeiro de 1980 junto com a Petrobras. A Petrobras começou as suas atividades na Bacia de Campos em Vitória, a base. E em 80, em janeiro de 80 ela teve a mudança para Macaé. E quando eu cheguei lá estava tudo ainda em construção, as instalações, né, botando piso, foi então bem no início. E o que eu encontrei na Bacia de Campos já, foi exatamente a exploração do Campo de Garoupa, a Petrobras tinha acabado de instalar a primeira unidade de produção, o sistema antecipado de Garoupa, que tinha como navio o PP Moraes.
P/1 – E aí, dessa parte de Garoupa era um sistema diferente de Enchova, né, você pode falar um pouquinho sobre isso também, como era o sistema de Garoupa?
R – O sistema de Garoupa era composto a Petrobras para antecipar a produção na época, ela resolveu colocar um sistema com coletores com um manifold central, né, onde que os nove poços eram coletados nesse manifold, iam para o manifold e do manifold vinha para uma torre de processo onde estava o PP Moraes, o navio de processo, no navio separava o óleo, a água e o gás, o gás queimado, a água era tratada e descartada e o óleo era transferido para a torre de carregamento, onde tinha um petroleiro que encostava e recebia todo este óleo, né? O interessante desse sistema de Garoupa é que na época a gente não tinha os equipamentos marinizados para serem colocados no fundo do mar. Então, no primeiro momento a tecnologia que foi desenvolvida ela adaptou o meio-ambiente aos equipamentos, então é o sistema de segurança que se deu o nome de “árvore de natal”, elas foram colocadas em câmaras atmosféricas, né, e se usava lá dentro os mesmos equipamentos que se usava onshore, em terra. Então foi um sistema que foi desenvolvido inclusive não tinha atividade ainda indústria offshore naquela época e a própria empresa que desenvolveu esse sistema foi a Lockheed, que é uma empresa de aviação, da indústria aeroespacial.
P/1 – E nessa primeira fase de Macaé, lá da Bacia, quais eram as maiores dificuldades que vocês encontravam?
R – A maior dificuldade era encontrar uma infra-estrutura que pudesse dar suporte a essas atividades. Então naquela época Macaé era muito ainda sem recursos, né, sem empresas, então a gente tinha que recorrer ao mercado aqui do Rio de Janeiro, São Paulo, né, outros centros mais adiantados, até a Petrobras montar a sua própria oficina e sua estrutura lá e com isso também as empresas que vieram na seqüência.
P/1 – E assim, até do dia-a-dia do trabalho, você falou que mergulhou na...
R – É, eu não mergulhei, eu tive a oportunidade...
P/1 – Foi em Garoupa?
R - Exatamente.
P/1 – Foi nesse sistema?
R – Esse sistema antecipado de Garoupa, como ele era um sistema atmosférico onde o homem tinha acesso ao fundo do mar e tinha acesso a essas câmaras atmosféricas no fundo do mar, tinha um navio especial com sino de intervenção, aonde iam quatro técnicos e esses técnicos ficavam lá dentro desse sino, passavam para o sino para a câmara embaixo, né, o cilindro em baixo e dava manutenção nos equipamentos. Então eu tive oportunidade de como fiscal do contrato da parte técnica, eu tive a oportunidade inclusive de descer e passar doze horas no fundo lá do poço de Namorado 3 na época.
P/1 – E qual é a sensação de estar lá em baixo, você precisou até; como é que é a história que você teve uma autorização.
R – Não. A Petrobras na época ela não dava, ela não permitia que nenhum técnico, nenhum empregado descesse nesse equipamento, mas como nós estávamos tendo muito problema e a gente queria realmente ter noção do quê que estava ocorrendo, a divisão de manutenção junto com a superintendência na época do ________ resolveu que tinha que ter uma pessoa da Petrobras acompanhando os serviços que estavam sendo feitos nesse poço. Então eu fui autorizado a descer no sino de intervenção.
P/1 – Aí você descia de roupa de mergulho, como é que é descer, explica para a gente.
R – Não, descer você tinha um navio de intervenção onde tinha um sino de mergulho...
P/1 – Você desce no sino.
R – É, você entrava no sino e o sino era colocado na água e através de cabos ele descia até o poço a 200 metros, 250 metros e lá era feito a conexão do sino a câmara atmosférica e através de uma escotilha a gente mudava primeiro o ar, que era nitrogênio lá em baixo, inertizado, a gente mudava para um ar normal que tem na superfície e aí você passava, abria a escotilha e passava a fazer os trabalhos dentro dessa cápsula.
P/1 – Esse sistema não foi duplicado pela Bacia, né, nem a Petrobras continuou a usar?
R – Não, a Petrobras tinha planejado inicialmente usar esse sistema até 1984, até a chegada das sete irmãs, que seriam as sete jaquetas: Garoupa, Namorado 1 e 2, Cherne 1 e 2, Pampo e Enchova. Então o sistema provisório de Garoupa em 1984 ele passou a ser comandado pela própria jaqueta de Garoupa, né, a plataforma de Garoupa. E essa tecnologia – na minha visão – ela foi abandonada em função do monopólio que existia do sino de intervenção. Na época a (Ocean?) que era o braço da Lockheed no Brasil ela se recusou a vender a licença para a Petrobras poder fazer a intervenção sem a (Ocean?), ou seja, passar o know-how deles de conexão do sino. E aí a Petrobras não se interessou, pôde continuar com essa tecnologia e também porque na época a tecnologia molhada estava sendo também desenvolvida, né?
P/1 – E aí você fez especialização em engenharia de equipamentos também e se aperfeiçoou nessa parte de equipamento para o subsea.
R – É.
P/1 – Você pode falar um pouquinho?
R – A partir de 82 eu quando comecei a trabalhar com sistemas submarinos eu foquei nessa área, né, até 89. Eu tive uma oportunidade, fui convidado para desenvolver um sistema multiplexado de controle para águas profundas, né, para os grandes equipamentos que seriam instalados nos campos de águas profundas; uma coisa interessante aqui, voltando um pouquinho atrás, quando eu cheguei na Petrobras a Petrobras estava explorando águas ultraprofundas, e era de 100 a 250 metros, hoje 100, 250 metros a água é rasa, né? A gente considera ultra-profunda hoje 2 mil, 2 mil e 500 metros, né? Então existe uma mudança de entendimento assim do que...
P/1 – Do limite...
R – Do limite.
P/1 - Do conceito do limite.
R – É. Então, voltando ao que eu estava falando, então eu foquei na parte de engenharia submarina, né, uma área que não existia ainda nenhuma atividade, uma indústria offshore que é subsea que existe, então eu foquei nessa parte, fui convidado em 89 para desenvolver esse sistema para águas profundas, isso aí campos com profundidades maiores que 300 metros, diverless, onde você não pode usar o homem para auxiliar, seria tudo remoto já. Então eu desenvolvi um sistema multiplexado, tive a oportunidade e na minha volta ao Brasil, fiquei um ano e quatro meses fora, na minha volta depois de instalar o sistema...
P/1 – Você ficou aonde?
R – Na Noruega, em Oslo. Na minha volta eu fui convidado para coordenar um grupo para desenvolver, disseminar, absorver a tecnologia, disseminar a tecnologia dos grandes sistemas submarinos de águas profundas, que é o que eu faço até hoje.
P/1 – E eu queria também, enfim, até a sua própria especialização, o seu próprio mestrado, isso se deveu também com os novos campos, né, que foi uma necessidade que a própria Petrobras foi vendo que ela ia ter que suprir. Como é que foi a descoberta dos supercampos, como é que vocês sentiram?
R – Não, a descoberta dos campos, né, a Petrobras sempre por ter o óleo offshore, né, o Brasil aqui tem a Bacia de Campos, ela teve sempre que correr na frente dos outros para poder desenvolver tecnologias. Então o que eu sentia e sinto é exatamente esse desafio de estar sempre no limite da tecnologia, sempre implementando novas tecnologias, testando, desenvolvendo. Então hoje a Petrobras é líder nessa área, realmente é e em função desse desafio que nós temos e das facilidades que a própria Petrobras dá para os técnicos de desenvolver, a liberdade, né, para desenvolver essa tecnologia.
P/1 – E assim, dessa época também então você já com a parte dos equipamentos, qual era o teu maior desafio, você falou desse controle multiplexado?
R – Não, o maior desafio, quer dizer, o maior desafio ele... A gente nunca sabe qual é o maior desafio, né? (riso) Cada momento a gente acha que chegou a um limite, mas nunca a gente chega. Os campos anteriormente a gente tinha pressão de 100 bar, hoje a gente tem campos de gás lá na área de Mexilhão com 560 bar, então é outro tipo de sistema submarino, são outros cuidados, outros riscos, né, que nós temos sempre que estar bem atualizados. Mas o grande desafio foi que eu vejo assim um projeto muito interessante que eu participei, foi a instalação de equipamentos, de grandes equipamentos em grandes profundidades através do método pendular. Então tem uma tecnologia aí que só a Petrobras tem que ela consegue instalar equipamentos diferenciados de todos os outros operadores através de cabos, né?
P/1 – O desafio era o tamanho dos equipamentos ou era o próprio método pendular?
R – Não, o desafio era o método pendular, você conseguir instalar um equipamento jogando ele. Em outras palavras, praticamente jogando ele, soltando ele na superfície e ele vai até o fundo sem necessidade de guindastes, sem nada, seria só pela própria gravidade e o amortecimento da água, esse é um projeto que foi desenvolvido aí a dois, três anos atrás e já utilizado com sucesso no Campo de Roncador, para a instalação de dois manifolds.
P/1 – Vocês jogam sem amarra nenhuma e ele desenvolve uma...
R – Não, a gente estica um cabo de poliéster, segura num navio que tem um guincho, e solta o equipamento de 300 toneladas e ele vai formando um pêndulo até chegar no fundo.
P/1 – Que é calculado essa trajetória dele.
R – É, em vinte minutos ele chega ao fundo, perto do fundo e depois você desce com o guincho até a posição, posiciona o equipamento no mar. Foi um grande desafio.
P/1 – E o quê que foi a grande mudança na parte de equipamentos, Edson, o quê que foi o, eu acho que também desde que você entrou até hoje?
R – A grande mudança, como eu falei anteriormente, a mudança dos equipamentos em função da mudança dos campos, né, então as pressões, as temperaturas, os volumes de óleo produzido. Antigamente um campo até 85, 87, um campo de 600 metros cúbicos era um campo, um poço, desculpe, um poço de 600 metros cúbicos era um poço de alta vazão. Hoje a gente tem poço que ultrapassa 2mil e 500 metros cúbicos de óleo, então é uma coisa totalmente diferente, é pressões de 100, hoje com 560 quilos de pressão, 560 bar de pressão. Então isso aí é muito difícil. Então equipamento a gente tem que acompanhar essa necessidade, e aí você tem que desenvolver novas tecnologias para fazer isso. Agora, o marco que nós temos também é exatamente sair da águas rasas que vai até 300 metros, onde você tem mergulho, onde o mergulhador vai fazer todo o trabalho de intervenção, para águas profundas, onde é tudo diverless. Então você teve que desenvolver, é um marco onde você teve que mudar toda a parte de tecnologia dos equipamentos, para poder agora ser tudo com atuação remota.
P/1 – Tá. E aí, depois que você fez a sua especialização você voltou a... Você nunca chegou a morar em Macaé.
R – Não, eu morei em Macaé durante 23 anos, eu morei de 80 a...
P/1 – Morou mesmo.
R – Não, morei mesmo. E eu vim fazer a minha especialização depois quando eu fui transferido para o Rio de Janeiro.
P/1 – E aí para o Rio você voltou depois, veio quando?
R – Eu vim para o Rio em 2003, né, vim trabalhar no Campo de Albacora Leste onde teríamos um sistema submarino de grande porte, né eu trabalhei lá no Campo de Albacora Leste, depois fui transferido para o Campo de Roncador, que foi um outro desafio, a P52 que substituiu a antiga P36. Então foi também um sistema muito grande que fiquei dedicado a esse equipamento, na seqüência fui transferido para o suporte técnico da própria UN-Rio e trabalhei nos campos de Mexilhão, na PRA, na Plataforma e Re-bombeio Autônomo...
P/1 – Perdão, pode repetir?
R – Pra é Plataforma e Re-bombeio Autônomo, onde o óleo da área norte daqui da Bacia de Campos, principalmente do Campo de Roncador, vai para essa plataforma e dela vai para um petroleiro que manda o óleo, exporta o óleo por duas monobóias.
P/1 – Quando você fala “aí eu fiquei trabalhando em Albacora...”, você ficava ligado a plataforma ou num equipamento específico?
R – Não, eu ficava ligado a toda a parte, todo arranjo de todo equipamento de submarino, toda parte abaixo da linha d’água.
P/1 – E dá muito problema?
R – Hã?
P/1 - Como é a manutenção de todo esse equipamento de uma plataforma?
R – Não, esse... Hã.
P/1 – Que tipo de problema que aparece, para a gente que não tem a menor idéia, e qual é a vazão assim, é muito corriqueiro, dá problema toda hora?
R – Não, não dá problema toda hora. Os equipamentos, os sistemas submarinos eles são projetados em cima de uma tecnologia, de uma análise de confiabilidade, né, quando você analisa a confiabilidade dos componentes, a manutenibilidade que é a capacidade que você tem de restabelecer as condições de premissas de projeto após uma falha, né, e a disponibilidade, ou seja, esses três conjuntos vão te garantir que você vai ter o sistema submarino, o sistema de escoamento disponível para escoar o óleo produzido. O sistema submarino ele não produz nada, ele viabiliza o escoamento do óleo que vem do reservatório, né? Então a gente tem que manter aquele sistema disponível. Então, através de estudos a gente definiu quais são os componentes que vão necessitar de manutenção durante a vida útil do sistema e aí a gente coloca esses equipamentos em (modos?) recuperáveis, (módulos?) recuperáveis e aí você faz, no caso de uma necessidade de uma manutenção, você faz a troca desses módulos em menos de um dia, para evitar a perda de produção.
P/1 – Você tem que estar sempre antecipando, né?
R – É, o sistema submarino ele tem um sistema supervisório que ele vai informando problemas, geralmente nós temos backups e aí a gente já programa, faz uma intervenção programada, né, através da troca desses módulos. Mas não é rotina ficar apresentando problema.
P/1 – Dessa parte toda desses anos todos de trabalho, qual foi a que te deu mais alegria, assim um projeto que você tenha participado que tenha sido “o seu projeto”?
R – Olha, todo projeto me dá alegria, né? (riso) Então eu acho que quem trabalha nessa parte, apesar de ter muita responsabilidade e ter muita preocupação, a alegria é muito grande quando você começa um projeto desde o primeiro desenho e você coloca em operação e aquele sistema você cruza os dedos para saber se ele vai realmente funcionar de acordo com o projeto e você tem oportunidade aqui na Petrobras, na minha atividade, de ver aquele iniciar aquela produção e funcionar de acordo com o que foi planejado. (riso) Então isso aí é uma coisa que toda vez dá uma, apesar do stress, quando nós chegamos ao final aí você tem aquela alegria.
P/1 – E aquele problemão que você tem até que ir lá embarcar, qual foi o maior?
R – (riso) Ah, o maior problema que para embarcar? O maior problema que eu tive, que realmente preocupou foram os primeiros manifolds instalados nos campos de Albacora, em que nós tivemos um vazamento nos clamps hidráulicos e eu fiquei lá, o superintendente falou assim: “Ó, agora você vai e só volta no dia que você resolver isso, senão você pode ficar por lá”.(riso) Então, realmente, contando hoje é tranqüilo, mas na época foi um stress.
P/1 – Mas você custou a voltar?
R – Custei um pouquinho.(riso)
P/1 – O manifold de Albacora tem uma novidade, não tem? É algum marco também?
R – O de Albacora...
P/1 - Eu acho que eu já vi o manifold de Albacora, não tem uma diferença?
R – Tem, o manifold de Albacora é o primeiro manifold diverless, ou seja, que toda a tecnologia é diverless, né? Então esse foi o primeiro sistema de grande porte diverless instalado na Bacia de Campos, que foi instalado em 1996.
P/1 – Então tá. Quem é o trabalhador da Bacia de Campos, Edson, você é de Recife, né, e também tem uma certa diversidade, né?
R – Hum, hum.
P/1 – Era uma cidade pequena que não tinha quase nada, de repente a Petrobras tomou ali e inchou a cidade de gente. Quem é esse trabalhador que passa por ali?
R – Em Macaé, né?
P/1 – É, que mora, ou até não mora no estado, mora em outro estado, vem, embarca e vai embora, como é que é, tem muita gente diferente?
R – Tem, tem. Você encontra, é interessante, você encontra pessoas de todos os lugares, não só do Brasil, mas também de fora, né, você tem oportunidade de conviver com várias culturas, né, e realmente o que é interessante é que esse grupo é heterogêneo ele se transforma numa família quando está numa plataforma, quando está num navio desses, então todo mundo tem aquela, aquela responsabilidade dentro da embarcação, se cuida, cuida das instalações. Então está todo mundo ali se transformando numa família, apesar das diferenças, né, dos costumes. Então isso é uma coisa que é muito gratificante você ter a oportunidade de conviver com essa situação.
P/1 – E tem muita brincadeira também com isso,
R – Tem.(riso)
P/1 – Com essas diferenças?
R – Não, tem brincadeira tem na plataforma, principalmente no passado, né, hoje em dia é mais formal assim, hoje com SMS e tudo não se deixa muito, assim, a gente procura não brincar muito, mas mesmo assim brinca, mas antigamente brincava...
P/1 – Me conta uma brincadeira.
R – Hã?
P/1 – Me conta uma brincadeira.
R - Brincava.(riso)
P/1 – Tinha trote?
R – Tinha trote, no PP Moraes na época a gente brincava muito, chegava, é, cada um que chegava eles sempre faziam brincadeiras, geralmente o pessoal novo, dizia que ia ter festa, que vinha as meninas de fora, e aí não tinha, não existia nada, mas aí, às vezes a pessoa nova achava que realmente ia ter alguma, no domingo ia ter alguma festa, alguma coisa, então...
P/1 – Ficava esperando.
R – Esperando. Tem casos aí engraçados aí na Bacia.
P/1 – Me conta um caso, me conta uma história, um caso...
R – Hã?
P/1 – Alguma coisa que você se lembre, ou até uma outra história também que tenha te marcado, qualquer coisa.
R – Na Bacia de Campos?
P/1 – É.
R – Olha, têm várias assim que marcam, né, mas eu não sei assim no momento eu não teria assim uma, não teria uma assim que eu consiga identificar, né?(riso)
P/1 – E assim de acidente.
R – De acidente eu tenho, que também me marcou muito, né? No acidente de Enchova, eu perdi o engenheiro de instrumentação que trabalhava comigo direto, todo dia eu tinha contato com ele, então foi uma coisa que me marcou muito. É o acidente...
P/1 – Como é que era o nome dele?
R – Eu não me lembro agora não, mas isso me marcou muito durante muitos anos, né, acho que foi logo no início da década de 80 e ele veio a falecer, né, (as 36?) pessoas se eu não me engano, foi o acidente da baleeira, isso me marcou muito, né? Também eu tive um outro acidente que ocorreu, com o falecimento do técnico do (Mapman?) de motores, o (Mapman?). Esse técnico ele ficava todos os dias de 7:00 às 7:30, ele vinha até a minha mesa para a gente saber de toda situação de todos os geradores, todos... Então todos os dias. E um dia ele estava com problemas no motor, ele falou: “Ó, embarca”, ele embarca, e ele embarcou e o helicóptero caiu e ele faleceu. Então esses momentos aí também a gente lembra sempre, né, infelizmente. Mas faz parte também.
P/1 – Do próprio crescimento físico da Petrobras você pode falar lá em Campo, lá em Macaé?
R – É, a Petrobras ela desde o primeiro momento ela veio crescendo muito, né, o que eu reclamo assim, vamos dizer, de Macaé, a Petrobras ela trouxe muita coisa boa, mas infelizmente o que eu vejo é que a cidade não acompanhou, as pessoas da cidade, a comunidade local, os políticos, eles não acompanharam o crescimento da Petrobras. Então Macaé hoje é uma cidade um pouco desorganizada, né? Mas a Petrobras ela procura, sempre procurou fazer de tudo por Macaé (mesmo?), agora, é difícil porque você tem a parte política, né, que fez com que a cidade, na minha visão, ela não acompanhasse. É muito difícil você ter a visão da velocidade de que a Petrobras se desenvolve, né, de uma pessoa de fora, não dá para ter essa visão, é muito difícil.
P/1 – Edson, e quando você vai para Macaé você fica aonde lá, em Santa Mônica, vai para... São vários prédios.
R – É, hoje eu voltei, eu estou lotado novamente em Macaé, num posto avançado aqui no Rio de Janeiro, no Ouro Negro. Mas eu vou freqüentemente para Macaé, eu estou ligado a US-Sub, que é parte de engenharia submarina, que fica no Edifício Santa Mônica.
P/1 – Então tá. Eu queria que você, se quisesse deixar alguma coisa registrada que a gente também não conversou.
R – Não, assim, registrado, é importante esse trabalho que vocês estão fazendo, né, eu acho que a Petrobras até tarde, porque realmente a gente não pode esquecer o passado da Bacia de Campos. Muitas vezes o pessoal, principalmente agora, graças a Deus que está entrando um grupo bom, todo o pessoal mais novo, né, porque eu já estou quase, daqui a cinco, sete anos eu vou estar aposentado, então esse pessoal novo que está entrando, mas é importante à vezes a gente vê alguém falando mal, “Ó, isso aqui não funciona, é um absurdo terem colocado esse equipamento lá no fundo”, né, mas tem que lembrar esse passado de desenvolvimento. Tem equipamentos que estão instalados há 20 anos, que tinha vida útil de dez e funcionou até hoje. Lógico, o equipamento de 20 anos não tem a mesma tecnologia da que tem hoje. Então é muito importante lembrar do passado para poder desenvolver as coisas novas, sabendo que teve alguém e sabendo que esse know-how foi sendo adquirido durante os anos. O que eu fico contente hoje, o que eu vejo é que esse pessoal novo que está entrando é um pessoal muito bom mesmo, né, que está rapidamente absorvendo essa tecnologia que nós desenvolvemos durante os anos, né, que vai poder pra frente aí levar a Petrobras, continuar com a Petrobras no mesmo nível que ela está alcançando hoje, né?
P/1 – Vocês fazem uma reposição, vocês vão renovando esses equipamentos, você mencionou isso aí?
R – Sim.
P/1 – Tem equipamento antigo, vocês têm um planejamento de modificação e de renovação?
R – Temos um planejamento, na Petrobras tem esse planejamento, hoje nós temos alguns sistemas, estamos fazendo adensamento da malha, em alguns casos até (retirando uma?) plataforma e botando tudo subsea, né, tudo com sistema submarino. Isso aí tem um ganho grande e também melhora a eficiência dos campos antigos. Então tem esses programas sim, tá?
P/1 – Você falou da importância do passado, a importância de registrar, eu queria que você, que trabalhou lá desde o início me dissesse como você vê a importância da bacia para o próprio país, para o Brasil.
R – A importância da Bacia de Campos para o país eu acho que cada dia mais a gente tem um filme aqui que registra a preocupação com a falta de óleo, né, o mercado, a escassez do produto, (isso em?) 80, quando eu entrei na Petrobras se falava “ó, não vai ter petróleo mais para os próximos dez anos, não vai conseguir mais ter gasolina para o carro”, e hoje a gente dá graças a Deus porque está uma crise tremenda lá fora, mas a Petrobras hoje praticamente colocou o país auto-suficiente. Então a importância eu vejo é muito grande, né, eu hoje eu vejo o Brasil numa condição de conforto na parte financeira e tudo, muito em função de não ter uma conta petróleo tão alta, né? Então foi muito importante esse trabalho aí da Bacia de Campos. Foi, está sendo e eu acho que vai continuar sendo muito importante.
P/1 – O quê que você sentiu por ocasião da festa da auto-suficiência, você se sentiu parte daquela festa?
R – Me senti parte da festa. Eu acho que não só o empregado Petrobras, mas até todo brasileiro, né, você se sente ali orgulhoso de estar numa situação, apesar de que muitas... só os empregados, como eu, eu como empregado está de perto nessas...(tô ali?) contribuindo de perto, mas é uma coisa que dá uma satisfação muito grande para a gente, brasileiro; como brasileiro e como empregado da Petrobras. Então eu me senti realmente, vamos dizer, super-gratificado com aquela situação.
P/1 – Você se sente um petroleiro?
R – Eu me sinto um petroleiro mesmo.(riso)
P/1 – E qual é a alma do petroleiro?
R – A alma do petroleiro, na minha atividade, é não ter limite para nada. Então, assim, todos e quaisquer desafios que venham pela frente a gente encara e vai resolver. Se não tiver dado certo é porque ainda não terminou. Mas vai dar certo. Então a gente não tem pessimismo, a gente só tem otimismo, né? Então você fala o seguinte: “Vamos desenvolver alguma tecnologia?”, “- Vamos!” E a coisa interessante que não existe uma formalidade, até na informalidade se junta o grupo e aquele grupo multidisciplinar resolve, faz e todo mundo sendo otimista realmente coloca aquela tecnologia disponível.
P/1 – Há uma integração dos trabalhos, faz parte também.
R – Há uma integração grande dentro daqui da nossa atividade, não só local, mas eu digo de toda a Petrobras, né, o Centro de Pesquisa, nós trabalhamos com o Centro de Pesquisa, com a sede, as UNs, a própria US-Sub que dá a parte submarina ____, então existe uma integração muito grande dos técnicos e uma ajuda muito grande de todos.
P/1 – Então tá. Edson, infelizmente a gente vai terminando a nossa entrevista e eu queria perguntar, só para encerrar, se você gostou de ter participado aqui do Projeto Memória, de estar contribuindo.
R – É, eu gostei demais de ter participado. Eu não tenho assim; o tempo inteiro é viajando, é saindo, é em reunião, mas é gratificante você poder reservar um tempinho para poder falar um pouco da Bacia de Campos. Como eu falei anteriormente, isso aí eu acho que é uma coisa superimportante você guardar o passado, né, para poder realmente até servir como ferramenta para o futuro, né?
P/1 –Então tá, Edson, a gente agradece você ter vindo aqui mesmo viajando, já com todo o seu tempo curto. Muito obrigada.
R – Tá ok, muito obrigado também.(riso)
(Fim da fita CBMBac nr. 125)
- (se deu o nome?)
- (Canotions?)
- (modos?)
- (as 36?)
- (re-bombeio?)
- (clampis?)
- (Mapman?)
- (mesmo?)
- (retirando uma?)
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