Memória Petrobras
Depoimento de Dorodame Leitão
Entrevistado por Márcia de Paiva e Inês Gouveia
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2008.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_HV117
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
P/1 – Eu queria começar a entrevista pedindo que o senhor nos diga seu nome completo, o local e a data de nascimento?
R – Dorodome Moura Leitão, eu nasci em Recife, Pernambuco em 24 de outubro de 1932.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Sílvio Bélico Leitão e Cecília de Moura Leitão.
P/1 – Eles nasceram em Recife também?
R – Não, meu pai nasceu na Paraíba, mas é de uma família pernambucana e minha mãe é de uma família maranhense, nasceu em São Luís.
P/1 – Você nasceu em Recife, eles estavam morando lá? Como é que foi? Você passou a sua infância lá?
R – Não, meu pai veio para o Rio quando eu tinha dois anos, na realidade eu fui conhecer Recife já rapaz, né? Mas ele veio pro Rio quando eu tinha dois anos e embora várias vezes minha mãe tenha voltado, porque a família dela ficou lá em Recife, né? Ela voltava ao Recife na época que se viajava de navio, eu me lembro das viagens de navio pra Recife, até a segunda guerra mundial quando começaram a torpedear os navios.
P/1 – Era o Ita?
R – Não, não era o Ita não, era um... Eu não me lembro o nome dos navios, mas talvez fosse até do Ita, né? E aí eu era muito pequeno, ainda muito criança a última vez que eu tive em Recife ainda em criança, acho que foi em 39, eu não me lembro direito, eu só fui conhecer Recife já rapaz.
P/1 – E aqui no Rio como é que foi a sua infância? Você cresceu onde?
R – Eu cresci principalmente no Leblon, porque meu pai foi morar no Leblon quando eu tinha oito anos, o Leblon era praticamente uma cidade do interior, né? Eram terrenos baldios era um paraíso, eu até escrevi um livrinho sobre isso, a minha infância e a minha vida e o que eu me lembrava da minha...
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Depoimento de Dorodame Leitão
Entrevistado por Márcia de Paiva e Inês Gouveia
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2008.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_HV117
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
P/1 – Eu queria começar a entrevista pedindo que o senhor nos diga seu nome completo, o local e a data de nascimento?
R – Dorodome Moura Leitão, eu nasci em Recife, Pernambuco em 24 de outubro de 1932.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Sílvio Bélico Leitão e Cecília de Moura Leitão.
P/1 – Eles nasceram em Recife também?
R – Não, meu pai nasceu na Paraíba, mas é de uma família pernambucana e minha mãe é de uma família maranhense, nasceu em São Luís.
P/1 – Você nasceu em Recife, eles estavam morando lá? Como é que foi? Você passou a sua infância lá?
R – Não, meu pai veio para o Rio quando eu tinha dois anos, na realidade eu fui conhecer Recife já rapaz, né? Mas ele veio pro Rio quando eu tinha dois anos e embora várias vezes minha mãe tenha voltado, porque a família dela ficou lá em Recife, né? Ela voltava ao Recife na época que se viajava de navio, eu me lembro das viagens de navio pra Recife, até a segunda guerra mundial quando começaram a torpedear os navios.
P/1 – Era o Ita?
R – Não, não era o Ita não, era um... Eu não me lembro o nome dos navios, mas talvez fosse até do Ita, né? E aí eu era muito pequeno, ainda muito criança a última vez que eu tive em Recife ainda em criança, acho que foi em 39, eu não me lembro direito, eu só fui conhecer Recife já rapaz.
P/1 – E aqui no Rio como é que foi a sua infância? Você cresceu onde?
R – Eu cresci principalmente no Leblon, porque meu pai foi morar no Leblon quando eu tinha oito anos, o Leblon era praticamente uma cidade do interior, né? Eram terrenos baldios era um paraíso, eu até escrevi um livrinho sobre isso, a minha infância e a minha vida e o que eu me lembrava da minha infância e minha juventude no Leblon, né?
P/1 – É ótimo recupera a história do bairro, né?
R – Exatamente, inclusive foi um pessoal da Ama Leblon se interessou pelo livro depois, mas eu sempre morei no Leblon.
P/1 – E estudou onde?
R – Eu estudei na Escola Nacional de Engenharia que era na época que eu estudei...
P/1 – Não, escolinha ainda?
R – Ah, escolinha? Ainda o primário? Eu estudei no primário no Liceu Brasileiro que era um colégio que tinha lá.
P/1 – O de Laranjeiras?
R – Não, no Leblon mesmo, era uma escolinha pequena, eu fiz o primário ali, quer dizer o final do primário o terceiro e o quarto ano, depois eu fiz concurso pro colégio militar, porque a minha primeira vocação era ser militar. O meu avô pai do meu pai, ele tinha lutado na guerra do Paraguai e meu pai contava as histórias dele e tal e despertou em mim essa vocação, né? Então eu entrei pro colégio militar fiz o ginásio e o científico no colégio militar que era na Tijuca, então todo dia eu viajava do Leblon até a Tijuca e voltava. Nos dois primeiros anos eu fui interno, depois eu acabei não sendo interno passava o dia todo no colégio e vinha dormir em casa, né? Mas quando terminei o curso no colégio militar eu vi que não tinha vocação pra ser militar aí eu fiz vestibular pra engenharia.
P/1 – Deixa eu só recuperar também a origem do seu nome, o senhor me contou por telefone, mas eu queria que você falasse, porque é interessante?
R – O meu nome foi inventado pelo meu pai, porque os pais dele tinham morrido um pouco antes do meu nascimento, então ele quis homenagear os dois ao mesmo tempo e inventou esse nome aí que eu sou o único nem meu filho tem esse nome. É Dorotéia que era o nome da minha avó, então ficou Doro e o nome do meu avô era Damião ficou Dami e botou um e no final e ficou Dorodame às vezes me perguntam se meu nome é francês por causa desse dame aí no final, mas foi invenção do meu pai mesmo. Na realidade quando ele me batizou, ele me batizou como Sílvio Dorodame, porque o padre não aceitava esse nome que era considerado um nome pagão, né? Naquela época tinha essas coisas, então ele colocou Sílvio Dorodame, eu tenho inclusive alguns cartõezinhos que ele mandou fazer como Sílvio Dorodame, mas na hora do registro ele retirou o Sílvio que era o nome dele, né? Ele tirou o Sílvio e colocou só Dorodame. Ele colocou Sílvio acho que na hora, porque o padre não quis batizar como Dorodame, aí ele colocou o nome dele que era Sílvio Dorodame.
P/1 – E aí na escola de Engenharia você fez... Correspondeu as suas expectativas?
R – Correspondeu. Na realidade eu fui pra escola de Engenharia porque eu gostava muito de Matemática, no colégio militar o forte era a Matemática. Então, por exemplo, no terceiro, no segundo no científico de uma forma geral a gente tinha que estudar... Em vez de estudar uma matéria de Matemática a gente tinha três matérias diferentes separadas, três provas. Então eu gostava muito de Matemática e fui pra Engenharia por causa disso, embora eu sempre tivesse atração por uma coisa assim diferente, acabei sendo engenheiro civil por conveniência, né? Porque a Escola de Engenharia naquela época 80% da turma saíam pra engenheiro civil que era o mercado de trabalho que tinha naquela época no Brasil ainda não tinha começado essa industrialização, eu me formei em 1958.
P/1 – E aí qual foi o seu primeiro emprego?
R – Aí eu trabalhei... Durante o tempo que eu era estudante de Engenharia, eu fiz concurso pro Banco do Brasil e passei, fui escriturário do Banco do Brasil durante o curso de Engenharia, eu trabalhei no Banco do Brasil na carteira de crédito agrícola e industrial.
P/1 – E aí trabalhava e estudava?
R – Eu trabalhava e estudava, passava a parte da manhã na escola, eu saía cedinho de casa tinha aula de sete e meia, oito horas por aí até 11 horas, às 11 horas eu saía, almoçava no restaurante da escola que era na Luís de Camões e andava a Rua do Ouvidor todinha, porque eu trabalhava lá na Rua do Rosário nº 1 na carteira de crédito agrícola e industrial. Eu trabalhava lá de meio dia as seis, eu tinha que sair da escola às 11 horas porque a gente tinha que bater ponto, né? Lá no Banco, era de quinze pra meio dia até meio dia o limite máximo e saía seis horas e voltava pra casa.
P/1 – E aí como é que apareceu a opção da Petrobras?
R – A Petrobras... Eu acompanhei a Petrobras naquela campanha “o petróleo é nosso” eu era aluno do colégio militar ainda, né? Acompanhei a distância porque uma das coisas que o colégio militar criava na gente era o espírito nacionalista, a defesa dos interesses do país e tal. Então eu sempre tive isso muito forte na minha personalidade e quando eu estava no segundo ano da Escola de Engenharia, o Presidente da Petrobras é uma coisa interessante, o presidente da Petrobras ia nas escolas pra fazer propaganda da Petrobras. Então ele fez uma palestra sobre a Petrobras, as perspectivas da Petrobras, a Petrobras tinha sido criada em 53 e começou a funcionar em 54 quando eu estava no primeiro ano da escola de Engenharia. E aí ficou na minha cabeça a idéia dessa alternativa da Petrobras por dois motivos um pelo aspecto nacionalista, quer dizer de você trabalhar numa empresa que o objetivo desenvolveu pra isso e a outra por causa daquela atração por uma tecnologia nova que não tinha ninguém no Brasil que conhecesse. Eu sempre tive uma atração e como eu trabalhei em Engenharia Civil durante o curso eu trabalhei, tive alguns projetos difíceis, mas eu achava aquilo... Ninguém gostava, era muito repetitivo não tinha nada pra criar ali, então a Engenharia Civil não me atraía muito, embora no último ano eu tenha feito uma especialização de Pontes e Grandes Estruturas é uma coisa interessante, porque em 1958 quando eu terminei, eu era especialista em Pontes e Grandes Estruturas. Em 1960 eu estava operando uma refinaria de petróleo que eu nunca sabia nem o que era, uma refinaria eu nem sabia o que era isso, em 1960, em março de 1960 eu estava em Mataripe e depois de um mês mais ou menos eu já estava como responsável pela operação da unidade.
P/1 – Vamos com calma, aí você entrou, fez um curso também de refino? Como é que foi?
R – Aí eu em 1958 quando eu terminei o curso eu tinha três alternativas uma era passar pro quadro de Engenharia do Banco e era muito difícil passar pro quadro de engenharia no Banco, embora muitos colegas meus de turma da escola de Engenharia que trabalhavam no Banco também e ficaram no Banco e tenham passado depois. Depois de alguns anos passaram pro banco e principalmente por causa da construção de Brasília que era mais ou menos nessa época e o Banco estava construindo sede lá em Brasília. Então aumentou o quadro de engenheiros, essa era uma alternativa, ta? A outra era trabalhar como projetista com um conhecido meu que eu já tinha trabalhado com ele, eu fiz dois ou três projetos fui eu que fiz, ajudei a fazer como estudante ainda, né? Então ele me chamou pra continuar com ele, eu trabalharia no Banco como escriturário e no outro horário como engenheiro projetista. E a terceira era entrar na Petrobras que era fechar o Banco e começar uma coisa completamente nova e eu optei por essa por causa dessas razões que eu citei, né? A idéia da Petrobras era fazer uma coisa nova o Brasil que ninguém conhecia, né? Aí quando eu estava no último ano da Escola de Engenharia eu fiz o concurso da Petrobras fui aprovado e em janeiro de 59, eu me formei em dezembro de 58 e em janeiro de 59 eu comecei o curso que naquela época se chamava curso de refinação e depois mudaram pra engenharia de Processamentos. Eu pedi licença do Banco sem vencimento durante um ano, porque o curso era eliminatório, a minha turma começou 30 e poucos e terminaram 20 e poucos só, o curso era eliminatório se não tirasse determinadas notas era afastado do curso. Então para me garantir, eu era engenheiro civil e o curso era mais voltado pra Engenharia Química, porque na Escola de Engenharia a gente só estudou Química no segundo ano que era uma Química Industrial, eles não davam muita importância, mas como a Petrobras naquela época... Quer dizer o Brasil naquela época tinha pouco engenheiro químico, então o curso de refinação que era mais voltado pra Engenharia Química aceitava engenheiros civis também, era... Eu disse 80% ou 90% dos engenheiros formados no Brasil eram engenheiros civis, porque era o mercado de trabalho que tinha era na Engenharia Civil. Então eu fiz o curso fui aprovado me saí bem no curso.
P/1 – Como é que era o quadro do CENPS no curso? Ainda tinha muito estrangeiro?
R – Tinha, o curso tinha um período introdutório pra uniformização de conhecimentos, aí eram professores todos brasileiros o pessoal que tinha entrado na Petrobras nos anos anteriores e tinha ficado no curso pra dar aula. E tinha professores da Escola de Química também, inclusive um deles foi o melhor professor que eu tive o professor Paulo Emílio Barbosa que dava Termodinâmica e o professor Alberto Luís Coimbra que foi o que criou a COP, anos depois ele criou a COP foram dois professores de destaque, né? Eram professores da Escola de Química e depois nós tivemos dois períodos de aula voltada pra indústria de petróleo, aí entravam os estrangeiros. Eu tive aula com o professor Willians que era o coordenador do curso também, era um canadense, tive com o Wendro e o... Eu não estou lembrado agora, mas eram três professores estrangeiros, né? E o professor Paulo Emílio Barbosa que tinha dado aula no introdutório também e continuava dando aula e tinham os assistentes que um dos quais era a Dona Glória que foi minha professora.
P/1 – A Dona Glória Odoni? E houve estágio durante o curso?
R - Exato. O curso tinha um período introdutório e depois de dois meses que era pra uniformizar conhecimentos, porque ali no curso tinha engenheiros civis que eram maioria, tinha engenheiros químicos, tinha químicos industriais, tinha até licenciado de química, da Escola de Filosofia também eles aceitavam e os engenheiros civis, né? Então havia uma uniformização de conhecimentos no período introdutório, depois tinha dois períodos de três meses que era... A gente entrava na indústria de petróleo mesmo e depois desses dois períodos, aí nós fomos pra um estágio prático em Mataripe, nessa ocasião a Petrobras só tinha duas refinarias era Mataripe e Cubatão, Mataripe foi criada antes da Petrobras, foi criada em 1950 e Cubatão estava em construção quando criaram a Petrobras. Nessa ocasião a refinaria já estava funcionando em 1959, aí nós fomos pra Mataripe ficamos seis meses lá em Mataripe em estágio, estava preparando para dar a partida numa nova unidade na área de lubrificantes e tal.
P/1 – Mas ainda era uma refinaria pequena?
R – Era uma refinaria pequena porque tinha só duas unidades antigas que foram construídas em 1950, que foi quando começou a funcionara refinaria, né? E estava crescendo pra poder ter essas novas unidades foi o primeiro FCC da Petrobras foi feito em Mataripe e as unidades de lubrificantes, porque o Brasil não produzia óleo... Então a primeira unidade de lubrificante foi lá em Mataripe.
P/1 – Eu queria que o senhor explicasse também o que é FCC pra quem não é da área...
R – FCC é o fluid catalitic Craking em inglês que é o tratamento catalítico fluido que é uma unidade de refinação de petróleo que não exista no Brasil nessa ocasião, né? A primeira unidade foi construída lá em Mataripe, né? E tinha todas as unidades, porque eram sete unidades para produção de óleo lubrificante, então era muita coisa nova acontecendo em Mataripe, enquanto isso Cubatão já era uma refinaria mais ou menos saturada de pessoal naquela ocasião, né? Então nós estagiamos lá durante seis meses, participando da operação como estagiário, né? E voltamos pro Rio pra terminar o curso e terminamos em fevereiro de 1960, aí tinha a escolha dos locais pra onde é que a gente ia e eu escolhi Mataripe, exatamente por causa da oportunidade de aprender mais, né? Porque Cubatão é uma refinaria mais ou menos já estava estabilizada, não tinha nada novo funcionando e em Mataripe tinha essa possibilidade.
P/1 – De crescer, de crescimento?
R – De aprender, porque eu queria... Eu fui convidado inclusive pra ficar no CENAP, porque naquela época o curso era dado no CENAP e eu fui o segundo colocado da turma e fui convidado pra ficar no CENAP, porque o CENAP convidava os melhores colocados da turma pra ficarem lá como professores, pra serem treinados pra ficarem como professores. Então eu combinei com o professor Willians que era o coordenador do curso o chefe que eu precisava um estágio, eu queria um estágio em refinaria, eu queria passar uns anos trabalhando em refinaria pra depois vir por CENAP, aí eu fui pra Mataripe.
P/2 – Foi sozinho ou já estava casado?
R – Eu estava casado.
P/2 – Já estava casado.
R – Eu me casei no último ano da Escola de Engenharia e aí fui pra lá pra Mataripe e Mataripe estava lotado, porque tinha muito americano lá, porque tava dando partida nas unidades todas e a firma projetista tinha lá uns operadores, até terminarem a operação os operadores ficavam lá, né?
P/1 – Os americanos estavam lá durante essa reforma ou eles tomavam conta da operação?
R – Não, eles ficavam até a unidade ser aceita pela Petrobras, eles fizeram o projeto, acompanharam a montagem e participavam da operação, nas primeiras operações.
P/1 – Isso pra essa unidade da FCC?
R – Não, pra todas as unidades novas.
P/1 – Ah, pra todas as unidades novas?
R – Tinha o FCC tinha duas unidades antes do FCC e tinha todas as unidades de lubrificantes que era a primeira vez que no Brasil estava tentando produzir óleo lubrificante.
P/2 – E aí quais foram as suas atividades? Como é uma atividade para um engenheiro recém chegado?
R – Foi um batismo assim de sangue quase, porque eu entrei e conhecia a unidade, uma coisa é você conhecer as unidades, estudar ali e outra coisa é ser responsável pela operação. Então tinham quatro engenheiros mais antigos que tinham dois anos ou três anos na refinaria e nós entramos... A minha turma chegou lá e entrou junto com eles, de turno trabalho de turno, né? E eram sete unidades de lubrificantes, então a gente partia uma e começava partida de uma unidade e os antigos passavam pra outra unidade e a gente que era mais novo ficava responsável por aquela unidade. E trabalhando de turno, eu trabalhei de turno quase três anos lá em Mataripe, o trabalho de turno era... O nosso trabalho era um trabalho com um horário diferenciado, porque a gente morava na vila e Mataripe naquela época tinha a refinaria e tinha junto uma vila residencial, umas casas todas das Petrobras e a gente morava nessas casas. E aí a gente trabalhava de turno, o nosso horário de turno o horário das operadoras nível zero era de zero, oito e 16 e o nosso era de quatro da manhã, meio dia e oito da noite pra não coincidir, pra fazer uma passagem. Eu entrei de turno direto e em um mês eu já estava responsável por uma unidade, aí que eu me dei conta que eu tinha me formado um ano antes em Engenharia Civil especializado em Pontes e Grandes Estruturas e estava operando numa refinaria de petróleo, era coisa da minha geração, não tinha ninguém no Brasil com quem a gente pudesse se aconselhar, não tinha. A Petrobras tinha começado a funcionar em 54 e isso foi em 59, 60, então só tinham aqueles que tinham chegado dois anos antes da gente lá.
P/1 – E aí levou um susto... (pausa) Então retomando senhor Dorodame, o senhor estava contando lá de Mataripe, falou do trabalho de turno. Quais foram as principais dificuldades do trabalho lá?
R – Ah foram muitas, Mataripe foi a maior escola de formação de engenheiro de refinação da Petrobras, todo o pessoal que passou por Mataripe depois permitiu a Petrobras de expandir, construir praticamente uma refinaria a cada três anos, né? Porque na década de 60 e 70, eu a expansão da indústria automobilística no Brasil foi muito grande e a Petrobras foi demandada a produzir esses derivados principalmente de gasolina e diesel. E o pessoal de Mataripe era um pessoal mais experiente em termos de operação, porque lá a gente entrava na operação mesmo. O pessoal da minha turma que foi pra Cubatão ficava nos escritórios quase não tinha chance de entrar nas unidades, enquanto que lá em Mataripe as unidades estavam dando partida, eram unidades novas ninguém conhecia e aí o pessoal pegou muito mais experiência de operação, né? E eu fui trabalhar na área de produção de lubrificantes que o Brasil naquela época importava todo óleo lubrificante, né? Então as primeiras unidades de óleo lubrificantes do Brasil foram lá de Mataripe. E a gente trabalhava de turno, engenheiro trabalhava de turno, eu trabalhei três anos de turno de oito horas, a gente morava na vila tinha casa na vila numa área residencial que ficava numa colina e em baixo ficava a refinaria, né? E a gente ficava à disposição da refinaria 24 horas por dia.
P/1 – Pegava esses períodos de madrugada também?
R – Eu trabalhava de turno, né? Oito horas cada turno e defasado do turno dos operadores e aí houve uma série de... Foi muito complicado, porque ela foi uma das primeiras unidades de lubrificantes construída no Brasil e estava cheia de erros de projeto e de montagem.
P/1 – Como é que foi o caso da unidade 13?
R – A unidade 13 foi uma complicação, porque era uma unidade nova, aliás, antes da 13 já a unidade dez que era uma destilação a vácuo já foi complicada, porque as bombas eram diferentes das unidades que o pessoal conhecia, né? Bombas pra trabalhar com vácuo era uma complicação. Na unidade 12 os americanos, a Kellog que foi a firma projetista, eles colocaram lá uns tratores centrífugos no lugar de colocar torres de instalação que é o normal, eles colocaram tratores centrífugos que nos Estados Unidos acho que tinha duas refinarias só que tinha esses tratores, então ninguém conhecia direito, nem os operadores americanos sabiam operar aquilo. Eu me lembro que no começo da operação, a operação não funcionava direito, não sabia direito o que estava acontecendo... Eu sempre fui curioso assim de investigar as coisas, aí comecei a estudar o negócio, tomar nota e os americanos lá escreveram, porque eles trabalhavam de turno junto com a gente. Aí escreveram num livro deles “o engenheiro Dorodame fazendo experiência na unidade” fazendo crítica, entendeu? Porque eu estava anotando coisas, calculando, aí eu resolvi estudar por que o estrador não funcionava e descobri que ele não funcionava porque estava com uma carta que registrava a interface do equipamento estava errada e eu descobri isso. Eu calculei tudo estava funcionando bem, mas na carta saía errado, aí eles botaram válvula fizeram uma porção de mudanças lá os americanos, né? E nada funcionava aí eu fiz os cálculos e chamei lá o meu chefe que era o Alberto Body Jamp que ele já faleceu, ele foi da primeira turma de refinação da Petrobras, da turma da Glória e aí eu disse: “Alberto isso aqui ta errado” ele falou: “você tem certeza”? “Tenho” aí foi lá, eu tinha um ano de experiência em refinaria, aí o cara reconheceu que estava errado.
P/1 – Essa era a unidade 13?
R – Não foi da 12. Na 13 foi muito mais complicado porque eles colocaram um sistema de funcionamento eletrônico que não tinha experiência nenhuma e o negócio não funcionava e eles não chamaram os engenheiro deles lá dos Estados Unidos e os caras não conseguiram resolver, era um sistema eletrônico complicadíssimo, as válvulas eram movidas por sistema eletrônico, não tinha nenhuma refinaria com aquilo. Aí teve um engenheiro da refinaria que conseguiu descobrir o erro do circuito, então ele ficou o dono daquilo ali e os americanos queriam que ele explicasse pros americanos e ele falou assim: “eu vou botar pra funcionar, mas não vou explicar nada.”
P/1 – Não vou dar o pulo do gato.
R – Não vou dar o pulo do gato e nessa unidade eu tive uma briga lá com um americano porque pela primeira vez que a unidade funcionou, eu estava no turno eram duas horas da madrugada, eu era engenheiro do turno e o outro colega meu tinha faltado nós trabalhávamos sempre em dupla, né? Que era mais antigo que eu na refinaria, ele tinha dois anos a mais do que eu. Aí o americano queria parar a unidade e eu não concordei. Aí começamos a discutir e ele veio com um dedo assim pra cima de mim e eu balancei o braço dele quase que a gente brigou dentro da unidade. Aí telefonaram lá pro chefe dele e conclusão desceu todo mundo às duas horas da madrugada o chefe da Kellog e o chefe da Petrobras. Aí perguntaram o que eu achava e eu disse: “olha eu acho melhor parar o negócio e tal” também não tinha mais... Não estava mais com condições, aí nós paramos e tal e depois nós descobrimos que eles estavam sabotando a unidade isso ficou claro. A conclusão dessa história foi que 50 americanos que estavam lá foram embora, a Petrobras abriu mão chegou a conclusão que não precisava mais daqueles caras queria só os projetistas da unidade pra resolver o problema, entendeu? Porque a unidade não funcionava de acordo com o que eles... Era uma unidade complicadíssima. E aí foi pra primeira vez eu fiz pesquisa numa unidade industrial, entendeu? Porque não tinha unidade piloto, a Petrobras do CENPS não existia nessa época e não tinha unidade piloto pra você testar, unidade piloto é onde você reproduz a unidade industrial para resolver os problemas, né? Aí nós fizemos a unidade industrial de piloto, colocamos um microscópio na sala de controle e a gente coletava amostrar da parafina, porque a parafina era formada um congelamento a parafina que tinha no óleo congelava e formava cristais, entendeu? Aí tinha um filtro enorme gigantesco sete fios que filtravam essa parafina, separava uma parafina do óleo, entendeu? Pra poder vender como óleo lubrificante, então a gente pegava uma amostra daquela mistura e olhava no microscópio pra ver o tipo de cristal que estava formando. E a gente formava um cristal que a gente chamava de agulha que entupia os panos do filtro, então a unidade não funcionava, uma das razões era essa. Aí nós descobríamos... Aí nós fizemos pesquisas eu e outro colega, ficamos fazendo pesquisa, eu saí do turno, porque eu trabalhava de turno, eu saí do turno e fiquei fazendo pesquisa foi a primeira pesquisa que eu fiz na Petrobras... Pesquisa tecnológica foi numa unidade industrial, aí nós fizemos pesquisa e conseguimos descobrir a razão pela qual não formava o cristal, era chamado cristal chato que permitiu que o pano do filtro filtrasse, o cristal agulha entupia o pano. Aí nós fizemos pesquisa numa unidade industrial, né? E conseguimos resolver o problema dessa unidade, a unidade 13.
P/1 – E os americanos foram mandados embora?
R – Os americanos foram embora e depois vieram outros que tinham trabalhado no projeto só pra aconselhar a gente, entendeu? Porque a Kellog que era a firma projetista, ela não recebia uma parte do pagamento enquanto a Petrobras não aceitasse aquela unidade. Então só depois de muito tempo foi que eles conseguiram resolver essa questão aí. Essa unidade ainda deu muito problema, foi muito trágico, problemas trágicos, eu saí da refinaria em 63, final de 63 no último ano que eu passei em Mataripe, eu vou fazer um aparte aqui, o último ano que eu passei lá eu fui convidado pelo superintendente... Porque eu estava querendo transferência pro Rio, eu achava que já tinha pegado experiência de refinaria suficiente queria ir pro CENAP porque eu queria fazer trabalho em pesquisa, a minha idéia era trabalhar em pesquisa e era o CENAP que fazia pesquisa nessa época, não existia o CENPS ainda. Aí o superintendente resolveu fazer o curso de refinação que era feito aqui no Rio, fazer em Mataripe pra poder formar engenheiros do nordeste que ficassem radicados em Mataripe, porque os engenheiros do sul aqui do Rio, São Paulo e do sul do país iam pra Matartipe passavam pouco tempo e queriam voltar. Então o pessoal não ficava lá... A grande mudança aí ele resolveu fazer o curso lá em Mataripe, um curso de refinação lá como eu estava querendo vir pro CENAP, então ele me convidou pra ser o coordenador do curso. Então em quatro anos de Petrobras eu fiquei como coordenador do curso na Bahia, coordenador do curso de refinação na Bahia.
P/1 – E o senhor participou da montagem desse novo curso lá também?
R – Fui eu que organizei o curso todinho, aí eu conversei com o professor Willians que era o professor do curso aqui no Rio, ele foi lá na Bahia me orientou me deu uma porção de sugestões e eu criei o curso lá. Desse curso, eu tenho até orgulho de dizer isso que desse curso eu fui coordenador do curso em 63, saí da operação e fui ser o coordenador do curso e professor, dei aula e fui coordenador.
P/1 – E funcionava lá em Mataripe mesmo?
R – Lá em Mataripe mesmo, a gente usou a Universidade da Bahia também algumas aulas eram dadas na Universidade da Bahia outras eram na própria refinaria, mas esse curso depois continuou mais uns dois anos se não me engano, desse curso fez parte uma pessoa que foi presidente da Petrobras, o Armando Guedes, o Armando Guedes fez esse curso lá, esse curso que eu criei lá na Bahia.
P/1 – No primeiro ano?
R – Nesse primeiro ano não, ele fez um ano depois, dois anos depois não tenho certeza. E o Roberto Vila também que foi diretor da Petrobras, também fez o curso lá. (pausa)
P/1 – E aí o senhor montou o curso e ficou esse ano lá e voltou pro Rio?
R – Aí voltei pro Rio, o superintendente que era o Jairo José da Faria que depois foi diretor da Petrobras, ele acabou vindo pro Rio, ele me prometeu que em troca de eu ficar lá e organizar esse curso lá, ele me dava a minha transferência, porque tinha muita gente querendo sair de lá de Mataripe nessa ocasião, né? Aí eu consegui sair de lá em novembro de 63 e vim pro CENAP e cheguei aqui no Rio e encontrei uma situação confusa porque aquele ano de 63 foi um ano muito tumultuado por causa... Era perto da revolução de 64, né? Foi um ano muito tumultuado e o professor Willians que tinha criado o curso de refinação aqui no Rio e tinha sido coordenador do curso deles de 52 antes da criação da Petrobras até 63 estava sendo afastado e não tinha ninguém pra substituí-lo.
P/1 – E por que ele foi afastado? Ou ele quis sair?
R – Ele foi afastado... Criaram um problema com ele, houve uma radicalização, foi uma época, esse ano de 63 foi um ano muito difícil, porque foi um ano de radicalização de parte a parte, né? E aí ele foi afastado e enfim ele tinha um contrato com a Petrobras, ele não era funcionário da Petrobras não, ele tinha um contrato. E aí conseguiram afastá-lo e ninguém queria assumir o lugar dele os professores aqui do Rio, né? Os brasileiros, ninguém queria assumir, aí como eu estava vindo pro Rio o superintendente do CENAP naquela ocasião me apelou pra eu... Como eu tinha criado o curso lá na Bahia, sido coordenador pra assumir o lugar dele, né? Aí eu assumi em janeiro de 64, eu assumi a coordenação do curso aqui no Rio foi inclusive num ano complicado, porque além da revolução a Petrobras naquele ano criou um curso de petroquímica que corria paralelo com o curso de refinação. Então quando eu cheguei tinha 50 caras pra começarem o curso e não tinha lugar, não tinha sala, não tinha professor, não tinha nada. Eu tive que formar tudo, criar tudo foi uma confusão danada.
P/2 – E onde é que vocês estavam? Vocês estavam no CENAP dando aula com essas turmas novas também? Ainda deu pra...
R – Era lá na Praia Vermelha, a gente acabou arranjando sala no centro de pesquisa Física que tinha ali na Praia Vermelha atrás do CENAP do prédio da Petrobras tinha um centro de pesquisa onde trabalhava o Cesar Lates, a gente conseguiu uma sala lá e conseguimos sala também na escola de Química que funcionava ali na Praia Vermelha também e a gente arranjou um jeito pra se acomodar. Aí eu fui coordenador do curso e depois do período introdutório que era um período de dois meses, a turma de dividiu em duas turmas, uma de refinação e uma de petroquímica e eu fiquei como coordenador do curso de refinação e o Amilcar Pereira Filho ficou como coordenador do curso de petroquímica. Aí estourou a revolução e aí todo mundo com cargo de confiança foi substituído inclusive eu, né? Só que eu estava dando aula também, eu continuei dando aula, eu dei aula ainda em 64...
P/1 – No próprio CENAP?
R – No CENAP dei aula em 64 e dei aula em 65 tinha uma cadeira que eu dava aula de projeto de processamento e tal e fiquei só dando aula, a coordenação passou para outro professor o doutor Morggi que voltou pra lá, o Doutor Morggi tinha sido afastado por causa dessas confusões políticas da época, a época foi muito tumultuada politicamente, né? Começo da década de 60 e aí o Doutor Morggi voltou e assumiu o CENAP, a superintendência do CENAP e afastou todo mundo do cargo de confiança, inclusive eu. Ele não me conhecia direito nessa época e eu fiquei dando aula como professor... Tanto no curso da Bahia como aqui no Rio eu assumi a coordenação, mas fazia questão de dar aula pra conhecer a turma bem, entendeu?
P/2 – E dava sempre a mesma cadeira?
R - Dava sempre a mesma cadeira, eu fui aperfeiçoando essa cadeira, eu dei aula três anos em 63 na Bahia e 64 e 65 aqui no Rio.
P/1 – E a idéia da criação do próprio CENPS em 66 quando enfim...
R – O CENPS, a idéia da criação do CENPS existia desde a década de... Acho que até antes da década de 60, né? Sempre houve porque o CENAP era Centro de Aperfeiçoamento e pesquisa de petróleo só que a grande atividade do CENAP era ensino, porque era a época que precisava, a Petrobras estava crescendo não parava de crescer, né? Construindo refinarias e não sei que campos de exploração e tal. Então a pesquisa ficou com...
P/1 – Em segundo plano, né?
R – Segundo plano, mas sempre houve um interesse das pessoas que davam aula, os brasileiros, porque foram substituindo os americanos e quando eu voltei da Bahia já não tinha mais nenhum americano dando aula, entendeu? Quando eu fiz o curso eram três professores estrangeiros e quando eu voltei já eram todos brasileiros que davam aula. E então esse pessoal aí o CENAP, ele estava voltado pra essa atividade e foi um curso que foi sendo desenvolvido com professores brasileiros. Mas ninguém queria porque a maioria das pessoas que estavam lá davam aula, mas queriam trabalhar em pesquisa, entendeu? Então começou a idéia de criar o CENPS mais ou menos nessa época e o CENAP chegou a desenvolver algumas atividades de pesquisa, eu até cito no meu livro aí que foram as primeiras, né? Quer dizer o pessoal que dava aula, os professores nas horas vagas faziam pesquisas, mas a idéia de criar o CENPS já existia. Em 63 quando eu cheguei da Bahia, em novembro de 63 a diretoria aprovou a criação do CENPS foi até que eu falei... Não sei se foi com você que eu falei que pensaram que o CENPS estava fazendo 45 anos, mas são 45 anos da aprovação pela diretoria, né? Mas aí logo em seguida veio essa época tumultuada de 64, então 64 e 65 não aconteceu nada, a diretoria aprovou a criação do CENPS em novembro de 63. Mas 64 e 65 não aconteceu nada, o CENPS começou a funcionar efetivamente em 01 de janeiro de 66, foi aí que separou o ensino da pesquisa, o ensino passou pro serviço de pessoal e a pesquisa ficou com o CENPS. O CENPS ficou funcionando no mesmo lugar onde funcionava o CENAP, ta?
P/1 – E esse grupo de implantação do CENPS também o senhor chegou a participar? Como é que foi?
R – Não, aí nessa época quando eu... Em 64... Quando eu cheguei da Bahia deixa eu fazer um parêntese, na época que eu fiz o curso, o curso tinha sido voltado especificamente pra operação, porque antes disso tinha duas partes do curso. tinha operação e tinha projeto, porque é uma atividade seqüencial da operação e quando você evolui tecnologicamente você passa pro projeto e depois passa pra pesquisa é engenharia básica, naquela época a gente chamava de (prosts designer?) que era o nome em inglês, né? Costumava chamar de projeto de processamento, aí em 63, não desculpe em 66 foi criado o CENPS, mas não tinha projeto, não tinha engenharia básica era só pesquisa, eu estava falando uma coisa antes...
P/1 – Nesse grupo de implantação e aí também o senhor...
R – Aí a matéria que eu dava aula que era exatamente ligada a Engenharia Básica, projeto de refinação e então nessa época eu me afastei porque quando eu vim... Ah, agora eu lembrei, quando eu vim da Bahia como a minha turma não tinha feito esse curso de porsts designer a turma até 58 vinha fazendo, na minha turma eles resolveram voltar o curso mais especificamente pra operação. Então eu fiquei querendo fazer esse curso que o CENAP ia fazer e não conseguia fazer porque não conseguia que as refinarias liberassem gente pra fazer o curso, era um curso de um ano. Então eu fiquei interessando em fazer o curso de Mestrado, porque nessa ocasião exatamente em 63 o professor Coimbra começou o curso de Mestrado no Instituto de Química em Engenharia Química.
P/1 – Na COP?
R – A COP não existia ainda, a COP saiu daí, como eu era engenheiro civil e tinha entrado na área de Engenharia Química, eu sentia falta de matérias da Engenharia Química que eu não tinha estudado. Então eu fiquei interessado em fazer esse Mestrado no Instituto de Química. Quando em cheguei da Bahia eu fui conversar com o professor Coimbra que tinha sido meu professor no curso de refinação interessado em fazer o curso, mas aí não pude porque eu assumi a coordenação do curso da Petrobras, né? Aí fiquei tentando fazer e em 66 o CENAP me liberou pra fazer esse curso.
P/1 – E a sua tese de Mestrado foi... Conta pra gente foi em que área?
R – Eu fui fazer Mestrado na área de separação de hidrocarboneto através de membranas plásticas que era uma coisa nova estava em pesquisa no mundo todo naquela época e que tinha sido uma linha de pesquisa da COP, não a que precedeu a COP, né? O Instituto de Química já tinha tido umas duas ou três teses inclusive uma delas tinha sido do Marco do Santos que era da Petrobras, ele tinha sido meu colega na Escola de Engenharia e depois tinha sido meu colega... Entramos juntos na Petrobras e ele fez o Mestrado lá no Instituto de Química. E aí nessa ocasião quando eu fiz o Mestrado, eu fui convidado pra continuar a tese dele, porque ele encontrou um resultado anormal, diferente que não existia na literatura que tornava, vamos dizer assim, viável a utilização industrial desse processo que não existia ainda no mundo todo em permeação, separação do carboneto por permeação de membranas, né? Aí fiz minha tese nessa área aí e defendi a tese em 67 exatamente eu vim aqui pro Fundão pra defender a tese aqui, a COP já tinha sido criada a COP, a COP foi criada a partir desse grupo inicial do professor Coimbra, tanto que o professor Coimbra foi o criador da COP. Então a COP veio pra cá pro Fundão e eu defendi minha tese aqui, embora eu tenha feito curso lá na Praia Vermelha. Aí fiz a tese aqui e a minha tese confirmou os resultados da tese do Marcos e eu tentei dar uma explicação científica pro processo, o que estava acontecendo e aí a COP se interessou em continuar esse processo. Eu consegui o financiamento do BNDE, o BNDE estava criando lá... Tinha o fundo de tecnologia. chamado FUNTEC que financiava esses projetos assim promissores, né? Aí a Petrobras me liberou, eu e o Marcos nós dois e eu terminei minha tese em julho de 67 e em novembro eu comecei a trabalhar no Fundão no COP, a Petrobras me liberou e eu comecei a trabalhar, trabalhei três anos aqui no Fundão no COP...
P/1 – Com a parte prática da sua tese?
R – Fizemos um laboratório, o primeiro laboratório da COP fomos nós que montamos dois engenheiros da Petrobras, montamos o primeiro laboratório da COP de engenharia química e trabalhamos três anos e mostramos a viabilidade técnica. Mas aí a Petrobras em 71 queria que eu voltasse, porque estava já começando a idéia de vir pro Fundão, aí acharam que eu tinha que voltar porque eu estava lotado no CENPS, embora eu não tivesse ainda trabalhado no CENPS, né? Porque quando o CENPS foi criado em 66, em janeiro de 66 eu fui pra COP pra fazer o Mestrado.
P/1 – Como é que estava o próprio contexto tecnológico do Brasil? Estava a criação da COP? O que se tinha também?
R – A idéia do Coimbra era a criação da Engenharia, o desenvolvimento da Engenharia Criativa, porque a idéia que existia era a seguinte: o processo de industrialização brasileira foi todo copiado, nós importamos tecnologia a Petrobras foi toda construída, as primeiras refinarias todas foram projetos do exterior, embora a Petrobras tivesse condições de fazer projeto básico aqui, mas não existia estrutura, o serviço de Engenharia que se chamava naquela época prosts designer o projeto de processamento, mas esse grupo não foi a frente, não teve força de ir a frente porque a pressão das multinacionais eram muito grande e eles vendiam esses projetos pra Petrobras, entendeu? E a Petrobras já tinha um know rol interno pra criar essa Engenharia aqui, entendeu? Aí nessa ocasião o... Bom, já me perdi...
P/2 – Todo esse processo de desenvolvimento tecnológico nessa época que tenha criação da COP tem essa ligação...
R - Você estava me perguntando da COP, né? A idéia da COP era essa.
P/1 – Não da idéia só da COP, a idéia do que e gente tem, qual é o contexto tecnológico do Brasil nessa época?
R – Era importador de tecnologia, o Brasil era importador total de tecnologia a Petrobras importava toda a tecnologia que ela usava e ficava dependente, né? Ficava totalmente independente o CENPS a idéia da criação do CENPS foi exatamente essa pra poder você começar a desenvolver tecnologia, primeiro adaptar a tecnologia que existia já que a gente tinha importado adaptar pra nossas condições, né? E de certa forma a gente começou lá em Mataripe nessa época que eu contei que eu trabalhava lá, a gente em um ano nessa unidade 13 para desparafinação de óleo a gente fez 100 modificações de projetos, isso era o comecinho da pesquisa, né?
R – Mas tem todo um movimento, né? Você vai ter o CENPS, a COP, o próprio FUNTEC do BNDE com o Pelúcio ali...
R – O Pelúcio foi o pai dessa coisa toda, o Pelúcio foi que se juntou com o Coimbra pra desenvolver esse nosso projeto o projeto de permeação em membrana que eu fui trabalhar com o Marcos na COP foi graças ao Pelúcio. O Funtec praticamente... A COP dependia totalmente do Funtec de recurso totalmente do Funtec. Então a questão do desenvolvimento tecnológico era uma ideologia daquela época, né? Quer dizer então a gente teve todo esse apoio, a Petrobras nos liberou por tempo integral...
P/1 – Existia uma noção de parceria entre a COP e o CENPS já ou não?
R – Não, não existia, mas a gente criou inclusive eu me considero até um dos responsáveis por isso, porque eu era do CENPS e estava na COP é uma coisa engraçada essa aí. Na COP a gente era considerado pesquisador prático assim de segunda categoria de pesquisador, porque a maioria das pessoas lá faziam pesquisa científica, faziam tese de Mestrado e Doutorado estavam preocupados em desenvolver Ciência. A gente estava preocupado em desenvolver tecnologia a partir do conhecimento científico disponível, a gente chegar até um processo industrial essa era a nossa idéia. Então a gente muito... Nós éramos engenheiros não éramos pesquisadores, nós éramos engenheiros.
P/2 – É bacana essa distinção.
R – É interessante. E na Petrobras nós éramos teóricos, na Petrobras a gente era gozado porque a gente fazia pesquisa de permeação em membrana e eles diziam: “isso é coador de café” porque a gente usava a membrana pra separar hidrocarbonetos, né? Então a gente ficava no meio campo ali, não tinha nem... Um era um extremo e o outro era outro extremo e a gente ficava no meio, entendeu? Nós passamos três anos assim. Aí depois de três anos que a gente já estava querendo ir pra unidade piloto, orientamos seis teses de Mestrado eu e o Marcos, nós orientamos seis teses de Mestrado, quer dizer pessoas que faziam curso de Engenharia Química na COP faziam Mestrado conosco, entendeu? Inclusive até tem um trabalho que mostra que quem conseguiu produzir mais resultados em termos de artigos publicados, patentes e tudo isso fomos nós na COP. A gente tinha um objetivo prático, a maioria do pessoal da COP daquela época tinha o objetivo de avançar o conhecimento.
P/1 – E vocês desenvolveram ligados a essa parte das membranas?
R – Isso. O nosso trabalho foi esse, aí durante... Depois de três anos a Petrobras que o CENPS já estava sendo cogitado lá no CENAP a diretoria já tinha aprovado a construção do CENPS aqui no Fundão e estava começando a discutir essas coisas, tinha um plano global de pesquisa e tal. Como eu tinha experiência já eu tive que voltar.
P/1 – E aí ainda estava aquela parte desse grupo de discutir o CENPS quando o senhor voltou pra Petrobras? O senhor estava na COP...
R – Eu estava na COP, existia um grupo que estava...
P/1 – Que estava implantando?
R – Estava implantando, foi feito o primeiro plano diretor do CENPS foi feito pelo Artur Dolito mais ou menos em 69 por aí e em 71 eu voltei pro CENPS estava na Praia Vermelha ainda.
P/1 – E o senhor ainda participou dessa parte?
R – Participei, eu passei um ano como praticamente assistente do chefe da divisão de refinação e petroquímica que era o Renato Marinho Silveira que depois acabou sendo diretor da Petrobras, né? Ele chegou até a ser diretor da Petrobras e eu era uma espécie de assistente dele, entendeu? Então eu organizei tudo, eu sempre tive muito gosto pra essa coisa de organização, eu organizei toda essa questão... A metodologia de pesquisa, porque o CENPS não tinha uma metodologia de pesquisa o CENPS estava engatinhado, né? Então eu fiz o primeiro estudo de uma metodologia de pesquisa pra identificar como fazer a pesquisa e tal fui eu que fiz esse trabalho. E depois eu ajudei a organizar a visão e tal e coisa. Aí no final do ano o Renato entrou em briga lá com Moggi, e aí eu fui indicado pela turma pra ser o novo chefe da divisão.
P/1 – Isso era DIREP?
R – Era DIREP. Eu fui indicado pra ser o novo chefe pra substituir o Renato e aí assumi a chefia da DIREP no final de 71 e logo m seguida a DIREP se dividiu em duas divisões a DITER...
P/1 – DIREP era...
R – Divisão de refinação e petroquímica e ela se dividiu em duas divisão de refinação DITER que era Divisão de tecnologia de refinação e DIPOL que era divisão petroquímica e polímeros o Nelson Brasil assumiu a chefia. Aí eu assumi a chefia da DITER começo de 72 e preparei a vinda da DITER pro Fundão, nós viemos aqui pro Fundão em novembro de 73.
P/2 – E aí a DITER quais eram os setores que essa divisão abrangia?
R – Ela... Na realidade a minha idéia era que ela fosse uma seqüência lógica, tinha um setor de catálise que deu origem depois a divisão de catálise e todo esse processo de catálise foi iniciado nessa ocasião, tinha um setor de processos e tinha um setor de projetos que depois a gente teve que extinguir quando foi criada a Engenharia Básica, foi criada em 75, 76. Aí em novembro de73 nós viemos pro Fundão. O CENPS tinha 200 pessoas e no final da década de 70 ele tinha 1000l foi um crescimento assim gigantesco e eu que organizei tudo isso aí, quer dizer na parte da divisão de refinação, ne? O CENPS tinha quatro divisões de pesquisa era a DITER que era de refinação, a DIPOL que era petroquímica e polímeros que era o Nelson Brasil e o DEPRO que era a divisão de exploração e produção que era o Alberto Carlos Almeida que eu achava que vocês deviam chamá-lo também pra ser ouvido. (troca de fita)
P/1 – Como é que é o nome dele?
R – Alberto Carlos Almeida, ele era um geólogo que tinha trabalhado no DEPEX, era o departamento de exploração da Petrobras e ele veio pro CENPS pra criar a atividade de tecnologia na área de exploração e produção do CENPS.
P/1 – E aí ficou lá do DEPRO?
R – Ele ficou como chefe de divisão do DEPRO que era divisão de exploração e produção e a Glória que vocês entrevistaram agora que era chefe da divisão de Química, né? E tinha quatro divisões de apoio tinha a divisão administrativa que era o Ormiro de Moraes, tinha a divisão de planejamento que era o José Benício, tinha a divisão de informação e técnica e patente que era o Afonso Celso e tinha a divisão de manutenção que era o Marco Aurélio, o Morggi e o Caminha...
P/1 – Essa era a concepção inicial então?
R – Era. Quando nós viemos pro Fundão tinham quatro divisões de pesquisa e quatro de apoio, o superintendente era o Morggi e o adjunto dele era o Caminha.
P/2 – Senhor Dorodame, esse aumento de contingente de pessoas nesse momento inicial se justifica como quê? Se explica como?
R – A necessidade de trabalho, né? Quando a gente veio pra cá, 200 pessoas não dava nem pra nada...
P/2 – Mas quais eram as demandas?
R – As demandas eram todos os departamentos que tinham demandas que foram... Quer dizer a área de exploração e produção, por exemplo, estava começando praticamente nessa época tinha muita demanda. A área de refinação é que eu tive muita dificuldade pra conseguir convencer as pessoas da importância do CENPS, porque era uma área muito operacional, entendeu? Muito operacional, eu levei muitos anos... Embora fosse até oriundo de lá, porque eu trabalhei na refinaria, eu era aceito no meio deles porque eu tinha trabalhado em refinaria, porque os professores do CENAP antigos não eram aceitos, eram teóricos, porque não tinham trabalhado na refinaria. Eu era um dos poucos professores que deu aula no CENAP que tinha trabalhado em refinaria. Eu trabalhei quatro anos na refinaria e trabalhei na operação mesmo, trabalhava de luva e capacete, não era um teórico, né? Então eles me aceitavam mais e eu tive muita dificuldade e os meus companheiros de Mataripe estavam se espalhando pela Petrobras, entendeu? Eu tinha facilidade de contatos e aí fui construindo toda uma rede, mas na realidade o que aconteceu é o seguinte: no Brasil ainda naquela época, ela importava toda tecnologia em caixa preta, como sempre não existia, não tinha condições é como eu falei pra vocês eu fiz pesquisa em unidade industrial. Eu fiz pesquisa pra estudar o tipo de cristal que se formava... Quando a gente formava o cristal da parafina eu botei um microscópio na sala de controle da refinaria os operadores ficavam malucos com aquilo, né? Porque operadores de nível médio não tinham muita noção, então botava... Ia olhar o cristal da parafina que tinha formado lá, nós fizemos pesquisa.
P/1 – E aí dessa época também de 73 quando vocês se mudam pra cá, você tem logo ali em seguida dois fatos também, tem a crise do petróleo e tem a primeira crise, né? E depois tem a descoberta de Garoupa, até que ponto esses dois fatos também atingiram o mundo...
R – A primeira crise quase não deu diferença não, porque foi em 73 e em termos de necessidade de tecnologia não houve grande mudança, a demanda do mercado brasileiro de derivados de petróleo mais ou menos continuou a mesma, ta? Começou a mudar em 75 com o pró-álcool, porque o pró-álcool entrou e começou a suprir a necessidade da gasolina, entendeu? Então o perfil de derivados de petróleo, o perfil de demanda de derivado de petróleo que desde a criação da Petrobras até essa época pra permaneceu estável era mais ou menos 40% de gasolina, 30% de diesel e 20% de óleo combustível. Então todas as refinarias da Petrobras que foram construídas nessa época foram projetadas pra isso, pra produzir isso. A partir do pró-álcool que foi em 75 e foi crescendo, aí começou a mudar isso, porque a gasolina começou... A demanda da gasolina começou a diminuir por causa do crescimento do álcool e a demanda de diesel começou a crescer, então virou de cabeça para baixo, entendeu? E a nossa sorte foi que em 79 quando veio a segunda crise, a gente já estava com uma equipe montada no CENPS, entendeu? E a demanda de tecnologia apareceu, porque eu passei quase dez anos montando equipe, de 73 até começo da década de 80 eu praticamente fiquei montando equipe. E na realidade o que a gente fazia mais era na área de fontes alternativas de energia, eu montei grupos para o álcool, pro carvão, pro xisto, porque o xisto era estudado pela Petrobras lá na CITS, né? Mas tinha o problema do óleo, o que fazer com o óleo, o óleo de xisto que era produzido lá na CITS era um óleo completamente diferente de petróleo, era agressivo. Então tinha que saber o que fazer com esse óleo.
P/1 – Essa sua... O senhor se voltar pra pesquisa... Essas energias complementares já foi um pouco em função da crise ou não?
R – Foi em função da crise também, porque...
P/1 – Dessa idéia de...
R – É porque logo quando eu assumi a chefia de divisão e nós viemos pro Fundão em 73 eu fiz um negócio que não existia na Petrobras, era um estudo de prognóstico tecnológico, quais seriam as necessidades da Petrobras em termos de tecnologia depois de dez anos? Nunca ninguém tinha feito isso, então eu comecei a fazer isso, mas quase que era corrido, então quando eu ia no DEPIN departamento industrial os caras não queria nem ouvir falar nisso, a maioria das pessoas, entendeu? Porque diziam que estava escrito lá “petróleo brasileiro” até me lembro de um cara que era meio estrangeiro falava: “petróleo brasileiro.” Já estava começando a aparecer essa crise energética, entendeu? Aí apareceu uma oportunidade que a Petrobras resolveu produzir álcool de mandioca tinha uma tecnologia que tinha sido desenvolvida no Instituto de Tecnologia, pesquisa tecnológica o PT e a Petrobras foi encarregada pelo Governo de levar isso as últimas conseqüências, tinha sido desenvolvido em laboratório. Então a Petrobras construiu uma unidade lá em Curvelo em Minas Gerais, aí tive que montar uma equipe pra estudar esse negócio, a produção de álcool de mandioca. O álcool de cana é mais fácil, porque do açúcar você fermenta e dá o álcool e no amilácio você tinha que transformar o amido em açúcar pra depois produzir, entendeu? O processo era mais caro, mais complicado, mas era uma tecnologia nova e a Petrobras foi encarregada pelo Governo de testar essa tecnologia.
P/2 – É engraçado que é a mesma discussão quase atual, né?
R – Tudo é assim, né? A demanda vem em função das necessidades e a Petrobras foi encarregada pelo Governo também de estudar a gaseificação de carvão por causa exatamente das crises de petróleo, entendeu? Começaram a aparecer pessoas no MME interessadas em estudar fontes alternativas de energia. Aí eu criei um grupo dentro da minha divisão voltados só pra fontes alternativas de energia. Aí eu tinha um grupo de pesquisa de xisto, no xisto o meu objetivo era saber o que fazer com o óleo de xisto e o gás, porque o óleo de xisto ele não podia ser misturado diretamente com o petróleo, ele tinha características negativas que poderiam contaminar o petróleo, então tinha que ser hidrotratado, entendeu? E existe uma idéia de fazer COQ formar COQ a partir do óleo de xisto. Criei um grupo de xisto, criei um grupo de álcool, criei um grupo de carvão e fui recrutando gente que tinha interesse nessas áreas ou tinha formação... Então criei esse... O Marcos que veio trabalhar comigo depois que terminou... Quando eu voltei pra Petrobras o Marcos continuou na COP, continuou orientando tese lá e tal, mas teve que voltar aí eu convidei ele pra vir pro CENPS e ele me ajudou muito nessa área de fontes alternativas.
P/1 – Eu queria perguntar também como foi o programa Fundo de Barril também?
R – O Fundo de Barril apareceu depois um pouco depois, porque havia uma demanda muito grande de diesel e havia uma sobra de resíduo, né? Então era como transformar esse resíduo em gasolina, e diesel principalmente. Aí começaram a pensar em processar esse gasólio de craqueamento processar e hidrogenar e produzir mais carga pro FCC foi mais ou menos nessa época o CENPS se envolveu muito. Nessa época já tinha sido criada a Engenharia Básica que eu não falei aí, a Engenharia Básica inclusive em 2003 eu não me lembro direito faz poucos anos foi feita uma homenagem pra Engenharia Básica, a Petrobras fez uma homenagem aos 30 anos, sei lá não lembro mais.
P/1 – 2003 era 50 anos, né?
R – Não, da criação da Engenharia Básica.
P/1 – A engenharia Básica foi o quê? 1976?
R – 75, 76 e aí... Bom, eu quando dei aula no CENAP eu dava aula de projeto de processamento, o Baratelli inclusive estava lembrando isso, o professor do Baratelli foi meu aluno que era o Moura, o Moura ainda está aí até hoje, o Carlos Alberto Dantas Moura ele foi meu aluno e depois ele ficou no curso dando aula também foi professor do Baratelli. Mas aí eu dava aula disso aí e a Petrobras importava todos os projetos básicos, quer dizer quando você vai construir uma refinaria você faz primeiro o projeto básico que é chamada Engenharia Básica, depois você faz um projeto de detalhamento e depois você constrói a refinaria, né? E a Petrobras importava tudo isso, era tudo importado e a gente tinha condições de fazer aqui no Brasil, foi feita uma tentativa pelo Nelson Barroca na década... Quando eu estava dando aula, na década de 60 eu tive muita interação com eles porque eu dava aula desse assunto, eu ensinava o pessoal fazer projetos de torres, projeto de fornalhas. E aí como eu tinha dado aula disso aí e depois eu fiz uma articulação com eles, eles chegaram a montar um grupo, mas depois esse grupo sumiu, porque houve uma pressão muito grande das firmas de Engenharia nacional que faziam projeto básico junto com as firmas estrangeiras, entendeu? Então forçaram a Petrobras a não entrar nessa área, na realidade a Petrobras devia ter entrado primeiro em projeto básico pra depois fazer pesquisa, pesquisa era uma seqüência. Quer dizer dentro do processo de aprendizado você primeiro forma o pessoal, aprendem a operar e depois você adapta aquela tecnologia pras condições do mercado, a matéria prima do país e depois você modifica aquela tecnologia até chegar a etapa de criação, de tecnologias novas, né? Porque a Petrobras já chegou atualmente em águas profundas, mas a engenharia Básica era fundamental para que esse processo fosse retomado, na realidade a gente avançou na pesquisa, o CENPS foi construído aqui no Fundão e a Petrobras não tinha Engenharia Básica.
P/1 – O senhor participou dessa discussão da criação?
R – Eu participei, eu criei dentro da minha divisão um setor que era pra minha cabeça um embrião disso daí, entendeu?
P/1 – Dessa parte de projetos na DITER, né?
R – É. Aí o diretor Fila foi quem peitou esse negócio e conseguiu criar a Engenharia Básica que foi também curiosamente, isso também foi uma coisa interessante, foi também uma influência da FINEP, a FINEP que influenciou muita coisa o José Pelúcio que era o presidente da FINEP, ele sentiu que havia necessidade... Pro Brasil avançar na parte de equipamento, por exemplo, ele incentivava a indústria de bens de capital no Brasil, o desenvolvimento da indústria de bens de capital no Brasil. Mas sem ter o projeto básico, o projeto básico é que especifica o equipamento, sem ter o projeto básico feito no Brasil a especificação vinha de fora. Então não ia especificar um equipamento fabricado no Brasil, então a gente tinha que fazer o projeto básico. Então o Pelúcio teve uma influência junto ao Fila e a Petrobras criou a Engenharia Básica aqui no CENPS em 76. E foi um processo complicado, porque a pesquisa veio da estaca zero e foi crescendo, crescendo e tal. A engenharia Básica já entrou com tudo, entrou com força do diretor, então recrutou o pessoal em todas as refinarias, o pessoal que estava fazendo algum projeto básico nas refinarias e tal, Cubatão fazia projeto básico, mas descentralizados, aí veio centralizar aqui no CENPS.
P/1 – Fez uma parte até do Gecan, né? Que também fez alguma coisa lá pra Bacia?
R – Não, aí já foi depois, a Engenharia Básica começou no CENPS na área de processo de refinação, depois é que foi criada atividade na área de plataforma isso foi depois, foi na década de 80 já que foi criada essa atividade pra plataforma, né?
P/1 – E eu queria falar também um pouco mais a frente dessa parte também do próprio primeiro planejamento estratégico aqui do CENPS, o senhor participou também, né?
R – Participei diretamente, porque nessa ocasião... Quando eu assumi a chefia da DITEBES, eu vou volta rum pouquinho, eu fiz um estudo junto com o engenheiro Otávio, ele era subordinado a mim depois ele saiu do CENPS e depois voltou. Mas nós fizemos um estudo chamado metodologia da pesquisa que era uma idéia de organizar como o processo de pesquisa devia se desenvolver desde a captação da idéia até a entrega do produto final ao usuário da tecnologia. Esse processo aí alguém chamou de metodologia de pesquisa e isso foi discutido durante um tempo e tal, mas depois da década de 80, depois que o Morggi saiu, acho que é em 80 foi para um escritório em Nova York aí entrou o Flávio Chaves que tinha sido meu contemporâneo em Mataripe e o Flávio Chaves voltou a se interessar por essa questão, entendeu? Aí nós formamos um grupo estudamos assunto com o Alberto Carlos nessa ocasião e saiu um trabalho também, mas que não foi levado as últimas conseqüências, o Flávio ficou pouco tempo o CENPS... Essa ocasião foi a época da priorização da Petrobras, a Petrobras durante muitos anos a prioridade dela era refinação. Então a Petrobras construiu dez refinarias por aí, de três em três anos a Petrobras construía uma nova refinaria inclusive pra atender a indústria automobilística que estava crescendo muito rápido. E aí a partir da década de 80 com aquela crise, a segunda crise a Petrobras voltou a priorização pra área de exploração e produção inclusive com a descoberta da Bacia de Campos, né? Então o CENPS também sofreu essa influência desse processo aí, né? E aí nessa ocasião foram feitas algumas intervenções no CENPS o Flávio saiu ele estava há dois anos aqui e colocaram o Nilton Franklin que era um geólogo pra poder priorizar a área de exploração e produção, né? Mas nessa época eu já estava... Minha tendência sempre foi em paralelo com o desenvolvimento tecnológico sempre foi organização e planejamento, entendeu? O primeiro plano de implantação fui eu que fiz no CENPS quando eu assumi a... Quando eu voltei da COP eu fiz o primeiro plano de implantação e estava tentando... Fiz cursos no exterior, participei de seminários, participei da primeira turma de formação de gerente de pesquisa no Brasil a PROTAPE eu e o Alberto Carlos que era da área de exploração e produção. Então sempre me interessei por essa área aí.
P/1 – De planejamento e gestão?
R – De planejamento e gestão, aí mais ou menos quando eu já estava quase saindo, deixando a chefia da divisão, aí nós fizemos... Houve um movimento pro planejamento estratégico e aí eu fiz dentro da DITER que era a minha divisão, eu fiz o primeiro plano estratégico que foi feito aqui no CENPS pra divisão de refinação, ta? E logo em seguida em 84 eu deixei a chefia da divisão por uma série de contratempos que eu tive na época, aborrecimentos, eu já estava há muito tempo na chefia. Eu assumi a chefia dessa divisão em dezembro de 71 e se eu não pedisse pra sair eu estava lá até hoje, isso é brincadeira, mas eu fiquei muitos anos ali, entendeu?
P/1 – Aí o senhor foi pra DIPLAR?
R – Não, aí eu pedi, eu tenho orgulho de dizer isso, nessa divisão eu fui indicado pelo pessoal, meus colegas pra assumir a chefia eu entreguei o cargo ninguém me tirou, eu fui na superintendência naquela ocasião que era o Nilton Franklin e entreguei o cargo pra ele “já dei o que eu tinha que dar, não tenho mais nada pra dar aqui” eu vou trabalhar como peão na área de planejamento, porque eu acho que é a área importante pro CENPS aqui pra frente é onde eu posso dar maior contribuição, eu fui trabalhar como peão lá na área de planejamento, era uma assessoria de planejamento não era nem divisão. Aí lá eu fiz... Eu fui trabalhar no primeiro plano estratégico do CENPS eu e o Otávio Rivera Monteiro, o Otávio tinha trabalhado comigo no começo da DITER estava na área de planejamento, ele tinha ido pro CEPS e tinha voltado pra cá. E aí nós fizemos o primeiro plano estratégico do CENPS.
P/1 – Quais eram as principais diretrizes desse planejamento?
R – Ah, tinha um... Assim de cabeça não sei te dizer não, mas está tudo aí escrito nesses escritos meus aí. Mas a idéia era essa, era integrar o CENPS com o resto da empresa, essa era uma das diretrizes porque a gente achava que tinha que trazer o resto da empresa pra dentro do CENPS.
P/1 – Ter um diálogo maior?
R – Isso, inclusive participar do trabalho do CENPS, influir no que o CENPS tinha que fazer, aliás, isso aí eu faço louvores ao José Paulo Silveira que foi o superintendente na época, porque até aquela época, até José Paulo Silveira superintendente não acreditava muito em planejamento, essa é que é a verdade. José Paulo Silveira era um cara que tinha cabeça de planejamento, então ele me convidou pra assumir. Criamos uma divisão que não existia a divisão de planejamento do CENPS existia uma assessoria e ele me convidou pra ser o chefe dessa divisão a DIPLAT divisão de planejamento e administração tecnológica e nós... Aí nós fizemos uma série de mudanças o CENPS fez uma grande mudança na parte de gerência do processo tecnológico nessa ocasião. E isso tudo em função e isso você vai ver no livro uma visão que eu tinha do processo de desenvolvimento tecnológico, quer dizer eu achava naquela ocasião que o CENPS estava maduro, a Petrobras pra entrar na área de inovação. Mas só entraria na área de inovação se mudasse o processo gerencial, quer dizer o gerente do CENPS estava acostumado a ser um órgão de serviço técnico e tinha que passar a ser um órgão de pesquisa, fazer pesquisa de longo prazo, porque a gente funcionava muito em função da demanda que vinha das refinarias e dos órgãos operacionais, ta? Esse foi um processo interessante porque no começo do CENPS, o CENPS era considerado um órgão afastado da realidade, entendeu? Pelas refinarias, pelos órgãos operacionais, porque a gente não... Quer dizer eu tinha experiência de operacional, mas a grande maioria dos técnicos do CENPS não tinha experiência operacional, eles vieram direto dos Mestrados, dos Doutorados pra trabalhar em pesquisa. Então consideravam que o CENPS era um órgão que estava meio desligado da realidade assim no começo, né? E nós lutamos muitos anos pra mudar essa imagem e nessa ocasião a gente estava querendo exatamente isso, uma das coisas que a gente estava querendo desse planejamento era integrar mais o CENPS com os órgãos operacionais e fazê-los participarem da programação do CENPS.
P/1 – Isso deu algum impulso para o desenvolvimento tecnológico na própria Petrobras?
R – Ah deu um impulso enorme, eu acho que deu, porque a partir daí foram criados comitês tecnológicos, entendeu? Os departamentos de serviço da Petrobras começaram a participar do planejamento do CENPS, entendeu? Enfim o CENPS começou a descobrir mais as demandas que existiam nos órgãos operacionais, enfim houve uma série de coisas...
P/1 – E a receber demandas também?
R – Receber demandas também e outras coisas do tipo visão de longo prazo que era outra coisa também que a gente... Pela primeira vez a gente fez um prognóstico, um estudo feito na Petrobras toda pra descobrir qual era a demanda de tecnologia que a Petrobras ia ter no ano 2000, isso foi em 86, 87. Foram feitos cenários e nós contratamos inclusive pessoas especializadas em cenários tecnológicos, foi uma série de mudanças do ponto de vista gestão do processo tecnológico.
P/1- E o PROCAP nasce daí?
R – O PROCAP nasce nessa época, inclusive nesse livro eu conto como é que eu participei do começo do PROCAP, porque o Silveira queria criar um órgão aqui dentro pra... Já existia um órgão lá funcionando no departamento de produção que pensava em águas profundas, e o CENPS até participava lá, mas eu era um mero expectador. E a gente estava pensando em termos de demanda tecnológica do futuro, né? Naquela época das águas profundas que começaram a cada vez ficar mais profundas era 100 metros, 200 metros e passaram pra 1000 metros e tal. E aí qual era a tecnologia que a Petrobras ia precisar nessa época? Aí foi feito um prognóstico com a participação do pessoal de todas as áreas da Petrobras, foi um trabalho muito interessante e o PROCAP foi criado nessa ocasião. Eu ajudei o Silveira a bolar como é que seriam as estruturas, porque ele tinha que ser um órgão matricial, porque a Petrobras até aquela época, eu não sei hoje porque eu estou afastado da Petrobras há muitos anos, mas até aquela época era muito compartimentada, entendeu? Um departamento não dava palpite no outro, essas coisas assim, então a idéia era fazer um projeto matricial onde tinha participação de vários órgãos inclusive da universidade.
P/1 – E foi aí que esse estreitamente com as universidades aumentou?
R – Ele começou a aumentar antes um pouco, porque eu me considerava um embaixador da COP no CENPS e um embaixador do CENPS na COP por causa do tempo que passei lá, eu passei três anos na COP, entendeu? Eu conhecia todo mundo lá e tal, mas dessa ocasião o estreitamento em termos de projeto, em termos de... E interessamos a COP entrar nessa área, né? E por sorte do Silveira, ele pegou o Frederico Araújo que era um camarada com uma habilidade tremenda pra lidar com pessoas, com os egos das pessoas e ele conseguiu levar o PROCAP pra frente, né?
P/1 – Tinha não sei também quantos projetos, né?
R – Ah tinha projetos... Tinha a universidade, tinha a firma de engenharia, tinha outras empresas participando e ele conseguiu montar um esquema aí durante o tempo que ele esteve à frente do PROCAP, né? Depois ele foi comigo junto com o Silveira, o Silveira convidou a mim e a ele pra ir com ele pro CERTLAN pra implantar o planejamento estratégico na Petrobras.
P/1 – Porque saiu daqui o primeiro planejamento, né?
R – Saiu daqui, o CENPS foi uma espécie de efeito demonstração, entendeu? Da importância do planejamento estratégico, eu inclusive fiz várias palestras sobre planejamento estratégico em todos os órgãos da empresa praticamente que estavam interessadas em pensar em longo prazo, mas pensar de uma maneira estruturada e organizada, né?
P/1 – O senhor se lembra qual foi o ano do primeiro planejamento?
R – De quê? Da Petrobras?
P/1 – Lá já do CERTLAN?
R – Saiu em 90.
P/1 – Eu queria perguntar... Dessa mudança tecnológica quando o senhor estava fazendo a sua tese lá em 60 pra esse pulo depois até do primeiro planejamento que você já tem o PROCAPE aqui no CENPS o que foi a maior mudança também?
R – Ah uma mudança muito grande de mentalidade, até na crença da importância da tecnologia, entendeu? Porque tecnologia naquela ocasião, era década de 60 era considerada como uma mercadoria que você comprava, estava pronta nos países desenvolvidos. Você queria montar uma refinaria você dizia o que você queria e tal e os caras faziam o projeto lá especificava o equipamento de lá, claro fazia o projeto básico lá fazia projeto conceitual, um projeto básico e o Brasil continuava dependente. Essa transferência de tecnologia que foi ao longo desse tempo aí, quer dizer a Engenharia Básica, por exemplo, a Engenharia Básica tem uma experiência interessante também se vocês depois quiserem ouvir o Ivo Ribeiro, o Ivo Ribeiro ele foi o primeiro superintendente da Engenharia Básica, a Engenharia Básica foi montada também em função... O Baratelli também é outro cara que pode falar também, foi muito em função desses processos de transferência de tecnologia, quer dizer já que naquela época a ideologia era a seguinte: o Brasil tem um mercado de tecnologia, então em troca desse mercado você abre um pouco essa tecnologia pra nós. E a gente conseguiu isso, entendeu? Então a equipe da Engenharia Básica que foi montada no CENPS foi muito em função desses processos de transferência de tecnologia, entendeu? De transferência mesmo, e troca de mercado, quer dizer o cara pra... Eu fui coordenador da construção da primeira fábrica de catalisadores a primeira tentativa de construir uma fábrica catalisadora no Brasil quem coordenou fui eu, mas não deu certo. Depois houve a segunda e foi construída a fábrica, né? Mas na primeira vez o que a gente exigia quando negociava com as firmas estrangeiras era exatamente o processo de transferência de tecnologia, entendeu? Mas eles foram espertos, eles fizeram uma espécie de cartel, eles se juntaram e uma firma se ofereceu pra fazer a transferência de tecnologia e a gente afastou as outras e depois ela se negou a fazer, não conseguíamos ir à frente, esse processo terminou...
P/1 – É um jogo pesado, né?
R – É um jogo pesadíssimo, porque era muito dinheiro, o Brasil importava todo catalisador de craqueamento que a gente usava, era muito dinheiro.
P/1 – E hoje a gente já tem?
R – Hoje tem a fábrica aqui, essa fábrica foi feita assim dessa maneira você oferece um mercado, um detentor de tecnologia em troca dele abrir o pacote, o que é abrir o pacote? É mostrar como é que você chegou até... Especificar aquela fábrica, né? Os conhecimentos científicos que permitiram você chegar até ali, então isso foi feito... Quer dizer houve uma mentalidade de dentro dessa história de processo de transferência de tecnologia que se desenvolveu ao longo da década de 70 e 80, a Engenharia Básica se beneficiou disso, embora ela tivesse perdido o mercado de projeto que a Petrobras... Quando a engenharia Básica foi criada, foi centralizada dentro do CENPS a Petrobras já tinha construído praticamente todas as refinarias que estão aí, a última que foi...
P/1 – O grosso foi na década de 60, né?
R – Foi na década de 60 que a Petrobras construía uma refinaria de três em três anos. Então praticamente a última que era a Revape, ela já estava com o projeto já pronto, estava sendo construída e tal, então a Engenharia Básica ficou um pouco assim sem demanda, né? Mas foi criando a demanda principalmente na área de petroquímica e eles conseguiram montar uma equipe muito boa não sei como é que está hoje, porque eu perdi o contato completamente, mas a equipe era muito boa, muito competente.
P/1 – O senhor se aposentou quando?
R – Em 90, eu me aposentei na realidade porque eu fiquei desiludido, desgostoso eu queria continuar mesmo sem cargo de chefia, eu era chefe da DIPLAT aqui no CENPS aí o Silveira me chamou para acompanhá-lo no CERTLAN e lá eu fui assistente, chamado assistente especial, eu continuei ganhando a mesma coisa naquela época existia o RG remuneração global na Petrobras. Eu continuei ganhando a mesma coisa que eu ganhava aqui como chefe da DIPLAT eu continuei ganhando como assistente especial lá só que o trabalho era duríssimo, né? Eu fiquei até meio doente depois daquela época, era muito em cima assim o dia-a-dia e a gente estava junto a diretoria te chamavam toda hora pra diretoria e tal. Mas tinha o apoio do Santana que era o presidente, ele que deu força, ele e o Renato Magalhães que tinha sido o meu chefe lá no começo do CENPS e... O que eu estava falando? Eu me perdi, sim a aposentadoria, aí a gente fez tudo isso, fez o primeiro plano estratégico da Petrobras, do sistema da Petrobras não foi brincadeira. O Santana... Nós conseguimos reunir a diretoria da Petrobras fora do EDISE durante dois dias em hotéis aí fora e o Santana disse que era a primeira vez que ele via a diretoria reunida fora da sede pra discutir o futuro da Petrobras. Foi um negócio assim que pra mim lavou minha alma, porque eu estava atrás daquela coisa, daquele conceito, né? Eu fui o coordenador metodológico e conceitual do processo, mas não contratamos consultor pra isso, saiu tudo da experiência que eu tinha do CENPS e tal, nós contratamos consultor pra conduzir o processo, porque o Silveira achava que ele não devia conduzir porque era superintendente do CERTLAN não ia poder conduzir com a diretoria. Aí então tinha um cara para isso e tinha um consultor, depois eu fiz amizade com ele que é o Cláudio Porto e que era especializado em cenário, aí nós fizemos um negócio 100%, um negócio impressionante envolveu uma quantidade enorme de gente e saiu o primeiro plano estratégico do sistema Petrobras. Aí estava no auge e aí foi eleito o Collor, o Collor a primeira coisa que ele fez foi colocar aqui o tal do Mota Veiga, o Mota Veiga era um cara esnobe, era um cara que não tinha a ver com a Petrobras. A primeira coisa que esse cara fez foi pegar o serviço de planejamento e subordiná-lo ao diretor financeiro, quer dizer andou 30 anos pra trás na história do planejamento empresarial, porque o planejamento empresarial começou na área financeira. Quer dizer houve necessidade de planejar por causa dos problemas dos recursos que a empresa precisava programar e tal. Depois o planejamento caminhou pra ser ligado diretamente ao presidente porque era uma atividade essencial pra empresa, né? E era assim o CERTLAN era ligado ao presidente, aí ligou o CERTLAN ao... Aí o Silveira, eu o Frederico e outros, a Silvia que trabalhavam comigo na DIPLAT que era formada em Administração de Empresa ela era especializada na área de pessoal a gente criou uma série de cursos pra treinar o pessoal pra essa nova fase no CERTLAN, pro CERTLAN pensar em longo prazo e tal. E aí quando aconteceu isso nós todos voltamos pro CENPS e o Silveira foi convidado pra trabalhar em Brasília com um amigo dele lá que estava como assistente da Zélia. Aí o Silveira me chamou pra ir trabalhar com ele, eu falei: “não vou não, pra Brasília não vou não” aí fiquei aqui no CENPS e me ofereci pro Estrela, ele era superintendente do CENPS pra ser um consultor interno, eu não queria me aposentar, entendeu? Aí fiquei e tal, aí a Petrobras começou a pressionar, estava iniciando aquele processo de reduzir, o objetivo final era privatizar a Petrobras, né? Esse era o objetivo final do Collor e depois do Fernando Henrique. Aí o processo era de afastar o pessoal antigo, o pessoal que vestia a camisa da Petrobras, né? E que realmente acreditava que a Petrobras era uma coisa importante por país, ele queria afastar essa gente pra tornar... O que ele acabou fazendo tornar a Petrobras hoje uma multinacional preocupada com os acionistas e tal, né? Naquela época a ação da Petrobras era só pra brasileiro, brasileiro que podia comprar ação da Petrobras e acabou com isso colocou ação em Nova York e hoje, abre um parêntese aqui, os aposentados estão pagando o pato, porque a gente não teve mais aumento ligado ao pessoal da ativa, né? Por causa disso, mas isso é um parêntese, não tem nada a ver com o que nós estamos falando.
P/1 – Aí o senhor se aposentou...
R – Mas aí eu voltei pro CENPS e aí eu vi que a época não estava boa e tal, eu já tinha trabalhado quatro anos no Banco do Brasil quando era estudante de Engenharia e estava com 31 anos e meio de Petrobras, dava 35 anos de Instituto, aí eu me aposentei. Eles ofereceram dinheiro, a Petrobras... Foi a época sopão começaram a oferecer dinheiro, a Petrobras tinha 60 mil funcionários e alguns anos depois tinha 30 mil e passou a ter terceirizados 100 mil, foi outra política que foi colocada. Na minha visão o objetivo era privatizar a Petrobras, não conseguiram, mas eu ainda fui e me aposentei e fui pintar, porque eu sempre gostei muito de pintar, desenhar e tal, escrever também. Eu comecei pintando era uma coisa que eu fazia quando era jovem, garoto ainda, aí comprei pincel, tela e comecei a pintar a doidado. E aí foram me chamar o pessoal do CERPLAN em 91 eles foram me chamar porque tinha havido umas mudanças, o Mota Veiga tinha saído, o Silveira voltou e foi ser secretário geral da Petrobras, o presidente eu não lembro mais quem era. Mas ele voltou e forçou o CERPLAN a retomar o processo e aí me convidaram pra ser consultor do CERPLAN. E fui convidado também pelo CETLEN centro de tecnologia liberal aqui pra implantar gestão tecnológica, porque eu tinha experiência daqui, né? Aí eu virei consultor, aí dei consultoria pro CERPLAN, pro CERFIN dei pra vários órgãos da Petrobras pra implantar o planejamento estratégico, né? E no CETLEN eu comecei a fazer um esforço lá danado, mas não consegui também, porque também tinha muita política, entendeu? O CETLEN era um órgão que eles mesmos não sabiam pra que eles existiam, era uma coisa incrível, eu tentei organizar as idéias e tal ajudei a fazer alguma coisa, mas não foi pra frente. Eu trabalhei mais ou menos uns cinco anos como consultor principalmente no CERPLAN foi bastante tempo, a divisão de planejamento estratégico que a gente tinha criado no CERPLAN foi assumido pela Leda Franca que conhecia em e tal, enquanto ela estava lá eu a ajudei. Eu trabalhei lá com o Fontinni superintendente do CERPLAN e depois com o De Luca esse De Luca que está aí agora todos se aposentaram já. Eu ajudei eles a fazerem a revisão de plano estratégico, eu dei uma porção de déias lá, mas a época era difícil, né?
P/1 – Senhor Dorodame infelizmente a gente vai terminando nossa entrevista, eu queria perguntar o que o senhor destacaria do CENPS nesses anos todos desde o princípio? Alguma coisa?
R – Eu acho que é o domínio da tecnologia,a Petrobras hoje faz propaganda falando no CENPS, na época que eu trabalhei aqui eu tinha até vergonha de trabalhar no CENPS, as pessoas gozavam a gente, consideravam que a gente era uns sonhadores. Tecnologia era uma coisa que você comprava, estava pronto lá no país, eu uma vez quando era chefe da DITER, eu fui mostrar aqui os conselheiros da Petrobras na unidade 12 que tinha as unidades piloto, eu tinha um orgulho danado daquilo, porque aquilo era uma tecnologia específica, entendeu? Construir e projetar uma unidade piloto, construir uma unidade piloto era uma coisa que a gente não tinha e que ninguém tinha, entendeu? Foi desenvolvido aqui dentro, então o maior orgulho lá mostrando pro pessoal, aí um cara virou pra mim e disse assim: “mas me diga uma coisa, não seria muito mais barato vocês comprarem essa tecnologia lá nos Estados Unidos, não está pronta lá? pacotes prontos? Vocês compram lá e trazem pra cá, pra que vão gastar dinheiro construindo essas unidades”? Essa era a mentalidade da época no começo da década de 70, entendeu? Hoje a Petrobras quando faz propaganda na televisão fala na tecnologia e naquela época a gente era gozado, no tempo que eu trabalhei na COP, eles chamavam a gente de coador de café, que a gente fazia desenvolvimento de tecnologia de coar café. Isso porque a gente usava membranas pra separar hidrocarboneto, era assim ninguém acreditava, era dentro da própria Petrobras, o CENPS levou muitos anos pra ser reconhecido dentro da Petrobras, muitos anos, eu sei porque eu fui chefe da DITER durante 12 anos, entendeu? Então eu vi todo esse processo no tempo que... Aí tem a grande importância do Leopoldo e do Morggi, porque foram os que agüentaram, conseguiram agüentar toda a despesa que o CENPS teve naquela época construir esse prédio aqui e recrutar pessoal. Nós viemos pra cá com 200 pessoas e no fim da década de 70 tinha 1000 pra você ter uma idéia a DITER tinha um camarada com Mestrado que era eu e um com Doutorado que era o Leonardo Nogueira tinha feito Doutorado nos Estados Unidos em Catálise só o resto ninguém tinha curso de Pós Graduação. Quando eu deixei a divisão três quartos da divisão tinha Mestrado pelo menos o Mestrado. Então isso foi feito pagando pra ver porque nós não tínhamos demanda de tecnologia da época que justificava isso foi uma aposta, quer dizer em outras palavras quer dizer o seguinte o CENPS foi criado e veio pro Fundão sem ser uma demanda da área operacional, não foi, não era uma demanda da área operacional foi a visão de algumas pessoas der longo prazo que viam que a Petrobras tinha que ter um desenvolvimento tecnológico muito maior. Então eu fico muito satisfeito quando eu vejo a propaganda da Petrobras na televisão e fala no CENPS, fala na tecnologia principalmente depois das águas profundas e aí então foi um salto realmente, a gente entrou... A gente olhava os desenvolvidos pra ver o que eles estavam fazendo e passaram a olhar pra gente em águas profundas, a grande mudança, eu tenho orgulho de ter participado desse processo no começo, né? Na época que ninguém acreditava, né? Era o que se falava poucas não, muitas falavam.
P/1 – Eu queria saber se o senhor gostaria de deixar algo mais registrado que a gente não conversou aqui?
R – Eu criei ao longo desses anos que eu estou aposentado, eu virei escritor igual eu falei pra você, né? Então eu descobri o micro e o Word uma coisa espetacular, porque eu escrevia à mão, eu publiquei centenas de artigos se você for lá na biblioteca você vai ver lá no boletim técnico da Petrobras quem publicou mais artigos na época que eu estava aqui fui eu. Eu escrevia muito e defendia essas idéias da tecnologia e tal, depois de aposentado eu descobri o micro, o Word esse negócio todo e comecei a escrever a doidado, né? Então eu já publiquei mais de dez livros por minha conta, porque um livro a Petrobras financiou, um livro só que foi um livro técnico sobre administração estratégica foi publicado pelo Senai, eu até dei consultoria ao Senai também eu ajudei a fazer o primeiro plano estratégico do Senai. Então o Senai e a Petrobras se juntaram e fizeram a primeira edição desse livro que saiu duas edições e estão falando em terceira e tal. Os outros livros todos eram acho que o número de 100 exemplares, eu descobri agora fábrica de livros que tem lá no Senai lá na Tijuca e sai muito mais barato, né? Mas fiz pra distribuir, não estou ganhando dinheiro nenhum com isso não. Mas o que eu queria falar era isso em tudo eu procurei colocar sobre a Petrobras, eu escrevi quatro livros, três deles são a minha memória a minha passagem pela Petrobras, ta certo? As coisas que passei, como é que foi, como é que era na época e tal, são três volumes, um eu falo na questão tecnológica...
P/1 – Mas isso o senhor não deu pra Petrobras?
R – Deve ter aqui na biblioteca, um é aspectos tecnológicos, aspectos gerenciais e o terceiro estratégico, quer dizer foi a grande mudança que eu tive na Petrobras e o último que foi esse que eu dei pra você que é uma visão do processo do desenvolvimento tecnológico da Petrobras principalmente na área de refino, né? Eu escrevi isso através de episódios que eu vivi.
P/1 – E o nome do livro pra gente deixar registrado?
R – É “Recordações das Lutas pela Tecnologia na Petrobras” eu deixei o livro com vocês aí. E também tem muito artigo aí na biblioteca que eu contei histórias desse processo ao longo... Quando estava acontecendo, um deles eu trouxe também que eu escrevi quando tinha 20 anos de existência em 86, falando sobre o CENPS, como era o CENPS naquela época e quais eram as perspectivas que a gente via pra frente.
P/1 – É interessante também pro pessoal da gestão do conhecimento que estão trabalhando, né? Eu queria perguntar por último se o senhor gostou de ter vindo aqui, colaborado?
R – Gostei claro, eu gosto muito de conversar sobre essas coisas, foi a minha vida, a minha vida profissional foi essa aí na Petrobras toda, eu escrevo e gosto de falar quando me dão oportunidade de falar, eu já prestei um depoimento na Universidade Petrobras sobre a época do CENAP, né? Porque eu participei do CENAP no começo e participei de um depoimento também, está gravado em DVD sobre Engenharia Básica, a minha participação no processo de criação de Engenharia Básica na Petrobras e teve mais uma aí que... Isso tudo agora nos últimos anos.
P/1 – Ta certo, a gente queria agradecer a sua colaboração também no projeto e...
R – Eu estou à disposição de vocês pra qualquer coisa que vocês precisarem, ta?
P/1 – Ta certo senhor Dorodame a gente é que agradece o senhor ter vindo aqui e tido a paciência com a falta de luz, muito obrigada.
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