P/1 _ Para começar eu vou pedir para você falar o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento. R _ Donizete Antonio de Oliveira, Nascido em onde de novembro de 1960 aqui no município de Eldorado. P/1 _ E o senhor vivia com os seus pais, com os seus avos. O senhor morava com quem? R _ Sim. Eu vim da zona rural. Uma família humilde. Uma família de nove pessoas, sendo oito homens e uma mulher. Num terreninho pequeno de três alqueires. E eu morei lá até os quinze anos. E eu vim para Eldorado. Aí vim morara com meu irmão aqui em Eldorado, trabalhando com escritório de contabilidade. Eu vim da roça para um serviço totalmente diferente. Os meus estudos no inicio, de primeira a quarta foi na zona rural. Andava dois quilômetros para chegar à escola. Atravessava o rio. E depois quando eu entrei na quinta serie eu iniciei vindo de bicicleta para Eldorado. Dezoito quilômetros. E depois que eu terminei a oitava serie eu vim para trabalhar aqui como Office boy na cidade, num escritório de contabilidade. Aí passei a morar com meu irmão. Aí fui fazer o curso de contabilidade na cidade vizinha de Registro. Trabalhei no escritório de contabilidade até 1979. Aí ingressei na prefeitura. Vim com o convite do prefeito na época para trabalhar como tesoureiro da prefeitura. Trabalhei esse período com eles. Aí cursei. Entrei. Fiz o concurso para a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Consegui passar e me efetivei lá e vim trabalhando. Fiquei comissionado na prefeitura até 1987. Em 1988 eu já estava envolvido com o pessoal da política na época. Aí me candidatei a prefeito. Nem para vereador eu fui. Convidaram-me e eu não queria. Eu achava que política era uma coisa que dava muita briga. Aqui na cidade do interior, em especial aqui em Eldorado sempre teve uma rivalidade. E eu como nunca gostei de briga achava que ia entrar para partir para a briga. Ia arranjar inimizades. Então rejeitei o primeiro convite para vereador. Isso em 1978....
Continuar leituraP/1 _ Para começar eu vou pedir para você falar o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento. R _ Donizete Antonio de Oliveira, Nascido em onde de novembro de 1960 aqui no município de Eldorado. P/1 _ E o senhor vivia com os seus pais, com os seus avos. O senhor morava com quem? R _ Sim. Eu vim da zona rural. Uma família humilde. Uma família de nove pessoas, sendo oito homens e uma mulher. Num terreninho pequeno de três alqueires. E eu morei lá até os quinze anos. E eu vim para Eldorado. Aí vim morara com meu irmão aqui em Eldorado, trabalhando com escritório de contabilidade. Eu vim da roça para um serviço totalmente diferente. Os meus estudos no inicio, de primeira a quarta foi na zona rural. Andava dois quilômetros para chegar à escola. Atravessava o rio. E depois quando eu entrei na quinta serie eu iniciei vindo de bicicleta para Eldorado. Dezoito quilômetros. E depois que eu terminei a oitava serie eu vim para trabalhar aqui como Office boy na cidade, num escritório de contabilidade. Aí passei a morar com meu irmão. Aí fui fazer o curso de contabilidade na cidade vizinha de Registro. Trabalhei no escritório de contabilidade até 1979. Aí ingressei na prefeitura. Vim com o convite do prefeito na época para trabalhar como tesoureiro da prefeitura. Trabalhei esse período com eles. Aí cursei. Entrei. Fiz o concurso para a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Consegui passar e me efetivei lá e vim trabalhando. Fiquei comissionado na prefeitura até 1987. Em 1988 eu já estava envolvido com o pessoal da política na época. Aí me candidatei a prefeito. Nem para vereador eu fui. Convidaram-me e eu não queria. Eu achava que política era uma coisa que dava muita briga. Aqui na cidade do interior, em especial aqui em Eldorado sempre teve uma rivalidade. E eu como nunca gostei de briga achava que ia entrar para partir para a briga. Ia arranjar inimizades. Então rejeitei o primeiro convite para vereador. Isso em 1978. 1976. E depois. E acabei saindo direto como candidato a prefeito. E naquela ocasião eu enfrentei aqui os coronéis da cidade. Até porque eu nunca tinha me candidatado a nada. E perdemos naquela eleição por noventa e três votos. Foi assim e nós conseguimos dar um susto nos nossos adversários. Aí continuei o meu trabalho. Trabalhei muito na Santa Casa de Eldorado como administrador da Santa Casa. Fizemos muitas campanhas. Que aqui os recursos são difíceis. Então nós criamos um programa, com a comunidade, de auxilio a comunidade. Você passava nas casas. Conversava com as pessoas. Falava das necessidades que tinha a Santa Casa. Que todos, a qualquer momento poderiam estar precisando da Santa Casa. E todos fizeram aquelas contribuições, onde nós começamos a levantar a Santa Casa. Fazíamos assim trocas de jornal com ossos no açougue para fazer sopa para os pacientes. Depois nós fizemos a campanha da banana. Procurando os bananicultores e eles foram assim de pronto atender o nosso pedido. E nós conseguimos, na época, quinze caminhões truck de banana para levar para a CEAGESP, em São Paulo. Levantando mais alguns recursos para a nossa Santa Casa. Enfim. Eu acho que devido a esse trabalho que eu acabei me promovendo na política. Pelo contato com a população. Desde o período que eu estava como office boy. Que era todo dia correndo atrás do comercio, pegando nota. E cobrando. Enfim. E sempre junto com o pessoal da comunidade. E na Santa Casa. Especialmente na Santa Casa foi assim que eu trabalhei mais com a população. Porque não era só com o pessoal da zona urbana. E sim da zona rural também. Enfim fizemos um trabalho a contento. E dali nós conseguimos reativar toda a estrutura da Santa Casa. Especialmente a sala cirúrgica e onde nasceu. Existiu a primeira cirurgia de cesárea e laqueadura. Que a minha esposa serviu de cobaia. A primeira criança que foi feita cesárea aí foi do meu filho. Até porque na época eu estava como administrador. E se eu levo minha esposa para ganhar neném em outra cidade. Aí o que a comunidade ia falar. _ Pô. Se ele não confia em deixar a mulher dele aqui, porque nós vamos acreditar. Aí então. Mas Graças a Deus correu tudo bem. Está aí o menino formado. Já fez que eu tivesse os meus netos. Enfim. Vou ser vovô. Na época tinha cabelo. Hoje não tenho mais. Enfim. P/1 - Prefeito. Deixa eu interromper. Eu queria antes que o senhor falasse um pouco da sua vida profissional como prefeito. Eu queria retomar lá do começo. O senhor falou que até os seus quinze anos pelo menos, o senhor ficava na comunidade rural. Vivia lá com a família bem grande. Com oito homens. Conta para gente quais eram as brincadeiras. Como era a rotina no seu ambiente de trabalho. Como funcionava. Que lembranças o senhor tem desse período? R _ São várias. Porque na época a gente sem recurso então nós inventávamos brincadeiras. Por exemplo. Teve uma época que eu precisei fazer uma cirurgia no joelho. Que entrou um aro do pneu da bicicleta no meu joelho. Entrou de um lado e atravessou do outro. Foi aonde eu precisei fazer a cirurgia. Era brincadeira que a gente soltava o pneu da bicicleta rodando. E ele saltava por dentro do pneu. Aquele que encostasse no pneu. Ele rodando. Perdia ponto. E dessa vez além de eu perder o ponto, eu levei uns pontos na perna. Porque ficou o aro da bicicleta, uma parte do ferro. O aro da bicicleta no meu joelho. Mas brincava E tinham muitos daqueles tambores de óleo agrícola. A gente comprava o tambor de óleo e vinha lacrado. Aquele tambor de duzentos litros e a gente brincava de correr em cima do tambor. Nós virávamos o tambor e fazia cambalhotas. Como morávamos na beira do rio gostava muito de pescar. Fazia brincadeira de atravessar o rio e chegar até o meio do rio e virar a canoa. Nós atravessávamos de canoa. Nem barco era. Era uma canoa e dali essa canoa ia descendo o rio abaixo e eu e os meus coleguinhas saltava de cima da canoa para dentro do rio. Nadava e voltava de novo. E era uma preocupação imensa para os nossos pais, porque sempre morreram muitas pessoas nesse rio por afogamento. E nós extrapolávamos a realidade. Eles nós proibiam e nós saiamos escondidos e quando víamos nós já estávamos no meio do rio, com a canoa virada e rodava aí um quilometro, dois quilômetros o rio abaixo. Depois nós virávamos a canoa e subia o rio remando. Então nós fizemos muita brincadeira. Brincadeira de esconde esconde. Atrás das bananeiras. Atrás das arvores, no mato. Enfim. Foi assim uma serie de brincadeiras que a gente tinha que inventar. Porque você não tinha aqueles brinquedos. Brincava de corrida de cavalos, que tinha cavalos no sitio também. Tirava leite da vaquinha. Quer dizer. Toda essa parte básica do trabalho, além da nossa infância dessas brincadeiras, foi assim uma lição. Porque eu sempre. A minha mãe sempre foi doentinha. Hoje ela não existe mais e nós aprendemos muito. Começamos a trabalhar muito cedo. Carpindo banana. Roçando e carregando. Aí chegava a casa e tinha que fazer o almoço. Lavava a roupa porque ela sempre doentinha, então os filhos que ajudavam. Então hoje isso eu tentei passar para os meus filhos também. Porque amanhã ou depois se eles tiverem num lugar e não tiverem uma cozinheira, eles que se virem. Pelo menos fritar um ovo eles sabem. Então de tudo nós fizemos um pouco. Até costurar roupa. Fazer barra de calça nós aprendemos tudo isso com nossos pais. Embora fosse um pouco bravo, enérgico. Naquela época se chegava uma visita em casa, ele só olhava e você nem na mesa sentava. Era para as visitas. Depois as crianças. Era nossa hora. Então foi muito importante. Na escola nó brincávamos muito de esconde esconde. Fugia da escola para atravessar o rio. Aí vinha professora reclamar para os nossos pais. A gente levava umas cintadas porque estava desobedecendo ao professor. Enfim. Aquelas brincadeiras de criança na zona rural. Você não tinha os brinquedos que hoje existem, então nós inventávamos. Fazia carrinho de madeira. Enfim. De tudo a gente fazia um pouco. P/1 _ Deixa perguntar um coisa. Você falou que depois você veio morar na casa de um irmão seu aqui na cidade. Como foi a construção dessa relação. Como vocês lidavam entre os irmãos? Como era o cotidiano? R _ Nó sempre fomos uma família muito unida. Um ajudando o outro. E como eu disse no inicio. Como nós somos de uma família humilde. O terreno. Meu pai falava que o terreno era tão pequeno, que se fosse para ficarem todos os filhos dentro de casa e mais as vaquinhas, alguma vaca ia ficar com o rabo de fora. Porque o terreno era pequeno e o tamanho do terreno não dava para sustentar toda família. Então foram saindo os irmãos. Esse que eu vim morar com ele. É o primeiro da fila. Meu irmão mais velho e já tinha vindo há muito tempo para a cidade. Para trabalhar também. Trabalhar e estudar. Num escritório de contabilidade e que foi aí que eu vim morar com ele. Sem pagar nada. Ele me ensinou muito. Me ajudou muito. Bancou meus estudos em Registro, que eu fazia contabilidade. Enfim. Nós fizemos uma parceria muito boa. Só que depois eu tive que sair. Na época que surgiu outra oportunidade e logo em seguida eu casei. Eu casei muito novo. Aí eu saí de casa e fomos tocar a nossa vida. Cada um tocando a sua vidinha como pode. Aí hoje eu tenho os meus irmãos. Tem um que mora em Curitiba. Tem outro que mora em São Paulo. Tem dois que moram aqui no sitio, na zona rural. Um que mora em Sete Barras. Enfim. Estão espalhados. Cada um tocando a sua vida. P/1 _ E quando você veio para Eldorado, como era Eldorado nessa época? O que você lembra a cidade. Das casas? R _ Era uma cidade mais, vamos dizer assim, com menos movimentos. Embora ainda hoje seja uma cidade tranqüila, calma. Mas ela foi aumentando. Ela foi crescendo. Houve mudança na praça. A abertura de mais loteamentos na cidade. Porque muitas pessoas saíram da zona rural e vieram morar aqui na cidade. Até pela dificuldade de trabalhar nos sítios. Então ela teve um crescimento. Ela aumentou população em um numero até quantitativo. Naquela época nós tínhamos no município todo em torno de oito mil habitantes, E hoje pelo IBGE dá em torno de quatorze mil e setecentos habitantes. Até porque é um município que está dentro da preservação ambiental, então não tem como explorar muito a zona rural por causa da agressão ao meio ambiente. Mas eu acredito e pelo que a gente vê. O que era e o que é hoje ela deu uma melhorada boa. Cada prefeito que passou trabalhou e fez aquilo que estava dentro do seu alcance com os poucos recursos e conseguimos passar a nossa cidade, que hoje já mudou até de nome. Que hoje é uma estância turística. P/1 _ E o que mudou na sua vida prefeito, quando o senhor veio a quinze anos da zona rural, para ser Office boy. Ter outra rotina. As coisas eram diferentes? R _ Ah sim. Os primeiros dias que eu comecei trabalhar no escritório para mim foi uma prisão. Porque eu trabalhava. Era um cara ativo. Trabalhava na roça. Carregava banana, roçava. E de repente você ficar atrás de uma mesa. De vez em quando correndo na rua de bicicleta como office boy. A minha alegria era quando eu estava na rua fazendo entrega de documentos. Buscando algum documento. Fazendo cobrança. Mas mudou muito a minha rotina pelo tipo de trabalho que eu fazia. Eu fazia um trabalho bruto e de repente vim trabalhar com papel. Então eu senti assim uma dificuldade muito grande. E todo fim de sem sana eu voltava para o sitio e pegava no cabo de enxada de novo porque eu não estava contente com essa mudança. Mais aos poucos eu fui acostumando e hoje se eu voltar para roça eu vou ter que recomeçar tudo de novo. Fazer um novo treinamento para carregar banana. Enxada. Mas eu gosto muito do pessoal da zona rural, do sitio. Eu continuo indo lá com a minha família. Esse ano principalmente depois de tantos anos nós conseguimos reunir toda família para passar o ano juntos. Porque fica difícil. Cada um toda a sua vida. Um no estado e outro em outro. Em outros municípios. Mas a mudança foi radical para mim. Mas depois eu gostei. Acostumei. P/1 _ Tem alguma história engraçada como Office boy que você se lembra? R _ Sim. Eu me lembro de alguns tombos de bicicleta. E teve uma vez que eu fiquei enroscado numa cerca. Escapou o breque da bicicleta e lá embaixo tinha uma cerca e aí precisou os vizinhos rasgar a minha camisa. Porque eu fiquei realmente amarrado na cerca, sangrando. Mas não foi nada grave. A bicicleta teve um pequeno estrago e depois virou piada. Porque eu era o arrombador de cerca. Até quando faziam brincadeira de rodeio e vinham os bois e estourava a cerca ele falava que o Zetinho está no meio também. Ele que iniciou de estourar a cerca. Mas depois passou e a gente andou tendo algumas brincadeiras, piadas entre os companheiros. Apelido. Que o apelido. Se você ficar bravo aí que pega. E me apelidaram de Zetinho. A principio eu fiquei bravo, mas depois virou Zetinho e está até hoje. Então são esses tipos de brincadeiras que houve. A gente brincava nu Ito. Fugia da escola quando estava estudando e saia para a farra. Isso não leva você a lugar nenhum, mas acho que tudo é uma experiência que você tem que conhecer os dois lados da vida. P/1 _ E você comentou que você casou cedo. Como você conheceu a sua mulher: R _ Rapaz. A minha esposa ela caiu de para quedas aqui em Eldorado. Eu era metido a namorador aqui em Eldorado na época e em um casamento de um primo. Eu estava nesse casamento e de repente eu percebi que eu estava com umas três paquerinhas minha que estava sempre ali e comece a ajudar no casamento. A servir chope e churrasco para fugir das mulheres. Para não encontrar com uma. Aí cheguei para cada uma: _ Olha. Eu estou ocupado hoje. Estou trabalhando. Não leva mal. Eu não vou ficar com você hoje não. E falava a mesma historia para a outra. E de repente eu conheci a Medilicia, que hoje é a minha esposa. Que ela morava aqui já há um ano. Ela veio lá da região de Araçatuba. Ela veio de Val Paraíso e naquela época a escolha da aula. Ela é professora. A escolha das aulas era na Secretaria de Educação em São Paulo. E ela gostou do nome Eldorado na escolha. Veio lá da divisa do Mato Grosso e veio conhecer Eldorado. Veio se efetivar em Eldorado. Depois de um ano eu conheci nessa festa. Nesse casamento fugindo das paquerinhas que eu tinha. E essa paquerinha virou namoro. Virou casamento e estamos aí a vinte e nove anos casados graças a Deus muito bem. P/1 _ Me conta agora um pouquinho do curso de contabilidade. Isso foi antes ou depois? Foi nesse preâmbulo. R _ Foi nesse preâmbulo. Foi depois que eu vim para a zona urbana e aí eu fui fazer o curso de contabilidade em Registro que foi muito bom. Foi muito útil porque aquilo veio de encontro com aquilo que eu estava trabalhando. Então eu sempre pensei assim. Até foi uma orientação do meu irmão que eu ia fazer o colegial e ele falou? _ Mas você vai fazer o colegial se tem o curso de contabilidade. O curso de contabilidade técnico na época. _ Você não quer tentar fazer? _ Mas tem que pagar. Fica caro e eu não tenho condições. _ Eu pago o curso para você. E aí foi muito importante para mim. Foi uma base muito boa. No inicio eu levei um pouco na brincadeira porque eu sempre gostei de festa e os colegas sempre faziam com que você acompanhe e você acaba às vezes matando aula. Eu matei muita aula na escola. Para participar de festa e eventos com os amigos. Mas me dei bem. Formei-me nisso aí e continuei trabalhando. Depois que eu saí do escritório de contabilidade e vim para a prefeitura eu já tinha. Quando eu vim para a prefeitura eu já tinha terminado o curso de contabilidade. Já tinha o meu CRC. Então foi muito bom. Foi um aprendizado que veio realmente naquele setor que eu estava trabalhando. Depois eu fui nomeado pelo prefeito para ser o administrador da Santa Casa. Porque q prefeitura assumiu a Santa Casa através de um convenio. Aí eu trabalhava durante o dia aqui e aí fui fazer o curso de administração hospitalar. Eu fiz dois anos na Faculdade São Camilo. Eu trabalhava durante o dia e saia daqui umas quatro horas da tarde mais ou menos. Às sete e meia estava na faculdade. Saia de lá onze e meia. Duas horas da manha eu estava aqui e no dia seguinte. Foi um pouco cansativo, mas foi outro aprendizado que deu para eu desenvolver aquele trabalho que eu estava fazendo porque era a área hospitalar. Área da saúde. E isso fez com que eu aprendesse muito dentro da área da saúde. Quer dizer o suficiente para nós trabalharmos com a ferramenta que nós tínhamos na mão na época. P/1 - Na época quem era o prefeito e qual era a relação que você tinha com ele? R _ Na época o prefeito era o meu primo que era o Fernando Claudio, quando eu fui nomeado administrador da Santa Casa o prefeito já era o Fernando Claudio. Quando eu vim anteriormente para a prefeitura eu vim com outro prefeito, o Senhor Ari Mariana. Daí teve a eleição em 1988 e o Senhor Ari saiu e nós éramos todos de um grupo político. Mas a população começou a pedir para que eu entrasse. Só que naquela sigla partidária tinha dono. Então eu tive que sair para outro partido e virei adversário deles. Não inimigo, adversário. Sou amigo deles até hoje. Tanto é que eu cheguei a concorrer com o meu primo, que me indicou na época para a Santa Casa. Que eu ganhei a eleição dele. Ele foi prefeito e depois eu disputei a eleição com ele e virei prefeito em 1992. Quando eu disputei com ele e nós conseguimos ganhar a eleição. P/1 _ Vamos falar um pouquinho do trabalho da Santa Casa. Você falou algumas coisas, mas eu queria mais do cotidiano. Memórias que você lembra. Você trabalhava até às quatro horas. Como era o trabalho no hospital. R _ No hospital a principio foi outra luta, porque na verdade a Santa Casa estava na época quase fechando. Porque existia a SUDELPA. A SUDELPA tinha um convênio com a prefeitura e os médicos, enfermeiros, medicamento. Eles bancavam para a Santa Casa. E esse convênio terminou e a Santa Casa foi caindo cada dia mais. A prefeitura não tinha intervenção nenhuma na Santa Casa. Era só a irmandade que tocava e na época de fazer o convênio, que o prefeito me chamou para administrar eu fiquei um pouco assustado. Porque a Santa Casa só tinha os seus funcionários e estava aí com quatro meses atrasado. Então foi difícil por um lado e facilitou de outro lado. Porque quando você pega uma coisa do nada, muito pequenininha então você consegue desenvolver. É lógico que eu não desenvolvi sozinho. Como eu disse, nós fizemos varias campanhas e fomos reativando e melhorando junto com a comunidade. Angariando fundos e com isso ela foi crescendo. Aí depois que eu saí a veio a municipalização no outro mandato. Veio à municipalização da saúde, que foi quando nós conseguimos os recursos para ampliar a Santa Casa. O recurso do governo federal, que foi pelo Banco do Brasil para ampliação da Santa Casa. E através da municipalização o Estado cedeu os equipamentos. Então a Santa Casa foi crescendo. Ela era muito pequenininha. Ela é pequena até hoje. E naquela administração que nós estávamos naquele momento, como entidade ela tinha condições de fazer convênio com todas as entidades que quisessem participar, então além dos convênios que nós fizemos aqui com o Bradesco, Banco do Brasil, Cruz Azul, Unimed. Enfim. Todas aquelas pessoas que tinham aquele beneficio nós estávamos cadastrando. Conseguimos trazer o atendimento do IAMPE. Aqui tem muito servidor público. Quer dizer tudo que se fazia na Santa Casa era recompensado. Era pago. Então ela começou a crescer nos atendimentos. Até o momento que nós conseguimos chegar ao ponto de fazer cirurgia aqui na Santa Casa. Depois que entrou a municipalização aí a própria Secretaria da Saúde proibiu que esses recursos de fora entrassem. Porque conforme foi feito o convênio, que a prefeitura assumiu a responsabilidade naquela época. Através da parceria com o Governo do Estado. Aí pediram para cortar todos os incentivos. De lá para cá dá até dó porque chegavam pessoas com carteirinhas do convênio. Da Unimed ou do Banco do Brasil, Do Bradesco sei lá. E isso fez com que as pessoas chegassem ali. Mesmo querendo pagar, passaram a não pagar mais nada. E isso começou a acarretar uma despesa muito pesada para o município. Porque na verdade a municipalização da saúde foi uma das maiores. Foi uma enganação que o governo fez com os municípios. Porque eu entendi na época que ele quis tirar um peso das costas dele e jogar para os municípios. E chegou num ponto hoje que, por exemplo, a situação da saúde está precária em nível de Estado. Em nível de Brasil. Tratando-se de saúde pública. Porque os municípios não agüentam. E o governo gasta em torno de doze por cento na saúde e o município que tinha que gastar menos hoje passou a gastar mais. Hoje o município está entrando em torno de trinta por cento do seu orçamento direcionado para a saúde. Então essas mudanças acredito que não foi legal para o município. Não foi bom. E não foi bom principalmente para a população que paga o preço alto por isso. Por que às vezes por mais que o município esteja investindo, a população não tem aquele atendimento que eles merecem. P/1 _ Prefeito. Conta para a gente agora a experiência como prefeito. Desde a primeira ocasião. Primeiro para você como foi pessoalmente. Você pensava em ser prefeito? R _ Eu nunca pensei de me envolver em política. A minha política quando eu comecei aqui. Eu comecei ajudando os outros. Pregando cartaz em postes, nas paredes. Pintando muro. E eu acho que depois desse trabalho que eu fiz, não só com a Santa Casa, mas através do envolvimento que eu tive com os produtores. Porque eu sou filho de produtor rural. E nós críamos a Associação dos morangos agricultores. Criamos à cooperativa e mais o envolvimento com a saúde. Acho que isso fez com que eu estivesse me promovendo politicamente sem saber. Porque de repente eu estava interagindo com toda a comunidade de Eldorado e foi o ponto que eu cheguei a prefeito. E posso dizer que me sinto uma pessoa realizada. Porque eu acho que a melhor coisa que você leva dessa vida é quando você deixa um beneficio para a população. Que você pode contribuir com a população. E naquele momento nós fizemos um esforço muito grande e conseguimos mudar a cara do município. Conseguimos melhorar na infraestrutura. Em calçamento. Remodelamos a praça. Conseguimos passar o nosso município para estância turística, pelas belezas naturais que nós temos. Então eu acho que só esse título de estância turística, que foi uma briga de tantos prefeitos que não conseguiram. E nós conseguimos. Então eu acho que foi um passo muito grande. Embora nossa população ainda não esteja interagindo na questão do turismo porque nós criamos uma estância e naquela época o mandato era de quatro anos e nós conseguimos passar o município para estância turística no terceiro ano. Nós assumimos em janeiro de 1993 e conseguimos passar para estância turística em 1995. E 1996 já era o ultimo ano de mandato. Mas mesmo assim. Com esse titulo o município passou a ter uma verba extra, que é do DADE, Departamento das Estâncias Turísticas do Estado de São Paulo. E esse recurso vindo todo ano, de 1995 para cá ajudou muito o município. Porque ele serviu para trabalhar na infraestrutura do município. Cada ano que passa você tem um recurso. Lógico que tem que fazer os projetos para esse recurso vir. No nosso caso que é uma estância, assim como as outras estâncias. Todos passaram a ganhar esse beneficio. Porque o município só com os recursos que existem no município é muito difícil de tocar. Porque é o quarto município em extensão territorial no Estado de São Paulo com mil, setecentos e vinte e um quilômetros quadrados. Nós temos aqui em torno de mil quilômetros de estradas de terra. As comunidades ficam muito distantes. Nós temos aqui o bairro que eu posso dizer assim o bairro mais longe aqui do centro da cidade, que se chama Bairro Guaipiruvu. Ele fica a oitenta quilômetros aqui do centro da cidade. Você tem na outra margem os bairros, que são os bairros do Quilombo e o bairro Ucurunduva, Galvão, São Pedro que fica numa média de sessenta quilômetros daqui. Aí você sai para outro ramal que você vai para os bairros lá na região da Barra do Braço. Bairros que ficam a setenta quilômetros de distancia. Então quer dizer que a extensão territorial é muito grande. Tem muitas estradas. Com uma população muito pequena e que você tem por obrigação que é o direito de ir e vir. E você dá acesso para essas pessoas. Então é um município um pouco complexo para trabalhar. Eu acredito que dentro dessa questão ambiental que nós estamos vivendo hoje, eu acredito que nós teremos um futuro promissor. Eu costumo dizer que nós estamos numa área de preservação, onde você pega o mapa do Estado de São Paulo. Você vê uma mancha verde. E essa mancha verde é a nossa área verde da mata que está preservando o oxigênio não só para a região, mas para o Estado e para grande parte do mundo. Então eu hoje como presidente da Bacia Hidrográfica do Vale do Ribeira. Nós temos assim um trabalho muito grande. Um desafio muito grande para fazer com que os recursos ambientais através de projetos. Dependemos de muitos técnicos ainda. Eu vejo assim o Vale do Ribeira uma região muito rica. Pelas belezas naturais, pelo patrimônio que nós temos. Pela preservação ambiental. Pelas cavernas. Que eu até tomei a liberdade, junto com o meu grupo, para fazer a entrada da cidade com o portal com o tipo da entrada da caverna, Que aqui será o portão das entradas das cavernas do nosso município e o município vizinho. Mas isso é um processo lento. É um processo que demora muito. Depende de muitos técnicos, de muito trabalho político em nível de governo federal, em nível de governo estadual. Inclusive a nível internacional, que hoje essa questão ambiental soma muito por tudo que estragaram. Por tudo que o homem desfez da natureza até hoje. Então nós estamos conservando o que temos e tentando fazer com que aqueles que destruíram comecem um reflorestamento. Alguma coisa assim. Então eu acredito que a localização nossa. Quando falam que a nossa região é uma região muito pobre, eu não concordo com isso. Eu acho que a nossa região é uma região rica em belezas naturais. É uma região que está bem localizada. Nós estamos aqui a duzentos e cinqüenta quilômetros de São Paulo. Estamos a duzentos quilômetros de Curitiba. Estamos a duzentos quilômetros de Santos. A duzentos quilômetros de Sorocaba. Quer dizer nós estamos perto, no meio dos grandes centros. E no meio de dois portos muitos significativos em nível de Brasil, que é o Porto de Santos e o Porto de Paranaguá. Nós estamos aqui do Porto de Santos a duzentos quilômetros e o Porto de Paranaguá estamos a trezentos quilômetros. Sem falar na linha do MERCOSUL. Nós estamos na rota do MERCOSUL, que é a Regis Bittencourt, que a nossa rodovia, BR 116. Então com toda essa localização e todas essas belezas que nós temos. Essas riquezas que nos temos, eu tenho certeza que a médio e em longo prazo a região do Vale do Ribeira ela pode ser. Não vou dizer a melhor, mas uma das melhores do Brasil. P/1 _ Prefeito. A gente está finalizando agora, mas eu queria falar de outra fase da sua vida. Você como pai e como avô. Está sendo pai e avô aqui em Eldorado. Criou seu filho aqui. A experiência de ser pai nessa vida. O que você tem a dizer? R _ Olha. Eu agradeço muito a Deus por criar os meus dois filhos. Tenho dois filhos só. E que puxaram pelo pai. Pegou o vírus e casaram novos também. Eu casei com vinte e um anos e os meus dois filhos casaram muito novos. Um casou com vinte e dois anos e o outro com vinte e um. Enfim. E desses dois filhos eu tenho hoje cinco netos. Gosto demais. Eu brinco demais. Eu gosto muito de criança e para mim foi a melhor riqueza que Deus me deu, que foi a minha família. A minha esposa. Os meus filhos. Os meus netinhos e a minha netinha. Enfim. Sem falar na família dos meus irmãos. Os meus primos que a gente é uma família. Nós somos uma família bem unida e hoje a gente vê na grande parte do mundo muita guerra entre as famílias e eu não posso reclamar nem um pouquinho. Porque graças a Deus a minha família é unida. É uma família saudável e eu fico muito feliz com isso porque eles são o orgulho da minha vida. Sem eles eu não sei o cargo que ocupei lá na roça e em todo o lugar que eu passei na minha vida. Eu acho que não são tão significantes quanto significa esses meus herdeiros que estão aí. P/1 _ E você têm algum sonho. Algum projeto pessoal ainda por realizar? R _ Olha. Eu quero. Eu tenho sim, mas o meu projeto é um projeto político mesmo. Eu quero conseguir. Com todas essas dificuldades que nós estamos enfrentando a questão do recurso do município. Porque quando você assume um cargo desse, você deixa a família. Você não se manda mais. É o povo que conduz a sua vida na verdade porque você trabalha pelo povo. Você pensa e quer o melhor para eles e eu não estou conseguindo cumprir com o plano de trabalho que nós fizemos pelas dificuldades que nós estamos enfrentando. Com muitas promessas. Com muitos projetos. E projetos para nós eles não faltam, mas às vezes aquele projeto não sai. Como não saíram tantos no ano passado. Nós temos aí uma serie de projetos em andamento e de repente a coisa não anda. Então eu quero sim concluir. Eu quero fechar o meu mandato tentando retribuir a nossa população aquilo que nós assumimos em campanha. Que é uma melhor situação de vida, de geração de renda. De geração de emprego. A saúde. A nossa infraestrutura. E melhores recursos para o nosso município. O turismo. Então eu acho que essa estrutura é o meu sonho que eu quero fazer com que a gente consiga dar impulso no município para a nossa população ter melhores condições para tratar com suas famílias. Trazer suas famílias porque muitos deles saem fora para trabalhar, porque não tem meios de trabalhar aqui. Aqui não tem uma indústria. Até pela questão ambiental. Então levando por um lado da indústria de hotelaria, turística. De bares, restaurantes. Eu acredito que com isso aí vamos conseguir trazer essas famílias que saíram daqui procurando seu sustento, que venham. Voltem para a sua cidade para trabalhar e que mostrem para a nossa região. Para o nosso estado. Para o Brasil e para o mundo o que nos temos de bom na nossa cidade. Então eu quero deixar esse alicerce pronto para aqueles que vierem desfrutar de tudo aquilo de bom que nós temos no município de Eldorado. P/1 _ Eu agradeço prefeito a entrevista e a oportunidade. R _ Obrigado e um abraço pra vocês e bom trabalho. Sucesso. P/1 _ Obrigado.
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