Meu nome é Roberto da Cruz Raposo. Nasci em Belém do Pará, no dia seis de junho de 1958.
Meu ingresso na Petrobras se deu em 1980. Fiz um curso de formação de oficiais da Marinha Mercante. Fiz minha opção para trabalhar na Petrobras, embarcado, viajando no navio da Petrobras. Nessa ocasião, vim fazer meu estágio diretamente aqui. Após seis meses desse estágio probatório, fui aprovado e fiz uma prova de avaliação para ser admitido.
Fiquei de 1980 até 1987 trabalhando como oficial da Marinha Mercante. Em seguida, fiz um curso de Técnico de Segurança no Trabalho. Nessa época, de 1987 para 1988, também se podia fazer admissão através de um processo seletivo interno. Participei de um processo seletivo interno, para trabalhar no quadro de terra. Daí em diante, fiquei trabalhando como Técnico de Segurança até hoje. Não entrei através de concurso. O estágio encaminhava e nós fazíamos uma prova. Como a Empresa precisava de gente, fazíamos apenas uma seleção. Nessa ocasião, fui aprovado. Entrei como oficial da Marinha Mercante, fiquei viajando de 1980 até 1987. Foi na mesma ocasião que eu fiz o curso de Técnico de Segurança do Trabalho. Acabei optando por Técnico porque viajar é bom, mas tem os contra-tempos, essa história de ficar muito tempo ausente de casa, essas coisas todas. E também fiz essa opção porque acreditava que teria mais oportunidade vindo trabalhar em terra. Então, foi por isso.
Meu trabalho era embarcado. Trabalhava nesses navios que traziam petróleo, navios de longo curso. Viajávamos para o exterior, pois havia uma carência de petróleo muito grande no país. Trabalhávamos direto indo para o Golfo Pérsico, indo nas áreas onde o Brasil importava petróleo. Nós íamos buscar esse óleo. Por ocasião desse trabalho, tive a oportunidade de conhecer alguns lugares exóticos. O nosso trabalho era um trabalho simples, mas de muita responsabilidade.
Oficial de Náutica cuida da parte de navegação da...
Continuar leituraMeu nome é Roberto da Cruz Raposo. Nasci em Belém do Pará, no dia seis de junho de 1958.
Meu ingresso na Petrobras se deu em 1980. Fiz um curso de formação de oficiais da Marinha Mercante. Fiz minha opção para trabalhar na Petrobras, embarcado, viajando no navio da Petrobras. Nessa ocasião, vim fazer meu estágio diretamente aqui. Após seis meses desse estágio probatório, fui aprovado e fiz uma prova de avaliação para ser admitido.
Fiquei de 1980 até 1987 trabalhando como oficial da Marinha Mercante. Em seguida, fiz um curso de Técnico de Segurança no Trabalho. Nessa época, de 1987 para 1988, também se podia fazer admissão através de um processo seletivo interno. Participei de um processo seletivo interno, para trabalhar no quadro de terra. Daí em diante, fiquei trabalhando como Técnico de Segurança até hoje. Não entrei através de concurso. O estágio encaminhava e nós fazíamos uma prova. Como a Empresa precisava de gente, fazíamos apenas uma seleção. Nessa ocasião, fui aprovado. Entrei como oficial da Marinha Mercante, fiquei viajando de 1980 até 1987. Foi na mesma ocasião que eu fiz o curso de Técnico de Segurança do Trabalho. Acabei optando por Técnico porque viajar é bom, mas tem os contra-tempos, essa história de ficar muito tempo ausente de casa, essas coisas todas. E também fiz essa opção porque acreditava que teria mais oportunidade vindo trabalhar em terra. Então, foi por isso.
Meu trabalho era embarcado. Trabalhava nesses navios que traziam petróleo, navios de longo curso. Viajávamos para o exterior, pois havia uma carência de petróleo muito grande no país. Trabalhávamos direto indo para o Golfo Pérsico, indo nas áreas onde o Brasil importava petróleo. Nós íamos buscar esse óleo. Por ocasião desse trabalho, tive a oportunidade de conhecer alguns lugares exóticos. O nosso trabalho era um trabalho simples, mas de muita responsabilidade.
Oficial de Náutica cuida da parte de navegação da embarcação. Trabalhei como Segundo Oficial de Náutica, que é o primeiro posto. Era responsável pela salvatagem, pela segurança, e fazia quartos de serviços de navegação. É como se fôssemos vigias de navegação. A gente fazia esse tipo de trabalho. Diz-se quarto de navegação porque trabalhamos quatro horas e folgamos oito, durante toda a viagem do navio. A partir do momento que o navio chega em um porto, nós entramos em um outro regime de trabalho. Nessa outra escala, podem ser 12 horas de trabalho por 24 de folga ou 24 por 48. Isso depende da estadia do navio no porto. Normalmente, como as estadias eram curtas, eram escalas de 12 horas por 24.
É uma ótima experiência, porque, em uma embarcação, assim como em uma plataforma, existe um mundo próprio. É como se fosse uma cidade que tivesse toda sua independência. Somos obrigados a nos adaptar, trabalhar naquele ambiente e tirar o máximo de tudo ali dentro, tanto na parte profissional quanto na parte pessoal, porque temos que nos relacionar com as pessoas durante muito tempo, sem ter como fugir. Vamos ao refeitório juntos. Para dormir, tinha os camarotes que eram áreas comuns. Estamos sempre lidando com aquelas mesmas pessoas. É uma experiência gratificante lidar com o ser humano. Temos que nos adaptar e conviver com isso. Para o profissional, isso é muito bom, porque temos a oportunidade de conhecer um sistema de trabalho bem diferenciado. Por força das circunstâncias, somos obrigados a conhecer, além da nossa área, a forma como ela interage com as outras áreas. Temos que entender um pouco da área de outro colega, para não entrarmos em conflito. Levando-se em consideração que, para o desenvolvimento e eficiência do trabalho, é necessário que tenhamos perfeita harmonia com o trabalho do colega, para que não haja conflito. Uma coisa depende da outra. Estamos o tempo todo juntos. Não posso imaginar que eu possa trabalhar sozinho. É como se fosse naquele barco, em que um está na parte da popa e o outro está na parte da proa. Um está na frente, outro está atrás. Se abrir um buraco no casco perto do colega, eu estou no mesmo barco, tenho que ajudá-lo porque, caso contrário, nós dois vamos para o fundo. É mais ou menos assim que funciona.
Na ocasião, estava trabalhando embarcado ainda. A Bacia de Campos estava precisando de Técnicos de Segurança e fez uma solicitação para a FRONAPE, onde eu trabalhava. Nós temos um encarregado da parte de segurança e salvatagem. Na nossa formação, está embutido isso. Eles fizeram a solicitação para aproveitar a mão-de-obra que tinha lá, para trabalharmos aqui na plataforma. Então, fizeram um concurso, quer dizer, um processo seletivo interno para nós virmos. Enquanto isso, eu estava trabalhando embarcado como oficial. Esse processo seletivo era para trabalhar embarcado na Bacia de Campos. Eles queriam aproveitar os oficiais de náutica por terem conhecimento específico. Nessa ocasião, fiz um processo seletivo e tive sorte de ser aprovado. Quando me apresentei na Bacia de Campos, tinha um pequeno porém: para ser Técnico de Segurança, na Petrobras, precisávamos de registro no Ministério do Trabalho. Como Oficial de Náutica, não tinha esse registro. Por isso, não foi possível nos aproveitarem na Bacia de Campos. Mas, como a força de trabalho estava carente, também precisavam de gente no Rio, desde que nós comprovássemos que iríamos fazer um curso reconhecido pelo Ministério do Trabalho. Eles davam condições, não iam pagar, mas davam condições para estudarmos. Achei por bem fazer. Fiz essa opção de estudar. A duração desse curso foi de um período letivo, que começou em março e foi até dezembro de 1977. O compromisso da Empresa comigo era de não me embarcar, não me colocar para viajar para longe. Ia me colocar em disponibilidade, justamente para que eu tivesse a oportunidade de fazer o curso. Fiz esse curso por conta própria e, no final do ano, fizeram a minha transferência do quadro de marítimo para o quadro de terra.
Gostei de voltar para a terra, porque trabalhava ligado diretamente aos navios, fazendo inspeção de segurança. A minha área é navegação e trabalhava com navios, com transporte de petróleo. Fiquei nessa área praticamente só observando, fazendo inspeção de segurança. Então, o que aconteceu? Eu ficava lidando diretamente com os próprios navios que já havia trabalhado, com os mesmos colegas, só que em uma posição diferente. Trabalhava como Inspetor, no quadro de terra. Na época, não era Técnico de Segurança, o nome era Inspetor de Segurança. Fazia essa inspeção quando os navios estavam no porto. Em qualquer porto no território nacional e até no exterior, dependendo, mas normalmente nos portos nacionais. Íamos fazer inspeção, fazer verificação, dar orientação, instrução, tudo isso.
Fazíamos essa inspeção e o cenário foi mudando. Deixamos de ser executantes, de fazer inspeção, para fazer auditoria, em função dessas várias certificações. A partir de 1996, começamos a trabalhar com certificação, fui trabalhar com auditoria. Os navios não faziam simplesmente inspeção operacional. Algumas vezes, fazíamos inspeção operacional, mas, muitas vezes, fazíamos auditoria. Quando o sistema de gestão no Rio de Janeiro foi implantado, fomos treinados para sermos auditores. Começamos a fazer auditoria no sistema de gestão. Nessa ocasião, a Petrobras, criou a Transpetro. Com a criação da Transpetro, o órgão em que eu trabalhava, a FRONAPE, passou a ser vinculado a Transpetro. Quando a Transpetro foi criada, não tinha funcionários próprios. Então, nós, empregados da Petrobras, ficaríamos cedidos, emprestados a Transpetro. Não era uma situação muito confortável, porque a Transpetro queria trabalhar com o mínimo de gente possível. Consequentemente, não poderiam aproveitar todo mundo. Íamos trabalhar ali, mas estávamos sujeitos, a qualquer hora, a sermos colocados em disponibilidade. Antes que alguém me propusesse um outro lugar, eu mesmo procurei um lugar para ir. Fiz duas opções: uma era mandar meu currículo para a Bacia de Campos e a outra era ir para a área de Urucu, no Amazonas. E aí me chamaram para fazer um período de experiência aqui na Bacia de Campos. Vim para cá quase que imediatamente e fui aceito. Fiquei muito feliz pelo sistema de trabalho, principalmente pelo regime de folga, que é o que mais empolga a gente a trabalhar aqui. Me interessei pela Bacia de Campos e por Urucu porque, embora distantes, são muito parecidos em termos de regime de trabalho. Seriam regimes embarcados com regimes fixos. Aqui, são 14 por 21 dias. Lá, na ocasião, faziam 14 por 14 dias. Depois, passou para 14 por 21 dias também. Então, o regime de trabalho é igual. Como falei, o bom é a folga. A gente procura aproveitar da melhor maneira possível. Quando você trabalha, de forma diferente desta, você está todo dia em casa. Em compensação, você tem o dia todo ocupado, só sobrando os finais de semana. A questão financeira ajuda muito também. Por isso, fiz essa opção. E por eu ser de Belém do Pará, na ocasião em que o órgão de Urucu ainda era gerenciado por Belém, seria possível eu morar lá. Seria uma oportunidade de voltar para a terra natal.
Me adaptei muito rapidamente em função da minha formação original, de trabalhar viajando. Já tivemos a oportunidade de passar dois, três meses fora de casa, e aqui não passamos mais do que 14 dias, normalmente. Para mim, essa adaptação foi muito fácil. E, como falei anteriormente, o sistema de plataforma é muito parecido com o navio, levando-se em consideração que a plataforma funciona com autonomia própria, praticamente. Temos que resolver nossos problemas aqui mesmo, mas temos apoio de terra. Na embarcação, não tinha tantos recursos quanto tem aqui, por isso a adaptação ficou fácil. Então, comparando o que me levou, por exemplo, a optar por Urucu ou vir para cá, na Bacia de Campos. Aqui, o regime de trabalho estaria mais perto do Rio de Janeiro. Essa parte de Urucu me saiu da idéia porque a sede, que era em Belém, passou para Manaus. Todo mundo que estava em Belém foi transferido para Manaus. Para mim, o interesse não era o mesmo. Então, ficou bem cômodo trabalhar na Bacia, pois ficaria perto do Rio de Janeiro, perto de casa.
Existem muitas histórias engraçadas. Mas o que mais me marcou, foi a parte mais emocionante, foram dois casos que aconteceram. Vou relatar um. Na ocasião, eu viajava ainda, estávamos fazendo uma viagem do Mar Mediterrâneo para o Brasil. Chegando pelas Ilhas Canárias, mais para baixo um pouquinho – talvez isso tenha marcado porque era eu quem estava de serviço –, por volta de uma hora da manhã, eu estava trabalhando no passadiço. Quer dizer, na ponte do comando do navio, normalmente, fica um oficial sozinho, à noite, em viagem de longo curso. Nessa ocasião, recebi um alerta por um sistema de alarme de emergência, estava tocando o alarme e dando uma posição de uma embarcação em perigo. Imediatamente, chamei o Comandante, acionei para a sala de rádio. Fomos localizar o navio, a embarcação. Era um barco pequeno. Fizemos um cálculo da posição que nos foi dada até onde nós íamos, para poder interceptar o barco. Desviamos um pouquinho da nossa rota e fomos em socorro desse pessoal. Quando chegamos, tinha um nevoeiro muito grande. Tivemos dificuldades para achá-lo, mas, quando achamos, o resgate, o salvamento dessas pessoas foi a parte mais emocionante. Percebemos que o povo do mar, os marítimos, de uma maneira geral, são todos solidários. São muito solidários nessas circunstâncias. Então, a gente percebe que, mesmo passando as dificuldades, as pessoas que socorremos tentaram retribuir. Fornecemos algumas coisas para eles, por exemplo, vimos que eles não tinham nada naquele barco. A roupa que tínhamos, quer dizer, a gente leva praticamente uma roupa para usar no dia-a-dia no navio. Juntamos roupas, juntamos algumas coisas para fornecer a eles. E o pouco que eles tinham, eles queriam trocar conosco. Essa experiência marcou muito e foi gratificante. O que valoriza o homem do mar é essa solidariedade.
Por ser Técnico de Segurança, a gente está à frente de muitas ações, principalmente para mitigar os problemas. Quando ocorre uma situação de emergência, a adrenalina sobe. Estamos acostumados com o treinamento, então a gente sai como se fosse um treinamento, mas, quando você verifica que é real, o coração bate um pouco mais forte. Mas, por sermos treinados, a gente parte para a ação mesmo. Conseguimos raciocinar e executar o trabalho.
Estava no Rio de Janeiro, trabalhando num navio pequeno. Foi um ano antes de passar para o quadro de terra. Nós, infelizmente, perdemos dois colegas. Estava trabalhando como oficial também. E, nessa ocasião, veio o navio Ipanema, pegou fogo no Rio de Janeiro. Estávamos sozinhos para tomar todas as ações. Como o Comandante não estava, eu era o único Oficial de Náutica. Existia um oficial de máquina, esse colega inclusive morreu. Então, eu tinha que tomar todas as ações. E eu me considerava um rapaz muito novo para assumir tanta responsabilidade. Percebi que, na verdade, a gente é maduro. A vida no mar nos torna maduros. Percebemos que, nessas dificuldades, a gente realmente reage bem. Só lamento não poder ter feito mais para salvar a vida dos colegas. Mas, depois que a gente vai ver, que passamos por inquérito, todo mundo começa a se justificar. A gente sempre acha que poderia fazer alguma coisa. Depois, caímos na real e percebemos que fizemos o que podíamos. Esse foi outro fato marcante. Essa é a parte triste. Tem também as partes alegres. Por exemplo, o momento de solidariedade, o momento das brincadeiras, tudo isso a gente lembra com muito prazer.
Greve de 1995 Entrei no Sindicato desde a greve de 1995. Na greve de 1995, eu estava no Rio de Janeiro ainda. Quando estoura uma greve, a gente fica naquele anseio de reivindicar, acha que a turma está precisando se unir. Foi nessa ocasião que eu me sindicalizei. Daí em diante, eu continuo sindicalizado. Não sou ativo, não sou aqueles que tomam a frente, mas participo, acato a decisão da maioria. Sempre ficamos esperando que não haja confronto. Mas, através do Sindicato, temos a grande oportunidade de emitir uma opinião, formarmos opinião e conseguirmos alguma coisa.
O projeto em si eu acho muito interessante porque mantemos viva a memória, principalmente da Petrobras e seus trabalhadores. Porque a Petrobras é formada pelos seus trabalhadores. A história dos seus trabalhadores é a formação da Petrobras. Sou orgulhoso de trabalhar nessa Empresa. E esse projeto, qualquer experiência que a gente possa passar, eu acho que é de grande valia. É importante porque passa para os colegas o que foi a Petrobras, o que é a Petrobras. Sempre vai ter um colega que vai contar uma história que antigamente era assim, agora é assim. A gente percebe que houve uma melhoria. Percebemos que as coisas estão mudando. A gente que está há muito tempo aqui, no início era de um jeito e agora vê que está melhor. Aqui dentro, a gente pouco percebe a mudança. Então, nessas ocasiões, que paramos para pensar, vemos que houve uma mudança significativa. Para mim, estar participando e ter contado alguma coisa é muito importante. Muitas vezes, conversamos informalmente, mas isso acaba se perdendo. Então, se puder juntar, registrar, para ficar marcado, perene, é melhor ainda.
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